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Arend Lijphart Modelos de democracia Desempenho e padrées de governo em 36 paises Traducdo de Roberto Franco CIVILIZAGAO BRASILEINA Rio de Janeiro 2003 corrnicH © 1999 by Yale Universicy iano ongivat ura of Detocracys Government Forms and Performance in These Coons ora Evelyn Grumach ouero gaArico Evelyn Gronach ¢ Jodo de Sousa Leite evshoTécntca, Ocsaaro Amorim Neto ‘A cditora agradece a Wanderley Guilberne doe Santos pela indzagao da obra. CIPBRASI.CATALOGAGRONA FONTE 'SINDICATO NACIONAL DOS EDITORESDELIVROS, RI Lijphacs, Arend, 1936- 1L692m Modelos de democracia: desempenho e padedes de governo ‘em 36 paises / Arend Ljphart tradugio de Roberto Franco. ~ Rio de Janitor Giilzagio Brasileira, 2003. ‘Tradusfo de: Parerns of democracy: government forms and performance in thirty-six countries Apéndice ISBN 85-200-0570-5, 1, Governo comparado. 2. Democracia I Ties. cp - 3203 02.1758 cpu 3214 “Todos os dieios reservados, Proibida a reprodugio, armazenamento ou transmissio de partes dese lio, através de quaisquer encos, sem prévia autorizagio por escrito. Dircitos desta tradugio adquiridos pela EDITORA CIVILIZAGAO BRASILEIRA DISTRIBUIDORA RECORD DE SERVIGOS DE IMPRENSA S.A. Rus Argentina 171 ~ Rio de Janeiro, RJ ~ 20921-380 ~ Tel: 2585-2000 PEDIDOS PELO REEMBOLSO POSTAL Caixa Postal 25.052 ~ Rio de Janeieo, RJ ~ 2082-970 Impresso no Brasil 2003, para Gisela € para os nossos netos Connor Aidan Arel Caio e Senta, na esperanga de que o proximo século — o século deles — soja mais democritico, mais pacifico, _generoso e benevolente do que foi o nosso. carimuLo 5 Sistemas partidarios: Padrées bipartidarios e multipartidrios [A primeira das dex variéveis que caracterizam 0 contraste majoritério- ‘consensual, apresentado no capitulo 1, era a diferenga entre os governos tnipartidérios de maioria e as amplas coalizdes multipartidérias. Essa pri- ncira diferenga também pode ser vista como a mais tipica ¢ importante en- tre os dois modelos de democracia, porque resume o contraste entre a concentragio de poder, por um lado, ¢ a distribuigso de poder, por outro. ‘Além disso, a andlise fatorial apresentada no capitulo 14 mostra que ela se relaciona com o “fator” que representa a primeira dimensao (executivos- partidos) mais fortemente do que qualquer das outras quatro variévels per tencentes a essa dimensio. Por isso, faz sentido dedicar este capitulo — 0 primeiro de nove que i ce mais tipica varidvel. 1o discutir as dez varidveis basicas' —a essa primeira Entretanto, por motivos de ordem pratica, ser necessario discutir os sistemas partidérios em primeiro lugat. A classificagao dos gabinetes — ga- binetes unipartidérios versus gabinetes multipartidarios de coalizaos gabi- netes de maioria minima versus gabinetes de minoria, e gabinetes que contém vim seu interior partidos “desnecessirios” — depende, em grande parte, de como sa0 definidos os partidos politicos, ¢ o nfimero deles, nos sistemas partidérios. Por isso, esses problemas de definicéo precisam ser soluciona ddos antes de se apresentar propriamente a questo dos tipos de gabinetes. Devemos notar, entretanto, que o tipo de sistema partidério também é um forte componente da dimensio executivos-partidos. Para dar uma visio prévia da andlisefatorial do capftulo 14 mais uma ver, a varkvel do sise- ma partidério relaciona-se com 0 primeiro “fator” quase tho forremente “Duas omar vaidvels — a da igiderconstuciona ea da revisto judicial — sero discos no capitulo 12. ‘quanto 0 tipo de gabinete, e mais fortemente do que as trés variéveis rema- nescentes (3s sistemas bipartidérios caracterizam 0 modelo majoritétio de demo- cracia, enquanto os multipartidérios, o modelo consensual. A literatura tra- dicional sobre os sistemas partidérios ¢ firmemente majoritéria, favorecendo de maneira enfética o sistema bipartidério, Afirma-se que os sistemas bipar- tidérios tém vantagens, tanto diretas quanto indiretas, sobre os multi- partidérios. O primeiro beneficio direto é que eles oferecem aos eleitores uma clara escolha entre dois conjuntos alternativos de diretrizes piiblicas. O segundo € que a sua influéncia é moderadora, uma vez que os dois partidos precisam competir pelos eleitores indecisos, que se acham no centro do es- pectro politico, e por isso precisam defender diretrizes moderadas e centristas. Esse mecanismo € especialmente forte quando um grande ntimero de eleito- res se encontra no centro politico, mas sua légica continua a operar mesmo quando as opini6es ficam mais polarizadas: nas duas extremidades do espec- to, os partidos irdo perder alguns de seus adeptos, que decidiréo abster-se fem ver de votar a favor de algo que, para eles, constitui um programa dema- siadamente moderado. Mas um voto ganho no centro, tomado ao outro partido, ainda vale duas vezes mais do que um voto perdido por abstencio. As duas posig6es so plaustveis — mas também contraditérias. Se ambos os Programas dos partidos estiverem préximos do centro politico, sero muito semelhantes entre sie, em vez de oferecerem uma significativa “escolha” para 08 eleitores, © mais provavel € que facam eco, um para 0 outro, das suas convicgdes.? Além disso, afirma-se que os sistemas bipartidarios tem uma impor- tante vantagem indireta: cles sao necessarios para a formacio dos gabi- netes unipartidérios, que sero estaveis e eficazes administracdes. Por exemplo, A. Lawrence Lowell (1896: 70, 73-74), um dos primeiros cien- "in deri cotontorias sees patie realmente ptecem como ole ‘mento mais forte do primeiro “fator",e tipo de gabinete fica em s —— ipo de gabinete fica em segundo plano (Lijphart, “Os econ do tema ips, em sa naira no fae arb a images compe str imutanamente, Avge da mod ai € gamete deeds pel sal depen quanto a afirmagio da escolha definida reflete a escola MoveLos DE orMocRAcia tistas politicos modernos, escreveu que a legislatura deve conter “dois, € apenas dois partidos”, (..) a fim de que a forma parlamentar de governo possa produzir permanentemente bons resultados”, Ele chamava de “axio- ‘ma politico” o fato de os gabinetes de coalizéo serem frageis ¢ de vida curta, comparados com os gabinetes unipartidérios: “quanto maior néimero de grupos divergentes, formando a maioria, mais dificil seré a tarefa de satisfazé-los a todos, e mais fraca ¢ instavel seré a posigao do gabinete”. Nos proximos dois capfulos confirmarei a hip6tese de Lowell, relac nando sistemas partidérios a tipos de gabinetes, e seu “axioma” de que os gabinetes unipartidérios de maioria so mais duradouros e predominantes do que os de coalizao. A preferéncia dos defensores do modelo majoritério pelos sistemas bipartidérios, assim, est clara ¢ logicamente ligada & sua pre- feréncia pelos gabinetes unipartidérios poderosos ¢ predominantes, Além dis- 80, no capitulo 8, mostrarei uma forte ligago entre os sistemas partidérios ¢ (8 sistemas eleitorais, o que explica ainda mais a sélida preferéncia dos ad- -vogados do modelo majoritério pelo sistema de maioria simples, em lugar da representagao proporcional, por causa de sua inclinagao pelos partidos maio- res e sua contribuigéo para o estabelecimento ¢ a manutengio dos sistemas bipartidérios, Entretanto, 0 fato de essa sindrome das caracteristicas major térias realmente traduzir-se, ou nfo, por um processo decisério mais capaz € eficaz do que seu correspondente consensual é totalmente um outro assun- to. Lowell afirma, simplesmente, que a forca concentrada significa uma efe- tiva capacidade de tomar decisbes. No capitulo 15 demonstrarei que essa certeza é, em grande parte, incorreta. Neste capitulo, abordo primeiramente a questio de como se deve con- tar o niimero de partidos nos sistemas partidarios, e argumento que 0 “ni- ‘mero efetivo dos partidos parlamentares” € a melhor medida, Tento também resolver 0 problema de como tratar os partidos faccionados, ¢ também os partidos que formam sélidas aliangas: devem eles ser tratados como um partido s6, ou como mais de um? Em seguida, sio apresentados ¢ discuti- dos os niimeros efetivos médios dos partidos parlamentares, nas nossastrinta seis democracias, Esses niimeros exibem uma ampla escala— desde mui- to abaixo de dois até quase seis partidos. Finalmente, os nimeros dos par- tidos sao relacionados aos ntimeros ¢ tipos de dimens6es tematicas que os dividem, (O NUMERO EFETIVO DE PARTIDOS Os casos de sistemas bipartidérios puros, compostos de “dois partidos, e apenas dois” — segundo as palavras de Lowell citadas acima —, sao extre- ‘mamente raros. No capftulo 2, os sistemas partidérios da Gra-Bretanha, Nova Zelandia ¢ Barbados foram também descritos como bipartidarios, a despeito da presenga usual, na legislatura, de um ou mais partidos, menores. Serd esta uma descrigio correta, ou deverfamos modificé-la de alguma forma? Essa questo aponta para 0 mais importante problema na determinagéo do nti- mero de partidos em um sistema: se devemos contar ou nao 0s partidos menores e, em caso negativo, que tamanho deve ter um partido para ser in- clufdo na contagem. Uma solucéo bastante difundida foi a proposta por Giovanni Sartori (1976: 122-23). Sugere ele, antes de tudo, que os partidos que nao conse- guem obter cadeiras no Parlamento sejam descarrados, Que a forca relati- vva dos demais partidos seja calculada pelo ntimero de cadeiras no Parlamento, € que nem todos os partidos, sem se considerar seu tamanho, podem ser contados, mas que nao se pode estabelecer um limite arbitrério de, diga- mos, $ ou 10 por cento, acima do qual os partidos sejam contados, ¢ abai- xo do qual devam ser ignorados. Esses pressupostos preliminares nao admitem excegdes. Mais controvertidas sao as “regras de contagem” que cle apresenta. Argumenta que s6 os partidos “relevantes” quanto ao seu potencial de “coalizdo” ou de “chantagem” devem ser relacionados como componentes do sistema partidério. Um partido tem potencial de coalizao quando ja participou de coaliz6es governamentais (ou, € claro, de gover- nos unipartidérios) ou quando os principais partidos o consideram um par- ceiro em potencial para uma coalizao. Partidos ideologicamente inaceitéveis a todos, ou & maior parte dos parceiros da coalizao e