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Rev. d o M useu de A rqueologia e Etnologia, S.Paulo, 3: 147-158, 1993.

CONSIDERAÇÕES SOBRE ALGUMAS DROGAS


INDÍGENAS, EM ESPECIAL 0 RAPÉ, E A
PARAFERNÁLIA PERTINENTE *

S. Henry Wassén **

WASSÉN, S.H. Considerações sobre algumas drogas indígenas, em especial o rapé, e a parafernália
pertinente. Rev. do M useu de A rqu eologia e E tnologia, S. Paulo, 3: 147-158, 1993.

RESUMO: Revisão dos progressos nas pesquisas sobre substâncias psico-


ativas usadas por populações sul-am ericanas, pré-históricas e atuais, com
destaque para as associações da parafernália empregada com o mundo animal.

UNITERMOS: Drogas indígenas - Alucinógenos - Etnofarmacologia.

A 27 de outubro de 1966 realizou-se uma claramente que eles conheciam o efeito de uma
reunião da Sociedade de Medicina Histórica de Datura, i.é uma solanácea, com sua substância
Gotemburgo, presidida por Eric Salingre, em que alcalóide. Supus que fosse Datura sanguínea, mas
falei sobre “Psicotom im ética (sintom as p si­ o pesquisador colombiano N éstor U scategui
cóticos) de origem sul-americana” e Bo Holmstedt achou provável tratar-se de Datura suaveolens.
abordou aspectos químicos do material por mim Em 1955, Richard Evans Schultes informou que
estudado. Alguns dos dados mencionados então os indios Sibundoy do sul da Colombia, além de
foram tratados num artigo intitulado “The use of muitos outros tipos de Datura, conheciam a
some specific kinds of South American Indian solanácea Methysticodendron amesianum pelo
snuff and related paraphemalia”, publicado na nome dé “borrachero” (da palavra espanhola
revista E tnologiska Studier. Outra parte da “borracho” que significa em briagado). Ao
conferência deveria ser utilizada no simpósio identificar esta planta, o autor acentuou que são
Ethnopharmacologic search for psycho-active os pajés que a usam, costumando plantá-la junto
drugs no Medicai Center de San Francisco em a suas casas. Com as folhas faz-se uma infusão
1967 sob o título “Anthropological survey of the que é tomada para que a pessoa venha a adquirir
use of South American snuffs”. Permito-me agora dons de adivinhação, porém a planta também é
apresentar aqui alguns trechos da palestra de considerada como tendo certa aplicação medici­
1967, acrescentando-lhes dados novos. nal. Seu nome no idioma dos indios Kamsá, com
No ano de 1934 coletei informações entre o já mencionado acréscimo espanhol, é “mits-
os índios Chocó da Colôm bia que mostram kway borrachero” , isto é, “ substância em ­
briagadora do jaguar”. Este dado é importante,
pois em vastas áreas da América do Sul a imagem
do jaguar figura nas designações de antigos
(*) Publicado em A rstryck/Ò r 1 9 6 3 ,1 9 6 4 ,1 9 6 5 och 1966,
materiais utilizados dessa maneira. Voltarei ao
Etnografíska Museet, Göteborg 1967 e traduzido, com
acréscimos do A por Margrete Svensson. Revisto por Vera
assunto mais adiante.
Penteado Coelho e Thekla Hartmann. Em 1937 conheci uma substância psico-
(**) Museu de Etnologia de Gotemburgo, Suécia. mimética através do pesquisador mexicano Blas

