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Pessa’h (Páscoa):

Ecos da Antiguidade
Sha’ul Bensiyon
(Felipe Moura)
Origens Pré-Bíblicas
do Pessa’h e de
Hag haMassot
A Relação entre
Deuses e Homens
“…sem ovelhas aparecendo, não havia cordeiros numerosos, e sem
bodes, não havia carneiros numerosos, as ovelhas não dava à luz seus
cordeiros gêmeos, e o bode não dava luz aos seus carneiros triplos; os
Anunaki, os grandes deuses, nem conheciam os nomes ‘grão’ ou
‘ovelha’. Não havia grão por trinta dias; não havia grão por quarenta dias;
não havia grão por cinquenta dias: não havia grão pequeno, grão das
montanhas nem grão das santas habitações… as pessoas daqueles dias
não conheciam sobre comer pão… Como ovelhas, eles comiam grama
com suas bocas e bebiam água de poços.”

(Debate sobre Ovelhas e Grãos - Mito Sumério da Criação, tábua no.


14.005 da biblioteca do Templo de Nipur)
Ao lado: Vaso de Uruk, que mostra a
oferta a Inana, deusa da Primavera.

A oferta era composta de cevada,


trigo, cordeiros e carneiros.
Éden Homem criado como agricultor e
(O Jardim dos Deuses) pastor para sustentar os deuses

Clima Favorável

Deuses Devolviam Homens


Ofertas Queimadas
A Primavera
O Inverno era um período frio, de dias curtos e longas noites,
e sem colheita. Os agricultores se alimentavam essencialmente
dos grãos que eram estocados na colheita de Outono.

A chegada da Primavera significava o retorno do calor dos


dias mais ensolarados, e da colheita. E, por isso, era festejada
com muita alegria.

Assim sendo, a Primavera representava o ressurgimento da


vida, do júbilo e da esperança.
A Cevada no
Oriente Médio
"E o linho e a cevada foram
feridos, porque a cevada já estava
na espiga, e o linho na haste.”

(Êxodo 9:31)
A ocasião também era marcada pelo início da colheita da cevada, que era o
principal grão para o alimento dos rebanhos e dos homens.

Por ser um grão bravo, que cresce em abundância no Oriente Médio, a


cevada era tida como o principal alimento dos pobres e humildes. O trigo, tido
como mais nobre, era colhido várias semanas depois.

Os mais ricos tinham maiores estoques de grãos, mas para os mais


humildes era fundamental que a colheita da cevada não fosse tardia!
E um homem veio de Baal-Salisa, e trouxe ao homem do Senhor pães das primícias, vinte
pães de cevada, e espigas verdes na sua palha, e disse: Dá ao povo, para que coma.
Porém seu servo disse: Como hei de pôr isto diante de cem homens? E disse ele: Dá ao
povo, para que coma; porque assim diz o Senhor: Comerão, e sobejará.
2 Reis 4:42,43

“Um cereal frequentemente mencionado no Antigo Testamento como um dos


produtos alimentícios comuns da Palestina. Era e ainda é usado como
ingrediente para pão apenas menos importante do que o trigo, e como tal era
indicativo de pobreza.” (Barley - Jewish Encyclopedia)
Os humildes não tinham como estocar muitos grãos e esperar que
seus pães fermentassem e se tornassem mais palatáveis. A forma mais
comum de pão era uma massa arredondada e com pouca ou quase
nenhuma fermentação, hoje conhecida como pão árabe ou pão sírio.

Ansiosos por comer os grãos frescos da nova colheita, os povos


celebravam comendo esses pães ázimos e realizando suas ofertas de
grãos e festividades.

Esta é a origem da Festa dos Pães Ázimos na cultura semita.


O Cordeiro
Esse era também um período de muita
alegria e celebração para os pastores de
rebanho. Os filhotes que haviam nascido
durante a época mais fria seriam pela
primeira vez levados ao pasto.

Os principais animais domésticos da


região são os caprinos, como os cordeiros e
car neiros, que eram uma das mais
importantes fontes de alimento, fornecendo
leite e carne.
O nome Páscoa vem do termo
semita Pessa’h, que significa ‘pular’.
Esse nome já era utilizado para as
celebrações da época, em referência
à bela forma de se movimentar dos
cordeiros e carneiros, em pulos que
parecem coreografados, e inspiravam
danças típicas.