que, por isso, no sio vistos como aliados em potencial, assim mesmo devem ser contados, se fo- rrem suficientemente grandes. Exemplos disso sao os fortes partidos comu- nistas da Franga e da Ivélia até a década de 1970. Esta € a “regra subsidiér de contagem, baseada no poder de insimidasao ou, mais exatamente, no potencial de chantagem dos partidos de orientagio oposicionista”, proposta artorit -_ Ouetioe de Sartori sio muito tis para se distinguir entre os par- tidos significativos para o sistema politico ¢ os que s6 desempenham um papel menor. A segio sobre a questo das dimensdes do conflito partidé- tio, mais adiante neste mesmo capitulo, os emprega com esse propésito. Mas esses mesmos critérios néo se aplicam bem & contagem do sae de partidos num sistema partidério. Em primeiro lugar, embora os - de Sartori se baseiem em duas varidveis — o tamanho ea comparibilidade ideol6gica—, 0 tamanho € o fator crucial. $6 0s partidos aes grandes podem ter o potencial de persuasio, mas este ee 0 também constitui o principal determinante do potencial de coalizio: par- tidos muito pequenos, com apenas algumas cadeiras no Legilativo, po dem ser totalmente moderados ¢, por isso, sio ideologicamente aceit para a maioria dos outros partidos. Mas ificilmente terdo potencial de coalizio, por nao terem “peso” suficiente para contribuir com une i nete. Por esse motivo, os partidos a serem contados, sejam eles ideologi- camente compativeis ou nio, sio, em especial, os maiores, Em segundo tugar, embora o tamanko seja uma questio de muita proeminéncia no pensamento de Sartori, ele nfo usa esse fator para novas distingSes ent por exemplo, tanto o Partido Democrata Cris- 08 partidos de relevancia: t : tao, que dominow a politica italiana até a década de 1990, quanto seu freqiiente — porém muito pequeno — parceiro de coalizao, o Republica: no, que jamais obteve mais de 5 por cento das cadeiras da c4mara baixa, so contados de maneira igual. ki de poten de i 2 mats denne i nv a i el sr cca arma se cle meant poi", wa a concn ues pues fo pay oe sovernamentais”. Por exemplo, imediatamente apés o primeit a a pando Democrat de 1967, ele foi amplamente Damour 66 do Holanda no ao de 1967, ; ce Se Papel peo Ge oli, enor na veda ni pari esha iin we 1973. vw —V—V—_—er—eoe——— TABELAS.1 CLASSIFICACAO DOS SISTEMAS PARTIDARIOS BASEADA NO NUMERO E NOS TAMANHOS RELATIVOS DOS PARTIDOS POLITICOS eee Exemplos hipotéticos de Numero efetivo Sistemas partidarios cotas de cadeiras de partidos Sistema bipartidério 55-45 2,0 Sistema de dois partidos e meio 45-40-15 26 Sistema multipartidério ‘com um partido dominante 45-20-15-10-10 35 Sistema multipartidério sem uum pastido dominante 28-25-25-15-10 4s Fonte: Adaptado de Blondel, 1968: 184-87 Para remediar esse defcito, Jean Blondel (1968: 184-87) propée uma clasifi- cago de sistemas partidarios que leva em consideracio tanto seu ntimero quanto seus tamanhos relatives. Suas quatro categorias sio mostradas na Tabela 5.1. Os sistemas bipartidérios sio dominados por dois grandes partidos, embora possa haver alguns outros partidos pequenos no Parlamento. Os exemplos de Blondel incluem os nossos protétipos britanicos ¢ neozelandeses. Se houver, além dos dois grandes partidos, um consideravelmente menor, porém com potencial de coalizio, e que desempenhe um papel politico significative — tal como o Partido Liberal, da Alemanha e de Luxemburgo, o Partido Trabalhista Ilandés ¢ o Partido Novos Democratas, do Canada —, Blondel chama a isto tum sistema “de dois partidos e meio”. Sistemas significativos com mais de dois partidos e meio sio sistemas multipartidrios, ¢ estes podem ser ainda subdivi- didos em sistemas mulkipartidérios com um partido dominante, e sem 0 mes- mo. Exemplos do primeiro so a Itilia anterior a 1990, com seu partido dominante, o Democrata Cristio, e os trés pafses escandinavos com seus for- tes partidos socialistas. Instncias representativas de sistemas partidérios sem um partido dominante sio a Sufga, a Holanda e a Finlndia, Os conceitos de partido “dominante” e de “meio” partido sao de extre- ma utilidade para que se destaque, respectivamente, a posigao relativamente forte e a relativamente fraca de um partido, comparado aos outros partidos importantes do sistema, Mas € dbvio que eles sio vagos. Precisamos de um {indice que nos informe exatamente quantos partidos existem em determina do sistema partidério, tomando seus tamanhos relativos em consideragio. MoDELos DE DEMOCRACIA se indice foi desenvolvido por Markku Laakso e Rein Taagepera (1979), € é agora amplamente empregado pelos comparativistas da cigncia politic sximero efetivo de partidos. Esse mtimero (N) é calculado da seguinte manci Ee onde sé a proporsao de cadeiras do partido Pode-se perceber facilmente que, num sistema bipartidério com dois partidos igualmente fortes, o niimero efetivo de partidos € exatamente 2,0. Se um partido for consideravelmente mais forte que o outro, com, por exem= plo, uma porcentagem respectiva de caderas na ordem de 70 ¢ 30 por cen- fo, 0 niimero efetivo de partidos é de 1,7 — de acordo com nossa avaliagio ineuitiva de que estamos nos afastando de um sistema bipartidério puro em diregéo a um sistema unipartidério. Da mesma forma, com trés partidos exa- tamente iguais, a férmula do ntimero efetivo produz um valor de 3,0. Se um ddesses partidos for mais fraco que os outros dois, 0 iimero efetivo de parti- ddos serd algo entre 2,0 ¢ 3,0, a depender da forca relativa do terceiro par- tido. No exemplo hipotético do sistema de dois partidos meio, da Tabela 5:1 com trés partidos tendo 45, 40 e 15 por cento das cadeiras do Parla- mento —, 0 néimero efetivo de partidos seré de fato muito préximo a dois € meio, precisamente 2,6. . ‘Em todos os casos em que todos os partidos sio exatamente iguais, o mi eto efetivo serd o mesmo que a conta numérica aproximada. Quando os partidos no sio iguais em forga, 0 niimero efetivo ser mais baixo que o né- seu percentual de vor Pramblm possvel eleular 0 ndmeroefetivo de pasidos com base em seu pet ton em lugar do perentual de caeira,porém eu uso, deforma coerente a cota de caer, wo ar oun canaal dese estado esta fore nos mods dos partidos no Parla € Porat © fenesscbre aformagto dos gbinees O nmeroefetvo de parids (N)eaza mesa serrate que o indice de fagmentagio (de Douglas W. Race Michal Taylor (1970: 22- i), e pode ser faciimenteealulado a partir de F, como a seguir: 1 Neae Avanagem deN é qu le pode se visuizado mals facinete come o nimero de pares ‘do que o abstratofndice de fragmentagio de ReeTaylor. 1 ‘mero real. Isto também pode ser visto ta Tabela 5.1. Os dois exemplos hipo- téticos de sistemas multipartidérios contém, cada um deles, cinco partidos. Quando hi um partido dominante, o nimero efetivo de partidos é de apenas 3,5. Sem um partido dominante, a cota de cadeiras é mais igualitiria e 0 née mero efetivo aumenta para 4,5, préximo ao niimero aproximado de partidos ‘no qual todos sio contados, sem levar-se em consideracdo o seu tamanho. PARTIDOS ESTREITAMENTE ALIADOS © problema de como contar partidos de tamanhos variados é resolvido com © emprego da medida do ntimero efetivo, Entretanto, essa medida nao solue ciona.a questio de saber em que consiste um partido politico. O pressuposto comum na ciéncia politica é de que as organizagées que se podem denomi- nar de “partidos politicos” constituem, de fato, partidos politicos. Esse pres- suposto se aplica bem maioria dos partidos, na maioria dos pafses, porém Se mostra problemtico em duas situagdes: existem partidos tio estreitamente combinados que mais parecem constituir um tinico partido, e nao dois, ¢, inversamente, partidos de tal modo faccionados internamente que aparen. tam mais serem dois ou mais partidos do que um s6. O primeiro problema é menos dificil de resolver que o éltimo.Vamos nos concentrar primeiro na uestio relativamente mais facil. Os casos em referéncia incluem os seguintes partidos, estreitamente aliados ¢ em mtimero de cinco: a Unido Democrética Crista (CDU) ea Unio Social Crista (CSU) na Alemanha, os Partidos Liberal e Nacional na Aus- tralia, e, na Bélgica, os dois Partidos Democratas Cristéos, que resultaram de uma divisdo devida a fronteiras lingitsticas em 1968; os dois Partidos Liberais, divididos de forma semelhante desde 1971; e os dois Partidos So- ialistas, desde 1978, Particularmente, os dois partidos alemies e os dois australianos séo freqiientemente tratados como se fossem um s6 partido, Por exemplo, Blondel (1968: 185) considera que os liberais e os nacionais formem um tinico partido, quando qualifica o sistema partidétio australia. no como bipartidério, em lugar de um sistema de dois partidos e meio, ¢ trata o CDU ¢ 0 CSU como um s6 partido, a0 denominar o sistema alemio de dois partidos ¢ meio, em lugar de sistema partidério de dois partidos ¢ duas metades. Outro exemplo é a afirmacao de Manfred G. Schmidt (1996: 95) de que os trés “principais partidos estabelecidos” na Alemanha sio 0 CDU-CSU, o SPD (socialistas) ¢ 0s liberais.” ; Quatro critérios podem ser aplicados para decidir se os partidos estreita- mente aiados — com nomes diferentes ¢ diversa organizacio interna — sio na realidade dois partidos ou, mais propriamente, um partido s6. Primeiro | critério: normalmente, os partidos politicos competem entre si para obter os votos nas eleicoes. Ser que os cinco pares probleméticos de partidos agem dessa forma? O CDU e 0 CSU nao entram em competigio para obter votos, porque atuam em diferentes partes do pats 0 CSU age na Baviera eo CDU, no resto da Alemanha. Tampouco o fazem os trés pares de partidos da Bélgica, porque competem por votos em Flandres ou na Valonia, ¢ entre falantes de francés ou de flamengo, em Bruxelas, Nas eleig6es uninominais australianas, 0 modelo é misto: liberais e nacionais normalmente no ameagam 0 represen- tante titular do outro partido, porém podem, cada um deles, indicar um can- didato nos distritos de maioria trabalhista ¢ em distrtos sem wm titular, O segundo critério gira em torno do grau de cooperacio entre os partidos / ¢ 0 Parlamento e, particularmente, da possibilidade de ambos formarem um tinico grupo partidatio parlamenta, e também se 0s partidos fazem conven- s8es em conjunto, $6 0 CDU e o CSU fazem isso, Terceiro crtério: compor- 2 tam-se os partidos como se fossem separados na formacio do gabinete? Estio juntos quer no gabinete, quer na oposicio, ou € possivel que um esteja no ga- inete 0 outro na oposigio? A este respeito, cada um dos cinco pares atua estritamente como um partido tnico, O exemplo austaliano é paricularmen- te notivel porque, embora os liberais tenham obtido nftida maioria de cadei- rasnas eleigées de 1975, 1977 e 1996, podendo assim ter governado sozinhos, {nclufram membros dos nacionais em todos os tes gabinetes que formaram. © quarto critério € 0 tempo: s6 faz sentido contar os partidos estreita- mente aliados como um 56 se a estreita colaboracio entre cles jf existe desde longa data. Tanto a duragio quanto o grau de proximidade ciingvem os cinco pares de partidos mencionados acima de outros exemplos de aliangas leitorais, que representam apenas “casamentos de convenigncia”, Sistemas leitorais com cleigées uninominais dao aos pequenos ¢ médios partidos um forte incentivo para compor tas aliangas, porém estas tendem a set adhoc, temporérias e substituiveis. Temos como exemplos a Franga, a India ea Repé- blica de Mauricio.