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Aspecto Social da Psicologia
Por Farr, depreende-se que o aspecto social da psicologia, de certo modo, foi órfão desde seu início,
não tendo a psicologia instrumental como disciplina-mãe. Isso apesar das tentativas posteriores de
produzir uma historicidade linear da psicologia social como ramo e como subdisciplina da psicologia, em
detrimento das contribuições da sociologia em sua emergência. Farr relata que, como leitura de verão,
gostaria de entender melhor a necessidade wundtiana de separar a Volkerpsychologie de sua Psicologia
Fisiológica, sem saber que isso mudaria sua noção da psicologia social para sempre. Para Robert, Wundt,
nos dez volumes de sua Psicologia dos Povos (1900-20), corajosamente foi o primeiro a tentar de modo
significativo produzir uma interação orientada para a comunidade de psicologia social, descentralizando o
foco na consciência individual (marca da psicologia experimental) e assumindo uma investigação por
métodos comparativos e históricos. Resoluto, Wundt divide a psicologia experimental em ciência natural
(Naturwissenschaft) e a psicologia social em ciência humana (Geisteswissenschaft) [será essa a divisão que ajuda a
produzir a marginalização da psicologia social na Alemanha, como diz Danziger?] . A geração seguinte à Wundt, em sua rejeição de
viés positivista, só as técnicas experimentais e laboratoriais, de teor singular e individualizante,
caracterizariam uma investigação científica adequada, de modo que a Volkerpsychologie seria totalmente
ignorável em favor da pesquisa individual orientada da psicologia fisiológica.
Tabela de níveis de teorização
Nível do Fenômeno
Teórico Individual Intermédio Coletivo
Wundt psicologia fisiológica Volkerpsychologie
Durkheim representações individuais representações coletivas
Le Bon o indivíduo a multidão
Freud estudos clínicos (e cínicos) Ego, Id e Superego crítica psicanalítica da cultura e da sociedade
de Saussure Parole Langue
Mead instintos self sociedade
comportamento dos Comportamento institucional; opinião pública
F. H. Allport indivíduos
Resumo apócrifo:
Parágrafo 1: Foucault pegou umas “queixas e sentenças” sobre a plebe na França pré-revolução e
resolveu publicar e comentar isso. São notinhas bem rápidas que mostram algo de ruim que uma pessoa
fazia. Tinha coisas absurdas, tipo um cara que era mal visto por andar sozinho ou por não gostar da família.
Ele queria dar um caráter de realidade nessa exposição, deixando claro que essas vidas existiram, apesar de
terem sido esmagadas por um poder político absoluto, só restando esse breve relato delas.
Parágrafo 2: Viagem no barato que é o fato dessas vidas suprimidas há séculos serem repescadas
por uns fragmentos maldizentes sobre elas. Dá até pra chamar de Lenda. E é bacana pensar nisso como
uma revanche. Esnobaram os caras por serem comuns e agora eles serão rediscutidos e repensados. No
fim, eles sobreviveram mais um cado.
Parágrafos 3 e 4: Na real esse episódio das cartas é o prenúncio de uma era em que toda a tradição
oral, cristã e de confissão, vai ser substituída pela escrita e pelo registro. E isso dissolve as figuras de poder,
aumentando a possibilidade de controle e gerenciamento de todos, na medida em que nem se sabe mais
“onde o poder está”. Não tem mais rei, os comuns passam a ser ouvidos cada vez mais e com isso também
podem manipular o poder em seu favor (tipo denunciando alguém). Todo mundo é rei. É a era do discurso.
Parágrafo 5: Agora todo mundo tem domínio e todo mundo é dominado. Dominador/dominado se
alternam a todo momento e a confusão da estrutura de poder dificulta autonomia, de modo que somos
controlados enquanto acreditamos estar no controle. As banalidades indizíveis de antigamente são cada
vez mais expressadas, nos ínfimos detalhes, sobre a vida dos sem glória, dos sem fama, dos infames,
aumentando sobre eles o gerenciamento, sem que eles percebam. Antigamente as pessoas escreviam suas
baboseiras no diário e não queriam que ninguém lesse, agora escrevem no facebook e ficam tristes se não
recebem likes. Talvez a literatura ainda possa apontar um caminho frente a tudo isso, mas ela também é
fruto dessa estrutura controladora e não é tão confiável assim.