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Pablo Reko que me enviou sementes de Ipomaea distúrbios mentais. As pequenas sementes pretas
sidaefolia, hoje Rivea corymbosa. Esta segunda e vermelhas foram examinadas por Santesson e,
denominação foi utilizada pelo Dr. Manuel Urbina de acordo com Etnologiska Studier 6,193 8 , onde
no seu catálogo de plantas mexicanas, publicado os resultados foram publicados, provocavam tanto
no México. Rivea corymbosa é a única repre­ reações alcalóides como glucocidas. A toxicidade
sentante da família Convolvulaceae originária do era insignificante e Santesson, em experiências
Novo Mundo. Para mim, ela era interessante, pois com sapos, conseguiu apenas uma forma de semi-
os índios m exicanos a conheciam desde a narcose.
antiguidade como a miraculosa substância piule, Após a morte de C.G.Santesson, o Museu
ou, no idioma azteca, ololiuqui que, de acordo Etnográfico de Gotem burgo não teve m ais
com Sahagún, propiciava eloqüência e visões, nenhum contato com um farmacólogo disposto a
sendo recomendada pelo médico de Felipe II, o prosseguir nossas pesquisas com drogas em mate­
Dr. Francisco Hernández que veio ao México em rial sul-americano. Esta era uma situação difícil
1570, como estimulante sexual e como remédio e por esta razão Bo Holmstedt foi saudado com
contra flatulência. A planta floresceu em minha grande alegria quando, no início de 1960, entrou
casa e enviei a maior parte das sementes de em contato com o Museu. Graças a ele obteve-se
coloração marron-clara ao Prof. Santesson do o estímulo necessário para continuar com estudos
Instituto Karolenska. Ele obteve alguns resultados sobre m aterial arqueológico e etnográfico
preliminares, mas devido à quantidade relati­ referente à psicofarmacologia dos índios sul-
vamente pequena e à metodologia daquela época, americanos, a exemplo de substâncias do tipo rapé
não conseguiu fazer muito com a droga. Os re­ como o paricá, epéna e similares. Com isto, o
sultados da pesquisa foram publicados em Professor Holmstedt veio a dar continuidade às
Etnologiska Studier 4, 1937. tradições do Instituto Karolenska e do Museu de
C.G. Santesson faleceu em 1939 e portanto Gotemburgo.
não pôde apreciar o brilhante trabalho de Schultes Se bem que os europeus daquela época
- “A contribution to our knowledge of Rivea realm ente pouco entendessem daquilo que
corymbosa, the narcotic ololiuqui of the Aztecs” testemunhavam durante a conquista da América,
- publicado em Cambridge, Mass. em 1941. Foi temos através deles importantes descrições da fan­
somente bem mais tarde que o famoso sintetizador tástica descoberta nas índias Ocidentais. No Haiti,
do LSD, o Dr. Albert Hofmann, veio a mapear Colombo observou o uso de uma substância, a
também Rivea corymbosa. Ele começou seus cohoba, não mencionando todavia o pó pelo seu
estudos com os restos das sementes que sobraram nome, e temos apenas suas descrições de forma
das pesquisas de Santesson de 1937. Em abril de indireta a p a rtir de Las C asas e do filho
1960 ele conseguiu mais material através de Ferdinando Colombo. O almirante havia obser­
Reko. Mas o tempo de armazenamento havia sido vado que os índios guardavam im agens de
demasiadamente longo. Foi a coleta de material madeira, chamadas cemi, em cabanas especiais.
novo realizada em Oaxaca por especialistas em Isto é relatado da seguinte maneira: “nestas ca­
cogumelos e por um dos redescobridores do uso sas, eles têm uma mesa lindamente trabalhada
do cogumelo teonanacatl no México, Gordon redonda como uma lâmina de madeira para pó, o
Wasson, que deu a Hofmann a oportunidade de qual por eles é colocado nas cabeças desses cemi
sintetizar alcalóides com características aluci­ quando da realização de uma determ inada
nógenas. A “carne dos deuses” , teonanacatl, cerimônia. Em seguida aspiram este pó com um
levou à descoberta de Hofmann da psilocybina e canudo que tem dois ramos, o qual é colocado
da psilocina como substâncias ativas. nas narinas. Ninguém do nosso povo entende o
M eu contato com Blas Pablo Reko no que dizem. Através do pó eles perdem a cons­
México fez com que Santesson dele recebesse ciência e se comportam como se estivessem
sementes de um cipó, Rynchosiaephaseoloides, embriagados”. Mais tarde, Colombo se refere a
uma leguminosa da subfamilia Papilionatae. Em um monge, Ramon Pane, que aprendeu o idioma
Oaxaca essa planta e suas sementes também dos índios. Ele acompanhou a segunda viagem
recebiam o nome de piule. As sementes eram de Colombo e foi deixado pelo comandante na
consideradas venenosas e como provocadoras de ilha Hispaniola ou Haiti. Ele fez uma descrição

