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-1-
.,.., .
!!iO base de nosso deslocamento atra vés do rio J:Jn,,ira º Via
dc- Rio Branco para l!:_<: ijó em um táxi a.é:t:ieo ~ Ún ica v i a. de
=.:::sporte então existente , travamos conhecimento com o Prefei
~o c al que gentilme nte ofereceu·.. nos hospeda ger:1 em sua ca$a. Lo
_ _ ssamos a. ser c o nhecidos na cidade como ; ,3. ge nte da FUNAI 11
:federal ' 7 e 11
a.migo do Prefeito 11
Foram co m estas • apresent~
- ·=.S sociais que tra vamos o primeiro contato com os agrupame_!2
--= "ndÍgenas da periferia daquel a cidade, No mesmo dia o Pr e
=-· + fez questão de acompanhar-nos e m visita. à localida de de
Nova, onde vivia um grupo de Índios KatukÍna.
Morada Nova mais parece um b -3 .irro da perifE~ria d2 cida.
.
que propriamern.e ,_ uma ma.Loca
- . d .. p . ,
i rL 1gena, _ assamos -co aa a t a r
- -...= ;; vi ", j_an1 não dispt1nharr1 de terça.do s , ;na.c11adcJs 5 enxa.détS e +'-- ,-,
'-- .
e ssa p ri meir a fase da pesqui.s c: de ca.mpo estas ques
7 - 2s
. ...
f oram suscita das pelos agrupame ntos indig(:ma.s da area -
O recenseamento de Morada No va apontava p a r a e x istên
de 92 pessoas vi vendo e m 19 casas, tr3s da s qua is estavam va
-- ""s porque s eu s respectivos ocupantes tinham rr.igr ado p a r a. a
Calif6rnia , loc a lizada no alto Rio Enviaa e de proprie-
--::e do gr•up o At al la-Coperçúcar. Por oc u. s iã.o da contra.taçií.o das
_e itada. s p a.ra r ea liza,r os pr im,~iros desmata.mento s du.quela f~.
-=-- -ª ~ um hon1em Ka t11}{: Ína ~ filho do velho Tt1xa.1.1e.. do gruJ?O 5 t .;:1:rn
-
.: - - s e o f e rec eu corno um dos ernprei t eiros º Sendo aceit o p elo a.d
- -::.str ador, p ass o u a contrata r dentre seus parentes aqueJ.es qu,:;
-ispunham a. traba lhar como peõe s dura nte os meses de verct0
=: ó ~ junho , julho , agos:t o e setemhro). Ap e n as este
.
Ka.tukina. J
- ;:re i te iro~ mantinha li ga ç ões c om a a.dmin is tração ô.a Faz,.:·nda F:
que se fossemos 1
um fiscal de verdade': el e s nos 11
contariam
--oda a verdade 11
- a verdade da sujeição que o patrão lhes impõ 2
· !3.belando as mercadorias a preços altíssimos e pagando u:r:1 preço
_ i to baixo p or quilo de bor1"acha,
Nesta época o ,Jordão atravessava uma forte epidemia de
~8-
periferia urbana
( Feijõ e Tarauacá) 250 (21 ; 18%) 42
rio Muru,Iboiaçu
E HtL.TTJ.anitá (4 serin
·s) 26
rio Tarauacá ( 4
Tingais) 132 (11,18%) 17
rio Jordão (6 se
390 (33,05%) 48
( igara
seri..'1gal) 80 ( 6,78i) l '2
(1 se
10 ( 0,83 9:, ) 1
( 6
164 (13 ~8 9%) 26
- -~-i
da população
recens e a
1.180 ( 100%) 172
":'otal 23.950 , 00
-2 0 -·
Estas compras foram feitas por Sue iro com mu:i.-ta caute
estava temeroso de que a borra cha fosse apreendida na
Depois de consultar vários comercian-tes l o cais para sa
o s preços que pagavam pelo quilo da b o rracha e os preços
mercadorias que deveria. adquirir para continuar
Kaxinawá do Jordão 5 é que efetuou a transação
,h- • , - -
re acompan11avarn.os, discutiamos as questoes, mostravamo~ as
Última palavra. Ele decidia,
fazer, mas precisava de nosso apoio para enfrentar o s p~
regionais do rio Jordão.
Os outros Kaxinawá nos viam as sim, como aliados de Su
que nao os impedia de tecer inúmeros comentários críti
=.cerca de sua posição de clas se, dife renc iando internamente
- -prio gpupo. Sueiro era uma espécie de \'Gerente Aviado" do
_· _gal Fortaleza, e os demais Ka x inawã percebiam nele um ' 1 p~
caboclo l i , que tendo mercadorias, é igual upatrão cariu11 , é""'um pelo
-:lê família em Morada Nova 9 porque teve que fugir às pre ssas
=.;u em 11
desgraça 11 ~ acusado que foi de prática d2 feitiça,ria
nosso ~ltimo encontro pudemos perceber que ele j& n~o s ra o
_em falant e, alegre e desinibido de outrora. Sentia-se injus
- · çado? amargurado e profundamente humilhado com o que havia
-~ ;_ ass c1 do em Morada Jl!ova. Narrou- me com profunda tristeza os
tecimentos sucedidos junto ao grupo Katukína. Tinha tar.tb ém
· gra do para Morada Nova uma outra família Kaxinaw,J'. do Ta:raua -
- expulsa do seringal adquirido pela agropecuária Cinco Estre
- ~ S .A. Ao chegar em Morada Nova~ o chefe desta família foi
- -=~cado por um mal s Úbi to que nem os médicos de Fe ij Ó e Rio Br3:!2
- , onde veio a falecer, souberam diagnosticar. Consultado um
:=-·é da localida de de Paroá, também Kaxinawá, a. s suspeitas re
-= ..,ram sobre CarlitoJ que logo passou a ser marginalizado em
_ra da Nova. Ele havia sido forma lme n-te ac usado d e ter feito
71
_éê:rviço nas fezes da vítima, porque era invejoso e queria a
ssar- se de um pequeno batelão que aquela famíli a ·tinha recen ·--
-- e nte adquirido no Envira º O filho daquele Ka xinawá f a lecido
os KatukÍna e aplic cn"am uma humilhante sur
em Carlito. Para nao ser morto 5 Carlito jo g ou-se no
de Feijó 1 e daí viajou .em seguida para
uacá 5 onde se sentia mais protegido ,
Novameni:,2 o convidamos para ser z.uia em nosso desloca
-~"'""·r,...~ nos rios Muru, Ta rauacá e Jordào. Ele recusou-se, dizen
a ndanças conosco so lhe haviam trazido desgraç as
aquela que a c abav a de narrar. Pretendia matar o Ka x inawá
h avia colocado contra ele toda a popula ção KatukÍna de Mora
. ova, Terminado o serviço de :, empreitada ·' p a ra o grupo " p a.~
planejava conseguir um pedaço de terra e
um roçado, para depois cha.:mar sua mulher e filhos que
em Mo rada Nova.
