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CAMPUS BINACIONAL
Oiapoque
2018
ROBSON TIMOTEO DAMASCENO
Oiapoque
2018
TERMO DE APROVAÇÃO
ROBSON TIMOTEO DAMASCENO
_____________________________________
Prof. Ms. José Caldeira Gemaque Neto
Orientador
Universidade Federal do Amapá
_____________________________________
Profa. Ms. Alice Aparecida Dias Akegawa
Membro
Universidade Federal do Amapá
_____________________________________
Prof. Ms. Francine Pinto da Silva Joseph
Membro
Universidade Federal do Amapá
RESUMO
O presente trabalho apresenta discussões a respeito da constitucionalidade do modelo
atualmente adotado para as avaliações psicológicas em concursos públicos brasileiros,
especialmente para a área de segurança pública e outros cargos nos quais essa avaliação é
prevista em lei. Apresentar-se-á qual o modelo de avaliação adotado no Brasil atualmente para
esses certames, desde as principais teorias psicológicas empregadas pela Psicometria, passando
pelas formas de desenvolvimento e validação dos testes psicológicos, pela forma de seleção dos
testes e aplicação pelas bancas até a apresentação dos resultados e a possibilidade de recursos
administrativos. Além disso, realizar-se-á a revisão literária da área jurídica nacional, bem
como da área de Psicologia, tanto nacional quanto internacional. Será feita também a análise
qualitativa e quantitativa de informações dessas avaliações, com dados dos principais certames
nos quais as avaliações em questão são aplicadas. Estudos comparados serão realizados,
apresentando o formato que outros países utilizam para o ingresso de profissionais em seus
quadros, em comparação ao modelo brasileiro. Com base em todos esses resultados, analisar-
se-á o atual modelo de avaliação psicológica frente aos princípios constitucionais, em especial
aqueles que regem a Administração Pública, buscando analisar se tal modelo se adequa aos
parâmetros constitucionais. Diante dos resultados, apontar-se-á quais os principais pontos a
serem aperfeiçoados nesse modelo, à luz dos estudos comparados.
Palavras-chave: Avaliação psicológica, Constitucionalidade, Concursos públicos, Psicometria
ABSTRACT
This work presents discussion about the constitutionality of the model currently applied to
physicological screening in brazilian admission to public service, especially for the area of
public security and others positions for which this evaluation is determined by law. The model
of evaluation adopted in Brazil to these processes of admission will be presented, presenting
the main psychological theories employed by Psychometrics, the forms of development and
validation of psychological tests, the way of selection of tests and application and the results
and the possibility of administrative appeals. In addition, there will be a literary review of the
national legal area, as well as the area of Psychology, both national and international. The
qualitative and quantitative analysis of information from these evaluations will also be made,
with data from the main processes in which the evaluations in question are applied.
Comparative studies will be carried out, presenting the format that other countries use for the
entry of professionals in their staff, in comparison to the brazilian model. Based on all these
results, the current model of psychological evaluation will be analyzed against the constitutional
principles, especially those that govern the Public Administration, seeking to determine if such
a model fits the constitutional parameters. In view of the results, it will be pointed out the main
points to be perfected in this model, in the light of the comparative studies.
Key Words: Psychological evaluation, Constitutionality, Admission in public service,
Psychometrics
LISTA DE TABELAS
1 – INTRODUÇÃO
no qual trabalham há anos sem registros negativos, e dos casos em que em um mesmo
concurso o candidato é aprovado e depois reprovado (e vice-versa).
No Brasil, temos um verdadeiro cenário de vácuo legislativo sobre a questão,
especialmente nos Estados, que não seguem as regras do Decreto 6944/2009. Não
obstante a regulamentação nos certames federais, mesmo em relação a esses falta
regulamentação da questão, posto que as regras de aplicação dos testes, de aprovação e
de reprovação nas avaliações psicológicas seguem as normas do Conselho Federal de
Psicologia (CFP) apenas, o que não constitui lei em sentido formal. Logo, as regras para
avaliação psicológica são verdadeiras normas em branco, que são complementadas por
uma autarquia que sequer faz parte da estrutura da Administração direta federal.
Por fim, há uma séria dificuldade de diálogo entre os profissionais do ramo da
Psicologia, responsáveis pelas avaliações psicológicas, e os profissionais do ramo do
Direito, já que as regras dos testes psicológicos são restritas aos primeiros e não há a
devida preocupação dos operadores do Direito com essa relevante questão.
Nesse sentido, pondera SANTOS (2011), em aprofundado artigo, que os testes
psicológicos carecem de uma adequada reflexão jurídica e que a linguagem da Psicologia
– destinada aos seus iniciados – não tem a preocupação em fazer a ponte com o Direito
(ou vice-versa), dificultando, dessa forma, o acesso aos testes pelos profissionais do
Direito, transformando-os em verdadeiras caixas-pretas que precisam ser juridicamente
desvendadas sob pena de se amesquinhar direitos e garantias fundamentais.
Por conta dessa falta de reflexão jurídica em nosso país, são raros os artigos
científicos da área de Direito que se debruçam sobre a questão com a necessária
profundidade e seriedade, sendo que a maior parte da doutrina e jurisprudência se limita
a repetir os critérios de objetividade, previsão em lei e possibilidade de recurso
administrativo como suficientes para a legalidade e constitucionalidade da avaliação
psicológica em concursos públicos. Além disso, muitas vezes os artigos da área de Direito
produzidos em nosso país têm como origem os próprios institutos responsáveis pela
seleção de candidatos, o que pode indicar uma visão sem a necessária isenção sobre o
assunto.
Diversa é a situação, entretanto, em outros países, como, por exemplo, Estados
Unidos, no qual existe farta discussão a respeito dos limites de aplicação de testes
psicológicos e suas implicações jurídicas. CREECH (1948), por exemplo, há mais de
meio século discutia como o Congresso americano deveria tratar a questão da avaliação
psicológica, de forma a não ferir os direitos fundamentais garantidos pela quinta emenda
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constitucional daquele país. Para este autor, mesmo quando um interesse público superior
pode garantir uma invasão da privacidade pessoal, a intrusão deve ser acompanhada por
completas salvaguardas para os indivíduos afetados.
Assim, pretende o presente projeto de trabalho de conclusão de curso analisar a
questão da constitucionalidade do atual modelo de avaliação psicológica no Brasil,
mostrando os problemas práticos da aplicação deste modelo e ponderando-o dentro da
análise sistemática de nosso ordenamento, bem como comparando-o aos modelos
empregados em outros países. Para resumir tal problemática, trazemos a afirmação de
SANTOS (2011) no sentido de que é absolutamente ilegal e inconstitucional (por violação
ao conteúdo do artigo 37, II da Constituição da República e ao princípio da razoabilidade)
que o teste psicológico tenha cunho eliminatório, como parte integrante do próprio
concurso. O objetivo do presente trabalho é verificar se afirmações como essa, de fato, se
sustentam.
Na seção 2, serão apresentados o marco regulatório e a jurisprudência atual sobre
a avaliação psicológica em concursos públicos, apresentado os principais aspectos das
normas que regulam a questão, em especial o Decreto 6944/2009, as leis que regem os
cargos nos quais essa avaliação é aplicada, os normativos do CFP e a jurisprudência nas
cortes superiores.
Por outro lado, a terceira seção apresentará uma revisão crítica da literatura
nacional e estrangeira sobre o assunto, apontando tanto os aspectos jurídicos quanto os
aspectos do campo da Psicologia, com fundamento em especialistas no assunto.
Prosseguindo, a quarta seção trará uma discussão sobre os resultados do atual
modelo de avaliação psicológica, analisando-o sobre os aspectos da coerência dos seus
resultados quando comparados certames diferentes, quando comparados candidatos em
diferentes concursos e até mesmo quando comparados os mesmos candidatos em um
mesmo concurso. Essa seção apresentará uma discussão sobre a teoria dos erros, sua
aplicação e avaliação dentro do assunto em tela.
Por sua vez, a seção 5 apresentará uma breve apresentação de modelos
estrangeiros de avaliação psicológica, usando como paradigma de comparação os
concursos para ingresso nos órgãos de polícia judiciária nacional. Com base em estudos
internacionais, que listam os melhores países em termos de segurança pública, os modelos
de diversos países, entre eles França, Inglaterra, Estados Unidos da América e Alemanha,
serão apresentados.
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edição formal da lei para obrigar o cidadão, que somente pode ser obrigado a fazer ou
deixar de fazer algo em virtude da lei que esteja de acordo com o ordenamento jurídico,
cujo fundamento de validade material e formal é a própria Constituição.
Quanto ao princípio da impessoalidade, MENDES (2017) afirma que esse deve
ser entendido como o comando constitucional que impede a Administração de fazer
diferenciações que não se justifiquem juridicamente. Esse é o princípio que sustenta, em
última análise, a exigência de concursos públicos para o ingresso nos quadros do
funcionalismo público. Também no princípio da impessoalidade se fundamentam os
princípios da igualdade e da competição nos concursos públicos, já que todos os
administrados devem ser avaliados em igualdade de condições, não cabendo a
Administração favorecer a ninguém, buscando, ao contrário, aqueles que possuem as
melhores condições para o exercício das funções públicas.
No que se refere ao princípio da moralidade, trata-se de um comando no sentido
de atribuir ao ato jurídico uma dimensão ética. Conforme MENDES (2017), esse
princípio precisa ser analisado em conjunto com outros princípios, como a
proporcionalidade, a não arbitrariedade do ato administrativo e a isonomia, de forma a
avaliar a moralidade, que deve existir em todos os atos da Administração.
Por outro lado, o princípio da publicidade está relacionado ao dever de
transparência do Estado e ao direito de informação dos administrados. Especificamente
nos concursos públicos, tal princípio permite o amplo acesso às informações referentes
às etapas e regras do certame, bem como aos dados que constam do candidato no processo
seletivo.
Por fim, quanto ao princípio da eficiência, esse impõe a Administração da busca
pelos melhores resultados em sua atividade, que são aqueles que apresentam
economicidade, celeridade e satisfação dos objetivos buscados. No que se refere ao
processo de seleção para os cargos públicos, a eficiência está relacionada à seleção dos
candidatos que melhor desempenharão às atividades próprias do cargo.
Além dos princípios constitucionais expressos, CARVALHO FILHO (2017)
afirma que a Administração Pública deve se orientar ainda por outros princípios, que
denomina de princípios reconhecidos. Dentre eles, temos o princípio da supremacia do
interesse público, da autotutela, da indisponibilidade, da continuidade dos serviços
públicos, da segurança jurídica e da precaução.
Quanto ao princípio da supremacia do interesse público, esse nada mais é do que
a constatação de que o fim último da atividade do Estado é o benefício da coletividade.
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Assim, quando a atuação estatal não beneficia tal objetivo há desvio de finalidade. No
que se refere ao princípio da autotela, a Administração tem o dever de rever seus atos,
seja no aspecto de legalidade, quanto no mérito, de forma a melhor adequá-los ao
interesse público.
