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Agroecologia 55

Contribuição da serrapilheira
para recuperação de áreas degradadas e para
manutenção da sustentabilidade de sistemas agroecológicos
Aluísio Granato de Andrade 1
Sílvio Roberto de Lucena Tavares 2
Heitor Luiz da Costa Coutinho 3

Resumo - A camada de serrapilheira responde pela maior parte dos nutrientes ciclados em
ecossistemas florestais e agroflorestais tropicais. Esta camada orgânica é regulada pela
quantidade de material que cai da parte aérea das plantas e pela taxa de decomposição.
Parte dos elementos disponibilizados após a decomposição pode ser reabsorvida pelos
organismos do solo e pelas plantas. Outra parte é perdida do sistema solo-planta e transfe-
rida para outros compartimentos (água e ar). A serrapilheira contribui para a recuperação
e a conservação de áreas degradadas e para a manutenção da sustentabilidade de sistemas
agroecológicos.
Palavras-chave: Deposição; Decomposição; Ciclagem de nutrientes; Sistemas florestais;
Sistemas agroflorestais; Erosão.

INTRODUÇÃO ca de 1,1 milhão de hectares de florestas A formação e a decomposição da cama-


O aumento da produção de alimentos, tropicais, secundárias e energéticas sejam da de serrapilheira sobre solos degradados
fibras e energia em harmonia com a manu- destruídas anualmente ou seriamente de- são essenciais para reativação da ciclagem
tenção da fertilidade do solo e da biodiver- gradadas pela expansão agropecuária que, de nutrientes entre a planta e o solo, possi-
sidade é um dos maiores desafios para a juntamente com as atividades de mineração bilitando a formação de um novo horizonte
ciência neste novo século. Nas áreas tropi- e construção de barragens, estradas e ferro- pedológico, com condições mais adequa-
cais, a erosão acelerada, decorrente do mau vias, é a principal responsável pela geração das para o restabelecimento da vegeta-
uso dos solos, diminui o potencial pro- de áreas degradadas. Somente na faixa tro- ção.
dutivo das terras agricultáveis, provoca pical, existem quase 2 bilhões de hectares Em sistemas produtivos, a serrapilhei-
deslizamentos e o assoreamento de canais, em múltiplos estádios de degradação, em ra também exerce função importante, pro-
rios e reservatórios, causando graves pre- contraste com os 650 milhões de hectares tege o solo dos agentes erosivos, fornece
juízos, inclusive com perda de vidas. Para de áreas cultivadas (JESUS, 1994). matéria orgânica e nutrientes para os orga-
compensar a queda de produtividade des- Quantidades significativas de nutrien- nismos do solo e para as plantas, acarretan-
sas áreas, verificam-se, cada vez mais, uma tes podem retornar ao solo através da que- do a manutenção e/ou melhorias nas pro-
maior aplicação de insumos e uma expansão da de componentes senescentes da parte priedades físicas, químicas e biológicas do
da fronteira agrícola, ameaçando a susten- aérea das plantas e sua posterior decom- solo, e, conseqüentemente, na produção
tabilidade de ecossistemas naturais e cul- posição. Estes fragmentos orgânicos, ao vegetal.
tivados. caírem sobre o solo, formam uma camada A degradação da serrapilheira é um dos
Estima-se que, em todo o mundo, cer- denominada serrapilheira. principais mecanismos responsáveis pela

1
Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Solos, R. Jardim Botânico, 1024, CEP 22041-070 Rio de Janeiro-RJ. Correio eletrônico: aluisio@cnps.embrapa.br
2
Engo Agro, M.Sc., Pesq. Embrapa Solos, R. Jardim Botânico, 1024, CEP 22041-070 Rio de Janeiro-RJ. Correio eletrônico: stavares@cnps.embrapa.br
3
Engo Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Solos, R. Jardim Botânico, 1024, CEP 22041-070 Rio de Janeiro-RJ. Correio eletrônico: heitor@cnps.embrapa.br

