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JORNAL DA SECÇÃO REGIONAL DO CENTRO DA ORDEM DOS ENFERMEIROS Abril de 2005 | ANO 3 | Nº.

Editorial Sumário
1 • Editorial
Cuidados de saúde de proximidade ...
Enfermeiro de Família... • Família nos hospitais
3 Um direito.

das propostas às acções!

5 • Saúde da mulher

• Pela dignidade dos nossos


7 Idosos nos Lares

9 • O Tabaco e a Saúde

11 • Uma outra Enfermagem...


Prezado (a) Leitor(a) lítico decorrente das eleições do pas-
Queremos continuar a ser, cada sado dia 20 de Fevereiro.
vez mais, parte na resolução dos seus É verdade, você leu no progra-
problemas de saúde! ma do PS e do governo e ouviu pela
Sabemos que tem também um pa- boca de animadores de campanha
pel essencial na mudança do sistema e governantes, que os cuidados aos
de saúde. Então reflicta connosco e idosos deveriam ser articulados com • Acidentes na criança
ajude-nos a assumir posições neces- vários serviços e instituições; que es- 13 como prevenir?...
sárias para a melhoria dos serviços de tes iam ser de proximidade; que os
saúde e da qualidade de vida de cada enfermeiros de família eram essenci-
14 • Internacional do Enfermeiro
um de nós. ais no sistema de saúde!
Neste jornal, para além de lhe dar- Por esta e outras razões muitas
mos conta de algumas experiências, pessoas votaram na mudança, por • A Associação APELO chega a
queremos convidá-lo a ser mais certo porque consideravam que já 15 Coimbra
interventivo na nossa linha editorial, chegava de falta de sensibilidade
expressando o seu sentir. Começa- 16 • Também nos parecia mentira!
mos por situá-lo no novo cenário po- Continua na Pág. 2

Enfermagem e o Cidadão 1
Editorial

Ficha
Técnica
Enfermagem
eo
Cidadão
Distribuição Gratuita
Jornal da Secção Regional do Centro da
Ordem dos Enfermeiros social, de desperdício de meios,
Av. Bissaya Barreto, 191 CV é a mesma que defendemos e de-
3000-076 COIMBRA falta de responsabilidade social ou seja e como se pensa concretizar;
Tel.: 239 487 810 individual. - Se as parcerias propostas para
Fax: 239 487 819 Considerando que o problema e o prestar cuidados prevêem os enfer-
www.ordemenfermeiros.pt
E-mail: srcentro@ordemenfermeiros.pt segredo do sucesso das organizações meiros e os utilizadores dos cuida-
são as pessoas, poderemos estar to- dos e suas famílias, e quando se
Director dos expectantes para saber como é vão realizar;
Amílcar de Carvalho
que os governantes, os profissionais - Se o controlo de crescimento de
Coordenação Editorial e como nós próprios nos vamos com- gastos em comparticipações de
M. Eugénia Morais portar no novo espaço político. medicamentos terá impacto nega-
Redacção Dos enfermeiros vamos falar- tivo nos utilizadores.
Cândida Macedo lhe, até porque a Ordem dos Enfer- As áreas de resposta dos enfer-
António Marques meiros acabou de aprovar algumas meiros na comunidade e ao nível das
Rui Venâncio
Luis Ferreira recomendações para a acção em instituições vão: dos cuidados mater-
Margarida Dinís matéria de política de saúde. nais e da infância à adolescência; da
Fernando Cardoso Para conhecer as 10 medidas para dependência do adulto ou da pessoa
Carlos Almeida
Carlos Portugal reorientação do SNS e do Sistema de idosa à promoção de saúde e preven-
Julio Almeida Saúde solicitamos-lhe que consulte o ção da doença; do contexto laboral,
site da Ordem. É para nós importan- do lazer e desporto à saúde escolar.
Conselho Científico te que nos diga o que pensa delas
Presidente do CER - António M. Oliveira Interessa-nos saber se, nestas e
Presidente do CJR - José Luis Gomes mesmo que algumas sejam só de noutras situações, já sentiu neces-
Presidente da MAR - Delmina Moreira cumprimento dos princípios cons- sidade e teve acesso para si e família
Presidente do CFR - António Garrido titucionais ou desideratos legais. a um enfermeiro em contexto hospi-
Colaboradores Especiais Ao ler as medidas propostas pela talar, em cuidados de saúde primári-
Centro Regional de Saúde Ordem queremos propor-lhe que os ou na comunidade.
Pública do Centro saliente se sente como úteis as priori- Formando uma rede de interesses,
Alice Quintas
Filomena Ferreira dades apresentadas, e se as vantagens o leitor, o seu enfermeiro e a Ordem
Paula Verríssimo dos cuidados de enfermagem, já hoje, podem ser proponentes dos cuidados
Maria Inês dos Santos são facilmente identificáveis por si. de enfermagem necessários e exigir
Ilda Soares Pereira Guimarães
Queremos pedir-lhe que nos dê dos serviços de saúde mais que res-
Correspondentes opiniões que permitam promover ou postas cirúrgicas em regime pós-
Responsáveis das Unidades de Saúde reorientar as intervenções de enfer- laboral, concessão de negócios de
Associações de Cidadãos
Associações Profissionais magem! saúde aos privados, redução da
Vamos, quando oportuno, junto oferta pública de serviços, aumen-
Revisão Editorial do Ministro da Saúde propor a clarifi- to dos encargos privados com a
Ananda Fernandes
Rute Dias da Silva cação de conceitos e acções para saúde.
concluirmos: Os enfermeiros vão estar mais per-
Secretariado - Se a proximidade que é referida to de si, ajude-nos a servi-lo melhor!
João Pedro Pinto
Elizabete Figueira
Fernanda Marques

Maquetização, Produção,
Fotolitos e Impressão
PMP COIMBRA
Tiragem – 4.000 exemplares
Depósito Legal – 178374/02 Amílcar de Carvalho
Enfermeiro, Presidente do CDR do Centro da Ordem dos Enfermeiros
E-mail: srcentro@ordemenfermeiros.pt

2 Enfermagem e o Cidadão
■ ENF. MANUEL OLIVEIRA
PRESIDENTE DO CONSELHO DE ENFERMAGEM REGIONAL DO CENTRO DA ORDEM DOS ENFERMEIROS.

