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Não era o desejo de D. Pedro I imperar como um déspota, pois "sua ambição era ser
guardado pelo amor de seu povo e pela fidelidade das suas tropas e não impor sua tirania". O
Imperador, por tal razão, encarregou o Conselho de Estado criado em 13 de novembro de 1823
de redigir um novo projeto de Constituição que estaria finalizado em apenas quinze dias. Era um
"conselho de notáveis" formado por juristas renomados, sendo todos Brasileiros natos. O grupo
incluía Carneiro de Campos, principal autor da nova Carta, além de Vilela Barbosa, Maciel da
Costa, Nogueira da Gama, Carvalho e Melo, dentre outros. O Conselho de Estado utilizou como
base o projeto da Constituinte e assim que terminou, enviou uma cópia da nova Constituição
para todas as câmaras municipais. Esperava-se que a Carta servisse como um projeto para uma
nova Assembleia Constituinte. Contudo, as câmaras municipais sugeriram ao Imperador ao
invés que se adotasse "imediatamente" o projeto como a Constituição brasileira. Em seguida, as
câmaras municipais, compostas por vereadores eleitos pelo povo brasileiro como seus
representantes, votaram a favor por sua adoção como a Carta Magna do Brasil independente.
Pouquíssimas câmaras fizeram qualquer tipo de observação a Constituição e praticamente
nenhuma fez alguma reserva. A primeira Constituição brasileira foi então outorgada por D.
Pedro I e solenemente jurada na Catedral do Império, no dia 25 de março de 1824.
A Carta outorgada em 1824 foi influenciada pelas Constituições francesa de 1791 e
espanhola de 1812. Era um "belo documento de liberalismo do tipo francês", com um sistema
representativo baseado na teoria da soberania nacional. A forma de governo era a monárquica,
hereditária, constitucional e representativa, sendo o país dividido formalmente em províncias e o
poder político estava dividido em quatro, conforme a filosofia liberal das teorias da separação
dos poderes e de Benjamin Constant. A Constituição era uma das mais liberais que existiam em
sua época, até mesmo superando as europeias. Fora mais liberal, em diversos pontos, e menos
centralizadora que o projeto da Constituinte, revelando que os "constituintes do primeiro
reinado que estavam perfeitamente atualizados com as ideias da época". Apesar da Constituição
prever a possibilidade de liberdade religiosa somente em âmbito doméstico, na prática, ela era
total. Tanto os protestantes, como judeus e seguidores de outras religiões mantiveram seus
templos religiosos e a mais completa liberdade de culto. Continha uma inovação, que era o
Poder Moderador, cujo surgimento na letra da lei fora atribuída a Martim Francisco de Andrada,
um grande admirador de Benjamin Constant. Este Poder serviria para "resolver impasses e
assegurar o funcionamento do governo". A separação entre o Poder Executivo e Moderador
surgiu a partir da prática no sistema monárquico-parlamentarista britânico.
Havia na Carta Magna "algumas das melhores possibilidades da revolução liberal que
andava pelo ocidente – as que iriam frutificar, embora imperfeitamente, no reinado de D. Pedro
II". Isabel Lustosa diz que "segundo [Neill] Macaulay, ele proporcionou uma Carta invulgar,
sob a qual o Brasil salvaguardou por mais de 65 anos os direitos básicos dos cidadãos de
maneira melhor 'do que qualquer outra nação do hemisfério ocidental, com a possível exceção
dos Estados Unidos'". De acordo com João de Scantimburgo:
D. Pedro I e os seus constituintes tiveram o bom senso de escolher o melhor regime para
a nação tropical, que se emancipava na América, sem copiar os Estados Unidos já consolidados,
e as nações hispano-americanas retaliadas por tropelias sem fim, pelo revezamento de breves
períodos democráticos e ditaduras caudilhescas.
3 Características da Constituição
O Estado adotava o catolicismo apostólico romano como religião oficial. As outras
religiões eram permitidas com seus cultos domésticos, sendo proibida a construção de templos
com aspecto exterior diferenciado; define quem é considerado cidadão brasileiro; as eleições
eram censitárias e indiretas; submissão da Igreja ao Estado, inclusive com o direito do
Imperador de conceder cargos eclesiásticos na Igreja Católica (padroado); foi uma das primeiras
do mundo a incluir em seu texto (artigo 179) um rol de direitos e garantias individuais; o
Imperador era inimputável (não respondia judicialmente por seus atos).
Por meio do Poder Moderador o imperador nomeava os membros vitalícios do Conselho
de Estado, os presidentes de província, as autoridades eclesiásticas da Igreja Católica Apostólica
Romana e os membros do Senado vitalício. Também nomeava e suspendia os magistrados do
Poder Judiciário,assim como nomeava e destituía os ministros do Poder Executivo.
