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A colecção de fotografia do Inventário Artístico de

Portugal
Vera Mariz
Doutorada, ARTIS – IHA/FLUL, Lisboa, Portugal, verafelixmariz@gmail.com

RESUMO: O Inventário Artístico de Portugal, obra magna da Academia Nacional de


Belas-Artes, resulta de uma necessidade há muito conhecida de se proceder à inventariação
do património artístico nacional e de circunstâncias extremamente favoráveis: as
comemorações de 1940. Os trabalhos das brigadas inventariantes começariam a ser
projectados em 1938, percebendo-se desde então que a fotografia assumiria um papel
preponderante. A colecção estudada é o resultado deste entendimento, interessando-nos
explicar as suas origens, identificar características e explicá-la à luz do projecto que lhe
deu origem. Para isso, depois de uma leitura de conjunto, focámo-nos no caso de Coimbra.
PALAVRAS-CHAVE: Fotografia, Inventário, Vergílio Correia, António Nogueira
Gonçalves, Comemorações de 1940.

UMA CONQUISTA DO ESTADO NOVO


Tarefa monumental mas absolutamente necessária e urgente, a inventariação do património
artístico português foi sendo, desde meados do século XIX, sucessivamente proposta e
continuamente adiada. Tratava-se, conforme se propagandeava durante o Estado Novo, de
uma aspiração de todos os tempos, mas a que até hoje não foi possível dar início [1], um
dos mitos que viria a ser, pelo menos parcialmente, pulverizado pelo governo de António de
Oliveira Salazar.
É sem surpresa, tendo em consideração a ideologia do regime estadonovista, ou o impulso
dado à valorização do património nacional sobretudo a partir de meados dos anos 30, que
assistimos à recriação da Academia de Belas-Artes e, concretamente, à fixação da seguinte
missão: colaborar no inventário descritivo dos monumentos, obras de arte e objectos de
valor artístico ou arqueológico nacionais e estrangeiros existentes no País [2]. Porém seria
necessário esperar pela publicação do regulamento da instituição [3] e, não menos
importante, pela presidência de Reynaldo dos Santos mas, também, pelo momento mais
propício para esta tarefa ser realmente iniciada. Referimo-nos, naturalmente, ao período de
preparação das comemorações do Duplo Centenário de 1940.
Efectivamente, tendo sido fixado no regulamento da Academia, uma vez mais, que um dos
seus fins seria Colaborar com a Junta Nacional da Educação no inventário descritivo e
crítico dos monumentos e obras de arte nacionais [3], no ano de 1938 o ministro da
Educação Nacional, António Faria Carneiro Pacheco, daria indicação à Academia Nacional
de Belas-Artes (ANBA) para dar início ao dito inventário artístico nacional, uma das formas
mais dignas de comemorar o duplo Centenário [1]. Apesar da impossibilidade de proceder a
grandes explanações no presente artigo [4], parece-nos importante avançar que numa
primeira fase a ANBA propôs à Junta Nacional de Educação a criação de quatro brigadas
distribuídas pelo país, sendo cada uma constituída por dois peritos e um fotógrafo local [1].
O objectivo passaria pela elaboração de verbetes e fotografias a reunir num arquivo
localizado na sede daquela instituição. Esta proposta seria devidamente aprovada por
António de Oliveira Salazar [5], datando de 1939 o início dos trabalhos de quatro brigadas.
O tempo estimado para a concretização da ambiciosa campanha, assumidamente inspirada
no inventário promovido em Inglaterra pela Royal Commission a partir de 1908 [6], era de
dez anos [7].
Não obstante a vontade e necessidade política de publicar os quatro primeiros volumes por
ocasião do Duplo Centenário, as dificuldades sentidas foram muitas, tendo identificado
principalmente efeitos da Segunda Guerra Mundial. A este nível podemos referir a crise da
indústria papeleira [8] mas, sobretudo, a escassez de combustível, problema que chegou a
ditar a suspensão dos trabalhos [9]. Consequentemente o primeiro volume (Portalegre) só
seria publicado no ano de 1943, facto que parece não ter desagradado ao Presidente do
Conselho de Ministros: Confesso o receio que, desfeito o entusiasmo dos Centenários, as
Academias tivessem adormecido um pouco sobre algumas excelentes resoluções então
tomadas. Muito me alegrou ver que não [10]. O timoneiro da Nação acrescentaria ainda
uma sugestão que se reveste do maior interesse no âmbito deste estudo, uma prova inilidível
do perfeito entendimento da importância da fotografia neste contexto em que nos movemos:
Atrever-me-ia a recomendar que não embaratecesse demasiado a edição e que se tivesse
cuidado com as fotografias [10].

