Professional Documents
Culture Documents
2
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
Sumário
1. Apresentação 4
2. O legado de Leopoldo Zea para a América Latina: uma nota – Francini Oliveira 6
7. Resenha de “¿Qué significa pensar desde América Latina?” de Juan José Bautista
S. – Natasha Bachini 43
3
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
1. A presentação
Com enorme prazer que apresentamos a quinta edição dos Dossiês Temáticos do
Núcleo de Estudos de Teoria Social e América Latina (NETSAL) do Instituto de Estudos
Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), sob o
título Sociologia latino-americana II: desenvolvimento e atualidade. Como o próprio
nome sugere, este documento desdobra o anterior, já preocupado com as potencialidades
e iniciativas do pensamento social e político na América Latina. Com isso, completamos
um ciclo bianual de debates no seio do núcleo sobre as intersecções entre a circulação de
ideias em escala latino-americana, as hierarquias na produção de conhecimento e os
significados da epistemologia para as ciências sociais. Através do resgate histórico e do
panorama contemporâneo, os dois Dossiês complementam-se sem arbitrar
necessariamente um juízo definitivo. Seguindo o espírito originalmente estipulado para
esta publicação, agrega-se aqui materiais de apoio à pesquisa, ou seja, análises, entrevistas
e resenhas cuja pluralidade possa fomentar o debate de ideias ao redor do tópico em
questão.
Por outro lado, cumpre observar o reforço, nesta edição de 2015, de uma tendência
em direção à prevalência de contribuições originais na composição do Dossiê. Essa
inflexão é vista com bons olhos na medida em que é consequência da própria dinâmica
de pesquisa do NETSAL, combinada a certa maleabilidade do perfil editorial dos Dossiês
Temáticos. Baseando-se inicialmente na compilação de textos já disponíveis alhures, eles
caminharam para o atual formato pelo acúmulo dos pesquisadores envolvidos e pela
natureza do tema tratado. Em busca de textos que melhor pudessem se inserir no debate,
ficamos honrados em contar nesta edição, além da produção própria da equipe, com
aportes originais de renomados pesquisadores do México, da Argentina e do Chile para
uma avaliação situada das trajetórias do pensamento sociológico nestes países.
Convém também valorizar o retorno que temos recebido das edições já publicadas.
Com um ano conturbado e ainda indefinido na política brasileira, o Dossiê Temático n.2
sobre conjuntura política (junho/2013) tem recebido renovado interesse, especialmente
através da busca por uma perspectiva de conjunto e historicamente ampla sobre a crise
atual. Da mesma forma, as avaliações em torno ao segundo aniversário das jornadas de
junho reavivaram o interesse no Dossiê Temático sobre o tema (n. 3, dez/2013), no qual
4
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
insistíamos em uma mirada global para as novas formas de protesto e ação coletiva. Nosso
propósito, em quaisquer dos casos, segue sendo oferecer um compêndio criterioso de
material para embasar o debate, não só dos próprios pesquisadores do NETSAL, mas de
todos aqueles possíveis interessados.
Afora esta apresentação e um apêndice, este Dossiê Temático traz seis textos
inéditos sobre sociologia latino-americana. No primeiro, Francini Oliveira reflete sobre o
papel central de Leopoldo Zea na articulação institucional de uma comunidade epistêmica
latino-americana já nas décadas de 1940 e 1950. Na sequência, a equipe de trabalho
dedicada ao projeto de pesquisa sobre o Centro Latino-Americano de Pesquisa em
Ciências Sociais (CLAPCS) apresenta uma síntese sobre o período em que Costa Pinto
dirigiu a instituição, aprofundando as reflexões sobre circulação de ideias já presentes na
edição anterior dos dossiês. No miolo do documento, incluímos textos inéditos de Lucas
Rubinich (UBA), Kathya Araujo (UAHC) e Enrique de la Garza Toledo (UAM) sobre as
trajetórias da sociologia na Argentina, no Chile e no México, respectivamente.
Completando a edição, trazemos a resenha crítica feita por Natasha Bachini da mais
recente obra do sociólogo boliviano Juan José Bautista, cujo mote é pensar desde a
América Latina em uma chave decolonial. Por fim, o apêndice cumpre a função de
atualizar o registro de nossas atividades iniciado já em 2014, sistematizando as
publicações e os eventos que compuseram a trajetória do NETSAL ao longo de 2015.
5
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
Francini Oliveira1
6
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
7
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
8
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
A meu ver, o que chama a atenção e merece ser sublinhado nesta nota diz respeito
à enorme capacidade de Zea de galgar posições e inserções estratégicas nos diversos
países do continente e de como soube conduzir todo um processo de seleção, recepção e
tradução das obras operadas pelo grupo que aglutinou em torno de si. Graças à sua
atuação, e à de outros filósofos espalhados pelo continente que a ele se juntaram (dentre
os quais destaco Arturo Ardao e Arturo Andrés Roig em países do Cone Sul), em pouco
menos de uma década o grupo obteve um alcance institucional invejável, à frente que
estava na organização de seminários, comissões, bem como da criação de revistas e
periódicos. Desde o início, seu pioneirismo se mostrou notável e sua obra é, pois,
tributária desses contatos estabelecidos. Ao mesmo tempo, soube se apropriar e divulgar
pesquisas realizadas nos demais países que julgava de interesse de todos os americanos.
O tema da construção, bem como dos entraves da modernidade em países da
América Latina, envolvendo a formação de uma identidade cultural, econômica e política
específicas, remonta a uma discussão que, sabemos, tem longa tradição e jamais poderia
ser aqui esgotada. Por isso, ocorreu-me trazer à baila uma dimensão da trajetória de
Leopoldo Zea que tem ficado em segundo plano. Procurei colocar em relevo sua
importância para a constituição, bem como consolidação de um projeto filosófico caro à
intelectualidade latino-americana, atentando para o fato de que seu legado não pode
prender-se somente ao campo das ideias, uma vez que se trata de um personagem que
soube abrir caminhos e construir uma agenda coletiva de trabalho como poucos. Sua
atuação profissional chama atenção sobretudo pela envergadura e pelo alcance de
proporções continentais conquistados. De certa forma, penso ser este seu mais valioso
legado, afinal, caducadas as ideias, as redes e os centros de pesquisas que fundou
permanecem atuais e seguem dando seus frutos.
Referências bibliográficas
9
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
Breno Bringel
Leonardo Nóbrega
Felipe Macedo
Lilia M. S. Macêdo
Humberto Machado2
2
Equipe de pesquisadores do IESP-UERJ vinculada ao projeto “A experiência do Centro Latino-americano
de Pesquisas em Ciências Sociais (CLAPCS) e os estudos latino-americanos no Brasil”, do qual também
participa Juan Pedro Blois, que realizou pós-doutoramento no IESP-UERJ e é professor da Universidad
Nacional General Sarmiento, na Argentina. A pesquisa, coordenada pelo Prof. Breno Bringel, conta com
financiamento da FAPERJ e da UERJ.
3
COSTA PINTO, L. A. (1956) “As Ciências Sociais na América do Sul: impressões de um seminário”,
Boletim do CBPE, Rio de Janeiro, p.173-182.
10
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
conferências regionais e internacionais que foram fundamentais para gestar anos depois
o Centro.
Costa Pinto foi uma figura central na concepção, na fundação e no
desenvolvimento inicial do CLAPCS. A própria imagem do Centro ficou bastante
associada ao nome do sociólogo baiano quem, contudo, somente o dirigiu em seus
primeiros anos de existência (1957-1961). Foram anos intensos, de aposta pela construção
institucional de uma agenda de pesquisa latino-americana(ista) e de redes de pesquisa e
de interação entre intelectuais e centros afins nos diferentes países da região. As notas
que seguem pretendem descrever este momento inicial do CLAPCS focando em três
elementos: sua construção institucional, a circulação intelectual e o estabelecimento
incipiente de uma agenda de pesquisas sobre a América Latina no Brasil. Pretende-se com
estes apontamentos seguir revelando aspectos fundamentais de uma experiência tão
interessante e rica como esquecida na história da sociologia latino-americana, assim como
dar sequência a um trabalho coletivo que vem sendo desenvolvido por nós nos últimos
anos.