Ca rlito Cataiano e Alfredo Sueiro for a m os ami go s que
profundamente o s quase nove mes e s àe deslocamento na
vive m atualmente os Kaxinaw&, do lado brasileiro
um ;'pajê do cipc.S ;· ~ com u ma áre a de atuação limitada
. O segundo um nintelectual · do grupo~ aquele que
_ reoc u pava sirnul·taneament c com a memória. social e com um pr:::_
-22-
SIÇÕES TEÓRICAS
<.
A pesquisa de campo entre os Kaxinawi revelou a --
nao
de uma unidade destE~ g rupo étnico, não só geogr•a fic~
também em termos · econômicos, sociais e ideológicos
._-era.mos hoje os Kax.inawá vivendo 2, maneira de seringueiros
decadente frente extrativista da borracha e
parte do grupo v cmde sua força de tr2..b ;:-ü ho a·~
frente agropc-;cu5ria que se instalou como emprendimerrto e
-----~· coa part ir do início da d6cada de 1 9 70. N~o se pode~ po~
~ ~ --~ , pensar nos Kaxinaw~ enquanto um grupo isolado do contex
~-g ional, nacional e internacional. Entender o processo de
a:isão da sociedade bJ:-iasileira 1 a superposição elas duas fren
__ feridas e ver como os Kaxinawé. nelas se integ;ram, tor
- e o pr•oblcma de nossa investir,ação. O estudo ,.:;J.a temática
de expansão da e sociedade brasileira se constituiu
em um guia teórico possível de explicar o caso Ka x inawá .
e ste concei·to já vem sendo trabalhado nas ciências so
-- - ~ tenta.remos apresentar uma lei tu1"a. que parta das prime~
=o r mulaç,Ses teóricas elaboradas I_"Jclos geôgrafos às mais re
-_s contribuiç5es de antro~Ólogos e sociólogos brasileiros
~ ss:1.dos no estudo da. fronteira.
A primej_ra dificuldade encontrada es t ava na seleção
-=e xtos que) do nosso Donto de vista~ melhor colocassem o pro
.~ .L - ~- -
Assim respo nde o autor à pr1me 11"'2, que st5.o: " o conceito
•:ne1ro 5 para mim, signific a mais do que o conceito de 'fro n -
man 1 , isto é, do indivíduo que vive numa fronteira e s pa
• O pione iro procura não só expandir o n o vo a mento espaci 2.l-
t a mbém inte nsificá-lo e cria s novos e mais elevado s
• ~oe~s cte vida. Sim, emprega mos o conceito de pio neiro, tam
p2.ra in d ica r a introdução de me lhoramentos no campo da t êc
meio de vida espiritua l " (Wa ibe l, 1955 : 391).
Dentre os crit~rios utiliza dos pelo autor para d e fi
conceito de Hzona pioneira 11 o mais importa nte seria 11
um
es pa cial •. . que é uma pre missa fundame ntal para a
uma zona pioneira 11 (Waibel, 1955 : 39 3 ) . Vê-se aí co
se conceito e stá pres o à idéia geográ fica . Os o utros cri
atua lizam-· s e: quando " a expan são da a gricul tu.ra se a ce
" quando u ma es pécie de febre toma a populaç ão das ime di_~
próxima e se ini cia o fluxo de uma forte
nte humana"; ; e H . º. qua ndo a a gricultura e ·::, povoame nto pn__?_
. . . um 1
bo o m' ou 1
rush1t 11 (Waibel , 195 5:3 92). As c o nsequê~
da impla nta ção de uma zona pioneira ser-iam visíveis .J. qual_
11
o bservador: 0s preços das terra s e l e vam-s e vertiginosarneT:_
·a s ma tas s ã o derrubadas 1: ~ 11
cas a s e ruas sao cb ns-truÍdas ic ,
_aàos e cida de s saltam da terra q ua se da n o ite p a ra o dia n
e spíri i.:: o de arro jo e otimismo invade t o du a populaç ão '·
1 ~ 1955 :3 92).
Uma d istinção importante n e ste t e xte de We.ibel e ,3- q_ue
11 1
fro nteira e conômica ' e '' front e ira de mográfica
,., '' . Esta
· a o s e rtão com a mata virgem pa ra oeste 17 e a p rime ira " s e
o sertã o a leste da re g ião eco no micame nte mais adia.nta da ;,
1 , 19 5 5 :3 91). Ressalta a. inda que , no Br a sil, a ··· front e ira
e steve aqué m da Ff r onte ira demográfic a' :
. eiºt a es t a d'is t·
F ·1nç a- o e:~ f a~~il
__ vis u aliza r
l o c a li zar uma zona p ioneira ,: ( ZP) . O es que f:la a b a i
i lus·trativo deste arg umento de Wa ibe l :
-25-
-
e ilustrati vo deste argumento de Waibel :
(ZP) (ZP)
OESTE LESTE
0 1. :5 ·;J I oTE<:A. . O 1 O1
·-2 7-
...
frentes de expansão · agrícola i ; , sendo que " cada UI"la delas e
.
av ida por interesses diversos na exploraç ã o do ambient e , org~.
·za-se segundo princípios estruturais próprios s impõe compul:_
s diferentes aos grupos tribais com que se defronta n ( 195 7 :
). Mesmo não tecendo nenhum comentário de cará ter teórico so
~ o conceito de frente de expansão, diz o autor que 11
est.::s
~te goria s (extra tiva, pastoril e ar;rícola) não são puras varian
s econômicas, mas, também etapas sucessivas de penetra ç ão ci-
ili zado ra e ••. corresponde m a gra us diversos de internü dade da
• t eração ... frentes extrativas são fre quentemente explorató
- se recentes que se seguirão a uma o cupação definitiva ele ba
a grícola 1 (1957 : 24).
