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12/02/2015 TeoriaSociologica1 ­ RESUMO DO SEMINÁRIO ­ DA DIVISÃO DO TRABALHO SOCIAL, SEGUNDO DURKHEIM

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TeoriaSociologica1

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RESUMO DO SEMINÁRIO: DA DIVISÃO DO TRABALHO SOCIAL, SEGUNDO DURKHEIM

Davy Alves Caminhas e Rafael Henrique G. Cardoso

PREFÁCIO Á SEGUNDA EDIÇÃO

Durkheim trata da importância dos agrupamentos profissionais para o desempenho da organização social dos povos contemporâneos.

O autor desconstrói a ideia da divisão do trabalho como responsável do Estado anômico jurídico da sociedade industrial. Porque este estado de anomia jurídico
deve ser atribuído aos conflitos e desordens decorrentes do mundo econômico. Como nossa sociedade, a vida dos indivíduos transcorre quase toda no meio
industrial e comercial, o efeito disso é que parte da existência dos indivíduos transcorre forra de qualquer ação moral.

Para Durkheim as organizações corporativas são importantes nas sociedades contemporâneas pela sua influencia moral capaz de conter o egoísmo e manter os
laços de solidariedade forte entre os trabalhadores. Essa subordinação dos interesses particulares ao interesse geral é a própria fonte de toda atividade moral.

A associação de indivíduos com interesses em comum tem como função: formar com vários um só todo, enfim, para levar juntos uma só vida moral. A corporação
é o meio natural no seio do qual devem se elaborar a moral e o direito profissional.

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Todavia, Durkheim defende que: o sistema corporativo sofreu transformações para adaptar­se a sociedade moderna. Na medida em que o mercado era local o
corpo de oficio supria todas as suas necessidades. Porém, o nascimento da grande indústria provoca duas mudanças: (1) ela não tinha uma sede necessariamente
numa cidade; (2) sua clientela se recruta em toda parte.

Como as corporações eram apegadas a seus costumes, não teve condições de corresponder a essas novas exigências. As corporações não tiveram flexibilidade
suficiente para se reformar a tempo, por isso foram superadas. Assim, na medida em que avançamos na historia a organização com base em agrupamentos
territoriais (aldeia, cidade, distrito) vai desaparecendo. O que produziu um declínio espontâneo da velha estrutura social. 

O que pode substituir essa organização interna? Durkheim defende que o Estado por ser distante dos indivíduos não consegue penetrar nas consciências
individuais e socializa­las. Assim, como vimos, os grupos profissionais são os mais aptos a cumprir esse papel.

CAPÍTULO I: MÉTODO PARA DETERMINAR ESSA FUNÇÃO

Durkheim delimita o uso do conceito função como: a que se presta, ou a que necessidade responde. E Afirma a divisão do trabalho como “condição necessária do
desenvolvimento material e intelectual das sociedades. “(..) é a fonte da civilização.” Afirma que além desse “resultado” devem existir outros, assim como outras
funções, no caso afirmando a existência de uma função moral.

A civilização é uma coisa moral? Para responder, sugere que seria necessário medir a moralidade média das sociedades ao longo do tempo, de acordo com os
progressos civilizatórios. Haja vista que as anomalias aumentam em proporção direta, logo, se a civilização não é imoral certamente ela possui influências
positivas bastante fracas sobre a sociedade.

Por fim afirma que os elementos que compõem esse “complexus mal definido” chamado civilização não tem nada de obrigatoriamente moral, e destaca entre tais
elementos a atividade econômica. Fala em uma consciência moral das nações capaz de preferir algo em detrimento de algo.

Durkheim distingue a ciência dos outros elementos civilizatórios, afirmando que ela é o único que em determinadas circunstâncias apresenta um caráter
notadamente moral. Cliva a ciência entre popular e erudita, atribui à primeira um caráter moral e iguala a segunda às artes e à indústria, que assim como elas não
têm o ingresso em seu campo como objeto de coação da moral social.