No dossiê Temático n.4 do NETSAL, “Sociologia latino-americana: originalidade
e difusão”, publicado em dezembro de 2014, publicamos um primeiro texto panorâmico
sobre a experiência do CLAPCS e os estudos latino-americanos no Brasil (Bringel,
Nóbrega e Macedo, 2014). Desde então, a pesquisa sobre o CLAPCS conduzida no
NETSAL avançou intensamente ao longo de 2015, incluindo as seguintes frentes: a) uma
compilação exaustiva do material produzido pelo centro; b) a análise inicial desta
documentação; c) a discussão coletiva sobre pesquisas e publicações relacionadas ao
Centro, à história da sociologia no Brasil e na América Latina, às agendas da sociologia
latino-americana e do pensamento social na região, bem como debates mais gerais sobre
a geopolítica do conhecimento; d) o mapeamento e a análise de centros contemporâneos
ao CLAPCS no Brasil e no resto da região, tais como o CBPE, a CEPAL, a FLACSO, a
CLACSO, o ISEB, a PUC-Rio, a USP, a Universidade do Brasil e a Universidade do
Distrito Federal; e) a realização de entrevistas com pesquisadores que investigaram temas
afins, participaram diretamente do CLAPCS ou do debate intelectual daquele momento4.
Em 2016, este trabalho será aprofundado e resultados mais substantivos serão
apresentados em eventos e compartilhados com o público em geral. O resultado final será
a produção de um livro com os resultados da pesquisa que será publicado pelo Conselho
Latino-americano de Ciências Sociais (CLACSO).
Deste modo, nos furtamos neste momento de uma análise mais detida sobre o
CLAPCS em seus primeiros anos, restringindo-nos somente a apontamentos descritivos
sobre seu modus operandi e sua relevância no circuito latino-americano no momento de
institucionalização das Ciências Sociais na região. Pensamos que isso pode ser relevante
para contribuir com a reunião de elementos que problematizem certos consensos na
história da sociologia no Brasil e na América Latina, bem como para estimular uma visão
4
Pelas informações, conversas informais e/ou entrevistas concedidas, Breno Bringel gostaria de agradecer
a Charles Pessanha, Fernanda Beigel, Glaucia Villas Boas, Gláucio Soares, Lícia Valadares, Luiz Antônio
Machado, Manuel Antonio Garretón, Moacir Palmeira e Wanderley Guilherme dos Santos.
11
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
O CLAPCS era gerido por Comitê Diretor responsável pela coordenação tanto do
Centro como de sua irmã no Chile, a FLACSO. Dito comitê foi formado inicialmente por
Eduardo Hamuy (Univ. do Chile), Gino Germani (Univ. de Buenos Aires), Isaac Ganon
(Univ. de Montevideo), Lucio Mendieta y Nuñes (Univ. Nacional de Mexico), Orlando
Carvalho (Univ. de Minas Gerais), Oscar Chavez Esquivel (Univ. de Costa Rica), Rafael
Arboleda (Univ. Javeriana – Colômbia) e Salcedo Bastardo (Univ. Central, Caracas). Sua
direção geral ficou inicialmente a cargo de Lucio Mendieta y Nuñez, nome fundamental
da institucionalização da sociologia mexicana no século XX 5 . Pouco depois, acabou
sendo transferida para Isaac Ganon, por motivos de saúde (cf. Boletim 1958 – n. 2), tendo
seus encontros mais formais uma periodicidade anual, os chamados “Períodos de Sessões
do Comitê Diretor”. Posteriormente, também passaria a fazer parte do Comitê Pablo
González Casanova, que assumiu em caráter provisório em 1961 a presidência deste
Comitê, e Humberto Diez Contreras.
5
Vide o artigo de Enrique de la Garza Toledo publicado neste mesmo número do Dossiê NETSAL sobre a
sociologia Mexicana hoje.
12
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
Além do Comitê Diretor, cada uma das instituições contava com uma direção
específica. Luiz de Aguiar Costa Pinto (Univ. do Brasil) foi escolhido o primeiro Diretor
do CLAPCS e Gustavo Lagos Matus (Univ. do Chile), o primeiro Secretário Geral da
FLACSO. Vale notar que Costa Pinto, além de diretor do CLAPCS, exerceu ao mesmo
tempo a vice-presidência da International Sociological Association (ISA), além de ser
membro destacado da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS) e do Instituto de Ciências
Sociais da Universidade do Brasil. Em 1961 será substituído na direção do CLAPCS por
Manuel Diegues Júnior em eleição realizada em uma Reunião extraordinária do Comitê
Diretor em março de 1961 na cidade de Bogotá.
Esta estrutura regional e nacional era complementada por uma base operativa de
funcionários, responsáveis pela gestão cotidiana do Centro. No dia 28 de julho de 1958,
é inaugurada a primeira sede do CLAPCS na Av. Pasteur, 431 (Praia Vermelha, Rio de
Janeiro), onde se estabeleceu a equipe operativa, composta inicialmente pelos professores
Waldemiro Bazzanella (assistente do Diretor do Centro), Thomaz Pompeu Accioly
Borges, Joaquim Costa Pinto e Anita Hirsch (Boletim, 1969, n. 1), esta última vinda da
França. Pouco depois, viriam a se juntar também J. Roberto Moreira (e suas assistentes
Maria Lêda Rodrigues de Almeida e Olga de Oliveira e Silva.) e Edison Carneiro.
Além da equipe fixada na sede do CLAPCS, entre pesquisadores e pessoal
administrativo, o Centro contava com funcionários remunerados em mais onze países da
região, ligados aos diferentes projetos em desenvolvimento. Além das pesquisas
desenvolvidas pelos pesquisadores vinculados, o CLAPCS estabeleceu diversas
cooperações técnicas para seminários, reuniões e diversas outras atividades relacionadas
ao seu campo de trabalho. Muitos estudantes e pesquisadores brasileiros ainda em
formação realizaram algumas de suas primeiras pesquisas empíricas como assistentes de
pesquisa no CLAPCS, como ocorreu com Luiz Antônio Machado, Moacir Palmeira,
Otávio Velho, Licia Valladares, entre outros/as.
A circulação de pessoas de diversas instituições, tanto da América Latina quanto
de diversas outras partes do mundo, é uma das propostas mais evidentes do recém-criado
Centro. Além dos diversos colaboradores em pesquisas esporádicas, e da circulação de
pesquisadores em eventos internacionais, o Centro recebeu pesquisadores em caráter
institucional, muitos deles enviados pela Unesco. Este foi o caso, por exemplo, de Joseph
A. Kahl, Jean Labbens e Herbert Blumer, recebidos como “experts” internacionais.
Também passaram pelo centro com estadias mais longas os pesquisadores vinculados ao
Comitê Diretor, muitos dos quais chegaram a viver no Rio de Janeiro por meses ou anos,
como foi o caso de Rodolfo Stavenhagen.
Dentre os visitantes ilustres é possível apontar a visita do Diretor do projeto
principal da UNESCO sobre educação de base na América Latina, Oscar Vera, a equipe
de economistas Gustaaf Loeb, Isaac Kerstenetzky e Fernando Souza Costa, H. M. Philips,
chefe da Divisão de Ciências Sociais Aplicadas da UNESCO, Andre Bertrand, Diretor de
Ciências Sociais da UNESCO, José Medina Echevarria, da CEPAL, Dudley Kirk, do
Population Council, dentre outros nomes destacados que incluem, por exemplo, Wright
Mills.
Com a inauguração da sua primeira sede na Urca e posteriormente a transferência
da mesma para um casarão na Rua Dona Mariana em Botafogo, o Centro se estabelece
13
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
14
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
15
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
16
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
17
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
18
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
Lucas Rubinich6
I.
6
Professor titular da Universidade de Buenos Aires, Argentina.
19
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
II.
7
A medida que avanzaba la década crecerían las instituciones que ofertaban las carreras de sociología y,
obviamente, la cantidad de estudiantes. En 1969, “…alrededor de 4000 estudiantes (aproximadamente el
1,6% del total de estudiantes universitarios) sigue la carrera de sociología en 9 lugares; 3 universidades
agrupan aproximadamente el 90% del alumnado. El resto concurre a las instituciones que iniciaron sus
20
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
actividades luego de 1966”. A estos lugares de grado se les debe agregar el posgrado de “las escuelas de
sociología de la Facultad de Derecho y Ciencias Sociales y la de Filosofía y Humanidades de la Universidad
Nacional de Córdoba”r (Rubinich 1999)
21
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
las nuevas formas de contestación social que no se daban a través de instituciones clásicas
como sindicatos o partidos; (2) el de la década del 1990 con una presencia importante de
los organismos financieros internacionales influyendo de manera directa en formas de
diagnosticar la desigualdad social y produciendo una transformación, como parte de un
proceso global, del mundo educativo en general y académico en particular; y (3) en los
últimos cinco o diez años, un proceso de recambio generacional en el marco de complejas
condiciones estructurales, en las que principalmente pueden mencionarse los cambios del
sistema académico generados en el marco de la revolución neoconservadora, como el
afianzamiento de algunas universidades privadas con voluntad de formar sectores de elite
social, y a la vez, un gobierno que creó más universidades y otorgó más presupuesto a el
área de ciencia y técnica.
