Professional Documents
Culture Documents
S E M F I N S L U C R ATIVO S
E
ntre os mais destacados intelectuais que Estados Unidos. Não é, portanto, o melhor livro para
têm pensado a questão da “crise das Hu- conhecer e respeitar as suas ideias, mas erraria feio
manidades” está Martha C. Nussbaum quem o julgasse sem interesse, seja pelas ideias
(NY, 1947), professora do Departamento de Fi- condensadas nele, seja pela posição que ocupa no
losofia da Escola de Direito da Universidade de diagnóstico da “crise”. Dirigindo-o menos a críti-
Chicago. Salvo engano, Nussbaum tem apenas cos ou filósofos que a um amplo conjunto de leito-
um livro editado no Brasil, A Fragilidade da Bon- res comprometidos com as ideias de democracia
dade, saído pela wmf, em 2009. A sua área de pluralista, não nacionalista e de espectro global, o
formação são os Estudos Clássicos de literatura manifesto relaciona, sem meias palavras ou tiques
e filosofia, que cursou na NYU e em Harvard. intelectuais, um conjunto impressionante de pro-
Além do mencionado A Fragilidade da Bondade, blemas educacionais contemporâneos.
editado originariamente em 1986, que trata da O campo privilegiado de observação de Nus-
noção de fortuna na épica antiga, é bem conhe- sbaum não se restringe aos Estados Unidos. Co-
cido o seu Love’s Knowledge (1990), que reúne nhece bem a Índia, onde desenvolve trabalhos
ensaios que vão de Platão e Aristóteles a Henry sistemáticos de pesquisa, alguns ao lado do Nobel
James e Samuel Beckett. No entanto, ao menos de Economia Amartya Sen, além de referir dados
a partir de meados dos anos 90, os seus livros genéricos de Alemanha, Suécia e Inglaterra. Em
têm buscado maior alcance político, como ocorre todos esses países, a autora observa o avanço
em Poetic Justice (1995), e especialmente em alarmante do que considera, mais do que uma
Cultivating Humanity (1998), entre outros. crise, um “câncer” a se alastrar silenciosamente
Isso é ainda mais verdadeiro para o seu último li- pelo mundo, que se caracteriza pela submissão
vro, saído no final de 2010, pela Princeton Universi- da educação ao lucro, vale dizer, pela tentativa sis-
ty Press, cujo título é Not for Profit: Why Democracy temática, mundial, de reduzir a educação, desde
Needs The Humanities, que toma voluntariamente os primeiros anos de escola até a Universidade, a