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curta que conhecemos através de uma versão peregrina ou, de acordo com a nova nomenclatura,
italiana em Historiae, neste relato, o pó de inalar Anadenanthera peregrina, var. peregrina. Há
é denominado cogioba e cohoba. Outros autores também fortes motivos a indicar que a palavra
dão-lhe nomes similares. Trata-se provavelmente khoba, utilizada por populações mestiças em
de uma palavra que designa um pó preparado Puna de Atacama e Puna de Jujuy (isto é, na região
com Piptadenia peregrina; os dados a respeito da antiga cultura atacamefta no noroeste argentino)
da fala incoerente sob efeito da droga são inte­ seja idêntica à palavra cohoba, usada no norte.
ressantes. Tanto o cronista como Las Casas Ela é usada como planta arom ática, sendo
escrevem que “balbuciavam as palavras ou queimada nas chamadas señaladas, onde se
falavam como alemães confusos não sei a respeito sacrificam lhamas, bebidas alcoólicas e similares
de que ou com que palavra”. A palavra cohoba é a Pachamama, a velha deusa do ciclo anual da
pronunciada, de acordo com ele, com a vogal do agricultura. Neste caso, a palavra teria vindo do
meio longa. O efeito do pó é descrito como forte. sul, com populações Aruak, via região amazônica
Os inaladores perdiam a noção da situação e e sub-andina. Que o termo no sul se refira a uma
tinham a impressão de andar de cabeça para baixo. composta, Lepidophyllum quadrangulare, é
Quando o efeito passava, “ficavam com os pés e secundário. Um paralelo continental interessante
a cabeça moles”. é que as mesas de aspirar rapé das índias Ociden­
M uitos autores anteriores ao americano tais (as placas com figuras especiais) podem ser
Stafford (1916) afirmavam que cohoba aludia encontradas em tribos do oeste do Brasil, por
ao pó da Piptadenia peregrina, uma leguminosa exemplo entre os Tupari. Estes índios usam,
cujas sementes eram moídas e que provaram durante a inalação cerimonial do pó, um tampo
conter d im etiltrip tam in a e um a substância de mesa colocado sobre pés no qual repousam os
chamada bufotenina, semelhante à serotonina. A tubos para inalar, o pincel ou escova e pertences
droga é conhecida entre várias tribos continentais similares. Os inaladores sentam-se à mesa que,
da América do Sul sob o nome de paricá, yopo, após a cerimônia, perde sua importância e é
niopo e outros. Sven Lovén contestou, prova­ guardada sem cuidados maiores. Nos primeiros
velmente de modo incorreto, a identificação da documentos escritos das índias O cidenlais
cohoba com a Piptadenia e achou que se tratava observa-se a menção direta ao equipamento para
de rapé ou tabaco. Referiu-se às palavras de a inalação, tanto em forma de tabletas, como aos
Oviedo, de que o pó era obtido de uma erva tubos com os quais o pó é aspirado. N as
cultivada, provavelmente tabaco, e interpretou a descrições dos tubos ocorre aquele em forma de
frase “de uma coloração de canela e de henna, “ Y” que conhecemos do continente sul-americano.
finalmente um amarelo queimado” como referindo- Neste contexto, eu gostaria de mencionar
se ao tabaco que, através de sal e cal, ficava mais brevemente uma bebida psicotomimética chamada
claro. De acordo com Lovén, a Piptadenia daria ayahuasca ou, de acordo com outras designações
um pó de cor cinza, mas parece que se enganou, indígenas, caapi, yaje, etc. Ela é obtida de
podendo-se também discutir o significado do Banisteriopsis caapi, da família das Malphigiaceas,
termo que ocorre nos escritos originais, ou seja, entre outros.
yerbas. Razão parece ter Siri von Reis Altschul, Ayahuasca é um cipó e o nome quechua
que rebatizou Piptadenia peregrina para Ana- significa “cipó da morte” ou “cipó dos mortos”.
dencmthera peregrina, var.peregrina, ao afirmar Caapi é uma palavra tupi-guarani e, de acordo
que a sua presen ça nas ín d ias O cidentais com Spruce, significa “thin le a f’. Yaje é de
significava que era cultivada pelos índios que, significado desconhecido, mas provavelmente
desta form a, solucionavam o problem a de se origina no Tucano, sendo o termo usado em
conseguir o pó sem ter de importá-lo do continente diversas regiões do noroeste da América do Sul
através da cadeia das ilhas de Trinidad. Estes para a bebida e para a planta. Richard Spruce
índios conheciam as sementes no continente de descreveu por primeira vez a planta, observando
onde eles mesmos eram originários. A palavra seu uso em 1851, junto aos índios Tucano ao
indígena para o pó, cohoba, foi registrada, na sua longo do rio Uaupés, onde é chamada caapi. O
foima cojoba, na Venezuela na nossa época, sendo médico peruano Oscar Rios publicou em 1962
exatamente a palavra para designar Piptadenia um artigo a respeito de ayahuasca, afirmando