Rosane Neves Sumarizando o texto Notas para uma genealogia da Psicologia Social
Fragmento dado em aula:
Essa análise sobre as condições de emergência de certo discurso de psicologia em relação ao social
é situada dentro de uma perspectiva que identifica, nessa produção de verdade, a configuração de relações
de poder e saber de um tempo, com intuito e forma forjados de modo não espontâneo.
Entre os séculos XVIII e XIX emerge a exigência de que o social seja objetivado, uma vez que o
fenômeno das multidões não só ameaçavam a ordem, mas também evidenciavam a contradição inerente à
dinâmica do projeto liberal. As multidões precisaram então se tornar alvo de investigação e controle
sistemático.
Gustave Le Bon apresenta ideias inovadoras na obra Psicologia das Massas (1895), onde as
multidões representam a explosão de um lado irracional, que seria condutor necessário de uma crise
generalizada na sociedade. Pensar as massas como um fenômeno social, como a fusão dos indivíduos em
um espírito e sentimento comuns, é sua maior contribuição. Nesse debate, ele introduz, por intermédio da
psicologia, de um elemento irracional na política, tirando do foco a razão empregada nas análises do direito
ou da economia política. Sob esse viés se torna possível explicar a ação do líder sobre as massas,
associando os meios da sugestão à política (ecoando Maquiavel) e fornecendo subsídios para que as classes
dominantes tivessem plausível justificativa para exercer a condução das multidões. A questão social se
tornou um dos componentes essenciais da tecnologia política efetivada pelo poder moderno. A
configuração do social cria condições para a invenção de uma psicologia social.
Texto Completo:
Explicando a perspectiva 9
Situação atual da literatura 11
Algumas considerações sobre história e filosofia da ciência 13
Algumas expectativas para o futuro 14
Agradecimentos
2- O que é uma concepção descendente de individualidade, de acordo com o texto A Vida dos Homens
Infames de Foucault?
3- Caracterize e diferencie a psicologia fisiológica da psicologia dos povos de Wilhelm Wundt e esclareça
a sua importância para a formação da psicologia social moderna.
4- O que são formas psicológicas e formas sociológicas de psicologia social, de acordo com Robert Farr?
II- Apresente três categorias formuladas por Irving Goffman, relacionando-as ao funcionamento do que o
pesquisador chamou de instituições totais.
III- Escolha um dos excertos abaixo do texto Escola de Frankfurt: Unindo materialismo e psicanálise na
construção de uma psicologia social marginal de Jorge Coelho Soares e elucide o que está sendo
problematizado, buscando relacionar o fragmento ao seu entendimento do texto lido:
Questões de Segunda Ordem
Foucault
01- Discorra sobre o poder em Foucault.
06- Numa perspectiva positivista, por que que a gente pode dizer que a psicologia é antiga e moderna ao
mesmo tempo?
Em termos de ideia, já havia uma possibilidade de consideração de um estudo psicológico há muito tempo.
Mas em termos de campo disciplinar ela só passa a existir na percepção de um projeto moderno, com a
invenção do sujeito pensante. Ela preexiste como ideia, mas só é percebida como disciplina na
modernidade.
02- Forneça uma sinopse do projeto epistemológico de Mead e use os conceitos de filogênese e
ontogênese no processo.
Não há pressuposto de mente/consciência à priori. Mead é um antirreducionista preocupado com a
processualidade das relações, de modo que engendra uma cadeia de desdobramentos na seguinte
sequência: sociedade, mente e self. Seu pensamento é marcado pela síntese a partir do conflito, na matriz
hegeliana. Seu próprio projeto epistemológico, de matriz darwinista, pode ser pensado como um
behaviorismo social que se aproximou da biologia/evolução como ciência natural, divergindo do
behaviorismo watsoniano, por exemplo, que se aproxima da física. Há, portanto, uma preocupação com o
comportamento, mas sem reduzi-lo ao emissor da ação. Outro modo de interpreta-lo é como interacionista
simbólico, sob um viés de relações formais e representações no contexto social. É controverso localizar o
projeto de Mead, mas se constata que ele supera as correntes monistas e dualistas da época em favor de
um projeto híbrido. Ele quer explicar tanto a origem natural quanto a origem social da mente e do self. No
estudo de seu projeto, apreende-se um conjunto de categorias sobre a psicologia social moderna do inicio
do século XX e uma forma em si mesma de critica aos limites cartesianos. A investigação do Mead tem um
retumbante paralelo com a transição conflituosa entre os séculos XIX e XX.