Por sua vez, o princípio da indisponibilidade determina que os bens e interesses
públicos não pertencem à Administração ou a qualquer de seus agentes, mas sim a
coletividade, que a verdadeira titular dos interesses e direitos públicos. Dessa maneira,
todos os atos e procedimentos administrativos devem ser realizados no interesse da
coletividade e em benefício dela.
Em relação ao princípio da continuidade dos serviços públicos, CARVALHO
FILHO (2017) afirma que esse traz como consequência lógica a não interrupção da
prestação dos serviços públicos sem necessidade.
O princípio da segurança jurídica, por sua vez, traduz-se na perspectiva de certeza,
que implica o conhecimento seguro das normas e atividades jurídicas da Administração,
e na perspectiva de estabilidade, que se demonstra na consolidação das ações
administrativas e na criação de mecanismos de defesa do administrado, como o direito
adquirido e o ato jurídico perfeito.
Por outro lado, o princípio da precaução, nos dizeres de CARVALHO FILHO
(2017), tem sido invocado na seara administrativa no sentido de que a Administração
deve adotar postura de precaução para evitar que danos sejam provocados para a
coletividade, quando houver riscos envolvidos. Logo, deve a Administração privilegiar a
prevenção à correção.
Deste modo, a análise da constitucionalidade dos procedimentos administrativos,
dos quais os concursos públicos são uma espécie, deve-se pautar não apenas na mera
legalidade e formalismo, mas também na avaliação sistemática dos diversos princípios
que delimitam a atividade da Administração.
1.2 – Avaliação psicológica como etapa de concurso público e o modelo atual dessa
avaliação
Por sua vez, testes psicológicos, de acordo com a definição dada pela Resolução
no 2/2003 do CFP são:
avaliação psicológica pode ser considerada a criação de uma teoria que fundamente o
teste psicológico. O campo da Psicologia que se ocupa de tais teorias é a Psicometria. A
Psicometria, de acordo com PASQUALI (2009), é a teoria e também a técnica de medida
dos processos mentais, com ênfase em sua aplicação na área da Psicologia e da Educação.
Ainda de acordo com PASQUALI, temos a chamada Teoria Clássica dos Testes
(TCT) e a Teoria de Resposta ao Item (TRI) como as duas principais teorias que
fundamentam os testes psicológicos. SARTES (2013) apresenta ampla discussão e
explicação sobre os fundamentos de tais teorias.
Resumindo a ideia desses autores, podemos dizer que a Teoria Clássica dos
Testes (TCT) se preocupa a relacionar o resultado numa tarefa qualquer com uma
característica em estudo. Por exemplo, caso se queira saber o quanto uma pessoa é
agressiva, por essa teoria, faz-se uma série de perguntas, sendo que cada resposta
afirmativa terá valor 1 e cada resposta negativa terá valor 0. Assim, nesse caso hipotético,
após responder 30 itens, o avaliado obtém uma pontuação total de 15. Como base nos
estudos baseados na TCT haverá um significado para esse valor de 15 em termos de
agressividade. Esta é uma teoria mais antiga e tinha algumas falhas, como a maior
dependência do teste utilizado.
A segunda vertente é a já citada Teoria de Resposta ao Item (TRI). A teoria, que
surgiu em torno dos anos 1930, foi melhor sistematizada por volta dos anos 1960,
tomando conta de grande parte da psicometria nos anos 1980. Essa teoria postula que o
comportamento humano é resultado de processos hipotéticos chamados de traços latentes.
A TRI expressa a relação entre os comportamentos (chamadas variáveis observáveis) e
os traços latentes (as variáveis hipotéticas) através uma equação matemática chamada de
equação logística. Essa produz uma Curva Característica do Item (CCI). A CCI define os
parâmetros dos comportamentos, ditos itens (dificuldade, discriminação) em função do
tamanho do traço latente.
PASQUALI (2009, p. 2) diferencia as duas teorias da seguinte forma:
1 - Quando encontro uma pessoa pela primeira vez, tenho tendência de falar bastante e
procurar conhecê-la.
Assim, através destes itens, suponha-se que se irá avaliar a inibição, o raciocínio
verbal e a agressividade das pessoas. Após criar os itens, é necessário criar uma forma de
correção.
No caso do primeiro teste hipotético, INIB, será pedido que o avaliado diga o
quanto acha que a frase tem a ver com ele, numa escala de 0 (não tem nada a ver, não me
identifico em nada com a afirmação) a 5 (tudo a ver, me identifico totalmente com a
afirmação). Assim, se um avaliado achar que as duas frases têm mais ou menos a ver com
ele, responderá 3 em ambas as afirmações e ficará com pontuação total 6 no teste. Outro
que ache que tem tudo a ver com ele, responderá 5 em ambas as afirmações e ficará com
pontuação 10. E um que ache que não tem nada a ver, ficará com pontuação 2.
Dessa forma, a escala do teste será de 0 a 10 no caso do teste INIB, com 0 sendo
o mais inibido e 10 sendo o mais desinibido. Esse tipo de teste é chamado de teste de
escala ou teste de inventário e o nome dado a esse tipo de escala de avaliação dos testes
de personalidade é escala Likert. É bastante usual que se apliquem testes com diversos
traços latentes sendo avaliados em conjunto, adotando-se o nome de bateria para esses
testes.
No caso do segundo teste hipotético, VERB, a resposta correta para os itens é 1-
C-PESSOA e 2-B-NOTA. Se a pessoa avaliada anotar essas respostas, ganhará um ponto
por cada resposta correta. Se marcar outra resposta, não ganhará nada. Assim, a pessoa
pode fazer 0, 1 ou 2 pontos. Este é um teste de habilidade específica, que mede o
raciocínio verbal do avaliado.
Por fim, no terceiro teste hipotético, TRAÇO, há um padrão a ser seguido nos
desenhos. Hipoteticamente, aqueles que desenharem com traço muito grosso ou que
fizerem desenhos muito grandes serão considerados como pessoas com tendências altas
à agressividade. Em nenhum momento o teste indica que está avaliando a agressividade
e nem pode haver tal indicação, mas esse é o traço latente avaliado. Esse tipo de teste é
chamado de teste projetivo, posto que o avaliado projeta uma característica de
personalidade na tarefa solicitada, sem que tenha ciência do que está sendo avaliado.
Os exemplos acima ilustram como se criam os testes e as escalas de avaliação. A
próxima etapa é a escolha da amostra de validação, que nada mais é do que as pessoas
nas quais o teste será avaliado. É usual escolher pessoas em uma escola, integrantes de
um curso ou uma amostra selecionada para representar a população. A escolha,
teoricamente, deve ser feita de forma que a amostra seja a mais representativa possível da
população a qual o teste é destinado.
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Após a escolha, aplica-se o teste as pessoas que foram escolhidas para a amostra.
Com isso, obtém-se uma série de resultados para cada teste. Digamos, por exemplo, que
nossa amostra fosse composta de 3 pessoas: Fulano, Sicrano e Beltrano. Aplicando os
testes INIB tivemos que cada um fez, respectivamente, 2, 5 e 10 pontos. No teste VERB
eles obtiveram 0, 1 e 2 pontos respectivamente. Por fim, no teste TRAÇO somente Fulano
fez traços grossos nos desenhos. Por óbvio, na validação do teste não se usa uma amostra
tão pequena, mas sim mais de cem pessoas, por exemplo.
Com esses resultados, porém, ainda não se poderia concluir muita coisa, já que o
pesquisador nada sabe, a priori, sobre as pessoas que compõe a amostra, de maneira que
seria difícil para ele dizer se Fulano é mais desinibido do que Sicrano, se Beltrano tem
melhor vocabulário do que Fulano ou se Sicrano e Beltrano são menos agressivos do que
Fulano. Para isso, utilizam-se alguns parâmetros para padronizar os resultados. São
exemplos desses parâmetros:
- Desempenho acadêmico: usado principalmente nos testes de inteligência, consiste em
comparar os resultados dos testes com o quão bem os alunos vão nas tarefas escolares,
seja pelas notas, pela avaliação feita pelos professores ou por outro critério que meça essa
característica, como se o avaliado é repetente ou está adiantado nos estudos.
- Desempenho em treinamento específico: após um curso, como no caso de profissões
especializadas, observa-se o desempenho e correlaciona-se com os testes.
- Desempenho profissional: compara-se o desempenho do avaliado com o que ele tem
em seu local de trabalho. Por exemplo, o nível de inibição e relação interpessoal com o
que se observa no dia a dia do trabalho de um vendedor.
- Diagnóstico psiquiátrico: compara-se o resultado do teste com a avaliação psiquiátrica.
Muito comum em testes de personalidade. Assim, observa-se grupos específicos, como
psicopatas e depressivos.
- Diagnóstico subjetivo: usa-se avaliações feitas pelos colegas e amigos a respeito da
pessoa, de forma a comparar com o resultado dos testes. É utilizada esta técnica,
sobretudo, em testes de personalidade, onde é difícil encontrar avaliações mais objetivas.
Assim, os sujeitos avaliam seus colegas em categorias ou dão escores em traços de
personalidade (agressividade, cooperação, etc.), baseados na convivência que eles têm
com os colegas.
- Outros testes: uma forma comum de validação é usar outro teste disponível para
mensurar a mesma característica. Esse método, entretanto, faz com que a validação
depende de uma validação anterior.
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comissão do órgão. A apreciação se faz pelo que está contido no teste, com base nos
critérios usados para validação, compilação das pesquisas realizadas, etc.
As condições de uso dos instrumentos devem ser consideradas apenas para os
contextos e propósitos para os quais os estudos empíricos indicaram resultados
favoráveis. Ou seja, o teste deve, em princípio, ser usado apenas no contexto para o qual
foi desenvolvido.
É falta ética a utilização de testes psicológicos que não constam na relação de
testes aprovados pelo CFP, salvo os casos de pesquisa. O psicólogo que utiliza testes
psicológicos como instrumento de trabalho deve observar as informações contidas nos
respectivos manuais e buscar informações adicionais para maior qualificação no aspecto
técnico operacional do uso do instrumento, sobre a fundamentação teórica referente ao
construto avaliado, sobre pesquisas recentes realizadas com o teste, além de
conhecimentos de Psicometria e Estatística. Assim, somente podem ser usados, no
contexto dos concursos, testes que sejam referendados pelo CFP.
De forma a facilitar o processo, após aprovado para uso, o teste passa a integrar
uma lista, sob controle do CFP, no chamado Sistema de Avaliação de Testes
Psicológicos (SATEPSI). Logo, existe um número limitado de testes disponíveis para os
psicólogos – e somente esses testes podem ser usados separadamente e de acordo com as
regras dos seus respectivos manuais em concursos públicos.