A FOTOGRAFIA E AS BRIGADAS INVENTARIANTES

A colecção: estrutura e organização


A colecção de fotografia do Inventário Artístico de Portugal encontra-se sob a alçada da
ANBA, instituição que salvaguardou a estrutura e organização da dita documentação tal
como esta foi pensada nos momentos primitivos da iniciativa lançada no final da década de
30. Esta documentação pode ser dividida em três categorias: as fotografias publicadas, as
não publicadas e os negativos, documentos que, como veremos, iam sendo remetidos pelos
inventariantes ao serviço da ANBA, enriquecendo, deste modo, o tombo em construção e
possibilitando a ilustração da obra a publicar. Tratam-se de mais de cem caixas com
fotografias publicadas mas, também, cerca de sessenta caixas com fotografias e clichés não
publicados e, ainda, cerca de cinquenta caixas somente com negativos.
No interior de cada caixa encontram-se diversas pastas devidamente identificadas pelo tipo
de obra (pintura, escultura), localização (distrito e concelho), número de caixa e de caderno.
Cada fotografia apresenta no seu verso um carimbo da Academia Nacional de Belas-Artes –
Arquivo Fotográfico com os campos referentes aos números da fotografia, caixa e caderno,
bem como ao nome do fotógrafo, assunto, autor, local e observações. Nos casos observados
estes espaços não foram preenchidos, sendo visíveis sim inscrições ao seu redor ou por
baixo dos mesmos, levando-nos a crer que os carimbos só eram colocados quando as
fotografias davam entrada na ANBA e que as inscrições eram realizadas pelas brigadas
inventariantes como forma de identificação. Porém constatámos serem diversos os casos em
que o nome do fotógrafo está totalmente ausente. Por sua vez os clichés, alguns em vidro,
estão guardados em envelopes cuja face apresenta a mesma informação identificadora.
Refira-se ainda que esta documentação encontra-se directamente relacionada com outros
documentos pertencentes à mesma instituição, nomeadamente as fichas de inventário
organizadas em gavetas por distritos, concelhos e freguesias. Existem, ainda, livros de
correspondência, sendo na sua totalidade datados do espaço temporal compreendido entre os
anos de 1938 e 1967.
As práticas dos inventariantes no referente à fotografia: o caso
de Coimbra
Relativamente à colecção de fotografia de Coimbra, deparámo-nos com as anteriormente
mencionadas categorias de documentos: os publicados e os não publicados. Quanto às
fotografias publicadas ou respectivos clichés, estes encontram-se distribuídos por cerca de
cinquenta caixas, sendo possível identificar cerca de vinte caixas de fotografias e clichés não
publicados e cerca de vinte e cinco contendo unicamente negativos. Refira-se, também, que
de acordo com notas presentes em algumas das fotografias não publicadas, sabemos que
estas terão sido aproveitadas para ilustrar os dois volumes da obra de Reynaldo dos Santos
dedicada à Escultura em Portugal (1948 e 1950).
O inventário do património artístico de Coimbra começou a ser pensado logo no início do
mês de Janeiro de 1939, momento em que a ANBA nomeou Vergílio Correia, seu vogal-
correspondente, como responsável pelos trabalhos na zona do centro, começando pelo
distrito de Coimbra [11]. A escolha não terá sido difícil pois, além do estatuto de académico
e de antigo membro do Conselho de Arte e Arqueologia, o historiador de arte, professor da
Universidade de Coimbra e director do Museu Machado Castro, era um dos maiores
conhecedores do universo artístico, arquitectónico e arqueológico conimbricense.
De modo a cumprir a sua tarefa, o ilustre professor viria a escolher José Toucedo Correia da
Fonseca [12] para auxiliá-lo na elaboração de verbetes das freguesias de Coimbra, das
igrejas e capelas referidas nas “Informações Paroquiais”, de sepulturas, letreiros e armas,
dos dados relevantes existentes no Santuário Mariano, Corografia Portuguesa, Dicionário
Geográfico, Memórias Histórico-Geográficas do Distrito de Coimbra, Geografia Histórica
ou no Agiologia Lusitano [13]. Através desta metodologia de investigação, exaustiva,
sistemática e rigorosa, o historiador de arte procurava garantir o conhecimento total de
templos, altares, imagens, sepulturas, brasões – que tudo temos de mencionar no
Inventário, desde que possuam carácter artístico [14]. Como forma de demonstrar a
capacidade de trabalho dos dois envolvidos, refira-se que entre os meses de Janeiro e Março
de 1939 foram elaborados novecentos verbetes [15]. Por sua vez as viagens de inventariação
teriam início em meados de Abril de 1939 [16], podendo avançar que somente em cinco dias
desse mês foram percorridos quase 800 quilómetros [17] ou que nove jornadas de actividade
equivaleram a cerca de 1500 quilómetros [18], distâncias admiráveis tendo em consideração
as condições da época e a natureza do trabalho.
A fotografia desempenhou, desde início, um papel crucial no desenvolvimento dos trabalhos