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existir uma descrição do uso da planta num Eu já havia observado certos dados interes­
relatório de viagem do botânico francês Aimé de santes a respeito de ayahuasca antes. Na tribo
B om pland, com panheiro de A lexander von Cubeo, no Amazonas, a bebida é chamada mihi e
Humboldt em suas andanças ao longo do rio os índios têm os urubus m iw a como entes
Negro em 1799-1800. Ainda não encontrei este protetores para a intoxicação que se segue à
dado na literatura e aparentemente Rios apenas ingestão. Como se sabe, o urubu é uma ave
reproduziu-o a partir da história da medicina de provida de ótima visão e a identificação com ela
Tamón Pardal que, por sua vez, não indica parece ser um denominador comum associado aos
nenhuma fonte. Se o dado vier a ser confirmado, psicotomiméticos que geram visões. Tubos de
as primeiras observações atentas do uso da droga aspiração podem apresentar a forma de bicos de
ayahuasca recuam de meio século. Dos Siona, pássaros; usa-se penas de aves nas cerimônias e
uma tribo do grupo dos Tucano ocidentais, há uma os índios dizem que voam alto e enxergam o
descrição muito detalhada de uma festa yagé feita mundo espiritual. Em relação a isso quero lem­
por Plácido de Calella, “Apuntes sobre los indios brar um dado fornecido por dois pesquisadores
Siona dei Putumayo” (Anthropos 35-36:737-749, peruanos, Javier Mariátegui e Manuel Zambrano,
1940/41): nela há uma parte que faz referência a no sentido de que o alcalóide de Banisteriopsis
ingerir ou beber o yagé de forma coletiva. O ponto caapi provoca a sensação cinestésica de leveza e
culminante é atingido quando o xamã consegue capacidade de levitar, o que os nativos explicam
contato com D iosú, termo em que a palavra ao dizer que teriam vivenciado viagens ao céu
espanhola “dios” é claramente reconhecível. onde teriam tido contato com o mundo espiritual.
Considera-se que o xamã sobe aos céus pedindo A sensação de estar voando foi cedo mencionada.
para entrar. Recebe roupa nova, mas não pode O médico equatoriano Manuel Villavicensio que
aproximar-se totalmente de Diosú. Escuta os em 1858 publicou uma geografia do Equador, diz
desejos dele, devendo depois informar o seu povo que os índios Záparo usavam ayahuasca “ que
a respeito. Diz-se também que o pajé visita o dava a sensação de se elevar ao ar e realizar uma
inferno onde “el diablo principal” o deixa ver tudo. viagem aérea”. A sensação de voar foi recen­
E isto também é comunicado. Durante o êxtase, temente confirmada experim entalm ente pelo
o pajé conta suas visões em idioma Siona, em pesquisador chileno Cláudio Naranjo.
tom cantado. Ute Bödiger, na sua tese sobre a Pode-se apontar a associação entre o uso
religião tucano (Köln, 1965), diz que pro­ de drogas e as aves em material arqueológico da
vavelmente temos uma descrição desta festa de América do Sul, principalmente nos objetos de
ayahuasca ou ya g é já no ano de 1637 por madeira em forma de bandeja para aspirar o pó e
Laureano de la Cruz no seu “Nuevo descobrimiento os tubos de inalação procedentes da cultura de
dei rio de Marafion llamado de las Amazonas, A tacam a do norte do C hile e do noroeste
afio de 1651 (1653)”, editado em francês por argentino. Antes de referir-me a esses objetos,
Maria Compte (in Varones ilustres de la Orden quero mencionar que em material de sambaquis
Seráfica en el Ecuador, vol. I, Quito, 1885). De de Santa Catarina encontraram-se peças líticas
acordo com Bödiger, nela se descreve como os em forma de pássaros e de outros animais providas
índios se reuniam para a festa, em número de 300 de cavidades rasas. Temos todo motivo para supor
a 400 pessoas, a fim de comemorar a chegada que esses objetos em algum momento serviram
dos espanhóis. Isto acontecia em enormes casas de suporte para algum tipo de ritual em que se
providas de vários bancos “e então bebiam seu usava pó psicoativo. Ladislau Netto, que já em
vinho e água a qual fervem com determinadas 1885 fez uma coletânea desse tipo de material
ervas dentro” . Bödiger refere-se também à (Archivos do Museu Nacional, vol. VI), estava
descrição do missionário Maronis, de 1738, a muito adiante do seu tempo ao referir-se ao
respeito de uma grande festa de beber entre os possível uso dos objetos zoomorfos de pedra.
Icaguates localizados entre os rios Napo e Disse ser perfeitamente possível imaginar que
Putumayo. Mencionam-se cantos e danças de “ serviram como suporte na pulverização das
máscaras por videntes durante sessões noturnas. folhas de alguma planta sagrada ou outra matéria
O material foi publicado por Marcos Jimenez de usada em cerimônias religiosas”.
la Espada em Madrid, 1889-1892. Na realidade, as bandejas lindam ente