05- Discorra sobre o pack de conceitos de Mead: self, mente e sociedade; articulando com linguagem,
comércio e evolução biológica para explicar a gênese dual de mente e self.
Self = autorreflexão = autorreflexividade = autoconsciência = eu penso
Mente = reflexividade = consciência = pensar
Self: garante explicação sobre origem natural da mente e a gênese social da consciência de si
(autorreflexividade).
Mente: Atributo que garante a capacidade de representar e reiterar os quadros perceptivos por intermédio
de imagens internas que ganham permanência por ir além da mera representação do que é externo,
também se antecipando a isso, de modo a permitir um colocar-se como objeto e a projeção das ações no
tempo. É garantir duração do ponto de vista narrativo. É a capacidade de se localizar no tempo ao lembrar,
imaginar. Atributo que garante a representação do objeto e garante certa possibilidade de relação com o
objeto independente de sua presença física.
Há uma gênese da mente/self, historicamente investigada por duas vias:
Em termos filogenéticos, a evolução da espécie com o surgimento do polegar opositor, entre outras
características, implica que possamos representar os objetos não apenas a partir da percepção visual, mas
a partir do tato. Os objetos ganham tridimensionalidade. Há uma relação entre as mãos e o
desenvolvimento do SNC.
Do ponto de vista ontogenético, a gênese da mente se dá ao poder ocupar lugar do outro e assumir
a perspectiva alheia.
Essa dicotomia implica que os pontos de vista são sempre restritos na consideração de uma ciência
do homem anterior à Mead, ou você tinha o ponto de vista do observador ou do ator/atriz. Ele tenta fazer
uma convergência entre esses diferentes pontos de vista. Observando que há sempre algo inalcançável
para ambos. Esse meio caminho é a possiblidade de considerar a emergência do self. Ele emerge na
processualidade das relações sociais. Só nas relações sociais nos tornamos objetos para nós mesmos (o
self). O outro é essência na constituição da consciência de si (a possiblidade de considerar nós mesmos
como outro).
Existe um horizonte de sentido para a emergência da ação: o SNC de quem age, a reação daquele
que está no horizonte da ação e a reação daquele que agiu – tanto em relação à reação daquele que está
fora, quanto em relação a si e a complexidade da espécie humana; nós reagimos a nossas próprias reações.
Esse fenômeno encadeado e simultâneo oferece um traço, uma duração, o que ganha o nome de self, a
complexidade da mente. O outro deixa de ser apenas um “outro empírico” com quem me relaciono, mas
também um “outro generalizado”, que eu conceitualizo (como na brincadeira infantil), com quem eu passo
a poder me relacionar de modo virtual, formal. Fica evidente a base essencialmente social da consciência
de si.
Não poderia haver emergência do self a partir unicamente do que se carrega de biológico, mas o
biológico é pré-condição para se tornar self. Existe uma potencialidade de constituir self. Mead é hegeliano:
há o pensar e o pensar sobre o próprio pensamento. A linguagem, em suas diferentes formas, estimula a
emergência da mente, quando requer a capacidade de assumir a posição do outro, como em uma barganha
mercadológica. Especificamente a fala/audição, e a capacidade de ouvir a si mesmo, estimula
autorreflexividade e a emergência do self. Mead sugere que a relação social de comércio teria maior papel
desenvolvedor de mente e self que o advento da religião. Tanto a mente quanto o self possuem uma dupla
história única, do ponto de vista natural e social Nos tornamos indivíduos (com self e mente) na
processualidade das relações sociais. A virtualidade biológica, através do que é especificamente humano,
se formaliza num determinado tipo de sociedade como a moderna, onde se comercializa (requer que se
aprenda como um vendedor pode reagir na negociação, aprende-se a barganhar, em suma, a alcançar a
perspectiva do outro generalizado). Em link com Foucault, no momento em que a vida particular se torna
administrável, passível de transcrição e registro, há um estimula da consciência no sentido de que emerja
um self. Na transição da sociedade de soberania para a sociedade disciplinar o self encontra solo fértil.
