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Fichamento
“A ciência constrói-se, pois, contra o senso comum, e para isso dispões de três atos
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epistemológicos fundamentais: a ruptura, a construção e a constatação. ”
Bachelard vai dizer que a ciência é tudo aquilo que é oposto as opiniões, pois a ciência
não é um objeto que surge do nada, mas sim um processo de construção. As ciências
naturais e sociais precisam passar pelo processo epistemológico, entretanto as sociais
sofrem um certo tipo de preconceito da ciência, porque além de seu objeto de estudo
ser através da linguagem, e não físico, a ciência, com seus instrumentos também busca
responder as mesmas questões do campo social.
“O senso comum é um ‘conhecimento’ evidente que pensa o que existe tal como existe
Boaventura a respeito da construção da ciência, diz que a mesma para ser de fato
ciência, precisa romper o pensamento conservador e fixista com um código de leitura
próprio, excluindo tudo o que for ideológico e derivado do senso comum, criando novos
códigos e objetos.
As rupturas que acontecem dentro das ciências sociais, são feitas a partir do princípio
de não-consciência, que necessita que ela negue a si própria como ciência para poder
investigar e modificar objetos do próprio contexto, e do princípio do primado das
relações sociais que nas palavras de Boaventura: “tem igualmente a sua origem em
Durkheim (1980) e estabelece que os fatos sociais se explicam por outros fatos sociais
e não por fatos individuais (psicológicos) ou naturais (da natureza humana ou outra).
Pelo contrário, a eficácia social dos fatos individuais ou naturais é determinada pelo
sistema de relações sociais e históricas em que se insere. ” Todavia, as rupturas
acontecem mais dificilmente do que se pensa, é necessária uma vigilância
epistemológica que consiga superar os obstáculos epistemológicos que impedem que
se faça uma ciência digna de ciência.
34 que se constitui contra o senso comum e recusa as orientações para a vida prática que
dele decorrem. ”
Para o paradigma entrar em uma crise, e assim poder ser rompido, existem 2 condições
necessárias para que isso aconteça: “A primeira foi avançada por Kuhn (1970) e
consiste na acumulação de crises no interior do paradigma quando as soluções que este
36 vai propondo para elas, em vez de as resolver, geram mais e mais profundas crises. A
segunda consiste na existência de condições sociais e teóricas que permitam recuperar
todo o pensamento que não se deixou pensar pelo paradigma e que foi sobrevivendo
em discursos vulgares, marginais, subculturais. ”
A história do conceito de senso comum surge no século XVIII com a tentativa burguesa
de derrubar a irracionalidade, porém, ao mesmo tempo que a sua valorização aconteceu,
devido ao progresso do poder burguês, a desvalorização por motivos de ser um
Com tanto preconceito criado pelo paradigma da ciência moderna, visando sempre a
racionalidade, alguns pensadores começaram a se indagar a respeito. Será mesmo
necessário que tudo o que não for racional pode ser jogado no lixo como algo inútil,
sem valor? Foucault e Gadamer vão dizer que todas as coisas são constituídas de algum
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erro, erros são necessários para que se possa refletir em cima deles e também
compreendê-los. “A investigação sobre a inferência humana ou a escolha racionaç
revelam que uma ilusão pode conduzir à verdade, que porque corrige (e neutraliza) uma
ou outra ilusão, quer porque substitui uma inferência correta. ”
Ciência e senso comum, andam juntos, pois, senso comum não seria senso comum, no
pior sentido do termo, se não fosse pela ciência o caracterizar assim. Boaventura chama
40 toda essa negatividade atribuída ao senso comum de etnocentrismo cientifico, e diz que
se fizermos uma análise alternativa, ou seja, melhorada e esforçada, desse conceito,
poderemos chegar a resultados bem mais positivos do que os que já temos.
“A condição teórica mais importante é que o senso comum só poderá desenvolver em
pleno a sua positividade no interior de uma configuração cognitiva em que tanto ele
como a ciência moderna se superem a si mesmos para dar lugar a uma outra forma de
conhecimento. Daí, o conceito de dupla ruptura epistemológica: uma vez feita a ruptura
A desconstrução é realizada por meio de três topos. O primeiro pode ser chamado de
desnivelamento dos discursos, Foucault diz que há discursos que na medida em que são
falados, desaparecem assim como aparecem, do nada e para o nada outra vez, ou seja,
discursos vulgares do senso comum; e há aqueles que quando falados, ficam marcados
permanentemente, e nunca concluídos, sempre tem algo a mais para ser acrescentado,
ou seja, discursos eruditos, que possuem muita carga de conteúdo.