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Da Vinci e Michelangelo: será mesmo que suas

obras opostas se complementam?

Imagem acima: Carismático, Da Vinci encantava nobres e até adversários na


Renascença

O movimento simbolista aconteceu na França entre o período de 1885 e 1895


segundo Anna Balakian, uma das principais estudiosas deste período. É designado
pelos historiadores da literatura como uma época pós-romântica, e para tanto há
convergências em relação aos seus principais pontos de partida: Baudelaire,
Rimbaud, Verlaine, Mallarmé, são considerados os quatro grandes nomes
precursores da literatura simbolista. Esse texto se propõe a refletir sobre o teatro
simbolista e sua relação com a história do teatro brasileiro, que tem como grande
nome o dramaturgo Roberto Gomes (1882-1922).

A genialidade de Michelangelo Buonarroti e Leonardo da Vinci é inquestionável e


atemporal. Mestres do Renascimento, ambos criaram obras de vasta importância
cultural e histórica, fato que os coloca no topo dos movimentos artísticos.
Representaram a vanguarda em técnicas de pintura e escultura, desde que o
homem passou a manifestar esteticamente emoções e ideias com o intuito de
estimular a consciência de outros indivíduos. O mundo que enxergavam com olhar
aguçado foi reproduzido em desenhos cuja minúcia anatômica revela
conhecimento científico, graças às dissecações que realizavam em cadáveres, o que
lhes levou a compreender a fisiologia de músculos, nervos e tendões. No caso de Da
Vinci, o talento como projetista de máquinas voadoras, obras de engenharia
hidráulica e militar atesta com mais veemência o intelecto experimental do artista.
Filhos da República de Florença, berço da cultura humanista no século XVI,
Leonardo e Michelangelo eram contemporâneos, embora este último fosse vinte e
três anos mais novo. De acordo com o historiador da arte, Johannes Wilde,
Buonarroti sofreu influência de Da Vinci no início da carreira. Após conhecer o
estúdio do mestre e analisar sua técnica de execução, esculpiu o Tondo de Taddei,
entre 1504 e 1506, acredita-se baseado na pintura davinciana a Madona do Fuso.
O próprio Davi – famosa obra-prima finalizada por Michelangelo em 1504 – foi
exposto um ano antes do término para demonstrar aos poderosos nobres da época
que, a partir daquele momento, o consagrado Leonardo não mais reinaria sozinho
no mundo das artes.
E foi por causa de um comentário displicente e tanto quanto pejorativo, feito por
Da Vinci, a respeito do Davi, que pode ter nascido a maior das rivalidades entre
estes artífices da Renascença. Havia pouco tempo até a conclusão de Il Gigante
(possui cinco metros de altura), um comitê formado por artistas consagrados, entre
os quais Botticelli, Perugino e o próprio Leonardo, recebeu como incumbência
decidir o local para a instalação da estátua. Deixando explícito seu incômodo
acerca da nudez do Davi, Da Vinci se pronunciou dizendo que devia ser exibido
“com ornamentos decentes”, bem como fez críticas à harmonia anatômica do
mesmo, que considerava desproporcional. Talvez enciumado pelo esplendor que a
obra despertaria em Florença, o criador da Mona Lisa sugeriu que a estátua fosse
exibida nos fundos da Loggia dei Lanzi – espaço cerimonial no séc. XIV –, onde
ficaria ofuscada perante outras esculturas da cidade.
No fim a instalação do Davi se deu na Piazza della Signoria, em frente ao Palazzo
Vecchio, sede do governo Médici. Não podia ter sido pior para Da Vinci, uma vez
que o prestígio de seu oponente cresceria ainda mais. Os Médici se consagraram
como banqueiros e influentes políticos, lideraram Florença por cerca de 300 anos,
com breves intervalos, e se transformaram em notáveis mecenas das artes e das
letras. Giorgio Vasari, pintor e biógrafo da época, escreveu que o próprio Lorenzo
de Médici (Il Magnifico) intercedeu diretamente para que o ainda jovem
Michelangelo (tinha quinze anos) fosse viver no Palazzo Vecchio, onde
aperfeiçoaria sua técnica no célebre Jardins das Esculturas mantido pelo
aristocrata. Por lá Buonarroti estudou com Bertoldo di Giovanni durante dois anos,
até a morte de Lorenzo. O episódio culminou na saída do artista de Florença, em
1492, para onde retornaria em 1501.
Nesse ínterim Michelangelo aportava em Roma, onde fez nascer a Pietà.
Considerada obra-prima pelo papado do Vaticano, a escultura lhe trouxe fama e
reconhecimento. No mesmo período, Leonardo acumulava honrarias na corte de
Ludovico Sforza, duque de Milão. Viveu na cidade por dezessete anos, pintou a
Virgem dos Rochedos e a magistral Última Ceia, dentre inúmeros retratos da
nobreza. Atuou também como arquiteto militar, projetando estruturas defensivas
na capital lombarda. Gozava de tamanho prestígio local, que chegava a ser
encarregado de organizar festividades.
Mas popularidade de Leonardo da Vinci não vinha exclusivamente da destreza
como artista. De acordo com Vasari, “ele tinha o poder da fala” (…) “como atraísse
para si a alma dos seres ouvintes”. Outra influente figura da época, o médico Paolo
Giovio, corroborava a tese: Leonardo (…) “por sua natureza afável é brilhante,
generoso, com rosto de extraordinária beleza”. Não são poucos os relatos
asseverando sobre o talento de Da Vinci como cortesão, traço mental que refletiva
no seu trabalho. Ele não gostava de trabalhar com mármore, por isso considerava a
escultura inferior à pintura: (…) “é mais bela e tem mais recursos” (…) “a escultura é
mais duradoura, mas não supera em nada mais”. Chegava a ser presunçoso
afirmando que talha em pedra era para plebeus por demandar mais força física do
que capacidade intelectual, enquanto o pintor senta-se diante da tela de maneira
confortável, movimentando o pincel tranquilamente.