de Vergílio Correia, sendo possível identificar na documentação referente às despesas
efectuadas mensalmente, múltiplas referências a fotografias, rolos de película, a provas,
colagens, ampliações, revelações [19], a 1 tripé metálico [20] ou a magnésio [21],
substância utilizada para obter iluminação artificial, o flash. Percebemos, desde logo, que
não só houve um investimento considerável na captação das fotografias necessárias à
elaboração do inventário mas, também, que estas não serviriam somente enquanto meras
ilustrações. Afinal, as referências às colagens e ampliações permitem-nos concluir que estas
fotografias eram inquestionavelmente entendidas e utilizadas, também, enquanto um útil e
relevante instrumento de trabalho para aquele (e outros) historiadores de arte da época.
Como prova cabal desta importância concedida à fotografia refira-se ainda que no mês de
Setembro de 1939 Vergílio Correia decidiu ultrapassar a [verba] deste mês em 1.335$00,
quantia necessária à documentação fotográfica da abundantíssima imaginária existente no
Concelho de Cantanhede [22].
De resto, será importante recordar que tanto Vergílio Correia como António Nogueira
Gonçalves, ambos inventariantes de Coimbra, se destacam na historiografia como
entusiastas da fotografia [23]. Assim o atestam, além do próprio Inventário Artístico com
múltiplas fotografias das suas autorias, diversos estudos de ambos os historiadores de arte,
podendo referir, a título meramente exemplificativo, a edição dos Monumentos e Esculturas
(séculos III-XVI) [24], livro do primeiro, ilustrado com mais de 40 desenhos e fotografias
[21], a esmagadora maioria identificada como sendo Fotografia do autor. Refira-se,
também, a publicação resultante da viagem de estudo realizada pelo mesmo académico a
Marrocos (1923) [25], constando na sua capa uma referência a 24 ilustrações. Tratavam-se,
novamente, de fotografias tiradas pelo próprio estudioso e de outras adquiridas ao fotógrafo
Chelle, de Casablanca [26]. Nogueira Gonçalves também privilegiou, desde cedo, a
utilização da fotografia como forma de ilustração dos seus trabalhos e documento de estudo.
Assim o atesta uma das suas obras de referência dedicada à arquitectura românica de
Coimbra, na qual surge um caderno com fotografias de Rasteiro, Álvaro de Sousa ou da
Casa Havanesa mas, também, de fotógrafos estrangeiros, cujos trabalhos, na impossibilidade
de irmos fazer visitas de estudo a determinadas regiões [27], utiliza habilmente. Por outro
lado, a utilização de fotografias de Rasteiro numa obra assumidamente pensada não para
guia de eruditos mas para o comum dos visitantes [28] da igreja de Santa Cruz de Coimbra,
confirma o entendimento por parte deste autor da capacidade educativa e encantatória dos
monumentos nacionais.
Neste caso concreto de Coimbra, pelo menos numa fase inicial, Vergílio Correia terá
utilizado o seu próprio material, tendo feito referência ao facto de possuir 3 máquinas de
formatos e capacidades diferentes [29]. Porém, como o eminente historiador de arte viria a
notar, com os aparelhos que possuía não conseguiria realizar o trabalho fotográfico
necessário com facilidade e nas modalidades indicadas [29], razões que o levariam a
solicitar à ANBA uma Leica [29], câmara alemã lançada no mercado em 1925, um aparelho
de pequenas dimensões, prático e eficiente, perfeitamente adequado a uma utilização em
registo de viagem por fotógrafos amadores [30]. De resto, a utilização desta pequena
máquina (género Leica), a mais prática e económica [31] tinha sido prevista desde os
momentos preparatórios deste projecto. É crível que a máquina enviada pela ANBA tenha
sido uma Leica modelo II [32] pois localizámos uma referência à mesma na listagem de
material fotográfico posto à disposição [32] de Vergílio Correia, da qual constam, entre
outros objectos, uma lâmpada para magnésio, objectivas Elmar e Hektor com grande
angular e visor especial, um pára-sol de lente fotográfica, um propulsor metálico, um filtro
amarelo nº1 ou um dispositivo para reproduções, adaptável ao aparelho Leica, completo
com 3 lentes [32].
Anos mais tarde a câmara Leica continuaria a ser o aparelho privilegiado pela brigada de
Coimbra, sabendo que em 1950 Nogueira Gonçalves solicitou à ANBA o seu envio após ter
sido consertada em Lisboa [33]. Por outro lado temos conhecido da utilização de uma
máquina fotográfica de outra marca pelo mesmo inventariante na sua campanha em Aveiro,
a propósito da qual refere que A despesa (…) será menor porque trabalho sozinho, sendo
até as fotografias exclusivamente minhas, quer feitas com Leica quer com máquina de outra
categoria (e vejam-se as dos barros e tecidos do Bussaco) [34].
Após a exaustiva captação das fotografias pela brigada com recurso ao conhecimento
pessoal do território mas, também, a uma elucidativa carta itinerária da Vacuum Oil
Company [35], proceder-se-ia à colagem das imagens em fichas, organização em álbuns e
