You are on page 1of 3

Sociedade Brasileira de

Estudos de Cinema e
Audiovisual – SOCINE

Cinema e Educação. Experiências sensíveis e territorialidades1

Resumo:

O presente trabalho se destina a pensar a experiência sensível com o cinema em sua


capacidade de ocupar e ressignificar espaços e na educação como processo de
estruturação ética de uma formação social. O corpus envolve o cinema em hospitais,
praças, cineclubes como ação política, que tem a intenção de refletir sobre a realidade e
transformar em alguma medida os espaços do "comum". Utilizando um enfoque
multimetodológico, o artigo associará a perspectiva cartográfica à revisão bibliográfica.

Resumo Expandido:

A proposta do presente artigo é pensar as experiências com o cinema, seja dentro


ou fora de muros, como forma de habitar a cidade, processo subjetivo e, portanto, ético.
Assim, analisa práticas fílmicas em um corpus formado pelo cinema em espaços
coletivos cotidianos. Serão utilizados como objeto as vivências no Hospital
Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ) na enfermaria geriátrica 2, nos coletivos de
arte Projetação3 e CicloCine4. O corpus se constitui em sua diversidade (onde se sugere
existir sua potência investigativa) no percurso que se trilha na presente fase de pesquisa:
expandir a ideia de espaço público para espaço “em comum”, esteja ele internamente
localizado, como no caso das sessões de cinema no hospital, ou como imagem que
atravessa as ruas e praças da cidade, caso das experiências dos coletivos de arte.
Seja como forma de pensamento ou invenção de espaço-tempo, compreende-se a
fruição e prática fílmicas como lugares de encontro, “de comunhão com o mundo”, na
ideia de lugar depreendida por Milton Santos (2008, p. 313). Através da linguagem
fílmica, gera-se um fluxo de experiências e afetos tornando os espaços comuns,
territórios sensíveis da cultura e da comunicação. Dessa forma, entre imaginários e

1
Trabalho apresentado no XX Encontro da SOCINE. De 18 a 21 de outubro. Seminário Temático:
Cinema e Educação
2
ver http://www.cinead.org. acesso em 14/04/2016
3
http://www.projetacao.org/.Acesso em 14/04/2016
4
https://www.facebook.com/CiclocineRJ/info/?tab=page_info.Acesso em 14/04/2016
territorialidades (cidades), os lócus de fruição estética e compartilhamento de
experiências constituem aquilo que Andréa França (2006) caracteriza como “territórios
sensíveis”, isto é: ambientes de compartilhamento simbólico, onde as experiências
realizadas são da ordem do imaginário e do afetivo, promovendo vinculações entre os
sujeitos.
Dessa forma serão investigadas as práticas cinematográficas como lugares
simbólicos, na medida em que possam gerar vinculações sociais a partir do sentimento
coletivo e da linguagem fílmica como experiência transformadora do social. Em
sintonia com estes aspectos, é preciso olhar para a arte sob o aspecto relacional,
partilhado. Utiliza-se dos pressupostos de Jacques Rancière (2005) na partilha do
sensível e de Nicolas Bourriard, sobre a arte como lugar de produção de sociabilidade e
"esfera das relações humanas” (BOURRIARD, 2009, p.19). A linguagem da arte então,
"por ser da mesma matéria de que são feitos os contatos sociais, ocupa um lugar
singular na produção coletiva5”. Corrobora a percepção de Bourriard, a ideia de partilha
do sensível, como “a relação entre um conjunto comum partilhado" (RANCIÈRE, 2005,
p.7).
A questão central é: Seria o cinema capaz de promover a reflexão e o debate
sobre o cotidiano, em medida de sensibilizar (BERGALA, 2008) e emancipar
(FRESQUET, 2013)? Como percurso metodológico optou-se pela trajetória cartográfica
corroborada pelos pressupostos de Martin-Barbero (2004) sobre a cartografia como
mapa construído entre o pesquisador e o pesquisado e que, sugere-se, dialogam com a
ideia de territórios sensíveis relacionados ao cinema. Não é por acaso que Andréa
França observa ser a territorialidade um recorte simbólico “territórios afetivos,
sensíveis, novos mapas de pertencimento” (MARTINS, 2006, p.399). Assim, mapear a
potência de sociabilidade e vinculações entre espaços e sujeitos é propor a redefinição
de fronteiras simbólicas e fluxos comunicacionais que podem atravessar a cidade,
paisagem que se constitui no social.
A hipótese que norteia esta pesquisa é as experiências teriam a potência de
engendrar vinculações entre os sujeitos participantes, que teriam uma perspectiva a um
só tempo estética e ética. A vinculação aqui seria uma condição originária do ser, que é
na medida em que partilha um lugar em comum (S0DRÉ, 2010), construído de afetos.
Logo, poderiam ser criadas pontes entre os sujeitos e as cidades e produzidas reflexões
para além das instituições sociais?São algumas questões que se busca responder.
5
Ibid., Id., p.57
Bibliografia:

BERGALA, Alain. A Hipótese-Cinema: pequeno tratado de transmissão do cinema


dentro e fora da escola. Rio de Janeiro: Booklink/UFRJ, 2008
BOURRIAUD, Nicolas. Estética relacional. São Paulo: Martins Fontes,2009
FRESQUET, Adriana M. Cinema e educação: Reflexões e experiências com professores
e estudantes dentro e fora da escola. 1. Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2013
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Ofício de Cartógrafo – Travessias latino-americanas da
comunicação na cultura. São Paulo: Edições Loyola, 2004
MARTINS, Andrea F. Cinema de Terras e Fronteiras.In:MASCARELLO, et al.História
do Cinema Mundial. 1. ed. São Paulo: Papirus, 2006
RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. Tradução: Mônica
Costa Netto. São Paulo: EXO Experimental / Editora 34, 2005
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006
SODRÉ, Muniz. Antropológica do espelho – uma teoria da comunicação linear e em
Rede. Petrópolis: Vozes, 2010

Dados do Autor:

Nome:Tatiane Mendes Pinto


Títulação máxima:Mestrado em Mídia e Cotidiano no Programa de Pós graduação em
Mídia e Cotidiano-UFF.
Instituição de Origem:UFF
E-mail de contato: tatunha@gmail.com
Seminário Temático: Cinema e Educação

Mini-currículo:

Doutoranda em Comunicação Social pelo PPGCOM-UERJ. Mestrado em Mídia e Cotidiano


pela Universidade Federal Fluminense, onde desenvolveu pesquisa sobre Cinema e Educação.
Atualmente é professora auxiliar de comunicação social do IBMEC, coordenadora do Cineclube
PPGMC e Pesquisadora do Laccops-UFF. (Laboratório de comunicação comunitária e
publicidade social)

You might also like