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Influência de Métodos de Compactação em Laboratório na

Permeabilidade de um Solo Residual de Gnaisse


Flavio Alessandro Crispim
Universidade do Estado de Mato Grosso, Sinop, Brasil. Email: crispim_br@yahoo.com.br

Dario Cardoso de Lima


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil. Email: declima@ufv.br

Claudio Henrique de Carvalho Silva


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil. Email: silvac@ufv.br

Carlos Ernesto G. R. Schaefer


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil. Email: carlos.schaefer@ufv.br

Carlos Alexandre Braz de Carvalho


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil. Email: cabraz@ufv.br

Paulo Sérgio de Almeida Barbosa


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil. Email: pbarbosa@ufv.br

Rafaela Sena Stehling


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil. Email: stehling2003@yahoo.com.br

RESUMO: No presente trabalho abordou-se a influência de dois métodos de compactação


geralmente empregados em laboratórios geotécnicos na permeabilidade de um solo residual maduro
de gnaisse, da Zona da Mata Norte de Minas Gerais, de textura argilo-areno-siltosa. A pesquisa foi
realizada, abrangendo: (i) compactação do solo na energia do Proctor normal, utilizando-se as
modalidades de compactação estática e dinâmica e os teores de umidade ótimo, ótimo menos 3% e
ótimo mais 2%; (ii) ensaios de permeabilidade com carga variável realizados em corpos-de-prova
do solo compactado, com sentido de fluxo perpendicular e paralelo àquele das camadas
compactadas; e (iii) ensaios de granulometria conjunta do solo realizados antes e após a sua
compactação no teor ótimo de umidade. A análise dos resultados obtidos indicou que: (i) quanto ao
método de compactação, observou-se que o coeficiente de permeabilidade do solo quando
compactado estaticamente foi maior do que quando compactado dinamicamente, embora, para
ambos os métodos, o peso específico aparente seco e a energia de compactação empregadas fossem
as mesmas; (ii) no que se refere ao sentido do fluxo, observou-se que a permeabilidade medida na
direção perpendicular às camadas compactadas diminuiu com o aumento do teor de umidade, no
sentido do ramo seco para o ramo úmido da curva de compactação; porém, a permeabilidade
medida no sentido das camadas compactadas não apresentou variação significativa quanto ao teor
de umidade; e (iii) no que se refere à granulometria, para fins práticos, as curvas granulométricas
obtidas antes e após a compactação no teor ótimo de umidade não apresentaram diferenças
significativas entre si. Assim, os resultados encontrados permitiram concluir que: (i) a compactação
estática produziu um solo mais permeável, evidenciando a influência dos efeitos da sua estruturação
frente ao esforço de compactação empregado; (ii) foram observados comportamentos distintos para
a permeabilidade do solo, quanto ao sentido do fluxo, indicando influência da inclinação do corpo-
de-prova, ou seja, da anisotropia no coeficiente de permeabilidade; e (iii) não houve quebra de
partículas causadas pelos processos de compactação estática ou dinâmica.

PALAVRAS-CHAVE: compactação, permeabilidade, anisotropia, solo residual.