El golpe de estado de 1976 implantará el Terrorismo de Estado y que resultará en
la represión estatal ilegal, en la intervención de las universidades y obviamente en fuertes
imposibilidades de desarrollar en los ámbitos académicos públicos una sociología con
preocupaciones trascendentes. En el país continuarán las actividades de sociólogos que
no tenían un compromiso político o que no había sido tan intenso. La universidad del
Salvador entabló una estrecha relación con los centros privados de investigación que
recibían financiación de fundaciones norteamericanas y europeas durante la dictadura.
Fue en esos ámbitos en los que se desarrollaron análisis de las políticas económicas de la
dictadura, de las formas que habían adquirido las dictaduras inmediatamente anteriores a
la apertura democrática de 1973 y sobre todo, desde allí se construirá uno de los pilares
donde se asentarían las reflexiones de sociología política institucionalista o de filosofía
política que armaron los argumentos de la revalorización democrática.8
Otro pilar significativo correspondería a sectores del exilio (sobre todo del exilio
mexicano) que construyeron esa revalorización desde tradiciones de izquierda, sobre las
críticas que florecían en Europa a los socialismos reales y sobre la propia reflexión crítica
acerca de los fracasos de las experiencias revolucionarias en América Latina. En uno y
otro caso se arriba a un clima de época marcado por la mencionada mirada
institucionalista de la acción política que se expresará menos a través de la historicista
sociología política, que de una nueva ciencia política sostenida en relación a las ideas de
pacto social, reforma política y gobernabilidad entre otras. Pero los recorridos que
permiten el arribo a un lugar más o menos similar son distintos (Burgos, 2004)9. En el
8
Los centros de investigación como el Centro de Estudios de Estado y Sociedad (CEDES) y el Centro de
Investigación sobre el estado y la administración (CISEA) se convirtieron en espacios de reflexión que en
ese momento de restricción de libertades cumplieron un papel importante en la producción de conocimiento
y también en la formación de investigadores jóvenes. El mencionado en segundo término funcionó en algún
tramo anterior a las elecciones y en un momento inmediato posterior como un verdadero Think Tank del
alfonsinismo. De esos espacios surgieron los análisis de Guillermo O’Donnell sobre el Estado burocrático
autoritario, los análisis de Jorge Sábato sobre las clases dominantes los trabajos de Oscar Ozlak sobre la
conformación del estado argentino y las miradas críticas desde la economía a las políticas neoliberales de
Adolfo Canitrot y Roberto Frenkel. Allí coexistirán perspectivas de análisis diferentes y surgirán estilos de
trabajo que se consolidarán luego en democracia, como los análisis de Jorge Balán y Elizabeth Jelin. Otros
centros como el CEUR, el CENEP y el dependiente del estado CEIL, que no tuvieron la relevancia política
de los anteriores, fueron también espacios que posibilitaron la continuidad de la investigación académica.
9
La intervención de los sociólogos en la vida pública fue parte de la rutina del mundo político cultural de
la transición democrática. Oscar landi, José Nun, Horacio González, Liliana De Riz, entre muchos otros
ocuparon asientos junto a los mencionados en el texto y también a intelectuales provenientes de las
22
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
caso de sectores del exilio mexicano, su mirada crítica sobre la experiencia revolucionaria
no supuso simplemente una adaptación vulgar a la democracia liberal, como bien observa
Burgos (2004)10.
Al fin, éstos eran participes directos y herederos de las experiencias
problematizadoras políticas y teóricas, de las nuevas izquierdas de los años 1960. Es
bueno recordar que esas experiencias atacaban no solo la pasividad burocrática de las
izquierdas tradicionales, sino también (y fundamentalmente) sus reduccionismos
teóricos. La sociología politizada de los años 1960 en sus mejores expresiones fue
compleja y sirvió para generar debates que permitieron entender mejor sociedades de este
rincón del mundo y (cuando sean revisados sus productos sin la pasión de los prejuicios)
las formas políticas sociales y militares que adquirió un proceso de importante
politización revolucionaria extendido por anchas y heterogéneas franjas de la sociedad de
la época.
El arribo a la crítica de las izquierdas, en el marco de la resignificación de las
democracias parlamentarias, y en ese contexto, la opción de las socialdemocracias como
un espacio de inserción en la lucha política, para el espacio que provenía de una
experiencia de análisis sustentado en marxismos aggiornado, es mucho más que un simple
golpe de timón. Quizás la experiencia de la revista Controversia de exiliados argentinos
en México es el indicador que permite recomponer los elementos que conformarían esta
transformación. Allí aparecerán los debates intelectuales eurocomunistas sobre el
deterioro del socialismo real y la mirada crítica sobre la experiencia propia (Casco, 2005;
Burgos, 2004)11.
Más allá de los debates en revistas o en foros públicos, uno de los pocos trabajos
de sociología que queda decididamente afuera de las visiones sofisticadas de la llamada
teoría de los dos demonios es el libro de Juan Carlos Marín, Los hechos armados, cuya
primera edición fue difundida alrededor de 1978 en México. El libro tenía como objetivo
dar cuenta de las “precondiciones del genocidio”. Obviamente se desplegaban los
recursos del oficio del sociólogo: una mirada teórica, referentes observables que
permitieran localizar que esa reflexión se sostenía en objetivos que trascendían un trabajo
23
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
académico restringido a ese mundo. Se dirá en uno de los prólogos (el de la edición de
1995) “el libro… intentó ser un esfuerzo consciente por adelantarse y alertar a los iguales
acerca de la iniciación y tendencia de un proceso- para nosotros en ese momento
inequívoco e irreversible-: la determinación de guerra de exterminio que habían tomado
los sectores más grandes, concentrados y poderosos de los capitalistas argentinos ante la
crisis de su modo de acumulación capitalista.”
El trabajo evalúa que con la recuperación de la ciudadanía política en 1973 se
desencadenó un proceso social que “instaló por un lado el inicio de la crisis del carácter
político del orden social de los ciudadanos” y por otro “la búsqueda de un reordenamiento
del orden social como recuperación política de la crisis de la identidad política de los
ciudadanos.” En suma, un registro empírico minucioso de los hechos armados producidos
por las diferentes organizaciones revolucionarias y por las fuerzas denominadas
contrainsurgentes es la base de datos que posibilita construir un objeto reflexivo en base
a una perspectiva teórica en las que se encuentran elementos de Clausewitz, Marx, Piagget
y Foucault y que da cuenta de una lucha de clases en la que su intensidad hizo que con
un grado de consenso moral de la sociedad capitalista se convocará al Estado a la guerra
de aniquilamiento. Este libro tuvo varias reediciones, pero ocupó un lugar secundario en
el debate, aunque influyó en las caracterizaciones que algunos organismos de derechos
humanos hicieron del período de intenso conflicto social. En el ámbito específico de la
sociología, el autor había sido uno de los jóvenes fundadores y formador de generaciones,
y entonces hay de hecho un reconocimiento intelectual a su figura, pero, a la par, y salvo
en grupos afines, ese texto, no fue leído.
Los objetivos que perseguían las reformas llevadas a cabo en Argentina a
principios de la década del 1990 no sólo se alcanzarían con las modificaciones
económicas. También se plantearon alteraciones importantes en la política social. Así,
surge en este período una manera diferente de problematizar los conflictos “sociales” y
un aumento de la creencia en los expertos como una de las fuentes de resolución de los
mismos.
