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ix Seminário dos Estudantes

de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar


Universidade Federal de São Carlos
Centro de Educação e Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação em Filosofia

Reitor
Prof. Dr. Targino de Araújo Filho

Pró-Reitor de Pesquisa
Prof. Dr. Claudio S. Kiminami

Pró-Reitor de Pós-Graduação
Prof. Dr. Bernardo Arantes do N. Teixeira

Diretora do Centro de Educação e Ciências Humanas


Profa. Dra. Wanda Aparecida Machado Hoffman

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Filosofia


Prof. Dr. Fernão de Oliveira Salles dos Santos Cruz
Capa e editoraçao
Jonathan jota

arte
Linha_ponto.recorte de jonathan jota

comissão organizadora
Adriano Ricardo Mergulhão
Felipe Calleres
Prof. Dr. Fernão de Oliveira Salles dos Santos Cruz
José Luciano Verçosa Marques
Pedro Rodolfo Fernandes da Silva
Rubens José da Rocha
Wagner de Barros

Apoio

Departamento de Filosofia
e Metodologia das Ciências
Humanas UFSCar
sumário

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apresentação

O Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar é um


evento que tem o objetivo de criar um espaço acadêmico que favoreça o
debate e a interação entre os estudantes de pós-graduação em filosofia
da UFSCar e das demais universidades brasileiras, bem como divulgar a
produção acadêmica discente dos programas de pós-graduação. O evento
ocorre anualmente, nas dependências desta instituição, estando
atualmente em sua oitava edição. Além das comunicações de trabalhos
de pós-graduandos, a programação conta com palestras e mini-cursos,
ministrados por professores convidados,como forma
de enriquecer o evento.

Comissão Organizadora
Mapa do campus
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Vygotski e a Teoria Histórico-Cultural: bases conceituais
marxistas.
Abel Gustavo Garay González
UFSCAR
CAPES
Orientador(a): Prof.ª Drª Maria Aparecida Mello

A intenção desta comunicação é analisar e explicitar as


bases conceituais da Teoria Histórico-Cultural do psicólogo
e filosofo russo, Lev S. Vygotski . A Teoria Histórico-Cultural
baseia-se no Materialismo Histórico-Dialético de Marx e
tem sua fundamentação metodológica alicerçada na análise
microgenética. Os pressupostos teóricos de Marx subsidiam as
análises de Vygotski na discussão de que o ser humano não é só
estrutura biológica, mas, sim, consequência da relação histórico-
cultural, tendo o trabalho como mediador principal. Vygotski
supera o paradigma biologicista e apresenta um novo modelo de
desenvolvimento psíquico do ser humano pautado na visão de
sociedade, de homem e de conhecimento como eminentemente
social, bem como as concepções de ensino e de aprendizagem
como processos da atividade humana mediados pelas relações
humanas e da própria natureza.
Vygotski, em suas pesquisas, buscava elaborar categorias e
princípios para desenvolver uma teoria psicológica que abarcasse
o psiquismo humano, fundamentando-se no materialismo
histórico-dialético. Uma preocupação inicial nessa busca era a
de estabelecer interlocução com os psicólogos russos da época
demonstrando que a consciência e o comportamento, objetos
da investigação psicológica, não poderiam ser entendidos
18separadamente, mas como uma totalidade dialética. Sendo
assim, tinha como motivação em sua obra identificar o mecanismo
do desenvolvimento de processos psicológicos no indivíduo
(formação do Psiquismo) por meio da aquisição da experiência
social e cultural.
Vygotski é o propulsor do caráter histórico e social dos processos
psicológicos superiores (únicos dos seres humanos), ou seja, a
idéia de que esses processos, que têm a característica de alto
grau de universalização e descontextualização da realidade
empírica imediata, originam-se na vida social humana por meio
das atividades mediadoras, como são os signos e as ferramentas.
Vygotski indica que toda atividade psíquica humana acontece
em dois momentos relacionados dialeticamente, como atividade
coletiva chamada de interpsíquica e como atividade individual
chamada de intrapsíquica.
Daí a importância de analisar nesta comunicação a categoria
ontológica, psicológica e gnosiológica de Vygotski, fundamentada
no materialismo histórico-dialético de Marx.

A herança kantiana e a Revolução Copernicana do pensamento


Adriano Ricardo Mergulhão
UFSCar
CAPES
Orientador(a): Prof.º Dr.º Paulo Roberto Licht dos Santos

Pretendemos expor a natureza da representação do tempo (Zeit)


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na obra “Crítica da Razão Pura”, circunscrevendo nossa discussão
ao conjunto histórico de problemas inaugurado pela interpretação
do filósofo M. Heidegger sobre o conceito de tempo exposto
em sua obra “Kant e o Problema da Metafísica”, localizando
em sua argumentação sua convergência e contrapontos
frente à interpretação oferecida pela escola Neokantiana de
Marburgo. Assim posicionaremos, frente a frente, diferentes
tradições filosóficas historicamente definidas, o Neokantismo e
a Fenomenologia de base existencial, e a partir desta situação
promoveremos um diálogo minucioso que busca delimitar o
horizonte dentro do qual a noção filosófica de temporalidade
opera, a partir de dois diferentes níveis teóricos; A) em relação ao
projeto original de Kant e B) a partir de duas diferentes perspectivas
teóricas, tornando mais evidente quais intenções estariam ligadas
as principais vertentes filosóficas surgidas na Alemanha ao longo
século XX. A partir deste contraponto relativo à visão geral do
conceito de tempo e suas subseqüentes apropriações, desejamos
expor o desenvolvimento histórico e conceitual desta problemática,
relacionando-a ao conjunto de questões suscitadas pela proposta
de uma “Revolução Copernicana do pensamento” aos moldes
epistemológicos (dos pensadores neokantianos Cohen, Natorp e
Cassirer) e fenomenológicos (de Heidegger). Como conseqüência
da diferença de princípio existente entre as propostas destas
correntes de pensamento, a primeira vista irreconciliáveis, somos
levados a opor o neokantismo e a fenomenologia como “doutrinas”
absolutamente distintas, interessa-nos aqui demonstrar que esta
separação é muita mais tênue do que os filósofos envolvidos
desejariam admitir, podendo ser qualitativamente compreendida
como uma partilha de caminhos intelectuais, de certo modo
20 complementares em seus objetivos mais gerais, tendo em vista
que a “origem comum” destas tradições surgem a partir de um
contexto específico, o questionamento gnosiológico propiciado
por um “retorno a Kant”, que trata em última instancia de uma e
mesma problemática, a saber, a questão do ser, pois se a filosofia
fundamenta a ciência, o conhecimento do ser é a condição de
possibilidade do conhecimento do real.

Governo do outro e verdade de si: do não poder ao não saber


Alexandre Gomes dos Santos
UFSCar
CAPES
Orientador(a): Prof. Dr. Franklin Leopoldo e Silva

No curso “O governo dos vivos” de 1980, Foucault tem por objetivo


pensar a relação entre o governo dos homens e a manifestação
da verdade correlata e necessária ao poder. Foucault estuda tal
verdade na forma da subjetividade, manifestação, confissão,
discurso de verdade sobre si mesmo para um outro, mas sempre
excessiva, suplementar à utilidade economicista do conhecimento
sobre aqueles os quais se governa. Para ele, as relações entre
governo e verdade seriam anteriores ao aparecimento de
elementos como o Estado e a sociedade na análise de uma
governamentalidade racional. Assim, dever-se-ia inverter a
tradicional forma de análise política e filosófica que consistiria em
dizer “se me são dados os instrumentos teóricos necessários para
21
que eu me faça possuidor de um discurso de verdade, então, o
que posso fazer em relação ao poder ao qual me sujeito?”. Para
Foucault, a nova pergunta deve considerar a vontade do sujeito
de se desfazer da sua ligação com o poder e, daí, questionar
o que então se pode fazer do sujeito de conhecimento e da
verdade. Essa é a atitude que diz “nenhum poder existe por si!”,
ou então, “não existe legitimidade intrínseca do poder!”. Assim,
nosso objetivo consistirá em percorrer o citado curso ministrado
por Foucault com o fim de entender o que é feito do sujeito e
das relações de conhecimento quando nos valemos de uma
premissa fundamental: nenhum poder é fundado no direito ou na
necessidade.

Pressupostos epistemológicos Hume: cético ou naturalista?


pirrônico ou acadêmico?
Alexandro Fernandes
Faculdade de Educação São Luis de Jaboticabal - SP
Orientador(a): Prof.º Dr.º Fábio Rodrigo Leite

Este resumo tem por objetivo apresentar a característica real do


pensamento empregado por David Hume, enquanto identifica
os pontos centrais de sua teoria epistêmica, bem como a
pretensão de caracterizar sua filosofia diante da díade ceticismo/
naturalismo, discussão frequentemente abordada ao longo da
História da Filosofia. A partir disso, procura contrapor e conciliar a
interpretação do ceticismo Pirrônico e Acadêmico, para destacar
o ceticismo em Hume e caracterizar, no interior da filosofia cética,
qual tipo de ceticismo melhor se adapta a seu pensamento. Haja
vista, Hume é tradicionalmente caracterizado como um filósofo
cético, mas, ao longo da história, vários autores preocuparam-
se em elaborar ensaios na tentativa de rejeitar a interpretação
cética de sua filosofia, atribuindo a ela outras classificações,
dentre as quais a de naturalista: corrente filosófica que tem como
principal objetivo viver de acordo com as leis da natureza. O
que não se pode admitir. Após apresentar na Investigação sobre
Entendimento Humano (IEH), as origens dos diferentes tipos
de conhecimentos de que dispomos e as etapas nas quais eles
se processam, Hume, destina o último capítulo, precisamente,
a seção XII, intitulada “Da filosofia acadêmica ou cética”, para
evidenciar os tipos de ceticismo, e em especial uma crítica ao
ceticismo radical, denominado por ele de pirrônico. David Hume,
dessa forma, manifesta acerca do conhecimento empírico, pois
estende essa desconfiança até mesmo ao poder da razão. Por
seu turno, devido a essa postura de ataque contundente ao
ceticismo radical denominado por ele de Pirrônico, insurgem sobre
a figura do referido filósofo teorias, as quais colocam o ceticismo
de Hume como sendo algo fingido e que, também, desconhecido
por ele. Por considerarmos essas críticas equivocadas devido
à postura sistemática do filósofo, até mesmo porque, era um
profundo estudioso da Filosofia Antiga, fez-se a necessidade em
desenvolver esta pesquisa.
O ser para a morte heideggeriano e a identidade primordial
entre ser e nada
Amir Abdala
PUC-SP
CAPES
Orientador(a): Profa. Dra. Dulce Critelli

O trabalho examina a noção heideggeriana de ser para a morte no


horizonte de sua ontologia, delineada pela confluência originária
entre ser e nada. Ao longo da denominada primeira fase de sua
trajetória filosófica, o tema da morte é projetado ao plano principal
das preocupações filosóficas de Heidegger, sobretudo no estudo
intitulado Ser e tempo, quando, em sua pesquisa acerca do
sentido do ser, desenvolve-se a analítica existencial na qual se
pronuncia o ser humano como ser para a morte. Situando o tema
da finitude humana no conjunto de textos redigidos no referido
período, localizamos a morte em sua procedência ontológica, uma
vez que, evidenciada na disposição fundamental da angústia,
confronta a existência dos seres humanos com a identidade
primordial entre nada e ser, sobre a qual se estende seu leque de
possibilidades existenciais.
A singularidade do dasein revela-se plenamente quando somos
arrebatados pela disposição fundamental da angústia, que
subtraí à totalidade dos entes os seus significados convencionais,
colocando-nos face à completa ausência de suportes existenciais,
isto é, suspendendo-nos no nada. Na imensidão do nada, emerge
a possibilidade extrema e irremissível do dasein: a morte. Não se
trata da morte compreendida como acontecimento que sobrevém
do exterior, fenômeno exógeno ao dasein. Ao contrário, a
iminência da morte situa-se no núcleo do dasein, indicando o seu
não ser mais que é constitutivo de sua finitude e que remove o
seu amplo conjunto de possibilidades.
Apresentando-se como impossibilidade de todas as possibilidades,
a morte desvela a nulidade do fundamento da existência ao
acenar com a total inefetividade do dasein, que, procedendo do
nada originário, situa-se na conjunção da pura indeterminação
com o pleno poder ser. Afinal, se o poder ser repousa em um não
ser original, a finitude imanente ao dasein, em sua projeção de
um não ser absoluto e definitivo, explicita-o essencialmente como
um universo de possibilidades. No ser para a morte, anunciado
na disposição existencial da angústia, revela-se a nulidade de
fundamento da existência humana, suspensa no pertencimento
originário entre ser e nada.

Michel Foucault: democracia e crise da parrhesia política.


Anderson Aparecido Lima da Silva
USP
CAPES
Orientador(a): Prof.º Dr.º Franklin Leopoldo e Silva

Em seu último curso no Collège de France, em 1984, Foucault


relembrava o itinerário que o havia levado ao estudo da noção
de parrhesia. Em 1982, no curso A hermenêutica do sujeito, a
noção recebe uma primeira análise no contexto da direção de
consciência, da condução espiritual, do conselho da alma, das
formas através das quais o sujeito, dizendo a verdade – que acredita
e reconhece como sendo francamente a verdade –, se manifesta,
isto é, como constitui a si mesmo e é reconhecido pelos outros
como sujeito que pronuncia um discurso de verdade e se conduz
de acordo com esse discurso. No entanto, declara Foucault, o
desenvolvimento de suas pesquisas o levou a reconhecer que a
origem da noção se encontrava em outro lugar, qual seja, que “a
noção de parrhesia é, fundamentalmente, uma noção política”.
Foucault procederá à análise dessa parrhesia fundamentalmente
política sobretudo no curso de 1983, intitulado O governo de si
e dos outros. E é neste contexto que o caso paradigmático de
Péricles, apresentado por Tucídides, servirá como uma das vias
de explanação deste enredo político de utilização da parrhesia,
isto é, da parrhesia em sua prática política efetiva. Prática que,
permeada desde o princípio por tensões, não deixará de revelar
a gradual desagregação entre os atos e as palavras, entre os
discursos e as condutas dos cidadãos, colocando em xeque a
possível harmonia entre democracia e parrhesia. Constatação
que, amplamente difundida à época em textos filosóficos e
políticos, será identificada por Foucault como “crise da parrhesia
democrática no pensamento grego do século IV”. Crise esta que
teria como uma de suas consequências o processo de inflexão,
de desvio progressivo da “parrhesia política” a uma “parrhesia
ética”, própria à filosofia, e que encontraria em Sócrates seu
patrono modelar.
Lógica e Inferência no Tractatus
Anderson Luis Nakano
UFSCar
FAPESP
Orientador(a): Prof.º Dr.º Bento Prado de Almeida Ferraz Neto

Segundo o Tractatus Logico-Philosophicus de Wittgenstein,


a inferência é consequência de uma relação interna entre as
proposições envolvidas, e não cabe às “proposições da lógica”
(tautologias) justificar a inferência. Se é certo que o Tractatus
nos conduz, como afirma Ramsey, a uma teoria da inferência
extremamente simples, é enganoso dizer, como o faz Russell, que
o Tractatus nos leva a uma simplificação surpreendente da teoria
da inferência. Aos olhos de Wittgenstein, a teoria da inferência
desenvolvida no Tractatus recebe um aspecto totalmente novo
e muito importante, que difere dos sistemas lógicos de Frege e
Russell, nos quais a inferência era justificada por leis básicas
ou axiomas lógicos. Deste modo, não se trata apenas de uma
“simplificação” da teoria dos Grundgesetze ou dos Principia, mas
de uma teoria distinta e mais clara da inferência, pois mostra
que entre as premissas e a conclusão de uma inferência não
há intermediários. É de se perguntar, então, qual é o papel das
“proposições da lógica” pois, se elas não servem de intermediários
para o processo de inferência, elas parecem perder sua raison
d’être. O objetivo do presente trabalho é mostrar que, a despeito
delas não justificarem a inferência, elas ainda assim são úteis
para o processo dedutivo. Para isso, recorreremos à noção de
cálculo e de operação, fundamentais para se compreender a
lógica e a matemática sob a ótica do filósofo austríaco.
A reelaboração da noção boeciana de Pessoa na Summa
Theologiae de Tomás de Aquino (Primeira Parte, questão 29)
André Luís Tavares
UNIFESP
CAPES
Orientador(a): Prof. Dr. Juvenal Savian Filho

Em nossa pesquisa, trabalhamos o uso que Tomás de Aquino


faz na ST I q. 29 da noção de “Pessoa”, que retira de Boécio:
Persona est rationalis naturae individua substantia - “Pessoa é a
substância individual de natureza racional”1).A compreensão da
noção de Pessoa (o termo vem dos cultos, manifestações teatrais
e reflexões gramaticais greco-romanas) possui uma longa e
disputada história no pensamento cristão; a “Pessoa” entra na
filosofia ocidental a partir das querelas trinitárias e cristológicas
do cristianismo antigo; esta noção só pode ser compreendida na
Summa Theologiae se tivermos em conta outros dois elementos,
presentes nas questões 27 e 28 da mesma Prima Pars: processões
e relações. Estas noções possibilitam “abrir” aquela de Boécio,
numa hermenêutica que possibilitará a Tomás inserir a definição
boeciana em seu sistema de pensamento. Um conceito ôntico-
estático é interpretado de modo a se tornar ontológico-dinâmico.
Tomás, em sua Summa Theologiae, irá afirmar que a definição
1 BOÉCIO, Duabus Naturae, a.3, ad 2, 4 (citado por Tomás de
Aquino em ST I a q. 29. a. 1, enunciado). O referido texto de Boécio é
comumente encontrado com o título “Contra Èutiques e Nestório”.
de Boécio se aplica também às pessoas divinas, desde que se
entenda “racional” no sentido de “intelectual”, e “individual” no

sentido de “incomunicável”2. São estes conceitos que nosso autor


irá utilizar para receber e reinterpretar a definição de Boécio;
reinterpretará individua substantia como esse per se subsistens
in natura intelectuali3.


Singularidade e universalidade em A interpretação dos
sonhos, de Freud
André Santana Mattos
UFSCar
FAPESP
Orientador(a): Prof. Dr. Luiz Roberto Monzani

Em A interpretação dos sonhos, Freud apresenta um rico


material de análises de sonhos, articulado ao estabelecimento
de teses gerais sobre o sonho, chegando por fim às formulações
metapsicológicas acerca do aparelho psíquico, levadas a cabo
no capítulo 7. A questão que aqui abordamos diz respeito às
relações entre singularidade e universalidade que se configuram
nesta obra. Podemos distinguir um primeiro momento epistêmico,
onde essa relação se dá entre os sonhos singulares e as teses
gerais sobre o sonho, e um segundo momento, onde o sonho
2 Cf. ST I a, q. 29, a. 3, ad 4.
3 In Sent, I, d. 23, a. 2, citado por GUGGENBERGER, A. in
FRIES, H. Encyclopédie de la foi, tome III. Paris: Du Cerf, 1966, p. 429.
ocupa o lugar do singular, ao ser tomado como uma formação
psíquica entre outras, enquanto o termo do universal passa a

consistir, por um lado, na classe dos sintomas neuróticos, e, por


outro, nas formulações sobre o aparelho psíquico, que deve ser o
responsável pela produção de toda e qualquer formação psíquica.
A relação entre o sonho e a classe das formações psíquicas
anormais ou patológicas, ao estabelecer uma analogia entre
estes dois termos, toma o sonho como um membro desta classe,
o que justificará, de acordo com o plano epistêmico ao qual Freud
ali se propõe, considerar a investigação dos sonhos como um
trabalho preliminar à investigação das neuroses, a qual poderia
se servir dos conhecimentos psicológicos estabelecidos pela
primeira. Porém, a consideração do desenvolvimento histórico das
investigações e das concepções de Freud, o qual é evocado por
ele mesmo na Traumdeutung, inverte a ordem dos termos desse
arranjo epistêmico, já que foi a partir da transposição do método
e de uma tese teórica relativos às neuroses que Freud iniciou
a sua investigação dos sonhos. Já a exposição do esquema do
aparelho psíquico, que, sob o ponto de vista histórico, tem seu
precedente no Projeto de 1895, se justifica, no plano da obra,
a partir de seu poder explicativo com relação aos sonhos, mas
também aos sintomas psicopatológicos e outras formações
psíquicas. O que pretendemos explorar aqui são as estratégias
de sustentação epistêmica empreendidas por Freud, no âmbito
dessas múltiplas relações entre singularidade e universalidade
configuradas na Traumdeutung.
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Liberdade e temporalidade na fenomenologia de Merleau-


Ponty
Beatriz Viana de Araujo Zanfra
UNIFESP
CAPES
Orientador(a): Prof. Dr. Alexandre de Oliveira Torres Carrasco

Na obra  A estrutura do comportamento, de 1942, Maurice


Merleau-Ponty, por meio da noção de estrutura, combate o
naturalismo e o intelectualismo, mostrando que o corpo não é
um agregado de músculos e de nervos que opera de acordo
com a causalidade mecânica e funcional e que a consciência
reflexiva não é a única forma da consciência e nem sua primeira
manifestação, mas sim dependente da consciência perceptiva e
indiscernível do corpo como princípio estruturante. Nesse sentido,
no capítulo destinado à questão das relações da alma e do corpo,
Merleau-Ponty mostra que todos os problemas a esse respeito
se reduzem ao problema da percepção, entendida como “o ato
que nos faz conhecer existências” e vê a necessidade da filosofia
transcendental ser redefinida a fim de integrar nela o fenômeno
do real, sendo tal filosofia a fenomenologia, com a investigação
da percepção desempenhando um papel fundamental em tal
filosofia. Em  Fenomenologia da Percepção, de 1945, Merleau-
Ponty retoma o problema das relações da alma e do corpo
abordado no livro anterior, mostrando que a temporalidade resolve
31
tal problema, pois a ideia de subjetividade como temporalidade
nos permite ver que o para-si, a revelação de si a si, é o vazio
no qual o tempo se faz, e o mundo “em si”, que é o horizonte
de nosso presente, fazem o problema redundar em saber como
um ser que é porvir e passado tenha também um presente, o
que suprime o problema, já que o porvir, o passado e o presente
estão ligados no movimento de temporalização. Sendo assim, a
solução de todos os problemas de transcendência se encontra
na espessura do presente pré-objetivo, onde encontramos, entre
outras coisas, o fundamento de nossa liberdade.