-
Uma proposição do 2.utor e a construção de uma tipo l o -~
~ do contato: 11
isola do 1 , intermitente" e '. 1 integrados 11 • Ess o.s
~tegorias, segundo o autor, repres e ntam ' 1 • •• as eta pas sucessi
~ e nece s s á rias do processo de integração dos grupos tribais
s0cie dade nacional '? (1957:14), Essa tipo l ogia ainda é muito
dos grupos indí gena s brasileiros, embora o au
pre cise teoricamente os critérios utilizados para com
, socJ_e
ua . (l ac..e
~ .D1 asileira.
. .1 A c ornpree ns ao
- -·
disso ;.;- cs senciê'.l
. p~
o estudo do c o nta t o intcrêtnico. Esse procedimento como o
=- --;>rio Oli v e ir-a. r·essal t a, lies tâ si t,,_-:1.do ::1 meio caminho c\1 Et no
: _gia e d c:t Sociologiü: 1
(19 6 7 :83 ).
Uma. contribuição importa ntr,) deste autor ê o r'ompiment o
-_ o s e studo s de aculturaçâo (Linton, Beal , Re d fi e ld, etc.)C ª ),
sven dando-· lhes a vis ão atomista e não operativa~ na.s quais o s
::-i.Ômenos c ultura is são clcsta_cados da o rgan izc1.ção sócio~·ec onômi
~ • • (AA)
: e pol it1ca d a sociedade . ºº .
A crítica a.os estudos acultura tivos l e vou o autor a
str a r a importância das frentes de e;cpansão para a a né'.lis e do
~tato interêtnic8;
l) 1
:Q u a. lqu;3 r estudo s o bre o s Índio s e bra ncos no Bra
:
q ue objetiwo r'evelar a sua verdade ira situação n ão p o derá
_ixar de fo ca liz:1r o caráter c'!as frentes de sbravadoras que os
- ,._ançam~ hoje -~ nos seus mais dista_ntes redutos ~, ( 19 7 2: 35) f:;
2) .:·o papel v a.riado '., de s empenh a.d;::; por essas frent es ele
nsao da sociedade n a cional ... t orn~ relevante qua isquer d2
) i-A -
' cul turia. ç ao ~ -~
conpree nde aqueles r<2.nGmeno s que o correm quan
do frup os de pe sso2s de dife re ntes cul tur as entrem cn cor-=·1
1
~nte de expansao regional, (o que e.1..e 'l •
aenornina de a r,defini
;;o do antropólogo ) :
11
11
Segment os extremos da socieda de brasileira q_ue se in
- c rnavam em áPeas antes não exploradrt s '.• e apena.s ocupadas pelas
. d ao.es in
s o cie . d.igcna.s
~.,. '·1 (1972:l3). \lelho con-trapõe essa clefiniç'i=lc,
- de frente pioneira~ tal como a consirl.era W2dbel no text-'.) ana
_isado. As frente s pioneiras de Waibel, segundo Velho, se encon
11
riam nas á r.eas que. , . gra.ças a determinadas condições, con
5cguem assegurar em grau maior ou menor a manutenção do s e u crBs
imento . . . continuam a absorver grandes c o ntingentes populaci9_
1
~is ' (1972:13) . Note-se que essa definição de frent e pioneira
=..iI1da e stá m11i to presa à caracteriza.çã c) geogrf~fica de ,·:zona I)lO
eira 11 de Leo H. Waibel.
Tanto no seu artigo de 196 7 co 1D em seu livro de 1972,
_ aut o r procura analisar o inter-relacionamento entre as diver
-as frentes que ocoi- reram historica.menü:: e aindEt continuarr,
1
.:1 o
-~rrer na micro re i iã.o de Marabá e estudar a fr ente de expansão 1
-
nas~ isto e, pelo colonialismo interno ?' (1975 :48 ) , Na frente dE.!
.:I1stalaram na r or-
.__, iã.o em aue
- vivem os Kaxi n:i.wá no decorrer da dé
- d a de 70.
Da ótica deste trabalho o i wportante é q u e os autores
~ ui apresen-J:,3.dos tenham chamado s isteEv:i.ticaI!:e. nte a a tenç 2.o p0:_
__ que o fundamental no conceito de fr,ente de expansão e frent e
ioneira., ê enfatizar as relações sociais, relações de produç 2.o
-37-
0 !TULO III
---
fre nte caucheira deslocou-se principa lmmrte nos vales do Alto-
ia 1 i e do Al to·-Madre de Dios
~
~ pas s a.n do por ' 1varadouro s 11 abe r
s n.a ma ta a·té as cab e ceiras do Purus e Juruá ( ~rOCANTINS, 19 61 : · ,~
_ 6 ). A sua curta duração na área de ixou marcas profunda s no
( .,. 1
~
n do teve
--------~
o período que se estende das secas de 1877-79 até 1920
início o primeiro mome nto de crise da extração da
região. Da leitura de Souza (1960) depreende-se que
es !!trabalhadores 11 nordestinos que misraram para os serin
·s do Juruâ eram oriundos sobretudo das áreas rurais do Cea
, ligados às fazen das 17 mistas 11 que conjugavam a criação de g~
com o plantio _de algodão ( :!: ) • No auge das secas o recrutamen
Gessa mão -· de-obra era facilitado devido a sua concentração
>
11
Reuniam- se de 30 a 50 homens '.j armados de ri
fles de repetição e munidos cada um de uma
c e ntena de b a l a s ; e, de noite, c e rcava-se a
Única cabana, em forma de casas de abelha~ on
de todo o clan dormia em p az . Na c:mrora, a ho
ra em que os Índios se l evantavam para fazer
seus primeiros repastos e seus preparativos
para caç a, um sinal convencionado era feito e
- 1+3-
casa casa
seringueiro~_.-.:,,. patrão ~
e.e--" ~<:
---.,.._ aviador'a ~ ""
,.... Exportadora
\_____ ______--v-- - - - - - - - - ~ --/
produtores não produtore s
( Seringueiros nor
estinos e serin
uueiros Índios)-:-
-51-·
-
·-3.0 na epoca qu.::::.ndo a
abandonar a luta e a regi,
baixa da borracha permite-lhe dificilTfa:::n-te
adquirir as mercadorias indispens.:3'.veis que
ele mesmo não pode fabricar: tecido para se
o .. , f
vestir, utens1~1os em .erro-branco par~ a co
..
empre sa seringalista.
