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Bloternas, 6 (2): 30- 41, 1993 Aves do Parque Barigui, Curitiba, PR Ricardo Krul Valéria dos Santos Moraes Centro de Estudos do Mar, Universidade Federal do Parani, Av. Beira Mar, s/n, 83.255-000, Pontal do Sul, Parand. Resumo Foram realizadas 15 expedigées ao Parque Bariguf, Curitiba (Parand), no periodo de abril de 1991 a setembro de 1992, quando aplicaram-se métodos convencionais de levantamentos omnitoldgicos de campo. Registraram-se 90 especies de aves, das quais, 63,3% frequentam a floresta, 30% ambientes abertos ¢ 25,5% o lago. UNITERMOS: Aves, Parque Barigui, Curitiba. Summary Were carried out 15 expeditions to Barigui Park, Curitiba (Parana), from april 1991 to seprember 1992, when conventional methods in orni- thological field research were applied. From the 90 bird species registered,63.3% frequent the forest, 30% the open environments and 25,5% the lake. KEY WORDS: Birds, Barigui Park, Curitiba. Introdugado A floresta de araucdria constitui uma parte especial da mata pluvial subtropical (Mack, 1981) ¢ ocorre do Rio de Janciro ¢ Minas Gerais até 0 30, Aves do Parque Barigui Rio Grande do Sul, em clima predominantemente timido (Rizzini, 1979 In: Sick, 1988). No Fstado do Parand principia no primeiro planalto, ime- diatamente a oeste da Serra do Mar, estendendo-se também pelos segundo ¢ tercciros planaltos do Estado (Maack, 1981) A Araucaria angustifolia, 0 pinheiro-do-Parang, é a érvore dominante desta formagio florestal, regularmente associada a diversas espécics de canelas da famflia das lauriceas, leguminosas como o jacarand4, mirtéceas como a pitangueira (Eugenia uniflora), Podocarpus Sp, erva-mate (Ilex paraguariensis), lianas ¢ epifitas, bromelidceas e palméceas, como Arccas- trum romanzofianum (Maack,1981). A avifauna de dreas recobertas por esta formagio no Parand, figura em pesquisas realizadas na cidade de Curitiba (Anjos, 1986, 1990; Anjos Laroca, 1990; Lugolli, 1988; Scherer-Neto ¢ Straube, 1986), na regizo do Parque Florestal do Caxambii, Castro (Scherer-Neto ct al., 1984), no Par- os Figura 1. - Locatzagdo do Parque Barigui, na cktade de Curfiba, Paran (") 31 R Kn eV. S. Moraes que Estadual de Vila Velha (Scherer-Neto et al., 1986) ¢ Fazenda Santa Rita, Ponta Grossa (Anjos, 1993), cm Tijucas do Sul (Scherer-Neto ef al., 1990) € no sul do Estado (Straube, 1988; Straube ¢ Arruda, 1991; Krul, 1992). Dando continuidade ao cstudo dos componentes avifaun{sticos asso- ciados a florestas com araucéria paranaenses, a presente contribuiggo ob- jetiva apresentar uma listagem das aves do Parque Bariguf, Curitiba, que futuramente poderd ser utilizada como subs(dio a trabalhos de planeja- mento € manejo desta unidade, bem como, para avaliagdo de impactos so- bre as populagies de algumas espécies. Material e métodos © Parque Barigu esté localizado cm Curitiba, Parand (Figura 1), 2 aproximadamente 5 Km do Centro da cidade e ocupa uma area de 1.400.000 m?, revestida por manchas de florestas de araucéria, capinzais ¢ freas de recreagdo com extensos gramados, arborizagio, equipamentos de lazer e um grande lago de 400.000 m? planejades pela Prefeitara Municipal (Figura 2). Figura 2, -Esiulvea oo Parque Baga (1= Iago anticat2~ forestas: 3= Gres de lazer 4= groma- dos} Fonte: IPPUC/PMIC,, re * 32 ‘Aves do Parque Barigui Foram efetuadas 15 incurs6es, amostrando os meses de feverciro, abril c outubro de 1991 ¢ fevereiro, maio, junho, setembro ¢ outubro de 1992, quando foram percorridas trilhas artificiais no interior das 4reas florestadas, as zonas de recreagio ¢ as margens dos lagos, preferencialmente nos tumos da manha (das 7:00 as 12:00) e tarde (das 14:30 as 19:00). Para a observacio das aves utilizou-se bindculos