Todo o processo de validação, começando na teoria, passando pelas pesquisas,
aprovação da tese do teste, publicação do manual do teste e aprovação pelo CFP é custoso
e demorado, de forma que vários anos são necessários para que esse procedimento seja
concluído – de forma que poucos testes seguem até o final do processo, de forma a ter
parecer favorável pelo CFP. Após a validação do teste e aprovação pelo CFP, ele se
encontra disponível para uso. Com esses testes, a banca avaliadora do concurso público
irá passar para a próxima etapa da avaliação psicológica, que é a montagem da avaliação
psicológica (outros usos podem ser dados para os testes, mas este não é o enfoque neste
trabalho). A escolha do teste é apresentada no próximo tópico.
14 do Decreto 6944), algo que será mais bem discutido em outra seção deste trabalho.
Isso geralmente ocorre nos cargos de Segurança Pública, como Polícia Federal, Polícia
Rodoviária Federal, Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), Polícias Civis, Militares,
Bombeiros e outros. Sem previsão em lei, a etapa é irregular no concurso público.
Após essa previsão em lei, é necessário que seja fornecido pelo órgão um perfil
profissiográfico do cargo em questão. Esse documento, que é sigiloso, traz, por exemplo,
uma determinação no sentido de que o cargo de Agente da Polícia Federal exige esforço
mental moderado, capacidade de trabalhar sozinho e em equipe, memória auditiva para
nomes, fisionomia e números e etc. Esse documento é a base para o planejamento da
avaliação psicológica pela banca do concurso.
Diante do perfil profissiográfico, a banca de psicólogos da organizadora do
concurso, vai escolher entre os testes com pareceres favoráveis quais são adequados para
avaliar cada atributo desejado para o cargo. Por exemplo, o cargo exige memória para
nomes e fisionomias. Com base nisso, o psicólogo consulta o SATEPSI e descobre que
existem, por exemplo, os testes de nomes/siglas TMV, TEMPLAM, BGFM e MVT para
esse traço latente. Entre esses, a banca poderá escolher um ou mais de um destes para
avaliar a memória visual. Depois ela fará isso com os demais critérios, escolhendo testes
de atenção, raciocínio, memória, personalidade, etc. a depender do perfil do cargo.
Depois de escolhidos os testes, o próximo passo é a fixação dos critérios para
aptidão ao cargo, ou seja, quais serão os resultados necessários nos testes para ser
considerado apto na avaliação para o cargo em questão. Por exemplo, para ser
considerado apto no teste de memória seria necessário ficar acima do percentil 50 (o que
equivale a dizer que a pessoa deve ter melhor pontuação do que 50% da população na
tarefa do teste, de acordo com os critérios de validação). Cada teste é avaliado dessa
maneira.
Depois, cria-se um critério final, geral para todos os testes aplicados. Assim, por
exemplo, para ser aprovado em um cargo específico da Polícia Civil seria necessário ser
aprovado em dois dos três testes de personalidade e em um dos três testes de atenção.
Estes critérios de aprovação, que não são divulgados para os candidatos antes da
avaliação, ficam estabelecidos em documento da banca, que pode ser divulgado ao
candidato no seu laudo, após o resultado final da avaliação psicológica.
Criados estes critérios, após a escolha dos testes a serem usados e dos critérios
para a aptidão, passa-se à próxima etapa da avaliação psicológica, que é a aplicação dos
testes psicológicos.
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escreve seu nome e assina o caderno de teste, de forma a manter uma ligação entre este e
o teste, para o caso de contestação posterior.
As explicações são escritas no Manual do teste e às vezes no próprio caderno que
é entregue ao avaliado. O psicólogo responsável pela avaliação lê o que está escrito e
confirma se todos os candidatos entenderam o que está escrito. Depois de explicado o
teste, o psicólogo dá o sinal e começa a execução. No caso dos testes de atenção, o
candidato tem, por exemplo, 5 minutos para riscar os desenhos selecionados entre outros
na folha. Após o sinal, todos os candidatos devem parar a execução imediatamente.
Após recolherem os testes, passa-se para o próximo teste. Repete-se o
procedimento: entrega dos testes, assinatura do candidato, explicação, perguntas, início
da execução, final da execução, recolhimento do teste.
Testes após testes são aplicados e recolhidos e quando todos os testes planejados
tiverem sido aplicados, a avaliação está encerrada e os cadernos resolvidos pelo avaliado
serão levados para a correção. Assim, esta etapa está encerrada.
Quando há testes de aplicação individual, como o já citado PMK, o protocolo de
aplicação muda um pouco. Ao invés de vários candidatos reunidos em uma sala, cada
candidato entra por vez com o psicólogo, ele lhe explica o teste e faz a aplicação,
recolhendo os resultados ao final.
A próxima etapa é a correção dos testes psicológicos, que é apresentada em
seguida.
Esse decreto, que dispõe sobre normas gerais relativas a concursos públicos,
determina, em seus artigos 14 e 14-A, as principais regras aplicáveis ao serviço público
federal. Dessa forma, não se tratam de regras obrigatórias para os Estados, de forma que
nos concursos estaduais é possível que tais normas não sejam seguidas. Já para os
concursos federais que aplicam avaliação psicológica, essas normas são cogentes.
De acordo com BRUM (2010), o Decreto 6944/2009 foi editado devido às
sucessivas demandas judiciais envolvendo a União, tendo como matéria a avaliação
psicológica. Conforme o autor, o governo federal, reconhecendo a forma equivocada
como os testes estavam sendo previstos em edital e aplicados, resolveu regulamentar a
questão. O Decreto 6944/2009 foi alterado pelo Decreto 7308/2010, que alterou algumas
questões pontuais, mas importantes.
O art. 14 desse decreto traz em seu caput a previsão de que somente com previsão
legal específica e em edital pode ser aplicada a avaliação psicológica (o texto original,
antes da promulgação do Decreto 7308/2010 trazia a necessidade de previsão legal
expressa específica, o que era redundante). Assim, somente com lei prevendo a
necessidade da avaliação psicológica e com a previsão em edital pode ser aplicada a
avaliação psicológica. A previsão em edital nunca foi um problema, mas anteriormente
era comum que concursos aplicassem avaliação psicológica sem que houvesse previsão
específica na lei que rege os cargos, o que a jurisprudência já vinha considerando ilegal.
O texto original do Decreto 6944/2009 trazia a previsão de que a avaliação
psicológica deveria se limitar a detecção de problemas psicológicos que pudessem vir a
comprometer o exercício das atividades inerentes ao cargo ou emprego disputado no
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O art. 14-A, que foi incluído pelo Decreto 7308/2010, por outro lado, trouxe regras
atinentes à divulgação dos resultados e aos recursos administrativos. Adotando nova
nomenclatura, há a previsão de que somente será publicado se o candidato é apto ou
inapto como resultado da avaliação psicológica (a nomenclatura anterior, usada em
muitos editais, era “recomendado” e “não-recomendado”).
Além disso, estabelece o artigo em questão que todas as avaliações psicológicas
serão fundamentadas e os candidatos poderão obter cópia de todo o processado
envolvendo sua avaliação, independentemente de requerimento específico e ainda que o
candidato tenha sido considerado aptos. Essa previsão é importante, já que no âmbito
estadual, por exemplo, em que não há a regulamentação, é comum que as bancas neguem
acesso aos candidatos aos seus resultados, em direta afronta ao princípio da publicidade.
Quanto aos recursos administrativos da avaliação psicológica, estabelece o art. 14-
A que os prazos e forma de interposição dos recursos serão previstos em edital. Tratando
propriamente da regulamentação dos recursos, primeiramente, há a previsão de que os
profissionais que efetuarem a avaliação psicológica não poderão atuar na análise dos
recursos. Em segundo lugar, prevê-se que o candidato poderá apresentar parecer de
assistente técnico na fase recursal, o que geralmente é feito pelo psicólogo que acompanha
o candidato na sessão de conhecimento das razões de inaptidão, como explicado
anteriormente. Por fim, prevê o art. 14-A que caso no julgamento de recurso se entenda
que a documentação e a fundamentação da avaliação psicológica são insuficientes para
se concluir sobre as condições do candidato, a avaliação psicológica será anulada e
realizado novo exame, o que é certamente necessário para que haja legalidade na
avaliação.
Em resumo, o principal diploma sobre avaliação psicológica traz os requisitos
essenciais para a legalidade da avaliação psicológica no atual modelo: previsão em lei da
carreira em questão, previsão em edital, uso de instrumentos psicológicos objetivos e
cientificamente aprovados, possibilidade de recurso administrativo e acesso do candidato
aos resultados de sua avaliação.
2.2 - Leis de regência das carreiras que exigem avaliação psicológica para o ingresso
Como visto no tópico anterior, para que possa ser aplicada a avaliação psicológica
em concursos do Executivo Federal é necessário que haja previsão na lei que rege os
cargos que estão sendo disputados. Nesse sentido, os principais órgãos federais nos quais
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há essa etapa possuem normas autorizadoras da avaliação psicológica. Já nos Estados não
existe a necessidade de obediência ao Decreto 6944/2009, mas é comum, inclusive por
conta dos questionamentos judiciais, que as leis estaduais tenham tais previsões. Na
verdade, em respeito ao princípio da legalidade é possível se afirmar que a aplicação de
avaliação psicológica sem que haja lei instituindo tal etapa no concurso é totalmente
inconstitucional, de forma que, a despeito do Decreto 6944/2009 e sua abrangência,
sempre deveria existir tal previsão.
Como exemplos de leis que instituem a avaliação psicológica, temos que a Lei
4878/1965 estabelece no art. 9º, inciso VII, que um dos requisitos para matrícula no curso
de formação da Polícia Federal é “possuir temperamento adequado ao exercício da função
policial, apurado em exame psicotécnico realizado pela Academia Nacional de Polícia”.
Essa lei, que se encontra em franca desatualização, afirma que a avaliação psicológica
deve ser realizada pela Academia Nacional de Polícia, o que na prática não ocorre, já que
o processo de seleção é terceirizado para as bancas de concursos públicos.
No âmbito da Polícia Rodoviária Federal, a lei que disciplina a questão é a Lei
9654/1998, que em seu artigo 3º estabelece que o ingresso nos cargos da carreira de
Policial Rodoviário Federal “dar-se-á mediante aprovação em concurso público,
constituído de duas fases, ambas eliminatórias e classificatórias, sendo a primeira de
exame psicotécnico e de provas e títulos e a segunda constituída de curso de formação”.
Por outro lado, para os cargos da Agência Brasileira de Inteligência a lei que
normatiza a questão é a Lei 11766/2008, que determina no art. 14 que uma das etapas do
concurso é a avaliação psicológica. Como uma lei mais recente, a lei da ABIN utiliza a
expressão “avaliação psicológica”, ao invés de “exame psicotécnico” – que é expressão
antiga e em desuso.
Além dessas três carreiras citadas, ainda no Executivo federal há previsão de
avaliação psicológica para ingresso nos quadros do Departamento Penitenciário Nacional
(DEPEN). Inicialmente não havia tal previsão na lei que criou os cargos do órgão, mas
com a alteração legislativa, a Lei 11907, a avaliação psicológica passou a ser prevista,
como uma das etapas, em conjunto com provas escritas, prova de aptidão física, e
investigação para verificação dos antecedentes pessoais do candidato. Nesse caso, o
legislador utilizou o termo “aptidão psicológica”.