O 11 barranque iro 11 define-se em funç; ã.o de sua prática e
conômica, co:rno um morador- da •ºmargem'·, ou dos i;barrD.rico s ,: dos
rios, mais como um tra b a lha dor de a gricultura. do q u e como um
e xtrator> de S8ringa, embora. não seja raro q ue u m ou mais me m.
b ros de sua f ami~1·ia d e d'iquem-s -2 ao tra b a lh .
_ o na seringa:
11
Barr·a nqueiro é quem mora n o b a rra nco , mo r a
na margem, trabalha na agricultura. Vive do
roçado e da criação . A vida de b a rranqueiro
que o povo chama é fazendo uma farinha, pla n
tando bana na 1 arroz, feijão ? t a baco , faz e n do
carvão e criando porco , galin.~a e alguma s ca
be ça de gado. 11
Pa rtes desses produto s os b a rranqu(:: . iro s s a o o b rigado s
a vender outros que n Gcessita m e que n a- o pode m
e xecuta m~ f e ito com a força de
de sua família ; apenas r a r iJ.mente utili zam mão-de- o bra
tranha à sua unidade doméstica e q uando o fazem é através de
dia ;: ou :s adjutório 11 com outros barranqueiros da s viz i
anças:
1
íCom os vizinhos nós troca o dia de serviço ••
quando um tá aperriado ele f a. z ad j utÓ-x•i o.
vida os vizinho naquele dia e dá o quebra
j u1::1 e almoço . • . Aqui , faz adjunto ~ é
n a broca e derriba da da ma ta prá botá r oç~
do. ,;
O barranqueiro evita comprar no a r me.Z<3ffi do b arr a cão
patrão para não ficar endivida do e ter assim mais auto nomia
- comercializ a ção do s pro dutos de seu roçado e da criação do
- stica de animais . A sua vinvulaçã o com ·:> b arracão do patrã o ,
ma ioria da s vezes, dá- se através de memb ros de sua família,
filhos meno res, que dedicam-· se à ex-tra ç ã o da s e rin
berto~ nao -
- e sujeito aos patr~o- como na serin
ga " .
Data dessa époc2. de crise da empresa seringa.lista, a
chegada para as pi.,oximidades das p1°inci.pais cidades da. .-
1,.,f; giao
.
1am e.m. suas repre;sentaçõe.s da.s atividüdes economica.s uma. d.is - 5
.
eu não tenho nada. Mas não devo pra ninguem. -
TÔ liberto. Tudo qui nós planta é pra nossa
=58-
.,.
família. Agora trabalho na seringa é so mesmo
pro patrão, patrão roubou muito aqui. Mc rca.cl~
ria vendi caro. Borracha ele paga poucb. Ain
ó.a tira a tara, a renda. Nés aqui ni:10 r3ab c. d<2.
nada, Tudo é de acordo cum ele. Trabalho na
seringa 5 um trabalho pro patr~o. Seringueiro
aqui é tudo devendo. "
O trabalho na seringa e-· representado , portanto,co mo u m
traba lho para o patrão enquanto :; o se1°viç o :, na agricuJ. tura
visto como trabalho para a família. A própria categoria tra.ba
lho é repre senta.da localmente pelos divers os personagens so
ciais c omo exclusivamente li g.:i.d2, à extração da seringa. Da í Pº.!:'.
q ue os baI'ranqueiros e/ou s e ringueiros Kaxinawã re pre sent a.m a
categoria trab a lho como um trabal- ho para o patrão, na medidil em
que o pa trão é o Único que sai lucrando ce,r:1 a pro dução d.::i. safra
d"' b orr a cha.
no contexto de sua repres ent a ção da cate
g01.>i a trabalho e da distinção que operam entre ,-tr abalh o na se
11
r1.'.nga '' e se 1,.viço na. agricultura"~ que o observador pode vislum
brar um "modelo nativo H de in-terpretação da exploração de sua
força de trabalho na e mpresa seringa.l i sta . É através dessas rie
presentações que os Kaxinawá~ sej am eles barranqueiros ou s2rin
gueiros ~ percebem e nroubo 11 q ue lh e s i mpõem os patrões sering~
listas. Pa rtindo disso , po de o observador r e construir as regras
do prÓpri o ~sistema de avi a me nto .
4- º O pa·trão 1
·roub3. 1 ' no peso da bor1"acha
~ .
ontramo····los vivendo à moda dos barranqueiros, resi dindo prox_~
o às cidades como pequenos produtores subordinado s a o s propri~
tários de seringal ~ e mais recentemente; vendendo a. sua força de
t rabalho nos desmatami:-:. ntos d.os projetes a.gropecu.-S:rios, embora~
como nêl seringa, não de ixem de cultivar s e us p equeno s roça dos
de subsistência. Quaisquer que seJam as suas ativida de s de tra
balho~ o roçado é uma constante invariável de sua prática econ.§_
mica. As recentes transformações por que vem passando a região
t êm ameaçado e ssa atividade, já que os agropecuaristas, adqui
rindo os antigos s e ringais decadentes proibe rr.-t,,,. na suas propried~
des.
-64-
CAPfTULO IV
AS AGROPECUÁRIAS
1976:279).
...------------~- --- --- - - . -
-66-
------t
Grupos Econ.Ômic 0 s j
EmpreiteiroG
1
[ Peões
cam que C P.. 1 9 7Lr foram de sma ta das 1% do t o t a l das flor e sta s
acreanas ; em 197 5 ess e percentua l ~ d e 1,8% e em 1976 , at i n
ge j~ 3,t % do t o tal das-florestas (cit . in Silveira, ms)~
les que só têm valor nos armazens da Fazen da. Como as
rias 11 são geralmente tabeladas pela própria administração a pr~
ços equivalentes a dos seringais da região, mantém- se o funcio
amento do já antig) sistema de aviamento, comprovadamente lu
crativo, utilizado n e. empresa seringa.lista, Tal sistema é empr_~
ga r1,:.o, por exemp 1 o, na F
. azenda 0...,alifornia
.. - ·
9 de propriedade
· da em
:pre sa multinacional Coperçúcar, no alto rio Envira. Daí ser cor
reta a afirmação de José de Souza Martins a prÓposito da pen_:::
tração destas empresas capitalistas no campo, a poiadas em rela
ções sociais não--tipicamente capitalistas, como é o caso do a.vi_
amento: 1:na verdade n, diz Martins, ':o que caracteriza a penetr~
ç ão do capitalismo no campo não & a instauração de relações so
i
c iais de produção típicas formuladas em termos de compra e ve:n i
- .