Quê Democracia? O conceito de democracia à luz do


procedimento da crítica em crítica da Filosofia do Direito de
Hegel.
Bryan Félix da Silva de Moraes
UNIFESP
CAPES
Orientador(a): Prof.º Dr.º Rodnei Antônio do Nascimento

O presente projeto busca apresentar a hipótese de leitura segundo
a qual o conceito de democracia presente em Crítica da Filosofia do
Direito de Hegel de Karl Marx não obedece à fixação de sua forma,
sendo, por isso, fruto de um procedimento filosófico específico
exprimido pelo conceito de crítica: procedimento que produz
e reconstrói conceitos a fim de dar-lhes novas determinações.
Nessa obra o objeto de Marx é a filosofia hegeliana do Estado;
32 nela descobre-se que a solução apresentada por Hegel para o
problema do dilaceramento do mundo ético na sociedade civil-
burguesa – que pretende mediar a particularidade social e a
universalidade política do mundo ético por intermédio da ideia de
Estado – se vale de uma positivação especulativa que engendra
ilusões e misticismo acerca da verdade do processo político
moderno. Como resolução para essa problemática de um mundo
ético ilusório, Marx, a partir das implicações deste procedimento
da crítica, propõe o conceito de democracia – um conceito dotado
de volatilidade formal, que relativiza o conceito hegeliano de
Estado, delegando-o a momento do processo social moderno.

Norma, normal e anormal em canguilhem e Foucault


Caio Augusto T. Souto
UFSCar
CAPES
Orientador(a): Prof.ª Dr.ª Thelma Lessa da Fonseca

Propomo-nos analisar a relação entre a noção de norma, com


seus correlatos normal e anormal, a partir de duas obras: O
normal e o patológico, do historiador e epistemólogo das ciências
da vida Georges Canguilhem, e O nascimento da clínica, de
Michel Foucault. São textos circunscritos ao domínio da medicina,
mas que trazem implicações filosóficas importantes para a
compreensão da função que a norma desempenha noutras
práticas sociais. Foucault aproxima-se de uma história conceitual
33
e crítica da ciência médica, avessa a um modelo progressista,
tal como apresentada por Canguilhem acerca dos conceitos de
normal e de patológico, mas amplia a reflexão para um domínio
exterior ao estritamente científico, analisando as condições
de possibilidade práticas do surgimento e desenvolvimento da
ciência médica. Sua tese é a de que a medicina moderna, tal
como a conhecemos hoje, só se tornou possível a partir da clínica,
lugar institucional surgido no final do século XVIII, que propiciou
um olhar “de profundidade” sobre o corpo dos doentes, sob a
condição de separá-los do convívio com os demais corpos da
sociedade. Para que tal separação fosse lograda, era necessário
o estabelecimento de um conceito de norma, que remetesse ao
funcionamento são dos organismos vivos. Ocorre que, como já
demonstrara Canguilhem, as condições que permitem observar
se um fenômeno fisiológico é normal só são dadas segundo um
dispositivo de laboratório. Em se tratando de medicina, que tem
como objeto uma atividade em movimento (a vida), o cientista
não pode definir objetivamente quais são as condições normais:
primeiramente porque as próprias condições laboratoriais de
observação já modificam o meio que circunda uma vida; em
segundo lugar, porque mesmo o que difere de uma condição
normal (perfeita adaptação do organismo ao seu meio), o que
seria portanto uma condição anormal, é já a instituição de uma
norma orgânica diferente, ainda que repulsiva à própria vida.
Tem-se disso que o conceito médico de norma é condicionado
por fatores exteriores ao âmbito intrínseco da ciência, o que
Foucault, após, identificaria na instituição da clínica, a qual tem
uma gênese histórica (portanto contingente) comprometida com
outras instituições sociais que tiveram lugar no desenvolvimento
da sociedade ocidental.

Os conceitos fundamentais para a exposição da História da


Filosofia hegeliana
Carlos Gustavo Monteiro Cherri
UFSCar
CAPES
Orientador(a): Prof. Dr. José Eduardo Marques Baioni

Partindo da noção hegeliana de que a filosofia é uma só e


reúne todo o seu conteúdo na forma de unilateralidades de
seus momentos, momentos que expressam o todo racional de
uma época, isto é, a sua inteligibilidade, pretende-se selecionar
os principais conceitos da dinâmica do movimento filosófico,
presentes na obra Introdução à História da Filosofia, de Hegel.
Nesse sentido, é importante esclarecer o que Hegel entende
por conceito, por pensamento, progressão, desenvolvimento,
época, configurações e a relação da filosofia com as demais
figuras do espírito, a saber, a religião e a ciência. Desse modo,
será possível compreender como a filosofia assume a forma
da consciência de si do espírito e como seu movimento total
culmina na unilateralidade (pensamentos filosóficos particulares)
e como são superadas tais unilateralidades por meio da própria
filosofia. Tendo em vista apenas as noções que demonstram o
movimento da filosofia, poder-se-á contribuir com as categorias
que estruturam a lógica hegeliana da progressão da filosofia e
como tais estruturas determinam a sua história (da filosofia).
Além disso, as contribuições se estendem ao campo pedagógico
da disciplina “História da Filosofia”, pois será possível selecionar
as diretrizes para a exposição filosófica e como tal exposição
se torna ou não conforme com o pensamento que os próprios
filósofos determinaram em suas obras.

Religião estática e religião dinâmica, segundo Henri Bergson


Catarina Rochamonte
UFSCar
CAPES
Orientador(a): Prof. Dr. Débora Cristina Morato Pinto

A religião estática está sempre ligada à representação, havendo


na evolução das representações religiosas um progresso que
corresponderia ao processo civilizatório. A determinação natural
da inteligência, voltada para a sobrevivência do indivíduo e para
a preservação da espécie, limita normalmente a religião a um
conjunto de normas supostamente desprovidas de genealogia
e cuja função social já foi sobejamente constatada. Entretanto,
no terceiro capítulo de As duas fontes da moral e da religião,
Bergson mostrará uma perspectiva sobre a religião que ultrapassa
esse caráter utilitário. A possibilidade de superação da dimensão
utilitária e social da religião relaciona-se à origem comum a que
se pode remeter tanto a inteligência quanto o instinto, pois se
no homem a inteligência, através da função fabuladora, conduz
à religião estática, petrificada em instituições e costumes, a
potencialidade intuitiva, pode conduzir à religião dinâmica, através
da experiência de contato com o processo contínuo de criação. A
religião dinâmica, no que tem de mais característico, ultrapassa
o âmbito da representação porque é contato direto com a vida, é
retorno à origem do instinto e da inteligência através da intuição
mística. Há, pois, a possibilidade de ruptura com o universo estático
das representações religiosas. A possibilidade de superação do
divórcio entre a inteligência e o movimento que a criou é possível,
mas tal só se dá em indivíduos excepcionais capazes de romper
com a própria condição humana. Há nos místicos uma conversão
da humanidade por meio da qual um indivíduo sozinho supera
a espécie ao coincidir diretamente com o movimento da vida.
Tais indivíduos são os verdadeiros responsáveis pelo progresso
espiritual da humanidade, pois são eles que vitalizam a história
através de uma ação que reverbera no âmbito do fechado e no
coração daqueles que não conseguiram dar esse salto.

Saberes, práticas e controle dos corpos: uma análise


feminista do jornal News Seller.
Clara Guimarães Santiago
UFABC
Bolsa UFABC
Orientador(a): Prof.ª Dr.ª Graciela de Souza Oliver

O presente trabalho se propõe a realizar uma análise das matérias


direcionadas as mulheres e publicadas no jornal News Seller, entre
os de 1960 a 1969, na região do Grande ABC Paulista. A hipótese
de pesquisa é que em uma sociedade em desenvolvimento,
patriarcal e em plena ditadura militar, o conhecimento científico
apresentado no jornal em forma de divulgação científica, seria
um saber “domesticado”. Como referencial teórico-metodológico
utilizamos a obra de Michel Foucault e a epistemologia feminista.
Os estudos feministas há alguns anos já fazem uma aproximação
com a obra do Foucault, tendo essa relação chamada por algumas
autoras de “artes feministas da existência”, fazendo referência ao
cuidado de si/ artes da existência. Em nosso trabalho, além de
utilizar a proposta Foucaultiana para o estudo da sexualidade,
temos a genealogia do poder como uma das base para análise
dos dados, pois trabalhamos com a hipótese de tentativa de
docilização dos corpos femininos pelos discursos produzidos pelo
jornal. As matérias já analisadas seguem um padrão rígido de
indicação do comportamento feminino, principalmente, baseando-
se em “pesquisas científicas” e discursos médicos. Nesse
sentido, Dulcília Buitoni afirma que a imprensa feminina é a mais
ideologizada de todas, pois produz discursos desconectados da
realidade em forma de matérias “frias” que mais se aproximam
da chamada “imprensa diversional” - entretenimento. Do ponto
de vista metodológico, utilizamos os conceitos propostos por
Foucault na Arqueologia do Saber, que consistem em buscar
as descontinuidades e rupturas nos discursos, o não-dito.
Encontramos em pesquisas preliminares discursos que podem
ser relacionados com a ditadura militar, tais como, a criação do
suplemento “Entre nós... as mulheres” no ano de 1964, que resulta
– de acordo com os parâmetros Foucaultianos – em uma ruptura
discursiva. O trabalho também utiliza como referencial teórico a
epistemologia feminista, e procura buscar nestas relações, um
diálogo com as questões filosóficas e de gênero. A pesquisa é
vinculada a um programa de pós-graduação interdisciplinar em
inclui filosofia.
A sociedade civil-burguesa na filosofia do direito de Hegel.
Claudeni Rodrigues Oliveira
UNESP
Orientador(a): Prof.º Dr.º Dr. Pedro Novelli.

O artigo se propõe analisar o papel da sociedade civil-burguesa na


Filosofia do Direito de Hegel, reconhecendo-a como imprescindível
tanto para a esfera da Família como para o Estado. Assim sendo,
a problemática será abordada, sobretudo, considerando a terceira
parte da Filosofia do Direito, momento em que a sociedade civil-
burguesa é situada como mediação entre a eticidade presente na
esfera da Família e o Estado enquanto efetividade ética. Se no
âmbito da família, o indivíduo na condição de filho mantinha com
os pais uma relação mediada exclusivamente pela afetividade e
pelo amor, no âmbito da sociedade civil-burguesa, ao contrário,
é o econômico que definirá o papel social do indivíduo. Enquanto
momento de realização da vontade livre é na própria sociedade
civil-burguesa que o indivíduo procurará caminhos para sair da
particularidade. O indivíduo tem a liberdade, mas faltam-lhe
condições de realizá-la na sua totalidade. As associações que
aparecem nesse momento visam fins particulares e, portanto,
não conseguem realizar os anseios dos próprios indivíduos,
prevalecendo uma unidade ainda incompleta. Com efeito,
enquanto mediação entre a família e o Estado, a sociedade civil-
burguesa, como apresenta Hegel na terceira parte da Filosofia do
Direito, cumpre um importante papel na medida em que permite
aos indivíduos criarem meios que possam unificar suas vontades
e, portanto, ampliar a liberdade.

Sobre o Argumento do Conhecimento de Jackson


Daniel Borgoni
USP
CAPES
Orientador(a): Prof. Dr. Plínio Junqueira Smith

Temos experiência consciente, sabemos disso, mas não sabemos


como conciliá-la com uma abordagem materialista da mente.
Alguns estados mentais, principalmente as sensações, parecem
possuir uma dimensão fenomênica que escapa ao fisicalismo,
isto é, a tese de que tudo que existe no mundo é físico. Em outras
palavras, estes estados mentais parecem possuir propriedades
qualitativas intrínsecas, que só podem ser experienciadas
em primeira pessoa. Tais propriedades são os qualia, também
caracterizados como os aspectos subjetivos da experiência. Para
defender a existência dos qualia e para refutar o materialismo,
os dualistas da mente contemporâneos, em geral, dualistas de
propriedades, costumam se basear em argumentos que defendem
a existência de um hiato explicativo e ontológico entre consciência
e matéria. Nesse sentido, um dos mais debatidos argumentos
antimaterialistas da atualidade foi proposto por Frank Jackson:
o Argumento do Conhecimento. Neste experimento mental,
Jackson defende sua intuição de que nenhuma informação física
captura os qualia. Para tanto ele utiliza o experimento mental de
Mary, uma neurocientista que sempre viveu num quarto onde tudo
era preto e branco. A pergunta crucial feita por Jackson é: ao ver
o vermelho pela primeira vez, Mary aprende algo novo sobre o
mundo? Os objetivos desta apresentação são expor o argumento
do conhecimento, comentar e analisar algumas críticas que
incidem sobre ele.

Do problema epistemológico ao despertar do Absurdo.


Daniella Bianchi dos Santos
UFSCar
Orientador(a): Prof.ª Dr.ª Silene Torres Marques

Os séculos XIX e XX foram certamente palco de fortes ataques


ao racionalismo e seus pressupostos. Aparentemente, o fato de
inúmeros sistemas filosóficos tentarem compreender o mundo
sob o auxílio da razão e do intelecto humano não impediu que
o problema do conhecimento persistisse e vigorasse até o
pensamento contemporâneo, e talvez até mesmo principalmente
nele. O que vemos como fator fundamental para isso é não apenas
os tropeços da razão ao longo da história da Filosofia, mas também
certa irredutibilidade de determinados objetos ao conhecimento
humano. Conforme veremos, tal incompatibilidade é gerada por
uma defasagem entre o que se pensa saber e o que se sabe
efetivamente. Nesse sentido, os limites da epistemologia muitas
vezes acabam gerando um mal-estar à consciência sempre ávida
por respostas e explicações. A contingência e finitude naturais da
existência humana se contraporiam, assim, ao absoluto e eterno,
o que poderia despertar um sentimento de “estranheza” frente ao
mundo, agora hostil e denso. Dado o quadro geral, pretendemos
abordar de que forma a postura do autor Albert Camus frente
ao problema do limite do conhecimento racional humano origina
o que acaba sendo o termo-chave de todo seu pensamento: o
absurdo.

A Sensibilidade do Comediante em Diderot


David Ferreira Camargo
UFSCar
CAPES
Orientador(a): Prof. Dr. Luís Fernandes dos Santos Nascimento

No Paradoxo sobre o Comediante (≈1773), obra de Denis Diderot


(1713 – 1784), discute-se, sobretudo, as qualidades essenciais
do ator e as implicações no modo como ele representa. Há, no
entanto, uma dificuldade para se compreender em que medida
pode ser interpretada a afirmação de que “há em um tipo de
ator, o grande comediante, a qualidade nula sensibilidade”.
Responder essa questão parece ser crucial para compreender
no pensamento de Diderot o que diz respeito não somente ao
desempenho do ator, mas à sensibilidade humana. No Sonho
de d’Alembert (1769) ocorre uma “transposição do limite da
sensibilidade” quando se está em estado de sono. Essa obra
apresenta algumas propostas teóricas e metafóricas do que
é e como funciona a sensibilidade nos seres vivos. Acredita-
se que a leitura dessa obra possa contribuir para uma melhor
compreensão do que seja a sensibilidade de uma maneira mais
geral na concepção desse filósofo. Essa última obra mencionada
será utilizada como complemento para se melhor entender a nula
sensibilidade do grande comediante. Espera-se que a análise e
discussão do tema da sensibilidade nessas duas obras deem um
passo importante para se entender a qualidade da insensibilidade
que pode estar presente tanto no sonhador quanto no grande
comediante no instante de seus estudos.

A fenomenologia como método de investigação do Ser em


Heidegger
Deborah Moreira Guimarães
UNIFESP
CAPES
Orientador(a): Prof. Dr. Jamil Ibrahim Iskandar

Neste trabalho será abordada a maneira pela qual o filósofo


Martin Heidegger resgatou noções importantes da fenomenologia
husserliana para a elaboração de um método que servisse
ao seu principal intento filosófico nos anos 20: a busca pelo
sentido do ser. Heidegger utilizou o princípio fundamental da
fenomenologia, o retorno às coisas mesmas, na concepção de
sua ontologia de base fenomenológica: era preciso retornar ao
ser em si mesmo, àquilo que estava oculto no ser-aí, velado,
inacessível à apreensão humana. Ou seja, Heidegger atribuiu
à fenomenologia um desocultamento do ser do ente: só deveria
ser possível estabelecer a pergunta pelo sentido do ser porque o
ser-aí já se direcionava por um prévio entendimento do sentido
de seu ser, que ocultava o sentido originário e constitutivo do
ser. Portanto, este trabalho abordará como o filósofo em questão
elaborou seu método hermenêutico fenomenológico unindo
as ideias de Husserl à sua ontologia fundamental, a partir do
estudo acerca da dicotomia velamento-desvelamento proposta
por Heidegger como a chave para a compreensão do sistema
filosófico de Ser e Tempo. Com esta dicotomia, um conceito se
mostra bastante relevante, a saber, a noção de verdade, que será
responsável por abarcar toda a problemática em torno da relação
entre a investigação do ser proposta por Heidegger e o retorno às
coisas mesmas, elaborado por Husserl. Logo, com o surgimento
do modelo binário velamento-desvelamento, o ponto de partida
deixou de ser a apreensão pela consciência proposta por Husserl
para se tornar o desocultamento, no sentido de mostrar o que
fora ocultado durante a história da Filosofia: o ser.

Simone de Beauvoir e Judith Butler: aproximações e


distanciamentos e os critérios de ação política
Djamila Taís Ribeiro dos Santos
UNIFESP
CAPES
Orientador(a): Prof.º Dr.º Edson Luis de Almeida Teles

Nosso projeto de pesquisa tem o propósito de promover uma


análise comparativa entre as filósofas Simone de Beauvoir e
Judith Butler no que diz respeito às obras, O segundo sexo e
Problemas de Gênero. Analisaremos as linhas interpretativas de
Beauvoir, demonstrando suas aproximações ou distanciamentos
da interpretação de Butler, assim como as ferramentas conceituais
em que as filósofas se apoiam para explicar e problematizar a
categoria das mulheres. Veremos também como os argumentos
apresentados nestas duas obras possuem relevância para se
pensar esta categoria em termos de ação política4.
Simone de Beauvoir em seu O Segundo sexo de 1949 pensa a
categoria de gênero a partir de uma perspectiva existencialista. O
eixo central de sua reflexão parte de uma pergunta aparentemente
simples: o que é uma mulher? Sendo fiel à sua perspectiva,
ela responderá que uma mulher não se nasce, ela se faz, ela
torna-se. Em princípio, Judith Butler, reconhece as contribuições
teóricas de Beauvoir, porém vale ressaltar que Butler não é uma
exegeta do pensamento da filósofa francesa, ou seja, apesar de
a tomar como ponto de partida e de ancoragem, desenvolve sua
própria teoria e fundamenta uma noção performativa de sujeito.