Família nos hospitais


UM DIREITO.
Abordando a família sob um ponto de vista sistémico, A este propósito, no ano 2000, a Direcção Geral de
é de fácil compreensão o impacto que nela se produz Saúde emitiu uma Circular Normativa (Nº 4/DSPCS, 28/
quando um dos seus elementos sofre uma interrupção 01/00) que se refere a visitas e acompanhantes de doen-
ou alteração na vivência do seu projecto de saúde. Cer- tes internados, emitindo uma série de princípios que os
tamente que todos já experimentámos esse impacto e regulamentos das instituições de saúde deverão adoptar
como este pode ser destruturante para cada um dos nos- e que visam a aproximação da família aos seus doentes
sos mundos, através do sofrimento que induz em cada internados através das visitas e de uma parceria efectiva
um de nós individual ou colectivamente. com esta em todo o processo de cuidados, através do
Apesar dos discursos de retórica frequentes, sobre esta acompanhamento familiar.
temática, a maioria das instituições de saúde hospitala- Considerando que, “as visitas hospitalares têm um
res ainda não implementou as soluções necessárias a papel importante no apoio psicológico e afectivo aos do-
esta abrangência do cuidar e, por vezes, não tão raras entes internados” assim como o acompanhamento fami-
como comummente se pensa, são inúmeras as barreiras liar, que poderá ainda “ser um contributo valioso na pre-
que enquanto familiares encontramos e que nos afastam paração da alta do doente e, consequentemente, na con-
daqueles que estimamos e que pelas circunstâncias da tinuidade dos cuidados” recomenda que “as equipas de
vida se encontram num momento em que mais carecem saúde considerem a família como parceiro na prestação
da nossa presença, que é deveras desejada e útil num de cuidados e promovam as condições adequadas para
ambiente por vezes desconhecido e despersonalizado. que a mesma possa desempenhar esta função”.

Enfermagem e o Cidadão 3
Urge aqui relembrar esta circular, pois no contexto da • consideração das necessidades da família como um
cultura organizacional das instituições de saúde, salvo todo e não apenas das de um dos seus membros;
as merecidas excepções, a família ainda hoje é vista, • reconhecimento da importância das crises
muitas vezes, como uma intrusa ao processo de cuida- interpessoais e do seu impacto na saúde da família;
dos sendo o seu sofrimento por vezes negligenciado ou • ênfase no estilo colaborativo que respeita as
subestimado. Acresce ainda o facto que inúmeras vezes, potencialidades da família e lhes dá apoio no sentido de
quando lhe é permitido o desempenho do seu papel, o ela encontrar soluções próprias para os problemas iden-
façam sentir como a concessão de um favor e não como tificados.
o respeitar de um direito que lhe assiste, através de uma Ao reflectirmos sobre estes princípios, não restarão
relação de autoridade e poder desigual. dúvidas de que se estes forem implementados e respei-
O cuidar, que se pretende holístico e humanizado, tados, nós família seremos parte integrante das equipas
não pode desvincular-se do universo familiar, cultural de saúde com todos os benefícios recíprocos que daí
e simbólico do destinatário, pois o grupo afecta o com- advirão.
portamento individual e o modo de perceber e de viver Enquanto família, e no exercício da nossa cidadania,
a doença. Cuidar de um ser humano significa cuidá-lo temos a obrigação de apreendermos os nossos deveres
no seu contexto, considerando muito seriamente o seu e direitos e zelarmos pelo seu cumprimento, a fim de con-
ambiente afectivo e a sua comunidade restrita de per- tribuirmos de forma decisiva para a mudança cultural que
tença – a família. A cisão entre o individual e o colecti- os nossos hospitais deverão adoptar, ajudando-os desta
vo pode ser prejudicial para os beneficiários dos cuida- forma a fazerem o caminho no sentido de uma maior jus-
dos, pois corre-se o risco de ocultar um ou vários as- tiça, solidariedade e humanização dos cuidados de saú-
pectos dos problemas encontrados e das respostas de que prestam.
para os solucionar.
Na maioria das famílias, a doença em um dos
seus membros produz quase sempre uma ferida
penosa em toda a sua organização, ideia já referi-
da. Um conjunto de dores e sofrimentos de diver-
sa índole. Algumas das suas formas são um puro
reflexo e prolongamento das dores e sofrimentos
do doente, mas há outras que resultam esponta-
neamente da própria família como sejam, por
exemplo, a falta de recursos materiais, a
inadequação das suas habitações, o horário
laboral mais ou menos incompatível, a falta de co-
nhecimentos para lidar com a situação ou ainda
outras causas de índole estritamente pessoal.
Por desconhecimento destas e de outras cau-
sas, muitas vezes emitem-se juízos de valor in-
justos e até ofensivos relativamente às famílias
acusando-as de negligência e de desinteresse
pelos seus doentes.
Para que tal não ocorra, é importante que se
efective de forma sistemática a avaliação do con-
texto de cada família e se estabeleça com ela uma
parceria eficaz e eficiente em todo o processo de
cuidados, prestando-lhe todo o apoio cognitivo,
afectivo e social, a fim de que esta fique habilita-
da para cumprir cabalmente os seus deveres e
responsabilidades. Importa aqui referir que ao fa-
larmos de família estamos também a falar das
pessoas significativas para o doente.
Parafraseando Hesbeen, ocupar-se do sofri-
mento daquele que não é o doente propriamente
dito, é essencial à qualidade de cuidados pois a
ajuda que se presta à família repercute-se no pró-
prio doente.
De acordo com Barbieri, ao universo dos cuida-
dos de saúde centrados na família, devem presidir
os seguintes princípios filosóficos:
• inclusão deliberada da família no planeamento
e prestação de cuidados;

4 Enfermagem e o Cidadão
Saúde
da mulher
A esperança de vida para a mulher em Portugal ultrapas-
sa os 80 anos.
A mulher é uma referência importante na saúde. “Cuidar
da família” é um papel social que lhe é atribuído. No entanto
é útil que ela seja também a protectora da sua saúde.
Hoje, assiste-se a uma mudança da preocupação da
doença para a preocupação de evitar o
seu aparecimento, isto é prevenir.
Na saúde feminina vários aspectos
podem ser esclarecidos no sentido de
alertar e educar para o risco de doen-
ça. Uma das mais temíveis é o can-
cro. Quando acontece na mama tem
um impacto significativo.
O cancro da mama é dos mais fre-
quentes no mundo ocidental e constitui
causa de preocupação das mulheres portu-
guesas, pelo modo como se reflecte na sua saú-
de, na sua feminilidade, na vida familiar, social e profissional.
Apesar dos avanços científicos na sua detecção e no seu
tratamento, ainda não é possível evitá-lo.
O que é o cancro da mama? “o cancro da mama é um
processo oncológico em que as células sãs da glândula ma-
maria se alteram, transformando-se em células tumorais, que
proliferam multiplicando-se descontroladamente, até consti-
tuírem o tumor”
O cancro da mama pode apresentar-se de formas dife-
rentes conforme a sua localização no tecido mamário. A sua
gravidade é relacionada com a fase de desenvolvimento em
que é detectado.
Como se trata de uma doença silenciosa, isto é que na
fase inicial do seu desenvolvimento não apresenta sintomas
ou sinais que a demonstrem, é difícil fazer um diagnóstico
precoce.