Dois videos ilustram a questão:

https://www.youtube.com/watch?v=niTByu7Z6TA

https://www.youtube.com/watch?v=uFzkRYXiIgc
Os pastores da região celebravam
assim o novo ciclo da vida, geralmente
escolhendo um filhote, o cordeiro ou
carneiro pascoal, para ser comido
durante a festividade. Ele era comido
com especiarias, geralmente feitas de
ervas amargosas.
Todas as festividades eram geralmente
acompanhadas do vinho, pois a uva era fruta
abundante na região.

Esta é, portanto, uma época em que


celebramos a alegria da vida, a esperança da
renovação, e a gratidão pelo sustento.

As festividades antigas estão na origem


cultural da Páscoa israelita, que também ganhou
novos significados a partir do êxodo do Egito.
A Ressignificação
A palavra Pessa'h também era usada figurativamente para significar proteção (como em Is.
31:5), e então a Bíblia faz um jogo de palavras. A antiga festividade dos novos cordeiros ou
carneiros tornou-se também a Festa da Proteção, na qual os israelitas fariam uma festividade
tomando um cordeiro ou carneiro jovem, como gratidão pelo Senhor tê-los protegido.

A festividade dos ázimos e da cevada também ganhou uma conotação de sustento. Os


israelitas saíram apressadamente do Egito, e por isso sua massa não teve tempo de crescer,
sendo cozida pelo sol. Ou seja, tornou-se também a Festa da Libertação

O pão da miséria deveria lembrar a eles que deveriam comemorar sua liberdade, para a
abundância, sem esquecer que todos vieram da escravidão. Ou seja, tornou-se também a Festa
da Igualdade.

As ervas amargosas, especiarias tipicamente comidas com as carnes do rebanho, também


passaram a lembrar os israelitas do amargor de sua vida enquanto escravos. Ou seja, tornou-se
também, por fim, a Festa da Lembrança.
O Verdadeiro Objetivo do Pão Ázimo
A Etimologia do termo Massá (‫)מצה‬

"E assim sucedeu; porque no outro dia se levantou de madrugada, e


apertou o velo; e do orvalho que espremeu [wayimes] do velo, encheu
uma taça de água." (Shoftim/Juízes 6:38)

"Por isso o povo dele volta aqui, e águas de copo cheio se lhes espremem
[yimassu]." (Tehilim/ Salmos 73:10)

Massá é o “pão vazio”, que não inchou.


Lembrando do que a Bíblia diz:

“Nela não comerás levedado; sete dias nela comerás pães ázimos, pão
da miséria (porquanto apressadamente saíste da terra do Egito), para que
te lembres do dia da tua saída da terra do Egito, todos os dias da tua
vida.” (Deuteronômio 16:3)

O objetivo era lembrar que todos comeram o pão da miséria, mesmo


aqueles que hoje poderiam ter mais posses!
O propósito:

“Sete dias se comerá pães ázimos, e o levedado não se verá contigo, nem
ainda fermento será visto em todos os teus termos.” Êxodo 13:7

Por sete dias, rico e pobre comeriam do mesmo tipo de alimento! Ninguém
comeria pães nobres, enquanto seus irmãos comiam pão da humildade.

Todos deveriam se recordar de sua origem humilde!

O objetivo não era criar uma neurose sobre migalhas de fermento, mas
sim promover os sentimentos de humildade, igualdade e gratidão ao
Eterno.
Será que é esse o espírito da coisa?
Bibliografia

Os seguintes textos foram utilizados como referências históricas:

BERLIN, ADELE; BRETTLER, MARC Z. The Jewish Study Bible. Jewish Publication Society Tanakh Translation. Nova
Iorque: Oxford University Press, 1999.

HIRSCH, Emil G. et al. Passover. Jewish Encyclopedia. Nova Iorque, 1906.

JACOBS, Joseph; Eisenstein, Judah D. Mazzah. Jewish Encyclopedia. Nova Iorque, 1906.

NOLL, K. Caaan and Israel in Antiquity. A Textbook on History and Religion. Londres: Bloomsbury, 2013.

OESTERLY, W.O.E. Sacred Dance in the Ancient World. Dover Publications. Mineola, 2002.

WAGENAAR. Jan A. Origin and Transformation of the Ancient Israelite Festival Calendar. Wiesbaden: Harrassowitz. 2005.

Passover (Pesach) 101. What you need to know about the festival of freedom. My Jewish Learning. Disponível em: http://
www.jewishencyclopedia.com/articles/11933-passover
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