* Também ocorrem aliangas eleitorais em sistemas de re- resentacdo proporcional tais como, em Portugal, a Aliana Democratica, composta de trés partidos, que apresentou uma lista tinica de candidatos e saiu-se muito bem nas eleigées de 1979 de 1980, mas que, a partir de 1983, retornow a condigao de partidos muttamente competitivos. Também na ltd lia, apés a mudanga para um sistema menos proporcional, em 1994, grupos como a Alianca Pélo pela Liberdade e a Alianga A Oliveira tém sido, como ‘mostram os seus nomes, meras aliangas entre partidos, priamente, Infelizmente, € nao partidos, pro- l 05 quatro critérios ndo fornecem uma resposta inequfvoca & questéo de como os cinco problematicos pares de partidos na Austrélia, Bélgica e Alemanha devam ser considerados. Estdo todos eles, geminamen- te, em alguma regiao entre dois partidos ¢ um s6 partido. Por isso, em vez de optar arbitrariamente entre a solugio de um partido ou de dois — ou sim- plesmente tirar a sorte... —, proponho aqui dividir a diferenca: calculam-se dois ntimeros efetivos de partidos, i bascando-se primeiro no pressuposto dos dois partidos, e depois no de um partido, obtendo-se a média desses dois simeros. Ito quer dizer que cada par combinado de partidos é contado como um partido € meio. Como qualquer solucio de compromisso, pode nao re- presentar a alternativa mais elegante, porém reflete a realidade desses atores Partidérios, melhor do que as duas opgBes mais extremadas. PARTIDOS FACCIONADOS Quero propor uma solucio semelhante para os partidos extremamente faccio- adc Partidos Liberal e Conservador, da ‘Colémbia, o Partido do Congreso “Como o stem akerative da Auto stem eto fans em dois a lidae ncaa o parties a tose andr, ms sina veaizarem la com pron de mentaldae seman (ver cpl 8), Ene, dversamente du Aang Lier Nacional Ange Scalit-Comanvae Galt Reon, dee no congue correyponder aos iro pa on partidos enteancte allan Or vos pra iso so qe ov abies socials nomulente nd incem o cosmo ¢ 6+ talisas co epblicnoseonfontaremaefronmete nas ees pein los 6 nfo aconteceu em ando houve isto 1995, quando houve dois candidatos gaullistas, porém nenbum repu Indiano, 0 Democrata Cristio da Itilia, o Partido Liberal Democrético, do Ja- pio, e 0 Partido Democrata, dos Estados Unidos. Estes ndo so 0s tinicos parti- dos, nas democracias modernas, que carecem de perfeita coesio — de fato, constitui um erro genérico considerar os partidos como “atores unitétios” (Laver € Schofield, 1990: 14-28) —, porém sfo 0s casos mais exremos, levando os analistas a concluir que as faccées partidérias se assemelham muito a partidos separados. Por exemplo, especialistas do Japo consideram geralmente as fac- ges do Partido Liberal Democrata como “partidos dentro do partido” (Reed € Bolland, 1999). Junichiro Wada (1996: 28) escteve que os liberais democratas “no so um partido tinico, mas sim uma coalizo de facgbes”. E Raymond D. Gastil (1991: 25) oportunamente destaca que o “verdadeiro” sistema partidério do Japio € o sistema faccional no interior do Partido Liberal Democrata. Sobre os democratas cristos, da Itlia, John B. Goodman (1991: 341) declara que sio “mais uma colegio de facg6es do que um partido unificado”. John A. Peeler (1985: 102) descreve os dois grandes partidos colombia- nos como *dominados por facgdes”, ¢ declara que “para a maior parte dos propésitos as faccdes, e no os partidos, representam os verdadeitos atores politicos”, De forma semelhante, Jonathan Hartlyn (1989: 321) conclui que 6 “faccionalismo partidério” faz com que o sistema de partidos colombiano “pareca mais uum sistema multipartidério” do que um bipartidério. Paul R. Brass (1990: 97) argumenta ser mais preciso falar-se do “sistema faccional” indiano do que do sistema partidério daquele pafs. E Klaus von Beyme (1985: 229) afirma que 0 Congresso dos Estados Unidos “jamais teve um sistema bipartidério, e {que] todos os estudos existentes admitem um sistema tetra~ Principalmente os democratas, que partidério ou, no mfnimo, tripartid: agem, de modo geral, como se constitufssem dois partidos no Congresso: 0s conservadores do Sul e 0s liberais do Norte”. Esses tipos de facgées fortes intrapartidarias tendem também a atuar muito ‘como partidos politicos, durante a formagao de gabinetes ¢ nos gabinetes de coalizio. Como foi mencionado anteriormente, 0s gabinetes de coalizio costumam ser menos duradouros do que os monopattidarios. Se as facgoes se comportam como partidos, poderfamos também supor que os gabinetes ‘compostos por partidos faccionados durassem menos que 0s compostos pot partidos mais coesos. Em um estudo comparativo sobre oito paises, James N. Druckman (1996) constatou que, na verdade, era isso 0 que se passava. _—e_——SSS————_—_——— O grande desafio para se encontrar uma solucio de compromisso para 4 contagem dos partidos faccionados é que os dois niimeros a serem acor- dadlos nao sao ébvios de imediato: num extremo, esté a alternativa de um Partido, mas qual é 0 ntimero dos partidos no outro extremo? Na Itdlia ¢ no Japao, onde as facgdes intrapartidarias mais se tém mostrado distintas ¢ identficaveis, o ntimero de facgdes tem sido bastante elevado: se essas fac. ‘es forem contadas como partidos, medidos nos termos do niimero efeti. vo de partidos discutido ha pouco, tanto os democratas cristéos quanto os liberais democratasteriam de se contar como cinco a seis partidos (bascan. dose em dados de Leonardi e Wertman, 1989: 114-15; Baerwald, 1986; 27). Isto €evidentemente excessive, uma vez que tormaria os sistemas par- tidarios desses dois pafses, em geral, os mais extremos do mundo. A minha Proposta para a alternativa, na extremidade multipartidéria, € muito mais ‘modesta: trata-se de considerar cada partido faccionado como dois parti. dos de igual tamanho. O resultado, entio, obtém-se pela média do ndmero efetivo de partidos, baseada na hipétese de um partido, e o ntimero efetive ~ baseado na hipétese de dois partidos iguais. © resultado é que os partidos faccionados sio contados como um part- o.¢ meio — exatamente a mesma solugio que propus para os partidos de estreita alianca. E claro que a minha ‘soluco para os partidos faccionados € fanto uma aproximagio grosso modo como também no € convencional —e Por isso ser4, provavelmente, mais controvertida. Entretanto, principalmen- te pelo fato de este livro focalizar 0 grau de multipartidarismo como um dos clementos da concentracio versus fragmentacao de poder, € absolutamente necessdrio que uma severa fragmentagdo intrapartidéria seja tomada em con- sideragdo. Minha tnica divida nao € se um ajusteserd necesséro ejusifca, do, mas, sim, se 0 ajuste proposto é suficientemente substancial,7 7A questo de saber se partidos de extreta aliang e partidos facconador sho contados como tim Partido ¢ meio ou, de mancira mais convencional, como dos e um paro, respenine, ‘ents também afeta a claiicagto dos gabnetes (gabinetes de um partido verses prtiners Gz codio, wits msnimas versus outros ipos de gabinetes) eafetatamibemo cle ds Parton s qual acita a propria definisio que os paridos dio de “pardon, © Apéndice B {since os valores bateados nex deino alterstiva para at ts ies no petals de 1945-96, como também no periodo de 1971-96. OS SISTEMAS PARTIDARIOS DAS 36 DEMOCRACIAS ATabela 5.2 mostra os nfimerosefetivos de partidos em 36 democracias — baseados na composigio partidria da cimara baixa (geralmente a mais im- portante) das legislaturas bicamerais, ou na cimara tinica das legislaturas unicamerais, com a média de todas as eleig6es entre 1945 ¢ meados de 1996. Eles so relacionados na ordem decrescente dos mimeros efétivos de partidos. A faixa é muito ampla: vai de um alto ntvel de 5,98 partidos, em Papua-Nova Guiné, a um nfvel baixo, de 1,35 partido, em Bomans ‘média, para as trinta e seis democracias, é de 3,16, € 0 nimero mediano, tidos. : “ oa i final da lista, como era de se esperar, encontramos também nossos casos prototipicos do Reino Unido, Nova Zelindi e Barbados. Amé- dia de 2,11 partidos na Camara dos Comuns da Gra-Bretanha reflete Cn ros0s pequenos partidos nest sistema, que ainda € basicamente bipart a Na Nova Zeléndia e em Barbados, onde tem havido um pequeno nfimero s terceiros partidos, ea cota de cadeiras do partido vencedor plese = déncia a ser relativamente alta, os membros efetivos médios ficam al = 2,00. O mesmo se aplica as outras trés democracias da oo Ith no Caribe — Jamaica, Trinidad e Bahamas —, a Malta, e principalmente a Sima eae cee sotto Sammi menos em tr pts No it dea eta e199, ce Some pallet cer snes Pl eo ie plats ela rere nn cig de legislacures, rei esses resultados eleitorais por se- Sep Lit soon nie tape ‘aloe idos minimos, compostos de um s6 membro — o que significa, FO = ree dartpen coco ot goa anes TABELA 5.2 MEDIA, NUMERO EFETIVO MAIS BAIXO E MAIS ELEVADO DE PARTIDOS i oa ees 6 SNOMED Borsuana, onde © partido governante tem sido, numericamente, dominante DE ELEICOES EM QUE SE BASEIAM