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esculpidas em forma de animal que se encontram áreas através dos brancos que, por sua vez,
nos museus em meio às mais antigas coleções da rapidamente assimilavam o que aprendiam na
América do Sul, serviram como recipientes para índias Ocidentais a respeito do tabaco entre outras
o pó, enquanto o seu preparo propriamente dito coisas. Com relação a vastas partes do Amazonas,
dava-se em pilões feitos de frutos de casca dura. pode-se concluir, com base nos conhecimentos
Temos, portanto, um paralelo direto com os dados que temos sobre os objetos esculpidos, que o
das índias Ocidentais, onde a cohoba era colocada hábito de usar determinadas drogas deve estar
nas figuras cem i. Todavia, em algum as das ligado a um cerimonial importante sobre o qual
bandejas da América do Sul pode-se observar que sabemos muito pouco além de suposições. Já
há uma cavidade menor junto a outra de maior m encionei que o jag u ar é considerado uma
tamanho. Há razões para supor nesses casos uma entidade importante e em m uitas regiões da
combinação de pilão e bandeja para o pó, de modo América do Sul ele se identifica com o xamã,
que as sementes eram esmagadas na bandeja e tendo ambos o mesmo nome. Acredita-se que os
que o pó era juntado em quantidades pequenas, xamãs mais idosos conseguem transformar-se em
mas suficientes, na cavidade menor. Esta poderia jaguares. Certas tribos possuem tubos para
também ter servido como bandeja para algum pó guardar o pó de efeito psicoativo feito justamente
de efeito alcalóide, o que entretanto não passa de de ossos de jaguar. Os Kaxuyena, uma tribo no
uma suposição nesses casos específicos. Brasil que até há pouco usava bandejas para ce­
A identificação e o papel das aves em rimoniais, esculpiam-nas com figuras mitológicas,
contexto com a visão aguçada, como condores, tais como o jaguar aquático. Trata-se, portanto,
águias, etc., no uso de drogas alucionógenas não de um recurso para conseguir contato com o
explica naturalmente todos os motivos para a sua mundo espiritual e aqui o uso da psicomimética
utilização entre os indígenas da América do Sul. deve ter tido um papel de extrema importância,
Uscategui talvez simplifique o problema ao dizer sendo o seu simbolismo projetado em objetos.
que “primitive mentality is mystical”, considerando O utros anim ais podem ser observados nas
que muitos pesquisadores super-dimensionaram bandejas: cobras e jacarés, por exemplo, entre os
os motivos e as tentativas de interpretá-los. “The Mauhé do Brasil. Entretanto, é a figura do jaguar
Indian considers ali nature and the visible and em especial que oferece uma série de paralelos
imagined cosmos to be endowed with spirit- diretos entre bandejas encontradas em contexto
forces. He does not recognize any boundary arqueológico no sul do sub-continente e objetos
between natural and supematural phenomena” etnográficos da área amazônica. Uma região que,
(Botanical Museum Leaflets 18(6):274,1959). A devido a certas ligações com a Amazônia no que
meu ver, a identificação com aves para poder voar tange a correntes culturais, oferece grande inte­
alto e penetrar no mundo dos espíritos, que é um resse é o norte do Chile e noroeste argentino, onde
dos motivos para o uso de drogas de efeito cines- se encontra a cultura de Atacama. Ocorrem ali
tésico, cabe no “primitive mystical society” de bandejas para pó e tubos de inalação ricamente
Uscategui, mas estas idéias não explicam o uso esculpidos e, em certos caso s, os objetos
da droga propriamente dita. Que diferentes drogas encontram-se associados ao pó. Em 1966, após o
foram usadas desde cedo e em vários lugares com C ongresso de A m e ric an ista s re aliz ad o na
pontos de partida diversos, é o mais lógico. Pelo Argentina, consegui obter do pesquisador Lautaro
menos no que se refere à América, considera-se Nuñez amostra de pó encontrado em escavação
que drogas com caraterísticas especiais eram em arqueológica. A quantidade, em bora m uito
geral reservadas aos indivíduos m ais cate­ pequena, foi entregue ao Professor Holmstedt
gorizados com funções religiosas e mágicas do Instituto Karolenska para fins de pesquisa.
dentro de uma sociedade. Mas o uso se espalhou Em tra b a lh o p u b lic a d o em 1965 so b re o
para toda a comunidade e principalmente por desenvolvim ento pré-hispânico no norte do
ocasião do choque cultural que se seguiu à Chile, Lautaro N uñez apontara o uso de tubos
chegada do europeu. Quanto ao tabaco, está para inalar feitos de osso já durante o período
totalmente claro que este era reservado aos pagés. que ele chama de Inicial (0-700 A .D .), ca­
O uso profano do fumo por jovens e velhos nas racterizado por diferentes graus de d esen ­
sociedades indígenas foi se espalhando por vastas volvim ento da agricultura e com cerâm ica,