Tanto la reducción extrema de las capacidades estatales, como la “eficientización”
que suponía el incremento de personal profesional flexibilizado, expresaban una fuerza
político cultural expandida a nivel internacional que producía una verdadera revolución
neoconservadora. Paralelamente a este movimiento, desde los organismos financieros
internacionales que serán los diseñadores y directamente promotores de las nuevas
políticas públicas, se reafirmará discursivamente la autonomía de la sociedad civil. Esas
políticas se proponían una transformación modernizadora de estos espacios que reposaba
por lo menos en dos ejes: su revalorización como actor con capacidad de implementación
concreta de las nuevas políticas sociales y, una dinamización de sus capacidades,
racionalizando estos espacios al estilo nueva empresa. Estos criterios suponían la
profesionalización de sus cuadros técnicos. Las llamadas ONGs – las incluidas en redes
que eran parte de este nuevo clima y que lograban algún tipo de financiación –
decididamente comenzaban a reclutar profesionales jóvenes de la sociología. El proyecto
de profesionalización deudor directo de las mencionadas políticas internacionales incluyó
diagnósticos realizados por grupos de centros de investigación que además promovieron
instancias de discusión y formación con los sectores de ese mundo dispuestos a incluirse
24
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
en el contenedor espacio del tercer sector. Las universidades de San Andrés y Di Tella,
junto al CEDES crearon una carrera de postgrado para generar especialistas en este
espacio.
Pero quizás el espacio de mayor significación política en la década de los noventas
y quizás también en el momento presente (no solo porque promovieron en el Estado la
incorporación de profesionales flexibilizados de las ciencias sociales, sino porque su
intelligentzia fue reclutada no exclusivamente en el mundo clásico e ideologizado de los
economistas de Chicago, sino también en espacios académicos de otras ciencias sociales
como la sociología con perfiles de profesionales formados en la radicalización política
previa a las dictaduras) es la fracción de los organismos financieros (básicamente el
Banco Mundial y el BID) que intervinieron como nunca antes había ocurrido en el diseño
conceptual e implementación de las políticas públicas de los estados nacionales en
América Latina.
Su relación con las ciencias sociales tiene dos aspectos principales a tomar en
cuenta. Por un lado su capacidad para abordar el diseño, la fundamentación teórica y
metodológica de las políticas públicas y de los distintos programas que implicaban su
implementación puntual. Estas tareas fueron imaginadas por investigadores de ciencias
sociales, algunos de ellos con una relación de pertenencia directa al organismo, y otros
(una franja importante de esos recursos intelectuales) con una circulación parcial por esos
mundos y pertenencia simbólica principal al mundo académico. Alternativamente esta
nueva intelligentzia internacional se desempeñó específicamente en los espacios de
producción de conocimiento de los propios organismos o en distintas funciones en los
estados nacionales. Algunos de los más prestigiosos continuaban con su pertenencia
académica. Pero, por otro lado, el diseño de estas políticas públicas, como ya se ha
mencionado, presuponía en el Estado un tipo de recursos humanos con una capacitación
técnica profesional que habría que buscar en el mundo de las ciencias sociales.
Principalmente el Ministerio de Desarrollo Social, aunque también el Ministerio de
trabajo, el de Salud y el de educación, sus similares provinciales y las áreas sociales de
los municipios se volvieron hasta hoy contratantes de profesionales técnicos provenientes
de la sociología.
El mundo profesional no académico tuvo entonces en la Argentina un proceso que
comenzado en los años 1960 se desarrolló y creció sobre todo a partir de la apertura
democrática y se afianzó como un espacio heterogéneo reconocido y legitimado en
distintas áreas en la década de 1990. El desarrollo de estos espacios y su consecuente
legitimación produjo una dinamización de la práctica profesional y entonces un
crecimiento concreto de posiciones laborales. Paralelamente hubo un reconocimiento
público más amplio y a la vez, tomando a la totalidad de la comunidad como un objeto
analítico, también la generación de algunos significativos nuevos problemas.
Los debates sobre la democracia y sobre la revolución quedan a un costado a
directamente ya no tienen presencia, sobre todo, en los últimos cinco o diez años, en que
la generación fundadora o se va retirando o tiene menos presencia o no tiene la fuerza
para imponer nuevas cuestiones. El proceso de generación de estructuras de posgrado que
no existía de la manera extendida como se manifiesta desde hace una década en la
Argentina resultó en una muy importante y variada producción de las nuevas
25
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
generaciones. Las tesis de posgrados producidas en las distintas universidades en las que
hay formación en sociología o disciplinas similares, crecieron en proporción geométrica
en relación a lo que había en la década de 1990. Si se observan las últimas cinco jornadas
de sociología organizadas por la Carrera de Sociología de la Universidad de Buenos Aires
es posible ver entre 800 y mil ponencias con los más variados temas y una diversidad de
acercamientos teórico y metodológicos que se corresponden con la diversidad existente
en el conjunto del campo académico internacional A la vez, el espacio profesional no
académico de la sociología que se venía afianzando durante todo el período democrático
tuvo también un crecimiento y una diversificación.
A partir del centro constitutivo de formación de investigadores, crucial en de la
identidad del campo sociológico se desprenden zonas diferentes del mundo relativo a la
práctica profesional no académica que se fueron constituyendo como espacios con alguna
fuerza e identidad quizás desde los años sesenta, aunque en las últimas dos décadas
tuvieron un desarrollo significativo. Expresan un tipo de práctica similar- más allá del
capital y la porción de recursos humanos implicados en cada caso nacional- al que se
realiza en otras sociedades contemporáneas.
Los distintos espacios de la práctica profesional no académica que se han
localizado en una investigación son los siguientes: (a) el de las consultoras de opinión
pública; (b) el de las consultoras de investigación de mercado; (c) los departamentos de
investigación de mercado, de marketing , eventualmente de recursos humanos de la
empresa privada; (d) el que corresponde a organismos estatales de distinto nivel
(nacional, provincial y municipal); (e) el del mundo de las organizaciones no
gubernamentales ONGs también llamado “tercer sector”, y, aunque en menor grado de
importancia; (f) la docencia no universitaria. Por último merece una especial atención lo
que aquí se denominó: (g) el espacio tecnocrático internacional.12 (Rubinich y Beltrán,
2010)
12
Resultados obtenidos en base a una encuesta, realizada entre los años 1999 y 2001, sobre 180 casos de
sociólogos que hubieran recibido su título de licenciatura entre los años 1988 y 1998, a quienes se les
administró, telefónicamente, un cuestionario breve. La encuesta fue realizada en el marco del proyecto
UBACyT “Las ciencias sociales en el fin de siglo. Un análisis del mundo académico y su relación con
tradiciones intelectuales y nuevas perspectivas profesionales en la Argentina de los ‘90”, dirigido por L.
Rubinich; con el objetivo de contar con datos propios sobre la forma en que se organizan y distribuyen las
diversas prácticas sociológicas en el interior del campo.
26
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
27
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
teoría social y en los estilos de trabajo metodológicos y técnicos que le permiten hacer
andar esa teoría social y producir conocimiento. Eso los posiciona para pensar diversidad
de hechos sociales. No es posible formar a un profesional para una posición exclusiva y
puntual del mercado de trabajo, cuando esa posición puede resultar inexistente cuando el
profesional esté formado. Es la imaginación sociológica la que hará que un sociólogo
pueda abordar un nuevo problema referido al consumo de distintos sectores sociales, o la
pertinencia y forma de un plan de vivienda de acuerdo a las características socio culturales
de una población, o las formas que adquiere la reproducción de la dominación en
determinadas instituciones, o las grietas que abre un grupo subordinado para resistir a esa
dominación.
La sociología para mantener su identidad reconociendo su herencia de tradiciones
científicas y culturales necesita irremediablemente construir conocimiento “sobre el
poder” porque es la única manera de intentar decir algo productivo sobre el hecho social.
En tanto existan instituciones como las universidades que posibiliten el mantenimiento
de la relativa autonomía frente a los poderes políticos, económicos y religiosos, esa tarea,
no sin dificultades, tendrá al menos, la posibilidad potencial de realizarse. El
conocimiento útil para el poder, cuando de alguna manera está tensionado por el espacio
de formación del mundo científico académico autónomo tiene dimensiones
problematizadoras que lo vuelven quizás más útil para el poder. En el momento que la
institución de formación se plantea sin mediaciones como un espacio de formación que
genera productores exclusivos de conocimiento útil para el poder, de profesionales que
se mimetizarán con una posición situada históricamente en el mercado, la disciplina
seguramente se transformará apenas en un rutinario conocimiento técnico con poca
utilidad para la sociedad entendida en el sentido trascendente y también para los actores
del poder ubicados ya en el llamado mercado o en el Estado. Actualmente hay una gran
producción de conocimiento, diverso y que apelan a distintas formas de construcción del
objeto analítico. Es un humus que puede posibilitar experiencias político culturales
interesantes. No obstante, es verdad que la vitalidad de las sociologías periféricas estuvo
ligada a cuestiones que de algún modo la trascendían como comunidad acotada, y se
trataba de una efervescencia social que radicalizaba productivamente una mirada
sociológica siempre cuestionadora del orden.