ESAS MEDIAS, NO PERIODO DE 1945 A 1996 a0 maximo. Na outra ponta da série, a Suiga esté quase no topo. A Bélgica rT idlin Mais Baixo Mais alto NP de eleigbes fica apenas com 0 oitavo nivel mais alto do multipartidarismo, no perfodo eee total. Entretanto, nas seis eleigdes desde 1978, depois que todos os princi- Papo Gt sa 38 as 3 pais partidos se fracionaram, segundo diferencas lingtisticas, 0 nimero efe- Finlindia 503 a4 58 5 tivo médio era de 5,82 partidos — ligeiramente mais baixo que o ntimero Telia sot sa oe - em Papua-Nova Guiné? Holds ass 32 5.96 14 ‘A Tabela 5.2 também indica a escala de variacio no interior de cada uma Dinamarea 4st 330 66 a das 36 democracias, mostrando os ntimeros efetivos mais baixos e mais altos Bélgica 432 245 6st fndia 4nd 2,51 653 6 ‘em todas as suas eleig6es (cujo niimero é dado na diltima coluna). Em Malta, Isindia 37 320 se is © sistema bipartidério puro, composto de dois — e apenas dois — partidos Japio a a aaa 10 parlamentares, extremamente equivalentes, mostra a menor variagao: entre ae 338 a2 498 8 1,97 € 2,00, ao longo de seis cleigdes. Indiscutivelmente a maior variacio Luxemburgo 336 2,68 as a pode ser vista nas quatro eleig6es em Papua-Nova Guiné: a tendéncia origi- Noruega a ae ny 8 nal parecia ser no sentido da consolidacdo do sistema partidério, quando o ae 333 287 a9 6 niimero efetivo de partidos decresceu de 4,46, na primeira eleigao apés a ‘Colmbia 332 298 484 as independénci ae 4 ‘Aeranha 293 248 43 independéncia, no ano de 1977, para 2,69 na segunda eleicao, em 1982. a 2M 238 3.63 15 Porém essa tendéncia foi invertida em 1987 ¢ 1992, quando os niimeros Espnha 276 234 3,02 y pularam para 5,95 ¢ 10,83 —o tiltimo dos quais, principalmente, refletindo Mauticio on ae aad ff ‘um grande néimero de pequenos partidos, muitos deles independentes na le- an oti 196 Ban nt gislatura, ‘Estados Unidos 2,40 2,20, 244 3 Canad 237 1,54 2,86, 16 ‘aurea 22 208 230 a Grécia 220 172, 240 8 "Escenmerosreletem o jst de “um partido e io, dscutido acima, No pesodo a par fine Unido aut 199 227 " tr de 1945, omimerosjustad de partidos €4,32 (Gr Tela 5.2), ene os dois imeros ndo nase 439 197 200 6 ajvtadt 3,59 e 5,05. No cao da Belg, o juste tem um impacto cnsderdvel porque en- Nore Zatlods 196 174 216 ” ‘volve de eres a seis entidades partiddrias, O impacto do ajuste 6 menor no caso da Austria © raed ee 18 223 7 Ga Aemanta, onierandoo CDU-CSU como um iz pati, rena nme iva — te ts as 7 de 2,64 partidos; considerando © CDU e 6 CSU coma partidos independents, resultam 3,23 eat 168 445 197 5 partidos. A média relatada na tabel é de 2,98 partidos. Na Austria, coniderando lberais © ay 182 130 19s 7 rnacionals como tum snico partido, resulta 1,94 partido, econsiderando-os como partidos ia- ome : 7 ay 7 dependentes, 2,50 — prdximo de um sjuste puto de dois partidos e dois partidos e meio rex Bowne SY? __ _______ pectivameuse— com ontmero austado de 2,22 partidos representando algo como wm sisarns Fovae: Bacado cm dados de Mackie «Rose, 1991; Macki «Rose, 19975 Noble, 1993 Sinehy Pattdicio de dos partidos e um quart. O ajuste paa prio fccionalizadoe tem grande Toots Lipa, 1954 «dads frneion pr ProdsepK. Cae, Michael Coppa, Bian impacto no ster paridcocolombiano, porque afta os dois partidos mas importantes. O Ca oe tain, Mark one) Ray Kennedy, Mant Mathur, Stabeen Most, Ben Bly teatmento convencionl rest em 2,22 patids em comparagio com onimero ajusado de Catckew § Reynolds 3,32 Os imeros para a facia so de 3,34 e 41, respectivamente; para Ili, 416 € 4915 para oJapio, 3,08 € 3,715 e para os Estados Unidos, 1,93 e 2,40. Diversos pafses experimentaram uma prolongada tendéncia no senti- do de um maior multipartidarismo: principalmente a Bélgica, mas tam- bém a Austria, Colombia, Dinamarca, india, Itélia, Noruega e Sufga. Na Alemanha, Israel e Japio, 0 ntimero efetivo de partidos primeiro decli- nou gradualmente, ¢ depois aumentou de novo, nas duas ou trés décadas passadas. Portugal constitui 0 ‘inico exemplo de uma clara tendéncia a um niimero menor de partidos. Na maioria dos demais pafses, ou existe Pouca variago no tempo, ou flutuagio, sem nenhuma clara tendéncia a longo prazo. De fato, os niimeros efetivos de partidos mais baixos e mais altos foram produzidos em eleig6es consecutivas em ndo menos que sete afses: Botsuana, Canad, Costa Rica, Franca, Nova Zelandia, Espanha ¢ Estados Unidos. ‘AS DIMENSOES TEMATICAS DO CONFLITO PARTIDARIO Como é posstvel determinar-se o contetido e a intensidade dos programas dos partidos e as dimensées teméticas dos sistemas partidérios? As plata- formas partidérias oficiais, ou os manifestos, devem ser lidos com ceticis- ‘mo, embora no deixem de fornecer algunas chaves sobre o lugar onde se situam partidos na politica publica, principalmente se forem comple- mentados por outros pronunciamentos partidarios formais, debates em conferéncias partidérias, discursos de lideres do partido no Parlamento € outros lugares. Além disso, podemos observar a verdadeira politica defen- dida por um partido quando o mesmo esté no poder, conhecer a politica Promovida pelo partido quando ele compartilha o poder governamental com um ou mais parceiros em uma coligagio (Budge, Robertson ¢ Hearl, 19875 Laver e Hunt, 1992; Klingemann, Hofferbert e Budge, 1994). Os Programas partidérios devem ser distintos das caracteristicas dos eleitores ‘que os partidos representam. Por exemplo, o fato de um partido receber, €m cardter excepcional, um forte apoio dos eleitores catélicos nao o torna automaticamente um partido cat6lico, e nem indica que a religido deva ser uma importante dimensio temética de seu sistema partidério. Ainda que exista, normalmente, uma miitua relagio entre o programa partidério ¢ os MoveLos D€ DEMOCRACIA interesses € necessidades — objetivos e subjetivos — daqueles que apéiam rtido. ° Pa vegunda diet pora a idemtficagio das dimensBes temsticas dos sistemas partidérios é que 0 foco deve ser dirigido as diferengas entre os partidos, € nfo ao interior dos mesmos. Isto quer dizer que certos con- juntos de questdes importantes, em um pafs, podem nao constituir dimen- s6es teméticas do seu sistema partidétio: elas podem dividir 0s partidos internamente, em vez de dividi-los entre si. Uma terceira diretriz é que a analie se restringe As quests politcas qu dvidem o que Satori (1976) chama de partidos “televantes” — aqueles com potencial tanto de coali- 240 quanto de persuasao. Finalmente, 0 foco se dirige as dimensbes larios, As diferengas partidérias tematicas duradouras dos sistemas pat : : que surgem numa eleigio, desaparecendo logo depois, devem ser igno- radas. ‘As sete dimensdes tematicas seguintes podem ser observadas em pelo menos alguns dos sistemas partidarios das 36 democracias, no perfodo de 1945 a 1996. Sio elas: (1) socioecondmicas, (2) religiosas, (3) etno- | culturais, (4) urbano-rurais, (5) apoio ao regime, (6) politica externa ¢ (7) questdes pés-materialistas. A Tabela 5.3 indica quais as dimensdes i temiticas que tém estado presentgs em cada uma das 36 democracias. Faz~ se uma distingao entre as dimensdes de alta saliéncia (A), ¢ as de apenas média intensidade, ou as que variaram no tempo entre altae cae inten- sidade (M). Os julgamentos sobre os quais se bascia a tabela sido, necessae riamente, subjetivos, mas a maioria deles € direta e incontroversa. Os poucos casos que apresentam dificuldade so apresentados na discussio dimensées tematicas. F se moto saasondza, A densi tec scioecnbaica vem relacionada em primeiro lugar, na Tabela 5.3, por ser a mais impor- tante e por estar presente cm todos os sistemas partidérios Semocrteoy no perfodo entre 1945 ¢ 1996. Muitos estudos tém demonstra‘ P os san : ficativas diferengas que hé entre as politicas socioccondmicas defend ae praticadas pelos partidos e governos de orientacio de arte e asus {que os partidos de direita defendem. Os governos de esquerda tem Produ zido, sistematicamente, uma maior taxa de crescimento do oe pi : da economia, maiores orcamentos do governo central, maior uniformiza eps ofsuaump eum py 9 fae e2nIQUONeO}Os OTD YUEN oIpUE Y ZHFON vw st $9 ov oF 6 so 0" 7 Z ds = so 2 7 : : a a Ww soprup sopeisy ot - i : z = - v eIpUEeZ PAN oT 2 - 7 a - S v sopeqaed Ot 7 - - . e999 st : = n 7 of : : euonsiog Ro ori of op ton Y : : y s - - : ® . : 7 ae st = - > > ‘i . Ww pee st 2 - > = ¥ - Ss optun owing, st - Ww - Z a ¥ onvaref _ - x : : = 2 y pues 4 - « - 7 2 y 8 ow 7 ot > : ¥ rw ot - ® : : x ¥ pues 0% 7 Ww 7 Ls . - . y ¥ wpe, a 7 - i. a S ¥ v oSmquraxtry - - y . soni 09 : W : ® Y 0505 - - ¥ W ¥ equedsy i a W y omer x w - w ¥ rae7o9 Ww - - Ww v Tefnasog Ww - Ww v opdef Ww - Ww a ues Ww Ww v v vans - - Vv Ww v corncendeg i N ¥ y sfonuoN, : “ y y spoon Ww : - ¥ ¥ oT : : : Y y pest Ww : w y ¥ cs : : n Y y saueuy - - ¥ ¥ y Ww Ww v « ¥ ,— cvoredy omen amg vanes (vowyaziay viagii 30 W ‘vonyAzIy JaNVuD 30 VOUYHaL OVSNSHIG YIGN ¥ :¥LON) 9661 ¥ P61 30 ‘SODUYSDOWNEA SOMyaLLEYE SVINAISIS 9€ 3G SVOUYINAL S3OSNBWIG E'S VIEL ‘¢40 da renda, maiores esforgos para a reducio do desemprego e maior énfase na educagio, satide priblica e nos gastos com o bem-estar social do que 08 governos de direita. Essa constatagdo pode resumir-se na seguinte decla- ragdo feita por Edward R. Tufte (1978: 104): “O tinico determinante, de maior relevncia, nas variagdes do desempenho mactocconémico entre uma democracia industrializada e outra € a localizagio do partido politico go- vernante no espectro da esquerda-direita. As plataformas e as ideologias Politicas estabelecem as prioridades ¢ ajudam na escolha das politicas de governo.” As divergéncias entre a esquerda ea direita quanto as questées socioeco- nOmicas tm, de um modo geral, declinado desde a década de 1960, mas ‘do a0 ponto de se poder afirmar que, no periodo considerado para cada pafs, essa dimens4o temética tenha desaparecido, ou mesmo passado a ter uma proeminéncia de “alta” a apenas “média” na maior parte desses pafses. A Tabela 5.3 atribui niveis “médios” apenas aos Estados Unidos, Canada, Bahamas ¢ Trinidad. Quando os 36 niveis sio somados — com um A equi- valendo a 1,0 € um M a 0,5 —, o total € 34,0, coro indicado na linha in- ferior da tabela. Esse resultado total para a dimensio socioeconémica é mais do que 0 dobro do resultado total de quaisquer outras dimens6es. A di- mens4o socioeconémica é, também, a tinica que tem estado presente de forma significativa em todos os 36 sistemas partidérios — o que vem acon- firmar a famosa declaragao de Seymour Martin Lipset (1960: 220) de que as eleigées podem ser encaradas como “a expressao da luta de classes de- mocratica”. 