envio juntamente com películas e duplicados para a ANBA [36]. Em caso de necessidade
aquelas fichas fotográficas poderiam ser solicitadas pelos inventariantes, tal como Nogueira
Gonçalves viria a fazer após o falecimento de Vergílio Correia [37], tratando-se,
indiscutivelmente, de nova prova da utilidade destes materiais para a elaboração do
inventário [38]. Tratava-se, sem dúvida, de um trabalho monumental que exigia não só
vastos conhecimentos histórico-artísticos mas, também, grande disciplina e método,
aspectos que nem sempre terão sido plenamente alcançados conforme atesta o seguinte
desabafo de Nogueira Gonçalves após a morte de Vergílio Correia: Os clichés, as cópias
fotográficas e as amplificações estavam em grande parte por classificar; umas aos massos
por concelhos, muitas outras avultadas. Tem sido um trabalho a par dos resumos e que tem
levado muito tempo, além de exigir paciência e certa perspicácia [39].
Posteriormente, aquando da preparação da respectiva publicação, a brigada procederia à
organização das maquetas das folhas do inventário fotográfico, trabalho moroso e exigente
para o qual Nogueira Gonçalves revelou uma notável sensibilidade. Efectivamente, aquando
da preparação da publicação do volume referente ao distrito de Coimbra, aquele
inventariante compreendeu que, ao contrário da solução adoptada até então, ao invés de
intercalar folhas de texto com outras de imagem, dever-se-ia optar por apresentar o texto
introdutório seguido das respectivas estampas, texto do inventário, estampas e, por fim, os
índices [40]. Folheando a obra percebemos que este modelo sugerido por Nogueira
Gonçalves vingaria, notando, porém, que o caderno de imagens ilustrativas da introdução
antecede em algumas páginas o final desta. A este propósito diria Nogueira Gonçalves: Deu
isto muito trabalho e, repito, mesmo muito. Foi necessário estudar geometricamente a
composição de cada página (…) Como são 789 fotografias deveria ser no mínimo o mesmo
número de cálculos, mas foi mais elevado como é fácil de presumir. Este trabalho, segundo
os cálculos feitos inicialmente, exigiria 352 horas, mas deveria ter atingido o dobro [41].
Relativamente à autoria das fotografias, esclareça-se que além daquelas captadas pelos
próprios historiadores de arte, as encomendas a profissionais foram frequentes. Assim o
atesta, por exemplo, o facto de Nogueira Gonçalves ter informado em 1948 que o inventário
do concelho de Penacova estava concluído, faltando as fichas fotográficas (…) que seguirão
logo que o fotógrafo as entregue [42]. Por outro lado, parece-nos que Manuel Abreu terá
sido o profissional dilecto de Vergílio Correia, um fotógrafo modesto e hábil (…) que o
acompanhou, fazendo um trabalho documentário, executado com rapidez, por baixo preço,
sujeitando-se gastar um dia por duas fotografias somente, homem bom e dedicado [43].
Porém, conforme foi revelado recentemente [44], este fotógrafo era amigo do agente do
coleccionador Ernesto Vilhena que, sabendo da sua função junto de Vergílio Correia, lhe
viria a propor – com sucesso – o envio de cópias das fotografias captadas no âmbito da
missão de inventário da ANBA [44].
Além de Abreu e dos dois inventariantes, temos conhecimento de trabalhos realizados por
Francisco Ferreira [45], Mário Novais e Abílio Hipólito, portanto três profissionais mas,
também, pelo Dr. José Correia e Eugénio da Veiga [46]. No volume referente à cidade de
Coimbra, encontram-se fotografias de Marques de Abreu, Mário Novais, Fotografia Beleza,
Manuel de Abreu e Eduardo Portugal [47]. Segundo percebemos nestes casos de fotografias
de profissionais, a prática mais comum passava por uma manifestação de interesse de
aquisição da ANBA, indicando aos fotógrafos quais as imagens pretendidas [48].
Para concluir, como forma de comprovar a utilidade e pertinência deste incontornável
Inventário Artístico de Portugal, atentemos a alguns casos ilustradores desta ideia. A igreja
da colegiada de São Pedro de Coimbra foi um dos monumentos demolidos no âmbito da
construção da cidade universitária [49]. Porém, os autores do inventário procederam não só
ao estudo do monumento antes da sua demolição [50], recuperando a sua descrição aquando
da publicação da obra mas, também, à captação de fotografias que nos permitem conhecer
os desaparecidos restos de pintura a-fresco (Séc. XVI) [51] de uma capela, embora
distinguindo-se tudo muito mal [52], ou a Arcada da capela-mor (Séc. XII) [51]. No caso do
colégio dos Lóios, edifício igualmente demolido no âmbito daquela campanha, o verbete foi
elaborado pelos inventariantes quando estava ainda de pé [53], conforme atesta, de resto,
uma fotografia da fachada do colégio no volume da cidade de Coimbra [54]. Por seu lado,
aquando da publicação desta obra, o Arco do Castelo ainda marcava a paisagem da cidade
mas, conforme seria registado, Está condenado pelas obras da cidade universitária [55]. E
assim seria, restando uma fotografia deste arco na obra estudada [56].

