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Seccionamento de circuitos capacitivos de corrente alternada 03

Efeitos da presença de correntes harmônicas em circuitos com capacitores 07

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Estudo desenvolvido no Departamento Técnico da Holec Indústrias Elétricas Ltda.
Engenheiro Responsável: Silvio J. van Dijk

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SECCIONAMENTO DE CIRCUITOS CAPACITIVOS
DE CORRENTE ALTERNADA.
Uma vez que a maioria das cargas de um sistema moderno de distribuição é indutiva, há um
interesse contínuo em melhorar o fator de potência. O baixo fator de potência de cargas
indutivas interfere negativamente na capacidade de um sistema e pode, ainda, afetar o nível
de tensão. Dessa forma, a correção do fator de potência é amplamente utilizada em todos
os sistemas de tensão. Como as concessionárias cobram tarifas maiores para baixos fatores
de potência, o desempenho do sistema não deve ser o único fator a ser levado em
consideração. A instalação de capacitores para a correção do fator de potência melhora o
desempenho do sistema e reduz gastos com energia elétrica.
No descritivo técnico a seguir será dispensada uma atenção especial para os cuidados a
serem tomados na interrupção e na proteção de circuitos com capacitores, dentre as muitas
variantes que envolvem a instalação e operação corretas dos mesmos.

Interrupção através de dispositivo de seccionamento.

A figura 1 mostra o esquema básico de um capacitivo é normalmente uma tarefa fácil,


circuito capacitivo, com um dispositivo de uma vez que a magnitude da corrente é baixa
manobra para realizar sua abertura e/ou seu em comparação a correntes de falta. A
estabelecimento. corrente pode, no entanto, ser interrompida
quando a distância entre os contatos móveis
e fixos do dispositivo de seccionamento
ainda é pequena, ou seja, no início do
movimento de abertura dos contatos. Em
contrapartida, do lado da carga, o capacitor
fica armazenado com o valor de pico de
tensão e a tensão instantânea no lado da
fonte encontra-se na mesma polaridade.
O sucesso da interrupção depende da
capacidade do dispositivo em proporcionar
rigidez dielétrica suficiente para suportar a
Fig. 1. Circuito capacitivo. taxa de crescimento e o pico da tensão de
retorno. Meio ciclo depois (t3) da interrupção
A figura 2 ilustra os comportamentos da de um banco de capacitores em estrela,
corrente e da tensão em função do tempo aterrado, aparece sobre os contatos uma
para bancos de capacitores em estrela, tensão no valor de 2 vezes a tensão de pico.
aterrados, onde t 1 é o instante de A presença de uma tensão elevada pode
seccionamento do circuito. provocar uma re-ignição no ponto de
No seccionamento de um circuito ideal de seccionamento, manifestada por um pulso
corrente alternada a corrente é interrompida de corrente transitória de energização de alta
na sua passagem natural pelo zero. Em freqüência. Se no instante t3 ocorrer uma
circuitos capacitivos, porém, a tensão e a re-ignição, o capacitor tenta recuperar o
corrente encontram-se defasados entre si. valor de crista da polaridade inversa e, assim
Na passagem da corrente pelo zero (t2), o fazendo, sobrecarrega-se com o valor de
capacitor encontra-se totalmente carregado. pico da tensão presente nos seus terminais.
A interrupção inicial de um circuito Caso essa corrente fique presente no

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Fig. 2. Comportamentos da corrente e da tensão em função do tempo.

Legenda:

Un – tensão nominal do circuito


Uc – tensão do capacitor
Ua – tensão do arco elétrico sobre o dispositivo
In – corrente nominal do circuito
t1 – abertura do circuito
t2 – passagem da corrente pelo zero
t3 – primeira re-ignição
t4 – segunda re-ignição
t5 – próxima re-ignição possível

circuito, o capacitor permanecerá carregado tensão de pico. Se o processo de re-ignição,


com a tensão de pico, invertendo a seguido de uma nova extinção, tornar a se
polaridade a cada semi-ciclo. Se, por outro repetir, pode-se ter, a cada semi-ciclo,
lado, esse pulso de corrente é interrompido acúmulos de tensão no capacitor de cinco
na primeira passagem pelo zero, pode ficar (t4), sete (t5) vezes – ou mais – o valor de
armazenada no capacitor até três vezes a pico, que, por sua vez, estarão presentes