Estas nov a s transfo rmações econo;:ncas e soc:La.1.s ter1
~eaçado seriamente os Ka_xinawá e demais g1..,upof::: indígenas ô a re
gi ão :i UFta vez que os novos propriet,:Írios 1 ao contréirio dos Da-· /
troes seringa.listas, tend";m a deslig5 - lcs de quaisquer vínculos
c o m a terra, impedindo que cultivem os seus pequenos roça dos de
subs istência, Um barr'anqueiro Ka.xinawã ~ expulso de um seringal
vendido para a Agropecu~ria Cinco Estre las S.A., no rio 1'1uru,
a ssim expressa esta nova .:l.meaça ~
-
" Os paulista só queri é nos trabai a ndo na b roca e der
ribada pra botari o roçad~o deles de capim. Eles -
nao
,-71-
-
queri qui nos planti roça na terra qui eles compraru.
SÓ queri mesmo é esse trabalho. Desse jeito não sei co
mo é qui vou sustentar minha família. Ago ra tem qui tra
baia para e les inté pra comprá a farinha. Nós c aboclo
tamu acostumado em botar roçado uoraue nós não Do d i com
•• . .. · '" j,. -
CAP:ÍTULO V
AS IDENTIDADES t:TNICAS
7
,, C t - ~
,,
\
~ comer 1
' (gerente do seringa l R. 5 rio J o r dão) ,
-·
1
' va gabundo 11 : '' c a b o clo é tudo vaga bundo, , não queri tra
lhá, só ve ve de arriba.da e d e viageT'l·,, ( gere nt e do Seringa l
-~º Tarauacá)
-
1
' nunca vi cabo cl o produzir 500 kg de borrach a, c aboc la
_ tudo preguiçoso 1' ( patrão do seringa l S , , rio Envir a ),
••
11
irresponsável. 71 ;
11
aqui no meu seringal eu não tra.balho
m caboclo porque é tu do irres po nsáv el ~ compra me;rca dori a e
_ o produz borracha '' ( p a trão do s e :ringa l C. , rio Envira) .
- '
1
cabo cl o não tem hora de s erv i ço, é tudo irresponsável '.
s e ringueiro do rio Tarauac ~ ).
- ::se m ambição •' : nc a bo clo não t em ambição de subir de
_da como os cariu, produz pouca borracha', ( gerente do seringal
. , rio Envira) .
-
1 -
' ca.boclo ê u ma naçao que so vive pra coITier;- -
80 vive
- _o fogão , não t em a:rrJ)iç20 de progredir na vida ·, ( seringue iro
rio Muru - seringa l C.) .
-
1
' c aboc l o não t em ambição de melhora de vida , c a b o clo
-75=
11
( colonheiron da cidade ele Feijó.
- ;,caboc lo bota feitiço ;ele se dá ssim com a gent e mas
por trás é peri~os o . Bota feitiço, 6 um besouro, é um
11
de cabelo. . . ( seringueiro do rio Envira) .
••
11
cachacé:iro' 1 : 17
caboclo é tudo c :1 chaceiro. Se te m ·tr,:_:t
balho é só dar cachaça qui eles vão ·trabalhar- 11 ( seringuei ro de
rio Jordão),
-
11
anima.1 :; : (' caboclo é que nem jumento, não amansa,aco~_
tuma ' 1 (esposa do gerente do seringal S ,R . , ric Envira).
- "caboclo é parecido com cariu 5 como o macaco é par_~
cido com o homem 11 (gerente do serinzal A. , rio Ta.rauacá).
- nca.boclo é quinem um bicho, um animal qui não tem
mentaliãade ;: ( seringue iro do rio Humai t.:'.í) •
- ;;caboclo é que nem queixada, so vive de arribadt;. p1..,a
cima e pra b a ixo ' 1 ( seringueiro ncariu:' do rio Jordão) .
ÇÃO SEM AMBIÇÃO", "INCONSTANTE", 'NAÇÃO SD,;f FUTURO " etc, porque
1
11
não se dedica exclusivamente ao cort2 da. seringa. Nenhum cabo
clo 1
i é considerado um 11
bom seringueiro'' , a saber , aquele traba
lhador que mais produz borracha e não vende a produção para 11
Ilk7.r
11
reteiros ou regatões. As outras atividades a que se dedioim, c~
mo o roçado s outros serviços para "' os patrões 11 de seringais,
são consideradas cor.lo um não trabalho. Embora,hoje em dia, s e ja
11
ral'.'o um seringueiro cariú 11 dedicar-se exclusiva.mente ao traba
lho na seringa, e stas qualificações são atribuidas principal -
n ente ao ncaboclo :, . Também é mui to difícil que um , seringueiro
ncariú 1Y tire saldo com o patrão, mas essa. possibilida.de não lh e
é negada, desde que ele se dedique exclusivamente a produzir
borracha. Ao caboclo esta possibili dade é negada até mesmo a 2s
1
.
-~ que se pode dizer que nao se é cabo clo irnpun,2111.2!1t:e na regiao -
_o Alto-Juruá e, provavelmente, e:rn. t oda a Am3. zÔnia. brasileira.
Os Ka.xinawâ manipulam, por sua vez 5 essa ideologia ét
1
nica tentando desesperadamente assemelha:.r.'t;nsse ao ' ca.riÚ "', atri
buindo estas mesmas qualificações a outros grupos indígenas que
e les conhecem ou de que ouviram falar, na regiãc:
11
Tem muitas nação de caboclo. Cariú pensa que é uma n -:1.
çao só. Tem os Campa, os Culina , os Papavô, os Katukí
na. Eles é que são culpado dos cariú fal~r mal dos ca
boclo, porque pensa que tu do é uma nação só. Eles -
C!
riÚ '; .
àos.