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porém sem influência da alta cultura de Tiahuanaco. madeira, pouco se conservou, a não ser em casos
No extremo norte da costa do Chile este período excepcionais.
é representado pelo complexo Faldas dei Morro. Com referência aos diversos pós da América
As bandejas ali encontradas são diferentes do Sul, o paricá é um termo tupi para um pó
daquelas associadas ao Período Intermediário (de p ro v en ie n te das sem en te s a m a s s a d a s da
700 a 1000 A.D., com grande influência de Piptadenia peregrina, bem como para outras
Tiahuanaco), bem como daquelas oriundas do ter­ substâncias em pó, como a obtida de Virola
ceiro e último período (1000 - 1450 A.D.), quando calophylla Warburg e Virola calophylloidea
surgem várias culturas locais com influência de Markgraf, árvores da família moscateira. Foi o
Tiahuanaco. Nestes dois últimos períodos, o pesquisador de campo e autor botânico R. E.
complexo do pó para inalar é representado por Schultes que, após estudos em 1951-52 nas
bandejas, tubos, colherinhas de osso e pequenos proximidades do rio Apaporis no sudoeste da
recipientes retangulares ou redondos de madeira Colômbia, esclareceu que Virola era utilizada na
para guardar o pó. confecção de uma substância psicomimética.
O pe. Gustavo Le Paige do Chile possui uma Pode-se ter certeza de que um tipo de pó
grande coleção de bandejas e, numa publicação m encionado pelo etnógrafo alem ão K och-
de 1965 sobre a zona de San Pedro de Atacama, Grünberg na região de Ventuari na Venezuela
mostra uma série de fotos de tabletas com motivos (1911 - 1913) - hakudujha - era justamente um
tiahuanacoides. Uma das fotos de seu livro mostra preparado de Virola. O pó de inalar epéna,
um sítio em Caspana, um vilarejo a uns 100 km analisado pelo Prof. Holmstedt, procedente dos
ao norte de San Pedro de Atacama, onde foram índios Waica localizados entre o rio Negro e o rio
enterrados vinte e cinco adultos e sacrificada uma Branco no norte do Brasil (cfr. apêndice de Georg
criança. Conjuntamente, foram encontradas duas J. Seitz em Etnologiska Studier, 28, 1965) tem
bandejas, sendo uma retangular e a outra redonda. como matéria prima o sumo vermelho que sai dos
A Dra. Grete Mostny publicou em 1952 troncos das árvores do gênero Virola, após retirada
dados sobre o conteúdo de um túmulo de Chiuchiu a primeira camada da casca.
que, no que se refere à parafernália de inalar, Com este artigo foram publicados alguns
continha uma bandeja, um tubo esculpido e outro m apas, um certo núm ero de ilustrações de
liso. A bandeja, em sua parte superior, estava en­ bandejas, tubos e outros objetos. Por uma parte
volvida por uma camada de couro que cobria uma importante desse material ilustrativo agradeço ao
figura de condor elegantemente esculpida e que Dr. Carl Schuster que durante suas visitas de
servia de cabo. Aparentemente quis-se proteger estudo a museus da América do Sul gentilmente
bem este túmulo o que atesta a importância deste o fotografou para mim. Isso vale especialmente
material para os índios de Chiuchiu daquela para uma série de bandejas antigas provenientes
época. Em um ensaio de 1958, Mostny supõe que dos índios Maué do Brasil e que pertencem ao
o uso de inalar pó estava reservado a determinados M useu N acional do R io de Janeiro. E ssas
grupos de religiosos. Ela também sublinhou a bandejas foram mencionadas no meu trabalho em
importância do motivo do jaguar, visto que um Etnologiska Studier, 28:67 (Gotemburgo, 1965)
tubo de aspiração representava um homem com e as ilustrações correspondentes procedem do
máscara de jaquar. Pontos de vista semelhantes artigo de Antonio Serrano (Buenos Aires, 1941).
com respeito ao cerimonial foram apresentados Apenas durante minha visita ao Rio em fins de
por Lautaro Nufiez num artigo sistematizador de agosto de 1966 me foi possível ver parte deste
1963. Todavia, ele é de opinião de que os achados material. Agradeço também a Georg J. Seitz que
da parafernália de inalar associada a outros gentilmente permitiu que eu usasse suas fotos de
objetos corriqueiros indicam que tal material inaladores Waika.
tam bém poderia ter sido de propriedade de Para voltar à tribo Maué do Brasil, durante
qualquer pessoa. Alguns poucos achados desse a leitura de correção deste artigo e através da
tipo de material na região do Amazonas parecem gentileza do embaixador da Suécia no Brasil o
indicar que lá existia um rico cerimonial em tomo conde G u staf Bonde, consegui um a cópia
do uso da psicomimética, mas que, devido ao fotográfica de um documento há muito procurado,
clima desfavorável à conservação dos objetos de cujo original se encontra na Biblioteca Nacional

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do Rio de Janeiro. Trata-se de uma memória que determinado período de tempo e que acontecia
Alexandre R. Ferreira escreveu em Barcelos em quando certos frutos de palm eira haviam
13 de fevereiro de 1786 quando enviava uma amadurecido e estavam à mão para o preparo de
coleção de objetos para cheirar o paricá dos bebidas inebriantes. Também havia comidas
“gentios Magué”, do rio Negro para Portugal. Sua festivas. Ferreira menciona “a virtude narcótica
descrição deve ter sido a primeira com detalhes do Paricá” e termina falando do desenrolar vio­
importantes e ele nos indica as palavras indígenas lento destas festas. Isto é descrito também em
do “gentio Magué” para a parafernália por eles outros relatos. Um fim mortal para vários dos
usada no “paricá-tobac”. Observe-se que em participantes aparentemente não era raro.
descrições mais antigas do Brasil a palavra Finalmente uma reflexão geral: a iniciativa
“tob aco ” sign ifica pó ou rapé, não neces­ para o salvam ento dos dados a respeito de
sariamente proveniente do tabaco. No relato de substâncias alucinógenas ainda em uso entre
Ferreira, fala-se de pilão como induá\ mão-de- índios sul-americanos é proveniente da medicina
pilão, induá-mena; em escova como tapixuna e e é com grande satisfação que uma cooperação
concha como yapuruxitá. Ele chama o porta-pó pôde ser e sta b ele cid a com um e tn ó g rafo
que é feito de Helix terrestris de paricá-reru. As interessado neste assunto.
escovas são feitas de pêlo do rabo de tamanduá e As condições no campo mudaram muito.
as bandejas são ditas terem forma animal. Uma Determinadas informações desapareceram para
representava um jacaré, de acordo com o seu sempre. Podemos citar, por exemplo, o povo
proprietário indígena. Madre-pérola usada como mestiço da região de Atacama onde se fizeram e
preenchimento das bandejas era chamada de itã se fazem achados de bandejas e de tubos, entre
e o lugar na bandeja em que era colocado o pó outras coisas, nos túm ulos indígenas e que
chamava-se paricá-rendana que Ferreira explica atualmente não tem a menor idéia a respeito do
significar “o lugar onde se coloca o Paricá”. Os uso da inalação de pó da antiga região indígena,
tubos duplos feitos de ossos de aves também uso aliás que foi observado por viajantes espa­
foram m encionados e as diversas aves são nhóis nos anos de 1600. Encontramos as mesmas
chamadas de tujujús, maguarys e ayayás. Os tubos condições no norte. Os Otomacos, uma tribo dos
p ara in a la r eram p rovidos de frutos para llanos venezuelanos, utilizavam o pó Yopo, entre
adaptarem-se às narinas. Que o pó era espalhado outros, para finalidades divinatórias. Ainda no
na bandeja fica claro pela descrição de Ferreira. início do século XIX, quando Alexander von
Ele declara que a inalação ocorria em “grandes Humboldt os estudava, eles usavam frequen­
Bacchanaes” e que eram construídas casas de tem ente este pó, cuja origem , fabricação e
Paricá especiais para as cerim ônias. Estas u tiliz a ç ã o são d esc rito s em d eta lh e pelo
começavam com um chicoteamento entre os viajante. Os descendentes dos Otomaco vivem
homens. Trata-se talvez de uma descrição de uma agora como “llaneros” e, de acordo com dados
festa de um demônio da vegetação conhecido por publicados em 1965, eles não conhecem mais
algumas tribos na região amazônica sob o nome o uso do pó e também perderam totalmente o
de Yurupari. Era uma festa que durava um seu idioma.

