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UMA BREVE REFLEXÃO A RESPEITO DAS TEORIAS

GEOMORFOLÓGICAS

Saulo Roberto de Oliveira Vital1


Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

As teorias geomorfológicas fazem parte de um campo conceitual extremamente


importante para o estudo da Geomorfologia. Os diversos postulados elaborados desde o inicio
dos estudos geomorfológicos até a atualidade são relevantes para a compreensão da formação
do relevo e de sua relação com ação antrópica, na atualidade. Deve-se levar em consideração
que, tais teorias foram elaboradas sem levar em conta esta atual realidade, isto é, a capacidade
que o homem tem em modificar o meio.
Para os geógrafos, torna-se de extrema importância o aprofundamento no
conhecimento destas relações, pois a Geomorfologia consiste num excelente campo de análise
entre os fatores antrópicos e naturais, sobretudo àqueles ligados a construção da superfície
terrestre. A compreensão da evolução do relevo gera subsídios para o entendimento dos
processos que ocorrem na superfície terrestre e, consequentemente, para a realização de
estudos ambientais, ao passo que a morfologia terrestre comporta a maioria dos seres vivos.

Teoria do ciclo geográfico (Willian Morris Davis)


A teoria proposta por William Morris Davis apresenta uma concepção finalista
sistematizada na sucessão das formas de um ciclo ideal conforme descreve Christofoletti
(1998). Este modelo teórico se apóia na elaboração de três fases no processo de evolução do
modelado terrestre: a juventude, maturidade e senilidade, podendo retornar novamente a uma
fase de juventude através de movimentos epirogenéticos caracterizando um processo de
rejuvenescimento do relevo. Esta visão baseia-se nas áreas temperadas úmidas que se
desenvolve sobre as chamadas fases antropomórficas comparando a evolução do relevo aos
estágios da vida humana.
Os processos principais deste ciclo apresentam-se através do desenvolvimento das
seguintes etapas:
 Processo denudacional iniciado pela emersão e surgimento de massas
continentais.

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Bacharel em Geografia, mestrando em Geografia Física, PPGEO/UFPE. saulo.geografia@gmail.com
 Atuação do sistema fluvial no entalhamento dos talvegues originando diversos
canyons.
 A partir do entalhamento do talvegue o rio caminha rumo a um perfil de
equilíbrio, caminhando orientado pelo nível de base onde a drenagem não
erode nem deposita.
 Por fim, o entalhamento produz nas vertentes desmoronamentos e
ravinamentos surgindo uma topografia de colinas.
Vale ressaltar que, uma das lacunas deixadas por essa teoria reside exatamente na
consideração do sistema fluvial como agente determinante, sem considerar outros fatores
como decisivos na evolução e gênese do relevo.
Todo este processo desenvolve-se por meio da erosão remotante que consiste no “[...]
trabalho de desgaste feito de jusante para montante, ou seja, da foz para a cabeceira do rio”
(Guerra, 1989, p.159).
Após este processo temos o período da maturidade que se caracteriza por uma
estabilidade tectônica. Diminuindo o ritmo da erosão linear as vertentes se alargam e a
declividade diminui (Christofoletti, 1980). Neste momento ocorre uma horizontalização
topográfica.
Na fase da senilidade temos a “sucessão de colinas rebaixadas, cobertas por um manto
contínuo de detritos intemperizados e separados por vales com fundo largo” (Christofoletti,
1980, p.162), formando o que denomina-se de peneplanícies, termo que designa uma
superfície aplainada com leves ondulações originária de áreas temperadas úmidas. Isso
demonstra um período onde o relevo apresenta formas predominantemente aplainadas, pronto
para a execução de um novo ciclo a partir de um movimento epirogenético e a conseqüente
quebra da estabilidade tectônica.

Teoria da pediplanação (Lester King)


De acordo com Ross (1991) a teoria da pediplanação, se baseia no principio da
atividade erosiva desencadeada por processos de ambientes áridos e semi-áridos com a
participação dos efeitos tectônicos, elaboradas ao longo do tempo em diferentes níveis. Nesta
teoria, os soerguimentos de caráter epirogenéticos são decisivos.
Diferentemente da visão davisiana os estudos de King desenvolveram-se apoiados em
áreas de clima árido e semi-árido.
Essa interpretação apóia-se na teoria de que nas áreas tropicais e
subtropicais os climas alteram-se de áridos e semi-áridos para quentes
e úmidos em contraposição ás áreas e periglaciais em que os climas
alteram-se em períodos glaciais e interglaciais úmidos”. (Ross, 1991,
p.26)

O principal ponto desta teoria geomorfológica repousa na formulação do chamado


recuo paralelo das vertentes, conceito que se contrapõe a visão de Davis, pois afirma que o
processo de erosão ocasiona o recuo das vertentes sem que haja perda de sua declividade ou
inclinação de seu knic2.
Conforme (Casseti, 1994, p.42), o processo que envolve o recuo das vertentes é
acompanhado de um ajuste isostático:

Como se sabe, a crosta interna é constituída de silicatos de magnésio,


razão pela qual é conhecida como sima, ao passo que externa, de
densidade inferior, é representada por silicatos de alumínio sial [...] o
sial flutua sobre o sima [...] refletindo numa acomodação operada em
profundidade. Assim a parte elevada, submetida à erosão, sofre um
alívio de carga, que é contrastado pela subsidência gerada pelo
material depositado. Essa diferença resulta em acomodação isostática,
que por sua vez origina degraus topográficos [...]