Podem-se citar alguns artigos que marcam o texto constitucional de 1824:
Art. 1. O Império do Brasil é a associação política de todos os brasileiros. Eles formam uma
nação livre e independente, que não admite com qualquer outro laço algum de união e federação
que se oponha à sua independência.
Art. 3. O seu governo é monárquico, hereditário, constitucional e representativo.
Art. 5. A Religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a religião do Império. Todas as
outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular, em casas para isso
destinadas, sem forma alguma exterior de templo.
Art. 11. Os representantes da Nação brasileira são o Imperador e a Assembleia Geral.
Art. 14. A Assembleia Geral compõe-se de duas câmaras: Câmara de Deputados e Câmara de
Senadores ou Senado.
Art. 35. A Câmara dos Deputados é eletiva e temporária.
Art. 40. O Senado é composto de membros vitalícios e será organizado por eleição provincial.
Art. 98. O Poder Moderador é a chave de toda a organização política e é delegada
privativamente ao Imperador, como Chefe Supremo da Nação e seu Primeiro Representante,
para que incessantemente vele sobre a manutenção da independência, equilíbrio e harmonia dos
mais Poderes políticos.
Art. 102. O Imperador é o Chefe do Poder Executivo e o exercita pelos seus ministros de
Estado.
Art. 137. Haverá um Conselho de Estado, composto de conselheiros vitalícios, ou seja,
nomeados pelo Imperador. Principais características da Constituição de 1824: - Concentrava
poderes nas mãos do imperador, através do poder moderador. - Só os ricos podiam votar, pois o
voto era baseado em renda. Este sistema eleitoral excluiu a maioria da população brasileira do
direito de escolher seus representantes. - Igreja subordinada ao Estado. - Manutenção do sistema
que garantia os interesses da aristocracia.
3.1 Tipo de Estado
O Estado era uma monarquia federalista confessional. Cuja religião oficial era
Catolicismo.
3.2 Forma de Governo
O governo era uma monarquia unitária e hereditária. Havia existência de 4 poderes: o
Legislativo, o Executivo, o Judiciário e o Poder Moderador, este acima dos demais poderes,
exercido pelo Imperador.
3.3 Tipo de Constituição
Constituição era escrita, semirrígida, codificada, outorgada, dogmática e analítica. Guarda
os princípios do liberalismo, desvirtuados pelo excessivo centralismo do imperador.
4 Condições de exercício da Cidadania.
A Constituição definia juridicamente aqueles que usufruiriam a condição de cidadão, a
quem ficava assegurada a inviolabilidade dos direitos civis e políticos, tendo por base a
liberdade, a segurança individual e a propriedade. Estava constitucionalmente assegurada a
liberdade de expressão, a liberdade religiosa, o direito à propriedade, a instrução primária
gratuita, a independência do poder judicial, o fim do foro privilegiado, o acesso ao emprego
público por mérito, entre outros direitos (BRASIL. Constituição (1824), Título VIII). Dentre os
cidadãos, o texto constitucional incluiu os ingênuos e libertos nascidos no Brasil, os filhos de
pai brasileiro, os ilegítimos de mãe brasileira nascidos no exterior que fixassem domicílio no
Império e os filhos de pai brasileiro em serviço em país estrangeiro, ainda que não se
estabelecessem no Brasil, além de todos os nascidos em Portugal e suas possessões que
residissem no país por ocasião da Independência (BRASIL. Constituição (1824), art. 6º).
O sistema eleitoral estabelecido pela Constituição baseou-se numa acepção de cidadania
que distinguiu os detentores dos direitos civis dos que usufruíam também direitos políticos, os
cidadãos ‘ativos’, que possuíam propriedade, dos ‘passivos’. As eleições seriam indiretas,
ficando definidos dois tipos de eleitores, os de paróquia e os de província. Os eleitores de
paróquia elegiam os de província, que votavam nos deputados à Assembleia Geral. A
Constituição qualificou os eleitores, bem como os que poderiam ser votados, segundo o critério
censitário. Podiam votar os maiores de vinte e cinco anos, com renda líquida anual de cem mil
réis para as eleições paroquiais, e de duzentos mil réis para as de província. No caso do limite de
idade imposto para o voto, de 21 anos, abria-se exceção aos que fossem casados, bem como
para militares e bacharéis formados. Podiam votar nas eleições de paróquias os libertos, desde
que nascidos no Brasil e obedecendo ao critério censitário. Ficavam excluídos do direito ao voto
os criados e religiosos, as mulheres, os escravos, os índios e os filhos que viviam na companhia
dos pais, isto é, dependentes economicamente.
Bibliografia