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Pós-graduada pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo. E-mail: adrianaunasp@yahoo.com.br.
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Doutora em Linguística Aplicada pela Universidade de Campinas. Mestre em Linguística Aplicada pela Universidade
de Campinas. Bacharel em Letras pela Unisinos. E-mail: natifran2@gmail.com.
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Pós-graduada em Fisioterapia Dermato Funcional pelo Instituto Brasileiro de Therapias e Ensino. Bacharel em Fisio-
terapia pela Universidade Paranaense. E-mail: vandeni.kunz@ucb.org.br.
Como o texto nos aponta, o ensino de LE está amparado pela Legislação Nacional, mas
no mesmo PCNs-LE para o ensino fundamental, percebemos algumas brechas revelando que
o ensino de línguas é visto pelo próprio governo como algo pouco relevante, conforme se
apreende nas entrelinhas do texto a seguir:
Deve-se considerar também o fato de que as condições na sala de aula da maioria das esco-
las brasileiras (carga horária reduzida, classes superlotadas, pouco domínio das habilidades
orais por parte da maioria dos professores, material didático reduzido a giz e livro didático
etc.) podem inviabilizar o ensino das quatro habilidades comunicativas. Assim, o foco na lei-
tura pode ser justificado pela função social das línguas estrangeiras no país e também pelos
objetivos realizáveis tendo em vista as condições existentes (PCNs-LE, 1998, p. 21).
Mediante tal afirmação, percebe-se que o MEC não somente reconhece a má condição
do ensino no país como também se acomoda a tal situação em vez de propor políticas de qua-
lificação docente e de melhoria do ensino. Ora, se o ensino de LE no ensino fundamental e
médio é visto com tão pouca relevância pelo próprio governo, como será visto na EI, de acordo
com os referenciais nacionais? Sobre isto abordaremos a seguir no próximo subtópico.
A LE na educação infantil
Mediante pesquisas bibliográficas nos Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Edu-
cação Infantil e no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, nota-se uma la-
cuna no que diz respeito à LE na Educação Infantil no Brasil. Essa lacuna sinaliza mostra que
não há obrigatoriedade, o que acarreta falta de comprometimento, refletindo-se na realidade 13
precária de ensino de LE em algumas instituições de ensino.
De acordo com Zilles (2006), a justificativa para o ensino de uma LE é resumida no
slogan “quanto antes melhor”, que transparece tanto nas crenças expressas pelos pais, quanto
na mídia e em materiais diversos, como vemos a seguir no artigo do jornal gaúcho Zero Hora,
intitulado “Na ponta da língua”:
Não há idade específica para começar [o ensino de línguas], mas a especialista [Adria-
na Angelim Rossa, doutora em Letras] acredita que quanto mais cedo, melhor. A partir
dos três anos o mundo dos significados fica mais rico, favorecido pela concentração da
criança (BECKER, 2006, p. 1).
De acordo com essa citação, percebemos que há uma crença de que quanto antes se
aprende uma língua, além da materna, o resultado será melhor em relação à pronúncia, domí-
nio da LE e fluência. Em contrapartida, Périssé et al. (2002, p. 1-2), afirmam o seguinte:
Existe uma crendice popular de que quanto mais cedo se começar, melhor, porque é mais fácil
aprender uma nova língua quando criança do que quando adulto. A questão não é assim tão sim-
ples. Não se trata de ser mais fácil. Na verdade, o adulto possui muito mais recursos cognitivos e
estratégias de aprendizagem organizadas do que a criança. O adulto tem maior controle da sua
O que podemos notar é que ainda não há um consenso sobre tal ensino. Percebe-se, no
entanto, que há um grande interesse por parte das escolas particulares, que enxergam no ensino
de uma LE uma possibilidade de diferencial. Entretanto, o fazem sem nenhuma base nas leis que
regem o país, até mesmo porque não existe nenhum PCN-LE para EI. Por conta dessa omissão da
parte governamental, o ensino de LE tem acontecido de forma desregrada, prejudicando crianças
e o desempenho dos profissionais que atuam nessa área, pois sem um direcionamento nos cursos
de Letras, como veremos a seguir, eles ficam à mercê da informação que obtêm em sua formação.
Devemos considerar a Declaração Universal dos Direitos da Criança que assegura um
desenvolvimento infantil completo. Veja a seguir:
Apesar de não especificar a idade, “a educação deve ser capaz de promover a cultura
geral da criança, o que é perfeitamente compatível com os propósitos mais gerais do ensi-
no de qualquer língua estrangeira, uma vez que, para ser bem sucedido, ele não pode estar
dissociado da cultura ou das culturas que se constituem nesta língua” (ZILLES, 2006). Isso
nos remete à pergunta inicial deste trabalho: “Uma mudança na grade curricular do curso de
Letras seria suficiente para solucionar a ineficácia no ensino da LE nas séries iniciais de EI”?
No tópico seguinte veremos por meio de profissionais atuantes no ensino de LE na EI, as
prováveis respostas aos questionamentos aqui levantados.