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ciclagem de nutrientes em ecossistemas baixo índice pluviométrico (GONZALEZ; As práticas de manejo também afetam
florestais e agroflorestais. Neste artigo, são GALLARDO, 1982). Além da precipitação o fluxo de matéria orgânica e nutrientes
apresentados alguns conceitos do proces- total, a distribuição das chuvas ao longo através do MFS. Estudos da deposição de
so de formação e decomposição da serra- do ano também influencia a taxa de depo- N e P, através da queda de acículas senes-
pilheira e sua contribuição para estabiliza- sição, sendo verificada com freqüência uma centes de Pinus elliottii var. elliotti e Pinus
ção dos processos erosivos, recuperação maior taxa de deposição no período seco taeda com seis anos de idade na Flórida,
da vegetação original e manutenção da sus- (SWAMY; PROCTOR, 1994). mostraram que o tratamento que recebeu
tentabilidade de agroecossistemas e de flo- A participação do solo neste processo adubação anual e controle de invasoras
restas naturais. reside na disponibilidade de água e nutri- aumentou em cerca de 6,3 vezes a deposi-
entes para a produção de fitomassa que, ção anual de N (de 2,5 para 15,8 kg ha-1),
FORMAÇÃO DA CAMADA conseqüentemente, contribui para a depo- para o Pinus elliottii, e em 13,3 vezes (de
DE SERRAPILHEIRA sição de resíduos orgânicos. 1,5 para 19,9 kg ha-1), para o Pinus taeda,
A formação da camada de serrapilheira, em relação aos tratamentos testemunhas.
típica dos solos florestais, depende basica- DEPOSIÇÃO DE Efeito similar foi observado para o P (TEA;
MATERIAL FORMADOR DA JOKELA, 1994).
mente da quantidade de resíduos orgâni-
SERRAPILHEIRA Avaliações em povoamentos homogê-
cos despejada da parte aérea das plantas e
da taxa de decomposição desses resíduos. Florestas em solos de baixa fertilidade neos de Mimosa caesalpiniifolia, Acacia
Nesse sentido, é importante conhecer qual geralmente retornam menor quantidade de mangium e Acacia holosericea com quatro
a quantidade produzida de material for- MFS do que em solos férteis (Quadro 1), anos de idade, em Seropédica (RJ), registra-
mador da serrapilheira (MFS), o seu teor desenvolvendo mecanismos capazes de ram uma deposição anual de MFS em torno
em nutrientes e compostos orgânicos, e a conservar nutrientes, como a absorção de de 9 a 10 mg ha, com 70% de folhas para a
sua velocidade de decomposição em sis- nutrientes diretamente da serrapilheira atra- Acacia mangium e 64% para as outras
temas agroflorestais e em povoamentos vés de interações entre fungos e raízes. leguminosas (ANDRADE et al., 2000).
florestais, nativos e implantados, sob as De acordo com o Quadro 1, verifica-se Comparações da deposição de matéria
variadas condições pedoambientais exis- que as florestas tropicais apresentam gran- seca e nutrientes, através da queda de fo-
tentes. des variações na produção de MFS, desde lhedo em povoamentos homogêneos de
A queda de folhas e outros componen- 3,6 até 12,4 mg ha-1 ano-1. Em média, sobre Eucalyptus saligna e Pinus caribaea var.
tes da parte aérea que irão formar a serra- solos de baixa fertilidade, apresentaram hondurensis, plantados próximo a Piraci-
pilheira constitui-se num importante me- cerca de 7,5 mg ha-1 ano-1 de matéria seca caba e Agudos (SP), respectivamente, re-
canismo de transferência de nutrientes da na forma de resíduos orgânicos formadores gistraram uma maior deposição de matéria
fitomassa vegetal para o solo. Este processo da serrapilheira, enquanto que, em solos seca sob a cobertura de Pinus. Entretan-
é causado pela senescência de partes da de fertilidade média, essa produção foi de to, a quantidade de nutrientes do folhedo
planta, devido a mudanças metabólicas 10,5 mg ha-1 ano-1 e, nas áreas monta- de Pinus foi superior a do Eucalyptus ape-
associadas à fisiologia de cada espécie, e nhosas, de 6,3 mg ha-1 ano-1. nas para o N e o K, sendo similar para o P e
também por estímulos provenientes do A capacidade de produção de resíduos inferior para o Ca e Mg (POGGIANI, 1985).
ambiente, como o fotoperíodo, tempera- da parte aérea de cada espécie é outro fator Estudos da deposição de nutrientes,
tura, estresse hídrico etc. importante, podendo variar principalmente através da queda de folhedo em experimen-
Vários fatores afetam a quantidade de em função das características genéticas da to de revegetação de área degradada pela
resíduos que caem da parte aérea das plan- planta, de sua fase de desenvolvimento e mineração de xisto betuminoso, mostraram
tas, dentre eles destacam-se: o clima, o solo, das condições pedoambientais. Supõe- diferenças entre as espécies testadas, prin-
as características genéticas das plantas, a se que ocorram aumentos na produção des- cipalmente com relação ao nitrogênio, devi-
idade do povoamento florestal e a densida- se material em função de aumentos da ida- do a uma das espécies ser fixadora de nitro-
de das plantas (GONZALEZ; GALLARDO, de da floresta, até que atinja a maturidade gênio atmosférico. A leguminosa arbórea,
1982). ou o clímax (GONZALEZ; GALLARDO, mesmo sem receber nenhuma adubação, foi
Das variáveis climáticas, a precipitação 1982). Deposições crescentes de MFS, capaz de transferir, via deposição de folhe-
e a temperatura são as que exercem maior com o decorrer do tempo, foram observa- do, em torno de 76% e 80% a mais de N,
influência. Regiões que apresentam alto das em povoamentos de Paraserianthes 71% e 29% a mais de P e 32% e 54% a mais
índice pluviométrico, em geral, produzem falcataria nas Filipinas, medidas por três de K, do que o Pinus e o Eucalyptus, res-
maior quantidade de materiais orgânicos que anos consecutivos (BESANA; TOME- pectivamente (POGGIANI et al., 1987). A
irão formar a serrapilheira do que locais com NANG, 1991). introdução de nitrogênio no sistema, via
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QUADRO 1 - Acúmulo de matéria seca e nutrientes no MFS de florestas tropicais