Supostamente pela segurança que acumulou em vinte e quatro anos de serviços


prestados a nobres, clérigos e políticos poderosos de seu tempo, Da Vinci retornou
a Florença, em 1500, ainda mais confiante e seguro de si. Certo dia, quando passava
pela Piazza Santa Trinità, foi convidado por amigos para lhes esclarecer acerca de
um trecho da obra de Dante. Por alguma razão, transitava ali perto Michelangelo,
para o qual Leonardo não pestanejou em sugerir que elucidasse a questão. Tal
comportamento soou irônico a Buonarroti, dando a entender que o seu despreparo
para responder repentinamente a indagação era para servir de chacota frente à
coletividade da cidade. Ao invés de falar de Dante, Michelangelo dirigiu-se a
Leonardo: “explica tu, que fizeste o desenho de um cavalo para ser moldado em
bronze, mas foste incapaz de moldá-lo”. A resposta foi uma estocada no ego inflado
do pintor, pois tocou num ponto sensível de sua trajetória. De fato, Da Vinci se
empenhou em executar um monumento equestre quando esteve em Milão. Porém,
devido à invasão francesa em 1494, o metal que serviria de matéria-prima foi
destinado à fabricação de armas. O episódio da Piazza Santa Trinità pode ter criado
um abismo entre estes mestres da arte.

Diferente de Leonardo no comportamento social, Michelangelo possuía


personalidade introspectiva. Trancava-se em seu estúdio por dias, solitário, junto a
enormes blocos de mármore que, à custa de suor e sangue (literalmente), entalhava
belíssimas figuras. Ao longo de uma vida profícua como artista, teve inúmeros
problemas de relacionamento com a nobreza e o papado, causados pela dificuldade
em lidar com as pessoas. O amigo Donato Giannotti dizia que Buonarroti era rude
com os outros para se proteger, uma vez que sua fragilidade emocional o fazia
sentir-se constantemente ameaçado. Com efeito, este temperamento
indubitavelmente refletia na obra do gênio, tanto é que escreveu vários poemas
nos quais a temática aborda questões que transcendem à existência humana. De
qualquer forma, a inflexibilidade em gerenciar suas relações sociais não afetou a
essência múltipla de sua obra. Além das estátuas que o levaram ao ápice como
escultor, Michelangelo foi hábil como arquiteto – chegou a participar do projeto de
reforma da Basílica de São Pedro, no Vaticano – e sublime na pintura. E foi
justamente em sua passagem por Roma, comissionado pelo Papa Júlio II, que
realizou duas obras-primas que o puseram na posição de mestre das artes plásticas:
os afrescos do Teto da Capela Sistina e o Juízo Final, sobre o altar da mesma capela.