VI. Bibliografía
Bourdieu, Pierre (2000) Los usos sociales de la ciencia. Buenos Aires: Nueva Visión.
Burgos, Raúl (2004) Los gramscianos argentinos. Cultura y política en la experiencia de
Pasado y Presente. Buenos Aires Siglo XXI
Carri, Roberto, (1973) Poder imperialista y liberación nacional, Buenos Aires Efece
ediciones.
Germani, Ana, (2004) Gino Germani. Del antifacismo a la sociología, Buenos Aires
Taurus.
Marín, Juan Carlos (2003) Los hechos armados. Argentina 1973-1976. Buenos Aires: La
Rosa Blindada, PICASO (2ª edición).
28
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
Murmis, Miguel y Portantiero, J. Carlos (1971) Estudio sobre los orígenes del peronismo.
Buenos Aires: Siglo XXI Editores.
Pereyra, Diego (2005) “International Networks and the Institutionalisation of Sociology
in Argentina (1940-1963)” University of Sussex at Brighton.
Picó Josep (2003) Los años dorados de la sociología (1945-1975), Madrid, Alianza.
Portantiero, Juan Carlos, (1981) Los usos de Gramsci, Folios México.
Rubinich, Lucas (1999) Los sociólogos intelectuales: cuatro notas sobre la sociología en
los ’60, Buenos Aires, revista Apuntes de Investigación N 4 junio de 1999.
Rubinich, Lucas y Beltrán Gastón (2010) “Qué hacen los sociólogos” Aurelia rivera,
Buenos Aires.
Rubinich, Lucas (2001) La conformación de un clima cultural. Neoliberalismo y
universidad. Buenos Aires: Libros del Rojas.
29
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
Kathya Araujo13
Privilegiaremos cuatro los rasgos de la sociología en Chile hoy para realizar una
semblanza de la misma. Éstos articulan de manera íntima una trayectoria histórica y una
serie de inflexiones teóricas e institucionales. En primer lugar, y a semejanza de otras
sociologías latinoamericanas, la sociología chilena desde los comienzos de su
institucionalización en los años 1950/1960 se caracterizó, y en parte sigue
caracterizándose, por la clara impronta de problemáticas políticas. Si, como veremos, esta
tendencia sigue siendo acentuada hoy en día, es posible observar al mismo tiempo que la
hegemonía de un tipo de sociología política ha sido contestada por una serie de
expresiones que se sitúan en ruptura con ella, entre ellas la fuerte vinculación del trabajo
sociológico con las políticas públicas. En segundo lugar, se destaca, y en clara relación
con los avatares de la dimensión política, una inflexión de índole propiamente teórica,
que es posible relacionar con la fuerza con la cual se implantó en Chile la teoría de
sistemas de Luhman y, posteriormente, la teoría del actor-red de Latour. En tercer lugar,
desde los años 1980 y como consecuencia no prevista del cierre de las escuelas de
sociología en las universidades por la dictadura militar, la sociología chilena se
profesionalizó fuertemente desarrollando estudios de mercado, consultorías, asesorías,
análisis para ONGs u organismos internacionales o encuestas de opinión pública, las que
en vínculo o no con la academia, estructuran desde entonces una parte significativa de las
prácticas de los sociólogos en Chile. Finalmente, en cuarto y último lugar, sobre todo en
la década de 1990 y del 2000, la sociología chilena se ha abierto y no cesa de abrirse a
nuevas temáticas sociales. Se muestra significativamente más sensible a dimensiones
culturales, barriales, familiares e incluso relacionales que tienden con más frecuencia a
ser estudiadas sin referencia a debates políticos o de políticas públicas. Veamos cada uno
de estos puntos en detalle.
I.
La dimensión mainstream de la sociología chilena se estructuró fuertemente en
torno a temas políticos. Si en un primer momento, que podría con cierto laxismo fecharse
entre 1950 y 1980, los temas fundadores y centrales de la sociología chilena – como en
muchos otros países latinoamericanos – fueron el desarrollo, la democracia y la
dependencia (Martuccelli, 2015), progresivamente, y sobre todo entre 1990 y 2010, la
sociología transitó del análisis del sistema político propiamente dicho a estudios
13
Professora e pesquisadora do Instituto de Humanidades, Universidad Academia de Humanismo
Cristiano. Chile.
30
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
31
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
II.
La dictadura militar no solamente produjo un quiebre represivo en el quehacer
sociológico, sino que también participó, de manera totalmente involuntaria, en la
afirmación de nuevas tendencias sociológicas en el país, a través de la relevancia que
tuvieron ciertas teorías sociales, primero la de Luhmann y, más recientemente, la de
Latour.
Entre los 1980 y 1990 con una fuerza inusitada si se compara con el resto de
América Latina (en donde la teoría de Luhmann solo tuvo desarrollos más bien puntuales
en México y en parte en Brasil), la teoría de sistemas tuvo una importante aceptación
entre los sociólogos chilenos. Cousiño y Valenzuela (1994), en la estela del trabajo de
Morandé, propondrán una interpretación de conjunto de la evolución de la sociedad
chilena en donde el peso analítico recae sobre la “cultura” y el “mercado” en claro
detrimento del sistema político. Sin reducir la teoría luhmaniana a este solo aspecto, es
difícil no hacer la hipótesis que la fascinación por su trabajo se debió a la traducción
particular que proponía a una sociedad privada de vida política. Para Luhmann este
aspecto lejos de ser un impasse podía ser leído como un rasgo de sociedades complejas
en las que el sistema político constituía una dimensión subalterna. Una interpretación
plausible, puesto que si la impronta de Luhmann será aún visible en los años 2000,
32
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
III.
En tercer lugar, y como lo hemos mencionado, uno de los efectos imprevistos de
la dictadura militar es que abrió las vías a una activa profesionalización de la sociología.
La dimensión, comparada con otras situaciones de América Latina pero también con otras
sociologías como la estadounidense y la europea, es particularmente relevante. A
diferencia de otras experiencias, en las cuales la sociología no buscó institucionalizarse o
33
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
profesionalizarse prefiriendo guardar una mirada crítica sobre la vida social, muchos
sociólogos chilenos por razones de sobrevivencia material tuvieron que abrirse al
mercado. El resultado de esta coerción fue particular.
En efecto, a diferencia de otros países, la sociología en Chile logró conservar parte
del mercado (con economistas y politólogos) en lo que concierne a encuestas de opinión
pública, informes a empresas o análisis de intervenciones sociales. Se trató de una
profesionalización coactiva que se tradujo, a nivel de los curriculums académicos, por la
importancia creciente que tuvieron los cursos de metodología en la formación de los
sociólogos, algo muy visible en la casi totalidad de los departamentos de sociología hoy
en Chile. La formación técnica de los sociólogos chilenos es particularmente sólida en la
actualidad.
Pero esta profesionalización también tuvo una segunda arista. Los sociólogos se
vieron obligados a interesarse a temáticas radicalmente desprendidas de toda
significación política, como los estudios de mercado efectuados con el fin de conocer el
perfil de los consumidores lo muestran a cabalidad. No es un asunto menor: por ejemplo,
en Chile, a semejanza de algunas otras sociedades latinoamericanas, es la clasificación
según categorías de consumo la que se ha convertido en una de las principales
representaciones de la sociedad que tanto los individuos como la sociología movilizan.
Resultado: un número significativo de sociólogos ejercen su oficio fuera de la academia
produciendo estudios de muy diversa índole que se caracterizan a diferencia de los
estudios de fases anteriores de la sociología chilena, por prestarle poca o ninguna atención
a la política.
IV.
En cuarto y último lugar, y de manera transversal a los puntos precedentes, la
sociología chilena se ha abierto a una gran diversidad temática. Este proceso no puede ser
desconectado del proceso de fortalecimiento y maduración de una sociología académica
que renace con la vuelta a la democracia. Las ciencias sociales adquieren nuevo ímpetu
en las universidades y se fortalecen con la presencia en la última década de nuevas
generaciones, que bien vuelven del exterior con sus doctorados o bien los realizan en el
país. Nuevos temas hasta hace muy poco considerados poco sociológicos, poco
“políticos”, o sea poco relevantes para el desarrollo del país, ganan mayor legitimidad.