MFS N P K Ca Mg
Local
(mg ha-1 ano-1) (kg ha-1 ano-1) (kg ha-1 ano-1) (kg ha-1 ano-1) (kg ha-1 ano-1) (kg ha-1 ano-1)

Solos de fertilidade média


Gana 10,7 202 7,4 68 209 45
Zaire 12,4 224 7,0 48 105 53
_
Panamá 11,4 9,4 29 256 34
Panamá 11,1 195 15,0 47 212 26
Costa Rica 8,1 135 6,0 20 59 16
Guatemala 9,0 169 5,8 20 88 64
China 11,6 169 11,0 29 108 51
Sarawak 11,5 110 4,1 26 290 20
Austrália 9,0 134 12,0 64 226 29
Austrália 10,4 124 10,2 56 159 36

Solos de baixa fertilidade


Colômbia (área plana) 12,0 141 4,2 17 90 20
Colômbia (área declivosa) 8,7 103 3,4 30 124 11
Brasil 9,9 156 4,1 17 33 27
Brasil 7,3 106 2,1 13 18 14
Brasil 7,9 114 2,2 18 42 14
Brasil 6,4 74 1,4 21 20 1

Áreas montanhosas
Nova Guiné 7,6 90 5,0 28 95 19
Venezuela 7,0 69 4,0 33 43 14
Porto Rico 5,5 88 1,0 7 50 10
Filipinas 5,3 89 4,8 16 61 9
Sarawak 11,0 86 2,5 31 21 16
Sarawak 3,6 28 1,1 6 7 6
Jamaica 5,5 49 1,5 39 50 17
Jamaica 6,6 39 1,3 15 34 19
Hawai 5,2 37 2,1 12 84 10
FONTE: Vitousek e Sanford (1986).
NOTA: MFS - Material formador da serrapilheira.