Que mulheres são afectadas?


A sua origem é desconhecida, no entanto a evolução da
Medicina conseguiu perceber que alguns factores podem
aumentar a possibilidade de acontecer o cancro da mama e
por isso considerou-os como factores de risco (genéticos; ■ FILOMENA FERREIRA
hormonais; ambientais / hábitos de vida). Nestes factores de CONSELHO DE ENFERMAGEM
risco estão: a idade avançada; aparecimento da menstrua- SECÇÃO REG. DO CENTRO DA OE
ção cedo; menopausa tardia; não ter filhos; gravidez tardia;
história desta doença na família; haver já um diagnóstico de
“problema” na mama; tabagismo; dieta pouco equilibrada;
stress.

Enfermagem e o Cidadão 5
Como se pode diagnosticar? A que deve estar atenta neste auto exame?
Para a ajuda a um diagnóstico precoce, é fundamen- Nódulos (caroços), secreções saindo do mamilo, alte-
tal recomendar-se o auto–exame feito pela mulher, uma rações do mamilo (metido para dentro tipo umbigo), alte-
vez por mês, uma semana depois da menstruação. Este rações da pele (espessamentos, feridas, coloração dife-
exame permite conhecer a estrutura normal da mama e rente) mudança de aspecto ou do tamanho da mama.
identificar qualquer alteração logo que surja. Quando alguma alteração for encontrada deverá re-
correr aos Serviços de Saúde,da sua área, contactando
Como fazer o auto-exame? o Enfermeiro e o médico de família.
Observe... No esclarecimento destas alterações poderão ser
Coloque-se em frente ao espelho com os braços apoi- efectuados outros exames (ecografia. mamografia, biópsia
ados na anca e observe. e outros) que lhe poderão ser recomendados.
Coloque os braços sobre a cabeça e observe. O tratamento pode passar por uma operação, métodos
Palpe... terapêuticos (radioterapia quimioterapia, hormonoterapia)
Para palpar use apenas as pontas dos dedos com a além de outros que sejam necessários e que contribuem
mão espalmada em movimentos: circulares (de fora da para o bem estar da pessoa.
mama até ao mamilo), verticais (para cima e para baixo
percorrendo toda a extensão) e dividindo a mama em qua- Que mais pode ser feito?
tro palpe, do mamilo à periferia e vice-versa, cada um A adopção de uma vida saudável através de dieta equi-
dos quadrantes. librada (reduzir gorduras, aumentar o consumo de frutas
No duche, coloque o seu braço esquerdo sobre a ca- e vegetais, reduzir o consumo de carnes), fazer exercício
beça e com a mão direita palpe a mama esquerda, fazen- físico regular, reduzir riscos (tabaco, exposição a radia-
do todos os movimentos que se descreveram. ções) e vigilância de saúde anual são imprescindíveis para
Aperte suavemente o mamilo. a promoção da Saúde da Mulher.
Repita os mesmos gestos para a mama e mamilo à A detecção “a tempo” do cancro permite tratamentos
direita. Examine ambas as axilas. que de acordo com a situação lhe serão recomendados.
Solicite a ajuda do Enfermeiro de família no ensino do O desafio a esta doença está ao alcance da sua mão.
auto-exame. Cuidar da sua saúde é um dever a cumprir.
Com o tempo aprenderá a fazê-lo em poucos minutos “Prevenir é Saber Viver”.
e ganhará experiência nos gestos.
Grande percentagem das alterações detectadas têm
significado benigno, mas devem ser esclarecidas.

6 Enfermagem e o Cidadão
■ ILDA SOARES PEREIRA GUIMARÃES
ENFERMEIRA ESPECIALISTA EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO, A EXERCER FUNÇÕES NO SERVIÇO DE PEDIATRIA DO H.S.T.V-SA

PELA DIGNIDADE DOS NOSSOS


IDOSOS NOS LARES
A família é uma instituição social universal, célula base tural e humano transmitido de geração em geração co-
da sociedade e tem como funções a perpetuação da es- meçou a ser questionado com o advento da revolução
pécie; a protecção dos seus diferentes elementos para industrial. Para além da revolução industrial outros even-
uma vida com dignidade nomeadamente as crianças e tos nomeadamente a 1ª e 2ª guerra mundiais; a revolu-
os idosos; a transmissão da cultura (crenças, usos, cos- ção dos estudantes em Maio de 1968 em França; a as-
tumes, etc) aos vindouros e à educação destes. É do do- censão do “status” social da mulher e o exaustivo plane-
mínio público que a estrutura familiar se alterou, pois até amento familiar, contribuíram decisivamente para que a
há relativamente pouco tempo, a família extensa ou pa- estrutura familiar se alterasse paulatinamente e a família
triarcal era a que predominava na nossa sociedade. Vivi- patriarcal deu lugar à família conjugal nuclear, estando a
am na mesma linha genética debaixo do mesmo tecto entrar na moda as uniões de facto. A estabilidade familiar
duas e três gerações, ocupando o mais velho um “status” é cada vez menor; há cada vez mais “contratos matrimo-
familiar e social privilegiado, pois era o mais idoso quem niais a prazo”; os novos casais investem cada vez mais
possuía o saber, assimilado pela experiência vivida ao na sua qualidade de vida; o papel e o “status” dos idosos
longo dos anos e quem detinha o poder de gestão inclu- nesta nova sociedade decresce e passam a ser vistos na
indo até a escolha das noivas para os mais novos, verifi- generalidade como um peso familiar, a partir do momen-
cando-se esta situação por último em alguns casamen- to em que deixam de se auto-cuidar na totalidade. O tem-
tos de Estado. No Ocidente, na pirâmide da sociedade, o po mudou. Não há tempo para serem “mimados” no seu
idoso era a pessoa mais estatutária e era comum falar-se seio familiar. Neste contexto, os lares que apareceram
do seu “status” social. Neste contexto o idoso era efecti- inicialmente para os mendigos e indigentes são nos nos-
vamente um ente querido, muito considerado, estimado sos dias um espaço para todas as classes sociais, sendo
e cortesmente respeitado, quase “venerado” até aos últi- a solução melhor encontrada para muitos idosos com
mos dias da sua existência. Este excelente costume cul- dependência nas actividades da vida diária (comer e