1 INTRODUÇÃO 2.1 Solo

A compactação de um solo é um processo Trabalhou-se com um solo residual maduro,


que resulta, basicamente, em modificações na desenvolvido de rocha gnáissica, que apresenta
sua estrutura e afeta o seu comportamento tonalidade amarela, aspecto visual poroso e
mecânico em aspectos como resistência textura argilo-areno-siltosa. É uma ocorrência
mecânica, compressibilidade e permeabilidade, de solo tropical que abrange uma área
sendo dependente do teor de umidade, da significativa do Sudeste brasileiro (Ker, 1997).
energia e do método de compactação Como destaca Trindade (2006), na fração argila
empregado. desse solo predominam os minerais caulinita e
Dentre os fatores que influem na goethita, embora sejam encontrados também
permeabilidade de solos argilosos compactados, traços de gibbsita e hematita. Quando
pode-se referir ao tipo de solo, às características compactado, há tendência à coalescência dos
do fluido percolante, ao índice de vazios, à microagregados, resultando em uma estrutura
estrutura e ao grau de saturação, que altamente coesa e compacta, com o
influenciam o tamanho dos poros, a aparecimento de fissuras ao longo de linhas de
concentração iônica e a espessura da dupla fraqueza, formando estruturas fraturadas,
camada difusa (Das, 2006; Rico e Del Castillo, preenchidas por plasma argiloso.
2006; Micthell e Soga, 2005). O local de coleta da amostra foi um talude de
A estrutura pode ser considerada como o corte às margens da rodovia BR 120 localizado
fator isolado que mais afeta a permeabilidade próximo ao campus da Universidade Federal de
dos solos argilosos compactados e, neste Viçosa, nas coordenadas 20º45’35”S e
aspecto, o método de compactação utilizado 42º52’28”W.
tem importância fundamental (Lambe, 1955; A caracterização geotécnica do solo é
Micthell et al, 1965, Micthell e Soga, 2005), mostrada na Tabela 1.
haja vista que ele influi diretamente no tamanho
e na interligação dos poros, na remoldagem de Tabela 1. Caracterização geotécnica do solo
agregados e na orientação de partículas. (Crispim et al, 2011)
Propriedade Un. Solo
Com o objetivo de avançar o estado de
Argila (φ ≤ 0,002 mm) % 66
conhecimento nessa área, o presente trabalho
Silte (0,002 < φ ≤ 0,06 mm) % 4
foi direcionado ao estudo da influência dos % 20
Areia Fina (0,06 < φ ≤ 0,20 mm)
métodos de compactação estático e dinâmico na Areia Média (0,20 < φ ≤ 0,60 mm) % 9
permeabilidade de um solo argiloso de Areia Grossa (0,60 < φ ≤ 2,00 mm) % 1
comportamento laterítico. Este trabalho dá LL % 74
sequência a outros estudos realizados com este IP % 48
mesmo solo, com abordagem de aspectos de γs kN/m³ 27,17
microestrutura e de resistência mecânica Classificação USC - CH
resultantes do efeito do método de compactação Metodologia MCT (Trindade, 2006) - LG'
(Azevedo, 1999; Trindade, 2006;
Crispim et al, 2006; Crispim, 2007; Crispim 2.2 Métodos
et al, 2010, Crispim et al, 2011).
Os ensaios de laboratório realizados seguiram
as normas da Associação Brasileira de Normas
2 MATERIAIS E MÉTODOS Técnicas - ABNT.
A fim de detectar possíveis quebras de
Os experimentos relativos a este trabalho foram partículas com o esforço de compactação
realizados no Laboratório de Engenharia Civil empregado, foram determinadas as curvas
do Departamento de Engenharia Civil da granulométricas do solo analisado
Universidade Federal de Viçosa - UFV, Viçosa, (ABNT, 1984) antes e após a compactação no
MG. teor ótimo de umidade, na energia do Proctor
normal.
Os corpos-de-prova utilizados no estudo
foram compactados na energia do Proctor controlando-se apenas a massa e a altura das
normal, empregando-se as modalidades de camadas de solo.
compactação estática e dinâmica, nos teores de Os ensaios para determinação da
umidade: ótimo (wot), ótimo menos 3% condutividade hidráulica (k) do solo
(wot - 3%) e ótimo mais 2% (wot + 2%). Os compactado foram realizados na modalidade de
pares teor de umidade (w) e peso específico carga variável, conforme a ABNT (2000).
aparente seco (γd) para o estudo foram Foram realizadas medidas de k nas direções de
selecionados a partir da curva de compactação fluxo vertical e horizontal, respectivamente
obtida por Crispim (2007) e são mostrados na perpendicular e paralela à direção das camadas
Figura 1. compactadas.
Para determinação da condutividade
hidráulica na direção vertical, os corpos-de-
prova foram compactados diretamente em um
permeâmetro confeccionado com as dimensões
do cilindro Proctor, como esquematizado na
Figura 2.