Por fim, também para ingresso nos quadros de oficiais das Forças Armadas é
necessária a aprovação em avaliação psicológica, mas com diferenças em relação ao
modelo dos demais concursos, que é aqui analisado.
35
possui regulamentação sobre o assunto, sendo que os concursos para o Parquet não têm
aplicado essa etapa nos seus certames.
Por outro lado, também os membros da Magistratura devem se submeter a
avaliação psicológica. A previsão está contida na Resolução 75 do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), que em seu artigo 5º determina que uma das etapas do concurso para
ingresso na Magistratura é o “exame psicotécnico”. Entretanto, diversamente dos
concursos anteriormente citados, a avaliação psicológica nesse concurso é feita por um
psicólogo ou psiquiatra, contratado pelo próprio candidato e às suas expensas, que o
avalia pessoalmente, sem a necessidade de testes padronizados. Por conta disso, o modelo
de avaliação psicológica para esses cargos não é o que este trabalho está analisando.
Portanto, a previsão de avaliação psicológica para ingresso em algumas carreiras
federais está em lei. Entretanto, somente alguns poucos cargos (Polícia Federal, Polícia
Rodoviária Federal, Departamento Penitenciário Nacional e Agência Brasileira de
Inteligência) o processo de avaliação psicológica é realizado pelo método que está sendo
analisado nesse trabalho.
Na esfera estadual, por outro lado, os concursos de Polícias Civis e Militares,
Corpos de Bombeiros Militares, Polícias Técnicas, órgãos penitenciários e outros órgãos
de segurança possuem avaliação psicológica, que deve ser prevista em lei estadual.
Tomando como exemplo o estado do Amapá, há previsão de avaliação psicológica para
ingresso na Polícia Civil na Lei 883/2005 (Lei Orgânica da Polícia Civil do Amapá), art.
32, que estabelece que um dos requisitos para ingresso no curso de formação dessas
carreiras é o exame psicológico, de caráter objetivo. Semelhante previsão, como já
afirmado, deve estar contida em lei estadual, de forma a permitir a avaliação psicológica
nos concursos. Assim, por exemplo, não há previsão de avaliação psicológica para os
quadros da Polícia Técnico-Científica do Amapá (POLITEC) na Lei estadual 1468/2010,
de forma que não é possível essa etapa nos concursos para esse órgão.
No âmbito estadual, entretanto, os concursos não se sujeitam ao Decreto
6944/2009, como comentado no tópico anterior. Assim, cada estado da federação deve
regulamentar a avaliação psicológica de seus concursos.
37
A avaliação psicológica, caso prevista em lei, deve ser aplicada de acordo com as
normas previstas no edital do concurso. Assim, as normas sobre avaliação psicológica
citadas nos tópicos anteriores são complementadas pelos editais.
Cada concurso possui um regramento e edital próprio para sua avaliação
psicológica. Está previsto no âmbito federal que os requisitos para a avaliação psicológica
sejam previstos no edital. Esses requisitos, em regra, são copiados do perfil
profissiográfico do cargo. Como cada órgão produz seu perfil profissiográfico e como
cada banca de concurso tem sem próprio método de trabalho, os editais costumam variar
bastante. Exemplo disso são os editais das Polícias Civis, Militares, Federal e Rodoviária
Federal.
Começando pela Polícia Federal, o último concurso realizado foi o de 2014, para
o cargo de Agente de Polícia Federal, organizado pela banca Centro de Seleções e
Promoções de Eventos – Universidade de Brasília CESPE (atualmente também
denominada por Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de
Eventos - CEBRASPE). De acordo com o edital de abertura desse concurso, em seu anexo
IV, os requisitos para o desempenho do cargo são “características de personalidade,
capacidade intelectual e habilidades específicas, definidas em consonância” com o estudo
científico realizado pela Polícia Federal. Percebe-se, portanto, que a Polícia Federal
sequer lista quais são esses requisitos, apenas remetendo ao perfil profissiográfico, que é
um documento sigiloso do órgão. Semelhantemente, a Polícia Rodoviária Federal teve
seu último certame em 2013, também com o CESPE e os requisitos para aprovação na
avaliação psicológica foram os mesmos acima citados, com mera remissão ao perfil
profissiográfico. Assim, esses editais meramente repetem as previsões do Decreto
6944/2009 e não trazem os requisitos para ingresso no cargo, apenas fazendo remissão a
um documento sigiloso.
Saindo do âmbito federal, nos concursos estaduais temos uma grande quantidade
de concursos, já que cada estado da federação possui seus próprios órgãos de segurança
pública. Usando novamente o Amapá como exemplo, no ano de 2017 foram lançados
concursos para as Polícias Civil, Técnica e Militar. Todos esses concursos foram
organizados pela Fundação Carlos Chagas (FCC).
Assim, para a Polícia Civil do Amapá, os requisitos para ingresso nos cargos são
listados no item 15.3 do edital de abertura, sendo alguns deles: controle emocional de
38
Além das normas da Administração, também o CFP possui normativos que são
importantes para a aplicação das avaliações psicológicas.
Nesse contexto, a mais importante norma dessa autarquia é a Resolução CFP
1/2002, que regulamenta a avaliação psicológica em concursos públicos e processos
seletivos da mesma natureza. Dentre outras previsões, essa resolução afirma que no
39
processo de avaliação psicológica devem ser usados testes definidos com base no perfil
profissiográfico do cargo, ser incluído “nos instrumentos de avaliação, técnicas capazes,
minimamente, de aferir características tais como inteligência, funções cognitivas,
habilidades específicas e personalidade”, “proceder à análise conjunta de todas as técnicas
utilizadas, relacionando-as ao perfil do cargo e aos fatores restritivos para a profissão” e
“seguir sempre a recomendação atualizada dos manuais técnicos adotados a respeito dos
procedimentos de aplicação e avaliação quantitativa e qualitativa”.
Além disso, determina a Resolução CFP 1/2002 que o edital do concurso deve
conter informações, em linguagem compreensível ao leigo, sobre a avaliação psicológica
a ser realizada e os critérios para essa, relacionando-os aos aspectos psicológicos
considerados compatíveis com o desempenho esperado para o cargo em questão.
Por outro lado, os testes aplicados pela banca devem ser de acordo com os
requisitos da Resolução CFP 2/2003. Dentre outros requisitos, os testes devem estar de
acordo com referências, como os documentos da International Test Comission (ITC) e
outros, como o documento Guidelines for Educational and Psychological Testing
publicado pela Canadian Psychological Association. Além disso, estabelece essa
resolução alguns requisitos para os testes de inventário, escalas, projetivos, etc. tais como
fundamentação teórica, evidências empíricas de validade e precisão das interpretações,
apresentação de um manual de aplicação e correção, etc.
De forma a deixar claro quais os testes que podem ser usados na avaliação
psicológica e fortalecer as determinações da Resolução CFP 2/2003 foi criado o chamado
Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI), que lista os instrumentos de
avaliação psicológica com parecer favorável e desfavorável para uso. Em tese, assim,
somente os testes listados como favoráveis podem ser aplicados em avaliações
psicológicas de concursos.
acordo com o perfil profissiográfico do cargo e com as resoluções do CFP. Além disso,
deve a avaliação ser aplicada nos termos do edital do concurso, que deve trazer os
requisitos para ser considerado apto na avaliação e as regras dessa etapa. Por fim, o
resultado deve ser recorrível.
Observando apenas essas questões, entretanto, não se pode concluir pela
constitucionalidade ou inconstitucionalidade desse modelo de avaliação, já que o que está
previsto e o que ocorre de fato muitas vezes andam distanciados. Dessa maneira, a
próxima seção fará uma revisão crítica da literatura de forma a analisar quais as críticas
que a avaliação psicológica e os testes psicológicos têm recebido.
42
Como afirmado na introdução desse trabalho, poucos são os estudos jurídicos com
a devida profundidade sobre a avaliação psicológica como etapa de concursos públicos.
Entretanto, alguns trabalhos apresentam importante questões a serem consideradas.
Destaca-se, nesse sentido, o trabalho de SANTOS (2011). Em aprofundado artigo,
o autor, tece diversas considerações sobre o assunto em tela. Em primeiro lugar, afirma o
autor que a avaliação psicológica muitas vezes reprova candidatos em concursos públicos,
sem que esses saibam, muitas vezes, com clareza os motivos de sua reprovação,
impedindo-os de adentrar na promissora carreira no serviço público. De acordo com o
autor, a falta de recursos financeiros agrava essa situação, posto que dificulta o acesso
desses candidatos ao Judiciário.
Em segundo lugar, afirma o autor que os testes psicológicos carecem de adequada
reflexão jurídica. Para complicar tal situação, a linguagem da Psicologia, que é destinada
aos seus iniciados, não se preocupa em fazer a ponte com o Direito, além de dificultar o
acesso aos testes psicológicos pelos profissionais do Direito. Isso transforma os testes
psicológicos em verdadeiras “caixas-pretas” que” precisam ser juridicamente
desvendadas sob pena de se amesquinhar direitos e garantias fundamentais”.
De acordo com SANTOS (2011, p. 5):
O tema é fascinante e, em certa medida, nos remete à novela O Alienista, do
genial Bruxo do Cosme Velho. Afinal, a missão de dizer quem é normal e
quem é louco sempre desafiou o ser humano tanto na literatura como no
43
Além disso, segue o referido autor afirmando que os “testes psicológicos devem
levar em conta os resultados das provas aplicadas nos concursos públicos quando
existirem coincidência de aptidões a serem mensuradas”. Assim, caso tenha havido uma
avaliação de língua portuguesa e uma redação, nas quais o candidato foi aprovado, seria
ilegal posteriormente afirmar que o candidato é inadequado ao cargo por ter raciocínio
verbal inadequado. Da mesma maneira, um engenheiro que tirou altas notas em
matemática ou física não poderia ser considerado posteriormente inapto por ter baixo
raciocínio abstrato. Por fim, a própria aprovação em um concurso com muitos candidatos
já seria um indicativo de que o candidato não possui baixa inteligência, de forma que a
avaliação psicológica por si só não poderia ser usada como conclusão nesse sentido.
Ainda analisando o estudo do autor, esse afirma que a realização de testes
psicológicos nos concursos deve considerar o tipo de função a ser exercida e não pode
invadir a esfera psíquica e dos direitos da personalidade dos candidatos, nas atividades
que não sejam periculosas ou que intrinsecamente não exijam tais testes. Assim, a
avaliação psicológica não poderia ser aplicada em carreiras que não apresentam riscos
para a sociedade, sob pena de irrazoável invasão da privacidade dos cidadãos envolvidos.
Outro destaque de SANTOS (2011) é a exigência de adequação a perfis
profissiográficos para aprovação na avaliação psicológica, sem a devida divulgação de
tais perfis e sem a devida publicidade dos critérios adotados para o ingresso nos cargos.