4 (...) “O pensamento era secundário no discurso; MS o discurso


e a ação eram tidos como coevos e coiguais, da mesma categoria e da
mesma e da mesma espécie; e isto originalmente significava não apenas
que quase todas as ações políticas, na medida em que permanecem fora
da esfera da violência, são realmente realizadas por meio de palavras,
porém, mais fundamentalmente, que o ato de encontrar as palavras
adequadas no momento certo, independentemente da informação ou
comunicação que transmitem, constitui uma ação.” (ARENDT, 2005)
Uma leitura acerca da formulação da hipótese do mundo
como vontade de potência no parágrafo 36 de Para além de
bem e mal de Nietzsche
Eder Corbanezi
USP
FAPESP
Orientador(a): Prof.ª Dr.ª Scarlett Marton

Se no parágrafo 22 de Para além de bem e mal Nietzsche


confere um estatuto interpretativo à sua concepção de mundo
como vontade de potência, o filósofo precisa que essa concepção
de mundo resulta de uma boa arte de interpretação. Com isso,
Nietzsche indica uma pretensão de superioridade em relação à
concepção da “legalidade da natureza” defendida pelos físicos,
fruto de uma arte ruim de interpretação. Um pouco adiante,
no parágrafo 36 do mesmo livro, Nietzsche atribui um estatuto
hipotético à sua concepção de mundo como vontade de potência,
mas ao mesmo tempo insiste que se trata de uma hipótese
necessária e elaborada com rigor metodológico, indicando
novamente uma pretensão de superioridade dessa hipótese em
relação às demais.
Além de perguntar por que Nietzsche atribui um estatuto hipotético
à sua concepção de mundo, nosso objetivo é examinar a complexa
formulação dessa hipótese no parágrafo 36 de Para além de bem
e mal. Essa complexidade se revela ao menos na medida em que
a formulação da hipótese do mundo como vontade de potência
é apresentada como necessária, mas se baseia ela própria em
suposições de diferentes estatutos: algumas dessas suposições
podem ser consideradas proposições da própria filosofia de
Nietzsche, ao passo que a suposição da causalidade, designada
explicitamente como uma crença, não traduz uma proposição
do próprio filósofo, sendo, antes, amplamente criticada em sua
obra. Mesmo assim, a crença na causalidade é incorporada à
argumentação no parágrafo em questão para, a nosso ver,
desempenhar uma função específica. Embora não seja uma
condição necessária para a elaboração da hipótese da vontade
de potência, se aquela crença for admitida, então, também assim,
deve-se necessariamente formular a hipótese da vontade de
potência: desse modo, Nietzsche sugere que as concepções de
mundo baseadas na crença na causalidade não retiram de seu
próprio pressuposto aquela consequência necessária, ou seja, a
elaboração da hipótese da vontade de potência.

Bergson e o pensamento chinês: o I Ching e a duração


Eduardo Soares Ribeiro
UFSCar
CAPES
Orientador(a): Prof.ª Dr.ª Silene Torres Marques

O presente trabalho tem por objetivo traçar um paralelo entre
determinados aspectos da filosofia de Henri Bergson e o I Ching,
livro-fundador da civilização chinesa. Apontaremos como dois
registros de pensamento tão distantes no espaço e no tempo
chegaram a conclusões ontológicas semelhantes sem, no
entanto, reduzir um ao outro, ou explicar um pensamento pelos
conceitos do outro. Para tanto, utilizaremos os conceitos de
duração de Bergson, nos pautando principalmente em seus textos
“Introdução à metafísica” (1903) e o “O pensamento e o movente”
(1934), e de mutação do I Ching. Respaldando-nos em autores
tidos como clássicos, tanto na tradução e interpretação do I Ching
(Richard Wilhelm) quanto na sinologia (Marcel Granet), iremos
desenvolver nossa hipótese do Ser manifesto no I Ching se dar
de forma similar à substância bergsoniana definida como pura
mudança e movimento. Tentaremos mostrar, ainda, a semelhança
entre a visão bergsoniana da duração, a qual está para além de
uma definição pela linguagem, e a constatação de Lao-Tsé de que
“o Tao que pode ser dito não é o verdadeiro Tao”. Finalmente, nos
propomos a indicar a resposta a este problema em Bergson e no
I Ching, isto é, em que medida a intuição da duração do filósofo
e sua comunicação – sua expressão através da linguagem –,
que se dá por intermédio de imagens, tem um paralelo com a
constituição imagética do I Ching com seus hexagramas.

Teoria Crítica: pressupostos filosóficos acerca do direito em


Habermas
Elvis Francis Furquim de Melo
UFSCar
Orientador(a): Prof.º Dr.º Luiz Roberto Gomes
Na obra Direito e Democracia: entre facticidade e validade, de
1992, o filósofo alemão Jürgen Habermas afirma que: “o direito se
interliga não somente com o poder administrativo e o dinheiro, mas
também com a solidariedade” (HABERMAS, 2003a, p. 62). É diante
dessa premissa básica, que a exequibilidade do direito, enquanto
mediação entre sistema e o mundo da vida (Lebenswelt), se
apresenta em sociedades complexas. Esta ideia confere o direito
como elemento mediador da integração social, dado que implica
uma sociedade democrática, inclusiva e solidária. Nesse sentido,
é possível o redimensionamento do direito como dispositivo
articulador na recuperação do entendimento entre o campo social
e o sistema? A hipótese essencial é que a “colonização do mundo
da vida”, com o avanço da economia capitalista e do aparato do
Estado, minimizou as possibilidades de realização dos espaços
democráticos e comunicativos. Segundo Habermas, o problema
reside na racionalização sistêmica do mundo da vida, perante o
qual, o Direito assume uma função indispensável. A pesquisa,
de natureza filosófica (teórico-reflexiva), procurará entender
e analisar, no pensamento de Jürgen Habermas, o potencial
emancipatório do direito enquanto categoria de mediação entre o
mundo da vida e o sistema.
Hegel e o momento dialético da denegação [Verneinung]
revelado no escrito de Freud: o “Caso Dora”.
Fábio Luís Rodrigues Figueredo
Faculdade Vicentina de Curitiba
FAVI
Orientador(a): Prof. Dr. Geraldino Alves Ferreira Netto.

O presente artigo tem objetivo de revelar que existem estruturas


dialéticas da “denegação” encarnadas no escrito “Fragmento da
Análise de um Caso de Histeria”, elaborado por Freud em 1901,
conhecido, mais popularmente, como Caso Dora. Freud já havia
elaborado um texto nesse conteúdo: “A negação” [Die Verneinung],
em 1925, desvelando a natureza dialética do trabalho analítico,
que foi comentado por Jean Hyppolite, a convite de Jacques
Lacan em 1954, num congresso sobre a técnica freudiana, em que
argumentava ser, a denegação, uma “Aufhebung” [suprassunção]
consistindo na “volta” do recalcado sob uma forma lingüística,
e, portanto, assintomática, mas nem por isso uma aceitação do
recalque. Ou seja, o paciente em análise apresenta seu ser num
jeito de não sê-lo. Por exemplo, Dora, em análise, autocensura
o seu pai por ter um caso extra-conjugal com a Srª K, amiga da
família, mas por detrás dessa negação, segundo Freud, há um
desejo edipiano pelo pai e outro pelo esposo da Srª K, mas todos
reprimidos e revelados como sintomas de histeria. Portanto, a partir
do legado teórico de Hyppolite, Lacan e de outros pesquisadores,
busca-se, primeiramente, compreender o conceito denegação
em Freud e Hegel intercalado diretamente ao caso Dora, a partir
de recortes textuais. Um segundo momento desse trabalho de
pesquisa revela ser a dialética das negatividades contido no
texto de Dora um momento da totalidade, isto é, (de) negação
[Verneinung] não é uma dualidade opositiva, exclusão, mas o
inaugurar permanente de um sentido existencial novo, criador e
singular do Ser numa ilação hegeliana.

Sobre os limites da faculdade sensitiva no De anima de


Aristóteles
Felipe Calleres
UFSCar
CAPES
Orientador(a):  Prof.ª Dr.ª Marisa Lopes

Neste trabalho, pretendo verificar no De anima de Aristóteles


os limites de uma abordagem da faculdade sensitiva que seja
independente das faculdades imaginativa e intelectiva.
No De anima, Aristóteles estabelece uma hierarquia das faculdades
da alma, na qual as primeiras faculdades são pressupostas pelas
posteriores de maneira que há um escalonamento das formas de
vida, assim, as plantas têm como característica de sua forma de
vida a faculdade nutritiva: elas crescem, se reproduzem, morrem.
Já os animais possuem sensação além da faculdade nutritiva,
e, por último, há aqueles que possuem as faculdades nutritiva,
perceptiva e intelectiva. Segundo essa estrutura seria possível
compreender a faculdade nutritiva de modo independente
das demais, assim como a faculdade perceptiva poderia ser
compreendida sem uma investigação acerca da faculdade
intelectiva. Além dessas três faculdades, Aristóteles apresenta
uma faculdade que seria emergente em relação à sensação.
Trata-se da phantasia, imaginação. Esta faculdade seria
responsável pela criação de imagens, que permaneceriam após
a sensação, daí os sonhos seriam o exemplo máximo em que
conteúdos sensíveis operam enquanto os sentidos estão inativos.
Além da produção de imagens, a imaginação é apresentada com
uma segunda função, a partir da qual os objetos dos sentidos
são julgados como verdadeiros ou falsos. A confiabilidade do
julgamento da imaginação varia dentre os objetos dos sentidos
mostrando uma possível dependência e passividade dos sentidos
em relação à imaginação, o que levaria o leitor do De anima a
pensar em uma passividade dos sentidos e sua dependência em
relação à imaginação.
52

O tédio na indústria cultural: algumas reflexões sobre


a usurpação do esquematismo como dessignificação e
repetitividade dos objetos na cultura de massa
Felipe R. da Silva
UNESP
FAPESP
Orientador(a): Prof. Dr. Robespierre de Oliveira

O objetivo deste trabalho é perscrutar, a partir do quadro teórico-
conceitual provido pela teoria crítica da sociedade, algumas das
consequências da usurpação do esquematismo feita pela indústria
cultural sob a perspectiva do tédio. Se o esquematismo atribuía ao
sujeito a capacidade de interpretar e agir conscientemente sobre o
mundo, de formar significados para si a partir da espontaneidade
da cultura, o que acontece quando essas possibilidades são
danificadas com o surgimento da indústria cultural? Afora as
afirmações tradicionais - como a semiformação e o fetichismo na
cultura de massas -, a meta é tratar o tédio moderno, no campo
da cultura, como mais um fenômeno inerente à essa usurpação. A
usurpação do esquematismo, sob nossa interpretação, não pode
ser tratada somente em termos subjetivos, mas também objetivos,
como reificação objetiva de um processo psíquico (materializada
sob a forma do esquematismo de produção capitalista). Na
medida em que a indústria cultural produz mercadorias de
maneira mecânica, seus produtos carregam primeiramente uma
previsibilidade em sua estrutura que nega a participação ativa
53
do sujeito em termos interpretativos. Em segundo lugar, em
paralelo a esse caráter previsível de seus objetos culturais, a
maneira com que os materiais são desenvolvidos internamente
nega qualquer possibilidade de significado substancial, visto
que seus conteúdos são momentos reificados que não possuem
coerência entre si. Assim, longe de apenas negar a possibilidade
de significado em termos somáticos por meio da conformação
cognitiva a mecanismos fetichistas, a indústria cultural perpetua
um esquema de produção que exclui a possibilidade do novo
e do significado no âmbito da cultura de massa. Esses fatores,
basicamente, propiciam as condições para o advento do tédio.

A experiência da fruição musical na segunda fase de Friedrich


Nietzsche
Felipe Thiago dos Santos
UNESP
FAPESP
Orientador(a): Prof. º Dr.º Márcio Benchimol Barros

Humano, Demasiado Humano (1878) representa o inicio da


fase em que a filosofia de Nietzsche (1844 – 1900) rompe com
suas antigas e principais influências: Schopenhauer e, sobre
tudo, Wagner. No que tange à arte, esse momento “destrutivo”
da filosofia de Nietzsche passa a criticar a deificação do músico
(gênio) e a concepção de música enquanto linguagem do inefável
(expressão da essência do mundo) e/ou dos sentimentos, ideias
essas desenvolvidas pelo Romantismo e, sobretudo, pelo
compositor Richard Wagner. Além disso, Nietzsche também
critica – com certa ressalva – outra concepção presente na época,
a saber, a que pretende mostrar que o critério da audição musical
são, unicamente, as relações sonoras (formalismo), concepção
defendida pelo crítico musical vienense Eduard Hanslick em
Do Belo Musical (1851). Mas a segunda fase do pensamento
Nietzscheano (compreendida entre 1876 e 1882) não concebe
a arte apenas de uma maneira negativa. No segundo Nietzsche
podemos perceber, a partir de uma historicidade musical defendida
pelo filósofo que, a música, desarraigada de falsas interpretações
acerca dos seus efeitos e do seu conteúdo, pode fundamentar
a vida enquanto uma experiência afirmadora. Portanto, nosso
objetivo será o de expor, a partir das críticas de Nietzsche em sua
segunda fase à concepção de música presentes em sua época,
uma filosofia da música de características próprias. Num segundo
momento mostraremos que, mesmo em sua segunda fase,
essa filosofia se utiliza da música para apontar uma experiência
singular, isto é, de afirmação do homem frente ao mundo. Para
a satisfação de nossos objetivos analisaremos tanto as obras da
segunda fase de Nietzsche como os póstumos não publicados,
além de dialogar com os comentadores brasileiros e estrangeiros.
Foucault, a experiência do conceito: sobre a ideia de
arqueologia
Fernando Sepe
UFSCar
CAPES
Orientador(a): Thelma Lessa da Fonseca

Trata-se de apresentar o método arqueológico de Foucault a


partir de uma dupla caracterização: 1) sua relação com a prática
da epistemologia histórica francesa e a busca pelo desvelamento
de um plano conceitual que organiza nossas formas de dizer e
estar na verdade (aquilo que um dia Foucault chama de jeux de
verité); 2) como a arqueologia nos coloca um problema filosófico
por excelência, a saber, a experiência do conceito. Sendo
assim, em um primeiro momento mostraremos como o método
arqueológico desloca o problema epistemológico clássico - qual
a essência da verdade? - para como dizemos, ou estamos na
verdade?, colocando em jogo uma historicidade das normas e do
método dos saberes e formações discursivas com pretensão de
veracidade, afastando qualquer pretensão de fundamentação a
priori. Tal reflexão filosófica calcada na história da ciência permite
uma problematização do aspecto formal de produção da verdade,
ou seja, das diferentes partilhas inerentes aos processos de
racionalização. Em segundo lugar, exemplificaremos brevemente
uma das consequências possíveis de tal investigação a partir de
uma análise pontual do estudo foucaultiano sobre a loucura e
sua ressignificação na passagem do período renascentista para
o clássico, da mudança ocorrida entre a “experiência trágica da
loucura” e a loucura como experiência da desrazão.
Relações entre o problema da antropologia em Foucault e os
discursos sobre a loucura
Fillipa Silveira
UFSCar
CAPES
Orientador(a): Prof. Dra. Débora Cristina Morato Pinto

Esta comunicação tem o propósito de examinar as possíveis


relações existentes entre a investigação de Foucault sobre a
antropologia e a psicologia, buscando encontrar elementos que
apontem para a gênese do problema daquela no contexto do
nascimento das ciências humanas. Esta relação é significativa
uma vez que a antropologia se torna problemática para Foucault
enquanto um saber que questiona e “constitui” o homem nas
suas relações entre alma e corpo, entre sujeito e objeto, entre o
âmbito mais íntimo (interno) e as relações com o outro (externo).
Parto dos elementos que permitem observar uma consideração
mais ampliada da pergunta sobre o homem em relação ao
fenômeno da loucura que se observa na tese de 1961 – História
da loucura na Idade Clássica com relação ao que se desenvolve
no primeiro livro do autor, Doença mental e personalidade
[1954]. A consideração destes dois textos revela que apesar
de o primeiro abordar já os elementos históricos e culturais na
formação de percepções distintas sobre o fenômeno da doença
mental, centra-se, em sua primeira parte, numa compreensão
do sujeito e da doença no tocante à questão da personalidade.
Este conceito seria revisto e suprimido na reedição da obra em
1962 que adquiriu o título Doença mental e psicologia (1962). Já
a História da loucura, desenvolvida à luz de uma compreensão
arqueológica da história, parece remeter inteiramente o “sujeito”
da doença mental à investigação sobre as condições que teriam
tornado possível o desenvolvimento destes mesmos diagnósticos
e da constituição de um modelo de homem normal a partir do
fenômeno da loucura. O abandono da ideia de personalidade
parece indicar a adoção de uma postura definitivamente crítica
com relação à antropologia.

A memória involuntária e os signos na Recherche de Proust.


Franceila de Souza Rodrigues
UNIFESP
CAPES
Orientador(a): Prof.º Dr.º Luciano Ferreira Gatti

Um dos intentos literários mais ousados do século XX, Em


busca do tempo perdido, de Marcel Proust, foi e continua sendo
um dos romances mais estudados por filósofos e estetas do
século XX. Quais elementos da estrutura narrativa de Em busca
do tempo perdido corroboraram no reconhecimento da obra
como um importante objeto de estudo para filósofos do século
XX? É seguindo esse percurso que buscarei desenvolver esta
comunicação, cujo objetivo principal é estabelecer um estudo
comparativo e uma aproximação intelectual entre duas diferentes
abordagens filosóficas da Recherche, A imagem de Proust de
Walter Benjamin e Proust e os signos, de Gilles Deleuze. Nessa
jornada tentarei demonstrar que tanto Walter Benjamin como
Gilles Deleuze tecem um importante diálogo entre filosofia e
literatura, situando a obra de Proust como objeto privilegiado de
uma filosofia crítica a modelos tradicionais e totalizantes do saber.

O Ateneu, de Giorgio Agamben: destruição do passado e


consciência histórica em Raul Pompéia
Franco Baptista Sandanello
UNESP
FAPESP
Orientador(a): Prof. Dr. Wilton José Marques

Como podemos narrativizar a experiência se, no momento em


que a vivemos, não a verbalizamos de imediato, o que faz de
todo discurso ficcional uma interpretação pontuada e posterior
do passado? Ou seja, como compreender o diálogo entre a
narrativa e a experiência se, entre ambas, interpõe-se a mediação
opressiva do tempo e da memória? Enquanto um exame
imediato do problema poderia levar a um relativismo ou a um
extremismo, fazendo predominar um dos termos em detrimento
dos demais, um caminho alternativo pode ser descoberto na
inversão da proposição inicial: e se, na impossibilidade de uma
narrativização integral da experiência, buscássemos o limite de
toda verbalização, o momento de mudez original da experiência,
a infância da experiência? É esta a alternativa de estudo proposta
por Giorgio Agamben no capítulo inicial de Infância e História,
“Infância e História: ensaio sobre a destruição da experiência”,
em que realiza, entremeada a discussões teóricas, uma série
de “Glosas” a partir da análise das obras de Charles Baudelaire,
Marcel Proust etc. Neste caminho, propomos, dentro dos limites
desta apresentação, avaliar, após uma discussão inicial deste texto
de Agamben, sua aplicação – ou “glosa” – ao romance O Ateneu,
de Raul Pompéia, onde a verbalização das primeiras experiências
do menino pelo narrador adulto, no mundo corrompido de um
internato brasileiro do século XIX, corresponde tanto ao material
do texto (“Crônica de Saudades”) quanto à motivação de sua
narração (narrador-memorialista).

Sartre: Identidade, imaginário e estética.