Ilustração 1 Fotografia da igreja de S. Pedro antes da Ilustração 2 Verso da mesma fotografia.


demolição. ANBA, Coimbra C, Caixa 45, foto 160.

Ao nível do conhecimento do património móvel e da sua valorização, o inventário revelou-


se igualmente benéfico, dando a conhecer uma enormidade de casos que até então
permaneciam desconhecidos, e permitindo, por exemplo, aumentar o número de estátuas
avulsas atribuíveis ao núcleo oficial coimbrão [57]. Por seu lado, o conjunto de clichés em
vidro não publicados [58] permite-nos observar, entre outras, as tábuas do políptico da
Misericórdia de Montemor-o-Velho – obra atribuída por Luís Reis Santos a Miguel Nunes
[59] – antes e durante o restauro para figurarem na exposição dos Primitivos Portugueses de
1940 [60]. Refira-se ainda a possibilidade de conhecer a procedência de algumas obras que
após a elaboração do inventário seriam deslocadas, perdidas, adquiridas por coleccionadores
privados ou recolhidas em museus. Maria João Vilhena de Carvalho alude a algumas destas
peças que, sendo mencionadas no Inventário Artístico, seriam adquiridas por Ernesto
Vilhena, embora lhe cause estranheza as referências aos locais originais quando estas já
estavam integradas na colecção do comandante [61]. A situação é facilmente explicável: o
inventário (nomeadamente o da Coimbra), não obstante a sua publicação tardia, começou a
ser realizado, como vimos, no ano de 1939, momento em que as ditas peças ainda estariam,
efectivamente, nos edifícios visitados por Vergílio Correia e Nogueira Gonçalves.