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sobre os terminais do dispositivo de Proteção de capacitores e bancos de
seccionamento. capacitores.
Bancos de capacitores em estrela, não
aterrados, sujeitam o dispositivo a tensões As normas IEC 60269-1, 60269-2 e 60269-2-1
de retorno ainda maiores que as 2 vezes não apresentam exigências ou testes de
observadas para bancos aterrados: verificação de serviço para fusíveis utilizados
a- 2,5 vezes na primeira fase a abrir em circuitos contendo basicamente
quando as outras duas fases abrem capacitores. Fusíveis tipos gG (IEC 60269-2-1)
na primeira passagem pelo zero; têm sido utilizados, na prática, por muitos
b-3,0 vezes na primeira fase a abrir anos, para proteção contra curto circuito
quando as duas outras fases em circuitos com capacitores. No entanto,
demoram a abrir; o funcionamento confiável de um fusível gG
c- 4,1 vezes na primeira fase a abrir em tais aplicações requer sua seleção correta
quando uma das outras duas fases com respeito às seguintes considerações:
demora a abrir. a- Altas correntes de pico de até 100
A re-ignição de um dispositivo de vezes a corrente nominal do
seccionamento utilizado em um banco de capacitor, no momento do
capacitores pode resultar em altos picos de estabelecimento do banco;
tensão, provocando sobrecargas severas de b-Corrente de regime permanente de
energia ou danos ao próprio dispositivo, se até 1,5 vezes a corrente nominal do
não estiver protegido de forma adequada. capacitor;
Para tanto é desejável escolher um c- Aumento da tensão de trabalho
dispositivo que minimize a possibilidade de durante períodos de baixa carga
re-ignição. Se houver a possibilidade de (1,2Un por 5 minutos);
ocorrer uma re-ignição, é aconselhável d-Tolerâncias de capacitância (e,
proteger o equipamento com um elemento conseqüentemente, da corrente de
de proteção de capacidade apropriada. A operação) de +15%;
proteção pode ser dimensionada baseando- e- Flutuação da tensão de serviço
se na energia associada à re-ignição. Se (1,1Un por 8 horas).
houver a possibilidade de a capacidade Correntes de pico podem fundir ou deteriorar
nominal de energia suportável pelo elemento o elo fusível e então levar à atuação
vir a ser excedida, um elemento com alta prematura do fusível. Dificuldades também
capacidade suportável, com um nível mais podem ocorrer no caso de sobrecorrentes
baixo de proteção contra sobrecarga, pode do capacitor iniciarem a operação do fusível,
ser utilizado na proteção de bancos de já que a carga residual de capacitores causa
capacitores. uma alta taxa de aumento e de amplitude
da tensão de retorno, o que pode levar a
múltiplas re-ignições do arco e impedir a
Interrupção através de fusível. extinção adequada. A corrente de regime
permanente máxima de 1,5In pode causar o
O processo descrito pode ser estendido para sobreaquecimento dos fusíveis e dos cabos
a situação em que um fusível é utilizado para de conexão. A corrente nominal do fusível
fazer a interrupção de um circuito capacitivo, deve então ser selecionada de forma que:
podendo, nessa situação, o fusível estar a- As correntes de pico (no
sujeito a re-ignições e, conseqüentemente, estabelecimento) não fundam ou
vir a ser submetido a altos picos de tensão. deteriorem o elo fusível;

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b- Sobrecorrentes potenciais não levem Devido às tensões de sobrecarga, durante
ao sobreaquecimento de fusíveis e os períodos de baixa carga, a tensão nominal
cabos de conexão; do fusível deve ser no mínimo 1,3 vezes
c- Sobrecorrentes potenciais não levem maior que a tensão nominal da capacitor.
à operação prematura dos fusíveis. Como regra geral, fusíveis para a proteção
A corrente nominal de fusíveis tipos gG é de capacitores devem ser – até onde seja
por isso selecionado em 1,6 a 1,8 vezes a economicamente viável – sobredimensiona-
corrente nominal do capacitor ou banco de dos com respeito à corrente e à tensão
capacitores. Nessas condições o fusível nominais. Um cuidado especial deve ser
proporciona uma proteção confiável contra tomado com pequenas unidades de
curtos circuitos dos capacitores. A proteção capacitores tendo uma corrente de pico de
contra sobrecarga – se necessária – deve estabelecimento maior com relação à sua
ser provida por meios adicionais adequados. corrente nominal.