Da Ôtica dos npaulistas 11 , e les se representam com a.s
imagens dos "novos colonizadores da região " , como ,"pioneiros 11
principalmente como "o s novos proprie·târios do Acre 11 º Consid·2 ·-
r am-s e como os agent<-')S do 11 progre sso 11 , que tra zem 11 inovações
tecnolÓg ica.s ;' 5 11 muito dinheiron ~ Ho progresson, a !! jus tiça so
cial ,·; ~ no direito li etc. Lançam mão dos mesmos estere6tipos com
11 11
q ue o ca.riu 1
\ d iscrimina o ' caboclo 1 '
1
9 c omo ' preguiçoso
1 11
, ma.la.!]_
dr o 11 '' v agabundo !( ,
, ngente sem mentalidaden, ºsem pensar no f ~:.
turo 71 ~ H..::'. tras a do :, ~ nnão sabe m trab a lhar c o m a f ,::.) ice ·,, , 11 mão -.. de-~
b ra de baixa produtividade!!, 11
invasores de terras 11 e- te. Tais
e 'tereótipos são raciolanizações justificador a.s do do míni o e da
1
espo liação da força de trabalho dos ' a cre anos'' . Estes, s ão de fi
tica dos 11
acreanosi1 é: 11
0s paulista n a o querem s::1b cr de borra.
cha 5 de seringa. Eles só quer·em saber é ela p e: cuâriz.:/ 1
• Além dis
to são qua.lificados como v;os novos donos dos seririgais ;' que os
impedem de cultivar a terra e explorar as est:ca dêlS de seringa
p ara vender aos regatões ou marrete iros. Os 11
paulistas1' -
sao
considerados como os responsáveis por seu desli g amento através
da intimidação e d a violência, como a queima de lavouras 5 pri
sões ) mortes etc. Através da Ótica do " ::1creano' ~ é possível de-· 1
11 11
; o ss e iros 3 " os explorados " º º Os orga.nizo.ck)res da nova. fren --
-e - 11
0s paulista. s 11 - e a forç a. de tr>abalho n e cessária à. - , .
r ea..L J. ··
.
zaçao aos .
proJetos . ,,•
e 1mpreenG1mento .
s agropecuarios - "·os -
-- s ç~ o
Se nas identidades 11
cariu '' / · caboclo", do ponto de vis
do l<axinawC:í , o ·2le mento ,~tnico persistia como jus tific -:l tiva
sobre-exp lora ç ão de sua f o rç a de tr>abalho ) nas novas identi-·
1
~ de s ·paulista ·: ; nacre anon o elemen.-to étnico não i n tervil:o para.
=r g inalizá-·los como cidadãos de se g un da categoria , diferente s
s ;; cariu;i, Na nova frente 1 o eleme nto étnico p e rde a sua. efi .. -
s o cial C()Iao un1 Para os
, tanto f a z que sua força de traba lh o s eja indí g ena o u nâo .
- 8 2-
0
V • .... º
- .
º - º • ~
bener1ciam os .i,axinat·Ja que Jª nao sao maJ_s qualificados d(c ' 'ca -
.-. •
CAPfTULO VI
1 . Aldeia.
2 . As Metades e a s Sec~es
l.
'f
:í 1
4
6
no 6
1
5 1 3 b ,-
l. RUTI ( se mais velho do que ego : mais novo ch;:1.ma pelo t ermo
c o rresponde nt e a metade; se ego for da metade DUAB.AKCBU chama
s eu irm~fo mais novo de DUA) ;
2. TIPI ou ITXU; 3, TXAI; L~. XANU) S. EPA; 6, EWA ; 7. 1"'.TI :i
8. KUKA; 9. TITI.
(1) produtor direto; explorado tanto nos -ore ços das me rcadorias
como nos preços da borracha ; " r oubado' 7 no peso da borracha ) na
·· t ,:1raH ou ,;quebra 1·1 ; totalmente subordinado e dcminado pelos ;, g~
rentes aviados 11 e pelo "patrã.o- chefe 11 ; só pode comprar no barra
c ão dos gere ntes aviados~ não possui qualquer direito à t erra
em que ·trabalha; nao pode abandonar o seri:nga l enqu'anto não qui:_
tar as suas dívidas; não consegue a cumular saldo corn os ' 1 geren-
tes aviados ;i ; é obrigado a pagar 70 kg de borracha por cada P.:=!.:,
relha de estrada de seringa ocupada.
b . 1
.,.
•·
Pdraiãi'o { J. 1 ~ 9
E x1re. l'IA-a 3 J.. 3 ~
v -- Á- - ()
Ba1ay0 4 J 4 q__ - -~ 4 C;
l
Ar.a e.a t~ J J_ J-
C.ocae_ J- J- J..
Á
~v..ra<...o J- J- J-
~
Se d~ 6 y ~
· 'Sacctclo d- ~
L-5
He'V\l"'lTu.e. '?> J_ 3
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Se2J~ 1 1 ~
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e.a c.hor~ o Grcl'V\d e L{
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1)i a beea 3 (, :)
i y.., - -e=-~
I
~~
A-r~ç.a :, .6 3
e chegam mesmo a combinar uma estratégia e1-:t que um se
uma semana 5à prover a alimentação pela c aç a ou pei:,ce,
o outro se dedica. exclusiva.mente à extraçao da s e rin ga ,
tendo as atividades na outra semana. .
A c o loc2ç~o ~, pois, a unida de social que permite
nir dois oc:. mais grupos domésticos. Embora estes g rupos,
d.issemos anteriormente, sejam relacionados pelo parentesco!
nálise sincró nica. das genealogias de todas as ncolocações ·
que vivem os ser ingueiros Kaxinawá do ~cio Jordão não nos
1
quadro ac ima n ão ap res enta uma cor' respon ctê,,1cia de urn par d e es
tr'adas por grupo do méstico. Acontec e~ que 01:; che fes destes gr~
po s que
-
sao
. .
r.1.a1s J.doso s 5 nào t êm mais
t:1. r seringan e a judam aos outros dedicando-s (~ me,i.s às ·t2.ref.3.s 2,
.,
g rJ.CO.u3. S
7
e ã
C c ar:a
-'::; . Ec::ta--
~ ·u~l ti .ma. ativi ,.'iade e xi ,,
2'e ' mui t o i:''---" mpo
- '·· . de
declicaçao, De forma que é sempre estratégico ter um o utro hori.'.E:m.
que se dediqu,;, exclusi vameni:e a ca.çar . J-,. caça ai nda continua s eR
do a principal f onte de pr>oteína. do grupo, Hoje c m dia. ;)é~ra gus
- .o
5
possarn ca çar J e n cce ss<J..ri que tarnb;;'1r c o rt eEt serin ga. ~ UD,J.
ESTIVAS (~·e)
. - ~
- muniça.c
• espoleta 160 unidades 1 6 0 ,0 0
. pólvora 650 gramas 149,50
• chumbo 1,550 g rame.s
. cartucho 25 unidades 240;00
64-5,00
- s o. l 29 kg 194500
-· sabão 12 barras 14-4300 '
.,.