2. A dimensdo religiosa. As diferencas entre os partidos religiosos e secula- res constituem a segunda dimens4o temética, em importancia. Essas diferen- ‘628 podem ser encontradas em mais da metade das 36 democracias, Em 12 Pafses, em grande parte cat6licos ¢/ou protestantes, existem, ou tém existido ‘hd muito tempo, diversos partidos que explicitamente se qualificam como “cristéos”: Bélgica, Costa Rica, Dinamarca, Finlindia, Alemanha, Itélia, Luxemburgo, Holanda, Noruega, Suécia, Suiga e Venezuela. Na Tabela 5.3, entre esses 12 sistemas partidérios, atribui-se um grau “alto” Aqueles em que a diferenca religiosa/secular tem sido importante, no perfodo considerado, € tum grau “médio” aos demais. Em seis paises de maioria catdlica, as divisbes MoDELOS DF DEMocRACIA religiosas tém sido menos importantes e manifestas, em média, porém mere- cem, ainda assim, um grau pelo menos “médio”: Austria, Colombia, Franca, ‘Malta, Portugal e Espanha. Em trés pafses de maioria nao-cristd, uma dimen séio temdtica religiosa também se faz presente. Ela foi, e continua sendo, extremamente importante em Israel, onde o Partido Religioso Nacional ¢ ‘outros partidos religiosos hé muito tempo sio defensores extremamente efi- cazes da politica religiosa ortodoxa, e na india, onde o Partido Bharatiya Janata € normalmente descrito como um partido “nacionalista hindu”. No Japio, o Partido Komeito tornou-se presenca politica significativa na década de 1970: ele é 0 representante politico da seita budista Soka Gakkai. ‘Assim como a dimensio temética socioeconémica, a religiosa tem geral- mente perdido importincia no perfodo posterior & Segunda Guerra Mun- dial. Nos paises europeus, com populagoes mistas de catdlicos ¢ protestantes eum antigo antagonismo entre essas duas religiGes, as tensGes inter-religio- sas desapareceram em grande parte, e agora os dois grupos demonstram até mesmo uma tendéncia para se unir politicamente. A Unio Democrética Crist, da Alemanha do pés-guerra, foi fundada como um partido conjunto cat6lico-protestante. Na Holanda, 0 partido catélico e os dois principais partidos protestantes apresentaram uma lista conjunta para as eleig6es par- lamentares de 1977, € pouco tempo depois se uniram numa tinica organiza- ‘40 partidéria. Além disso, tanto os partidos politicos quanto os seus oponentes anticlericais tém moderado, em grande parte, suas reivindicagées contra-reivindicagées. Entretanto, os partidos religiosos ¢ seculares mos- tram-se ainda divididos quanto a questées de ordem moral, tais como 0 ca- samento ¢ 0 divércio, 0s direitos dos homossexuais, o controle da natalidade, © aborto, a educagio sexual, a pornografia e outras. Essas questées torna~ ram-se particularmente relevantes a partir do final da década de 1960. Além disso, s6 na segunda metade do perfodo que os partidos religiosos relativa- mente pequenos do Japio, Dinamarca, Finlandia e Suécia se tornaram elei- toralmente importantes, e $6 no inicio da década de 1990 cles manifestaram claramente o seu potencial de alianca, participando de fato de gabinetes de coalizio. 3. A dimensdo etnocultural, Em sua teoria desenvolvimentista das estru- turas de cisio e de sistemas partidarios, Seymour Martin Lipset e Stein Rokkan (1967) identificaram quatro fontes basicas de cisao nos sistemas partidérios. AREND LUPHART Sao elas, além das dimens6es socioecondmicas e religiosasjé discuti: divergéncias etnoculturais e a divisio entre os interesses agrorrurais e urba- no-industriais. A dimenséo etnocultural é de alguma importancia em todos 08 nove pafses descritos como sociedades pluralistas, no capitulo 4, com excegio de Israel. Na maioria deles, as questées emoculturais tém acentuada relevancia. As duas excegdes, bastante surpreendentes, sio a india, que é extremamente dividida etnicamente, ¢ a Sufca. Nesses dois pafses, a dimen- Sto religiosa é um fator diferenciador muito mais relevante em nivel nacional. Em trés das sociedades semipluralistas, a dimensio etnocultural também tem certa importéncia. Na Finlandia, a minoria de Iingua sueca e o Partido Popular Sueco sao ambos bem pequenos, mas o partido tem sido um eficiente ator politico € um freqiiente parceiro nos governos de coalizio. Devido ao fato de se contar a Unido Social Crist, da Baviera, como um “meio” partido, ¢ também gracas & emergéncia do Partido do Socialismo Democrdtico come partido especificamente aleméo-oriental, desde a unificagao em 1990, a Ale- ‘manha recebeu um grau “médio”. Nenhum partido americano tem uma base exclusivamente étnica, mas os democratas sempre representaram as minorias émicas ¢ racais,e foram muito mais sensfveis aos seus interesses do que os republicanos. Quando as ag6es afirmativas e outros programas especiais de Participago das minorias se tornaram objeto de controvérsias, os democratas tenderam a apoié-los, enquanto os republicanos se opuseram a eles. Em Botsuana, o partido governante “é considerado pelas tribos Bamanguato € Bakuena como o representante do seu povo” (Hoolin, 1988: 191). 4. A dimensao urbano-rural. As divergéncias entre éreas e interesses ure bano-rurais ocorrem em todas as democracias, mas constituem uma fonte de dimensGes teméticas nos sistemas partidérios de um pequeno niimero dessas democracias apenas, e com uma relevncia nao mais que mediana. Nos pat. ses nérdicos, onde principalmente se encontram os partidos agrétios, estes tendem a se rornar menos exclusivamente rurais e a apelar também para 0 leitorado urbano, movidos pelo declinio da populaco rural. Um nitido sie nal dessa mudanga € que todos os partidos agrétios suecos, noruegueses finlandeses mudaram os seus nomes para “Partido do Centro”, entre 1957 ¢ 1965. Os liberais dinamarqueses e os progressistas islandeses também comes saram como partidos agrarios, mas, de forma similar, procuram ter uma imagem de partidos do centro. © Partido Popular Suigo e os conservadores SS n???_«_XYKW]TTl colombianos também podem ser considerados como representantes, até cer- to ponto, dos interesses rurais. Costumava-se chamar 0 Partido Nacional Anstraliano de “Partido do Campo”, ¢ le tem sido 0 defensor tradicional tas questoesrurais agricola Em deferéncia sua clasiicagéo como “meio” partido, entretanto, a Austrélia recebeu apenas um grau “médio” na dimen so urbano-rural. S. Adimensdo de apoio ao regime. Essa mocracias, como resultado da presenca de importantes partidos que se ‘opoem ao regime democrético. Nas nossas 36 democracias, isso ocorreu principalmente nos paises europeus € asiaticos, que dispdem de considers- veis partidos comunistas: a Franca, a Itilia, a Finlandia, Portugal, Grécia, india e Japio. Entretanto, a tendéncia para 0. aes acarretou smudancas bésicas nas atitudes dos comunistas, tanto em relagio A demo- cracia quanto a politica externa. Também os partidos -comunistas da india € do Japio se tornaram mais moderados. Por este motivo, nenhum dos is- temas partidarios recebeu mais que um conceito “médio” nesta dimensio. © tinico outro pats que dispbe de um partido comunista de porte conside- rével é a Islandia, porém pode-se dizer que os comunistas islandeses tém sido eurocomunistas desde 1938, Naquele tempo, eles se juntaram a uma facgio socialista, para formar um novo partido que, como declara o cien- tista politico islandés Olafur R. Grimsson (1982: 145), “aceitaria o cami- ‘ho parlamentar para o poder, aderiria a uma forma islandesa de scialismo renunciaria & participagao [do partido] como membro do Komintern, po- sigio esta que refltia maisa posigio enroptia da década de 1970 que a do final da década de 1930”. A Colémbia recebeu um conceito “médio” por uma razio completamente diferente: 0 importante papel do Partido AD- M19, que se originou como um movimento revolucionério, mas que de- pois participou das eleig6es, ingressando mesmo no gabinete, no inicio da 90. cea pes da politica externa. Uma grande variedade de questoes de politica externa dividiu os partidos em 12 das nossas 36 democracias: a posigdo pré-soviética tradicional — embora em declinio — dos par dos comunistas europeus; a oposicio a participagao como membros OTAN (Organizacio do Tratado do Atlantico Norte) na Franga e na 2 landia; a oposicao a participacdo como membros da Unido Européia ¢ de limensio pode ocorrer, nas de- seus predecessores, na Gra-Bretanha, Dinamarca, Franga, Irlanda e Mal- ta; relagbes com os Estados Unidos, no Japio e na Jamaica; relagdes com 4 Austrélia, em Papua-Nova Guiné; relagées com a Libia, em Malta; ¢ diferentes atitudes dos partidos irlandeses com relagéo ao problema da Irlanda do Norte. Nenhuma dessas questées, entretanto, foi relevante ou duradoura o suficiente para merecer mais que um grau “médio”. O finico afs com uma nota “alta”, na Tabela 5.3, € Israel. Ali, a questo é nacio- nalista-territorial e 0 debate, segundo as palavras da cientista politica is- raclense Ofira Seliktar (1982: 295), se faz “entre os que seguem a tradigao territorial maximalista dos revisionistas, e os que aderem as exigéncias tertitoriais mais moderadas da escola social-sionista”. Essa dimensio temética tem sido especialmente relevante desde a ocupagio dos territé- rios arabes, em 1967. 