Bushnell 7x35 ¢ Focal 7-15x35 € para a gravacio de vozes, como método auxiliar em casos de espécies de dificil vizualizagio, um aparelho de gravacao de bolso Pana- sonic RQ-1335, com microfone embutido. A listagem apresentada segue a nomenclatura cientifica e ordem tax- ‘ondmica como abordadas por Meyer-de-Shauensce (1970). Resultados e discussao Freqiientam os ambientes locais 90 espécies de aves, das quais, Furnarius rufus, Craniolewca obsoleta, Pitangus sulphuratus, Turdus rufiven- tris, Troglodytes aedon, Zonotrichia capensis, Poospiza lateralis, Parula pitia- yumi ¢ Basileuterus culicivorus sio aparentemente abundantes. Buteo magnirostris, Veniliomis spilogaster, Synallaxis cinerascens, Thamno- phylus caerulescens, Todirostrum plumbeiceps, Schiffornis virescens, Basileuterus leucoblepharus © Thraupis sayaca, si observadas com frequéncia, mas, nao parecem tao numerosas quanto as anteriores. Das espécies verificadas, 57 frequentam a floresta, 27 os gramados, areas de recreagiio e capinzais, ou seja, dreas abertas e 23 os lagos e suas margens (Tabela 1). Tabela 1 - FL=Floresta; AA=Areas Abertas: Capinzais, gramado ¢ zonas de recreaco; LA= Lago ¢ sas margens; *=Registrado ape nas em sobrevdo) Espécies FL AA LA Pelecaniformes Phalacrocoracidae Phalacrocorax olivaceus x 33 R. Knut eV. S. Moraes Giconiiformes Ardeidae Casmerodius albus Egretta thula Florida caerulea Butorides striatus Nycticorax nycticorax Anseriformes. Anatidae Amazonetta brasiliensis Falconiformes Cathartidae Coragyps atratus * Accipitridae Buteo magnirostris Falconidae Milvago chimachima Polyborus plancus Gruiformes Rallidae Ralius nigricans Aramides saracura Galinula chloropus Charadrilformes Jacanidae Jacana jacana Charadriidae Vaneltus chilensis Columbiformes Columbidae Lepiotila sp. Cuculiformes Cuculidae Piaya cayana Crotophaga ani Guira guira 34 MK x Apodiformes Apodidae ‘Streptoprocne zonaris * Chaetura andrei * Trochilidae Stephanoxis fatandi Leucochtoris albicollis Coraciiformes Alcedinidae Ceryle torquata Chloroceryle americana Piciformes Picidae Picumnus temminckii Colaples campestris Piculus aurutentus Dryocopus lineatus Venitiomis spilogaster Passeriformes Dendrocolaptidae Sittasomus griseicapillus Lepidocolaptes squamatus L fuscus Furnarlidae Fumarius rufus Leptasthenura setaria Synatlaxis ruficapilla S. spixi ‘S. cinerascens Certhiaxis cinnamomea Cranioleuca obsolete Syndactyla rufosuperciliata Lochmias nematura Fommicariidae Thamnophilus caorulescens T. ruficapillus 35 x OKO Aves do Parque Barigui x R. Kru eV, S. Moraes Dysithamnus mentalis Conopophaga lineata Pipridae Chiroxiphia caudata Schiffomis virescens Tyrannidae Pyrocephalus rubinus Satrapa icterophiys Machetomis rixosus Tyrannus melancholicus Empidonomus varius Megarhynchus pitangua Myiodynastes maculatus Pitangus sulphuratus Empidonax euleri Todirostrum plumbeiceps Phylloscartes ventralis Sempophaga subcristata Elaenia sp. Elaenia obscura Hirundinidae Progne chalybea * Notiochelidon cyanoleuca * Troglodytidae Troglodytes aedon Turdidae Turdus sp. T. nigriceps T. rufiventris Vireonidae Cyclarhis gujanensis Icteridae ‘Molothrus bonariensis Parulidae Parula pitiayumi Geothlypis aequinoctialis 36 MK OK Ox xx Kx ‘Aves do Parque Barigui Basileuterus culicivorus B. leucoblepharus xx Coerebidae Coereba flaveola x Tersinidae Tersina viridis x x Thraupidae Pipraeidea melanonota x Tangara peruviana Thraupis sayaca x Thraupis bonariensis x x Fringillidae Saltator similis x Volatinia jacarina Sporophila caerulescens Sicalis flaveola Zonotrichia capensis x Poospiza lateralis Spinus magellanicus x x x ee x Ploceidae Passer domesticus x Estrildidae Es astrild x x Alguns elementos cstéo restritos as porgées de floresta menos pertur- badas, como