- açucaY' 8 kg 80~0 0
- caf8 1 kg 60,00
- farinha 424 litros 636~00
- Óleo comestível 2 latas 60,00
- queros e n e: 9 litros 9 0,00
-· fósforo 7 maços 42,00
- t abaco 2, 5 kg 76 :i OO
- papelim lQ" l_ivros
. 26 , 00
- cachaça 8 garrafas 245,0 0
.
- rum 5 litros 1+00 ,00
- rapadura. 3 kg 2 1+500
·= gilcte 5 lâminas 10,00
piJ.ha de lanterna 14 uni dades 9 8 500
- vestuário:
- chita 15 metros 375,00
·- mescla 6 m.(=.tros 180 .. 0 0
-- amorim 3 me-'cros 60 5 CO
- algodão 2 metros 50,00
-· brim 1 metro 30300
- botão 2 dúzias 12,00
- linha 2 tubos 14,00
~· rede 1 unidade 280,00
- coberta l unidade 80 500
-
.. s a.ude :
·· sulfato ferroso 70 cápsulas 2 8, 00
- melhoral 12 envelope s lS,00
. - melhoral :infaí:ltil 10 envelopes 10,00
a1"'alem 18 envelopes 5 4,00
- carnibuclin -- 1 vidro 25, 0 0
-~ tussareto 1 vidro 25}00
~· pílula elo ID3.to 10 envelope s 5300
··· tetr ex
1
10 torpedos 3 5 , o.o
- meracilina. 10 torpedo s 20,00
- da raprim 5 torpedo s lD,00
·- cibalena 4 envelope s 650 0
. ...
Percebe - se, pela leitura do quadro acima? aue o ite m
referente~ estiva representa o maior percentual (64 , 14%) das
compras realizadas com o patrão, destacando···se aí , principalme.12
te, os gastos co·m a munição e com a farinha, Trata - se de dois
itens fund amenta. is para garantir d ireta e indiretamente a base
fundamental da alimentação do seringueil"o. A compra de htrinha.
n:io é uma característica comum ' a todos os g rup os domésticos Ka
xinawá do Jordão. Isso ocorre apenas para aquele seringueiro
Kaxinawá que p1"ocura. se dedicar exclusivamente ao corte d12: se
ringa, dispondo de pouco tempo para aumentar o s~u roçado. Se
guem d epois os gastos com o vestuário (24,50%). Cada mulher Ka
xinawá costura para os membros de seu grupo doméstico. Os fª§.
tos com a reposição dos instrumentos de trabalho 2 com a saúde,
6 ,02% e 5, 34 9ó, r es pectivamente, encerram os Ítens do orçamento
do grupo dom~stico. Estes podem aumentar , na me dida em que mem
br'os do grupo doméstico encontrem-se em si tu.ações de doenças
graves, que exuja.m longo período de convalescência,
O total geral dos gastos anuais efetuados, Cr,$ 4-,1+12,00,
~ considerave lmente alto, principalmente se se lev~ em conta o
preço pago pe lo quilo de borracha nesta mesma época. Em 1975,
1
o patrão do seringal Transual 9 o 11
ge rente aviado : G'. 'I'. , estabe-
l e ceu o preço de Cr$ 9,00 p o r quilo de borracha . O serin g ueiro
Kaxinawá de que estamos tratando, tinha produzido durante aqu~::
la safra a considerável quantidade de 310 kg de borra.cha , o que'!
si gnific Q, em t e rmo s monetários, uma quantidade correspondente
a Cr$ 2.790,00. A sua dívida com o patr~o era , port a nto , de
Cr$ 1 .6 22,00, Manter os seringueiros sempre endividados e a - es
tratégia adotada pelos patrões para conseguir i mo bilizar a for
ça de trabalho dos Kaxinawá nas colocações~ j ,:Í prevendo a r epr~
duç,.?,o da nova safra de borracha. Dívida gr-3.nde com o pa:trão ta.!!];
bém implica em trabalhar na n diária :i p apa ele, desde que para.
isso sej a requisitado. Se o patrão quer abrir um novo roçado,
11 11
se deseja varejadores para uma viagem, se precisa de carrega-
dores para traze r borracha às costas das colocações 9ara o bar
racâo, para descer em balsas de borracha at~ a cida de de Taraua
cá etc, ele esco lhe entre aqueles serin gue iros que es tão mais
e ndividados. Quanto ma.ior a dÍ vida, dizem os s e rin g ueiros Kaxi
-101-
5. O Seringal de "Caboclon
pat:r.J.o, mas como um "bom patrão ' : porque, diz ele, trata b em a
to dos os s e us seringueiros ; nunca a ç o itou um freguês , leva os
doentes para se tra tar no hospital da cidade de Taraua c~, apo -
s e nta os velhos seringueiros Kaxinawii pelo Funrural, oferece a
limentos a t odos que visitam seu barracão e·t c.
No Fo rtaleza encontram-se distribuídos 22 grupos dom.é s
tic os Ka xinaw~ em apenas 8 colocaç~es~ numa m~d ia de 2 e strada s
de S(2 ringa para cada uma destas. A sua. c a paci d ade p rodutiva é re
- 104-
11
P a trão c a boclo e patrão cariu é um pelo outro , Tendo
mercadoria é tudo a mesma coJ.sa.. Com o patrão caboclo
~ mais dificultoso porque tem pouc a mercadoria Tudo
engana os freguêsµ. ·
A partir de 1976, quando os seringais começaram a ser
novamente rearticula dos na região~ c om o Banco da Ama zôni a S ,A .
(Bl\SA) facilitando consideravelmente o s financiamento pa ra a
p1...,odução da safra de borracha e reabertura de nova.s coloc,1çÕes 5
1
Sueiro trocou de '' patrão-chefe ; , como a Ún ica alternativa possí
vel para dispor de mais me rcadoria ( *), Com o novo "patrão·~ che=
roupa, enfim, objetos que nao são de consumo imediato e que são
.. nb o.Los
slL ~ ,_.e prE:s t...
,..1 . e s t a tus d entro d e um grupo d ornes
ie;io - t·ico Ke_
x.inawá. Tais objetos são adquiridos sobr'etudo, na cidade de Ta
-
rauaca 3 graças ao dinheiro que Sueiro receb e de sua aposenta-
doria pelo . runrural e de algumas bol as de borr.-::1.cha que ele leva
para vender diretamente a diversos comerciantes compradores de
borracha.