A pesquisa
Primeiramente, formulamos um questionário com três perguntas relacionadas à
formação do professor de LE nas séries iniciais da EI. Por meio da análise das informa-
ções decorrentes das respostas, tínhamos como meta observar o que dizem os professo-
res sobre as suas habilidades profissionais para atuarem nas séries iniciais com LE. Os
professores participantes da pesquisa ministram aulas em diferentes escolas particula-
res. Após recebermos as respostas, montamos os gráficos que analisaremos a seguir, de
acordo com as perguntas do questionário.
Formação do professor
neste primeiro gráfico será analisada a formação do professor de LE nas séries iniciais
da EI. Responderam “SIM” os que têm a formação indicada, e “NÃO” os que não possuem tal
formação específica para a área de atuação.
SIM
PROFESSORA 1
PROFESSORA 2
PROFESSORA 3
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NÃO
MAGISTÉRIO CURSO DE IDIOMAS LETRAS LE ESPECIALIZAÇAO
Magistério
A Professora 1 tem formação em Magistério, curso secundário que equivale nos mol-
des atuais a um curso de idiomas em três anos e que habilitava para lecionar nas séries
iniciais do EF. A vantagem de quem tem esse curso e posteriormente faz um curso superior
é que já está apto para lidar com as crianças das séries iniciais. Uma dificuldade que os
professores que nunca lidaram com crianças ou estudaram para a educação nesse nível
geralmente enfrentam. A Professora 2 não possui o curso de Magistério. E a Professora 3
também não possui o curso de Magistério.
Curso de Idiomas
O segundo curso no gráfico e que a Professora 1 não possui é o curso de idiomas
que tem crescido muito e se expandido no mercado. Esses cursos podem ajudar muito no
Curso de letras
O terceiro tipo de formação é o curso de Letras, um curso superior que habilita para
lecionar do ensino fundamental ao médio, mas, nas escolas particulares, é exigido para a edu-
cação da LE na EI. A Professora 1 tem também a sua formação no curso em Letras. Agregado
ao Magistério, o curso de Letras vem complementar o conhecimento e prática de ensino que a
Professora 1 possui e acrescentar a LE. De acordo com a professora, a junção dos dois cursos
foi o que a incentivou e a ajudou a iniciar sua carreira na EI. Ela menciona na pesquisa que, se
não tivesse o curso de Magistério, somente a graduação em Letras talvez fosse insuficiente para
que ingressasse nessa carreira. Ela não defende que os professores de LE que querem atuar na
educação infantil façam o curso de Magistério, mas menciona que a faculdade de Letras é muito
pobre nesse sentido e sugere que haja alguma mudança nos currículos do curso.
A Professora 2 também tem a sua formação no curso em Letras, o terceiro do gráfico. Como
16 a Professora 1, a Professora 2 também sente que há uma lacuna na graduação com respeito ao
ensino da LE na EI. Ela menciona que, apesar de habilitada no curso para LE, formação solicitada
nas escolas particulares para lecionar, quando se depara com a EI sente medo, dado o despreparo.
Se o curso de Letras oferecesse um currículo direcionado a preparar o profissional para ensinar
nas séries iniciais, isso poderia ser evitado. Das qualificações citadas na pesquisa, a Professora 3
possui apenas a de Letras. E somente com os conhecimentos adquiridos nesse curso é que exerce
sua função de professora de LE nas séries iniciais da EI. No decorrer da pesquisa, a Professora 3
fala da dificuldade de exercer tal função, considerando sua formação.
A seguir, analisaremos o quarto e último item do gráfico que se refere à especialização,
um curso pós-superior.
Especialização
O quarto e último curso do gráfico é a especialização. A Professora 1 não o possui.
Essa formação ainda não é a realidade de todos os que concluiram um curso superior. Como
professora de escola particular e sem nenhuma gratificação por ter ou não uma especialização,
a Professora 1, como muitos, não investe numa especialização por não ter vantagem salarial.
Até mesmo cita que gostaria, mas que o investimento não compensa.
A Professora 2 cita na pesquisa que não possui nenhuma especialização referente
à educação nas séries iniciais, mas demonstra seu desejo de fazê-la para preencher a
suposta lacuna do curso de Letras.
Como as demais, a Professora 3 não possui nenhuma especialização, e, dos cursos cita-
dos no gráfico, concluiu apenas o curso de Letras, como citado anteriormente.
Analisando a formação das três professoras, vemos algo em comum entre elas: são for-
madas em Letras e demonstram insatisfação com o curso ao exercerem a função de professo-
ras de LE das séries iniciais da EI.
A seguir, veremos em forma de gráfico a resposta das professoras sobre a segunda per-
gunta referente às disciplinas específicas para LE na EI para séries iniciais no curso de Letras,
já que todas possuem essa formação.
PROFESSORA 1
PROFESSORA 2
PROFESSORA 3
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De acordo com o gráfico acima, analisaremos as respostas das três professoras, confor-
me cada item do gráfico, que são as alternativas da pergunta.
A pergunta que consta na pesquisa respondida pelas três professoras, conforme consta
no gráfico, foi a seguinte: “Nas disciplinas oferecidas pela universidade no curso de Letras,
houve alguma referente à LE nas séries iniciais da EI?”