Gabriel Gurae Guedes Paes
UFSCar
Orientador(a): Prof.ª Dr.ª Thelma Silveira da Mota Lessa da
Fonseca

Roquentin, protagonista de A Náusea, não dispõe dos mecanismos


sociais que, cristalizando o mundo dentro de relações pré-
determinadas, disfarçam o absurdo da existência e dão sentido à
vida. A existência é revelada a Roquentin como fatos presentes
sem justificativa, sem passado ou futuro, sem utilidade, sem
identidade, sem conexão. Nesse mundo de absoluta contingência
60 não é possível construir uma identidade. Roquentin encontra no
imaginário a possibilidade de construir um sentido estável para a
sua vida que será também uma fuga do inconsistente mundo real
que o conduz à perda da identidade. Essa esperança de “salvar-
se” da existência é pressentida quando ele escuta um velho
ragtime no Rendez-vous dês Cheminots. Roquentin pensa que
poderia escrever um romance de aventuras, narrar algo irreal e
não uma biografia de alguém que verdadeiramente existiu, como
até então almejava.
A problemática a ser leventada no trabalho se constitui a partir
da seguinte questão: Como Roquentin, personagem de A
náusea, pode através do imaginário negar a contingência e
imprevisibilidade do mundo, possibilitando assim uma “salvação”
da contingência que o leva as crises de Náusea? Essa “salvação”
se dá pela construção de uma identidade imaginária. O
“desabamento do mundo”, percebido como contingência radical,
é um “desabamento” também da identidade de Roquentin. Cabe
ao personagem negar o real e assumir uma nova identidade a
partir da criação imaginária. A questão sobre como o imaginário
pode se estruturar para negar a contingência nos leva a uma
indagação de ordem moral: o imaginário, ao negar o real dele se
afastando, não seria uma fuga, uma recusa de enfrentar o mundo
e sua contingência?

Para além do curto vôo do entendimento: o mistério e o


movimento do pensamento no Fausto de Fernando Pessoa
Gisele Batista Candido
61
USP
FAPESP
Orientador(a): Prof. Dr. Márcio Suzuki

Se por um lado a enigmática abertura do primeiro ato de Fausto -


Tragédia Subjetiva revela um parentesco entre a vida e o pensar
ao anunciar que tudo é ilusão, “sombras de vida e de pensamento”,
por outro o drama, segundo Pessoa, “representa a luta entre a
Inteligência e a Vida, em que a Inteligência é sempre vencida”.
Será ao compartilhar o Mistério, enquanto horizonte e destino,
que vida e pensamento se aproximarão, ambos carentes de um
sentido existencial cognoscível. Contudo, será também o Mistério
que estará no cerne da tensão entre vida e pensamento. Enquanto
a vida ignora e se incorpora ao Mistério, o pensamento pretende
entendê-lo e manipulá-lo. Incapaz de decifrar a inconsciência da
vida ou de esclarecer o Mistério, o pensar não alude, no entanto,
apenas à derrota do intelecto diante da vida. Diretamente ligado
à consciência de que o entendimento, no limite, é incapaz de
dar conta da incompreensibilidade que envolve a existência, o
pensamento é também responsável por conduzir Fausto ao
incognoscível encontro com o Mistério. Ocorre que o seu “pensar
fundo” não corresponde apenas ao sobrepujado “curto vôo do
entendimento”, mais além, o “pensar fundo é sentir o desdobrar/
Do mistério”. Detendo-nos na arquitetura desse pensar fundo
podemos notar que ele apresenta várias facetas. Entre essas
facetas destacam-se a do pensamento racional positivo, o
entendimento, que se contenta sobretudo com aquilo que é sentido
sólido, com a clareza, com a compreensão coerente. Além desse
pensamento racional positivo, temos também o encontro com
62 um tipo de pensamento sensível, freqüentemente manifestado
através dos “olhos d’alma”, que, abstendo-se de arquitetar ou
refletir sobre seu objeto, é impressionado, sensibilizado por
aquilo que experimenta; ele é conduzido e não é aquele que
conduz. E, ainda, é possível detectar a manifestação de um
pensamento crítico, cujo caráter predominante é uma espécie de
reflexão negativa, que através da crítica tende a desestabilizar,
negar, duvidar de tudo, inclusive de sua própria incidência e juízo.
Abordando, portanto, as experiências e o exercício alargado do
pensar fundo, esse trabalho tem como meta o estudo do alcance
e da arquitetura de tal pensamento em Fausto...

A hermenêutica das Geiteswissenschaften de Dilthey em


contraposição ao método positivo de Comte
Guilherme José Santini
FSB-SP
Orientador(a): Prof.º Dr.º Pedro Monticelli

A Filosofia no século XIX, após o apogeu do idealismo romântico,


passou por uma crise de identidade diante do prestígio das Ciências
Naturais. A aplicação do método positivo ao estudo da Natureza
rendera às Ciências Naturais uma segurança epistemológica e
uma efetividade empírica que a ungia de prestígio acadêmico e
social. A influência do idealismo, por sua vez, segundo o ideal da
Filosofia enquanto pensamento puro, alijara ainda mais a Filosofia
o domínio da casualidade.
63
Diante de tal panorama, na segunda metade do século XIX, no
auge da Segunda Revolução Industrial, despontam na Alemanha
e na França novas fundamentações metodológicas para o
estudo dos fenômenos humanos. Mas, enquanto tributárias do
idealismo, tais tentativas não poderiam, no entanto, não repelir
premissas empiricistas ou realistas, ou não acolher, por outro
lado, a concepção historicista da vida espiritual.
Em suma, o desafio pós-hegeliano concentrou-se na
fundamentação de uma nova metodologia das Ciências da
Natureza (Naturwissenschaften) e das Ciências do Espírito
(Geiteswissenschaften), não obstante sem apelar ao empiricismo
ou à metafísica, e sem desprezar de todo a premissa idealista da
determinação histórica da vida do espírito.
Duas fundamentações marcaram época e influenciaram, desde
a França e a Alemanha, o pensamento ocidental posterior:
a metodologia positivista de Comte e a hermenêutica de
Dilthey. Comte fundamentou uma metodologia unívoca das
Ciências, aplicando ao estudo dos domínios humanos o método
próprio das Ciências Naturais; Dilthey, por sua vez, reagiu ao
positivismo comtiano, fundamentando, desde uma Psicologia
não-naturalizante, uma hermenêutica independente, dir-se-ia
uma metodologia interpretativa para as Ciências do Espírito ou
Ciências Humanas.
O objetivo desse trabalho é apresentar as premissas e objetivos
do positivismo de Comte aplicado às chamadas Ciências
Sociais, e, em seguida, o eixo central da hermenêutica das
Geiteswissenschaften de Dilthey, para destacar finalmente a
contribuição de Dilthey na descontrução do positivismo de Comte.
Freud na Proximidade da “Escola de Schopenhauer”
Guilherme Marconi Germer
UNICAMP
FAPESP
Orientador(a): Professores Doutores Luiz Roberto Monzani e
Oswaldo Giacoia Júnior

Esta apresentação condensa os principais resultados de nossos


atuais estudos de doutorado, cuja proposta é analisar e interpretar
as concordâncias, influências e distâncias fundamentais entre
Schopenhauer e Freud. Seus pontos de partida são as principais
referências deste àquele, nas quais podem-se delimitar duas
posturas fundamentais: uma de homenagem e reconhecimento do
filósofo como precursor de alguns dos conceitos mais importantes
da psicanálise, e outra de crítica, distanciamento e negação de sua
influência sobre a última. Mais especificamente, Freud reconhece
que Schopenhauer antecipa seus conceitos do inconsciente,
repressão, “importância psíquica da sexualidade”, instintos de vida
e morte e pessimismo antropológico. Além destas referências, se
defenderá que o pensador também adianta suas críticas à religião
e possibilidade da felicidade, sua defesa da possibilidade de uma
psicologia científica, entre outros conceitos. No concernente às
suas diferenças, se sintetizará que a psicanálise consiste em (1)
uma “ciência do inconsciente” e (2) “um método de tratamento
das neuroses”5, enquanto a doutrina schopenhaueriana é (1) uma
filosofia metafísica (2) favorável à autopurificação passiva pela
5 FREUD, S.. Psicanálise, 1926, In: v. XX da Edição Standart Brasileira, 1996, p.
254.
negação da Vontade. Após este reconhecimento, se argumentará,
porém, que ambas as diferenças

não são contraposições, pois (1) Freud sugere a psicanálise a


uma vida de “controle dos instintos”, que embora não renuncie a,
suaviza bastante a “meta da satisfação”, e (2) ambos defendem
que o melhor para as ciências e a filosofia é se reforçarem,
complementarem e verificarem mutuamente. Inspirado em uma
metáfora de Thomas Mann, se concluirá que a psicanálise possui
uma “dependência independente” da filosofia, e em especial, de
Schopenhauer, e que assim, sua postura diante do último não é
ambígua, mas ambivalente. Após apresentar a “sistematização
científica” da “escola de Schopenhauer” de Domenico Fazio, se
proporá que Freud se encontra em sua proximidade e propicia a
criação da categoria historiográfica dos “cientistas” na mesma.
Junto a uma segunda categoria periférica atribuível a esta tradição,
a saber, a dos “artistas”, ambas precisariam sua extensão para
além do núcleo estrito de filósofos delimitado pelo italiano.

O estudo da causalidade no “Tratado sobre o primeiro


princípio” de João Duns Escoto
Gustavo Barreto Vilhena de Paiva
USP
CAPES
Orientador(a): Prof. Dr. José Carlos Estêvão
O “Tratado sobre o primeiro princípio” de João Duns Escoto
(c. 1265-1308) é considerado uma das mais complexas
provas da existência de Deus formuladas na Idade Média. Em
poucas palavras, nela o autor busca concluir, primeiramente,
a necessidade de uma natureza primeira eficiente a partir do
conhecimento de que há naturezas efetuadas; somente em um
segundo momento há a prova da existência de uma tal natureza
primeira. Assim, nesse tratado, a prova parte de um estudo
das coisas não enquanto existentes, mas enquanto essências
necessariamente ordenadas por relações de causalidade.
Destarte, o próprio argumento sobre a existência de Deus é
antecedido por um detalhado estudo metafísico sobre a ordenação
essencial (e, portanto, necessária) do universo. Essa ordenação
essencial do mundo, nos diz Duns Escoto, se divide em duas
ordenações entre os entes: [i] uma de eminência e [ii] outra de
dependência. Pela primeira, é estabelecida uma ordem entre os
entes essencialmente mais perfeitos e os entes essencialmente
menos perfeitos, que são, portanto, inferiores àqueles anteriores
e por eles excedidos. Pela segunda, é dada uma ordenação entre
aqueles anteriores dos quais outros entes dependem e aqueles
posteriores que dependem de outro ente anterior. Aqueles dos
quais outros dependem podem ser sem esses outros; porém, os
que dependem de algo anterior não podem ser sem isso de que
dependem. Pois bem, essa dependência é explicada, por Duns
Escoto, justamente como as quatro relações entre a causa e o
causado – a saber, as relações de causalidade eficiente, final,
material e formal – e as relações que ordenam os causados entre
si. No presente trabalho, estudo com especial atenção a noção
de causalidade tal como Duns Escoto a apresenta nesse seu
“Tratado”, considerando-a no contexto em que ela aí surge, a
saber, em meio a uma discussão acerca da ordenação dos entes
no universo.
Aprender a ver o mundo: A fé perceptiva e o papel do filósofo
diante desta, segundo Merleau-Ponty
UFSCar
FAPESP
Orientador(a): Prof.ª Dr.ª Débora Morato Pinto e Prof.º Dr.º
Franklin Leopoldo e Silva

Merleau-Ponty propõe pensar novas teorias que pudessem
unir a filosofia com as novas descobertas da psicologia, além
de encontrar novas respostas a antigos problemas postos pela
filosofia, como, por exemplo, a dualidade cartesiana. Através de
um estudo do livro “Fenomenologia da Percepção (1945/2006)”
de autoria de Merleau-Ponty, buscaremos entender os
argumentos usados contra a psicologia clássica e contra alguns
filósofos modernos como, por exemplo, Descartes, filósofo o qual
Merleau-Ponty deu grande atenção e as críticas a este autor o
fez pensar e encontrar o seu cogito tácito. Como em Descartes
há o cogito como o fundamento primeiro do conhecimento, ou
no limite, de sua filosofia. Em Merleau-Ponty também o há (esse
fundamento), em nosso trabalho tentamos mostrar que sempre
há algo anterior ao que conhecemos reflexamente, sempre há
o irrefletido, ou seja, sempre é necessário haver algo como o
cogito tácito para haver um cogito reflexivo. Extrapolando este
argumento podemos pensar que sempre há algo anterior, sempre
há um fundamento para o nosso conhecimento, ou melhor, para
a nossa vida. Há em Merleau-Ponty uma certeza e todos estão
cientes dela, entendemos que esta certeza, em nosso filósofo, é a
fé perceptiva. E esta fé é primeira a tudo em nosso conhecimento.
Trataremos nesta apresentação a fé perceptiva, explicando o que
é ela, e o papel do filósofo diante desta fé perceptiva.

A cura e o poder em Vigiar e Punir


Ítalo Leandro da Silva
UEL
Orientador(a): Prof. Dr. Marcos Alexandre Gomes Nalli

O problema do poder para Michel Foucault é claramente formulado


em suas pesquisas de cunho genealógico, iniciadas na década
de 1970. Neste âmbito destaca-se a publicação de Vigiar e Punir
em 1975, além de toda uma série de outros textos publicados
sob a égide Ditos e Escritos e as aulas ministradas em seu
período como professor no Collège de France. A questão que ora
investigamos limita-se aos primeiros cinco anos das investigações
da genealogia – de 1970 a 1975 - e coaduna o tema do poder
com o tema da cura, este último encontrado transversalmente
em seus escritos. Traduzimos nossa investigação com a seguinte
pergunta: Como podemos entender a cura nas investigações
foucaultianas de cunho genealógico? No momento, avançamos
na interpretação de Vigiar e Punir em comparação com as teses
sustentadas no curso O Poder Psiquiátrico, ministrado em 1973-
1974. A hipótese de trabalho levantada e que vem se sustentando
é da compreensão da cura como efeito produzido pelas instituições
disciplinares, seja o asilo psiquiátrico no tratamento da loucura
ou da prisão no tratamento dos criminosos. O diagnostico do
presente realizado por Foucault, tem carácter histórico, resgata
o momento de emergência do panoptismo enquanto um poder
que é exercido sobre os corpos de modo a transformá-los para
extrair-lhes o máximo de eficiência e docilidade. Destaca-se a
forte influência de práticas religiosas na formação das disciplinas.
A cura, seja a dos loucos ou a dos criminosos, seria alcançada
pela aplicação do poder disciplinar e pela própria materialidade
arquitetônica dos hospitais, asilos e das prisões, a qual está
ancorada no modelo do Panóptico de Bentham.

A articulação entre percepção e linguagem nos textos


intermediários de Merleau-Ponty
Jeovane Camargo
UFSCar
CNPq
Orientador(a): Prof. Dr. Débora Cristina Morato Pinto

Procuramos analisar as mudanças teóricas no desenvolvimento


do pensamento de Merleau-Ponty. Para tanto, nos servimos do
principal texto referente ao primeiro período de sua filosofia,
intitulado Fenomenologia da percepção (1945) — no qual
algumas teses idealistas teriam sido apresentadas, segundo
crítica do próprio autor —, e dos textos compreendidos entre os
anos de 1950, nos quais Merleau-Ponty iniciou um processo de
revisão de algumas teses lançadas em 1945. Dentre tais textos,
consideramos de modo especial A Linguagem indireta e as vozes
do silêncio (1952) e A prosa do mundo (1951-1952), os quais tomam
por tema a linguagem e algumas manifestações literárias para, a
partir de sua análise, oferecer um novo modo de se conceber
as relações entre percepção e linguagem. A pertinência de tal
projeto de pesquisa se evidencia pelo fato de que Merleau-Ponty,
nesses textos dos anos 50, apresenta uma nova articulação entre
percepção e linguagem que reaparece em sua última filosofia e
a condiciona. Enquanto a Fenomenologia da percepção mostra
a experiência silenciosa do mundo (intencionalidade anônima do
corpo) como primeira em relação à linguagem, os textos intitulados
A Linguagem indireta e as vozes do silêncio e A prosa do mundo
apresentam percepção e linguagem como co-originárias.

O historicismo viquiano e o racionalismo cartesiano:


por uma antropologia mais integral
João Alberto Mendonça Silva
UCDB
Orientador(a): Prof.º Dr.º Josemar De Campos Maciel

Resumo: Durante a Idade Moderna a Europa viveu transformações


significativas no seu modo de conceber a ciência e a realidade.
Referenciando modernamente a filosofia, Giambattista Vico
surge como sinal de contradição e dúvida frente àquilo que seu
tempo desenvolvera como verdade. Contudo, sem se dar conta
daquilo que fazia, ele fundamentou assuntos e concepções
que marcam a Filosofia, a História e a própria sociedade,
inclusive contemporaneamente. Nomeando algumas de suas
obras, sua história e elementos de seu pensamento, busca-
se aqui identificar o ser humano e sua condição dentro dos
referenciais apontados por Vico durante o desenvolvimento de
seu pensamento. Dessa forma, trazendo o argumento histórico
viquiano, baseado no desenvolvimento filológico, pretende-se
demonstrar uma construção de mundo e de homem marcadas
pela linguagem que se manifesta na história e na sua relação
com o metafísico. Retrocedendo temporalmente para resgatar
o argumento cartesiano encontra-se uma Europa no fervilhar
das transformações científicas, além da necessidade de se
alcançar um método de pesquisa. Assim, Descartes contribuíra
demonstrando não apenas as possibilidades de fazer ciência, mas
também de conhecer o ser humano e os elementos substanciais
numa análise antropológica. Tratando daqueles concernentes à
alma e ao corpo, pretende-se enumerar, dentro do cartesianismo,
o homem e apresentar a problemática que envolve tal questão,
projetando-se enunciá-lo pelo desenvolvimento da fisiologia e
pelo dualismo corpo/alma, justificado pelo ego cartesiano e pela
busca da verdade absoluta, além da tranquilidade de espírito, tão
almejada por Descartes. O próximo passo deste intento é o diálogo
entre ambas as concepções, demonstrando suas divergências e
paralelismo no tocante à antropologia para enunciar a constituição
do homem e, assim, apresentar sua síntese com a figuração de
uma integralidade antropológica nascida da junção dos pontos
correlatos e complementares de ambas as concepções, bem
como a possibilidade de fazer valer seus elementos. Aplica-se,
ao longo deste trabalho, os métodos dos autores no que diz
respeito à pesquisa e ao enunciado dos problemas, bem como
na elaboração dos textos que o compõe. Assim, o cartesianismo
dos comentadores e o viquianismo de busca pelos originais
desdobrando, por fim, no diálogo entre ambas as concepções.