Enfermagem e o Cidadão 7
beber; vestir-se e despir-se; ir ao WC sozi-
nho; fazer a sua higiene pessoal, etc). Se
bem que os primeiros lares apareceram a
partir de uma dimensão profundamente
humanista, pela defesa de um valor singu-
lar, que é o valor da vida humana, e para
defesa da vida com dignidade, de há uns
anos a esta parte assistimos ao apareci-
mento de lares que têm um cariz mais
mercantilista. Ainda recentemente um gru-
po financeiro alemão esteve prestes a in-
vestir junto à Escola Básica E, B, 2 e 3 do
Viso – Viseu uns largos milhões de Euros
num imóvel que, a concretizar-se, viria a
ser uma residencial de alto luxo para ido-
sos. As condições físicas destas casas de-
vem ser boas, muito boas ou mesmo excelentes. Este do decreto-lei nº 133 – A/ 97. Em vez de referir que deve
aspecto é deveras importante, caro leitor, mas não é haver um enfermeiro por cada 40 idosos, que é a lotação
menos importante saber da organização que trabalha autorizada para um lar moderno, devia dizer: Desde que
nessas casas, sobretudo da formação das pessoas que haja pelo menos 6 idosos com o auto-cuidado compro-
ficam a cuidar do seu familiar, fundamentalmente a partir metido em grau elevado, portanto muito dependentes,
do momento em que ele não consegue auto-cuidar-se deve haver um enfermeiro permanente em cada ums
nas actividades de vida indispensáveis à sua existência. desses lares sobretudo se passam na cama 16 horas ou
É que os serviços de medicina dos hospitais recebem mais em cada 24 horas. O decreto-lei atrás citado esta-
com frequência idosos dali provenientes, cujos motivos belece o regime de licenciamento e fiscalização destas
de internamento ou diagnósticos de admissão são: úlce- instituições. O despacho diz respeito às normas regula-
ras de pressão (vulgo chagas); desidratação; mau estar doras das condições de instalação e funcionamento dos
geral; desnutrição; síndrome febril indeterminado; etc. Pa- lares para idosos. Ambos falam da qualidade dos servi-
radoxalmente ainda acontecem nos nossos dias estas ços a prestar; que devem ter condições sanitárias etc. A
situações. Interna-se um idoso num hospital proveniente alínea c) do artigo 15º do referido diploma diz que é re-
de um lar por desidratação. Então, mas faltou a água lá quisito necessário o certificado de vistoria sanitária das
no lar?... instalações para poder ser licenciado. Tudo isto em mi-
A razão de ser prende-se fundamentalmente com a nha opinião está bem: está correcto, mas sabe a pouco.
falta de preparação, com a falta de formação base e sen- Um destes preceitos legais, num dos seus artigos, devia
sibilidade para o exercício de cuidar dos idosos por parte falar de forma clara e inequívoca de circuitos de limpos e
das equipas que trabalham nessas instituições, sobretu- de sujos e obrigar as construções novas edificadas a par-
do quando algum padrão de satisfação de alguma ne- tir da data em que entrou em vigor esta legislação a con-
cessidade humana básica fica afectado. A inexistência templar tal critério na construção das instalações. Estas
de preparação adequada dos recursos humanos reflec- casas têm características hospitalares, como todos sa-
te-se sobretudo naturalmente nos idosos cujo auto-cui- bem. Em regra, são construídas mais em altura, com três
dado se encontra comprometido em grau moderado a e quatro pisos, do que em extensão, e só é planeado um
elevado. O factor desconhecimento do público em geral elevador para todas as pessoas e serviços. Escusado será
daquilo a que têm direito quando têm o seu familiar idoso dizer que nesse elevador vão circular as pessoas; os ca-
internado num lar, também pesa bastante para o desen- dáveres; a roupa limpa; a roupa suja (quantas vezes com
cadear das situações atrás citadas que levam ao fluidos orgânicos) os lixos, algumas refeições etc. Fazia
internamento nos serviços de medicina nos hospitais. Têm todo o sentido que tal requisito fosse obrigatório para as
direito, por exemplo, a que o seu familiar não faça úlce- construções novas até porque os idosos têm menos de-
ras de pressão no lar; não fique desidratado; desnutrido; fesas, são mais vulneráveis e por conseguinte mais sus-
etc; excepto se portador de patologias como por exemplo ceptíveis de contraírem uma infecção. Certamente que
do foro oncológico irreversíveis. Também têm direito a iam aparecer doravante menos síndromes febris
amenidades (ocupação dos tempos livres) mas a presta- indeterminados. Uma vez que não está contemplado na
ção deste serviço nos lares não se reveste regra geral de legislação em vigor, fica o alerta para o recém-empossado
grande significado. ministro titular desta pasta na sequência das eleições de
Sendo o licenciamento dos lares feito pela Segurança 20 de Fevereiro, Sr. Professor Doutor Vieira da Silva. “O
Social, o Estado também é co-responsável pelas situa- povo é quem mais ordena.”
ções atrás citadas e que levam ao internamento em hos- - A bem de todas as pessoas idosas, suas famílias e
pitais e clínicas privadas. Refiro-me particularmente à alí- amigos que os visitam bem como de todos os que lá tra-
nea b) da norma XII (indicadores de pessoal) do despa- balham.
cho normativo nº 12/ 98 publicado em Diário da Republica Parabéns caro leitor, pela opção que fez de ler esta
Iª Série – B de 25/ 12, que vem na sequência do artigo 46 minha crónica.