No que compete à técnica pictórica, Michelangelo contrastava Leonardo pelo


contorno bem marcado das figuras, corpos atléticos, cores claras e brilhantes –
estilo originado das correntes humanista e neoplatônica cujo foco era a
representação da figura heroica comum à Grécia Antiga. “Sem linhas ou fronteiras,
na forma de fumaça ou para além do plano do foco”, explicava Da Vinci a respeito
do seu famoso sfumato, método em que as pincelas são mais leves, assim como as
variações de tonalidade das cores quando mudam da luz para a sombra. É
perceptível na pintura davinciana naturalidade suave, tons delicados, que
transmitem, mediante a expressão facial, os mistérios da emoção humana. Como se
quisesse dar ao observador a oportunidade de interpretar as emoções dos
personagens retratados por ele.

Infelizmente a única chance de admirar, num mesmo local, os estilos contrastantes


de Leonardo e Michelangelo não ocorreu por obra do destino. O embate sem igual
na história da arte aconteceria no ano de 1504 em Florença. A fim de estabelecer
uma competição entre eles, o gonfaloniere Soderini encomendou que cada mestre
pintasse um mural de sete metros por dezessete na Câmara do Grande Conselho
do Palazzo Vecchio. A cargo de Da Vinci ficaria a cena da vitória florentina sobre as
forças de Milão, na região de Anghiari, que seria retratada com a volúpia de cavalos
e combatentes em meio à fumaça da artilharia. Buonarroti reproduziria a batalha
de Cascina, onde as tropas de Florença venceram as de Pisa, quando foram
atacados de surpresa no momento em que se refrescavam no rio Arno. Bem ao seu
estilo, pintaria uma massa de homens nus e seminus deixando desesperadamente o
rio em busca de suas armaduras. Porém, o que restou desta grande empreitada
foram apenas esboços e textos, a partir dos quais historiadores reportam como
teria sido o confronto dos lendários artistas. Os dois retiraram-se de Florença no
decurso dos trabalhos, em 1506, perseguindo outros desafios em Milão e Roma.

Leonardo da Vinci viveria entre os milaneses até 1513, depois em Roma para, em
seguida, passar seus últimos dias em Amboise, na França, onde faleceu em dois de
maio de 1519, com 67 anos. Após diversas idas e vindas entre Florença e Roma,
Michelangelo Buonarroti morreu, prestes a completar 89 anos, na capital italiana,
no dia 18 de fevereiro de 1564. Leonardo deixou como legado cerca de 13 mil
documentos contendo desenhos e textos sobre arte e ciência. Dada a
multiplicidade dos temas que abordou e encontrou soluções criativas, passados
mais de 500 anos de sua morte, ainda é lembrado como gênio universal.
Michelangelo, por sua vez, teve a vida ligada à arte por mais de 70 anos,
sobrevivendo a governantes e papas. Único na maneira de retratar o ser humano e
a natureza, era chamado de Il Divino, tendo sua figura despertado interesse em
pensadores do calibre de Goethe e Freud. Em vida, Da Vinci e Michelangelo foram
rivais por excelência. Para a eternidade, somaram gigantesca contribuição no que
tange à identidade estética da arte ocidental.

Veja também:

National Gallery of Art – a casa da única pintura de Leonardo Da Vinci


na América!

ver no site: http://arteref.com/arte/da-vinci-e-michelangelo-sera-mesmo-que-


suas-obras-opostas-se-complementam/

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