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WASSÉN, S,H. Considerações sobre algumas drogas indígenas, em especial o rapé, e a parafernália pertinente. Rev. do Museu
de Arqueologia e Etnologia, S. Paulo, 5: 147-158, 1993.

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WASSÉN, S.H. Considerações sobre algumas drogas indígenas, em especial o rapé, e a parafernália pertinente. Rev. do Museu
d e Arqueologia e Etnologia, S. Paulo, 3: 147-158, 1993.

MAPA 1: Legenda chuvas abundantes impedem a conservação


de m a teria l delica d o , de m a d eira p o r
1) Haiti. Uso da cohoba. exemplo, nas tumbas. Felizmente, bandejas
2) Porto Rico. Figuras cemi com espaço para de rapé com ricos ornamentos simbólicos,
rapé. procedentes de tribos que existem há vários
3) Costa Rica. Achados de aparelhos para inalar séculos, jáforam descritas e atestam agrande
rapé, compostos de tubos simples ou duplos, importância desses materiais narcóticos que
muitas vezes em form a de pássaros. existem justamente no Amazonas. Sabemos,
4) Cultura Mochica, norte do Peru. Informação além disso, através dos trabalhos arqueoló­
cerâm ica possivelm ente relacionada com gicos de Anna C. Roosevelt, em especial na
frutos narcóticos do planalto. parte baixa do Amazonas, que aqui existiam
culturas altamente desenvolvidas milhares de
5) Huaca Prieta, vale de Chicama, Peru. E o
anos antes de manifestações congêneres em
achado mais antigo de uma bandeja de rapé
outros territórios ocidentais.
e tubo inalador de osso.
10) Região atacameña. Numerosos achados de
6) Santa Maria, Miramar. Bandeja de inalação,
bandejas de rapé e outros utensílios.
de madeira, da era pré-incaica.
11) Puna de Jujuy, Argentina. Vários achados
7) C hiuchiu, Chile. Grande quantidade de
de bandejas de rapé e materiais associados.
achados de bandejas e tubos de inalação.
12) Província de Córdoba, Argentina. O uso de
8) Costa de Antofagasta, Chile. Achados de pra­
pó de rapé chamado cebil fo i mencionado,
tos de rapé e utensílios semelhantes dos
na época colonial, entre os Comechigones,
índios Changos.
entre outros.
9) Dadas as circunstâncias climáticas fa v o ­
13) Sucurujú, rio Trombetas, Brasil. Encontrada
ráveis, os achados de San Pedro de Atacama
uma fig u ra de pedra que se encontra no
assumem especial importância para diversos
Museu de Gotemburgo, Col. n. 25.12.1.
pesquisadores. O que se pode verificar no
artigo “S n u ff powder from pre-historic San 14) Região do estuário do rio Amazonas. Objetos
Pedro de Atacama: chemical and contextual de cerâmica dafaseMarajoara, pos-sivelmente
analysis ”de Constantino Manuel Torres e os imagens de objetosfeitos de casca defruta que
com entários de cinco outros autores em serviram de pilão na preparação do pó.
Current Anthropology, 32(5):640-649, 1991. 15) Santa Catarina e Rio Grande do Sul, Brasil
Dizem esses autores que “while Wassén and Figuras líticas em fo rm a de animais, em
N aville have view ed snuffing as having g e ra l pássaros, pro vid o s de cavidades
originated in the northern Amazon Basin rasas. Provavelmente foram usadas como
p r o p o sin g a n o rth -so u th m ig ra tio n o f bandejas p a ra rapé em oca siõ es c e r i­
pattern ”, eles “tentatively propose, then, that moniais.
Anandanthera-òasec/ snuff preparations could 16) Achados de Uticos na parte oriental do
instead have diffused from south to north ” Uruguai.
(p.647). E preciso, entretanto, levarem conta 17) Mercedes, Uruguai. Achado de um lítico
o clima no Amazonas, em que inundações e em fo rm a de fig u ra humana.