Notas, fontes e referências bibliográficas


[1] Arquivo da Academia Nacional de Belas-Artes (ANBA), Inventário Artístico de
Portugal (IAP), Correspondência em Geral, Liv. 2 a 9, Liv. 2, Proc. 151-188, 8 de Julho de
1938.
[2] Diário do Governo nº55, I Série, Decreto nº20:977, 5 de Março de 1932, p. 420.
[3] Diário do Governo nº203, I Série, Decreto nº28:003, 31 de Agosto de 1937, pp. 902-906.
[4] Este tema foi tratado fragmentariamente abordado por alguns autores, casos de Jorge
Custódio ou de Luís Mata. Cf. CUSTÓDIO, Jorge – “Renascença” artística e prática de
conservação e restauro arquitectónico em Portugal, durante a I República: fundamentos e
antecedentes (vol. I), “Renascença” artística e prática de conservação e restauro
arquitectónico em Portugal, durante a I República: Património da Nação (vol. II).
Caleidoscópio, Casal de Cambra, 2011-2013; MATA, Luís – O inventário artístico de
Portugal (1943-1995) - consonantes e dissonantes de um "dicionário da língua plástica
portuguesa". 100 Anos de Património. Memória e Identidade. Portugal, 1910-1920.
IGESPAR, Lisboa, 2010, pp. 181-186.
[5] ANBA, IAP, Correspondência em Geral Liv. 2 a 9, Liv. 2, Proc. 151-188, 5 de Agosto
de 1938.
[6] SANTOS, Reynaldo dos – Inventário Artístico de Portugal. Boletim da Academia
Nacional de Belas-Artes, vol.VI, 1940, p. 6.
[7] ANBA, IAP, Correspondência em Geral, Liv. 2 a 9, Liv. 2, Proc. 151-188, 12 de
Dezembro de 1939.
[8] ANBA, IAP, Correspondência em Geral, Liv. 2 a 9, Liv. 2, Proc. 151-188, 17 de
Outubro de 1939.
[9] ANBA, IAP, Correspondência em Geral, Liv. 2 a 9, Liv. 2, Proc. 151-188, 13 de Julho
de 1943.
[10] ANBA, IAP, Correspondência em Geral, Liv. 2 a 9, Liv. 2, Proc. 151-188, 7 de
Fevereiro de 1944.
[11] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 4 de Janeiro de 1939.
[12] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 10 de Março de 1939.
[13] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 14 de Fevereiro de 1939; 10 de Março de
1939; 10 de Abril de 1939.
[14] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 14 de Fevereiro de 1939.
[15] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 10 de Abril de 1939.
[16] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 18 de Abril de 1939.
[17] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 19 de Maio de 1939.
[18] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 15 de Junho de 1939.
[19] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 8 de Janeiro de 1940.
[20] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 19 de Maio de 1939.
[21] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 2 de Setembro de 1939.
[22] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 4 de Setembro de 1939.
[23] Cf. DIAS, Pedro – Nota biográfica, António Nogueira Gonçalves. Nota biográfica.
Obra Científica. Câmara Municipal de Arganil, s.l. [Arganil], 1992, p. 8; PESSOA, Miguel,
RODRIGO, Lino – Itinerário de Vergílio Correia (1888-1944) expresso no seu arquivo de
fotografias em chapa de vidro. Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova, Associação
Ecomuseu de Condeixa, Centro de Estudos Vergílio Correia, Condeixa-a-Nova/Condeixa-a-
Velha, 2016.
[24] CORREIA, Vergílio – Monumentos e Esculturas (séculos III-XVI). Imprensa Libanio
da Silva, Lisboa, 1919.
[25] CORREIA, Vergílio – Lugares Dalém. Azemôr, Mazagão, Çafim. Tipografia do
Anuário, Lisboa, 1923.