Assim, deveriam os editais de concurso, em respeito aos princípios constitucionais, trazer,
pelo menos, informações sobre os percentis de corte dos testes, tempo de aplicação,
critérios para aprovação na avaliação psicológica e nos testes psicológicos aplicados. Isto
porque ao deixar para a banca avaliadora a fixação de tais critérios, que poderia ocorrer
posteriormente ao teste, restariam violados os princípios da publicidade, impessoalidade,
45
a posição de SANTOS (2011) e outros poucos autores, no sentido de que apenas a higidez
psíquica poderia ser avaliada, por ausência de lei e aprofundamento jurídico da questão.
Devido ao distanciamento entre os campos da Psicologia e Direito, citado por
SANTOS (2011), e à falta de conhecimentos da área por parte dos operadores de Direito,
é praticamente inexistente a literatura nacional que trate dos resultados das avaliações e
da forma de aplicação dos testes psicológicos, o que demonstra o quão raso ainda é o
debate da questão em nosso país.
Um dos poucos trabalhos que discute tais resultados é o de SANTOS, A (2016).
Nesse trabalho, o autor, que é o delegado responsável pelo processo de seleção de
candidatos da Polícia Federal, afirma que o modelo atual de avaliação psicológica é
deficiente, pois há muitas restrições a aplicação de entrevistas e testes projetivos. De
acordo com o autor, os candidatos estariam atualmente se preparando para as avaliações
psicológicas, de forma a apresentar respostas socialmente desejadas, através de acesso a
materiais na internet e por meio de treinamento com psicólogos. Assim, entende que as
restrições à avaliação psicológica deveriam ser diminuídas, indo em sentido contrário ao
entendimento jurisprudencial e doutrinário atualmente dominante.
Também seguindo entendimento minoritário, ZÉFIRO (2012) entende que a
avaliação psicológica deve ser aceita como constitucional e legal, devendo, inclusive, seu
resultado ser plenamente acatado pelo Judiciário, que não poderia adentrar no mérito do
profissional da Psicologia.
responsável pela avaliação psicológica precisa ter conhecimento adequado para a seleção
do teste a ser empregado.
ANDRIOLA (2017, p. 35-44) apresenta outra questão essencial com relação à
avaliação psicológica: a presença do chamado funcionamento diferencial do item (DIF).
Resumindo as ideias do autor, o DIF nada mais é do que o viés que existe em testes
psicológicos, favorecendo, nos testes de inteligência verbal, por exemplo, um grupo
social em detrimento de outro. Ao usar nos testes elementos que são próprios de um grupo
determinado, os testes criam um viés que favorecerá esse grupo nos resultados dos testes,
em detrimento de outros grupos sociais. O foco do artigo é na análise no meio
educacional, mas as reflexões do autor são perfeitamente válidas no contexto da avaliação
em concursos. Segundo o autor, a presença do DIF é uma fonte de injustiça nos processos
seletivos, pois fazem com que não haja isonomia, pois os sujeitos que possuem o mesmo
grau na variável latente ou construto medido pelo item provavelmente irão obter melhores
resultados, vez que têm maiores probabilidades de acerto, pelo método de padronização.
De acordo com o autor, as pesquisas sobre a presença de DIF nos testes psicológicos é
ainda muito recente e necessita de aprofundamentos.
Outra questão essencial no que diz respeito à avaliação psicológica em concursos
é a adequada aplicação dos testes e a isonomia do processo seletivo. Nesse sentido,
FAIAD (2012) afirma a existência de sítios de internet que divulgam testes psicológicos
e orientações de como proceder nessas avaliações. Além disso, THADEU (2012) destaca
que há psicólogos que realizam treinamentos para candidatos que se submeterão à
avaliação em concursos públicos.
Confirmando esse cenário, GUARIENTI (2013) demonstra que em São Miguel
do Oeste/SC um total de 92 pessoas de uma amostra de 139 participantes de avaliação
psicológica para obtenção de Carteira Nacional de Habilitação já tinham conhecimento
prévio dos testes que seriam aplicados. Desses, em 38% dos casos os testes tinham sido
revelados por psicólogos.
Diante dessa situação, o próprio Conselho Federal de Psicologia lançou uma
campanha pela não banalização dos testes psicológicos, no ano de 2013. Segundo o CFP,
recentemente, vários instrumentos de avaliação psicológica estão sendo divulgados em
redes sociais e canais do YouTube.
Portanto, o que se nota nas publicações da área de psicologia é que, ao contrário
do que possa parecer ao leigo, existem muitas dificuldades inerentes ao processo de
avaliação psicológica, principalmente no Brasil, em que a preparação em psicometria
50
ainda é deficiente e os estudos adequados ao contexto local são poucos. Quando se analisa
os testes diretamente ligados aos concursos públicos, essa dificuldade apenas aumenta.
Alia-se a isso as diversas dificuldades na aplicação da avaliação psicológica em
concursos, como o conhecimento prévio dos testes pelos candidatos e esse é o quadro
atual desse tipo de avaliação que é representado pelos especialistas da área em nosso país.
usados para a seleção de candidatos para os órgãos policiais nos Estados Unidos carecem
de consistência e padronização, havendo necessidade de criação de testes específicos para
este campo de conhecimento.
MARK (2014), por sua vez, demonstra que há inconsistência na avaliação
psicológica para ingresso nos órgãos policiais americanos, sendo que nem todos órgãos
policiais estariam seguindo as diretrizes da International Association of Chiefs of Police
(IACP), que visam a padronização das avaliações psicológicas. Assim, muitos candidatos
estariam sendo eliminados de um processo seletivo e sendo admitidos em outros. Nesse
mesmo sentido, JANY (2017) relata críticas à falta de transparência e às injustas
desclassificações nos processos seletivos da polícia de Minneapolis.
Portanto, é certo que em outros países há intenso debate sobre a avaliação
psicológica em concursos públicos. Os detalhes de como essa avaliação é realizada em
outros países são apresentados em outra seção deste trabalho.
Além disso, como afirmado anteriormente, a maior parte dos testes psicológicos
brasileiros são copiados e adaptados de outros países. Assim, é certo que o conhecimento
da área de psicometria é mais avançado nesses lugares. Portanto, é importante também
uma breve análise de alguns pontos que a literatura estrangeira da área de psicologia traz.
Com relação a isso, POPE (2010) lista diversas dificuldades na testagem
psicológica. Entre elas, o autor cita a questão do uso de um teste em contexto diferente
daquele que no qual sua validade foi apurada; a tendência de confirmação, a troca entre
acurácia retrospectiva e preditiva (em breve explicação, acreditar que o resultado em um
teste signifique uma condição, pois a maior parte das pessoas que a possuem apresentam
o mesmo resultado, ignorando que outras condições possam levar ao resultado em
questão); o uso de testes padronizados sem a padronização necessária na aplicação;
ignorar os efeitos dos falsos negativos e falsos positivos (comentar-se-á adiante essa
questão com mais detalhes); interpretar de forma errônea ocorrências com altas
porcentagens, associando que essas ocorrências tenham necessariamente relação entre si;
considerar que as condições de aplicação dos testes são perfeitas, quando não as são, na
verdade; ignorar os efeitos econômicos relacionados ao financiamento das pesquisas
(sejam eles propositais ou não) no resultado dessas; ignorar os efeitos ambientais nos
resultados das pesquisas (como a presença de pessoas estranhas ao processo, gravação
em vídeo, etc.) e a necessidade de sigilo com relação aos dados sensíveis obtidos com as
avaliações psicológicas.
52
Sem maiores cálculos, percebe-se facilmente uma incoerência nos resultados. Ora,
se a população brasileira é relativamente constante em suas características (não é razoável
supor que a população tenha passado por uma mudança importante em cerca de dez anos,
de forma que o perfil psicológico foi alterado) as diferenças nos resultados somente
podem ser atribuídas à qualidade da avaliação psicológica aplicada em cada ano. Assim,
por exemplo, o concurso de Escrivão da Polícia Federal em 2004 considerou que cerca
de 78% da população seria recomendada para o cargo. Já em 2012 a avaliação realizada
pelo mesmo órgão (e pela mesma banca – CESPE) considerou que 95% da população
seria recomendada.
Sem ficar apenas na observação superficial dos resultados, para analisar se há
diferenças estaticamente significativas entre as diversas avaliações, podemos usar a
chamada análise de variância (ANOVA), que permite a comparação entre as diversas
médias de recomendação obtidas, conforme os resultados das tabelas anteriores.
Usaremos para esse método a hipótese nula de que todas as médias de resultados obtidos
são idênticas, o que equivale a dizer que todas as avaliações obtiverão resultados
coerentes entre si. A hipótese alternativa é de que pelo menos duas das avaliações
realizadas foram diferentes, com resultados significativamente diversos.
59
Para realizar tal cálculo, será utilizado o software EXCEL ®, versão 2013, com
sua ferramenta Anova de fator único. Será usado o valor de significância de 0,05, o que
equivale a 95% de confiança. Os resultados são mostrados na tabela a seguir.
RESUMO
Grupo Contagem Soma Média Variância
Delegado 2004 1571 1259 0,8014 0,159259
Delegado 2012 158 148 0,936709 0,059663
Perito 2004 1814 1440 0,793826 0,163757
Perito 2012 196 184 0,938776 0,057771
Agente 2004 4872 4094 0,840312 0,134215
Agente 2009 555 472 0,85045 0,127414
Agente 2012 949 826 0,87039 0,11293
Agente 2014 969 860 0,887513 0,099937
Escrivão 2004 1391 1091 0,784328 0,169279
Escrivão 2009 1011 863 0,85361 0,125083
Escrivão 2012 617 588 0,952998 0,044865
Papiloscopista 2004 573 511 0,891798 0,096663
Papiloscopista 2012 152 138 0,907895 0,084176
ANOVA
Fonte da variação SQ gl MQ F valor-P F crítico
Entre grupos 27,31503 12 2,276253 17,26731 2,03E-37 1,752825
Dentro dos grupos 1952,979 14815 0,131824
Para que se conclua que a hipótese nula é verdadeira, ou seja, que todas as
avaliações realizadas possuem resultados coerentes entre si, seria necessário que o valor
F calculado fosse menor do que o valor crítico de F. Na tabela acima vemos que o F
calculado foi de 17,26731 enquanto o valor de F crítico é de 1,752825. Portanto, o valor
de F calculado é cerca de 10 vezes maior do que o valor crítico, o que mostra, sem sombra
de dúvidas, que as avaliações não podem ter sido realizadas com a mesma qualidade entre
os diversos concursos analisados.