8 Enfermagem e o Cidadão
■ PAULA VERÍSSIMO
ENFERMEIRA GRADUADA A EXERCER FUNÇÕES NO CENTRO DE SAÚDE DE CONDEIXA-A-NOVA

O TABACO E A SAÚDE
O tabagismo é de longe, a mais evitável causa isola- Além destes produtos, outros como o arsénico, amónio,
da de doença e morte prematura na Europa, cabendo- óxido e ácido carbónico, produzem intoxicação pelo fumo.
lhe, a responsabilidade pela morte de um em cada sete Tudo se passa assim: o fumo entra no corpo, tanto pela
europeus. via respiratória como digestiva, passa para a traqueia e
O tabagismo, segundo a O.M.S., é a principal causa de brônquios direito aos pulmões onde se mistura com o
doença e morte evitável. Cerca de 25 a 30% de todos os sangue, circulando de seguida por todo o organismo. Tam-
tipos de cancro nos países desenvolvidos estão relaciona- bém se mistura com a saliva, passando ao estômago e
dos com o tabaco. Cerca de 90% dos cancros do pulmão e intestinos, chegando ao sangue. O processo é igual. Os
entre 80 e 90% dos cancros da boca, laringe e esófago órgãos mais afectados são: laringe, traqueia, brônquios,
são causados pelo consumo de tabaco. O tabagismo está estômago, pulmões, intestinos e artérias.
também associado às doenças cardiovasculares e respi- Quais são então as principais consequências do taba-
ratórias. gismo para a saúde?
Sendo assim, torna-se cada vez mais importante a • No sistema respiratório
prevenção primária e secundária do tabagismo, para a - Inflamação da laringe, traqueia e brônquios;
promoção da saúde e prevenção tanto do cancro como - Falta de ar, cansaço fácil e respiração difícil;
das doenças respiratórias e cardiovasculares. - Tosse típica;
O tabaco contém mais de 3000 produtos químicos. - Cancro do pulmão e bronquite.
Os três mais importantes são: • No sistema digestivo
- Nicotina – Principal responsável pela habituação o - Dentes manchados, língua escamosa e mau hálito;
que vai provocar dependência. - Inflamação da boca, esófago, estômago e intestino;
- Monóxido de carbono – É absorvido pela corrente - Cancro da boca, esófago, estômago e intestino;
sanguínea roubando lugar ao oxigénio. - Perda de apetite;
- Alcatrão – Principal substância cancerígena exis- - Perda de olfacto e paladar
tente no tabaco. - Úlceras.

Enfermagem e o Cidadão 9
• No sistema cardiovascular
- Aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial;
- Constrição das artérias;
- Aumento dos níveis de colesterol;
- Aumento da agregação plaquetar o que leva à for-
mação de trombos.
• No sistema nervoso
- Tremores.
• No metabolismo
- Aumento dos níveis de numerosas hormonas;
- Antecipação da menopausa e aumento do risco de
osteoporose.
• No sistema genital e urinário
- Esterilidade feminina e masculina;
- Cancro da bexiga.
• Na mulher
- Aumento do risco de cancro do colo do útero;
mento, ingeriu 87 gramas de nicotina e 1,5 kg. de alcatrão.
- Em combinação com a pílula aumenta o risco de trom-
Posto isto, conclui-se inevitavelmente que deixar de
bose venosa (varizes,...)
fumar é a decisão mais saudável que o fumador pode
- Aumenta o risco de aborto
tomar, pois estará a dar-se a possibilidade de se sentir
- O tabagismo da mãe aumenta no recém-nascido o
melhor consigo mesmo e de viver não apenas mais, mas
risco de malformações, parto prematuro, baixo peso ao
melhor.
nascer e síndrome de morte súbita.
• E quais são então os benefícios em deixar de fu-
• Outras formas pelas quais o consumo de tabaco
mar?
pode pôr a saúde em perigo:
- Melhorará a imagem de si – fumar não dá valor nem
- O cigarro é causa de incêndios – muitos incêndios
prestígio;
em residências, hotéis e outros lugares públicos, que cau-
- Acabará com o odor tão desagradável;
sam mortos e feridos graves em grande quantidade, são
- Eliminará o mau hálito;
provocados por cigarros acesos.
- Os dentes voltarão a brilhar e as gengivas deixarão
- Consumo passivo – desde há muito que se sabe que
de inflamar;
a permanência em locais fechados, muito cheios de fumo
- A pele conservará a firmeza durante muito mais tempo;
de tabaco, pode ter efeitos semelhantes aos produzidos
- O acne e os pontos negros desaparecerão;
pelo acto de fumar. O fumador passivo respira o ar que
- O aspecto do seu cabelo melhorará;
contém o fumo do tabaco o que lhe vai afectar os pul-
- Desaparecerá a incómoda tosse matutina;
mões e coração e provocar dores de cabeça.
- Cansar-se-á muito menos;
- Passará a respirar melhor;
• CURIOSIDADES:
- Os alimentos terão melhor aroma e sabor;
- A permanência de uma pessoa não fumadora num
- Reduzirá os riscos de acidentes de viação;
local cheio de fumo, durante uma hora, equivale a fumar
- Reduzirá a possibilidade de vir a ter gripes ou cons-
um cigarro!
tipações;
- Um fumador a fumar um maço de cigarros por dia,
- Evitará as doenças pneumológicas – bronquites,
durante 10 anos, fumou um cigarro com 8Km. de compri-
enfisemas pulmonares, etc;
- Evitará as doenças cardiovasculares – enfarte de
miocárdio, arteriosclerose, etc;
- Evitará diversos tipos de cancro – pulmões, esófago,
boca, laringe, bexiga, rins, etc;
- Obterá seguros de vida com custos mais reduzidos;
- Conseguirá emprego com mais facilidade;
- Poupará muito dinheiro;
- Não só viverá mais, mas sobretudo viverá melhor.
Se, por todas estas razões, reconhece a importância
e a vontade de deixar de fumar, sem contudo se sentir
capaz de fazê-lo sozinho (segundo o Instituto de
Cardiologia Preventiva cerca de um terço dos fumadores
realiza uma tentativa por ano mas 90% destas tentativas
não são apoiadas por profissionais) ou por considerar que
é demasiado difícil para si, procure ajuda. Para o efeito
existe a nível dos Centros de Saúde uma consulta de
Desabituação Tabágica.

10 Enfermagem e o Cidadão
O que
nunca
pensei
sentir
Situada em plena Serra da Lousã
e envolta num belíssimo manto ver-
de e azul turquesa, devido à
extensíssima floresta de pinheiro bra-
vo e eucalipto e à Barragem do Cabril,
está um dos concelhos mais isolados
do país – a Pampilhosa da Serra. Foi
aqui, a cerca de 90 Km de Coimbra,
onde estive a trabalhar, mais concre-
tamente no Lar da Santa Casa da
Misericórdia desta vila, que conta com
150 utentes inscritos, excluindo qua-
se outros tantos espalhados por 5
Centros de Dia (Cabril, Fajão, Pes-
segueiro, Porto de Vacas e Machio) e
em Apoio Domiciliário. A minha pre-
sença não foi longa, mas o momento
da saída despoletou em mim um tur-
bilhão de emoções e sentimentos
que, até então, nunca tinha imagina-
do que pudesse vir a sentir.
Desde o primeiro diálogo que tive
com o Sr. Provedor e o Director Téc-
nico do Lar que me apercebi, apenas

tr a
pelas suas palavras, quão importan-

ou
te era a presença de um enfermeiro

Um a .
a tempo inteiro numa instituição des-
te tipo. Efectivamente, não demorei
muito tempo a perceber que era bem

..
verdade!