[26] CORREIA, Vergílio – Três Cidades de Marrocos. Azemôr, Mazagão, Çafim, “Lugares
Dalém”. 2ª edição dirigida por Alice Correia, Livraria Simões Lopes, Porto, s/d, s/p [p. 3].
[27] GONÇALVES, António Nogueira – Novas hipóteses acerca da arquitectura românica
de Coimbra. Gráfica de Coimbra, Coimbra, 1938, p.195.
[28] GONÇALVES, António Nogueira – Igreja de Santa Cruz de Coimbra. Tip. da Gráfica
de Coimbra, Coimbra, 1940.
[29] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 17 de Abril de 1939.
[30] SENA, António – História da Imagem Fotográfica em Portugal (1839-1997). Porto
Editora, Porto, 1998, p. 227.
[31] SANTOS, Reynaldo dos – Inventário Artístico de Portugal. Boletim da Academia
Nacional de Belas-Artes, vol.VI, 1940, p. 7.
[32] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 22 de Novembro de 1944.
[33] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 31 de Março de 1950.
[34] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 20 de Dezembro de 1953.
[35] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 22 de Novembro de 1944.
[36] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 25 de Novembro de 1939; 15 de Julho de
1946.
[37] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 30 de Junho de 1948.
[38] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 24 de Fevereiro de 1949.
[39] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 26 de Agosto de 1949.
[40] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 4 de Novembro de 1953.
[41] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 30 de Agosto de 1953.
[42] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 29 de Dezembro de 1948.
[43] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito, 16 de Dezembro de 1949.
[44] CARVALHO, Maria João Vilhena de – As esculturas de Ernesto Jardim de Vilhena. A
constituição de uma colecção nacional. Tese de doutoramento apresentada à FCSH-UNL,
2014, pp. 336-338.
[45] ANBA, IAP, Coimbra – Cidade e Distrito,19 de Dezembro de 1949.
[46] CORREIA, Vergílio, GONÇALVES, António Nogueira – Inventário Artístico de
Portugal. Distrito de Coimbra. Academia Nacional de Belas-Artes, Lisboa, 1952, p. 282.
[47] CORREIA, Vergílio, GONÇALVES, António Nogueira – Inventário Artístico de
Portugal. Cidade de Coimbra. Academia Nacional de Belas-Artes, Lisboa, 1947, p. 232.
[48] ANBA, IAP, Correspondência em Geral Liv. 2 a 9, Lv. 5, Proc. 33, 29 de Abril de
1947; 14 de Junho de 1947.
[49] Acerca destas demolições vide ROSMANINHO, Nuno – O Poder da Arte: O Estado
Novo e a Cidade Universitária. Coimbra, Imprensa da Universidade, 2006, pp. 124-149.
[50] CORREIA, Vergílio, GONÇALVES, António Nogueira – Inventário Artístico de
Portugal. Cidade de Coimbra. Academia Nacional de Belas-Artes, Lisboa, 1947, p. 26.
[51] Idem, Estampa LXXXIII.
[52] Idem, p. 27.
[53] Idem, p. 143.
[54] Idem, Estampa CLXVIII.
[55] Idem, p. 186.
[56] Idem, Estampa CCXII.
[57] CORREIA, Vergílio – Virgens góticas, Boletim da Academia Nacional de Belas-Artes,
vol.VI, 1940, p. 22.
[58] ANBA, IAP, Pintura, Cx. JJ, Coimbra D, Antes do Restauro. Clichés não publicados.
[59] COUTO, João – Pinturas Quinhentistas do Sardoal, Boletim da Academia Nacional de
Belas-Artes, V, 1939, p. 42.
[60] Exposição de os Primitivos Portugueses: 1450-1550. Catálogo-guia. S.n., Lisboa,
1940, estampa XIV, p. 12.
[61] CARVALHO, Maria João Vilhena de, op. cit., p. 339.

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