Na primeira alternativa da pergunta que era “sim” – uma resposta afirmativa – a Professo-
ra 1 não respondeu. Da mesma forma procedeu a Professora 2 e a Professora 3.
Na segunda alternativa (que era “não”), conforme a resposta das professoras e de acordo
com o gráfico, apenas a Professora 1 deixou de marcar negativamente devido à sua resposta
na alternativa 3 e item 3 do gráfico, como veremos a seguir. No último item do gráfico, em
que se descreve que não houve nenhuma disciplina específica para LE nas séries iniciais
da EI, mas como parte de outra disciplina, vemos que somente a Professora 1 assinalou a
terceira alternativa da pergunta. A questão também está aberta se responderem afirmati-
vamente, para descrever em qual disciplina esteve incluso o assunto.
PROFESSORA 1
PROFESSORA 2
PROFESSORA 3
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SIM NÃO COMENTÁRIO
A Professora 1 como as demais responderam SIM; ou seja, pensam ser necessária uma dis-
ciplina específica no curso de Letras que aborde como se trabalhar nas séries inicias da EI.
Como todas as professoras responderam afirmativamente essa questão, nenhuma delas
respondeu a alternativa dois negativamente. Na terceira alternativa, todas as professoras fize-
ram comentários sobre a questão levantada nessa pergunta. Vejamos abaixo os comentários:
Professora 1: “Uma ótima sugestão; já deveria ser realidade nos cursos de Letras”.
Professora 2: “Gostaria muito que isso já tivesse acontecido ainda no meu curso”.
Professora 3: “Seria ótimo que complementassem o curso com uma disciplina sobre LE para
a EI nas séries iniciais. Não precisaríamos ‘apanhar’ tanto na prática”.
Nos comentários acima, nota-se a necessidade das professoras que já atuam nessa
área sentem de melhorias no curso de Letras para atender às demandas do ensino de LE
nas séries iniciais da EI.
A seguir, na conclusão deste trabalho, será feita uma reflexão das opiniões expostas
pelas professoras na pesquisa de campo. Além disso, serão feitas também algumas suges-
tões para que esse problema nas séries iniciais da EI seja solucionado com medidas urgentes
ou que o assunto seja contemplado de forma séria, a partir dos órgãos responsáveis pela
legislação da educação no Brasil. Isso poderá possibilitar que as lacunas sejam preenchidas
o mais rápido possível, beneficiando tanto os profissionais envolvidos nessas fases para que
prestem um melhor serviço aos alunos. Os resultados certamente serão mais produtivos e
satisfatórios em termos de aprendizagem da LE.
Considerações finais
A obrigatoriedade do ensino de LE nas séries iniciais da EI ainda não ocorreu,
mas é um fato incontestável na maioria das escolas particulares. O resultado obtido
na pesquisa bibliográfica, como demonstra a primeira parte deste trabalho, comprova
a indiferença dos órgãos que regem a educação do nosso país desde os primórdios. Tal
indiferença ref lete o que vemos na educação atual: professores despreparados. A hipó-
tese que levantamos é que se houvesse empenho por parte dos órgãos que legislam a 19
educação no Brasil, seria mais provável que a universidade se posicionasse e promoves-
se mudanças, acrescentando, pelo menos, uma disciplina que abordasse metodologias
específicas para ensino de LE nas séries iniciais da EI. Como estamos mais próximos de
ser ouvidos pela universidade que pelo governo, neste trabalho todo empenho e apelo é
para que a mudança ocorra a partir das faculdades de Letras.
A ideia de que haja uma disciplina específica no curso de Letras que prepare o professor
para a realidade é indispensável. Talvez alguém afirme que para isso existem as especiali-
zações, mas, neste trabalho, jamais foi questionada a hipótese de se dispensar um curso de
especialização. É necessário que o profissional formado esteja pronto para encarar a realidade
das séries iniciais, independentemente de ter ou não especialização.
Algo relevante constatado a partir da pesquisa de campo é que as escolas particulares,
ao contratarem um professor de LE para as séries iniciais da EI, estão considerando apenas
a formação no curso de Letras, pois vimos na pesquisa de campo que apenas uma das três
professoras entrevistadas possuía um curso de idiomas de LE. Ou seja, as poucas horas de
LE existentes numa grade curricular de um curso de Letras são suficientes. Percebe-se que
tal atitude parte de um pressuposto irreal de que lecionar para crianças que desconhecem
a língua, o conhecimento básico é suficiente. Afinal, a LE nas séries iniciais da EI em
Referências
ALTMAN, C. A pesquisa lingüística no Brasil (1968-1988). 2. ed. São Paulo: Humanitas/
FFLCH/USP, 2004.
BECKER, M. Na Ponta da Língua. Porto Alegre, Zero Hora, Caderno Meu Filho, n. 75, p. 1, 2006.
MOITA LOPES, L. P. Oficina de Lingüística Aplicada. Campinas: Mercado de Letras, 1996: 63-79.