60
RESUMO
Grupo Contagem Soma Média Variância
Agente 2004 4872 4094 0,840312 0,134215
Agente 2009 555 472 0,85045 0,127414
Agente 2012 949 826 0,87039 0,11293
Agente 2014 969 860 0,887513 0,099937
ANOVA
Fonte da variação SQ gl MQ F valor-P F crítico
Entre grupos 2,205101 3 0,735034 5,813608 0,000579 2,606119
Dentro dos grupos 928,147 7341 0,126433
RESUMO
Grupo Contagem Soma Média Variância
Delegado 2004 1571 1259 0,8014 0,159259
Delegado 2012 158 148 0,936709 0,059663
ANOVA
Fonte da variação SQ gl MQ F valor-P F crítico
Entre grupos 2,628381 1 2,628381 17,49863 3,02E-05 3,846849
Dentro dos grupos 259,404 1727 0,150205
RESUMO
Grupo Contagem Soma Média Variância
Agente 2009 555 472 0,85045 0,127414
Escrivão 2009 1011 863 0,85361 0,125083
ANOVA
Fonte da variação SQ gl MQ F valor-P F crítico
Entre grupos 0,003578 1 0,003578 0,028413 0,866162 3,847411
Dentro dos grupos 196,9217 1564 0,125909
RESUMO
Grupo Contagem Soma Média Variância
Papiloscopista 2012 152 138 0,907895 0,084176
Agente 2012 949 826 0,87039 0,11293
ANOVA
Fonte da variação SQ gl MQ F valor-P F crítico
Entre grupos 0,184288 1 0,184288 1,691035 0,193737 3,849934
Dentro dos grupos 119,7685 1099 0,10898
RESUMO
Grupo Contagem Soma Média Variância
Delegado 2012 158 148 0,936709 0,059663
Escrivão 2012 617 588 0,952998 0,044865
Perito 2012 196 184 0,938776 0,057771
ANOVA
Fonte da variação SQ gl MQ F valor-P F crítico
Entre grupos 0,051971 2 0,025985 0,521112 0,594026 3,005023
Dentro dos grupos 48,26935 968 0,049865
RESUMO
Grupo Contagem Soma Média Variância
PRF 2002 1029 832 0,808552 0,154946
PRF 2003 6676 5465 0,818604 0,148514
PRF 2013 3127 2851 0,911736 0,080499
ANOVA
Fonte da variação SQ gl MQ F valor-P F crítico
Entre grupos 19,94305 2 9,971526 77,00581 0 2,996561
Dentro dos grupos 1402,253 10829 0,129491
4.3 – Análise da coerência dos resultados entre os testes que compõe as avaliações
psicológicas quando comparadas entre si
estabilidade emocional, o que o colocaria como sendo uma pessoa mais estável
psicologicamente do que quase todos os demais. Entretanto, a mesma avaliação
psicológica determinou que esse candidato possuía índices de 10% de percentil para
depressão e de 20% para ansiedade.
Já no laudo do concurso de Investigador da Polícia Civil da Bahia (página 125), o
candidato foi considerado em um teste como sendo mais agressivo do que 70% da
população, enquanto outro teste o considerou mais agressivo do que apenas 10% da
população.
O material analisado apresenta outros laudos, mas a maior parte deles teve os
percentis de resultado apagados pelo autor do arquivo, o que prejudica a avaliação.
Entretanto, por essa pequena amostra é possível se observar que, no contexto dos
concursos públicos, cada teste pode levar a resultados muito diversos, mesmo avaliando
idêntico candidato e no mesmo dia. Essa é a provável razão para a diversidade de
resultados entre as diversas avaliações, que foi determinada no tópico anterior: a depender
dos testes escolhidos pela banca, os resultados são diferentes.
Estudos mais detalhados da correlação entre os resultados nos testes e validações
com amostras mais significativas de candidatos poderiam trazer mais dados no sentido
dos aqui apresentados – o que permitiria o aprimoramento de tais testes, inclusive.
Ainda nesse ponto, deve-se destacar que também pode ocorrer de um teste,
inicialmente considerado válido para uso ser posteriormente não mais recomendado pelo
CFP. Foi o que aconteceu com o teste Psicodiagnóstico Miocinético – PMK. Esse teste
foi aplicado como critério praticamente único para avaliação no concurso da Polícia
Federal de 2009. Assim, muitos candidatos que foram aprovados nos outros testes de
personalidade daquele concurso e não foram aprovados no PMK foram eliminados na
avaliação psicológica, pois era condição obrigatória ser aprovado nesse teste apenas.
Algum tempo depois, o CFP realizou novos estudos e entendeu pela não-recomendação
desse teste para uso. Os candidatos que foram eliminados pelo teste, entretanto,
continuaram fora do serviço público e nenhum tipo de repercussão causou esse fato. O
caso do PMK ilustra bem como a avaliação psicológica, que deveria ser um processo
integrado de observações, dinâmicas, entrevistas e avaliação conjunta dos resultados pelo
profissional da área, na prática se limita a correção de testes – e assim é extremamente
dependente da qualidade de tais instrumentos psicológicos.
67
Observa-se que para o cargo de Agente houve um total de 101 candidatos a mais
aprovados na segunda avaliação do que na primeira, houve a mesma quantidade de
candidatos aprovados para Delegado nas duas avaliações e para Escrivão houve 6
candidatos a menos classificados. Chama a atenção, nesses dados, o fato de que houve
7,4% mais candidatos aprovados na segunda avaliação psicológica para agente do que na
69
primeira, enquanto para escrivão ocorreu o contrário – houve 5,3% mais aprovação na
primeira avaliação. Para o cargo de Delegado, os índices continuaram constantes.
Para melhor compreender o que ocorreu nessa avaliação, entretanto, é necessário
se analisar o resultado de cada candidato nas duas avaliações. Para isso, é preciso
comparar as duas listas de resultados e ver quantos candidatos aparecem, dentre os
convocados para a avaliação, em cada lista. Realizando tal procedimento, chega-se ao
resultado da Tabela 12.
Deve-se observar que a banca responsável por essa avaliação em Pernambuco era
o CESPE, uma das mais tradicionais bancas do país, cujo laboratório de Psicologia, o
conhecido LabPAM, é referência no país. Logo, é provável se afirmar que as
probabilidades de erros em bancas menores e sem o mesmo nível de experiência devem
ser ainda maiores.
Além dos dados já apresentados, deve-se destacar que os candidatos subjudices
frequentemente conseguem liminar para terem sua avaliação refeita – e na imensa maioria
das vezes obtém resultado positivo nessa segunda avaliação. Trata-se de mais um
indicativo no sentido da inexatidão da avaliação psicológica.
Por fim, uma última forma de analisar os resultados da avaliação psicológica seria
comparar os resultados dessa com a observação concreta do caso em questão. Entretanto,
tal análise seria tremendamente difícil e subjetiva. A despeito disso, alguns resultados
podem aclarar esse ponto.
Em pesquisa jurisprudencial, foram encontrados muitos casos de policiais e outros
agentes de segurança pública que resolvem trocar para outro órgão de segurança pública
e são considerados inaptos na avaliação psicológica para o novo cargo, mesmo tendo
vários anos de experiência policial e um currículo totalmente satisfatório no órgão que
ocupam.
Pode-se argumentar que esses policiais não têm mais o perfil para o cargo quando
realizam a nova avaliação. Entretanto, esses servidores estão exercendo normalmente o
cargo, com boas avaliações de suas chefias e pretendem continuar na atividade de
segurança pública, o que mostra que essa consideração não é razoável – ou a chamada
aptidão para o cargo na verdade não existe ou a avaliação psicológica não apresentou
resultados coerentes.
Outra questão que demonstra falhas no processo de avaliação psicológica é o
resultado de inaptidão dos candidatos em características nas quais obtiveram amplo
sucesso em outra etapa do concurso. Assim, por exemplo, ocorre de candidatos com altas
notas em redação e em língua portuguesa serem reprovados em testes de inteligência
verbal, como se observa em casos judicializados de alguns concursos. Da mesma forma,
71
De todo o exposto, resta claro que é alta a probabilidade de erros nas avaliações
psicológicas. Mas, qual seria a natureza desses erros? Falsos positivos ou falsos
negativos? Ou ambos?
A princípio, parece que a maior parte dos erros é composta por falsos negativos,
já que a jurisprudência é farta de candidatos desclassificados em condições que parecem
indicar falha na avaliação realizada, como descrito nos itens anteriores. Entretanto, essa
é a face mais evidente das falhas nas avaliações apenas. Também os falsos positivos
ocorrem e com frequência.
De fato, são frequentes os relatos de servidores nos órgãos que se submetem à
avaliação psicológica descontentes com o serviço que realizam, problemas de ansiedade,
depressão e altos índices de suicídio nesses órgãos, além de relatos de servidores que se
queixam de colegas de trabalho sem o perfil adequado para o cargo. Portanto, também os
falsos positivos existem – sendo, entretanto, difícil mensurar essa ocorrência, posto que
seria necessário que se criasse um critério do que seria um servidor sem o perfil adequado
para o cargo e por ele se avaliasse todos os servidores em exercício para apurar quais os
que se adequavam a esse perfil.
Considerando os valores apresentados na tabela 1 e na tabela 3, podemos fazer
algumas projeções para ter uma ideia do nível de falsos positivos e falsos negativos
existentes nas avaliações psicológicas. Consideremos, por convenção, que a porcentagem
de candidatos que tem o perfil para os cargos da Polícia Federal fosse a média dos valores
apresentados na tabela 1, ou seja, cerca de 84%. Esse foi aproximadamente o valor de
recomendações para o concurso de Agente da Polícia Federal de 2004. Suponhamos,
portanto, que esse concurso não teria falsos positivos ou negativos (uma suposição que
não se sustenta provavelmente, como posteriormente analisado). Por outro lado, com
esses dados, no extremo, o concurso de escrivão de 2012 teria tido um total de cerca de
11% de falsos negativos, ou 65 candidatos que foram considerados aptos para o cargo
72
sem, em tese, o ser. No outro extremo, no concurso de escrivão de 2004 teria ocorrido um
total de 5,7% de falsos negativos, o que equivaleria a 62 candidatos eliminados
injustamente, mesmo tendo o perfil para o cargo. Esses valores podem ser confirmados
pelo caso analisado da Polícia Civil de Pernambuco, no qual se demonstrou que os falsos
positivos foram da ordem de 7,2% e os falsos negativos na ordem de 12,48%.
Esses dados permitem que se tenha uma ideia do efeito causado pelos erros na
avaliação psicológica. Mas, deve-se lembrar que um falso positivo e um falso negativo
podem se compensar, de forma a ocultar o efeito dos erros – por essa razão não se pode
afirmar que no concurso de Agente de 2004 não tenham ocorrido erros.
A questão é: o que é mais negativo? Ter 60 candidatos eliminados injustamente,
a despeito de anos de estudo para a carreira pública, ou permitir que 60 candidatos sem o
perfil para o cargo sejam admitidos nos quadros dos órgãos de segurança? A resposta
parece ser difícil, pois é necessário ponderar o interesse da Administração Pública e a
eficiência e qualidade dos serviços por ela prestados com as garantias de isonomia e
igualdade de condições que os cidadãos envolvidos possuem. Esse é o grande dilema do
atual modelo de avaliação psicológica, por tratar essa etapa do concurso como definitiva
e eliminatória. Entretanto, quando se pensa em modelos alternativos de avaliação, esse
dilema pode ser superado.
de tais candidatos terem se tornado subjudice de outras etapas. Logo, também no concurso
de DEPEN não houve nenhum recurso administrativo aceito contra a avaliação
psicológica.