representantes das familias Picidae e Dendrocolaptidac, ¢ ainda, Syndactila rufosuperciliata, Dysithamnus mentalis, Conopophaga lineata, Schiffornis virescens e Chiroxiphia caudata. Outras espécies frequentam a floresta, independentemente de seu estado de conscrvagao, como ¢ 0 caso de Buteo magnirestris, Leptotila sp., Synallaxcis spixi, S. cinerascens, Thamnophilus caerulescens, Philloscartes ven- tralis, Megarynchus pitangua, Myiodynastes maculatus, Poozpiza lateralis, Basileuterus culicivorus ¢ Coereba flaveola. Algumas destas, como Furnarius rufus, Pitangus sulphuratus ¢ Carduellis magellanicus, mostram uma plastici- dade maior estando difundidas em todos os ambientes locais. 37 R, Kn eV. 5. Moraes A floresta abriga, ainda, Leptasthenura setaria, espécie considerada por Sick (1988) como inteiramente ligada a ocorréncia do pinheiro-do-Parand ¢ por Straube ¢ Reinert (1993) como tipicamente endémica das florestas com arauciria, € cujo ciclo vital, segundo Straube e Arruda (1991), é obri- gatoriamente relacionado com Avaucaria angustifolia. Quanto as aves que frequentam os capinzais, gramados ¢ dreas de lazer, sfo espécies correntemente consideradas sinantropas, como: Vanellus chilensis, Crotophaga ani, Turdus rufiventris, Zonotrichia capensis, Molothrus bonariensis ¢ Passer domesticus. Poucas espécies sdo restritas a estes ambientes abertos, podendo-se mencionar como tal, somente, Colaptes campestris, Pyrocephalus rubinus, Sa- trapa icterophrys, Machetornis rixosa, Sicalis flaveola, Volatinia jacarina,, Sporo- phila caerulescens. Ao contrério, grande parte das espécies ocorrentes nos lagos, so ele- mentos essencialmente aquaticos, € 0 caso de: Phalacrocorax olivaceus, todos os ardefdeos ¢ ralfdeos registrados, Amazonetta brasiliensis ¢ os alcedinideos, Ceryle torquata ¢ Chloroceryle americana. A floresta presente ainda é bastante representativa, inclusive como re- fiigio para alguns clementos da avifauna sensiveis a alteragSes ambientais, como os pica-paus, cuja existéncia, segundo Sick (1988) pode servir como indicadora de que a respectiva biocenose continua intacta. Tal fato é at- estado, principalmente, pela presenga de espécie de grande porte, 0 Dryo- copus lineatus. Outra presenca importante é a de Tangara peruviana, endémica do sudeste do Brasil, ¢ segundo Argel-de-Oliveira ct al.(1993), sob ameaca devido a acelerada destruicéo de seu habitat, ¢ que € espécie migratéria em determinadas regides do pais, como mencionado por Sick (1983), ¢, no entanto, pOde ser registrada em todas as estages do ano no local, ates- tando a permanéncia da espécie no Estado do Paran4durante todo ano, como interpretado anteriormente por Moraes (1991). Dryocopus lincatus, Chaetura andrei, Dysithamnus mentalis, Megarhyn- chus pitangua, Empidonomus varius e Tangara peruviana nio haviam sido assinaladas para a regiao de Curitiba, estando ausentes das listas de aves da 38 ‘Aves do Parque Barigui cidade pré-existentes (Clube de Observadores de Aves/PR, 1984; Lucolli ¢ Koch, 1991). Referéncias bibliograficas Anjos, L. dos. (1986). Aves do Capio da Imbuia, Curitiba, Parand. In: Cong. Bras. Zool, 13., Caiabé - MT -Resumos. Cuiab4; Universidade Federal do Mato Grosso, 1986. p. 201. (1990). Distribuigao de aves em uma floresta de araucéria da cidade de Curitiba (Sul do Brasil). Acta Biol Paranaensc, 19 (1,2,3,4): 51-63. . (1993). Riqueza e abundancia de aves em “ilhas" de floresta de araucdria. Dissertagio (Doutorado) Curso de Pés-graduagdo em Zoologia, UFPR. Anjos, L. dos ¢ Laroca, $. (1990). Abundéncia relativa e diversidade es- pecffica em duas comunidades urbanas de aves de Curitiba (sul do Brasil). Arg. Biol. Tecnol, 32(4) : 637-643. 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