As origens naturais da ética: o pragmatismo naturalista de


Philip Kitcher
José Costa Júnior
UFMG
Orientador(a): Prof.ª Dr.ª Telma Birchal

Após a publicação de A Origem das Espécies de Charles Darwin


em 1859, deu-se gradualmente o reconhecimento de que os
humanos, assim como os outros seres vivos, surgiram através
de um processo natural de desenvolvimento. Dessa forma,
poucas áreas do estudo da vida ainda não foram tocadas pelos
desenvolvimentos da biologia evolutiva. As investigações sobre a
natureza dos traços e capacidades humanas não são exceções.
Nesse contexto, diversas teorias foram propostas com objetivo de
explicar uma das principais características humanas, a capacidade
moral. Por vias diferentes, especulou-se que a moralidade é uma
capacidade humana originada no processo evolutivo, que trouxe
vantagens para o florescimento do animal humano.
Nesse sentido, nossa exposição trata da hipótese do filósofo
Philip Kitcher, para quem a moralidade possui um caráter
funcionalista (KITCHER, 2011). Segundo sua análise, somos
dotados de mecanismos psicológicos adequados para superar
a tendência de nos preocuparmos somente com a nossa
manutenção. Dessa forma, nossos antepassados foram capazes
de formular padrões para a ação, discuti-los entre si e elaborar
formas para regular a conduta do grupo. A orientação normativa
socialmente integrada foi uma tecnologia social que respondeu
aos problemas relativos à ausência de altruísmo confrontando
por nossos ancestrais. A ampliação desse desenvolvimento da
capacidade de orientação normativa é o que Kitcher chama de
“projeto ético”, uma construção humana que tem, ao longo de
nossa história, contribuído para o progresso moral. Tal projeto
não tem fim, pois sempre é necessário criarmos e revisarmos
normas o pragmatismo naturalista defendido pelo autor.
Nossa investigação busca, além de esclarecer a relação entre a
biologia e a moralidade, avaliar as consequências da hipótese
de Kitcher para a filosofia moral, investigando se a existência
de mecanismos biológicos subjacentes à moralidade acarreta
consequências para a reflexão filosófica sobre a natureza da
moral. Assim, refletimos se o esclarecimento de fatos sobre a
natureza do animal humano pode contribuir de algum modo para
elaborarmos respostas para a mais importante questão que a
espécie já se colocou: como devemos viver?
74 A unidade do espaço em Sobre o Primeiro Fundamento da
distinção de direções no espaço de Kant

José Luciano Verçosa Marques


UFSCar
CAPES
Orientador(a): Prof. Dr. Paulo R. Licht dos Santos

O ensaio Sobre o Primeiro Fundamento da Distinção de Direções


no Espaço, apesar de suas poucas linhas, representa um passo
fundamental na gênese da noção kantiana de espaço como
forma da intuição. É nele que, pela primeira vez, Kant reconhece
a unidade como característica indispensável do espaço, pois,
do contrário, não nos seria possível distinguir dois objetos
dotados de mesma forma e mesma magnitude, mas que estão
em lugares distintos. Esse reconhecimento representa uma
tomada de posição importante em relação ao debate entre
defensores do espaço absoluto de Newton e o espaço relativo
de Leibniz, pois, na medida em que apresenta a insustentação
do princípio leibniziano de identidade dos indiscerníveis, Kant
parece apresentar o que será o fundamento subjetivo do espaço,
o que significa um rompimento com a concepção newtoniana.
Com base nisso, a comunicação em questão tem como objetivo
apresentar a análise do ensaio em questão, demonstrando os
pontos de aproximação e divergência tanto com o pensamento
newtoniano como com o pensamento leibniziano, bem como
demonstrando as aproximações e as divergências com a noção
de espaço exposta na Crítica da Razão Pura.
75
A questão “O que é uma mulher?” e seus fantasmas nas
reflexões de Virginia Woolf e Simone de Beauvoir
Juliana Oliva
USJT
CAPES
Orientador(a): Prof.º Dr.º Hélio Salles Gentil

Em algum momento de suas carreiras, as escritoras Virginia Woolf


e Simone de Beauvoir preocuparam-se com os impedimentos,
vindos de um ideal de Mulher construído, que assombram as
mulheres em suas vidas particulares. Simone de Beauvoir era
francesa, nasceu em 1908 e morreu em 1986; a inglesa Virginia
Woolf nasceu em1882 e morreu em 1941. No que diz respeito ao
tempo em que viveram, poderiam ter se encontrado, mas nunca se
conheceram, contudo Beauvoir leu Woolf e chegou a considerar o
ensaio A room of one’s own, publicado em 1929 - onde a escritora
inglesa fala da necessidade da mulher ter um quarto só para ela
dentro de sua própria casa como metáfora para alertar para a
necessidade da mulher buscar sua independência – próximo de
O Segundo Sexo, obra publicada em 1949, na qual Beauvoir
questiona a posição de outro do sexo feminino em relação ao
sexo masculino. Para a autora a ideia de Mulher e todo mundo
feminino teriam sido construídos em relação um mundo masculino,
que corresponderia a uma suposta “essência” absoluta na
sociedade. Beauvoir tenta nomear o conjunto de cerceamentos
que rodeiam a situação feminina num ideal que se pretende
uma essência fixa e imutável, pertencente a um céu inteligível,
que ela chama “Eterno feminino”. Woolf, em 1931, convidada
a falar na Sociedade Nacional de Auxílio às Mulheres sobre a
sua experiência profissional enquanto escritora para mulheres
que se preparavam para entrar no mercado de trabalho, refere-
se à situação das donas-de-casa que se dedicavam totalmente
às tarefas domésticas por meio de um anjo que as seduziria a
permanecer naquela situação, o “Anjo do Lar”. Beauvoir e Woolf
identificaram o problema de se ter como padrão um ideal universal
a ser seguido por todas as mulheres e questionando esse padrão
colocado além da vida real; cada uma em seu momento então se
deparou com a necessidade de desmontar esse ideal, e então
perguntar: “o que é uma mulher?” Esta comunicação consiste em
explorar o que esta pergunta suscita para Woolf e para Beauvoir,
estabelecendo um diálogo entre as contribuições deixadas pelas
duas para a questão.

Crítica à tradição francesa de comentário ao problema da


alegoria e da interpretação alegórica em Platão
Juliano Orlandi
UFSCar
CAPES
Orientador(a): Prof.ª Dr.ª Eliane C. de Souza

A questão da alegoria em Platão recebeu tradicionalmente


de seus intérpretes um tratamento indireto e parcial. Na maior
parte das vezes, ela foi tratada como um tema subalterno cujo
esclarecimento não pareceu ser de fundamental importância
para a compreensão da filosofia platônica. Um exemplo desse
procedimento se encontra na tradição francesa de comentário
ao problema do mito em Platão, na qual figuram como principais
representantes Frutiger, Pépin e Brisson. Preocupados
fundamentalmente com a natureza e o valor do discurso mítico,
eles abordaram a questão da alegoria exclusivamente do ponto
de vista da interpretação alegórica dos relatos tradicionais. Não
se dedicaram a investigar a presença do discurso alegórico em
circunstâncias textuais não míticas da obra platônica, tais como
nas narrativas apresentadas pelas personagens (Alegoria da
Caverna, por exemplo) ou nos próprios enredos literários dos
diálogos. Chegaram, assim, a conclusões que, se comparadas
à complexidade dos casos platônicos de alegoria, se mostram
insustentáveis. Meu objetivo é, portanto, demonstrar as falhas
e as dificuldades dessa tradição de comentário e recolocar a
questão da alegoria de um ponto de vista mais amplo.

Significação (Bedeutung): apresentação e representação da


Linguagem a partir de Wittgenstein
Karina da Silva Oliveira
UNESP
CAPES
Prof.º Dr.º Lúcio Lourenço Prado

Esta pesquisa diz respeito a um trabalho teórico, de estudo de


conceitos e argumentos, a ser realizado com base em análises
de aforismos constantes nas Investigações Filosóficas (1953) de
Ludwig Wittgenstein, tendo em vista, apreender a funcionalidade
da linguagem e verificar suas implicações. Trataremos da
investigação acerca da linguagem, na qual, compreender a “dupla”
função da linguagem, conforme afirma Wittgenstein no § 280 das
Investigações. Se por um lado, a linguagem é sempre pública
porque “comunica” algo ao outro, por outro lado, a linguagem tem
a ver com uma “apresentação” (Darstellung) ou “comunicação”
(Mitteilung) que significa a imagem da “representação” (Vorstellung)
que o falante possui, e que, portanto, é especificamente sua, sem
poder ser de “mais ninguém” (IF § 280). Neste sentido, se de
fato há a dupla função, uma delas diz respeito à sensação do
falante, ao seu sentimento ou afetação, se estamos corretos,
como pensaríamos essas considerações à luz da crítica de
Wittgenstein ao solipsismo metodológico. Nosso trabalho vai
expor, em linhas gerais que, a temática das denominações remete
à da representação – denomino o que posso ter representado.
Acerca dessa problemática, a representação, por sua vez, tem
a ver com a “significação” (Bedeutung), “representar-se” (sich
vorstellen) é um apresentar de significado e de sentido, destarte,
questionamos como interpretar essas considerações perante sua
defesa veemente da impossibilidade da “linguagem privada” (IF
§ 243).
O Absoluto segundo Hegel
Larissa Drigo Agostinho
Paris IV Sorbonne
Orientador(a): Dr. Bertrand Marchal

Pretendemos neste trabalho explorar o conceito hegeliano


de absoluto principalmente seu papel no interior da Ciência
da lógica, ou seja, na construção de um conceito de realidade
(Wirklichkeit). O conceito hegeliano de absoluto é talvez um dos
conceitos mais mal compreendidos da história da filosofia. Para
uns ele é indício do caráter sistêmico e “autoritário” da dialética
hegeliana, para outros a prova de que a dialética é simplesmente
o desdobramento de forças que estão sempre, desde o início,
potencialmente contidas na realidade, o que transforma a
racionalidade hegeliana do real num artifício ou “astúcia” da
razão. Ao compreendermos o conceito de absoluto como uma
forma lógica, uma idéia no sentido platônico do termo, podemos
depreender toda a funcionalidade que este conceito possui na
construção de uma noção de realidade, onde atuam de maneira
relacionada as modalidades da contingência, necessidade e
as possibilidades. Se Deleuze estava certo ao afirmar que a
mônada leibniziana era responsável pela criação de um mundo
que não fosse mais como a sociedade de Leibniz dobrada ou
dupla, o conceito hegeliano de absoluto estabelece a condição
de possibilidade de um pensamento dialético, ou seja, ele é a
condição de possibilidade para que o real possa ser racional,
compreendido e criado a partir de uma rede de relações, entre a
necessidade, a contingência e o possível.
Hegel e Nietzsche: as interpretações de Heráclito, o problema
do devir e a peculiaridade da dialética hegeliana
Lincoln Menezes de França
UFSCar
Orientador(a): Prof.º Dr.º . José Eduardo Marques Baioni

Hegel considera na Ciência da Lógica o devir como a unidade


do ser e do nada. Heráclito, enquanto filósofo do devir, expressa
nele esse momento lógico fundamental para Hegel: uma unidade
de opostos. A mais alta expressão da dialética para Hegel, a
dialética como princípio, nas palavras de Hegel: “o absoluto como
processo”. Nessa perspectiva, o pensamento de Heráclito está
submetido aos encadeamentos da lógica especulativa hegeliana.
Assim, a oposição se expressa placidamente na Lógica, que no
encadeamento lógico do desdobramento do mesmo que se tornou
outro-de-si, na inquietude da oposição, exprime o “princípio da
vida”, o princípio da vida lógica, tão simplesmente, a essência
enquanto mudança, harmonicamente expresso na oposição.
A harmonia racional se expressa, portanto, na diferença, num
devir da amizade. Ou seja, há movimento, há desdobramento,
transformação, mas não é uma oposição conflituosa, é uma
oposição para o reconhecimento do todo. Desse modo, a
totalidade sempre vence, manifestando-se, no entanto, pela
luta, pois o todo é o combate e os combatentes, o permanente
vencedor. Sob a interpretação que Nietzsche faz de Heráclito, ao
contrário, não pode haver vencedor. Ora um, ora outro vence, a
luta é eterna e cada qual é por si mesmo e não um é o mesmo
que o outro e necessitam diferenciar-se para se reconhecerem,
não sendo, assim, o mesmo na diversidade, como em Hegel. Sob
a perspectiva de Nietzsche o real é inconsistente. Essa sensação
de inconsistência se torna entusiasmo quando Heráclito observa
a origem efetiva de todo o devir e de todo o perecer. Essa origem
está numa força que se desdobra em duas atividades polarizadas
em opostos. O devir nasce desse combate. Combate, aliás, que é
expressão mais profunda da realidade grega. Nietzsche elogia a
luta como fundamento da efetividade como devir. Neste trabalho
levantamos o questionamento acerca da concepção hegeliana
do devir em oposição à de Nietzsche no sentido de averiguar a
peculiaridade da dialética hegeliana.

A Concepção de Educação de Condillac


Lourenço Fernandes Neto e Silva
USP
CAPES
Orientador(a): Prof. Dr. Pedro Paulo Garrido Pimenta

Este trabalho tem por objetivo entender o modo como o abade


de Condillac compreende a educação através de uma análise
do seu Curso de Estudos, redigido para a instrução do Príncipe
de Parma e publicado em 1780. Ali, o problema da educação
se torna fundamental como a síntese dos interesses do filósofo
em epistemologia e política. Após estabelecida em suas obras
anteriores a forma como os conhecimentos humanos se originam
e em que consistem a linguagem, a imaginação, o raciocínio, o
erro e a verdade, é preciso mostrar como estas conclusões se
aplicarão na reforma de cada um dos indivíduos, o que se mostra
muito claramente nas considerações preliminares ao mencionado
Curso de Estudos. A concepção de educação de Condillac,
claramente reformista, se pautará numa cuidadosa análise dos
métodos de pensamento, do uso da linguagem, e na incessante
busca da forma mais adequada de compreensão de tudo o que
nos afeta. Esta espécie de pragmatismo sistemático baseado
nos prazeres e desprazeres individuais, como exposto em seu
Tratado das Sensações, deverá se afastar decididamente de uma
noção absoluta de razão, de correção ou de verdade. Desse modo
espera-se ser possível compreender adequadamente o motivo
pelo qual alguns filósofos contra-revolucionários franceses, já
no século XIX, chamam a Condillac de “o mais culpável dos
conjuradores modernos”.

Behaviorismo e fenomenologia: como o diálogo vem


acontecendo?
Lucas Roberto Pedrão Paulino
USP
CAPES
Orientador(a): Prof.º Dr.º Reinaldo Furlan

Sob o tema do diálogo entre Behaviorismo e Fenomenologia


objetivamos, neste trabalho teórico, problematizar tal diálogo.
Para isso, retomamos os fundamentos de ambas as escolas de
pensamento e analisamos textos sobre o tema do período de
1966 a 1991. A análise segue autores de ambas as escolas que
defendem graus de compatibilidade entre elas. Consideramos o
nível de entendimento dos autores sobre estas escolas como um
fator crucial para a interpretação e análise por eles feita. Disso
decorre nosso questionamento dos fundamentos dos textos
analisados nesse trabalho que, apesar de estar em andamento e
se referir à parte da tese de doutorado, cremos já poder oferecer
algumas análises iniciais. Como exemplo, dentre os autores que
defendem a incompatibilidade, há argumentos que afirmam que
a Fenomenologia não recorre a pressupostos teóricos e analisa
os dados puros da natureza, o que seria contra os pressupostos
behavioristas de que toda análise pressupõe uma teoria e um
viés; ou mesmo que há uma diferença no âmbito no âmbito da
subjetividade no qual o Behaviorismo consideraria o homem no
modelo da tábula rasa de Locke, enquanto que a Fenomenologia
pressuporia no homem um fundamento de relação com o mundo.
Sabemos, entretanto, de um ponto de vista geral, que a noção de
dados puros é avessa à Fenomenologia e que a noção de tábula
rasa não é aplicável a muitos tipos de Behaviorismo, o que nos
faz duvidar da precisão conceitual dos autores e questionar, por
exemplo, sobre qual o tipo de Behaviorismo ou de Fenomenologia
os autores estão versando? Entendemos que tal questionamento
pode proporcionar o direcionamento da crítica para alvos mais
precisos, permitindo a discussão sobre possíveis acertos e
equívocos, além da continuidade do diálogo. Retomamos parte
da história do Behaviorismo, salientando seu caráter genérico
e diferenças entre os tipos de Behaviorismo, principalmente
àqueles de Skinner e Watson, e parte dos fundamentos da
Fenomenologia, principalmente a de Merleau-Ponty. Este
trabalho, assim, questiona e salienta imprecisões sobre o modo
como o diálogo vem acontecendo, colaborando na abertura de
um espaço filosófico para a elaboração de novos trabalhos sobre
o presente tema.

A relação entre escritor e leitor em “O que é a literatura?”


Lucila Lang Patriani de Carvalho
USP
CAPES
Orientador(a): Prof. Dr. Franklin Leopoldo e Silva

A proposta do presente trabalho é a de analisar a abordagem


realizada pelo filósofo Jean-Paul Sartre no âmbito da obra “O
que é a literatura?” a respeito de dois temas que se encontram
intrinsecamente relacionados: a Intersubjetividade e a Liberdade.
Neste particular, estruturaremos a nossa apresentação a partir
das relações estabelecidas entre dois sujeitos específicos e que
passam a ser contextualizados a partir da literatura: o escritor e
o leitor. É através desta relação estabelecida a partir de ambos
que passaremos, necessariamente, pela caracterização de cada
um dos polos, apontando as suas respectivas peculiaridades e
situaremos o tema da liberdade em meio a tal contexto. Podendo
ser considerados como dois dos temas centrais de Sartre, as
relações intersubjetivas e a liberdade são recorrentes e se fazem
presentes em outras obras. Com o intuito de melhor estudar e
estabelecer algumas relações a partir dos temas propostos é
que recorreremos a algumas considerações expostas conforme,
principalmente, o presente na obra “O Ser e o Nada”. A partir
destas duas obras selecionadas para a exposição proposta em
nosso trabalho, traçaremos as vertentes que estabelecerão
semelhanças e diferenças de temas presentes em dois momentos
da filosofia sartriana, priorizando o que concerne à relação
estabelecida entre o escritor e o leitor, com especial atenção ao
aspecto da liberdade.

Max Weber e a ética kantiana: polêmica sobre os imperativos


práticos e seu sentido formal.
Luis Felipe M. de Salles Roselino
UFSCar
CAPES
Orientador(a): Prof.º Drº Wolfgang Leo Maar

A discussão de Max Weber sobre o sentido “livre de valores”


(Wertfreiheit) nas ciências sociais e econômicas propõe que
seria um erro considerar que os imperativos kantianos seriam
puramente formais. Alguns especialistas, como Wolfgang
Schluchter propuseram uma leitura dessa discussão com base em
uma comparação esquemática entre a metafísica dos costumes
kantiana e os tipos de ética designados por Max Weber nessa
discussão. A presente abordagem irá revisar alguns aspectos
colocados por W. Schluchter em Isenção dos juízos de valor e
discussão sobre valores: Max Weber entre Immanuel Kant e
86 Henrich Rickert (Werturteilsfreiheit und Wertdiskussion: Max
Weber zwischen Immanuel Kant und Henrich Rickert), propondo
que Max Weber estaria menos voltado para um diálogo com a
Metafísica dos costumes de Kant, e muito mais próximo à Crítica
da razão prática (KpV), lida por M. Weber segundo o problema
da possibilidade de uma orientação puramente racional do agir
moralmente correto e da impossibilidade de uma formulação
prática que não implique necessariamente em uma valoração
prática. Sua correspondência com os tipos de ação racional, em
Conceitos sociológicos fundamentais, parece confirmar essa
possível interpretação. Ao final da discussão será levantada
a seguinte questão: Será possível concluir que o imperativo
categórico nunca se apresenta, na ação humana, de modo
puramente formal?

Do decoro e do ridículo: a crítica do Discurso sobre as


ciências e as artes
Luiz Henrique Monzani
UFSCar
CAPES
Orientador(a): Prof. Dr. Luís Fernandes dos Santos Nascimento

No Discurso sobre as ciências e as artes o foco de Rousseau é


investigar a fundo a sociedade tal como ela se apresenta; quer dizer:
não se trata da busca por um valor normativo para a compreensão
do que a sociedade poderia ser ou ainda sobre o que ela deveria
87
ser. A questão é mais simples e direta: as sociedades atuais
são corrompidas; os costumes de cada indivíduo são moldados
pela sociedade em que ele vive e a degeneração está à frente
de qualquer um que abra os olhos para vê-la: então, existe algo
em todas as sociedades que invariavelmente irá corrompê-las. É
com esse diagnóstico que Rousseau abre as primeiras páginas
o Primeiro Discurso, onde leremos que a arte ensejou as paixões
e que isso ocasionou uma mudança nos costumes: de rústicos
e naturais os homens tornaram-se polidos e artificiais. Dessa
influência das artes e das ciências na sociedade sobre os nossos
costumes a primeira consequência foi negativa: ao tornaram-se
polidos, todos começaram a agir de um modo determinado e houve
a supressão das diferenças. Duas causas serão apontadas para
explicar a uniformidade de costumes decorrente desse processo
que acabamos de descrever: o decoro e o ridículo, temas que
pretendemos investigar a fundo em nosso trabalho.