Prosseguindo, o concurso da Polícia Federal realizado mais recentemente foi o de
2014, para o cargo de Agente. O resultado provisório na avaliação psicológica foi
publicado no edital Nº 9/2015 – DGP/DPF, de 9 de junho de 2015 e o resultado definitivo
no edital Nº 14/2015 – DGP/DPF, de 15 de julho de 2015. A única diferença entre os dois
resultados é que o candidato Arthur Levy Queiroz Cavalcante consta como aprovado e
regular no resultado provisório e como aprovado e subjudice por conta de outra questão
no segundo resultado. Logo, nenhum recurso administrativo foi aceito quanto a esse
concurso também.
Logo, nos concursos mais recentes de PF, PRF e DEPEN não houve nenhum
recurso administrativo aceito quanto à avaliação psicológica. A mesma conclusão é obtida
quando se analisa os concursos da Polícia Federal de 2004 em diante até o mais recente,
acima analisado – não há recursos administrativos aceitos quanto à avaliação psicológica.
Todos esses concursos foram realizados pela banca CESPE, o que poderia indicar
um viés na análise. Entretanto, quando feita a mesma análise acima com os concursos
para Delegado da Polícia Civil do Pará (realizado pela FUNCAB em 2017) e Delegado
da Polícia Civil do Amapá (realizado pela FGV em 2010), para ficar nos estados mais
próximos, temos o mesmo resultado, embora com bancas diversas – não houve recurso
administrativo aceito.
Portanto, dos concursos analisados conclui-se que nenhum caso de recurso
administrativo deferido foi encontrado nos cinco certames analisados, embora muitos
candidatos tenham sido reprovados nesses concursos. Esse é um padrão que se repete em
outros concursos analisados. A apresentação de mais dados foge ao escopo desse trabalho,
mas uma pesquisa mais extensa poderia confirmar a praticamente inexistente
possibilidade de reversão de resultados de avaliação psicológica por meio de recurso
administrativo – o que torna esse recurso meramente uma formalidade.
75
Figura 2 - Dados do WISPI sobre países com melhor qualidade de serviços de segurança
pública
Esse estudo da IPA lista os cinco melhores países em segurança pública como
sendo, no ano de 2018, os seguintes: Singapura, Finlândia, Dinamarca, Áustria e
Alemanha. Além desses, selecionar-se-á para os fins desse trabalho os EUA, por sua
semelhança e influência no Brasil, o Uruguai, que foi o melhor país sul-americano listado
nesse estudo e a Inglaterra e França, países de onde os estudos fundamentais da
psicometria surgiram, de acordo com PASQUALI (c2012).
Para conhecimento, o melhor país da América do Sul no ranking da WISPI, o
Uruguai obteve uma pontuação de 0,719 para sua segurança pública, contra 0,848 da
Alemanha, quinta colocada, por exemplo. Os EUA obtiveram 0,724, ficando na 33ª
78
colocação. O Brasil ficou com pontuação 0,479, na 96ª posição nesse ranking de
segurança pública, abaixo de países como Sudão, Mali e Camboja.
5.1 - Singapura
5.2 - Finlândia
5.3 - Dinamarca
5.4 - Áustria
5.5 - Alemanha
5.6 - Uruguai
5.7 - França
5.8 - Inglaterra
Do que foi apresentado, nota-se que nenhum dos países estudados apresenta um
processo tão rígido quanto o brasileiro para a avaliação psicológica dos candidatos.
Mesmo os EUA, que tem um procedimento muito semelhante ao brasileiro, permite um
novo teste depois de 90 dias da primeira avaliação. E, ao contrário do modelo brasileiro,
nos EUA não há provas classificatórias antes dessa etapa de avaliação, de forma que o
candidato não precisa investir seu tempo em preparação para o processo seletivo antes da
avaliação psicológica.
Entre os países mais bem classificados no quesito segurança pública, nenhum
utiliza a testagem psicológica como requisito suficiente para eliminação, sendo que
muitos dos países avaliados sequer realizam avaliação psicológica em seu processo de
seleção. Entre os que a realizam, é comum que essa etapa ou seja apenas indicativa apenas
ou seja ponderada em conjunto com entrevistas e outras técnicas de avaliação.
Portanto, o modelo brasileiro de avaliação psicológica é exceção, sendo diferente
do modelo adotado nos países que são referência em segurança pública. Mesmo na França
e Reino Unido, onde a ciência da psicometria surgiu, os testes psicológicos não são
utilizados com a autoridade que possuem no Brasil, sendo, antes, avaliados globalmente
com outras técnicas.
Ainda em desfavor do modelo brasileiro, deve-se registrar que em outros países
não é comum que o ingresso nos órgãos policiais ocorra por meio de processos
classificatórios de provas tão rígidos quanto no Brasil. Assim, seria muito menos
dispendioso para os candidatos desses locais serem submetidos ao método brasileiro de
avaliação, já que não dedicaram tempo de estudo para concorrer a vaga, como acontece
na realidade local. A despeito disso, esse método não é aplicado.
Logo, no Brasil tem-se o processo mais árduo para se chegar até a avaliação
psicológica e o processo de avaliação mais rigoroso e com maior incidência de erros, que
sequer é realizado pelo próprio órgão contratante.
84
do que isso, aos diversos direitos e garantias com as quais o Brasil se comprometeu em
plano internacional.
SARLET (2012), especificamente, adota um enfoque que se centra na dimensão
concreta dos direitos fundamentais, especialmente na eficácia jurídica, como precondição
da própria efetividade dos direitos fundamentais.
Adotando o enfoque das diversas dimensões dos direitos fundamentais, deve-se,
portanto, analisar a questão da constitucionalidade da avaliação psicológica em concursos
públicos frente a cada uma dessas dimensões, principalmente em relação à primeira
dimensão (igualdade, isonomia, legalidade, etc.) e à segunda dimensão (principalmente
no que diz respeito aos direitos sociais, especialmente ao direito ao trabalho), mas sem se
esquecer do caráter coletivo da questão, já que a eficiência e a qualidade do quadro de
servidores públicos é uma questão que a todos interessa.
Portanto, ainda seguindo as ideias do autor supracitado, que os direitos
fundamentais são condição sine qua non do Estado Constitucional de Direito. Assim, não
se pode contentar com um Estado de Direito que se limite ao mero formalismo de
“governo das leis”, buscando-se, antes, um Estado material de Direito, no qual os direitos
fundamentais são não apenas garantias contra a atuação estatal mas também metas e
parâmetros para a atividade estatal.
Assim, os direitos fundamentais são legitimadores do poder estatal e da ordem
constitucional, já que o poder se justifica somente para a realização dos direitos do homem
e para a concretização da justiça. Nesse sentido, os direitos fundamentais devem ser
encarados tanto em seu aspecto formal quanto em seu aspecto material – assim, tais
direitos se encontram no ápice do ordenamento jurídico, são normas diretamente
aplicáveis e vinculantes para os entes da Administração Pública e devem ser
compreendidos em seu sentido de influenciar nas decisões fundamentais sobre a estrutura
do Estado e da sociedade.
Portanto, à luz de tudo isso, não há espaço para nenhuma interpretação
constitucional que legitime a Administração Pública como um fim em si mesma. Assim
não pode ser – o poder estatal somente se justifica enquanto na sua função de
concretização dos direitos fundamentais e na promoção do bem-estar social.
Por isso, o atual modelo de avaliação psicológica se mostrará contrário a esse
modelo de Estado Constitucional de Direito caso afronte aos princípios constitucionais
que direcionam a atividade estatal. Não se pode pensar que uma etapa de concurso possa
ser usada apenas como instrumento do Estado para arbitrariedades ou para “se precaver”
86
Quanto ao primeiro desses critérios, a maior parte das carreiras nas quais é
aplicada a avaliação psicológica já prevê essa possibilidade. Entretanto, nem sempre a
previsão legal é obedecida. Assim, por exemplo, como afirmado anteriormente, a lei que
prevê a avaliação psicológica nos concursos da Polícia Federal afirma que essa avaliação
será realizada pela Academia Nacional de Polícia, não pela banca do concurso. Na prática,
entretanto, quem realiza essa etapa é a banca contratada, apenas com acompanhamento
pelos responsáveis pela seleção do órgão. Logo, em uma análise fria da lei essa previsão
não está sendo cumprida, o que atentaria contra o princípio da legalidade. Por outro lado,
concursos para cargos com grandes responsabilidades, tais como os outros que possuem
previsão de avaliação, como os concursos para Ministério Público e para órgãos de
segurança pública, tais como as polícias científicas de alguns estados, não possuem
previsão de avaliação psicológica, o que mostra uma falta de uniformidade no tratamento
do tema, o que é um problema de legalidade, quando se analisa sistematicamente o
ordenamento jurídico. De qualquer forma, esse primeiro critério é satisfeito atualmente,
mesmo que seja necessário dar interpretação aos termos usados pelas leis de regência de
alguns cargos. Atualmente, além disso, praticamente deixaram de existir, mesmo nos
Estados, concursos que tenham a etapa de avaliação psicológica sem previsão legal.
Por outro lado, em relação ao segundo critério, esse é plenamente satisfeito
atualmente, inexistindo relatos de concursos que tenham aplicado avaliação psicológica
sem previsão em edital dessa etapa – mesmo que a previsão em edital não seja suficiente
clara sobre os critérios, o que concerne à publicidade, como será posteriormente
analisado.
Entendendo que os dois primeiros critérios são atendidos pelo atual modelo, as
dificuldades residem nos três critérios finais. Com relação ao terceiro critério – aplicação
segundo critérios objetivos –, nos concursos estaduais ainda são aplicadas formas de
avaliação essencialmente subjetivas, como dinâmicas de grupo e entrevistas. Assim,
diante da ausência de uma uma lei nacional, ainda é possível que existam avaliações
subjetivas em concursos públicos estaduais, de forma que tais avaliações iriam contra o
critério legal atualmente consolidado para os concursos federais. De qualquer maneira,
pelo que foi avaliado até o momento, pelo menos nos concursos federais esse critério de
objetividade dos critérios de aptidão está sendo respeitado.
A grande dificuldade para adequação da avaliação psicológica é o quarto critério
– caráter científico e padronização dos testes aplicados. Em primeiro lugar, os testes,
como se analisou em outra seção, apresentam grandes diferenças de resultado entre si,
89
quando aplicados no contexto dos concursos públicos. Além disso, existem testes
aprovados para uso que carecem de estudos de validade. Por outro lado, é consenso na
área de Psicologia que os testes nacionais ainda têm baixa qualidade psicométrica e que
muitos são copiados de outros países, sem a necessária adequação ao contexto brasileiro.
Com relação aos concursos públicos, existem pouquíssimos testes que tenham
sido desenvolvidos e validados exatamente para esse contexto e praticamente inexistentes
são os testes que tenham sido desenvolvidos para a seleção para cargos de segurança
pública. Logo, é temerário se afirmar que, analisando esse contexto, os testes sejam
aplicados com padronização para esse contexto. Quanto ao caráter científico dos testes
psicológicos, não se nega que tais testes são desenvolvidos com caráter científico.