A liderança de Sueiro entre os Kaxinaw~ do Jord~o tem
como base ,não os valores tradicionais dtc~ seu grupo, mas o pap,31
intermediário que desfruta junto aos patrões regiona.is. l'~esTID 1\
ganhando uma comiss ã o em todas essas transaçc,es, Sueiro proc1~ra
vender para os seringueiros Ka xinawá de outros seringais do Jcr
II
dão a. preços mais baratos que os dos ge r e ntes aviado s H a que
estão submetidos. A nova atuação de Sueiro tem s e dado, sobretu ,,..
/
CONSIDERAÇÕES FINAIS
cado pela oposição entre classes sociais: de u:m lado a dos :nao - -
produtores, formada basicamente pelos patr32s, propriet~rios de
. .
seringais e de outro a dos produtores, composta • -: , 4--
p r inc ..1..pa J.men ... e
de imigrantes cearens8s~ os seringueiros, No início do contato,
qu.J.ndo o fundamental erJ. a ocupação e a forma ç.ão dos pr.irn.e1.ros
seringais tantos eis patrões como os se1°in.5 uciros atuavam de m:.~
J
.
____ oposiça.o -
de classes _ _ _ Kaxinawi e demais
grupos Pano e Aruak
produtoi- es; o1
seringueiro da s b ~ cias dos rios
D ()r1 de:s~tin.c\
1 Juru~ e Purus da
1
1 AraazÔtLia Oc:.derital
força de -tr':lbalho domina
a e sub~rd~n:da pelo siste
a de a viamE.n LO
-108-
patrões s e ringali.stas
oposição1 de classe .
í
i
i
n:l
ser1ingueiro
CJ
·r-l
i::
.
se ringue J.. l"O
.
fJ
'(1)
nordestino J.<a.}:inavi á
]
'' caboclo ii
etc.
Percebe-se assim, que a existência do seringueiro ;, ca
boclo 11 , que incorpora todos os estereótipo s, permite a reafir--
maçao das relações de classe em termos do patrão/seringueiro ' 1c~
riu".
A linh:1 étnica persiste, r eforçando ao nível idt;o lógi
co, através da manipulação das identidades Pcariu;; / "caboclo :; ~
as rel a ções de cla sse dentro da empresa s e ringalista,
fi
A imp lantaçao das modernas a gI'opecua r1.a s , carac t e r i~ ti
o - - •
lista;' e ªacre a no 11 • i\. primeira categoria repres e nta a cla sse dos
novos propriet~rios tanto o
seringueiro •1 car iu 11 como o seringueiro ·n c a boclo ii , O esque 1;: a
1
a.
baixo mostra o de saparecimento da linha étnica:
. - de cla s s G
op o siçao
.,., '
(
\ ú'I> } e arnoso ~
0e 1 (, •
J ~i vcira,•
tec a rap ...
i do corne n ~ari. - •
o s 00rc ..
o _,,, n- r o. 1--.
v_7 ~e----
ma da superposiç ão da. linha de c1 a s ~,c c om a l i n h a e tnJ_ c a. 1
-J:10S t r c:i-..d
y·ct,-.,...,., ,.1Ue
r. ::. ~,
º, . ;;
,, e~ -... ~ • ~ ··..f
,;.;:SJ•-Cl · · i ~-.:1
~ .J_ClQ,~'-42 h -is--l-:'.,,,."
,_<._ ) 1.J_
1 . .~
c·-
d ,... e~ s..;..!-u
~L ,'"...:'l 0.,,. a.v
.::j:':) -; ,.. ...
ABREU, Capistrano
.•
19 76 - 11· 0. s caxinauas,
. .. 11 in
• ENS ' IOQ "~.t.. "L ,_,C' ,.,,UDOS
,1 A.:., 1 .10 d e
, R"
Livraria Pioneira .
leiroo
19 7 7 - 1
'As Facções e a Orde m PolÍ tic-:=t em una Re
serva Tukuna , dissertação de mestrado a
11
RIBEIRO, Darcy
19 5 7 -- 11
Cul turas e Línguas Indígenas do Brasil 11 ,
in Revista de Educação e Ci~ncias Sociais
n9 6, Rio de Janeiro, CBPE.
1970 - Os Índios e a Civilizacão, Rio de Janeiro
Civilização Brasileira ,
ROCHA, Adauto
195 2 - Introducão à Econor.tift .r'\rnazônica - Ens a i o s
sobre a Recuperação Econômica da Amazônia
Manaus - Oficinas Gr5ficas da Escola T5c
nicao
SCHULTZ e CHIARA
1955 - ::Informações sobre os fndios do Alto Rio
Purus " . São Paulo. Revista do Museu Pau
lista 3 nova s~rie, vol. 9.
SOUZA, José Bonifácio de
1960 - Quixadá de Fazenda a ~idadeº Rio àe J a nei
.
ro, Instituto de Geogra- fia
. e E~stat1st1ca,
~ .
•
1 9 25 =
11
Le Fle uve Muru - Ses Ha.bita.nts. Crayances
e t Moe rs K2china.uwá • - 11:-, ;<t:.!l
I.JLl.. ~-,,"_.~grc:p -· a noO 4- - 5
- ·...:1i._
-~ º
"'
_!\. LI I I º , Paris
lo me v~ . , S ociete
. - ae , ~ ,::ieograp,
,.., h_ie.
.
1928 - 11
Le Rio z inho da Liberda de 11 Geogr.:1.phi8
• La
n9 3-4-. Tome XLI X. Pa ris. Sa ciet& de Gc o gra
phie.
TOC 1 TI NS, Le andro -
19 71 - _Formaç ão Histórica do ,;cre , Rio ds J ane i :"":;,
Editora Conquista,
VARESE, Ste f a n o
1973 La. Sal d(~ lo s
Mundo Campa -· Li.ma. Re tablo de PaP.el - 22..
ec~i ,,-;o
1.- '-s '..J..
o
VELHO, Otávio
l Sf, 7 - HAn2l ise Pr el i minar de uma Expans a o d:.:1. So
ciedé..de Brasile ir2 n . Rio de J -:ineiro, Re vis-
t a do I n stituto de Ci ~ncias Sociais v o l .4 ,
n9 1 .
WAIBEL, Lêo
19 55 -~ "As Zo n ,J.s Pionoiras do Brasil ·-·: º Revista Bra
sile ira de Gcogr5fia. Ano XVII, n9 4 . Rio
de J a n e iro .