Afirma que a “... ciência é a consciência elevada a seu mais alto ponto de clareza.” É, portanto, útil a uma sociedade em constante mudança, já que “...
consciência esclarecida sabe preparar de antemão a maneira de se adaptar a essa mudança”. Talvez contaminado por Darwin acredite que a inteligência
esclarecida constitua uma “vantagem adaptativa”. 

O autor coloca frente a frente sem, contudo, comparar as vantagens econômicas ou produtivas da divisão do trabalho e seus “inconvenientes morais”, para afirmar
que não é possível à divisão do trabalho habitar a suposta zona neutra da moral. Esvazia a civilização de valor intrínseco e a coloca como resultado que
corresponde a certas necessidades.

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Lança mão da incompletude dos sujeitos para mostrar que interagindo no âmbito da amizade as dessemelhanças tornam­se complementares. Que as carências ou
necessidades individuais podem ser “suprimidas” pelo convívio. Assim, visa demonstrar a diferenciação, nessas condições, como matriz de solidariedade. Desse
modo introduz a sugestão de que a divisão do trabalho social teria função análoga no seio da sociedade.

Reforça a tese de que a divisão do trabalho, ou dos papeis sexuais seria a responsável pela solidariedade conjugal. Traça uma espécie de linha evolutiva da
diferenciação sexual vs solidariedade conjugal na qual a medida que se diferencia/divide o trabalho sexual há um incremento da solidariedade conjugal, que no
ritmo que se complexifica aproxima os cônjuges, diminui sua autonomia, torna a união mais estável e paulatinamente se cristaliza até o momento da lei. É
importante salientar que nesse exercício Durkheim extrapola o que seria uma evolução sociocultural e adentra no terreno da evolução biológica, lançando mão
de evidências, antropológicas, arqueológicas e anatômicas (frenológicas) da época ele defende uma espécie de recapitulação ontogenética (teoria biogenética de
Haeckel) intraespecífica entre os sexos. Com base nesse argumento pseudo cientifico, que diga­se de passagem, era uma afecção recorrente ao tempo do autor,
postulou que as diferenciações morfológicas, psicológicas entre o sexos, devidas em parte a uma estagnação ou até mesmo regressão feminina foram causadas
pela diferenciação/divisão do trabalho sexual. Causa e resultado juntos constituiriam um índice para aferir o grau de civilização de uma sociedade. 

Enfatiza que embora todos os exemplos demonstrem que a divisão social do trabalho tem por efeito aumentar o rendimento das funções divididas, e, portanto a
dimensão econômica poderia ter participação nesse resultado, esse efeito e essa participação não são senão acessórios. O papel precípuo da divisão social do
trabalho é tornar viável o inexistente, ou nas palavras de Durkheim “... consiste no estabelecimento de uma ordem social e moral sui generis”.

Seguindo essa linha afirma que a divisão social do trabalho é a responsável pela integração do corpo social, uma vez que aumentando a interdependência dos
indivíduos incrementa os laços solidários. Postula ainda, que o desenvolvimento da divisão social do trabalho seria responsável por aumentar a “extensão” e a
complicação do “organismo social”.

Me parece que o autor chega a atribuir à divisão social do trabalho um força motriz em relação a historicidade, citando Comte ele advoga que ela é a “condição
mais essencial da vida social” e seus desenvolvimentos inseririam os cooperadores num continuo histórico. Levanta a hipótese de que a divisão social do
trabalho, em seu caráter moral, seria a principal condicionante das características constituintes de sociedades onde ela se apresenta de forma pronunciada.

Para testar a hipótese, diz ser necessário averiguar em que medida a solidariedade criada pela divisão do trabalho social contribui para a integração social. E
sendo ela um fenômeno totalmente moral é intangível, por tanto para tal procedimento é necessário colhe­la em algo que se exterioriza a partir dela, esse objeto
tangível seria para Durkheim o direito.