gem
Considerando o Cuidar uma ca-

Enferm a racterística única da enfermagem,


que envolve determinadas acções no
sentido de favorecer potencialidades
para melhorar ou manter a condição
humana, penso ser interessante dar
a conhecer um pouco do meu dia-a-
dia que, para grande surpresa minha,
revelou ser bastante enérgico e dinâ-
■ MARIA INÊS LEMOS DOS SANTOS mico. Assim, das actividades previa-
ENFERMEIRA, HOSPITAL GERAL DO CENTRO HOSPITALAR DE COIMBRA mente marcadas no dia anterior (ava-

Enfermagem e o Cidadão 11
liação de glicémias capilares, pensos, administração de os utentes. Lembro-me de uma senhora, na casa dos 50
terapêutica injectável, mudança de sondas vesicais ou anos, com Esclerose Múltipla num estado já muito avan-
nasogástricas...), surgiam sempre imprevistos, como son- çado da doença. Não falava, mas todos os outros senti-
das vesicais não funcionantes, hipo ou hiperglicémias ou dos funcionavam na perfeição. Quando entrava no seu
tensões arteriais que urgiam ser resolvidas, quedas, vó- quarto, recebia-me com um enorme sorriso e mexia os
mitos, diarreias, cefaleias, febres, entre outras situações, lábios, tentando verbalizar um “bom dia”. Entre ambas,
que resolvia de forma prioritária e com bastante autono- arranjámos uma espécie de código para nos fazermos
mia, uma vez que o médico de Clínica Geral do Lar só se entender – se queria que lhe aspirasse um pouco o nariz,
encontrava na instituição duas vezes por semana, de tar- franzia a boca e virava-a para cima; para parar, o movi-
de. Nesses dias, estava presente durante as consultas mento contrário, dois exemplos entre outros sinais que
médicas e, com frequência, era eu quem levava os utentes fomos arranjando, ambas, ao longo do tempo.
ao consultório e explicava a sua situação, alguns por Embora esta seja uma situação que me marcou pro-
embaraço perante o médico, outros por não serem capa- fundamente, houve outras que relembro frequentemente
zes de verbalizar o que sentiam e, outras vezes, por nem e que também me fazem pensar. Desde aquela utente
saberem que tinham efectivamente um problema... que nunca sorria, mas depois de lhe fazer o penso à per-
Mas esta era apenas a parte técnica. Pressupondo que na tirava um rebuçado do bolso e mo oferecia, uma outra
Cuidar também é comunicar, entende-se que o conhecimen- que teimava que aquele era o dia em que ia morrer mas
to da pessoa implique a existência de um ser único e após lhe fazer a avaliação da tensão arterial sentia-se
indissociável do seu meio. Deste modo, a atitude que se imediatamente melhor e insistia em dar-me um beijinho,
assume perante a pessoa que se cuida, sempre vista como a outra que sempre que eu passava no corredor lançava-
um todo (possuidora de corpo, mente e espírito) é crucial. me um enorme sorriso, dava os bons dias, juntava as
Assim, o que mais saliento da minha actividade foi, suas mãos e, por fim, dizia: “Minha santinha!...”.
indubitavelmente, a relação comunicacional que estabeleci E foram muitas mais as histórias que tenho gravadas
não só com os utentes, mas também com as suas famílias. na minha memória, ao longo dos dias que estive naquela
No que concerne a esta última, ela pode ser tão ou instituição. Embora não tenha sido por um período de tem-
mais terapêutica do que qualquer tratamento médico. po prolongado, foi o suficiente para perceber que o que
Quando um utente tinha visitas, ficava muito sorridente, as pessoas realmente querem e precisam, quer sejam
não tinha dores nem o mal-estar que o perturbava há dias idosos ou não, é de alguém que cuide delas no seu meio,
e, à mínima possibilidade, contava-me que tinha vindo que olhe para elas e que lhes dê um pouco de atenção,
alguém visitá-lo. Contudo, nem todos recebiam estes compreensão e mimo!
elixires... Por vezes, a situação invertia-se e eram os fa- Para estes idosos, basta um sorriso, uma palavra
miliares que me procuravam, para desabafar e confirmar meiga, um gesto carinhoso para entrar no seu coração e
o estado terminal de algum utente, ou simplesmente para para mim, eles nunca mais sairão da minha memória. São
perguntar que mimos (comida, entenda-se) podiam tra- 150 seres humanos, carentes de afecto, isolados do mun-
zer a outro, diabético. do que me marcaram indubitavelmente para sempre, pes-
Todavia, quem mais recordo são, indiscutivelmente, soal e profissionalmente.

12 Enfermagem e o Cidadão
ACIDENTES NA CRIANÇA
r e v e n i r ? . . .
co m o p ■ ENF. ALICE QUINTAS
CENTRO REGIONAL DE SAÚDE PÚBLICA DO CENTRO

Estudo realizado pelo Centro Regional de Saúde Pú- Prevenção da Asfixia:


blica do Centro sobre os acidentes ocorridos na Região As crianças não devem usar fios ao pescoço, nem
Centro, no ano 2003, em crianças e jovens até aos 18 para prender a chupeta;
anos, revelou que ocorreram 9709 acidentes, em que 7841 Deitar o bebé de lado ou de costas;
dizem respeito a acidentes domésticos e de lazer e 1869 Os brinquedos devem ser suficientemente grandes
a acidentes de viação, dando uma média de cerca de 20 para evitar serem engolidos ou aspirados para os pul-
acidentes por dia. Dos Acidentes rodoviários resultaram mões. Ter o tamanho “seguro” significa ter, no mínimo,
28 mortos e 140 feridos graves. Apesar destes números um diâmetro superior a 32mm. Antes de comprar um brin-
serem alarmentes, ainda não correspondem à realidade, quedo leia sempre as indicações;
em virtude de os dados só representarem os acidentes Atenção às partes soltas ou destacáveis dos brinque-
que necessitaram de tratamento hospitalar, o que signifi- dos e aos fios compridos que possam sufocar a criança;
ca que na realidade o número de acidentes deverá ser Nos brinquedos a pilhas, verificar se o compartimento
muito superior. para as pilhas está completamente vedado e inacessível
Pelos dados apresentados é possível concluir que a aos dedos da criança;
sinistralidade nas crianças e jovens é um problema que Nunca dar à criança sacos plásticos para brincar;
urge enfrentar e diminuir a todo custo, não só pelas vidas Atenção à introdução de corpos estranhos (areia,
que ceifa e sequelas permanentes que ocasiona, mas limalhas, botões, moedas, amendoins, feijões, caroços
também pelas situações de grande sofrimento e perda etc..) na boca e nariz;
que representa para a família. Estima-se que, por cada Evitar vestir à criança roupas com botões à frente;
criança que morre, outras cinco ficarão com sequelas Guardar as guloseimas longe do alcance da criança e
permanentes. cuidado com as chicletes, pipocas e rebuçados;
Assim, é necessário encontrar respostas adequadas que Atenção a objectos pequenos (como brinquedos dos ir-
permitam mudar mentalidades e criar condições para que mãos mais velhos que podem estar espalhados pelo chão).
estes números não se repitam e decresçam rapidamente.
Na prevenção dos acidentes o papel dos pais e de Os acidentes por quedas constituem a 4ª causa de
quem cuida de crianças é fundamental, pela forma como morte nas crianças até aos 14 anos, na União Europeia
protegem a criança, pelo que ensinam e principalmente
pelo que praticam. Prevenção de quedas:
No sentido de contribuir para a promoção da segu- Nunca deixar o bebé sozinho em cima da cama,
rança das crianças, aqui ficam algumas recomendações sofá, ou outro local, nem que seja por um segundo; a
para Prevenir os Acidentes mais frequentes nas crianças criança pode rebolar, mesmo não se virando ainda
dos 0 aos 3 anos. sozinha;
Não deixar irmãos pequenos a tomar conta da criança;
Portugal ocupa o 4º lugar entre os países da União No carrinho de passeio, não se esqueça de prender a
Europeia com a taxa mais elevada da sinistralidade criança com o cinto e travar o carrinho quando estiver
rodoviária. parado;
Antes da criança começar a gatinhar, colocar cance-
Prevenção dos Acidentes Rodoviários: las nas escadas no primeiro e último degrau;
A prevenção dos acidentes começa à saída da Mater- Proteger portas que dêem acesso a varandas, terra-
nidade, com o transporte do bebé numa cadeira própria, ços ou à rua, com cancelas e fechos de segurança;
adequada ao peso, à idade, aprovada segundo as nor- Quando tiver as janelas abertas, bloqueie-as com um
mas europeias e instalada de acordo com as instruções dispositivo adequado de forma a não permitir que abram
de montagem. mais de 10cm;
A criança no automóvel deve ser sempre transporta- Nunca utilizar andarilhos (“aranhas voadoras”). Os
da na cadeira, nem que seja para um curto passeio como andarilhos para além de serem muito perigosos não aju-
por exemplo ir ao café. dam a andar mais cedo, pelo contrário;
Retirar a criança do carro sempre pelo lado do pas- Colocar o cinto à criança quando a sentar na cadeira
seio e nunca pelo lado da via pública. de refeição e nunca a deixar sozinha;

Enfermagem ee oo Cidadão
Enfermagem Cidadão 13
13
A cadeira deve ser estável e estar sempre encostada Nunca arrumar produtos tóxicos junto de produtos
a uma parede, de forma a não poder cair para trás se inofensivos;
outra criança se pendurar ou se a criança tentar empur- Não utilizar embalagens vazias para guardar outros
rar a mesa com os pés; produtos;
Se usar cadeira de encaixar na mesa, esta deve bem Só ter em casa os remédios e os produtos tóxicos
fixa e a mesa deve ser estável, pesada e o tampo não absolutamente necessários e fechados à chave;
pode ser de vidro. Não tomar remédios na frente da criança, pois a cri-
ança tenta imitar o adulto;
Em Portugal, segundo um estudo da APSI, estima-se Sempre que comprar produtos tóxicos ou corrosivos,
que morrem 30 crianças por ano devido a afogamento escolher aqueles que possuam tampa de segurança. Em
caso de intoxicação ligar imediatamente para o Centro
Prevenção do Afogamento: de Antivenenos Telefone 808 250 143
Nunca deixar a criança sozinha na banheira, mesmo
que a quantidade da água seja muito pequena, pois bas- Os acidentes por queimadura, são a 5ª causa de
ta meio palmo de água para uma criança se afogar; morte na infância, na União Europeia.
Nunca deixar a criança sozinha nas piscinas insufláveis
de uso doméstico; Prevenção de Queimaduras:
Colocar tapete antiderrapante no fundo da banheira; Nunca cozinhar com a criança ao colo;
Usar coletes de salvação homologados, não insufláveis Virar as pegas dos tachos, panelas e frigideiras para
sempre que a criança vai para o mar lagos e rio; a parte interior do fogão;
Usar braçadeiras em águas paradas e transparentes Guardar os fósforos e os isqueiros em local onde a
como piscinas ou tanques; criança não chegue;
Iniciar aulas de natação o mais precoce possível; Ter atenção à temperatura da água do banho e dos
Nunca deixar a criança sozinha perto do mar, pisci- alimentos;
nas, lagos ou tanques. Eliminar todos os fios soltos, extensões e fichas triplas;
Usar protectores de tomadas;
Prevenção de Intoxicações: Proteger as crianças das lareiras, radiadores e outras
Manter os medicamentos, produtos químicos e de lim- fontes de aquecimento;
peza em segurança, bem rotulados e bem fechados, fora Desligar os electrodomésticos logo após a sua utiliza-
do alcance das crianças; ção e enrolar os fios eléctricos.

Nunca se esqueça que com as crianças todo o cuidado é pouco!..


e com um simples gesto pode salvar-se muitas vidas!..

DIA INTERNACIONAL DO
ENFERMEIRO (DIE) – 12.05.05
Estando prevista a realização das comemorações nacionais
do Dia Internacional do Enfermeiro (DIE) para o dia 12.05.05 na
região centro, somos a salientar que o tema eleito pelo Conselho
Internacional de Enfermagem “Falsificação de medicamentos”,
será no Dia Internacional do Enfermeiro, abordado em Portugal,
pela responsabilidade da Ordem dos Enfermeiros e outras enti-
dades com tratamento da “Segurança dos Doentes e Gestão do
Regime Terapêutico”.
As comemorações nacionais realizam-se em Viseu, embora se
preconizem outras actividades nos vários distritos da região centro
e em todo o país, por isso reúna ideias e propostas de iniciativas
para os vários distritos associados ao tema e envie para Ordem
dos Enfermeiros – Secção Regional do Centro – Av. Bissaya
Barreto 191 C/v 3000-076 Coimbra ou atráves do fax: 239 487
819 Email:srcentro@ordemenfermeiros.pt.
Contamos consigo nos debates, exposições e
outras iniciativas.
Celebre este dia connosco!