Pode-se considerar que os animais prenunciam o que chamamos mente. E pode-se considerar
também que a ética como atributo social, ontologicamente, também estimularia a emergência do self,
ponderando sobre uma sociedade em que no horizonte ético há “um outro” permanentemente inscrito.
Consciência: o órgão mais frágil e mais falível; útil para contar, calcular.
07- Discorra sobre quadros perceptivos e a possiblidade de sociedades sem mente, em termos de
representação e permanência de um ponto de vista cognitivo.
Sociológica: Não se restringe a atributos ou matrizes individuais (explica, por ex., fatos sociais a partir de
fatos sociais). Matriz hegeliana, relacional, processual, dialética, conflitiva, "complexificante”.
Interacionismo Simbólico (Blumer): Interação mediada por símbolos, por representações: na etimologia de
“reapresentação”, pode se tratar de objetos que não precisam estar no mundo necessariamente, mas que
podem imageticamente ser reapresentados ao espírito. Os objetos ganham complexidade na espécie
humana. O conceito significa abstração. Antes da presença, há já há possibilidade de interação. Somos
capazes, enquanto espécie e sociedade, não só de garantir que o objeto esteja presente por sua
representação, mas que, além disso, nós mesmo nos tornemos objetos (isso é o self).
A relação entre individuo e sociedade é mediada pela relação com o outro, que pode ser um “eu mesmo”
(consciência de si mesmo = self). Estruturalmente ele é uma virtualidade. O outro não precisa ser
necessariamente uma pessoa (pode ser criança, animal, objeto...). O artista para fazer uma escultura
precisa se colocar na perspectiva do objeto. O ator no palco pode modular suas ações de acordo com a
reação do público.
Em vez do dualismo self/outro cartesiano, Mead passa a considerar o self em relação ao outro, adotando
um paradigma hegeliano da dialética (insere a variável tempo na investigação do objeto), incompatível com
os pressupostos de Descartes. Desse modo, Mead alcança um pragmatismo intersubjetivo e resolve um
problema que os psicólogos da época nem se deram conta da existência. Em vez da dicotomia ou/ou,
alcança-se a situação de ambos/e.
12- Por que Watson acreditava ter vencido o espectro cartesiano? Por que ele estava errado?
Watson acreditou que eliminando a consciência como objeto estaria abandonando toda a metafísica na
ciência psicológica e, com isso, a marcar cartesiana. Contudo, essa era apenas outra face do dualismo
cartesiano, que se divide em racionalismo (metafísico) e empirismo. A herança cartesiana em psicologia é
uma filosofia mental do self (acessível pela introspecção) e uma ciência comportamental do outro, a
natureza do dualismo self/outro na filosofia cartesiana. Watson não mudou de paradigma, mas apenas de
viés. E a mente permaneceu inexplorada.
13- Comente a famigerada frase: “A psicologia social tem um longo passado, mas uma curta história.”
Articulando
01- Analise a diferença ontológica e metodológica em Wundt e compare com Mead.
02- Fale sobre o Princípio da Inquietude (Cuidado de Si) relacionando Mead, Foucault e Nietzsche.
b) Self: O “eu mesmo” como objeto. Somente a partir de “si mesmo” se ganha uma noção do “outro
generalizado”.
c) Autorreflexividade Humana: Quando falamos, falamos a nós mesmos e aos outros, mas dificilmente
vemos nossa própria imagem. A natureza auto reflexiva da inteligência humana, portanto está mais
intimamente ligada à fala do que à visão.
06- Se Mead acredita que a emergência do self se dá pela evolução filogenética em conjunto com o
advento da linguagem em sociedade, por que só na modernidade verifica-se o fenômeno da
autorreflexividade e não na antiguidade grega, por exemplo?
Linguagem é antiga, mas a forma como é usada só incide na emergência de um dado contexto social
(modernidade, surgimento da sociedade complexa: disciplinar, pós-disciplinar). A potencialidade estava lá,
mas só na modernidade houve o gatilho de desenvolvimento.