Defende a validade do direito enquanto efeito tangível, diminuindo a relevância dos argumentos que evidenciam sua insuficiência em relação a solidariedade e
suas contradições e complementaridades em relação ao costume. Afirma que via de regra o direito surge do costume e quando o último se choca com o primeiro
esse choque é particular e secundário.

Por fim, definido o método de estudo da solidariedade a partir do direito, afirma que a tarefa consiste em categorizar o direito para em seguida extrair dessas
categorias seus equivalentes no plano da solidariedade.

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CAPÍTULO II: SOLIDARIEDADE MECÂNICA OU POR SIMILITUDES

O que constitui­se essencialmente um crime? Durkheim aponta que uma característica comum a todos os crimes é que eles consistem em atos universamente
reprovado pelos membros de cada sociedade. 

O crime gera sentimentos que se encontram em todas as consciências individuais. As regras que proíbem o ato criminoso e que o direito penal sanciona estão
gravadas em todas as consciências, todo mundo as conhece e sente que são fundamentadas.

O motivo da punição é que a regra é conhecida por todos. Os sentimentos coletivos que correspondem a um crime são medidos pela sua intensidade media. Que
são fortemente gravados em todas as consciências.

A prova que são fortemente gravados é a extrema lentidão que o direito penal evolui. As inovações são extremamente raras e restritas. Para o autor esse conjunto
de crenças e de sentimento comum formam um sistema com vida própria: a consciência coletiva ou comum (similitudes sociais). Uma vez que são independentes
e exteriores as consciências individuais.

Conforme Durkeim o que caracteriza o crime é o fato dele determinar a pena. A pena consiste, portanto, em uma reação passional que é uma característica das
sociedades menos cultas. A finalidade da pena dos povos primitivos é apenas punir, eles não procuram punir de maneira justa ou útil.

Apesar de atualmente a sociedade pune não mais para se vingar, mas para de defender. Porém a natureza da pena não mudou essencialmente, porque a
necessidade de vingança está mais bem dirigida hoje do que ontem. De um modo geral a pena é uma reação passional de intensidade graduada, exercida pela
sociedade representada por um corpo constituído (reação coletiva organizada ­ tribunal) contra aqueles membros que violaram certas regras de conduta.

Assim, esse autor argumenta que é inevitável que reajamos energicamente contra a causa que ameaça a integridade de nossas consciências. Principalmente
quando é uma crença que nos é cara, e não podemos permitir que seja impunemente ofendida.

Para Durkheim, toda a ofensa dirigida contra a consciência coletiva suscita uma reação emocional, mais ou menos violenta, contra o ofensor. O crime ofende, na
sociedade, os mais universais coletivos possíveis, são estados particularmente fortes da consciência comum, logo é impossível que se tolere a contradição que ele
causa.

É inevitável e se reproduzira onde houver um sistema repressivo. Se esses sentimentos fossem de nível medíocre não haveria mais pena. O crime tem a função de
aproximar as consciências honestas e as concentra. Nas pequenas cidades quando algum escândalo moral é cometido às pessoas se indignam em comum.

De modo geral o autor define a solidariedade mecânica: como nascida da semelhança, e que vincula diretamente o individuo a sociedade. É essa solidariedade
que o direito repressivo exprime, pelo menos que nela tem de vital. A solidariedade mecânica: é um produto das similitudes sociais e tem por efeito manter a
coesão social que resulta dessas similitudes.

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O mesmo acontece com a pena que muito embora proceda de uma reação mecânica, de movimentos passionais, tem como verdadeira função manter intacta a
coesão social, ao conservar toda a vitalidade da consciência comum.

Sem a pena a consciência moral não se conservaria. Porque o castigo é destinado a agir sobre as pessoas honestas para impedir que os atentados (ofensas) se
multipliquem. Assim, a pena tem como função proteger a sociedade. Para Giddens (2010) a função dos presídios é dissuadir que as pessoas honestas cometam
crime.