fixação biológica, garante às leguminosas ferir na precisão dos resultados de queda aqueles que, além de todos esses compo-
uma auto-suficiência neste elemento, faci- de resíduos da parte aérea, a falta de uma nentes, incluem galhos grossos, troncos
litando o estabelecimento e o desenvolvi- metodologia padrão também acarreta dife- e também restos e fezes de animais, o que
mento dessas espécies em áreas degra- renças nesses valores, dificultando a com- prejudica a comparação desses estudos.
dadas. paração de dados entre ecossistemas. Outra característica metodológica relevan-
A ocorrência de intempéries atípicas do te é o número e o tamanho dos coletores
clima da região de estudo, como estiagens METODOLOGIA PARA de MFS. Devido à grande variação que po-
prolongadas, tempestades, vendavais etc., AVALIAÇÃO DA DEPOSIÇÃO de existir entre a deposição de MFS de
pode modificar a deposição de MFS de um DE MATERIAL FORMADOR DA um ponto para outro, principalmente sob
ano para outro, sendo importante consi- SERRAPILHEIRA (MFS) povoamentos heterogêneos, tem sido re-
derar estes eventos para se obter valores Alguns estudos consideram apenas as comendada a utilização de no mínimo 20
mais precisos da quantidade desse material folhas para avaliação da deposição de MFS, coletores para cada unidade amostral. O
produzido anualmente. Além de fatores enquanto outros incluem folhas, estruturas que se observa é que muitos estudos uti-
ambientais inesperados, que podem inter- reprodutivas e galhos finos, e ainda existem lizam um número menor, com coletores de
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formas e dimensões variadas. O tempo en- uso como cama de animais, prática comum podem-se considerar as seguintes etapas
tre coletas dos resíduos que irão formar a naquele século (PRITCHETT, 1979). no processo de decomposição: lavagem de
serrapilheira também influencia a qualida- O acúmulo de serrapilheira na super- compostos hidrossolúveis e colonização
de dos resultados, podendo subestimar a fície do solo é regulado pela quantidade de microbiana; ataque da mesofauna e de mi-
matéria seca e o teor de nutrientes desse material que cai da parte aérea das plantas crorganismos, com fragmentação, transpor-
material, quando são adotados intervalos e sua taxa de decomposição. Quanto maior te, mistura e biodegradação do material;
de coletas prolongados. Quanto maior a quantidade que cai desse material e quan- e transformação húmica e mineral (GON-
for o intervalo, maior será o tempo de expo- to menor sua velocidade de decomposição, ZALEZ; GALLARDO, 1982). Em outras
sição do material ao ataque de organis- maior será a camada de serrapilheira. Para palavras, a decomposição da matéria orgâ-
mos ou lavagem pela chuva (PROCTOR, que se tenha uma mesma quantidade de nica pode ser dividida em três processos
1983). serrapilheira sobre o solo ao longo do ano, básicos que ocorrem simultaneamente: li-
Diante das diferenças metodológicas é necessário que haja uma maior taxa de xiviação (retirada de material solúvel pe-
apresentadas, é importante definir uma me- decomposição dessa camada quando hou- la ação da água da chuva); intemperismo
todologia padrão para avaliar a deposição ver uma maior taxa de deposição de material (ruptura mecânica dos detritos); e ação bio-
de MFS, possibilitando assim traçar com- e vice-versa. Nesse contexto, é de grande lógica (fragmentação gradual e oxidação
parações entre ecossistemas florestais. Em importância entender os mecanismos que dos detritos pelos organismos vivos). Esses
uma tentativa de padronizar esses estudos, regulam esse processo dinâmico, em que a processos iniciam-se quando o tecido ve-
Anderson e Ingran (1993) sugerem que se- entrada de material, através da deposição, getal se forma e continuam durante toda a
jam considerados como componentes da e a saída ou transformação, via decompo- sua vida (HAAG, 1985).
serrapilheira as seguintes frações: folhas, sição, acontecem quase que simultanea- O tempo de permanência dos nutrientes
galhos com diâmetro menor que 2 cm, estru- mente. estocados na serrapilheira depende da ve-
turas reprodutivas (flores e frutos) e refugo A decomposição dessa camada possi- locidade de decomposição desse material,
(fragmentos menores que 5 mm). bilita que parte do carbono incorporado que varia de acordo com a latitude, altitude
Além da mensuração da quantidade de na fitomassa pela fotossíntese retorne à e o tipo de cobertura florestal.
matéria seca e nutrientes do MFS, é de inte- atmosfera como CO2, e os outros elementos Em geral, o K é o nutriente de mais rá-
pida liberação da serrapilheira em todos
resse conhecer o percentual das estruturas absorvidos passem para uma forma nova-
os ecossistemas (GAMA-RODRIGUES,
da parte aérea que compõe este material, mente utilizável pelas plantas. Este meca-
1997).
nas diferentes épocas do ano, e também a nismo, segundo Lekha e Gupta (1989), é
Estudos em diferentes povoamentos
quantidade de matéria seca e elementos regulado principalmente por três grupos de
florestais, sob as mesmas condições pedo-
estocados na serrapilheira depositada so- variáveis:
ambientais de Porto Rico, mostraram desde
bre o solo, assim como a velocidade de de- a) natureza da comunidade decompo- 5 até 27,2 mg ha-1, com uma correlação
composição. sitora (os macro e microrganismos); negativa entre a acumulação de serrapi-
DECOMPOSIÇÃO DA b) características do material orgânico, lheira e os teores de elementos nesse ma-
SERRAPILHEIRA que determinam sua degradabilidade terial, indicando que as serrapilheiras com
(a qualidade do material); maior concentração de nutrientes apresen-
A decomposição da serrapilheira é uma tavam maior velocidade de decomposição.
das etapas mais importantes para a cicla- c) condições físico-químicas do meio
Esses estudos verificaram também que os
gem dos nutrientes. Parte desses elemen- ambiente, as quais são controladas
teores de nutrientes aumentavam do mate-
tos é reabsorvida pelos organismos do solo pelo clima e pelas características do
rial recém-depositado para a serrapilheira
e pelas plantas, e outra parte é perdida do solo.
fragmentada, já em estádio avançado de
sistema solo-planta, sendo transferida para A degradação da serrapilheira é um decomposição, e a quantidade de nutrien-
outros compartimentos (água e ar). processo contínuo, e pode ter início antes tes estocada na serrapilheira influenciava,
A importância da serrapilheira para a mesmo de o material atingir o solo. Algumas na mesma ordem de magnitude, a quantida-
ciclagem dos nutrientes, em sistemas agro- folhas verdes podem abrigar, ainda na pró- de de elementos disponível na camada de
florestais e povoamentos florestais nativos pria árvore, microrganismos e insetos que 0-10 cm de profundidade do solo. Sugeriu-
ou implantados, já foi reconhecida desde o já dão início ao processo de decomposição. se que, dependendo das características da
século passado, no qual se observou uma As folhas também liberam continuamente, camada de serrapilheira formada para cada
diminuição gradual da produtividade de de acordo com a idade e o estado fitossani- espécie arbórea, haverá diferenças na con-
florestas de coníferas, que tiveram sua ser- tário, carboidratos, ácidos orgânicos, ami- centração e na disponibilidade de nutri-
rapilheira freqüentemente removida para noácidos e, sobretudo, potássio. Assim, entes do solo (LUGO et al., 1990).