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WASSÉN, S.H. Considerações sobre algumas drogas indígenas, em especial o rapé, e a parafernália pertinente. Rev. do Museu
de Arqueologia e Etnologia, S. Paulo, 3: 147-158, 1993.

MAPA 2: Tribos que usaram ou usam o rapé para efeito psicotomimético.

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WASSÉN, S.H. Considerações sobre algumas drogas indígenas, em especial o rapé, e a parafernália pertinente. Rev. do Museu
de Arqueologia e Etnologia, S. Paulo, 3: 147-158, 1993.

MAPA 2: Legenda 27) Pasé, Juri e Uainumá, tribos Aruak muito


conhecidas antigamente junto ao Japurá.
1) Os Chibcha do planalto e seus vizinhos de 28) Omagua, índios Tupi.
leste, os Tunebo. 29) Tucuna, atualmente apenas inaladores de
2-3) Caquetío e Jirajara. tabaco, embora no passado também conhe­
4) Inyeri é uma tribo Aruak de Trinidad. cessem o paricá.
5) Palenque e Piritu, Venezuela. 30) Piro, tribo Aruak do Ucaiali e da região das
6) Waica, Samatari, Surária, Sanemá e Pakidái, nascentes do rio Madeira Davam pó de rapé
subgrupos Yanomami, no sul da Venezuela. também aos cães de caça.
7) Karimé (ou Shuáari), culturalmente pró­ 31) Catawishi, índios do alto Purus, entre os
ximos das tribos de 6. quais os cães também recebiam substâncias
8) Araraibo, da região limite entre Venezuela psicotomiméticas.
e Brasil, no rio Cauabori. 32) Mura do rio Madeira: não está claro se o pó
9) Paravilhana, Venezuela. que usavam era originário da Piptadenia.
10) Yecuaná-Makiritare, sul da Venezuela. 33) Maué, índios Tupi da região central conhe­
11) Yabarana, grupo C arib p róxim o aos cidos pelo seu uso do p a ricá e como
Makiritare. fabricantes de bandejas de rapé.
12) Piaroa, região do Orinoco-Ventuari. 34) Mataco, índios do Gran Chaco. Seus pajés
usavam sementes de cebil.
13) Puinave, região do baixo Inírida, sudeste da
Colômbia e região próxima da Venezuela. 35) Lule, tribo extinta do lado oriental do Chaco.
Para eles há um dado de 1733 a respeito
14) Kuripako, Aruak, junto ao rio Guainía.
do uso de pó de rapé para finali-dades
15) Achagua, povo Aruak, em outros tempos divinatórias e propiciatórias de chuva.
la rg a m e n te esp a lh a d o p e lo leste da
36) Comechigones, extintos. D ata de 1500
Colômbia e na Venezuela.
uma informação sobre o seu uso do pó de
16) Guahibo, Chiricoa, Saliva, todos dos llanos rapé.
colombianos e venezuelanos.
37) Tupari, Guarategaje, Amniape, na região
17) Piapoco. do rio Guaporé, oeste do Brasil. Mesmo
18) Guaupé e Sáe, tribos Aruak. as tribos que se seguiram na região foram
19) Ouitoto, na parte superior do rio Japurá. tidas como inaladoras, ou seja, os Aikaná
Dado polêmico, provavelmente errado, a (ou Huari) e Salamay.
respeito de um tubo em cruz para pó. 38) Quechua do planalto andino.
20) Taiwano, junto ao rio Kananari, Uaupés, 39) Aymara da região de Tiahuanaco, Bolívia.
Colômbia. 40) Desana e Tariano, tribos Aruak do Uaupés
21) Otomacos, tribo dos llanos venezuelanos. na Colômbia.
22) Cashuena, grupo Carib junto ao rio Casuro, 41) Kuiva, Amorua, Sikuani e
afluente do Trombetas, Brasil.
42) Guayabero, tribos conhecidas pelo uso de
23) Tuyuca e Bará, tribos tukano do alto Tiquié. yopo (Aruak e Guahibos), entre os rios Meta
24) Cubeo, tribo dos Tukano orientais, junto e Inírida.
ao rio Uaupés.
43) Caripuna. No início de 1800 possuíam
25) Tukano, índios do Uaupés e Papuri. objetos para o uso de rapé. Tomavam paricá
26) Barasana, M akuna, Yahuna, Yabahana, em form a de clisteres através de tubos de
Menimehe, grupos Tukano e Aruak. osso.

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WASSÉN, S.H. Considerações sobre algumas drogas indígenas, em especial o rapé, e a parafernália pertinente. Rev. do M useu
d e A rqueologia e Etnologia, S. Paulo, 3: 147-158, 1993.

W ASSEN, S.H. Commentaries on some South American Indian drugs and related paraphernalia.
Rev. d o M u seu de A rqu eologia e E tn ologia, S. Paulo, 3: 147-158, 1993.

ABSTRACT: Revision of developments in the research on psycho-active


substances used by pre-historic and modem South American Indian populations
with an emphasis on the associations of the employed artifacts with the animal
world.

UNITERMS: Drugs - South American Indians - Ethnopharmacology -


Psycho-active substances.

Recebido p a ra publicação em 17 de maio de 1993.

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