CAPÍTULO III: A SOLIDARIEDADE DEVIDA À DIVISÃO DO TRABALHO OU ORGÂNICA

Segundo Durkheim a natureza da sanção restitutiva diferentemente da penal não é expiatória, mas sim de restauração. Em outras palavras ela obriga o sujeito a se
submeter ao princípio não observado ou desprezado, tendo por fim restaurar o direito em sua forma normal. Afirma que as regras do direito restitutivo não fazem
parte da consciência comum, quando muito são estados fracos desta sendo excêntricas a ela. Enquanto o direito penal constitui seu cerne.

Quanto mais se distância da consciência comum, mais o direito restitutivo se torna ele mesmo, e na mesma medida necessita de instituições (ou órgãos
especializados) para se manter na sociedade, ao passo que o penal permanece sempre mais ou menos difusamente presente por meio da consciência comum.

O autor obsta o argumento de que o direito restitutivo se estabelece entre litigantes sem a mediação social afirmando que a regra é uma coisa social e que age no
sentido de restabelecer­se através do litígio em questão. Por tanto o que o direito visa não é a “solução mais vantajosa para as partes em litígio, com o que seria
apenas um conciliador de interesses, mas aplica a sanção no sentido de restabelecer a norma perturbada”. A ação social não só funda e modifica a regra como é da
sociedade que provém sua legitimidade. Por trás de todo e qualquer contrato está a sociedade a reconhecer a validade do mesmo.

O direito restitutivo, por ser relativamente estranho a consciência comum não afeta imediatamente a sociedade, ele o faz de forma mediata através das instituições
ou órgãos especiais onde ele se realiza ou é cultivado. Embora o funcionamento e os efeitos do direito restitutivo se deem em órgãos específicos do corpo social,
tais efeitos não passam despercebidos pela totalidade do corpo. E sua reação a ela (sociedade) se dará através dos mesmos órgãos especializados. Diferentemente
do repressivo que como um espasmo se faz sentir em todo o corpo social.

As relações do direito restitutivo se manifestam sob duas formas: negativas as quais se reduzem a pura abstenção. E Positivas que redundam em cooperação. A
elas correspondem duas espécies distintas de solidariedade social. As relações negativas expressas juridicamente sob o nome de direitos reais ligam as coisas às
pessoas. “Ela não faz com que as vontades se movam em direção a fins comuns, mas apenas que as coisas gravitem com ordem em torno das vontades”
(DURKEHIM, 2010, p. 91).

O direito típico do conjunto dos reais é o direito a propriedade e suas variações, direito esse que por ser a base da organização social estabelecida é tido como
dogma, e, portanto não carece de consenso. Como não há consenso não existe lugar, também, para o dissenso, esses direitos isolam os indivíduos, vedam o
concurso entre eles em função de sua função social que é resguardar as relações conservadoras entre as coisas e as pessoas.

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As relações pessoa/pessoa do tipo negativo nada mais são do que outro tipo de relação coisa/pessoa. Pois só ocorrem quando o isolamento entre os indivíduos
relacionados a coisas se rompe. Nesse momento as pessoas entram em cena para restaurar as relações coisa/pessoa. O concurso que há é aparente, pois é
ocasionado com o fim de se restabelecer a abstenção.

A solidariedade negativa não é um tipo real de solidariedade, mas sim o lado negativo da solidariedade. Desse modo só pode existir em sociedades onde exista
sua contra parte a solidariedade positiva. Ambas tem por função o bom funcionamento do organismo social. A primeira é uma espécie de acordo externa que
supõe a coesão orgânica, enquanto a segunda é a resultante e a condição dessa coesão. 

A solidariedade de tipo positivo, típica do direito cooperativo, é a que promove e surge do concurso entre os indivíduos, manifesta­se no direito
que se ocupa da divisão social do trabalho em qualquer que sejam os seus graus e formas, temos como exemplo: os direitos doméstico, contratual,
comercial, processual, administrativo e constitucional.

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