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Dos componentes da serrapilheira, ge- medidas da perda de massa em sacos para de malha diferente, 2 mm e 95 μm, verifi-
ralmente a maior proporção é de folhas que o estudo da decomposição (ANDERSON; caram maiores velocidades de decompo-
apresentam a maior taxa de decomposição. SWIFT, 1983). sição do material incubado em sacos de
Porém, existe também uma fração de difí- O valor k tem sido amplamente utilizado maior malha (LEKHA; GUPTA, 1989).
cil decomposição, com muitas estruturas para avaliar a taxa de decaimento da serra-
lignificadas, que representam em torno de pilheira ou o tempo de renovação dessa CICLAGEM DE NUTRIENTES
30% a 40% da serrapilheira (ANDERSON; camada. Algumas críticas a esse tipo de PELA SERRAPILHEIRA
SWIFT, 1983). estudo têm sido atribuídas ao seu uso indis- Estudos da concentração de minerais
Sob as mesmas condições pedoambi- criminado em ecossistemas que ainda não nos diferentes estratos (folhas, MFS, serra-
entais, a velocidade de decomposição da atingiram um equilíbrio entre o material que pilheira) de florestas tropicais mostraram
serrapilheira varia de acordo com a por- cai e o material que é decomposto. Em ecos- uma maior concentração na serrapilheira
centagem de lignina, polifenóis, carbono, sistemas florestais tropicais, os valores de para quase todos os elementos, com exce-
nitrogênio, fósforo e enxofre, entre outros k geralmente são maiores que 1, sugerindo ção do P e do K principalmente. O teor de P
componentes. A relação entre algumas que o tempo de renovação desse material na serrapilheira encontrava-se bem abaixo
dessas substâncias tem sido usada para ocorre em um ano ou menos, enquanto em do teor de P do MFS e do material coletado
explicar as diferenças entre a velocidade florestas de clima temperado os valores de na planta nos dois locais analisados. A con-
de decomposição de materiais orgânicos. k são menores que 1, indicando que o tempo centração de K apresentou-se maior na
De forma geral, os tecidos vegetais são de renovação da serrapilheira perdura por serrapilheira do que no MFS, porém nas
compostos por uma ampla e complexa va- vários anos (ANDERSON; SWIFT, 1983). folhas foi superior a dos outros dois compo-
riedade de substâncias orgânicas, e podem Além das características climáticas, a nentes analisados em ambos os locais. A
ser divididos em seis grandes grupos de velocidade de decomposição da serrapi- alta concentração de alguns elementos na
acordo com Waksman (1952): lheira vai depender da qualidade desses serrapilheira pode ser devido a contamina-
a) celulose: 15% a 60%; resíduos orgânicos, que varia com a espé- ções pelo solo através da atividade de mi-
cie vegetal. Gama-Rodrigues (1997), ava- crorganismos e borrifos de chuva (GOLLEY
b) hemicelulose: 10% a 30%;
liando nove coberturas florestais tropi- et al., 1978).
c) lignina: 5% a 30%; cais, encontrou um valor k de 1,62 a 0,41, Em termos de ecossistema, a ciclagem
d) fração solúvel em água: 5% a 30% o que dá uma amplitude de variação do tem- de nutrientes é determinada pela quantida-
(açúcares simples, aminoácidos e po médio de residência da camada de de de nutrientes que entra, pela quantidade
ácidos alifáticos); serrapilheira de 7 a 29 meses. Andrade et retida na fitomassa, pelas taxas de decom-
al. (2000) encontraram um valor k e tem- posição dos diferentes componentes da
e) fração solúvel em éter ou em álcool:
po de renovação de 1,22 e 10 meses para a serrapilheira e da matéria orgânica do solo,
1% a 15% (gorduras, óleos, ceras,
Mimosa caesalpiniifolia, 0,67 e 18 meses pelas taxas de imobilização e mineralização
resinas e alguns pigmentos);
para a Acacia mangium e 1,04 e 12 meses de nutrientes e pela absorção dos nutri-
f) proteínas: 1% a 10%. para a Acacia holosericea. entes (CUEVAS; MEDINA, 1996).
De acordo com a espécie vegetal e a ida- A avaliação da decomposição, através O padrão de ciclagem de nutrientes nos
de da planta, esses teores variam. Plantas da perda de massa em sacos para o estudo trópicos, em especial nos trópicos úmidos,
jovens são ricas em proteínas, enquanto, à da decomposição, também possui alguns é bem diferente do padrão da zona tempe-
medida que elas envelhecem, as frações inconvenientes que podem prejudicar a rada. Nas regiões frias, uma grande parcela
celulose, hemicelulose e lignina aumentam precisão dos resultados. Sacos com da matéria orgânica e dos nutrientes dispo-
(WAKSMAN, 1952). tamanho de malha muito reduzido podem níveis permanece o tempo todo no solo ou
excluir importantes organismos que no sedimento. Nos trópicos, uma porcen-
INDICADORES DE DECOMPOSIÇÃO participam do processo de decomposição. tagem muito maior está na fitomassa, sendo
DA SERRAPILHEIRA Já os que possuem malhas muito grandes reciclada dentro da estrutura orgânica do
Os três principais índices que têm sido podem acarretar uma alta perda de material sistema, com o auxílio de várias adaptações
utilizados para medir a decomposição da no momento da coleta ou também permitir biológicas que conservam nutrientes, inclu-
camada de serrapilheira são: a respiração a entrada de uma fração nova de material, sive simbioses mutualísticas entre orga-
do solo; o valor k, relacionado com a quanti- que não havia sido considerada na época nismos e plantas.
dade de material que cai do dossel (MFS) e da instalação. Estudos da decomposição Com a retirada da cobertura florestal,
a que está depositada sobre o solo (serrapi- do folhedo de Leucaena leucocephala e os nutrientes podem ser lixiviados rapida-
lheira); e as avaliações diretas, através de Populus deltoides em sacos com tamanho mente sob condições de altas temperaturas
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e chuvas intensas, principalmente em solos a maior parte, cerca de 89%, no solo. Outras decomposição. Isso se deve ao fato de