Figura 1. Curva de compactação do solo analisado e Figura 2. Esquema do permeâmetro utilizado para
pontos selecionados para estudo (Crispim, 2007). determinação da condutividade hidráulica na direção
vertical.
Para aceitação dos corpos-de-prova, foram
admitidos desvios máximos de ± 0,3 % no teor Na determinação da condutividade hidráulica
de umidade e de ± 0,3 kN/m³ no peso específico na direção horizontal, foram talhados corpos-
aparente seco, sendo todos os corpos-de-prova de-prova a partir dos corpos-de-prova
compactados 24 horas após o umedecimento compactados no cilindro Proctor, como
para garantir o equilíbrio do teor de umidade na mostrado na Figura 3 e utilizando o
massa de solo. permeâmetro esquematizado na Figura 4.
Os corpos-de-prova foram compactados
utilizando-se as modalidades de compactação
estática e dinâmica, como segue: (i)
compactação dinâmica (ABNT, 1986) realizada
em três camadas, utilizando-se o cilindro
Proctor (0,1 m de diâmetro e 0,127 m de altura);
(ii) compactação estática utilizando uma
pressão hidráulica para aplicar a força
necessária em cada uma das três camadas para
se atingir o peso específico aparente seco
Figura 3. Esquema da moldagem dos corpos de prova
desejado. Destaca-se que na compactação utilizados na determinação da condutividade hidráulica
estática a força aplicada não foi medida, na direção horizontal.
quando compactado estaticamente foi maior do
que quando compactado dinamicamente. Isto
foi observado tanto para a permeabilidade
medida na direção horizontal quanto na vertical.
Este comportamento indica que a
compactação estática resultou em estrutura com
poros conectados em maior grau do que a
compactação dinâmica, reforçando os
resultados encontrados por Crispim et al (2011).
Analisando fotomicrografias (obtidas por
microscopia ótica) deste mesmo solo e nas
mesmas condições de compactação, estes
autores relatam que a compactação estática
Figura 4. Esquema do permeâmetro utilizado para
determinação da condutividade hidráulica na direção
resultou em estrutura significativamente mais
horizontal. porosa (macroporos) do que a compactação
dinâmica.
Os resultados encontrados estão de acordo
3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS com vários autores que apontam que a
RESULTADOS modalidade de compactação dinâmica causa
maior dispersão dos agregados e partículas do
A Figura 5 mostra os resultados dos ensaios que a modalidade estática (Lambe e Whitman,
de permeabilidade realizados. 1969; Hilf, 1991; Mitchell e Soga, 2005; Rico e
Del Castillo, 2006), resultando em
permeabilidade menor.
Quanto ao sentido do fluxo, observou-se que
a permeabilidade medida na direção vertical
(perpendicular às camadas compactadas)
apresentou o comportamento esperado (Michell
e Soga, 2005; Das, 2006), ou seja, valor de k
maior no ramo seco da curva de compactação e
valores significativamente menores no teor
ótimo de umidade e no ramo seco da curva,
sendo o valor mínimo no teor ótimo da curva.
Para o solo compactado no ramo seco da
curva de compactação as partículas de solo
estão agrupadas em agregados que tem alta
resistência ao rearranjo frente ao esforço de
compactação, formando uma estrutura com
poros entre agregados relativamente grandes.
Na medida em que se aumenta o teor de
umidade os agregados ficam mais deformáveis
e o esforço de compactação é mais efetivo na
dispersão dos agregados fechando e
desconectando os poros na massa de solo
(Benson e Daniel, 1990; Delage et al, 1996;
Michell e Soga, 2005; Cetin et al, 2007).
Figura 5. Resultado da condutividade hidráulica obtida
para o solo compactado, utilizando-se os métodos de Por outro lado, a permeabilidade medida na
compactação estático e dinâmico. direção horizontal (no sentido das camadas de
compactação) não apresentou variação
Quanto ao método de compactação, significativa quanto ao teor de umidade, exceto
observou-se que a permeabilidade do solo no ramo úmido da curva de compactação para o
solo compactado estaticamente, em que houve 4 CONCLUSÕES
redução.
A Tabela 2 mostra a relação entre a Os resultados encontrados permitiram concluir
condutividade hidráulica nas direções que: (i) a compactação estática produziu um
horizontal (k20 h) e vertical (k20 v). solo mais permeável, evidenciando a influência
dos efeitos da sua estruturação frente ao esforço
Tabela 2. Relação entre a condutividade hidráulica nas de compactação empregado; (ii) foram
direções horizontal e vertical (k20 h/ k20 v) observados comportamentos distintos para a
Método de compactação permeabilidade do solo, quanto ao sentido do
Teor de umidade
Estático Dinâmico fluxo, indicando a influência da inclinação do
wot - 3% 0,4 0,2 corpo-de-prova, ou seja, de anisotropia na
wot 2 12 permeabilidade; e (iii) utilizando-se os
wot + 2% 5 10
processos de compactação estática e dinâmica e
a energia de compactação do Proctor normal,
As diferenças na permeabilidade horizontal e
não houve quebra de partículas do solo
vertical encontradas evidenciam a anisotropia
analisado.
do solo analisado, sendo mais expressiva
quando utilizado o método dinâmico de
compactação. Estes resultados indicam a
AGRADECIMENTOS
ocorrência de orientação dos agregados e
partículas na direção paralela às camadas de
Os autores gostariam de registrar os seus
compactação aumentando o fluxo d'água nesta
agradecimentos à Universidade Federal de
direção.
Viçosa-UFV, à Capes e à FAPEMIG (Processos
As curvas granulométricas obtidas antes e
TEC-APQ-00378-08 e TEC-PPM-00081-10),
após a compactação do solo são mostradas na
pelo apoio concedido para o desenvolvimento
Figura 6. Observando-se esses resultados,
desta pesquisa.
percebe-se que para fins práticos não houve
diferença significativa entre as curvas,
indicando que não ocorreu quebra de partículas
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