Sobre todo, cada una de estas temáticas se autonomiza, con mayor o menor fuerza de una
agenda política institucional.
Las cuestiones familiares se estudian cada vez más en sí mismas,
independientemente de lo que significan para las políticas públicas. La escuela es cada
vez más objeto de estudio de relaciones entre profesores y alumnos, más allá de las meras
evaluaciones de políticas educativas comparadas a nivel nacional o internacional.
Estudios sobre nuevos actores sociales, como los empresarios, aunque presentes en los
años 1980, se incrementan y se acentúan. Estudios sobre el uso concreto de las normas
en la vida cotidiana se desarrollan. Por último, en una lista no exhaustiva, una sociología
sobre la técnica, pero también una sociología económica, de estudio de las desigualdades
o del consumo tienden a afirmarse con fuerza en la última década.
34
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
Bibliografía:
35
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
36
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
14
Professor e pesquisador da Universidad Autónoma Metropolitana, México.
37
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
38
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
entre técnicas cualitativas y cuantitativas, ganaron terreno las segundas difundidas no por
epistemólogos sino por estadísticos.
Peculiar situación la de los 1990. Se difundieron ampliamente nuevas teorías
sociales como las de Habermas, Giddens, Bordieu, Foucault y Luhmann. Entre los
filósofos sí se dio la polémica contra el positivismo y la hermenéutica y de ésta con el
realismo. Pero en un ambiente epistemológico anti-positivista, los investigadores sociales
no encontraron inspiración de cómo investigar, por el profundo relativismo y hasta
agnosticismo de las corrientes hermenéuticas y postempiristas (Gadamer, Foucault,
Kuhn). Empieza, así, la época actual de la dispersión teórica, diferente de los períodos
anteriores al 1980, en los que había hegemonías de corrientes. Tampoco se desarrollaron
grandes polémicas entre las corrientes. Pareciera que los investigadores adoptaban
conceptos más por moda que por discusión profunda de sus fundamentos (además de que
ya no habría fundamentos según las corrientes dominantes en la epistemología
internacional). Hasta la fecha, no hay una corriente teórica en la Sociología en México
que pueda reclamar su dominancia. Es decir, hay actualización teórica en el país, pero
con superficialidad. En estos años decaen el Movimiento obrero y el interés de los
académicos por el mismo. Surgen también las primeras formas de reestructuración
productiva en grandes empresas (tecnología, organización flexibilidad, cultura) que
inauguran nuevas transdisciplinariedades lideradas por la sociología, que trajo al país a
las teorías de la Regulación, de la especialización flexible, las neoschumpeterianas, entre
otras. De forma más concreta, la sociología del trabajo tuvo un importante repunte y a
destiempo se conocieron las corrientes francesa (Touraine, Friedman y Naville) e inglesa
(Hyman), principalmente. En la sociología política, se debilita la visión marxista en un
contexto neoliberal que privilegia las teorías de elección racional, a la vez que se fortalece
en los estudios empíricos el análisis estadístico (Andrade y Leal, 1994).
La forma que adquirió en México el clima internacional anti-fundacionista y de
crisis de paradigmas, así como la postmodernidad, fue la de adopción de múltiples marcos
teóricos, de predomino de la investigación empírica implícitamente positivista, pero
conviviendo con el cualitativismo. Las temáticas se diversificaron, aunque fueron muy
relevantes temas como las migraciones, la transición del sistema político a una supuesta
democracia, la identidad y la subjetividad, los efectos de la globalización y del
neoliberalismo. Es decir, no obstante las temáticas se revitalizaron y las teorías adoptadas
conceptualmente también, cesaron las grandes polémicas y, en todo caso, se mantuvieron
restringidas a lo muy especializado (Paoli Bolio, 1990). La Sociología se fragmentó en
muchas especialidades con comunidades diferenciadas y formas de entender cómo hacer
investigación también. En otras palabras, una diversificación de enfoques teóricos, traídos
sobre todo por egresados de Doctorados de los países desarrollados, que reproducen
aquellos manejados por sus mentores y su círculo (Zabludovsky, 1997).
La escisión con la epistemología es casi total en los 1990. Ésta se había vuelto
mayoritariamente relativista y no proporcionaba e incluso desautorizaba, en general, la
búsqueda de la verdad. No podía proporcionar guías para la investigación social, desde el
momento en que muchas de las doctrinas más influyentes profesaban una profunda
desconfianza con la ciencia. No significa que por ausencia de alternativas todos los
investigadores cayeran en brazos de un positivismo, endeble en fundamentos pero con
39
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
40
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
sobre innovación en las empresas que ignoran al trabajo). A pesar de todo, no cesa el
debate en cuanto a las bondades del neoliberalismo (en lo rural, urbano, para los jóvenes,
las mujeres, los indígenas, vinculado con la violencia, el narco) y los sociólogos se han
inclinado más hacia el campo del pesimismo, sin vislumbrar salidas razonables.
Un efecto perverso adicional de los sistemas de estímulos ha sido el desencanto
acerca de los movimientos sociales de los académicos de la sociología, su alejamiento de
los movimientos sociales, que ha llevado a discusiones meramente abstractas rayando lo
bizantino. Además, las antiguas formas de vincularse con los sujetos sociales (típicas en
años 1970 y 1980) hacen perder el tiempo y no resultan en productos académicos
legítimos en un contexto neoliberal (Maya López, 2005). Como consecuencia de todo
eso, el vínculo discursivo más importante con el palpitar del país no corre a cargo de
investigadores, sino de un nuevo actor: el formador de opinión en televisión y radio.
El sistema productivista reseñado sí funciona en términos de producción y de
productividad de artículos, libros y ponencias en congresos. Un estudio reciente muestra
que, entre 2005 y 2011, el número de artículos indexados de sociología en México fue de
1603. En tipos de revistas, las sociológicas fueron las primeras en ciencias sociales. En
número de artículos la sociología fue el número 2, después de los de educación. Del total
de artículos en ciencias sociales, el 13.4% correspondieron a sociología y, en general, hay
una tendencia decreciente con el tiempo (Contreras, et al., 2014). Al mismo tiempo, la
política gubernamental de apertura de Doctorados de calidad (certificados) en provincia
provocó que la existencia histórica de instituciones emblemáticas de la sociología (el
Instituto de Investigaciones Sociales de la UNAM, primero, y luego El Colegio de
México) se viera desplazada por otras instituciones especializadas en temas que las dos
primeras no podían abarcar o en los que no tenían la primicia. Así como no puede hablarse
actualmente de la hegemonía de una corriente teórica en la sociología mexicana, lo mismo
vale si pensamos una u otra institución en particular.
Sin embargo, a pesar del aumento de la producción y de la productividad en la
sociología mexicana, su impacto social es muy dudoso. Hay un control burocrático sutil
de temáticas, métodos y formas de presentación de resultados, sin que haya una
evaluación directa de la calidad, excepto por número de citas. La contraparte del
productivismo es la “evaluacionitis”, que imprime un ritmo continuo de evaluación por
parte del Conacyt, de la subsecretaría de educación superior, de las propias universidades,
de las redes, las revistas, los postgrados, etc.).
Además del ingreso monetario y de los apoyos a la investigación, el “prestigio”
se mide por el nivel en el sistema nacional de investigadores (I, II o III), en la escala de
evaluación de estímulos de la propia Universidad (por ejemplo A, B, C, o D); si se
pertenece a cuerpos académicos consolidados o a redes; si una revista en la que se publica
forma parte de padrón de excelencia del Conacyt, y así por delante. Al académico sólo le
queda adaptarse a las reglas, sin mucha discusión acerca de éstas que, junto con el
envejecimiento de la planta de profesores e investigadores (60 años en promedio de edad),
han generado una planta de investigadores esterilizada para los grandes debates, algo muy
diferente a lo que vivía esta generación en sus inicios (post 68). Las nuevas generaciones,
además de las dificultades para ubicarse en las Universidades (los antiguos no se quieren
jubilar; la jubilación no es obligatoria, porque verían muy mermados sus ingresos),
41
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
Bibliografía
Andrade, A., J.F. Leal (1994) La Sociología Contemporánea en México. México, D.F.:
UNAM.