de baixa fertilidade natural. Comparações comparações da distribuição de N em duas esses elementos possuírem formas mono
da distribuição da matéria orgânica entre florestas tropicais, uma em região de baixa ou divalentes. Por isso não estão forte-
uma floresta temperada e uma tropical re- altitude em Manaus, no Brasil, e outra lo- mente ligados aos compostos orgânicos
velaram quantidades similares de carbono calizada em área de maior altitude, na cidade vegetais, e também não sofrem reações de
orgânico total. Porém, na floresta de cli- de Carare, na Colômbia, mostram grandes oxirredução, como ocorre com o N, P e S.
ma temperado, mais da metade do carbono diferenças, dando indicações que florestas O K, por exemplo, possui apenas 1/3 da
estava na serrapilheira e no solo, enquanto tropicais localizadas em regiões de altitude quantidade encontrada nos restos vege-
que na tropical, mais de três quartos esta- elevada, com clima frio, possuem comporta- tais, dependente de ataque microbiano pa-
vam na fitomassa (ODUM, 1983). mento similar ao de florestas de clima tem- ra ser liberado, sendo os 2/3 restantes pron-
A distribuição da matéria orgânica e dos perado, armazenando a maior parte do N tamente solúveis em água, necessitando
nutrientes nos diferentes compartimentos no solo (ODUM, 1983). apenas de transformações físicas para ser
(vegetação, serrapilheira e solo) de um Os restos vegetais que compõem a ser- liberados para o solo (SIQUEIRA; FRANCO,
ecossistema florestal ou agroflorestal tam- rapilheira são também importantes fontes 1988).
bém varia bastante, dependendo das con- de S no solo. Assim como o N, a conversão Em condições naturais, os principais
dições ambientais e/ou do manejo. Nos do S orgânico a SO4-2, forma disponível pa- fatores que interferem na ciclagem de nutri-
trópicos, a maior parte da matéria orgânica ra as plantas, depende de processos bio- entes são o clima, a composição das espé-
encontra-se na vegetação. Já em zonas químicos. O S orgânico do solo ocorre em cies vegetais, o status sucessional da flo-
temperadas, é o solo que armazena a maior duas frações distintas: uma em que está di- resta (tempo após alguma perturbação) e a
quantidade de matéria orgânica (FASSBEN- retamente ligado ao C, principalmente aos fertilidade do solo (VITOUSEK; SANFORD,
DER, 1993). aminoácidos, e outra, na forma de ésteres. 1986). Em geral, a manutenção destes
As formações ecológicas, clímax de Ambas sofrem mineralização, produzindo ecossistemas ocorre através da ciclagem
áreas tropicais, encontram-se geralmente SO4-2, que pode ser imobilizado pelos micror- de nutrientes. As perdas de elementos são
em estado de equilíbrio, ou seja, a produção ganismos, absorvido pelas raízes, lixiviado pequenas. Qualquer intervenção na dinâ-
de nova fitomassa está associada à depo- ou adsorvido às partículas do solo (SIQUEI- mica deste processo pode modificar a sin-
sição e à decomposição de restos vegetais RA; FRANCO, 1988). cronia entre a disponibilidade de nutrientes
(FASSBENDER, 1993). O P orgânico contido na serrapilheira oriundos da decomposição dos resíduos
Analisando o ciclo dos elementos indi- também requer a ação de microrganismos vegetais e a demanda nutricional das plan-
vidualmente, observa-se que o N contido decompositores para se tornar disponível. tas, gerando, na maioria das vezes, uma
na serrapilheira necessita ser mineraliza- A mineralização do P no solo ocorre simul- maior perda de nutrientes do solo (MYERS
do para ser aproveitado novamente pelos taneamente com a do C, através de micror- et al., 1994).
componentes do sistema. Este processo, ganismos heterotróficos comuns, que pro- Em síntese, o conhecimento da cicla-
também denominado amonificação, consis- duzem enzimas do tipo fosfatase e fitase, gem de nutrientes em florestas nativas ou
te na conversão do N orgânico à amônia que atacam o material orgânico liberando implantadas e em sistemas agroflorestais é
pelos microrganismos heterotróficos, po- PO4-3 para a solução. Este processo é influ- de extrema importância para que se possam
dendo ainda sofrer nitrificação (transfor- enciado pelas condições ambientais e pela manejar adequadamente estes sistemas
mação para nitrato). Nessas formas, o N mineralogia do solo. Em geral, o P liberado para fins de conservação, recuperação ou
pode ser absorvido pelas raízes, imobiliza- é imediatamente fixado na fração mineral, produção. Portanto, faz-se necessário com-
do pelos microrganismos, ou pelas argilas, ao contrário do que acontece com o N. É mui- preender cada um dos fatores envolvidos,
ou perdido por denitrificação, lixiviação ou to pouco provável que o processo mine- desde o acúmulo de nutrientes pela fito-
erosão (SIQUEIRA; FRANCO, 1988). A ralização/imobilização resulte em imobi- massa, a translocação interna de nutrientes
quantidade acumulada e a distribuição do lização líquida de P da solução (SIQUEIRA; entre tecidos jovens e senescentes, até a
N nos diferentes compartimentos de ecos- FRANCO, 1988). transferência desses elementos da fito-
sistemas florestais variam muito (ODUM, A ciclagem dos outros elementos como massa para o ambiente (solo, água e ar). O
1983). Avaliações em uma floresta tropical K, Ca, Mg e micronutrientes é, em parte, desenvolvimento de estudos nessa linha
mostraram que 58% do N total está na fi- dependente da decomposição da serrapi- pode auxiliar bastante, não apenas no ma-
tomassa, 2% na serrapilheira e 40% no solo, lheira pelos microrganismos decomposi- nejo da fitomassa, mas também no manejo
enquanto que, em uma floresta de pinhei- tores, sendo liberadas grandes quantida- do solo, uma vez que ambos estão estrei-
ros de clima temperado, apenas 6% estão des destes elementos, em forma iônica, pela tamente relacionados dentro do processo
retidos na fitomassa, 5% na serrapilheira, e simples destruição física dos materiais em de ciclagem de nutrientes. Este ciclo com-
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Agroecologia 61