14 Enfermagem e o Cidadão
A Associação APELO
chega a Coimbra
A Ordem dos Enfermeiros – Esta apresentação mereceu o luto, grupos de aconselhamento
Secção Regional do Centro parti- apoio da Câmara Municipal de terapêutico e grupos de entreajuda.
cipou nos dias 2 e 10 de Março de Coimbra, representada pelo Sr. As consultas de aconselhamento
2005 na apresentação à comuni- Vereador Mário Nunes, da Asso- psicológico irão funcionar na sede
cação social e aos cidadãos de ciação Portuguesa de Pais e Ami- da APPCDM (Av. Dias da Silva, 10
Coimbra da Associação de Apoio gos do Cidadão Deficiente Mental em Coimbra), e todas as primeiras
à Pessoa em Luto (APELO). (APPACDM), representada pela quartas-feiras de cada mês, já a
Trata-se de uma Associação de Dra. Helena Albuquerque, e da Or- partir de Maio, haverá sessões com
pessoas solidárias com quem se dem dos Enfermeiros – Secção um grupo de aconselhamento.
encontra em luto, pretendendo-se Regional do Centro, representada A Ordem dos Enfermeiros – Sec-
ajudar a pessoa e a família na sua pelo Sr. Enfermeiro Amílcar de ção Regional do Centro assume-se
perda, a vivê-la de modo saudá- Carvalho. como parceiro da APELO no desen-
vel porque “o primeiro passo do Dos serviços prestados pela volvimento das suas actividades
processo do luto é a expressão APELO destacam-se o apoio tele- associativas junto dos enfermeiros
das emoções” de acordo com o fónico através dos números e dos cidadãos da região centro,
Presidente desta associação o 963084342 ou 918482838, atendi- conforme salientado pelo Presiden-
Professor Universitário José mento personalizado, consultas de te da Secção Regional do Centro
Eduardo Rebelo, que escreveu o aconselhamento psicológico feitas da Ordem dos Enfermeiros na apre-
livro “Desatar o nó do luto”. por especialistas em psicologia do sentação desta Associação.

O Conselho Directivo Regional do Centro

Enfermagem e o Cidadão 15
Também nos parecia mentira!
E agora… continuidade ou mudança?
■ ANTÓNIO MARIA DE ATALAIA
E quando o PS, em campanha afir- por quem votou recentemente no sen-
Portugal tem um novo governo e mava que defendia o acesso à saúde tido de um Portugal mais competitivo
um Ministro da Saúde repetente! para todos, em equidade, o SNS, lem- e mais social, consideramos que as
Bem, mas como todos sabemos a bram-se todos que, afastava o fantas- mudanças na saúde a operar de-
saída do Ministro não foi por ter fica- ma de uma política de saúde à direita vem conduzir à correcção da rota,
do mal nas provas de Ministro, foi ou ao centro, desvalorizando a cha- sempre que esta nos esteja a colocar
porque o responsável da equipa de- mada ao governo de liberais com pro- fora do rumo certo, do espaço de diá-
cidiu abdicar de governar o país! vas dadas e de opiniões menos soci- logo, da valorização dos actores da
Considerado um conhecedor da ais, que eram associadas a indepen- saúde, sejam trabalhadores, cidadãos
saúde, uma pessoa com ideias, foi dentes. ou parceiros. Neste contexto, entre as
mesmo nos jornais, já sem ser Minis- Construído o governo e dado que medidas que se esperam do Ministro
tro, que teve as melhores posições parece haver perfis para todos os gos- da Saúde, lembramos a revogação
para a saúde e para a enfermagem. tos, desejamos como sempre defen- ou alteração do despacho de 15 de
Já lá vão 3 anos!… demos que, devem ser as políticas a Março sobre a regulamentação dos
Com tantas desgraças na saúde, fazer a diferença face ao passado e cuidados continuados, em especi-
em grande parte da responsabilidade não só as pessoas, embora delas se al por excluir o prestador destes
dos governantes, lembramo-nos das espere dedicação, honestidade, trans- cuidados por excelência – o enfer-
promessas, das descontinuidades, dos parência, competência, lealdade à de- meiro. Quem conhece o trabalho e a
negócios da privada, das nomeações mocracia, aos princípios constitucionais importância do papel dos enfermeiros
com critérios dúbios, da ênfase na do- e à organização social. É com estas ex- nesta resposta aos cidadãos certa-
ença, foram tantas coisas más, que as pectativas que se espera que a Equi- mente que também diria este des-
coisas boas se perderam no meio de pa Governativa da Saúde saiba ou- pacho parece mentira!
tanta falta de preocupação social e de vir e responder aos cidadãos – fa- Parafraseando um colega de par-
sentido de Estado. Com todo este ce- lando verdade e apresentando medidas tido do anterior Ministro era caso para
nário até quase nos esquecíamos que com futuro; saiba ouvir e trabalhar dizer oh sr (dr) Pereira nem na hora
o Professor Correia de Campos, a com os trabalhadores da saúde - da despedida teve encanto!
quem desejamos um bom mandato, promovendo dinâmicas de equipa e Professor Correia de Campos, os
acarinhou a liberalização da saúde, sinergismos pela valorização das portugueses esperam de si entre ou-
deliberou favorável à nomeação dos especificidades; saiba defender o sec- tras coisas, que potencie as capacida-
membros das Administrações Hospi- tor da saúde – saneando-o do des do SNS e dos trabalhadores da
talares, sem discussão prévia de pro- parasitismo de outros sectores ou enti- saúde, entre eles os enfermeiros. Este
gramas e sem serem sufragados pe- dades e dos interesses financeiros sem derradeiro despacho do seu antecessor
los trabalhadores das organizações; valor acrescentado para a maioria dos não salvaguarda o interesse público e
que não condenou de forma clara as portugueses. as competências dos enfermeiros, pelo
iniciativas de destruição do SNS em Expressa a nossa vontade de que estou convicto não vai deixar de
curso, etc, etc, etc. mudança, que julgamos corroborada repor a legalidade devida.

XVII GOVERNO CONSTITUCIONAL


■ FOTOS: REVISTA VISÃO N. 627

António Costa Freitas do Amaral Luis Amado Alberto Costa Francisco N. Correia Manuel Pinho Jaime Silva Mário Lino
Estado e Adm. Interna Estado e Neg. Estrangeiros Defesa Nacional Justiça Amb. Ord. Território Economia e Inovação Agric. Des. Rural Obras Púb. Trans.
e Desen. Regional e Pescas e Comunicações

José Socrates Luís Campos e Cunha Pedro Silva Pereira Vieira da Silva Correia de Campos Maria de Lurdes Mariano Gago M. Isabel Augusto S. Silva
Estado e Finanças Pres. Conselho de Min. Trab. e Sol. Social Saúde Rodrigues Ciência Tec. Pires de Lima Min. Assuntos
Primeiro-Ministro Educação Cultura Parlamentares
e Ens. Sup.

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