Este processo cria depósitos de sedimentos correlativos que geram pediplanos


embutidos.
O modelo de King não estabelece um nível de base geral, ao contrário, propõem um
nível de base local ou regional sem que necessariamente seja o nível marítimo, o que
desconsidera os períodos glaciais e inter-glaciais no tocante à sua atuação e participação no
processo de elevação do nível do mar. Na visão davisiana este processo interferiria bastante
nos níveis de erosão local.

Perfil de Equilíbrio (Surrel)


Dentre as várias contribuições que auxiliaram na evolução nas discussões a respeito
das teorias geomorfológicas, temos o postulado de Surrel, que definiu o perfil de equilíbrio
das drenagens. De acordo com Surrel o perfil de equilíbrio consiste no ponto máximo da ação
erosiva.

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Ângulo formando entre o sopé do inselberg e sua superfície pediplanizada
Na visão davisiana, o nível de base consiste no “ponto limite abaixo do qual a erosão
das águas correntes não pode trabalhar, constituindo o ponto mais baixo a que o rio pode
chegar [...] O nível de base geral de todos os rios é o nível do mar.” (Guerra, 1989, p.303).
Contrapondo-se a visão do ciclo geográfico, o principio da pediplanação de King
apresenta níveis de bases locais e regionais sem necessariamente acoplá-lo a um nível geral,
relacionado ao nível do mar. Isto opõe a visão de Davis quando o próprio afirma que, ao longo
da história geológica os períodos de oscilações climáticas interferiam diretamente na ação
erosiva devido a oscilação marinha, já que o perfil de equilíbrio caminha rumo a ação máxima
erosiva baseada no nível de base.
Outra contribuição importante é a de Gilbert, que definiu princípios como: declividade
(as maiores declividades são encontradas próximas ao topo, estando diretamente ligada a
inclinação da vertente), estrutura (dureza da rocha) e divisores. Estes princípios nortearam
muitos pensamentos ulteriores, contribuindo para definição das mais variadas teorias no
campo de estudo da Geomorfologia.
Voltados a este aspecto, apresentam-se os estudos da escola alemã iniciados por
Humboldt e Richthofen, os quais tiveram uma contribuição substancial para as formulações
de W. Penck. Esta visão apóia-se em três elementos: os processos exogenéticos,
endogenéticos e os processos decorrentes dos anteriores, que podem ser chamados de feições
atuais da morfologia.
Neste aspecto, a Geomorfologia Climática estuda a relação da zonalidade climática e o
relevo, estabelecendo assim as zonas ou domínios morfoclimáticos sem desconsiderar os
outros fatores.
No Brasil o geógrafo Aziz Ab’Saber, baseando-se nesta visão, determinou os domínios
morfoclimáticos, tendo este, grande influencia davisiana. De modo que, as influências
litológicas são pouco consideradas, ocasionando uma lacuna vazia em suas análises.
[...] Percebe-se assim, que a tônica da interpretação geomorfológica
passa a ser a correlação da tipologia do modelado com os processos
denudacionais influenciados pelos diferentes tipos climáticos e
coberturas vegetais, onde se combinam os fatores ligados à alteração
físico-química das rochas de um lado e o desgaste erosivo das águas
correntes, geleiras, oceanos e ventos, de outro (Ross, 1991, p. 24)

Pode-se dizer que esta interpretação resume-se em: tipos de relevos, tipos climáticos e
cobertura vegetal alterados pelas ações físicos químicas e o conseqüente desgaste erosivo
pelos fatores externos.
A teoria do equilíbrio dinâmico (Hack)
Proposta por Hack, chamada de Teoria do equilíbrio dinâmico baseia-se inteiramente
na concepção sistêmica do meio ambiente, tendo como “principio básico o entendimento de
que o ambiente natural encontra-se em estado de equilíbrio, porém não estático, graças ao
mecanismo de funcionamento dos diversos componentes do sistema [...] sendo, portanto
entendida pela funcionalidade na entrada de fluxo de energia no sistema que produz
determinado trabalho”. (Ross, 1991, p.26).
Conforme Christofoletti (1980), “a teoria do equilíbrio dinâmico baseia-se num
comportamento balanceado entre os processos morfogenéticos e a resistência das rochas, e
também leva em consideração as influencias diástroficas na região”.

Contribuição Soviética e o Mapeamento Geomorfológico


O mapeamento geomorfológico realizado pelos pesquisadores da escola soviética,
consiste numa ferramenta de tamanha utilidade para a execução de diagnósticos ambientais e
conseqüentemente nas ações de planejamento. No entanto, esta visão deixou uma lacuna
conceitual e metodológica durante muito tempo.
Isto ocorreu, pois nos estudos da cartografia geomorfológica soviética desprezava-se o
fator estrutural em relação ao escultural ou vice versa, tendo como resultado uma carta que,
regra geral, voltava-se a tão somente um dos aspectos citados.
Através das contribuições da escola soviética, criaram-se então os conceitos de
morfoescultura e morfoestrutura, importantíssimos para o desenvolvimento da Geomorfologia
atual.
Deste modo, as morfoestruturas são grandes conjuntos resultantes dos agentes
internos, basicamente correspondendo a formas grandes da superfície. Enquanto as
morfoesculturas são conjuntos resultantes dos agentes externos e correspondem a formas
pequenas da superfície e por vezes grandes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASSETI, V. Elementos de Geomorfologia. Goiânia: Editora UFG, 1994.

CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. São Paulo: Edgard Blucher, 1980.

GUERRA, A. T. G. Dicionário geológico e geomorfológico. Rio de Janeiro: IBGE, 1989.


ROSS, J. L. S, Geomorfologia, Ambiente e Planejamento, in Editora Contexto. São Paulo,
1991.

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