preende, principalmente, os seguintes me- projeto. Quando se pretende retornar o dessa serrapilheira sobre a área degrada-
canismos: absorção dos nutrientes pelas ecossistema original, têm-se adotado des- da. Dependendo da inclinação do terreno
plantas, retenção na fitomassa, translo- de o isolamento e manutenção da área sob e da força da enxurrada, fica difícil manter
cação interna na planta, queda de resíduos pousio, até um conjunto de alternativas o material orgânico no local, até que ele
da parte aérea que irão formar a serrapilhei- que requerem mais investimentos, mas po- cumpra as funções de proteção da super-
ra (MFS) e decomposição desse material dem acelerar o processo de sucessão ve- fície, fornecimento de matéria orgânica,
(Fig. 1). getal. nutrientes e propágulos da vegetação ori-
A eficiência da ciclagem de nutrientes Áreas com avançado processo de de- ginal, cuja quantidade e viabilidade depen-
depende da interação desses processos no gradação, que apresentam o subsolo expos- dem do estágio sucessional da fonte (rema-
decorrer do tempo com sincronia entre a to, onde os horizontes superficiais foram nescente da vegetação original). Algumas
disponibilidade de nutrientes e a exigência removidos, seja pela erosão ou por explo- alternativas têm sido avaliadas para fixação
das plantas (MYERS et al., 1994). Esse rações minerais, necessitam de um rápido inicial da serrapilheira, como a colocação
sincronismo é uma característica de flo- recobrimento do solo. Dentre as técnicas desse material dentro de sacos de ráfia para
restas clímax. Quando ocorre alguma inter- utilizadas para revegetação de áreas de- posterior implantação sobre a superfície
venção nesses ecossistemas, o processo gradadas com ênfase no manejo da serra- erodida.
de sucessão tenta restabelecer esse equilí- pilheira, pode-se destacar a extração de Algumas espécies de leguminosas
brio dinâmico (CUEVAS; MEDINA, 1996). serrapilheira de remanescentes florestais arbóreas noduladas e micorrizadas, por se
Com base nesses princípios, é importante e posterior colocação sobre o sítio degra- desenvolverem em solos cuja fertilidade é
adotar práticas de manejo nos sistemas dado. Dessa forma, busca-se recobrir a fator limitante para a maioria das espécies
produtivos e/ou em áreas que necessitem superfície erodida o mais rápido possível, vegetais, têm sido empregadas com o obje-
de recuperação. minimizando os estragos causados pela tivo de fornecer nutrientes para espécies
enxurrada, e também incorporar propágulos em consórcio ou para recuperar os níveis
MANEJO DA SERRAPILHEIRA que ficam adormecidos nesta camada e que de matéria orgânica de solos degradados
PARA RECUPERAÇÃO DE podem vir a se estabelecer, dependendo (FRANCO; FARIA, 1997). Esta técnica tem
ÁREAS DEGRADADAS E PARA das condições do ambiente. Os inconve-
sido empregada como alternativa de baixo
MANUTENÇÃO DA nientes desta técnica são a necessidade
custo para revegetar e formar uma cama-
SUSTENTABILIDADE DE de se retirar e transportar a serrapilheira, o
SISTEMAS AGROFLORESTAIS da de serrapilheira sobre a área degradada.
que pode causar o empobrecimento do
Ao invés da extração e transporte da serra-
A escolha das técnicas para recupe- fragmento florestal utilizado como fonte, e
pilheira para a área degradada, utiliza-se a
rar áreas degradadas depende, principal- o custo do transporte, que vai depender
alta capacidade de produção de material
mente, do estado de degradação do solo, da distância entre a fonte e a área que se
vegetal dessas espécies, que, além de re-
dos recursos disponíveis e do objetivo do deseja recuperar. Outra questão é a fixação
cobrir o solo com a parte áerea, produz gran-
de quantidade de serrapilheira em um curto
espaço de tempo, melhora a capacidade de
infiltração de água através da malha radi-