A crítica da presença do Eu na consciência


Luiz André Colonetti Bet
UFSCar
CAPES
Orientador(a): Silene Torres Marques

Através do seu livro A Transcendência do Ego, Sartre funda o que


ele próprio define como o objeto por excelência da Psicologia, cujo
desenvolvimento pode ser encontrado na obra Esboço para uma
teoria das emoções. Por outro lado, também define o que seria
o objeto da Fenomenologia, que será largamente desenvolvido
nas obras posteriores, como A Imaginação, O Imaginário e,
principalmente, O Ser e o Nada. Através d’A Transcendência do
Ego, Sartre inicia um movimento importante da gênese do seu
pensamento chamado por alguns comentadores de “limpeza da
consciência”, desenvolvido ao longo das obras que precedem O
Ser e o Nada e que articulam os esforços conceituais necessários
para a concepção da mesma. Este trabalho de “limpeza” acima
citado consiste na eliminação dos “conteúdos da consciência”,
onde já são criticados pelo autor no artigo Uma ideia fundamental
na fenomenologia de Husserl: a intencionalidade presente no
livro Situações I. A eliminação destes conteúdos da consciência
é, para o autor, o elemento que possibilita uma alternativa para
superar as “ilusões comuns do realismo e do idealismo”, como
diz o autor no artigo acima citado. Assim, interrogar sobre a
presença do Ego na consciência torna-se um passo fundamental
no pensamento do autor.

A compreensão do Virtual no debate entre Deleuze e Badiou.


Marcelo Marcos Barbosa
UFSCar
CAPES
Orientador(a): Prof.º Dr.º Franklin Leopoldo e Silva

A origem da noção de Virtual, no sentido como é empregada na


filosofia contemporânea, encontra-se na obra de Bergson. Tal
noção indica o modo de ser da realidade que não pode jamais ser
reduzido a uma figura qualquer do não ser, dimensão que será
descrita por Deleuze como o fundamento de toda existência atual.
Não por acaso, justamente contra a idéia de que a existência
possua um fundamento para além da sua atualidade, este será um
dos pontos centrais atacados por Badiou, para quem o virtual não
atingiria a pretendida unidade do real. Segundo seu comentário,
“para tentar pensar até o fim, sem sacrificar os direitos do Uno,
o virtual como parte do objeto real, e logo o ente-imagem como
dividido em uma parte atual e uma parte virtual, Deleuze se
empenha em uma analítica do indiscernível.” De fato, a análise
seguirá os principais momentos desenvolvidos por Deleuze
sobre o tema, e com isso Badiou não comete necessariamente
um erro em relacionar os termos Uno e Virtual, uma vez que o
próprio Deleuze afirma: “Só houve uma proposição ontológica:
o Ser é unívoco”, repudiando assim toda definição que expresse
o Ser pela equivocidade, ou seja, que afirme que a existência
se diz em vários sentidos. Diante dessas duas possibilidades
de interpretação, iremos retornar aos principais momentos da
filosofia bergsoniana que desenvolvem o conceito, para com isso,
precisar os argumentos que estão na origem da disputa entre os
comentadores.
Rawls: o “eu” político na justiça como equidade
Márcio Morais Silva
UFPI
FUFPI
Orientador(a): Prof.ª Dr.ª Elnôra Maria Gondim Machado Lima

A justiça como equidade de John Rawls é uma das teorias


políticas mais discutidas na atualidade. O autor pretende eleger
princípios justos de justiça para serem aplicados à estrutura básica
da sociedade visando a resolução dos impasses no tocante a
distribuição de seus bens primários. Para tanto é pensado em
um procedimento onde pessoas, simetricamente posicionadas
e com algumas restrições, deliberem acerca dos princípios de
justiça, a saber a posição original sob o véu de ignorância que
objetiva anular as informações que poderiam fazer com que as
partes elegessem princípios em beneficio próprio. Por situar as
partes por trás de um véu de ignorância, a concepção de pessoa
em seu primeiro grande escrito, Uma Teoria da Justiça (1971),
foi entendida pelos críticos como algo formal, desincorporado
e como um átomo isolado, ficando desta forma, apenas no
âmbito subjetivo e individual e não no coletivo. Rawls em seus
escritos posteriores refez alguns pontos de sua teoria objetivando
sanar as imprecisões do seu principal escrito. Sendo assim, a
concepção de pessoa a partir de Justiça e Democracia, é descrita
como um membro plenamente ativo da sociedade, ou seja, como
um cidadão político. O “eu” da justiça como equidade entendido
desta forma se coaduna com a sociedade organizada como um
sistema equitativo de cooperação social e a teoria como uma
concepção de justiça política. Desta forma, o presente trabalho
pretende analisar a concepção de pessoa contida na justiça
como equidade, partindo da posição original em Uma Teoria
da Justiça, onde os escritos de Rawls ainda contêm aspectos
metafísico-filosóficos e que foi alvo de criticas, até os seus
escritos posteriores onde a ideia de pessoa e a de justiça como
equidade é declarada pelo filósofo como política, a saber a Justiça
e Democracia, Liberalismo Político e Justiça como Equidade:
uma reformulação. Demonstrando, desta forma, que houve uma
mudança na concepção de pessoa da teoria rawlsiana.

Os ‘Sonhos de um visionário’ e a Dialética Transcendental:


aprofundamento ou retrocesso de problemas?
Marcio Tadeu Girotti
UFSCar
CAPES
Orientador(a): Prof.º Dr.º Paulo Robert Licht dos Santos

Nossa proposta é trazer uma discussão acerca da problemática da


ilusão transcendental e do focus imaginarius da Crítica da razão
pura, vinculada a um retrocesso ou a um aprofundamento de
questões anteriores à obra crítica de Immanuel Kant. O problema
da ilusão na filosofia de Kant já é parte de suas discussões em
seu período de juventude, em especial, na obra Sonhos de um
visionário explicados por sonhos da metafísica (1776). Também
é nesta obra que aparece, pela primeira vez, a expressão focus
imaginarius, como um ponto focal para formação de imagens.
92 Nesse sentido, verifica-se que tanto a ilusão quanto o focus
imaginarius voltam a fazer parte do itinerário de Kant no período
de sua filosofia crítica, que nos leva a pensar: por que Kant volta
a tratar da ilusão? E por que ele retoma a metáfora do focus
imaginairus? Sabemos que a ilusão, nos Sonhos, é uma ilusão
ótica; na Crítica, ela é uma ilusão transcendental. Agora, será que
Kant deixou algo em aberto e precisou retomar estes conceitos a
fim de resolver alguma questão? Podemos falar de uma mesma
ilusão? E o focus imaginarius, tem a mesma função nas duas
obras? É com estas interrogações que procuraremos abordar
a temática de uma possível aproximação ou retrocesso entre a
obra pré-crítica e a obra crítica.

A interpretação da ordem e da desordem em A evolução


criadora
Marcos Daniel Camolezi
USP
FAPESP
Orientador(a): Prof. Dr. Franklin Leopoldo e Silva

Almejamos discutir o problema da ordem e da desordem presente


em A evolução criadora, de Henri Bergson. A discussão será
realizada pelo cotejo entre a segunda analogia da “Analítica dos
princípios” da Crítica da Razão Pura (B 232-256) e o tópico “A
desordem e as duas ordens” (EC, capítulo III, p. 233-238). Na
segunda analogia, intitulada “Princípio da sucessão no tempo
93
segundo a lei de causalidade”, Kant encontra-se às voltas com
o problema da objetividade da experiência. Ele procura mostrar
que a imaginação não poderia oferecer uma ordem de sucessão
necessária, “pois pela simples percepção fica indeterminada a
relação objetiva dos fenômenos que se sucedem uns aos outros”
(ed. Calouste Gulbenkian, B 234). A necessidade da sucessão
deveria provir apenas da causalidade enquanto conceito puro
do entendimento, capaz de determinar objetivamente a ordem
do antes e do depois. Para assegurar o lugar do entendimento
em sua epistemologia, Kant acaba, portanto, por vislumbrar
a possibilidade de outra ordem que não aquela necessária. É
por essa razão que, em alusão indireta a Kant no tópico acima
referido, Bergson procura mostrar que a desordem consiste em
um conceito intermediário entre duas ordens, uma contingente e
uma necessária, e representa a oscilação que realizamos entre
elas na vida cotidiana. Desse modo, nosso objetivo consiste em
expor a origem do problema das duas ordens em sua vertente
idealista e, em seguida, apresentar a alternativa de Bergson ao
problema.
Forças e estruturas orgânicas segundo Herder e Kant
Mario Spezzapria
USP
CAPES
Orientador(a): Prof. Dr. Márcio Suzuki

Nas resenhas à obra de Herder Ideais para uma filosofia da


história da humanidade, Kant afirma que a atitude de Herder
pela natureza orgânica é fundada sobre um uso não correto da
razão e representa uma volta a considerações de tipo metafísico:
isso em particular no caso da força orgânica, que Herder chama
de “invisível”. O juízo de Kant que Herder esteja deslizando na
metafísica provoca a indignação de Herder, e causa, como é
notório, um contraste entre os dois que permanecerá por anos.
A resenha kantiana não restitui a centralidade que os conceitos
de ser orgânico, forças e estruturas orgânicas têm na obra
herderiana a fim da constituição de uma “nova” filosofia da
historia. Segundo Herder, a análise das formas nas quais os
organismos viventes se desenvolvem e o confronto das estruturas
anatômicas deles permite de supor a existência de uma estrutura
prototípica geral (Hauptform), e pensar que a natureza inteira se
desenvolva segundo uma lei de desenvolvimento orgânico. O
que é observável na natureza é a disposição e organização de
formas que continuamente formam outras formas, segundo um
ordem de complexidade. Ao vértice atual da cadeia dos seres
orgânicos encontra-se o homem; o qual, porém, considerado de
uma maneira mais geral como parte da natureza orgânica comum
a todos os seres viventes, deve ser pensado também como
figura intermediária, que poderá se desenvolver organicamente
em formas futuras, ainda desconhecidas. Desse modo, Herder
apresenta um esboço de teoria estrutural-morfológica muito
interessante, no esforço de fornecer uma leitura da natureza e
dos destinos do homem valendo-se de um conceito do organismo
que opera de maneira imanente.

O afastamento da Ideia do Bem em República VI e o


“pessimismo gnoseológico” de Platão
Natalia Costa Rugnitz
UNICAMP
FAPESP
Orientador(a): Lucas Angioni

A presente comunicação pretende discutir a relação entre o


bem em si (auto to agathon) e o conhecimento (episteme), tal
como Platão a apresenta no Livro VI de República (504e-511e).
Consideraremos, em primeiro lugar, o “extraordinário exagero”
(daimonia hyperbole, 509c) socrático, com base no qual o bem em si
pode ser entendido como “transcendente” às ideias. Analisaremos
esta transcendência refletindo sobre a interpretação segundo a
qual não há, em sentido estrito, uma alteridade ontológica radical
do bem a respeito do resto dos elementos do mundo inteligível,
mas que ele compartilha a natureza eidética, uma vez que é
definido como máximo objeto de ciência (megiston mathema,
505a). Assim, ao se manter no ápice do topos noético, veremos
abrir-se a possibilidade do conhecimento do bem em termos
análogos ao conhecimento das Ideias em geral. Observaremos
em seguida, porém, as múltiplas vias pelas quais Platão sugere
que o encontro intelectual com este ente ideal supremo, se
bem possível, é altamente improvável (504a, 504d, 505b, etc.).
Consideraremos, por fim e com base nisto, que embora não
seja adequado conceber um “pessimismo epistemológico” no
Platão da República (dado que o bem em si se apresenta como
cognoscível), talvez sim seja possível vislumbrar um certo
“pessimismo gnoseológico”, na medida em que o filósofo assume
explicitamente a extrema dificuldade que existe para a alma de
avançar dialeticamente até o objeto supremo - sem cuja visão,
porém, todas as demais coisas se tornam supérfluas (505a-b).

A relação entre pintar e escrever em Montaigne


Nelson Maria Brechó da Silva
PUC-SP
Orientador(a): Dra. Maria Constança Peres Pissarra

Esta comunicação trata do relacionamento entre pintura e


escrita em Montaigne. Desse modo, destacam-se as seguintes
interpelações: Por que relacionar a pintura com a amizade? Qual
é o sentido da pintura? Montaigne compara a sua obra com a
pintura, porque a arte promove a expressão dos sentimentos e
da razão. Nesse sentido, a pintura expressa a interioridade e, da
mesma forma, cada ensaio remete a um novo ângulo, em outras
palavras, ao exame de si mesmo pelo julgamento da própria
razão. Por essa razão, tal estudo pretende abordar uma visão
humanista do pensamento montaigniano, que deseja trazer para
os ensaios as suas experiências marcantes para, a partir disso,
refletir sobre suas opiniões. Exercitar pelo viés do julgamento e
da escrita envolve um talento semelhante ao artista que, pela
arte, desenvolve o seu quadro com aquilo que faz parte do seu
interior. Da mesma forma, ensaiar possibilita a expressão do
“eu”, que se encontra em busca do seu sentido. A escrita assume
a função de tornar estático aquilo que está em movimento no
interior do ser humano. Assim, nota-se uma postura humanista no
filósofo. Contudo, a escrita convida à re-escrita e ao surgimento
de novas experiências, uma vez que escrever está ligado ao ato
de experimentar aquilo que foi escrito.

Bergson e Sri aurobindo: confluências e distinções em torno


do conceito de intuição.
Nestor Reinoldo Müller
UFSCar

O estudo de pensadores indianos constitui uma das vias de


ampliação da perspectiva quase exclusivamente europeia que
ainda caracteriza a atividade filosófica da academia brasileira.
Nesse sentido, o último XV Encontro Nacional da ANPOF dedicou
uma sessão temática para a filosofia das culturas orientais,
contando com 11 comunicações sobre autores indianos e budistas,
e gestões estão sendo concentradas para a instituição de um
respectivo Grupo de Trabalho, notadamente por iniciativa de
professores da UFPB e da UFJF. A presente comunicação explora
a lição de Henri Bergson (1859-1941) e Sri Aurobindo Ghose
(1872-1950) sobre um tema nuclear em suas obras, focalizando
em especial, de um lado, a conferência “A Intuição filosófica” e
o ensaio “Introdução à Metafísica”, publicados por Bergson no
livro “La pensée et le mouvant”, e do outro lado os capítulos “Os
métodos do conhecimento vedântico” e “Supramente, Mente e
a Maia Sobremental”, integrantes da obra “The Life Divine”, de
Sri Aurobindo, cuja primeira tradução em língua portuguesa
acha-se em curso. O paralelo aqui investigado delineia uma via
de diálogo, abrindo-se para sugestões no sentido de que outros
trabalhos estendam o esclarecimento de elementos estruturais
de diferenciação e confluência entre a tradição filosófica europeia
e a tradição védica indiana.

Impulso sexual e sociabilidade: desenvolvimento do ser


moral no livro IV do “Emílio”
Paulo Ferreira Junior
UFSCar
CNPQ
Orientador(a): Prof.º Dr.º Luís Fernandes dos Santos Nascimento

“Mas se, como não podemos duvidar, o homem é sociável por


natureza, ou pelo menos é feito para tornar-se tal, só pode sê-lo
através de outros sentimentos inatos, relativos a sua espécie, pois
considerando apenas a necessidade física, ele deve certamente
dispensar os homens em vez de os aproximar”. (Rousseau,
Emílio, Martins Fontes, 1995, p. 392). A passagem citada foi
extraída da Profissão de fé do vigário saboiano, trecho no qual
Rousseau argumenta que a Moral não é obra de preconceitos
e pode ser demonstrada. Notadamente, o trecho citado coloca
uma tensão com uma tese muito difundida na antropologia de
Rousseau, qual seja: que o homem não é social por natureza.
Portanto, podemos dizer que a “natureza humana” encerra uma
ambivalência espinhosa que muito interessou Jean-Jacques
porque colocava em risco a possibilidade de uma moral imune
ao relativismo. O presente trabalho propõe que o impulso sexual
também é um tema chave no livro IV do Emílio porque oferece
um modo adequado de compreender como a sociabilidade e,
por consequência, a moralidade emergem da natureza humana.
Ora, se a verdadeira moral pode ser demonstrada, então a
sociabilidade é um pressuposto que precisa ser explicado. Emílio,
o homem da natureza educado para viver em qualquer tipo de
sociedade, só a conhece de fato quando, no despertar do desejo
sexual, ela não pode ser mais evitada. Dito de outro modo, o
desejo sexual é uma necessidade natural associada ao bem-estar
que, necessariamente, envolve outro ser humano e coincide com
o desenvolvimento do ser moral, por isso ela se torna uma tema
importante para a compreensão da sociabilidade na obra Emílio.
100O Sumo Bem no Dialogus de Pedro Abelardo
Pedro Rodolfo Fernandes da Silva
UFSCar
FAPEAM
Orientador(a): Prof.º Dr.º Carlos Eduardo de Oliveira

Pedro Abelardo dedicou os últimos anos de sua vida à discussão


ética. Desse período resultaram duas obras – a Ethica ou Scito te
ipsum e o Dialogus inter philosophum, judaeum et christianum ou
Collationes - através das quais inovou a ética medieval. No que
se refere à obra aqui tomada para análise, o Dialogus, é um texto
bem ao estilo polêmico de Abelardo, que se inicia com o diálogo
entre o Filósofo e o Judeu, depois entre o Filósofo e o Cristão,
o que possibilita dizer que são dois diálogos, ressalvando que
destes o segundo não foi concluído. Nele é narrado o encontro,
fruto de um sonho, de uma religião tolerante, personificado em
três debatedores que estão sob a moderação de um eu-narrador.
É um diálogo controverso, nem sempre calmo - marcado pela
busca da verdade reivindicada pela razão e pela lei moral natural.
Por meio da análise de tal texto objetiva-se investigar a afirmação
de Abelardo segundo a qual o essencial da ética está em mostrar
o que é o sumo bem, de que modo este pode ser alcançado e, por
consequência, o sumo mal evitado. Tomando a proposta estóica e
agostiniana da moral como coroamento de toda filosofia, Abelardo
aborda tal problema nos rigores da lógica aristotélica.
101
Sobre o surgimento da moderna predicação lógica universal
Rafael dos Reis Ferreira
UNICAMP
CNPq
Orientador(a): Arley Ramos Moreno

A expressão mais usual da predicação universal na Lógica


Contemporânea é a função proposicional. Um dos primeiros,
senão o primeiro, a introduzir o termo “função proposicional” foi
Bertrand Russell (1872-1970). Mas, em uma perspectiva histórico-
conceitual, podemos dizer que o conceito de função proposicional
foi introduzido mais explicitamente pela primeira fez, e ao
mesmo tempo, por Johann Gottlob Frege (1848-1925) e Charles
Sanders Peirce (1839–1914). Em Frege, o conceito de função
proposicional surge no contexto de seu projeto de fundamentação
da Aritmética na Lógica, com influência em autores posteriores
como Russell. Em Peirce o conceito de função proposicional surge
de suas investigações semióticas sobre a realidade. A presente
comunicação abordará a questão de como dois pensadores que,
pelo que se sabe, parecem não ter conhecido os trabalhos um do
outro, introduziram o conceito de função proposicional de modo
independente.
Sexualidade e desatino em Michel Foucault
Rafael Fernando Hack
UFSCar
CAPES
Orientador(a): Prof. Dr. Luiz Roberto Monzani

Ainda que convencionalmente dividido em três distintos períodos


(arqueologia, genealogia e ética), o pensamento de Foucault
resiste a fragmentação periódica. Prova disso são as confluências
verificáveis entre a arqueologia e a genealogia como no caso da
loucura e da sexualidade. Ambas podem ser verificadas sob o
prisma próprio da configuração do poder delineado pelo filósofo
nas pesquisas realizadas na década de setenta (genealogia). As
características elencadas por Foucault em “A vontade de saber”
(primeiro volume da “História da sexualidade”) são condizentes
a configuração que o poder apresenta na “Historia da loucura”.
Pretendemos assim, analisar as características predominantes
do poder no período clássico demonstrando a similaridade
do seu modus operandi nas temáticas supracitadas. O poder
jurídico-discursivo, forma predominante durante o classicismo,
atua através de cinco aspectos centrais: 1) A relação negativa
(A rejeição, a exclusão, a recusa e a ocultação seriam a forma
determinante de atuação do poder); 2) A instância da regra (O
poder estabelece a lei, fundamentalmente através de binômios:
licito e ilícito; permitido e proibido); 3) O ciclo de interdição (o poder
somente exerce-se mediante a lei de proibição. O sujeito deve
renunciar a si mesmo e o castigo apresenta-se como supressão.
“Tua existência só será mantida a custa de tua anulação.”
(FOUCAULT, 1988, p.81)); 4) A lógica da censura (negação
da existência, impedimento da pronunciação, afirmação da
proibição. O encadeamento destes três princípios no mecanismo
de censura impõe um princípio de inexistência, não-manifestação
e mutismo); e, 5) A unidade do dispositivo (agindo de maneira
uniforme e maciça o poder é exercido de cima a baixo. Trata-se
do jogo entre o lícito e o ilícito, a transgressão e o castigo. “Em
face de um poder, que é lei, o sujeito que é constituído como
sujeito – que é ‘sujeitado’ – é aquele que obedece.” (FOUCAULT,
1988, p. 82).). Pretendemos, deste modo, observar a presença
desta forma de poder na “História da loucura” demonstrando as
similaridades entre os dois períodos da produção intelectual do
filósofo.