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EFEITOS DA PRESENÇA DE CORRENTES HARMÔNICAS
EM CIRCUITOS COM CAPACITORES.
Muito se tem falado e discutido a respeito da geração de harmônicas de baixa ordem por
dispositivos que utilizam semicondutores de potência, ou seja, equipamentos de
comportamento não linear, tais como inversores de freqüência, controladores de potência
tiristorizados, soft starters, conversores CA/CC, fontes de alimentação chaveadas, etc.
Todos estes dispositivos, largamente utilizados na indústria e que agora já adentram em
maior quantidade no ambiente doméstico, consomem da rede elétrica correntes deformadas.
Essas correntes deformadas podem, por sua vez, ser decompostas em uma somatória de
ondas senoidais puras de várias freqüências e amplitudes, múltiplas da freqüência da rede –
as chamadas harmônicas de corrente.
As características da carga determinarão as freqüências e amplitudes destas correntes
harmônicas, cabendo ao fabricante do equipamento especificá-las.
Os efeitos das harmônicas podem ser percebidos em todo o sistema elétrico. Sua influência
afeta o desempenho de motores e geradores, transformadores, cabos de alimentação,
capacitores, equipamentos eletrônicos, aparelhos de medição, relés de proteção e fusíveis,
chaves seccionadoras, etc.
O presente artigo limitar-se-á ao dimensionamento de cabos de alimentação, quando levada
em consideração a presença de harmônicas de corrente, e também aos inconvenientes que
correntes de alta freqüência podem gerar nos cabos e em bancos de capacitores.

Sobreaquecimento de cabos devido ao efeito pelicular.

Como conseqüência do campo magnético


que a própria corrente gera, a corrente tem
a tendência de circular na parte mais externa
da seção do condutor.
O assim chamado efeito pelicular tem como
conseqüência que correntes harmônicas de
freqüências maiores têm uma tendência mais
acentuada de circular na parte mais externa
da seção do condutor do que correntes de
60Hz. A figura 1 mostra a distribuição da
densidade de corrente em um condutor de
seção circular para a 1ª harmônica (funda-
mental - 60Hz), a 3ª harmônica (180Hz) e a Fig.1. Distribuição da densidade de corrente em um
13ª harmônica (780Hz). O diâmetro do condutor devido ao efeito pelicular.
condutor é de 40mm (1.257mm²).
É fácil observar que correntes harmônicas grossos. Através do cálculo da chamada
maiores fazem um uso menos efetivo do espessura pelicular (d ), pode-se fazer uma
condutor em questão. análise se o efeito pelicular terá
O efeito pelicular raramente leva a algum conseqüências prejudiciais ao circuito ou
tipo de problema, uma vez que seu efeito não.
passa a ser significante em freqüências A espessura d é calculada da seguinte
extremamente altas ou em cabos muito forma:

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Dimensionamento de cabos.

Cálculo da corrente de projeto IB em circuitos


onde: d = espessura da camada [m];
com presença de correntes harmônicas.
r = resistividade do material do
São seis os critérios de dimensionamento
condutor [W.m] (Cu = 1,75x10-8,
de um circuito, de acordo com a NBR 5410/
Al = 2,78x10-8);
97, a saber: seção mínima, capacidade de
f = freqüência [Hz];
corrente, queda de tensão, sobrecarga,
m = permeabilidade do material
curto-circuito e contato indireto.
do condutor [H/m] (Cu/Al = 1,26x10-6).
Para a aplicação desses critérios é necessário
Caso a espessura da camada seja
definir-se a corrente de projeto (IB). Na
significativamente menor que “a” (fig. 2) e
prática, essa é a maior corrente prevista de
a amplitude da corrente harmônica em
circular num circuito.
questão seja significativa em relação à
O valor eficaz da corrente total resultante
fundamental, a capacidade de condução de
em um circuito percorrido por correntes
corrente do condutor deve ser reduzida.
harmônicas de ordem 1, 2, 3, 4, ..., n é
dado por:

Seja o circuito trifásico da figura 4,


percorrido pelas correntes de 1ª ordem
(fundamental), 3ª, 5ª e 7ª harmônica com
Fig. 2. Exemplos da dimensão “a”, para diferentes intensidade (valores eficazes) de 110, 57,
seções de condutores. 25 e 17A, respectivamente.
A figura 3 mostra curvas que indicam a
seção transversal e o diâmetro de
condutores de cobre que devem ser
utilizados para que o efeito pelicular não seja
significativo (aumento menor que 1% na
resistência). Note que para 780Hz o máximo
diâmetro aconselhável é aproximadamente
3,6 vezes menor do que para 60Hz. Já para
freqüências acima de 3kHz, um condutor
com diâmetro maior que 2,5mm já começa
a ser significativo em termos de efeito
Fig. 4. Circuito com três fases e neutro.
pelicular.
Nessas condições a corrente de projeto IB
será de:

Como se sabe, as correntes de ordem 3 e


seus múltiplos que circulam pelas fases
somam-se algebricamente no condutor
Fig. 3. Área de seção e diâmetro do fio de cobre em neutro. No caso em questão, temos apenas
função da freqüência da corrente. a corrente de 3ª ordem (57A).
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Desse modo, a corrente eficaz que Dimensionamento do condutor neutro.
percorrerá o neutro será: No caso do condutor neutro, para uma cor-
rente de 171A, a seção deve ser de 95mm².
Observando que, se o presente dimensio-
namento fosse realizado sem considerar a
Dimensionamento dos condutores fase. presença das harmônicas, mas tão somente
Como temos um circuito 3F+N com o valor da corrente fundamental (110A), a
corrente circulando no neutro, trata-se então seção dos condutores resultaria em 35mm².
de quatro condutores carregados que, para Neste caso, ainda, se o dimensionamento
efeito de dimensionamento de condutores, fosse feito como antigamente, a tendência
podem ser considerados como dois circuitos seria reduzir o neutro para 25mm²,
com dois condutores carregados cada um. conforme a norma NBR 5410/97.
De acordo com a norma NBR 5410/97, para Em resumo, veja a diferença entre os
uma corrente de projeto (IB) de 127A, a dimensionamentos considerando ou não a
seção dos condutores fase para a situação presença de harmônicas, apresentados na
descrita deverá ser de 70mm². tabela 1.

seção do condutor fase seção do condutor neutro


(mm²) (mm²)

considerando harmônicas 70 95

não considerando harmônicas 35 25

Tabela 1. Diferenças entre dimensionamentos considerando ou não harmônicas.

Efeitos de correntes harmônicas em circuitos com capacitores.

A inserção de capacitores em um circuito,


para a correção do fator de potência, como
mostra a figura 5, cria uma freqüência de
ressonância própria dada por :

O problema nesse caso é a possibilidade de


ocorrência de ressonâncias, excitadas pelas
harmônicas, podendo produzir níveis
excessivos de corrente e/ou de tensão. Além
disso, como a reatância capacitiva diminui
com a freqüência, tem-se um aumento nas Fig. 5. Circuito simplificado com inserção de
INDÚSTRIAS
correntes ELÉTRICASàs
relativas LTDAharmônicas
capacitores.
presentes na tensão.
As correntes de alta freqüência, que útil do capacitor.
encontrarão um caminho de menor Consideremos, ainda, o circuito da figura 5.
impedância pelos capacitores, elevarão as Suponhamos que o circuito de alimentação
suas perdas ôhmicas. O decorrente aumento possua uma reatância indutiva, a qual
no aquecimento do dispositivo encurta a vida interage com o capacitor e produz uma

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ressonância série (que conduz a um curto É, portanto, de suma importância que, ao
circuito na freqüência de sintonia). Caso a inserir um capacitor em um circuito, seja
carga gere uma componente de corrente feita uma análise da freqüência de
nessa freqüência, esta harmônica será ressonância própria do circuito comparando-
amplificada. a com as freqüências das correntes
A amplificação de correntes harmônicas de harmônicas geradas pela carga, fornecidas
alta freqüência pode causar danos de pelo fabricante do equipamento. Caso haja
grandes dimensões ao sistema, tais como a uma coincidência da freqüência própria do
deterioração de cabos, contatores, chaves circuito com a freqüência de alguma corrente
seccionadoras, etc. ligados aos capacitores, harmônica, providências devem ser tomadas
devido ao sobreaquecimento desses (variando-se a indutância do circuito, p. e.)
componentes ou, ainda, através da indução no sentido de alterar o valor de uma dessas
de correntes de alta freqüência em partes duas freqüências evitando-se, assim, danos
metálicas adjacentes, sensíveis a essa decorrentes da amplificação da corrente
interferência. harmônica.

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