Arguedas, Leda, et al., (1979) Sociología y Ciencia Política en México. México, D.F.:
UNAM.
Contreras, Oscar, et al. (2014) Informe sobre la producción en México en Ciencias
Sociales y Humanidades. Tijuana: COMECSO.
Marcuse, H. (1972) Razón y revolución. Madrid: Alianza Editorial.
Maya López, Laura (2005) “A Veinte Años de Sociológica”, v.20, No. 59, sept-dic
Paoli Bolio, F. (1990) Desarrollo y organización de las Ciencias Sociales en México.
México, D.F.: Ed. Porrúa.
Zabludovsky, Ginna (1997) Teoría Sociológica y Modernidad. México, D.F.: Plaza y
Valdés.
42
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
Natasha Bachini
Bautista, Juan José. ¿Que significa pensar desde América Latina?: hacia uma
racionalidade transmoderna y postocidental. Madri: Ediciones Akal S.A., 2014.
43
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
e o racismo. Por isso, Bautista entende que, ao refletirmos sobre a realidade a partir de
teorias e conceitos da ontologia moderno-ocidental, estamos produzindo um pensamento
situado e local, e reproduzindo esses processos de dominação e colonização.
A respeito do processo de colonização do conhecimento, Bautista observa como
diversas obras acerca do pensamento filosófico mundial, como a de Randall Collins16,
possuem milhares de páginas, mas nenhuma sequer dedicada ao pensamento latino-
americano, como se ele não existisse. Bautista destaca também como propositalmente a
Filosofia moderna estabeleceu o marco do começo da história na Grécia Antiga,
desconsiderando que esta havia sido uma colônia egípcia e que houve centros de sistema-
mundo anteriores aos gregos, como a China, por exemplo.
Outra crítica feita pelo autor nesse âmbito se refere a periodização ideológica da
história como antiga, medieval e moderna, que afirma a “inevitabilidade modernizadora”,
como se a modernidade fosse o estágio superior alcançado pela humanidade ao qual todos
povos estão predestinados a chegar. Segundo Bautista, isso ocorre porque a ontologia
moderna parte do Ser europeu, do seu território e de sua realidade, excluindo a realidade
dos demais povos que foram explorados para possibilitar o desenvolvimento e o progresso
das economias capitalistas do Norte. Aqui observamos a convergência de Bautista com
os teóricos dependentistas e com os autores do grupo Modernidade/Colonialidade, no
sentido que o subdesenvolvimento não é uma condição para um processo evolucionista,
mas sim está ligado à expansão dos países industrializados, de modo que “não existe
modernidade sem colonialidade, já que esta é parte indispensável da modernidade”.
(QUIJANO, 2000, p. 343)
Portanto, para que se construa um pensar crítico sobre a realidade e para que seja
possível superá-la, Bautista defende que a ética da libertação 17 seja a base da
fundamentação de um pensamento crítico latino-americano transmoderno, pois essa parte
de uma história anterior à modernidade, da história que foi negada pelo processo de
colonização.
Mas o que seria o pensamento crítico transmoderno ou a filosofia transmoderna?
De acordo com Bautista, o primeiro autor a usar esse conceito foi Dussel, em El
encubrimiento del outro (1992). Discípulo de Dussel, em seu livro, Bautista define esse
conceito observando que o prefixo trans não é sinônimo de pós, visto que não parte de
conceitos modernos para a crítica à modernidade, nem significa a negação niilista da
modernidade e do conhecimento por ela desenvolvido, mas a elaboração de um
pensamento e de novas categorias para além daquela, que tenham como locus o que foi
sistematicamente negado pela modernidade nos últimos 500 anos. Nesse sentido, para
que de fato se construa uma compreensão total da realidade, o autor entende que é
necessário partir não apenas dos territórios e conhecimentos invisibilizados pelo projeto
moderno, mas de uma nova concepção de ética que valorize, sobretudo, a vida.
16
COLLINS, Randall. The sociology of philosophies: a global theory of intellectual change. Cambridge:
Harvard University Press, 2000.
17
O uso do conceito de libertação em vez de emancipação marca a distinção do pensamento decolonial do
debate pós-moderno, pois, para esses autores, o horizonte cognitivo do discurso emancipatório tende a ser
eurocentrado e limitado pela totalidade, enquanto o projeto de libertação parte da exterioridade, referindo-
se à América Latina e seus sujeitos concretos. (PAZZELO & DA MOTTA, 2013).
44
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
18
Nesse ponto, Bautista observa que Dussel considera o movimento zapatista (1994) como o primeiro
movimento que rompe com a modernidade na América Latina, pois este propõe uma interpelação a partir
do passado pré-hispânico.
45
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
19
Quando Bautista utiliza a expressão “crise da racionalidade ocidental”, está dialogando diretamente com
a obra de Husserl A crise das ciências europeias e a fenomenologia trasncedental (1991). Nesse texto,
Husserl argumenta que a crise da racionalidade ocidental reside na cultura de matematização do pensamento
oriunda da fundamentação proposta pela modernidade das ciências do espírito sobre as mesmas bases das
ciências naturais, e que tem como consequência a ruptura entre o objetivismo fisicalista e o subjetivismo
transcendental. Feito esse diagnóstico, o autor propõe nessa obra uma fenomenologia transcedental, que
reconecte a racionalidade aos problemas humanos, ao mundo da vida.
46
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
a pouco em teoria tradicional, pois sua ideia de emancipação está intrinsecamente ligada
a dois fundamentos modernos: racionalidade e industrialização.
Bautista avança nesse argumento com base no conceito de crítica-ética de Franz
Hinkelammert. O autor pontua que em Hinkelammert a concepção de ética tem um caráter
kantiano, é normativa, baseia-se na aspiração ao bem-comum. O bem-comum para o autor
define-se pelo equilíbrio, resistência, interpelação dos valores e respeito a vida humana.
Além disso, a ética hinkelammeriana compreende a responsabilização pelos efeitos
indiretos ou não-intencionais das ações.
Segundo o autor, para Hinkelammert as maiores contradições da modernidade
residem nas concepções de bom, justo e verdadeiro, pois aquilo que é assim considerado
na ética teleológica moderna, cujo fim é a produção de capital, tem como meios a
destruição da natureza e a exploração (e por vezes a eliminação) do próprio homem. A
economia política neoliberal e o direito moderno, ao tomarem como absolutas as leis de
mercado, na visão do autor, dirigem os homens e fazem com que eles às sirvam sem
critério, o que configura sua tendência destrutiva e o seu caráter irracional.
Destarte, ao partir da lógica da indeterminação, Hinkelammert rompe com o
positivismo moderno e propõe a epistemologia da crítica-ética, que questiona as teorias,
produz novos métodos pertinentes às realidades tematizadas e indica que é possível viver
de um modo distinto e pensar a partir de outros horizontes racionais. No entanto, sua
proposta não é “ produzir outra ordem, mas produzir uma ordem cuja centralidade gire
em torno da produção e reprodução da vida da humanidade e da natureza”, visto que a
“modernidade tem negado a possibilidade de viver dignamente a várias pessoas¨.
(BAUTISTA, 2014, p. 120)
No entanto, Bautista entende que a realização da crítica-ética de Hinkelammert
prescinde de uma análise da sociedade que vá além das Ciências Sociais e da Economia,
como a da teologia da libertação20. O autor afirma que a teologia da libertação é uma
ortopraxis, pois se baseia na vida concreta dos crentes que sofrem as injustiças produzidas
pelo sistema, mas que, ao mesmo tempo, creem em Deus e querem entender por que o
seu reino não chegou até eles.
Bautista ressalta que, antes da teologia da libertação, a filosofia nunca havia
pensado o tema da pobreza. Acerca desta questão, o autor explica que para essa corrente
Deus está na relação intersubjetiva entre seres humanos que se reconhecem como irmãos,
de modo que a existência do pobre se configura como “uma prova evidente de uma
sociedade sem Deus”. Assim, o caminho para a libertação apontado por esses autores é o
do mútuo reconhecimento que, por consequência, acabaria com a desigualdade e
viabilizaria a superação do capitalismo.
Na terceira parte do livro, Da racionalidade, finalmente Bautista apresenta sua
teoria de filosofia latino-americana e sua proposta de como viabilizar a transformação
social a partir da recuperação das relações comunitárias e de uma produção de alimentos
cuja base não seja a exploração da natureza, mas a reprodução da vida.