Relações entre percepção e memória na filosofia de Henri


Bergson.
Rafael Pellegrino
UFSCar
CAPES
Orientador(a): Prof.ª Dr.ª Silene Torres Marques

Como assunto geral para este seminário, propomos estudar as


relações entre percepção pura, lembrança-imagem e memória
pura, os três elementos principais envolvidos na dinâmica da
psicologia Bergsoniana; uma psicologia da duração. Com isso,
nossa apresentação procurará dar conta do jogo argumentativo
que, nos três primeiros capítulos de Matéria e Memória, forma
o pilar central dessa psicologia esboçada por Bergson em
seu segundo livro. Tentaremos expor de que forma Bergson
conduz sua argumentação de modo a demonstrar uma relação
de gradação entre esses dois termos. Uma gradação que, no
entanto, não corresponde a graus de força ou de grandeza, mas
de níveis de consciência entendidos pelo autor como graus de
contração da duração.
Concentraremos, assim, nossa atenção sobre três pontos
fundamentais dessa argumentação. Em primeiro lugar,
analisaremos, no primeiro capítulo, aquilo que Bergson denomina
teoria da percepção pura. Veremos que ela é a pedra angular
da teoria psicológica apresentada em Matéria e Memória. Ora,
existindo ela mais de direito que de fato, sendo uma percepção no
instantâneo, portanto na qual a memória está ausente, Bergson irá
introduzir este esquema inicial em graus cada vez mais alargados
de duração para explicar, no segundo capítulo, o reconhecimento
concreto das imagens. Este alargamento da teoria inicial
introduzida no primeiro capítulo trará, com seu ápice no esquema
do circuito da percepção atenta, a questão da sobrevivência das
lembranças-imagem e, portanto, questões a respeito daquilo
que Bergson denomina memória pura. Seguiremos, assim, até
o terceiro capítulo do livro, dando especial atenção à teoria
bergsoniana das ideias gerais.
Deste modo, percorreremos a via central que nos conduz desde
a materialidade de uma percepção pura até o grau extremo
da pura consciência. Nosso objetivo será mostrar como, para
Bergson, a ideia de graus de consciência, entendida como graus
de contração da memória, isto é, da duração, é o que está em
jogo na resolução do problema da relação entre consciência e
corpo, assim como de toda a psicologia esboçada por Bergson
em Matéria e Memória.

Algumas Considerações sobre a Linguagem Fenomenológica


de Rudolf Carnap
Renato Machado Pereira
UFSCar
Orientador(a) : Prof.º Dr.º Bento Prado Neto.

Os positivistas lógicos procuraram desenvolver sua análise


da linguagem sob o ponto de vista de que o sentido de uma
sentença é dado pelo seu método de verificação. Um exemplar
desse pensamento encontramos na obra “A Construção Lógica
do Mundo” (1928) de Rudolf Carnap, onde ele descreve um
sistema linguístico chamado de linguagem fenomenológica.
Esse sistema era fundamentado na lógica, que estava sob forte
influência do Principia Mathematica de Russell e Whitehead, e na
redução do mundo para o “dado sensível”, isto é, uma maneira
de reconstruir o mundo a partir da percepção interna (sensações)
das experiências individuais. Para Carnap, essa linguagem era
potencialmente capaz de descrever todas as sentenças com
sentido em termos dos “dados sensíveis”, isto é, a verdade de
uma sentença seria diretamente verificada através da pessoa
cuja experiência a sentença se refere.
No entanto, essa concepção de sentenças em termos de dados
sensíveis foi muito criticada. Uma das principais objeções era a
dificuldade em estabelecer que partes do mundo as sentenças
elementares supostamente faziam referência. Se cada um de nós
é limitado a interpretar qualquer sentença como sendo a descrição
de nossas próprias experiências individuais, é difícil ver como
nós poderemos comunicar o todo, isto é, o mundo. E uma outra
importante objeção era que a redução do mundo às sentenças em
termos de dados sensíveis, expressadas num sistema lógico, não
poderia ser vista como uma relação lógica, pois é uma relação de
instâncias de naturezas diferentes. Então, o que poderia ser essa
redução? Alegará o próprio Carnap e outros positivistas lógicos
que falar de comparações entre sentenças em termos de dados
sensíveis e partes do mundo é tratar de assuntos metafísicos.
Assim, o artigo tem por finalidade fazer algumas considerações
sobre a linguagem fenomenológica de Rudolf Carnap.

Necessidade e contingência: sobre o conceito de história em


Karl Marx
Roberto Nunes Junior
UFF
Orientador(a): Prof.º Dr.º Claudio Oliveira

Uma das questões mais polêmicas na obra do filósofo alemão


Karl Marx é o seu conceito de história. A tradição marxista nos
ensina que caminhamos inexoravelmente para o comunismo e
caberia aos “coveiros do capitalismo” (o proletariado) a missão de
concretizar tal feito. No entanto, a ideia de que não há teleologia
na história, para o autor de O Capital, tem aparecido cada vez
mais, principalmente após a queda do socialismo na União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas e no leste Europeu. Muito mais
do que fruto do pessimismo que abateu boa parte da esquerda
no mundo todo e para além da noção de “Fim da história” de
Francis Fukuyama, rediscutir o “inexorável” é elemento primordial
para entendermos como Marx via o processo histórico. A frase
usada no próprio O Capital de que “a anatomia do homem é a
chave para entendermos a anatomia do macaco” diz mais sobre
história do que sobre qualquer outra coisa e apresenta dois pontos
centrais: a problematização dos conceitos de necessidade e
contingência, dentro do que chamaríamos de “filosofia da história”
e a compreensão da história como um processo aberto e múltiplo
que poderia ter inúmeras conclusões. A “necessidade histórica”
de um evento só pode ser justificada posteriormente, ou seja, não
há finalidade nem caminho determinado a seguir. Desse modo, a
partir da compreensão de Karl Marx, o acontecimento gera sua
própria necessidade e justificativa.
108Kant inserido no debate político jusnaturalista moderno
Rodrigo Luiz Silva e Souza Tumolo
USP
FAPESP
Orientador(a): Prof. Dr. Maurício Cardoso Keinert

O objetivo aqui é estabelecer a ligação da política kantiana relativa


especialmente à formação do Estado com o debate jusnaturalista
moderno que viera se desenvolvendo até então, tendo como eixos
centrais de reflexão os escritos políticos A Paz Perpétua e Teoria
e Prática. É sabido que Kant ficou bastante entusiasmado com o
debate político e, em um primeiro momento, fora incitado pelas
obras de Rousseau – haja vista que o nome do seu escrito político
mais famoso foi emprestado também de escritos políticos daquele
(Projet de paix perpétuelle). Pretende-se em um primeiro momento
estabelecer as fases de desenvolvimento do pensamento político
kantiano para seguir, em um segundo momento, a uma releitura
dos seus escritos políticos mencionados a fim de apontar os
elementos que corroborem sua filiação ao debate jusnaturalista. É
forçosa a análise do conceito de teleologia embutido na natureza
(especialmente exposto na Ideia de uma história universal de um
ponto de vista cosmopolita) que serve de sustento à argumentação
presente na segunda seção da Paz Perpétua. Em um terceiro
momento, intenta-se uma reflexão sobre o lugar do direito natural
na reflexão kantiana, se o cosmopolitismo kantiano responde bem
ao problema da sociedade geral do gênero humano proposto por
Rousseau (Manuscrito de Genebra) e, enfim, uma crítica geral do
que até então foi apresentado.
109
A teoria da ação comunicativa e o conflito social na busca
por reconhecimento: superação ou complementaridade?
Ronaldo Martins Gomes
UFSCar
Orientador(a): Prof.ª Drª Anete Abramowicz

O objetivo deste texto é compreender como, numa perspectiva


de introdução à filosofia social, e em que medida a Teoria
da Ação Comunicativa desenvolvida pelo pensador alemão
Jurgen Habermas e a Teoria do Conflito Social na busca por
Reconhecimento do filósofo Axel Honneth, que foi assistente
de Habermas no Instituto de Pesquisa Social se relacionam.
Honneth propõem em sua teoria atualizar o pensamento do
jovem Hegel do período de Jena e, paralelamente, se propõem
a dar conta de algumas aporias que, em sua maneira de ver,
a teoria habermasiana não consegue responder e muito menos
superar. Ambos os autores são “descendentes” da Teoria Crítica,
respectivamente segunda e terceira geração conforme entendem
alguns estudiosos, portanto, preocupados em desenvolver uma
explicação que dê conta da realidade social do mundo ocidental
em sua racional complexidade e, também, com suas intensas
contradições. Interessa entender, ainda que numa perspectiva
de introdução ao tema, se essas teorias são de natureza
complementar ou não, se de fato Honneth pode responder o que
ele dia que faltou a Habermas responder, ou se, essas teorias
são de certa forma dependentes uma da outra. Pretende-se, a
partir das conclusões parciais a que se consiga chegar, visualizar
possíveis utilizações em futuras pesquisas a serem realizadas na
área das ciências humanas, em especial no que diga respeito à
filosofia da educação.

Heteronímia como crítica às filosofias da representação


Rubens José da Rocha
UFSCar
CAPES
Orientador(a): Prof. Dr.  Luís Fernandes dos Santos Nascimento

O objetivo desta comunicação será mostrar como elementos


centrais da poesia de Fernando Pessoa apontam para uma solução
original quanto ao problema da representação na forma poética.
Após o impasse instaurado pela crítica sistemática às filosofias
fundadas na representação (Kant, Hegel, Marx, Nietzsche), o
pensamento vê-se intimado a deslocar a velha questão sobre
a essência última das coisas para a análise das condições de
possibilidade de enunciação não objetiva pela filosofia. Segundo
Deleuze, os conceitos não são criação de um ou outro autor
empírico, mas de um número indefinido de personagens, ou
seja, autores conceituais que animam a história da filosofia. Os
personagens conceituais são como “heterônimos do filósofo, e o
nome do filósofo, o simples pseudônimo de seus personagens”.
(DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O que é a Filosofia? p.86). O
juízo sintético em Kant, a vontade de potência em Nietzsche, a
sensualidade estética em Kierkegaard, ou o capital em Marx, são
conceitos criados por personagens como o Inquisidor, Dioniso, Don
Juan, Capitalistas e Proletariados. Nossa abordagem seguirá dois
eixos de articulação: primeiro, mostrar como a figura da certeza
sensível, assim como aparece no Guardador de Rebanhos, se
ocupa em desfazer a certeza ontológica de si como fundamento
do cogito na forma poética. A ideia é que o mestre heterônimo,
ao formalizar com a palavra poética a experiência imediata com
os objetos, sustenta para si e para os discípulos a verdade da
certeza sensível como antídoto contra a tirania da representação.
Em seguida, mostraremos como Álvaro de Campos, trilhando o
caminho aberto pela astúcia poética de Alberto Caeiro, condensa
estilhaços de noções reflexivas do sujeito como elemento propulsor
da dinâmica interna das sensações. O primeiro momento tem por
objetivo evidenciar a poesia de Alberto Caeiro como modo de
absorção da experiência filosófica entre os extremos da certeza
sensível e do sujeito da reflexão. O segundo momento busca
compreender como o impulso de despersonalização constitui
uma função simbólica de reflexão que estrutura o fluxo interno
das sensações na forma poética.

O conceito de ideia e sua relação com o sensível em Descartes


e Leibniz
Sacha Zilber Kontis
USP
CNPq
Orientador(a): Profa. Dra. Tessa Moura Lacerda

A revolução que Descartes opera no conceito de ideia em relação


à escolástica repercutiu em toda a filosofia do século XVII, seja
nos filósofos cartesianos, seja nos seus críticos. A ideia tal como
por ele concebida não se coloca mais como um arquétipo divino
ou como uma essência, mas como um conteúdo próprio da mente.
Ela é, como afirma a Meditação Terceira, como uma imagem do
objeto no intelecto. Por imagem, entretanto, não se deve pensar
em uma reprodução fiel, mas sim como uma representação
objetiva, como a coisa mesma enquanto conteúdo do intelecto. É
justamente nesse ponto que Leibniz procura se afastar da tradição
cartesiana. Ao colocar a ideia no interior do paradigma restritivo
da imitação, da relação cópia-original, Descartes teria ficado
limitado a uma noção puramente intuitiva da representação, o que
explicaria sua rejeição das representações sensíveis do campo
do conhecimento. Leibniz, ao estruturar sua concepção de ideia
sobre as relações expressivas entre a ideia e seu objeto, amplia
o campo da representação para além do paradigma da imitação,
salvaguardando o conhecimento sensível das interdições
cartesianas. A presente comunicação pretende apresentar como
Leibniz constrói sua concepção de ideia no contexto de uma
crítica ao cartesianismo e que, ao mesmo tempo, encontra eco na
própria filosofia cartesiana. Desse modo, será possível delinear
os traços básicos da relação entre Descartes e Leibniz no que
concerne ao sensível, o que acabará por indicar, mesmo que em
linhas gerais, o sentido da relação de ambos os filósofos com o
empirismo de Locke.
O modelo de constituição “apreensão-conteúdo de
apreensão” nas Investigações lógicas de Husserl
Scheila Cristiane Thomé
UFSCar
Orientador(a): Prof.º Dr.º Bento Prado de Almeida Ferraz Neto

O modelo de constituição apreensão-conteúdo de apreensão


(Auffassung-Auffassungsinhalt) foi formulado por Husserl pela
primeira vez nas Investigações Lógicas (1900-1901). Segundo
este modelo - que é primeiramente pensado para descrever a
constituição perceptiva, mas que em seguida é generalizado como
modelo para toda constituição objetiva - em toda constituição de
objetos há um ato intencional que se direciona para dados de
sensações e apreende tais conteúdos sensíveis que servem de
base para a constituição do objeto. O objeto é, então, constituído
mediante síntese e interpretação, como a unidade de múltiplos
modos de perfis (suas múltiplas determinações sensíveis, como
por exemplo, sua cor, forma espacial, seu cheiro, etc.). Este
modelo interpretativo quando aplicado ao ato de percepção, de
fato, funciona muito bem, mas uma dificuldade já aparece quando
tentamos aplicar este modelo, por exemplo, para a constituição de
objetos categoriais, pois nestes casos os conteúdos que servem
de base para o ato de apreensão não são conteúdos propriamente
sensíveis. O caso das intenções categorias manifesta a exigência
de certo alargamento do modelo de constituição apreensão-
conteúdo de apreensão. Procurarei apresentar nesta comunicação,
num primeiro momento, em que consiste o modelo de constituição
apreensão- conteúdo de apreensão nas Investigações lógicas e,
num segundo momento, será empreendida uma discussão sobre
os problemas que resultam da tentativa de Husserl de aplicar este
modelo de constituição para todas as operações constitutivas da
consciência.

As formas de reconhecimento – a relação entre lembrança e


percepção na filosofia de Bergson
Solange Bitterbier
UFSCar
CNPq
Orientador(a): Prof.ª Dr.ª Silene Torres Marques

Para Bergson, a análise do reconhecimento consiste não somente


em descrevê-lo, mas em abordar os problemas colocados por
determinadas teorias do reconhecimento, as quais, por suas
concepções equivocadas – em especial aquelas acerca da
percepção e da sua relação com a lembrança – não conseguiram
chegar a uma análise coerente deste fato. Segundo tais teorias
criticadas por Bergson, o reconhecer seria explicado ao se
fazer da lembrança uma espécie de percepção enfraquecida,
como se entre percepção e lembrança houvesse uma simples
diferença de grau. Essa compreensão da lembrança como um
enfraquecimento da percepção revela seu caráter equivocado
quando atentamos para duas formas que o reconhecimento pode
tomar em nossa vida, tal como Bergson expõe minuciosamente
em Matéria e memória. Uma delas é aquela própria à nossa
vida prática onde a percepção, voltada ao agir, encadeia ações
automáticas, visando exclusivamente ao útil e sem utilizar as
lembranças: é o reconhecimento próprio à memória corporal,
uma memória-hábito. A outra forma de reconhecimento exige a
intervenção da memória enquanto lembrança e é através dele
que experienciamos o misto que é nosso presente: um misto de
percepções e lembranças, mais precisamente a união de estados
motores e de lembranças. Tal reconhecimento é o ponto de contato
entre passado e presente, entre memória pura e percepção, nos
permitindo não somente compreender como Bergson caracteriza
a memória espontânea, esta que aguarda uma “fissura” para
expor suas particularidades, mas também a peculiaridade da
consciência diante de nossas ações no presente. Pretendemos,
diante da importância do reconhecimento na filosofia bergsoniana,
expor uma análise de suas formas e de suas implicações nas
concepções de consciência, memória e vida prática presentes na
obra Matéria e memória.

A Hipótese de Obsolescência da Psicanálise em Herbert


Marcuse
Suzan Cristina dos Anjos
UFPR
CAPES
Orientador(a): Prof. Dr. Luiz Repa

Em 1963, Marcuse pronunciaria em Nova York, na reunião anual


da American Political Science, a conferência que mais tarde seria
publicada no Brasil sob o título “Obsolescência da Psicanálise”.
Nela, o filósofo irá afirmar que alguns princípios fundamentais da
teoria freudiana, ao contrário do que pensava o pai da psicanálise,
teriam validade histórica. Aqui, pretendemos analisar a hipótese
marcuseana de obsolescência da psicanálise, ou seja, o motivo
pelo qual Marcuse afirma a caducidade da teoria freudiana.
Para Marcuse, a sociedade industrial avançada teria liquidado
definitivamente com a figura balizadora do “Pai todo poderoso”
edipiano. A figura do pai enquanto protagonista de uma família
responsável pelas primeiras experiências de socialização e
consolidação de valores necessários para a manutenção da ordem
capitalista, hierarquia e autoridade, por exemplo, perde totalmente
o seu valor. No interior de uma sociedade parricida, em seu sentido
mais literal, a noção de “indivíduo” enquanto encarnação da
estrutura do aparelho psíquico freudiano (ID, EGO, SUPEREGO),
teria sido superada. Aquele antigo indivíduo se transformaria em
massa. Nosso objetivo, aqui, é analisar estas transformações
históricas que fazem com que Marcuse afirme a obsolescência
da psicanálise, ao mesmo tempo em que se mantem fiel às suas
“hipóteses mais provocadoras”. De acordo com o teórico crítico,
a psicanálise freudiana, ou melhor, a sua metapsicologia - ainda
que datada - possui uma “tendência oculta” a partir da qual é
possível analisar a subjetividade que sustenta e mantem o status
quo, quer dizer, a metapsicologia freudiana funcionaria enquanto
instrumento que lança luz sobre os mecanismos de controle e
repressão das pulsões conflitantes com a manutenção da ordem.
E que, em um só tempo, aponta para a superação desta mesma
realidade, isto é, a metapsicologia freudiana também serviria
enquanto orientação para a transformação da realidade.
Subjetividade e Tempo na Fenomenologia de Husserl
Tayrone Barbosa Justino Alves
UFSCar
CAPES
Orientador(a): Prof.º Dr.º Bento Prado de Almeida Ferraz
Neto

Edmund Husserl nasceu em 8 de abril de 1859 em Prosnitz


(atual Morávia, Áustria). É conhecido como o fundador da
fenomenologia, linha de pensamento famosa no inicio do sec.
XIX, inaugurada com as Investigações Lógicas. Nesta importante
obra Husserl tem dois objetivos, o primeiro, denunciar os
preconceitos psicologistas acerca da fundamentação da lógica;
e o segundo, fundamentar uma teoria do conhecimento que
não caia nestes mesmos preconceitos. Mas a partir de 1907 a
fenomenologia toma rumos diferentes, com um curso sobre crítica
do conhecimento, que posteriormente é publicado com o nome de
A Idéia da Fenomenologia. Este texto apresenta certas mudanças
com relação às Investigações, entre elas a introdução da redução
fenomenológica. Tais mudanças culminarão nas teses expostas
nas Idéias para uma Fenomenologia Pura e para uma Filosofia
Fenomenológica. O objetivo da apresentação é investigar quais
problemas levam Husserl a reconsiderar algumas teses de sua
teoria fenomenológica até 1900, além das consequências que
tais problemas trazem para a teoria fenomenológica em seu
desenrolar posterior.
Trataremos de tais assuntos da seguinte maneira: num primeiro
momento exporemos rapidamente a teoria presente nas
Investigações Lógicas. Nesta exposição pretende-se abordar
as estruturas presentes no ato de conhecimento. Por fim, num
segundo momento visamos esclarecer os motivos pelos quais
Husserl é levado a reformular a concepção de subjetividade
presente nas Investigações. Esta reformulação se dá, e isto é
o que tentaremos apontar devido a dois motivos: o primeiro é o
dilema que as estruturas presentes na fenomenologia de 1900
acarretam quanto à crítica do conhecimento; o segundo se dá
devido às novas considerações sobre o tempo.
Vale resaltar que este ultimo aspecto, a apreensão do tempo, é
essencial para compreendermos as mudanças feitas na teoria
fenomenológica. Para tal empreitada utilizaremos além das
Investigações e A Idéia da Fenomenologia, as Lições para uma
Consciência Interna do Tempo de 1905.