7. Adimensao materialismo versus pés-materialismo, Essa dimensao gira em tomo de duas questées da democracia participativa e ambientalista, que tanto se adaptam ao choque de valores, chamado de “pés-materialismo” por Ronald Inglehart (1977: 40-59; também Inglehart, 1997: 108-30). Inglehart verificou que, principalmente entre os jovens de classe média nas democra- cias ocidentais, se confere uma grande prioridade a metas do tipo “fazer com ue as pessoas possam interferit mais no modo como se decidem as coisas, ‘no trabalho e nas suas comunidades” “dar maior voz ao povo, nas decisses importantes do governo”. Além disso, nas nagdes mais ricas, 0 choque de valores pés-materialistas também inclui 0 objetivo de “tentar embelezar as nossas cidades ¢ campos". Como demonstra a Tabcla 5.3, 0 pés-materialis- ‘mo tornou-se fonte de uma nova dimensio em alguns poucos sistemas parti- ditios, apenas. A explicagao é que ele s6 surgiu nos pafses mais desenvolvidos, € recentemente, Como resultado disso, os partidos pés-materialistas conti- ‘uaram pequenos ¢ geralmente sem um nitido potencial de coalizao. Entre- tanto, os Partidos do Centro, da Noruega, ¢ do Centro, da Suécia, fizeram ‘uma transigio sutil, passando dos valores rurais, ultrapassados, para os do ambientalismo moderno. E dois novos partidos holandeses — o Partido Democrata "66 e o Partido Radical — adotaram as propostas participativas, desde fins da década de 1960, ingressando em um gabinete de coalizao em 1973. A Alemanha também ficou com um grau “médio” nesta dimensio, por causa da importincia do Partido Verde; ele tem participado de diversos go- vvernos em nfvel estadual, ¢ foi amplamente reconhecido como detentor de potencial de coalizio também em nfvel nacional, mesmo antes de participar de fato de um gabinete nacional, como o parceiro mais jovem dos Socialis- tas, em 1998. DIMENSOES TEMATICAS E SISTEMAS PARTIDARIOS {A altima coluna da Tabela 5.3 mostra o nfimero de dimensdes oo ‘em cada uma das 36 democracias. Esse niimero, em principio, poderia abran- ger de 7.20 dimens6es, porém o atual aleance é de 3,5 a 0,5. Os paises oo 9s mesmos resultados totais esto agrupados na tabela, ¢ esses grupos so relacionados na ordem decrescente do mimero de Te ticas Dentro de cada categoria, paises com o mesmo padrao de ieee teméticas esto relacionados em primeiro lugar. Por exemplo, no grupo com 2,5 dimensées teméticas, 2 Franca, o Japdo e Portugal tém a Sapent so socioeconémica “alta”, mais as mesmas dimensbesreligiosas, capeio a0 regime e de politica externa, com grau “médio”. Costa Rica, oe rae e Venezuela formam um subgrupo semelhante, na categoria 2,0. Cinco ps Ee com heranga politica britanica formam dois subgrupos na cacgoria 15: tum se compée de Irlanda, Jamaica ¢ Reino Unido; 0 outro, do on se relacionam esses ntimeros de dimensées teméticas com oe rmerosefetivos de paride politicos? Hi duas andes para se supor uma ee ligacao entre eles. Primeiro, quando ha varias dimens6es de cont Gorey numa sociedade, era de se esperar a necessidade de um nitmero relativ ae te grande de partidos para expressar todas essas dimens6es, a menos avec pucdessem coincidr. Em segundo lugar, tems definido as dimens6es tem on em termos das diferengas entre os partidos, em lugar de sieenss aed rior dos partidos. Isto quer dizer que, por exemplo, os sistemas eee no podem abrga facimente ants dimensbesrematicas quanto os St mas multpartidiros. © coefciente de correagio entre o mimeroefesivo de partidos, nas 36 democracias (Tabela 5.2) eo niimero de dimens6es tem. oe (CTabela 5.3) é, na verdade, um valor muito forte e, do ponto de vista es tico, muito significative: 0,84. Nimero ce cimenssestemdteas L L 1 3 4 "Nameroefevo de partidos potions Fig 5.1 Relogso entreo ndmeroefctivo de em 36 democracias, de 1945 a 1996 artidospalamentares€0 mimero de dimensGestemdticas . o ews 5.1 mostra a forma de relacionamento entre as duas varisveis e wr mite le cada um dos 36 paises graficamente.'” Rein Taagepera e Bernard Ge an (1985) sugeriram que a relagao entre o ntimero efetivo de partidos © oniimero de dimens6es teméticas (I) possa ser expresso por: N=I+1, "Na Figura 5.1, e em ous jgura $1, tas semelhantes nos préximos capitulo, as 36 democracias sio Menfcntpela ws rns de ome om ince ia Austria, AUT — Austria, CR — Costa Rica, JPN — Japio, NZ loa, PNG— Pinu Nove Ging UX Reo Unido eS Benen Unidos a O sistema bipartidério caracterfstico do modelo Westminster, em geral com ‘uma dimensio temitica, ajusta-se perfeitamente a esta formula. Depois,a cada ‘aumento no nimero dos partidos, ocorterd exatamente 0 mesmo aumento no nximero das dimens6es teméticas. A f6rmula de Taagepera-Grofman é uma excelente estimativa, embora a linha real de regressio na Figura 5.1 seja de algum modo mais horizontal do que eles previram: na parte inferior hé mais dimensdes temdticas, e na superior, menos do que se previu, com base na- quela férmula, Entretanto, os dois nimetos relacionam-se muito fortemen- te. Alemanha, Noruega, Estados Unidos ¢ Bahamas sio os mais distantes da linha de regressio, mas mesmo esses quatro pafses nfo podem ser descritos como distantes forasteiros. Diversamente do niimero efetivo de partidos, ¢ das quatro varidveis que serio discutidas nos préximos quatro capitulos, 0 némero de dimens6es ‘teméticas nao constitui uma varidvel institucional, e por isso nao é usado como ‘um dos componentes da dimensio geral executivos-partidos. Entretanto, por ser tio estrcitamente relacionado ao ntimero de partidos, poderia ajustar-se a esta dimensio de forma muito pr6xima ¢, se fosse incluido, pouco afetaria a forma da mesma. gabinete. A tripla classificagao de poder intragabinete dos primeiros-minis- tros em 13 paises europeus, de Anthony King (1994: 153) —semelhante ao esquema tricotmico de Sartori —, permite testar essa hip6tese. King classi- fica seis primeiros-ministros como detentores de um elevado grau de in- fluéncia no interior dos seus gabinetes: os da Alemanha, Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha ¢ Reino Unido. Os primeiros-ministros da Austria, Bélgi- ca, Dinamarca ¢ Suécia esto em posigao média. Os da Itdlia, Holanda e Noruega tém um grau relativamente baixo de influéncia.® Ao compararmos a classificagio de King com os resultados da terceira coluna da Tabela 6.1 observamos que os primeiros-ministros, na verdade, Parecem ter um poder maior nos pafses com gabinetes majoritarios do que naqueles com gabinetes consensuais. Apenas trés primeiros-ministros desviam- se acentuadamente do padrao geral: 0 primeiro-ministro noruegués tem menos poder, ¢ os da Alemanha e de Portugal, mais poder do que o previsto, baseando-se no tipo de gabinete. O coeficiente de relacdo é de 0,58 (signifi- cativo no nivel de 5 por cento). A relagao seria mais forte ainda se a Suica tivesse sido incluida. O gabinete sufco (Conselho Federal) é uma corporagio extremamente igualitéria, com a presidéncia circulando anualmente pot to- dos os seus sete membros, levando possivelmente a necessidade de se acres- ‘centar mais um quarto tipo de primeiro-ministro as trés categorias de Sartori: ade um “igual entre iguais”! Ea Suiga também tem a mais elevada incidéncia de gabinetes de coalizao de ampla maioria, *King (1994: 152) omite os primeiros-ministros da Frangae da Finlandia, porque eles “repar- ‘temo poder de forma algo idiossncrtica® com ses respectivos presidente, Ele tarbém omite © presidente do Executivo sugo (presumivelmente porque a Suisa no constitu um sistema parlamentarsta), os primeizos ministzos dos dois pequenos palses europe da Islandia e do Laxemburgo, e todos os primeiros-ministros no europeus, capiTuLo7 Relagées entre o Executivo € 0 Legislativo: ; Formas de predominio e equilibrio de poder A terceira diferenca entre os modelos majoritério e consensual de democra- cia refere-se & relacdo entre os ramos Executivo e Legislative do governo. O modelo majoritério é 0 do predominio do Executivo, enquanto o modelo consensual se caracteriza por uma relagio mais equilibrada entre Executivo ¢ Legislativo, Na realidade da vida politica, uma variedade de formas pode cocorrer, indo do completo equilibrio até o sério desequilibrio. Neste capftulo, em primeiro lugar, coloco em contraste os dois tipos for- mais que mais prevalecem nas relagdes entre o Executivo ¢ 0 Legislativo nos regimes democraticos: 0 governo parlamentarista ¢ o presidencialista. Pro- ponho um esquema de classificagdo baseado nas trés principais diferencas entre esses tipos de governo, mostrando que quase todas as 36 democracias inclufdas neste estudo se ajustam quet ao puro tipo parlamentarista, quer a0 ‘puro tipo presidencialista. O r6pico seguinte é a questo de como medir os ‘graus de predominio do Executivo. Proponho um indice baseado, sobretudo — porém nao totalmente —, na duragéo dos gabinetes. Sio necessérios di- versos ajustes importantes, especialmente no que se refere aos sistemas presidencialistas. Apés apresentar as verificagdes empiricas relativas aos di- ferentes niveis de predominio do Executivo em 36 democracias, no perfodo de 1945 a 1996, examino duas relagGes: a ligagio entre os cinco tipos bési- cos de gabinete e a duracéo dos mesmos nos regimes parlamentaristas, ¢ a relagio entre a incidéncia do governo majoritério de um partido ¢ 0 grau de predominio do Executivo nas 36 democracias, Encerro com uma breve dis- cussio sobre 0 poder exercido pelos chefes de Estado — monarcas ¢ presi- dentes — e alguns dos problemas associados ao poder monarquico € 0 presidencial. Se ._.R?O LV FORMAS DE GOVERNO PARLAMENTARISTAS E PRESIDENCIALISTAS Os regimes parlamentarstase presidencialistas de governo apresentam trés diferengas crucias. A primeira delas€ que, num sistema parlamentar,o che. fe do governo — que pode receber ttulos oficiais como primeiro-ministro, Premier, chanceler, ministro-presidente, taoiseach (na Irlanda) ou até mes. mo (inclusive gerando confuséo) “presidente” (em Botsuana), mas a quem Benericamente chamo de primeiro-ministro — juntamente co ; ham 1m 0 set gabi- ‘ete séo responsaveis perante a legislatura, no sentido de que dependem da Confianga da mesma e podem ser demitidos do cargo por um voto lexislative de desconfianga, ou de censura, Num sistema presidencialista, o chefe do Soverno — sempre chamado de presidente — é eleito por um periodo deter- ‘minado constitucionalmente e, em circunstincias normais, nio pode ser for. sado a renunciar por um voto legislativo de desconfianga (embora se ossa afastar um presidente por atos criminosos, pelo processo do. impeachment). A segunda diferenca entre regimes presidenciais e parlamentares & que os presidentes sao eleitos pelo voto popular, ou de forma dizeta, ou por um colégio eleitoraleleito popularmente, e que os primeiros-ministros s4o sele. ionados