Translocação de nutrientes de cular e adiciona matéria orgânica rica em
tecidos senescentes para
tecidos jovens nitrogênio, condições essenciais para a
recuperação dessas áreas. Em geral, espé-
cies arbóreas proporcionam aumentos na
fertilidade da camada superficial do solo,
absorvendo nutrientes de camadas profun-
das e transferindo-os para a superfície via
Acumulação de nutrientes
pela biomassa Queda de resíduos decomposição da serrapilheira.
da parte aérea Algumas espécies arbóreas produzem
serrapilheira que possui compostos alelo-
Decomposição da páticos, ou seja, compostos que inibem a
serrapilheira
germinação ou o desenvolvimento de pro-
Absorção de água
e nutrientes págulos de outras espécies. Assim, deve-
se utilizar o maior número de espécies pos-
Figura1 - Mecanismos envolvidos na ciclagem de nutrientes via serrapilheira sível, pois, além de minimizar esses efeitos,
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enriquece o ambiente com uma maior bio- vai-se iniciar de uma brotação, muitas vezes and composition of litterfall from a falcata
diversidade e conseqüentemente uma maior sob um vigoroso sistema radicular. (Paresianthes falcataria) plantations in the
diversidade qualitativa das serrapilheiras Os sistemas agroflorestais adotam uma Philippines. Nitrogen Fixing Tree Research
produzidas. estratégia de consórcio de plantas de dife- Reports, Honolulu, v.9, p.90-91, 1991.
Dentre os nutrientes essenciais ao cres- rentes portes e estádios sucessionais e, em CUEVAS, E.; MEDINA, E. Nutrient cycling in
cimento vegetal, o nitrogênio e o fósforo alguns casos, de animais, objetivando a ma- the conservation of soil fertility in the Tropics.
são os mais limitantes, pelos baixos teores ximização da eficiência entre os nutrientes In: CONGRESSO LATINO AMERICANO DE
geralmente encontrados nos solos tropi- provenientes da decomposição da serrapi- CIÊNCIA DO SOLO, 13.; REUNIÃO BRASILEI-
cais. Assim, a revegetação de áreas degra- lheira e a exigência nutricional das culturas. RA DE BIOLOGIA DO SOLO, 1.; SIMPÓSIO
dadas tem requerido aplicações elevadas Dessa forma, a seleção de plantas para com- BRASILEIRO SOBRE MICROBIOLOGIA DO
desses elementos e/ou matéria orgânica, por os sistemas agroflorestais deve consi- SOLO, 4.; REUNIÃO BRASILEIRA SOBRE MI-
muitas vezes às custas da transferência da derar, entre outros aspectos, a quantidade CORRIZAS, 6.; REUNIÃO BRASILEIRA DE
camada fértil de outros solos (FRANCO et de material formador da serrapilheira, sua MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA
al., 1992). velocidade de decomposição e substâncias ÁGUA, 11., 1996, Águas de Lindóia. Solo Suelo
Através da fixação biológica do nitro- alelopáticas que podem inibir ou compro- 96. Águas de Lindóia: USP/SLCS/SBCS, 1996. 1
gênio (N2), essas plantas tornam-se auto- meter o desenvolvimento de algumas espé- CD-ROM. Comissão 10: Solos florestais.
suficientes neste elemento e, com a coloni- cies vegetais.
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facilitando o estabelecimento e o desenvol- pre o solo coberto, seja com cobertura viva, FRANCO, A.A.; CAMPELO, E.F.; SILVA, E.M.R.
vimento vegetal. seja com cobertura morta. Para isso, além da; FARIA, S.M. de. Revegetação de solos degra-
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de serrapilheira para o solo e para as plantas sistema, é necessário adotar intensa reci-
co, 9).
também devem ser estendidos para siste- clagem de resíduos e formas de manejo que
mas produtivos, através da preservação e os mantenham sobre o solo, procurando _______; FARIA, S.M. de. The contribution of
do manejo de fragmentos florestais e da imitar uma estratégia que a natureza já de- N2 – fixing tree legumes to land reclamation and
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