A psicanálise em Michel Foucault: agente do poder político


moderno ou prática de liberdade?
Thiago Canonenco Naldinho
UFSCar
FAPESP
Orientador(a): Prof.º Drº Luiz Roberto Monzani

A presente comunicação pretende abordar a presença da


psicanálise na filosofia de Michel Foucault, especificamente
naquele denominado o eixo da ética, constituído pelo agrupamento
de suas pesquisas realizadas durante o fim dos anos 70 e início
dos anos 80 do século passado. Partiremos das considerações
foucaultianas situadas n’A vontade de saber (1º volume de sua
História da sexualidade), onde a psicanálise é descrita como
uma importante engrenagem do poder político moderno. Pautado
por uma racionalidade que defende o uso e a gestão da vida
humana como qualquer outro recurso disponível a seu governo,
o Estado moderno teria empreendido um empobrecimento do
tecido relacional tramado por e entre os indivíduos com o intuito
de facilitação de seu gerenciamento. Nesse contexto, o saber e a
prática psicanalíticos agiriam, por meio da atualização da antiga
tecnologia cristã da confissão, na extração de uma verdade
íntima do indivíduo, coadunada à normalização subjetiva posta
em jogo pelo poder político. Em contraponto, abordaremos as
declarações localizadas no curso de 1981-1982, ministrado no
Collège de France e intitulado A hermenêutica do sujeito, no qual
Foucault parece relatar uma outra modalidade de exercício da
psicanálise nas relações entre sujeito e verdade. Nas veredas
de sua investigação acerca da estética da existência, Foucault
passa a entrever uma possibilidade de resistência ao poder
subjetivante moderno por meio da invenção de novos modos de
vida a partir do “cuidado de si”. Nesta feita, a psicanálise passa a
ser relatada como uma forma de saber que traria em seu cerne as
mesmas questões crucias – o preço que o sujeito deve pagar para
aceder à verdade e os consequentes efeitos da verdade sobre o
sujeito – que estiveram presentes na “cultura de si” existente nas
antigas sociedades greco-helenístico-romanas, na qual exibia-se
uma intensa proximidade entre a questão filosófica concernente
às condições e limites do acesso do sujeito à verdade e a
espiritualidade (entendida como o conjunto de práticas de si que
garantiriam tal acesso ao sujeito).

A atividade das mãos: o papel do trabalho na educação de


Emílio
Thiago Vargas Escobar Azevedo
USP
CAPES
Orientador(a):Prof. Dra. Maria das Graças de Souza

A comunicação tem como objetivo desenvolver algumas


reflexões acerca da função do trabalho e das atividades manuais
na educação de Emílio, e demonstrar suas como tais temas
se ligam, de maneira mais ampla, ao campo dos problemas
morais. Ensinar trabalhos que permitam ao jovem tornar-se
autossuficiente e afastá-lo da ociosidade serão questões que
deverão ocupar grande parte das preocupações do preceptor:
devendo o pupilo aprender a ser útil para a sociedade na qual
escolherá viver, e sendo o trabalho um dever incontornável do
homem social, uma educação que vise bons resultados deverá
iniciá-lo na maior diversidade de ofícios possíveis, tantos quantos
forem necessários para que sua autonomia seja assegurada.
Entretanto, não se trata de instruí-lo em quaisquer ofícios: sua a
independência será garantida pelo trabalho das mãos, atividade
que, segundo Rousseau, é a que mais se aproxima do estado
natural. Ao ensiná-lo um fazer artesanal, instigando o pupilo a
adquirir habilidades que o permitam, independente da do meio
social ou situação em que se encontre, ser livre, Rousseau
também evitará que Emílio se exponha à dependência causada
pela divisão do trabalho. Finalmente, o trabalho das mãos será
visto como um eficaz remédio para os males causados pelo vício
da ociosidade: tornando o corpo vigoroso e saudável, as atividades
manuais também fortalecem o temperamento e equilibram as
paixões, e, desta forma, terminam por compor parte fundamental
da moral e da educação de Emílio.

Entre as faces atuais e virtuais da continuidade: relações


filosóficas entre Deleuze e Peirce
Thien Spinelli Ferraz 
UNESP

Com este trabalho procuramos explorar relações estabelecidas


por G. Deleuze (1925-1995) com a filosofia e semiótica de C.
S. Peirce (1839-1914). Consideramos que o pensamento de G.
Deleuze mergulha em problemáticas filosóficas fundamentais
à filosofia moderna e contemporânea, problemáticas dentre
as quais destacamos a reflexão sobre a continuidade e suas
dimensões atuais e virtuais para a experiência. Entendemos que
estas questões sobre a continuidade também são abordadas
na filosofia peirceana, principalmente no que diz respeito à
natureza fenomenológica e ontológica da continuidade e de suas
dimensões atuais e virtuais. Nesse sentido, vemos que algumas
regiões filosóficas habitadas pelo pensamento deleuziano se
encontram com aquelas nas quais há a presença da filosofia e da
lógica peirceanas, de modo que alguns elementos das relações
de vizinhança entre estas filosofias são indicados por Deleuze
em sua abordagem dos regimes de signos nascidos no cinema,
por exemplo. No entanto, entendemos que estas ressonâncias
não se fazem limitadas a este campo, de modo que buscamos
explorar em que sentido a concepção de virtual e de um
continuum ontológico e semiótico atravessa a filosofia de ambos
os pensadores. Assim, discutimos como na filosofia deleuziana
a noção de continuidade é concebida como um fluxo de ligações
entre heterogêneos planos de intensidade por meio dos quais
pensamentos são atualizados e virtualizados na experiência.
Já na filosofia de Peirce, pautada em um Realismo Ontológico
associado ao seu Sinequismo (uma teoria do continuum), o
atual e o virtual seriam dimensões de realização da mente e do
pensamento em diferentes manifestações fenomenológicas que
se apresentam enquanto qualidades, relações e mediações. Por
fim, com base na investigação sobre relações entre a filosofia de
Deleuze e a de Peirce acerca da continuidade, buscamos indicar
em que sentido o atual e o virtual não são realidade opostas, mas
sim dimensões complementares para a realização do pensamento
e de seus processos de criação de afirmações e registros de suas
existências, posicionamentos e durações no tempo.
 
Considerações acerca da formação discursiva no pensamento
arqueológico de Michel Foucault
Tiago Brentam Perencini
UNESP
CAPES
Orientador(a): Prof.º Dr.º Rodrigo Pelloso Gelamo

Michel Foucault questiona a verdade no discurso produzido


historicamente. A história não se constitui da totalidade do saber.
Antes, é formada por sucessivas rupturas discursivas. Nosso
objetivo nesse trabalho é compreender o modo de formação
do discurso na história em A arqueologia do saber (1969).
Primeiramente, procuraremos demonstrar como Foucault refuta
as categorias tradicionais de análise tais como a distinção dos
grandes tipos de formas ou gêneros que individualizam e opõem
grandes temas como ciência, literatura e filosofia, bem como a
ideia de gênese e de influência na história. Depois, cabe evidenciar
quando o autor irrompe com a ideia de continuidade histórica nos
objetos do discurso, nos modos de enunciação, nos conceitos
e nas escolhas teóricas. Em terceiro lugar, identificaremos e
demonstraremos de que modo cada discurso traz consigo as suas
próprias regras de formação a partir de quatro relações: (a) O
conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no
tempo e no espaço que se constituem como práticas discursivas;
(b) o sistema de formação que residem de maneira específica
nas fronteiras de cada discurso e (c) o conjunto de relações
verticais, discursivas e não discursivas a que se situa a formação
do discurso. Acreditamos que essas considerações sobre as
relações próprias de cada discurso contribuam para uma análise
arqueológica do saber na história.

Notas sobre algumas alterações constatadas no argumento


do imperativo categórico entre a Fundamentação da
metafísica dos costumes e a Crítica da razão prática
Thomas Matiolli Machado
UNESP
CNPq
Orientador(a): Prof.ª Dr.ª Clélia Aparecida Martins

Na Fundamentação da metafísica dos costumes (1785), Kant


fundamenta a moralidade, ou a razão pura prática na descoberta
da espontaneidade da razão teórica e de sua passagem à razão
prática. A liberdade da razão como espontaneidade refere-se,
naturalmente, à razão teórica, porém, o homem como membro do
mundo inteligível deve representar a sua vontade, que é senão a
razão prática, como livre. Afinal, se aceita a alegação de Kant da
espontaneidade da razão, não há como negar sem contradição a
concessão da propriedade das coisas em si aos seres racionais
e, com isso, sua submissão às leis do mundo inteligível. Supondo
ser possível, a partir da razão teórica, inferir a liberdade, e disto
uma justificação do caráter impositivo da lei moral, Kant conclui
que, o homem enquanto ser racional, portanto “pertencente ao
mundo inteligível, (...) jamais pode pensar a causalidade de sua
própria vontade de outro modo senão sob a ideia da liberdade,
pois independência de causas determinantes do mundo sensível
é liberdade” (GMS, AA 04: 452). Não obstante, na Crítica da
razão prática (1788) Kant relaciona o princípio da autonomia,
como autolegislação, e insere um recurso conceitual que na
Fundamentação inexistia, a saber, o factum da razão. O objetivo
do presente trabalho é expor a diferença de abordagem entre
as duas obras, e perscrutar o porquê do filósofo de Königsberg,
ao tratar da possibilidade do imperativo categórico na segunda
Crítica, ter achado necessário inserir o factum da razão em seu
argumento.

Linguagem e sentido: a filosofia como temporalização do


discurso em Henri Bergson
Vanessa de Oliveira Temporal
UFSCar
FAPESP
Orientador(a): Prof.ª Dr.ª Débora Cristina Morato Pinto

A obra de Bergson contém uma dificuldade intrínseca quanto


ao método intuitivo, sobretudo quanto à possibilidade de sua
aplicação sem mistura à teoria de base racional. Esta dificuldade
se coloca de modo que sua solução não pode ser feita a partir
do emprego da lógica. Também quanto à análise filosófica, a
novidade deste método impossibilita sua refutação seguindo o
caminho da análise de texto, pois, de antemão, a maneira como
o analisamos se vale do pensamento lógico. E sua obra se
concentra em demonstrar e combater este uso do pensamento
– predominante da tradição filosófica – na medida em que ele
abstrai e antropomorfiza a natureza temporal do Ser. Apesar de
a linguagem ser constituída por vários elementos temporais, sua
hierarquia não contempla a ordem dos fatos positivos e apaga a
subjetividade de sua autoria. Além disso, o emprego do passado
na língua, não se refere obrigatoriamente a uma ordem concreta
de eventos, em alguns casos, também se presta a constituir a
condição de possibilidade do comentário ou narrativa do real.
Procuraremos apresentar algumas alternativas de Bergson à
vocação lógica predominante na linguagem, as quais envolvem a
dimensão biológica do homem e a impossibilidade de dissociação
da consciência e da vida do restante da natureza.

Do problema da recepção na obra Rua de mão única de Walter


Benjamin
Vinicius Domingues Chamiço
UNIFESP
CAPES
Orientador(a): Prof.º Dr. Francisco De Ambrosis Pinheiro Machado

Escrita no período do entre guerras na Alemanha, a obra Rua de


Mão única de Walter Benjamin é exemplo especial da paradoxal
e grandiosa efervescência cultural da década de 20, no período
conhecido como a República de Weimar. Influenciada pela
vanguarda europeia, as “imagens de pensamento” (Denkenbild)
são fragmentos de uma escrita singular e dissonante que
permeia toda obra com uma crítica social e literária. Mas além
do engajamento da obra, seu conteúdo e forma transparecem
uma preocupação ainda recente na História da Arte: o problema
da recepção. Assim, será apresentada uma análise acerca da
preocupação de Benjamin transparecida na obra Rua de Mão
única do problema da recepção, e como a consciência do autor
alemão acerca do desenvolvimento da técnica e do fim aura já
se encontravam de forma embrionária numa obra que precedia o
ensaio “A obra de arte na época da sua reprodutibilidade técnica”
cerca de 10 anos. Walter Benjamin nesta obra percebe uma
mudança na percepção dos passantes na metrópole a ponto do
autor se dedicar numa forma de escrita que mimetizasse um dos
piores inimigos da crítica e da reflexão distanciada: os reclames
publicitários.

A Primazia do objeto: esboços da relação Nietzsche-Adorno


Vinicius dos Santos Xavier
UFSCar
CNPq
Orientador(a): Prof. Dr. Wolfgan Leo Maar

O objetivo da presente comunicação é estabelecer a relação


entre a filosofia da linguagem de Nietzsche e a crítica adorniana.
Para situar tal imbricação em ambos os pensadores, apresentar-
se-á, em um primeiro momento, como Theodor W. Adorno
se vale da teoria nietzscheana para fundamentar sua crítica à
hipóstase do objeto. Ainda que não cite textualmente, Adorno é
um devedor daquele na medida em que sua crítica penetra no
objeto histórico e não-estático afim de compreendê-lo, por meio
da interpretação, sem cristalizar nenhum de seus aspectos. Essa
cristalização se daria como ideológica. Em seguida, mostrar-se-á
como a relação é estabelecida tomando-se o antropomorfismo da
filosofia nietzscheana. Nesta, a prioridade que se dá a algumas
experiências, que se cristaliza como verdade por meio de um
esquecimento passivo, é desmontada teoricamente por meio
da crítica. Nesse sentido, normas sociais e morais são impostas
como verdade na medida em que se priorizam experiências
em detrimento de outros aspectos, que, por si sós, seriam tão
relevantes quanto quaisquer outros. A opção por um aspecto
é sempre arbitrária e moralizante. Isto indica a internalização
das normas sócio-morais pela consciência e sua criação pelas
idiossincrasias pessoais dissimuladas. Nesse âmbito, ao
atentar para a primazia do objeto, Adorno, sem esquecer-se do
movimento dialético, constrói sua crítica e demonstra como o
capitalismo tardio é hipostasiado e gira em torno de si mesmo.
Sendo assim, há uma via de interpretação da apropriação da teoria
nietzscheana por Adorno. Não há uma fixidez do objeto com um
sentido estanque que não seja perpassado pela história e pela
intepretação. O que em Nietzsche aparece como esquecimento
e como moral, em Adorno aparece como alienação e reificação,
visto o movimento cada vez mais abstrato e dominador do capital
tornado fetiche. Há uma adequação autoimposta do movimento
objetivante do objeto em direção à sua hipóstase também interna,
vinda de dentro do sujeito como sua consciência (reificada). É
na não aceitação de qualquer dado cristalizado, de qualquer
conceito pré-concebido e hipostasiado, na sua ruptura interna,
que se pode levar a cabo uma teoria dialética negativa.

A instabilidade das fronteiras das concepções de ciência


Vitor Orquiza de Carvalho
UNICAMP
FAPESP
Orientador(a): Prof.º Drº Luiz Roberto Monzani

O objetivo desta comunicação é o de compreender as fronteiras de


concepções de ciência levando em consideração os conflitos no
processo de suas demarcações. A partir da constatação de que as
definições de ciência podem sofrer influências de dimensões que
extrapolam aspectos metodológicos ou estritamente
epistemológicos, este trabalho visa discutir a pertinência de
considerar a instabilidade das fronteiras dos conceitos de ciência.
Para ilustrar os conflitos de demarcação, propomos uma divisão
em três grupos de estudiosos: (a) filósofos e historiadores da
ciência, os quais dispensam apresentação sobre sua legitimidade
em relação ao tema; (b) cientistas que de antemão têm sua
cientificidade garantida, como a maioria dos físicos, que aparenta
não se ocupar da tarefa de conceituar a ciência, preocupando-
se primordialmente com o fazer da ciência per si, seja teórica
ou empiricamente, mas que não deixam de significá-la uma vez
que são eles que alimentam e desafiam os filósofos da ciência
130com suas propostas; e, no nosso entender, um terceiro grupo (c)
pode compor esse conflito pelos que almejam ser – ou ter sido –
reconhecidos como cientistas, ou seja, aqueles que na história do
conhecimento proclamaram que seus fazeres seriam científicos
por essa ou aquela justificação. Com esta divisão em mente,
recuperamos brevemente alguns conflitos teóricos históricos que
possivelmente teriam influenciado processos de demarcação
característicos, como o do nascimento do conceito de ciência
moderna e o da passagem do século XIX para o próximo. A partir
disso, argumentamos com base em Lebrun e Kuhn que conflitos de
demarcação podem ser decisivos para evidenciar a instabilidade
de uma concepção de ciência. Nesse sentido, defendemos que a
compreensão de uma concepção de ciência não pode prescindir
do entendimento do contexto e do texto do discurso que levou
a sua demarcação. Isto nos levou ao entendimento de que um
conceito de ciência se estabelece de modo nebuloso, diante de
diversas influências, o que faz do assunto algo difícil de afunilar e
de expressar em termos absolutos.

Kierkegaard, Wittgenstein e os enunciados religiosos


Wagner de Barros
UFSCar
CAPES
Orientador(a): Prof.º Dr.º Bento Prado de Almeida Ferraz Neto

O presente trabalho tem o objetivo de expor como, segundo a


131
interpretação de Schönbaumsfeld, enunciados religiosos são
significativos tanto para Kierkegaard quanto para Wittgenstein.
Entre os diversos trabalhos que buscam investigar a relação entre
Kierkegaard e o Tractatus de Wittgenstein, encontramos a leitura
singular de Genia Schönbaumsfeld, desenvolvida em A confusion
of spheres. A autora observa que o ponto comum entre os dois
filósofos não está na consideração sobre natureza da linguagem,
mas sim na visão sobre o ético-religioso. Para Schönbaumsfeld,
Kierkegaard e Wittgenstein defendem que os fatos não adquirem
qualquer influência nas ações ou decisões ético-religiosas. Há,
pois, uma cisão entre esfera valorativa e esfera objetiva. A tese
geral defendida pela autora é que ambos os filósofos ressaltam
a esfera de cada fenômeno, ou seja, a fé religiosa não pode ser
tratada como algo factual ou científico. Ao tentar trazer o religioso
para o factual, objeto da ciência, o resultado é a negação de sua
característica particular. Deste modo, trabalhar com os conceitos
religiosos mediante uma perspectiva “científica” incorre na
distorção do sentido do que é religioso. Segundo Schönbaumsfeld,
ambos os filósofos defendem que é necessário distinguir cada
esfera, não confundir religião com ciência e enunciados veritativos
com a oração religiosa. De acordo com Schönbaumsfeld, temos
que a compreensão dos conceitos da linguagem religiosa envolve
a práxis religiosa, ou seja, o sentido envolve a práxis. Todavia, a
interpretação de Schönbaumsfeld não é ausente de problemas.
Buscar-se-á, por fim, apresentar os pontos negativos e positivos
da leitura de Schönbaumsfeld.
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
Universidade Federal de São Carlos
Centro de Educação e Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação em Filosofia

Departamento de Filosofia
e Metodologia das Ciências
Humanas UFSCar

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