pelas legislaturas. O processo de selecao pode tomar uma varieda, de de formas. Por exemplo, o chanceler da Alemanha é formalmente eleito pelo Bundestag, o taoiseach da Iranda pelo Dail, o primeito-ministro do Japio Pela Casa dos Representantes, o “presidente” de Botsuana pela Assenibléin Nacional e o primeito-ministro de Papua-Nova Guiné pela Casa da Asser. bléia. Na Itélia e na Belgica, os gabinetes emergem das negociagoes entre os Partidos no Parlamento ¢, especialmente, entre os Iideres dos partidos, Po- ‘"ém para cles € também exigido um voto parlamentar formal de investidura, No Reino Unido, o rei ow a rainha normalmente indicam o lider do partido tnaloritirio como primeiro-ministro, eem muitos sistemas multipartidérios também, os gabinctes que surgem de barganhas interpartidétias so indice, dos pelos chefes de Estado sem eleigéo formal ou investidura, Presume-se {A dso como afirmo main, sna podemos lar de govern presencia quando legislature pods denis o president, porém apens sob dust condgdeer ima Preddene rnb cenha o direc de diolver alegatra,euepinda ae se eereoae de ‘qualquer desses eventos, novas elegbes, tao par er dese igbes, tanto para presidente quanto para o Leglatvo, se. «que esses gabinetes detenham a confianca da legislatura, a menos que — ou até que — cla manifeste sua falta de confianga neles. Aterceira diferenca fundamental € que os sistemas parlamentaristas tém executivos coletivos ou colegiados, enquanto os executivos dos sistemas ~ presidencialistas sio unipessoais e nio-colegiados. Como indiquei no final do capitulo anterior, a posigo do primeiro-ministro no gabinete pode va- riar, desde a preeminéncia até a quase igualdade perante os demais minis- tros, mas existe sempre um alto grau de colegialidade na tomada das decises. Em contrapartida, os membros dos gabinetes presidenciais so meros asses- sores e subordinados do presidente. As mais importantes decisdes nos siste- mas parlamentaristas tém de ser tomadas pelo gabinete como um todo, nao apenas pelo primeiro-ministro. Nos sistemas presidencialistas, as decis6es mais importantes podem ser tomadas pelo presidente com a opinido do gabinete, sem ela, ou até mesmo contra a opiniao do gabinete. Devido ao fato de os governos parlamentaristas e presidencialistas se definirem segundo trés critérios dicotémicos, a aplicagio conjunta desses cxitérios leva as oito combinagées possfveis, mostradas na tipologia da Figu- 1a 7.1, Além dos tipos parlamentaristas ¢ presidencialistas puros, hd ainda seis formas hibridas de governo, classificadas de I a VI na tipologia. Trinta e cinco das nossas 36 democracias ajustam-se aos critérios dos dois tipos pu- ros, embora a Franca e Israel tenham de ser classificados diferentemente, em diferentes perfodos. Cinco pafses tém sido, principal ou totalmente, pre- sidencialistas — Estados Unidos, Franca, Costa Rica, Colémbia e Venezuela —e trinta tém sido principalmente, ou totalmente, parlamentaristas. A Suica se ajusta & forma hibrida I e constitui o tinico exemplo, entre as nossas 36 democracias, que se pode classificar em qualquer das categorias hibridas. Este tipo hibrido € parlamentarista em dois aspectos e presidencialista em um: o “gabinete” sufco — o Conselho Federal colegiado — ¢ cleito pelo Parlamento, mas os sete conselheiros ficam no cargo por um mandato fixo de quatro anos, ndo podendo ser demitidos por voto legislativo de descon- fianga. 5s tipos hibridos III e V sao presidencialistas em dois aspectos e parla- mentaristas em um. Os Estados Unidos forneceriam o exemplo do tipo Ill se a Convengio Constitucional de 1787 nao houvesse mudado sua opinio no timo instante. O plano da Virginia inclufa a eleigo para presidente pela r confanga Pepe fei Ce Iegislatura nacional, ¢ a Convencio Constitucional votou trés veres a favor 0 Logisatio do Legisatvo do Legislative ipa desse plano. Mas a decisio final foi pela solugao do colegio eleitoral. Deve- c= — se também observar que, se nenhum candidato presidencial obtiver maioria aren = lo brid Mibrido m no colégio elcitoral, a Constituigéo americana determina a forma hibrida III Australia a ‘como o passo seguinte: a eleigo pela Casa dos Representantes. Um exemplo fen interessante do tipo V € 0 sistema politico do Uruguai, que teve uma presi- Barbados déncia colegiada de 1952 a 1967: uma corporacio de inspiracio sufga, com- | posta de nove membros, colegiada e atuando por um perfodo fixo, como 0 Canad Conselho Federal suico, porém eleita pelo voto popular. paar Nao ha exemplos empiricos dos tipos hibridos II, IV e VI— 0 que nao | = Fitndia surpreende, uma vez que a lgica da confianga legislativa atua contra eles. O | hd (1986-88, 1993-95) tipo I poderia constituir um sistema parlamentarista, a ndo ser pelo fato de cs] Holand que a relagdo do primeiro-ministro com o gabinete se assemelha 4 de um ay ind, presidente com seu gabinete. Pelo texto escrito, a Constituicio alema parece 3) “tata adequada a tal sistema, mas, uma vez que o chanceler necessita da confianga i Isat 1945.96) do Bundestag, a negociagio de um gabinete colegiado de coalizao se realiza £] stamaica antes da eleigao formal do chanceler pelo Bundestag. Os tipos IV ¢ VI sio ieee problematicos porque um voto legislativo de desconfianga, num Executivo Malta leito popularmente, poderia ser visto como um desafio a vontade do povo eer eA legitimidade democrdtica. A tinica forma democraticamente accitavel Nocuega desses dois tipos seria a possibilidade de um voto legislativo de desconfianga react no Executivo ser equilibrado pelo direito do mesmo de dissolver a legislatura, Reino Unido quando também qualquer dessas agdes desencadearia novas eleigdes, tanto See da legislatura quanto do Executivo. Um sistema do tipo VI com emendas aa parece ser 0 que o Comité do Sistema Constitucional props para os Estados . Hibrido V_ | wtbrido wi | Presidendatate Unidos, em 1987, mas, como demonstro mais adiante, essa proposta acarre- iy ‘Coldmbia ‘tou uma forma especial de governo presidencialista, e nao um tipo hibrido. a2 eae tinico problema sério para a classificagao das democracias segundo a 23 * Franga (1958-85, 1988-93, tipologia éctupla é levantado pelos regimes que contam tanto com um Z rae ; presidente eleito pelo voto popular quanto com um primeiro-ministro par- Venezuela lamentar, sistemas estes normalmente mencionados como “semipresidenciais” "Sistemas semipresidencilsias (Duverger, 1980) ou “regimes presidenciais com premier” (Shugart ¢ Carey, 1992). Entre as nossas 36 democracias, existem seis desses sistemas semi- presidenciais: Austria, Finlandia, Franga, Islandia, Irlanda ¢ Portugal. Esses ‘casos podem ser resolvidos com a pergunta: quem realmente é 0 chefe do Fig 7.1 Formas de governo lamentaristas,prsidencilistas BE Fame pre pu Presidencilistase hibridas em 36 democracias, de AREND LUPHART governo — o presidente ou o primeiro-ministro? Os presidentes da. Austria, Islandia e Irlanda sio fracos, embora eleitos pelo voto popular, e essas trés democracias operam muito ao modo dos sistemas parlamentaristas comuns © mesmo se aplica a Portugal, especialmente depois que os poderes pres denciais foram severamente reduzidos na revisio constitucional de 1982. © caso francés € mais problemético. Antes de 1986 o presidente, popular- mente eleito para umm mandato fixo de sete anos, era quem claramente consti- ‘ufa o chefe do governo. Nao o primeiro-ministro, Entretanto, o poder Presidencial baseava-se mais no apoio de fortes maiorias parlamentares do que em prerrogativas constitucionais. No inicio da década de 1980, dois conh dos cientistas politicos franceses previram que, se o presidente fosse perder Seu apoio majorititio,o sistema presidencialistairiatransformar-se em patla- Imentarista. Raymond Aron (1982: 8) escreveu: “O Presidente da Reptblica é a suprema autoridade, enquanto contar com a maiotia na Assembléia Nacio- nal. Mas deverd abandonar a realidade do poder nas mios do primeiro-mini. {FO se por acaso um outro partido, que nao o seu préprio, obtiver maioria na Assembléia.” Baseado na mesma légica, Maurice Duverger (1980: 186) previu que a'V Repiiblica Francesa haveria de desenvolver uma forma de alternancia entre fases presidencialistase parlamentaristas Foi isto exatamente o que acon. fecen quando os gaullistas ¢ os republicanos obtiveram uma vitéra legislativa em 1986, «Jacques Chirac tornou-se primeiro-ministro: “A ndo ser por alg mas quest6es relativas as relagGes exteriores e a defesa(..) 0 [presidente so- Gialista] Frangois Mitterrand permaneceu as margens do Legslativo, enquanto Chirac fancionava como o executivo politico da Franca” (Huber, 1996: 28). A situagio se repetiu de 1993 a 1995, quando o premier gaullista Edouard Blladur substituiu o presidente Mitterrand como verdadeiro chefe do gover: 20; € 0 premier socialista Lionel Jospin inaugurou a terceira fase parlamentar rista sob 0 governo do presidente Chirac, em 1997. O sistema semipresidencial finlandés € o caso mais dificil. A Finlandia {em um presidente eleito — até recentemente, eleito indiretamente, por um colégio eleitoral — com menos poder do que normalmente dispée ¢ presi- dente francés, porém mais do que presidentes de outros regimes semi. residencialistas. Ainda assim, existe uma estreita semelhanga com o sistema francés, na sua fase parlamentarista, durante a qual o primeiro-ministto ene © chefe do governo ¢ 0 poder do presidente limitava-se a um papel especial rT nos negécios exteriores. Se €possvelconsiderar-se esa fase do sistema fran- cés como parlamentarista, a situagio semelhante da Finlandia também deve- ria sé-lo. Essa classificagao poderia ser de certo modo discutivel no que se refere a0 longo perfodo de 1956 a 1981, durante o qual o temfvel Usho Kekkonen atuou como presidente, porém ela se ajusta perfeitamente a0 pe- riodo posterior ao seu afastamento do cenério politco.? Uma emenda cons- titucional de 1991 reduziu o poder presidencial, retirando do presidente 0 dircito de dissolver o Parlamento — direito que o presidente frances man- tém —, mas ao mesmo tempo aumentow o prestigio presidencial, 2 ° colégio eleitoral e instituindo a eleigao popular direta. Na balanga, a demo- cracia da