20
A teologia da libertação é um movimento cristão surgido nos países da América Latina na década de
1960, após o Concílio Vaticano II e a Conferência de Medellín (1968), cujos membros consideravam que
o Evangelho exigia a opção pelos mais pobres e que, para realizar essa opção, a teologia deveria se utilizar
dos conhecimentos das ciências humanas e sociais para libertá-los das injustiças sociais que sofrem.
47
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
O autor inicia a sua argumentação a respeito de “como pensar com Marx para mais
além de Marx”, diferenciando as categorias hegelianas analisar, refletir e pensar. Bautista
enfatiza que o pensar é o ato próprio da ciência, pois observa o horizonte cultural e
civilizatório que está por trás do sujeito. Ao propor o pensar desde a América Latina e a
transição para uma forma de vida distinta, transmoderna ou pós-ocidental, o autor entende
que devemos partir da matriz histórico cultural cuja forma de vida é comunitária e não
social, inspirando-se nas comunidades do mundo andino-amazônico da Bolívia e seus
conceitos fundadores.
O primeiro passo à transcendência indicado por Bautista é a passagem das relações
sociais coisificadas produzidas pelo capitalismo e da subjetividade por ele produzida, para
as relações comunitárias, que têm um fundamento ecológico e concebem o homem e a
natureza enquanto sujeitos. O segundo passo é a recuperação da racionalidade das
comunidades ameríndias encoberta pelo caráter fetichista e totalitário da sociedade
moderna. Para tanto, segundo o autor, é necessário pensar a sociedade a partir do que ela
nega: as relações diretamente sociais das pessoas com seus trabalhos nas comunidades
ameríndias. O terceiro passo proposto por Bautista é a transição da doutrina de Hegel à
teoria do fetichismo de Marx e Hinkelammert. Nessa transição, o conceito de reino da
liberdade de Marx é apontado pelo autor como transcendente, visto que propõe relações
de trabalho livres a partir da expropriação dos meios de produção. Isso significa um
rompimento com o mito do progresso e com a ideia de realização sempre futura das
sociedades humanas, pois a possibilidade de transformação está materializada no tempo
presente. Em outras palavras, assim como os indígenas dos Andes já declaravam no séc.
XIX, é preciso lutar pela libertação do tempo da dominação.
Dessa maneira, Bautista entende que a teoria transmoderna deve: 1) partir de outro
locus de enunciação, pois o projeto de razão europeu baseia-se na exploração e dominação
da América Latina; 2) negar as noções de que a racionalidade e a crítica são
exclusivamente modernas; 3) mostrar as limitações das categorias mais importantes
produzidas pela modernidade para ir além delas; 4) tomar autoconsciência21, no sentido
de examinar como se enfrentam os desafios de história latino-americana22; 5) ter como
princípio produzir um mundo onde seja possível a vida de todos.
Segundo Bautista, as concepções de natureza como Pachamama e de comunidade
dos povos andino-amazônicos são fundamentais a esse processo, pois diferentemente da
subjetividade moderna, cuja base é a solidão existencial, a subjetividade desses povos se
desenvolve na relação com Pachamama23, e a “a vida de nossa subjetividade depende da
vida dela”. Essa diferença nos ajuda a compreender, por exemplo, porque para os
europeus não há problema em agredir a natureza. (BAUTISTA, 2014, p. 249, tradução
minha)
21
O processo de autoconsciência consiste na compreensão do desenvolvimento da subjetividade dos povos
que estrutura a sua cosmovisão, e o conteúdo de sua subjetividade é definido pelas relações que os homens
estabelecem com a natureza (BAUTISTA, 2014).
22
Para Bautista, esse processo nos prepara para ser os sujeitos reais da política e da história.
23
Pachamama é a deidade máxima para os povos andinos (especialmente bolivianos, peruanos, argentinos
e chilenos) que representa a geração da vida, cuja concepção está relacionada fundamentalmente com a
terra, a fertilidade e o feminino.
48
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
O autor comenta ainda que alguns projetos ditos emancipadores, porém típicos de
sujeitos colonizados, como o de Evo Morales, procuraram recentemente unir as duas
cosmovisões. No entanto, essa iniciativa é contraditória na visão de Bautista em pelo
menos dois pontos: i) o custo da industrialização força a Bolívia a importar tecnologia, o
que dá continuidade ao atraso e desenvolvimento da região; ii) a ideia de Suma Qamaña
não permite que haja exploração industrial da natureza, o que não é respeitado no projeto
de Morales.
Nesse sentido, Bautista retoma mais uma vez o argumento dependentista de que
ingressamos no mercado capitalista como provedores de matéria-prima e consumidores
de mercadoria, sustentando o desenvolvimento europeu. Enquanto os países da Europa
viviam a segunda revolução industrial, por exemplo, a América Latina não tinha passado
nem pela primeira. Além disso, quando países como o Paraguai tentaram se industrializar,
sofreram forte retaliação internacional. Portanto, a concepção de desenvolvimento
moderna nunca conduzirá a América Latina ao desenvolvimento. Assim, para construir
uma dialética de desenvolvimento da vida, a alternativa dos países latino-americanos é
partir de outra concepção de desenvolvimento que não se baseie na exploração de outros
povos.
Bautista conclui sua argumentação reafirmando que a racionalidade transmoderna
deve prever a reprodução da vida; que deve pensar “o que éramos, o que somos e o que
queremos ser” a partir de lemas como Suma Qamaña, Ñandereco (vida harmoniosa),
Tekokavi (vida boa), Ivi Maraei (terra sem mal) e Qhapaj ñan (caminho ou vida nobre).
Nesse processo, para o autor é imprescindível a recuperação de um sistema de produção
dos alimentos que permita a produção e reprodução da vida, visto que não consumimos
apenas os nutrientes, mas a intencionalidade pela qual os alimentos foram produzidos.
Em suma, o diagnóstico realizado por Bautista a respeito da colonialidade latino-
americana dialoga, em larga medida, com o debate pós-colonial, não apresentando grande
originalidade nesse campo. Por outro lado, a densa estrutura epistemológica apresentada
e o caráter propositivo de sua teoria se destacam em relação a outras obras do pensamento
decolonial, que, comumente se concentram no âmbito do diagnóstico e não apontam
caminhos plausíveis de superação do eurocentrismo e da desigualdade imposta pelo
sistema capitalista.
No entanto, o autor poderia ter dedicado mais páginas ao conhecimento dos povos
pré-hispânicos do que aos conceitos herdeiros das matrizes europeias. Os conceitos
relacionados a essa primeira matriz são tratados apenas sumariamente na última parte do
livro e, sem uma articulação que torne clara e direta sua proposta de elaboração de um
pensar transmoderno, desde a América Latina.
Referências Bibliográficas:
49
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
50
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
8. Apêndice
Na última edição destes Dossiês Temáticos (n. 4: Sociologia Latino-Americana:
Originalidade e Difusão), incluímos um apêndice com a finalidade de sistematizar a
retomada das atividades de pesquisa do NETSAL nos últimos anos, concomitante à
transição institucional do IESP/IUPERJ para a UERJ. Em poucas páginas, a intenção foi
construir uma visão de conjunto do trabalho realizado nos mais diferentes formatos, como
a publicação de livros individuais e coletivos, o lançamento de iniciativas editoriais
próprias, a organização de seminários de debate acadêmico e político, a circulação de
pesquisadores visitantes no núcleo e a remodelagem de nossa comunicação virtual. A
ideia de preservar essa memória através de um registro anual foi então acolhida pela
coordenação. Por ser a publicação que mais amplamente dialogia com nossas linhas de
discussão ao longo do ano, o Dossiê Temático foi o veículo escolhido para abrigar essa
retrospectiva. Além da continuidade de publicações seriadas como os Cadernos de
Trabalho e dos Dossiês Temáticos, o ano de 2015 merece destaque pela oportunidade de
recolocar em pauta as manifestações de junho de 2013, com colóquio nacional dedicado
ao tema, e também pela oportunidade de reunir nossos pesquisadores associados no I
Seminário Internacional de Teoria Social e América Latina realizado em outubro.
L ivros:
51
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
C adernos de trabalho:
▬ “Sociologia política e o espectro da modernização na
América Latina”, de Pedro Borba (Vol. 3, n. 2, 2015).
52
Sociologia Latino-americana II – Dezembro 2015 – NETSAL – IESP/UERJ
E ventos:
- Colóquio “Jornadas de Junho... dois anos depois”
(22/06/2015)
53