Finlandia pode ser classifcada como um sistema parlamentarista na tipologia da Figura 7.1. Com certeza = ae mais préxima de um sis- lamentarista do que de um presidencialista. ent nalmente, Israel passou de um regime indiscutivelmente parlamenta- rista, em todos os sentidos, para a elei¢io popular direta do primo minis tro, em 1996 — propondo outro intrigante enigma para uma clasi aso. As regras basicas so que o primeiro-ministro seré eleito ae pelos cleitozes, que o Parlamento ser eleito simultaneamente, que o Parlamento manterd o direto de demitir 0 primeiro-ministro; que o primeiro-ministro terd também o direito de dissolver 0 Parlamento, e que qualquer dessasagbes resultard em novas eleig6es, tanto para primeiro-ministro como para aS lamento (Hazan, 1997). Os israelenses Penewaram en terne esconhe inovacdo, porém ela se assemelha a uma pelo Comite Sncma Cortana 1987 16) para ®lms impasse entre 0 Executivo ¢ 0 Legislativo nos Estados Unidos: fose pos sivel para o presidente, ou para 0 Congresso, convocar novas el ites te sfamos um mecanismo para resolver os impasses sobre questées poles fundamentais.” Esse direito miituo de convocar novas eleigoes, can par te do presidente quanto do Congresso, representaria mais uma mmadasa ro sistema do que do sistema presidencialista — isto é, os Estados ae tinuariam sendo um sistema presidencialista, de acordo com todos os critérios basicos. ingham Powell (1982: $6) elasificow a Finlandia como sistema parlamentait durante aera Kekonen, O novo sistema israelense é muito s presidencialismo, meiro-ministro”, semelhante a essa forma especi eae fo Ppieiro-ministo € (1) eleito pelo voto popular, em vez aoe cars oa Beto Parlamente; 2) € lito por um psiodo xo de quatro spor ecto guano aera da demissio métua € novas eleigdes se torna Spent «(3 prooming sobre o gabinete em virtude da sua eleigéo pelo Fre ca aa tueatentemente, da sua legtimidade democrtica, No que sere na neo Pont, a regraisactense de que os outros membros do gab docarge am do voto parlamentardeinvestidura, antes de tomar posse Fomor cee aimanvtensio de um dos aspctes do veho palament- indice embremos que nos Estados Unidos também, presidente 6 pode mbros do seu gabinete com a “recomendagao e o consentimen- tas como tm peiente num seme pesdeneive soe Prinelro-minstro num sistema parlamentaita? — oe sobre essa classificagdo refere-se & probabilidade de prekin pa DOtRS elegGes. © Comité do Sistema Constitucional (1987; 16) brea que — cleigées seriam raras nos Estados Unidos, jé que ne- vomit cmpen ete encurtar a prépria permanéacia no cargo, De ft, 0 —— ue roo de mecanismo que estava propondo “fa- iaco im impasse que, por sua v. pitari i Ste an ad ln comensdrs nm eso opine: dg incipal efeito do novo sistema seriam as eleiges extremameate fermen, Pinca ; ramente freqiien- 7 es cae core Sartori (1994a: 115) alerta sobre o rae septa nsantss, Se esa prevsio provarse corrta,o sistema saclen- reader Rese aspeto itd parecer completamente diferente dos ou- Presidencialistas, com seus mandatos fixose muitasvezes longos. to” do Senado, O primeiro-ministro eleito mo um "De coda com Mathew Se poder lion dun cratic aes ee esa Separadss)e “sobrevivinciasepacada” (perfodos feos TT MoDELOS DE DEMOCRACIA ‘OUTROS CONTRASTES ENTRE © PARLAMENTARISMO E O PRESIDENCIALISMO ‘Alguns eminentes cientistas politicos tém afirmado que, além das trés dife- rengas cruciais entre os sistemas parlamentaristas e presidencialistas, discuti- das antes, podem-se mencionar outras trés, igualmente importantes (esp. ‘Verney, 1959: 17-56). Entretanto, depois de um exame mais profundo, es- | ses contrastes revelam a ocorréncia de sérias excegdes empfricas, além de nao ' serem essenciais para a distingo entre as duas importantes formas de governo, Em primeiro lugar, a separagao de poderes nos sistemas presidencialistas /\\ énormalmente tomada nao apenas como a independéncia miitua dos ramos do Executivo e Legislativo, mas também como a regra de que a mesma pes- 0a nao pode simultaneamente atuar nos dois. Em contrapartida, a nio-se- paragao de poderes nos sistemas parlamentaristas significa nfo apenas que Executivo é dependente da confianga da legislatura, mas também que as ‘mesmas pessoas podem ser membros tanto do Parlamento quanto do gabi- nete. Com respeito a este tiltimo, entretanto, existe muita variagdo dentro do tipo de governo parlamentarista. Numa extremidade do espectro, muitos sistemas parlamentaristas — especialmente os do Reino Unido € das ex-co- Tonias britanicas — tém como requisito quase absoluto que os membros do gabinete sejam, também, membros da legislatura. Na outra extremidade, ‘existem trés pafses — Holanda, Noruega ¢ Luxemburgo — nos quais nfo se pode ser membro do gabinete ¢ ao mesmo tempo do Parlamento. Em todos 0 trés, entretanto, os membros do gabinete podem participar — e o fazem efetivamente — dos debates parlamentares. Uma vez que a regra da incom- patibilidade poe em destaque o status separado do gabinete, ela tende a re~ forcar a autoridade do gabinete em face do Parlamento, porém nao pode ser considerada mais que uma variagdo de menor importancia dentro do tipo parlamentarista. Seria certamente incorreto afirmar que, nesse aspecto, es- ses tr@s paises se ajustam, ou até mesmo se aproximam, da forma pre~ sidencialista de governo. Em segundo lugar, declara-se com freqiiéncia que uma diferenca capital entre“) © parlamentarismo ¢ o presidencialismo é que os presidentes néo podem dissol- OG ver a legislatura, enquanto o primeiro-ministro e seus gabinetes podem fazé-lo, Uma excecio, do lado presidencialista, é a do presidente francés, que detém 0 poder de dissolver a Assembléia Nacional. Outra excegio € 0 exemple israelen- se da demissio métua e de novas eleigdes para ambos, discutida anteriormente. Nos sistemas parlamentaristas, hé novamente uma ampla margem de variagio, Nossstema britinico ¢ nos muitos sistemas de inpiragSo britinica o poder para Alissolver € quase ilimitado e constitu uma prerrogativa espectfca do primeiro- tministro, Na Alemanha e varios outros pafses,o Parlamento s6 pode ser dissol- Vido em circunstincias especiais, eno na dependéncia exclusiva da decisio do Exccutivo. Na Noruega,o Parlamento é eleito por um perfodo de quatro anos ¢ ao pode ser dissolvido de forma alguma. A autoridade do Executivo fica obviae mente afetada, a depender de ter ele, ou ndo, esse poder sobre alegislatura, mas esse fator nao pode ser considerado uma distingdo essencial entre as formas arlamentarista e presidencialista de governo, Em terceiro lugar, os sistemas parlamentaristas normalmente tém dois ‘7 ) Executivos: um chefe de Estado simbélicoe cerimonial (monarca ou presidente), ue tem pouco poder, eum primeiro-ministro que € 0 chefe do governo e que, juntamente com o gabinete, exerce a maior parte do Poder Executivo. A regra normal nos sistemas presidencialistas € que o presidente é simultaneamente chefe de Estado e chefe do governo, Entretanto, existem importantes exce- $6es em ambos os lados. Botsuana tem um primeiro-ministro, leito pela lesislarura ¢ sujeito& confianca da mesma, que é chefe do governo, mas que também funciona como chefe de Estado —e que por isso recebe o titulo for- mal de “presidente”. Outro exemplo é a Africa do Sul, democratica, cujo pr meiro chefe de governo foi o presidente Nelson Mandela — que no é como lum presidente num sistema presidencialista, mas uma combinacio de chefe de governo e chefe de Estado, num sistema parlamentarista. Se,naverdade, o novo primeiro-ministroisraclens,eleto diretamente, pode set visto como um presidente em um sistema presidencialista, Israel nos d4 0 exemplo de um sistema presidencialista com um Executivo dual, em vez de um ‘iio: além do primeiro-ministro presidencial, existe um presidente que € chefe de Estado, Outro exemplo que mostra como o Executivo dual é compativel em Principio, com uma forma presidencialista de governo, €a proposta de um pri- ‘meiro-ministoeleito diretamente na Holanda (Andeweg, 1997; 235). Ese plac o, amplamente debatido no final da década de 1960 e inicio da de 1970, levou a eleigdo popular do primeiro-ministro por um perfodo fixo de quatro anos, no sujeito 8 confianga do Parlamento — mas nfo trouxe a mudanca do sistema ‘monérquico, Com efeto, esse “primeiro-ministro” seria o chefe do governo num sistema presidencialista — mas no 0 chefe de Estado, uma vez que o monarca continuaria naquela posigao. © prestigio de ser chefe de Estado obviamente aumentaainfluéncia da maioria dos presidente, e constitu uma vantagem de «que carece a grande maioria dos primeiros-ministros, Mas nao representa uma Adistingo essencial entre as duas formas de governo. SEPARACAO DE PODERES € EQUIL/ARIO DE PODERES AA distngio entre os sistemas parlamentarstas ¢ presidencialstas € de grande importincia, em muitos aspectes. Por exemplo, como se viu no capitulo ante- Fios, os gabinets prsidenciaissio fundamentalmente diferentes, tendo de ser classifcados iferentemente dos gabinetes nos sistemas parlamentaristas, Além isso, tanto ao final deste capitulo como no proximo, ossistemas presidencialists so mais uma vez tratados de forma dversa dos parlamentarstas quanto medi- io de suas variveisessencais, No entanto, a distingéo entre pathanentarisne e presidencialismo nao esté diretamente ligada a distribuicéo do poder as ee 62s entre Executivo e Legislativo. Nos sistemas parlamentaristas, pode-se ob- servar um certo equiltbrio de poderes entre 0 gabinete € o Prameno, como éIgica, mas também € possivel encontrar uma clara predominancia 23). Amesma margem de varacio ocorre nos sistemas presidencialista, Estados Unidos, a separacio de poderes também significa o equilfbrio de pode- res entre 0 presidente © 0 Congresso. O mesmo se dé com a Costa Rica, como também com a Su‘¢a, {nico sistema de separagao de poderes que nao constitu tum presidencalsmo. O sistema presidencialista facts stuarse no — ‘oposto. Segundo as palavras de Anthony King (1976: 21), ales ance sa (..) tornou-se até mais subordinada 20 ae do que. britinica”, Colé xcupam posigoes intermedisrias, . mae presidencai leva de ws fons. Uma, éasua

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