Entretanto, a Psicologia é uma ciência recente e, como todas as outras, em
desenvolvimento e passível de erros. Assim, seus resultados não são absolutos – como os
próprios profissionais da área afirmam e se depreende das diversas citações da seção
dedicada à revisão dos artigos da área da Psicologia.
Além disso, a maior parte dos testes foi produzida para o contexto clínico da
Psicologia e para ser aplicado como apenas mais uma ferramenta no processo de avaliação
psicológica – e não como ferramentas para dar respostas definitivas a respeito da
personalidade de uma pessoa sendo avaliada para um cargo público. Logo, faltam estudos
– e caráter científico – na extrapolação e supervalorização que se faz dos testes
psicológicos no atual modelo de avaliação psicológica, mesmo que os testes estejam
sendo aplicados em condições inadequadas e diversas daquelas que foram empregadas
para a padronização.
Portanto, frente ao estudo realizado, as evidências apontam claramente que os
testes psicológicos não possuem adequada padronização para uso em concursos públicos.
Assim, esse critério legal não é adequadamente satisfeito, embora se pretenda que assim
seja. Como visto anteriormente, o único critério para uso de um teste é a recomendação
pelo CFP no SATEPSI – logo não há mecanismos atualmente para verificação desse
critério por outros profissionais que não sejam da área de Psicologia, já que os testes
psicológicos são exclusivos e sigilosos.
Por fim, quanto ao último critério, que é a possibilidade de recurso administrativo,
esse é totalmente desatendido, como já se demonstrou em outra seção desse trabalho.
Embora formalmente sempre exista a previsão de recurso aos candidatos, materialmente
não há possibilidade de reversão do resultado na avaliação psicológica, já que as bancas
tratam seus critérios de avaliação como sendo infalíveis e os profissionais dessas bancas
90
decisão sobre quais os critérios para aprovação acaba recaindo sobre quem não tem
atribuição para regulamentar tais questões. Com as devidas proporções e para
exemplificar, seria como deixar para a banca do concurso a determinação do grau de
escolaridade necessário para o ingresso em um cargo qualquer.
Interessante se observar que é o entendimento dominante na Psicologia que a
avaliação psicológica é um processo amplo, que envolve diversas técnicas, como
entrevistas, observações e testes, todos sendo avaliados de forma integrada pelo
profissional. Entretanto, o que é feito nos concursos públicos é apenas a testagem
psicológica, posto que todo o contexto biopsicossocial do avaliado é desconsiderado e
tudo se resume a frios índices e percentis para aprovação – valores esses fixados ao
alvedrio da banca avaliadora. Portanto, o modelo atual de avaliação psicológica em
concursos públicos sequer pode ser considerado como sendo, de fato, “avaliação
psicológica”, no sentido que a Psicologia o define.
Assim, o que é previsto em lei é a avaliação psicológica. A definição do que seria
essa deve ser buscada na Psicologia. Porém, o que é aplicado não é avaliação psicológica
nos termos usados por essa ciência, mas mera testagem psicológica. Assim, o modelo
atual, em última análise, desrespeita a previsão legal.
Logo, no que diz respeito à legalidade, o atual modelo carece de regulamentação
para que se possa dizer que esse princípio é respeitado. O que se percebe é um verdadeiro
vácuo legislativo, que gera um estado de inconstitucionalidade, posto que a
Administração Pública deve fazer apenas aquilo que a lei determina, principalmente
quando impondo restrições aos administrados, como é o caso da eliminação de candidatos
a cargos públicos. Visto por outro prisma, a avaliação psicológica sequer é prevista como
etapa eliminatória dos concursos pela constituição, sendo construção do legislador.
Portanto, deve esse construir os parâmetros necessários para efetivar essa etapa, sob pena
de ferir o princípio constitucional da legalidade, como ocorre atualmente.
Se é certo que a boa-fé se presume, também é certo que é válido ter a preocupação
com a lisura do procedimento administrativo, sob pena de se criarem suspeitas, que
poderiam facilmente serem afastadas. Assim, no que diz respeito a esse princípio
constitucional, há uma brecha no sistema, que permite que os critérios de aprovação sejam
fixados a posteriori da avaliação.
Mesmo se aceitando que os processos são feitos sem favorecimentos a nenhum
candidato, é certo que a própria escolha dos testes muda a dificuldade da avaliação, como
já se demonstrou em outra parte desse trabalho. Portanto, ao determinar para a banca que
escolha testes e critérios mais rigorosos, ou “difíceis”, o órgão público poderia aumentar
ou diminuir a quantidade de candidatos aprovados nessa etapa, o que é outra brecha para
que o processo possa ser “pessoalizado”.
Mais do que isso, entretanto, o princípio da impessoalidade é seriamente
ameaçado pelo chamado funcionamento diferencial do item (DIF). Ora, se há evidências
científicas de que grupos diferentes do grupo para os quais os testes foram padronizados
podem ser prejudicados em seu desempenho nos testes, é certo que o processo deixa de
ter a devida impessoalidade, já que pessoas pertencentes a grupos minoritários poderiam
ser discriminadas no processo de seleção para os órgãos públicos.
Dessa forma, no que diz respeito ao princípio da impessoalidade, há brechas no
atual modelo que permitem que esse possa ser desrespeitado, embora nenhuma evidência
concreta nesse sentido tenha sido determinada pelo presente estudo.
os resultados práticos da escolha que se faz quanto a isso? Seria justo eliminar muitos
candidatos aptos para impedir que alguns candidatos inaptos entrem no serviço público?
Por tudo isso, conclui-se que o princípio da moralidade é afrontado pelo atual
modelo de avaliação psicológica, posto que esse modelo gera muitas injustiças e favorece
quem age de má-fé.
No que diz respeito à publicidade, a primeira questão é que os próprios testes são
sigilosos, bem como os critérios de sua correção. Portanto, não há como questionar os
testes e seus resultados, pois os profissionais que não são psicólogos não podem ter acesso
a tais testes. Mais do que isso, sequer os critérios de aprovação nos testes são divulgados
antes da avaliação, como se comentou anteriormente. Em alguns casos, a banca limita-se
a afirmar que os critérios são de acordo com estudos científicos e com o perfil
profissiográfico do cargo – sendo que ambos são sigilosos. Além disso, nos concursos
estaduais é frequente que as bancas neguem acesso aos resultados da avaliação dos
candidatos considerados aptos.
Por tudo isso, fica claro que o princípio da publicidade não é respeitado no atual
modelo de avaliação psicológica. Pelo contrário, o atual modelo é feito para ser sigiloso
e incontestável pelos candidatos avaliados. Sem sombra de dúvidas, o aspecto mais claro
da inconstitucionalidade do modelo atual da avaliação psicológica é sua ausência de
publicidade, que acaba por ocultar os outros vícios existentes nesse modelo, posto que
esses acabam não se tornando conhecidos daqueles que não são da área de Psicologia –
ou que não se dediquem muito a buscar os conhecimentos necessários para essa avaliação.
adequado perfil (falsos positivos) e gera altos custos para o Judiciário, com a grande
judicialização dessa etapa do concurso. De fato, a imensa maioria das eliminações nas
avaliações psicológicas são questionadas na Justiça, principalmente por haver muitas
brechas e resultados incoerentes, como já analisado.
Com a judicialização dessa etapa e os entendimentos diversos no Judiciário,
muitos cargos públicos deixam de ser providos, por ficarem dependentes do trânsito em
julgado de ações judiciais envolvendo candidatos eliminados na avaliação psicológica.
Em outros casos, não tão frequentes, profissionais são exonerados depois de vários anos
por sucumbirem ao final da análise de suas ações judiciais.
Logo, o modelo atual de avaliação psicológica fere o princípio da eficiência, posto
que não seleciona os melhores candidatos sempre, permitindo muitos falsos positivos e
negativos. Além disso, por ser um método questionável de seleção, gera muitas demandas
judiciais, que oneram o Poder Judiciário e acabam deixando cargos públicos desprovidos,
deixando assim de atender aos cidadãos.
Nesse mesmo sentido, o inciso XXX do art. 7º da nossa Carta Maior proíbe
diferença de critérios de admissão que sejam discriminatórios. Assim, fica claro que
“nosso sistema constitucional é contrário a tratamento discriminatório entre pessoas que
prestam serviços iguais a um empregador” (RE 161.243, Rel. Min. Carlos Velloso, voto
do Min. Néri da Silveira, julgamento em 29-10-1996, Segunda Turma, DJ de 19-12-
1997).
Ora, se é defeso ao empregador particular estabelecer critérios de admissão
discriminatórios, a fortiori a Administração, que deve, aliás, impedir esses
comportamentos, muito menos pode criar critérios discriminatórios, sem fundamento
constitucional, para a seleção de pessoal para seus quadros. Entretanto, a possibilidade de
testes com funcionamento diferencial do item (DIF) faz com que, por consequência,
exista a possibilidade de critérios discriminatórios nos certames públicos.
Além dos cinco princípios expressos no caput do art. 37, outros princípios são
violados pelo atual modelo de avaliação psicológica nos concursos públicos.
Primeiramente, no que concerne ao princípio da isonomia, deve-se destacar
novamente o que já foi observado com relação a presença do funcionamento diferencial
do item (DIF), que faz com que pessoas pertencentes ao grupo social diverso daquele no
qual os testes psicológicos foram padronizados sejam prejudicados, como, por exemplo,
nos testes de raciocínio verbal.
Além disso, deve-se observar que a própria aplicação dos testes psicológicos pode
prejudicar a isonomia da avaliação psicológica. Quanto a isso, é conhecido que os
psicólogos que ficam responsáveis pela aplicação em cada local de prova nem sempre
possuem conhecimento adequado dos testes e das regras de avaliação. Assim, as
explicações dos testes e o esclarecimento das dúvidas dos candidatos fica prejudicada nos
locais em que os examinadores não tem o adequado conhecimento.
No mais, as condições de aplicação do teste podem influenciar no resultado,
especialmente em testes de atenção, de forma que fatores como iluminação, nível de
ruídos e outros podem gerar influência nos testes. Em concursos de grande porte, tais
como os da Polícia Federal e Rodoviária Federal, por exemplo, as avaliações são
aplicadas em diversas capitais ao mesmo tempo, nem sempre em condições iguais. É claro
97
que isso ocorre com outras etapas do concurso, mormente as provas de conhecimento,
mas nessas não se pretende haver padronização da forma de aplicação das provas – e nos
casos mais extremos há a possibilidade de anulação também dessas etapas. Além disso,
as provas objetivas, discursivas, etc. são etapas do concurso previstas
constitucionalmente, enquanto a avaliação psicológica não deveria ser considerada uma
etapa extra do certame.
Por outro lado, também é importante ressaltar-se que o formato atual de avaliação
psicológica fere o princípio da competição, que rege os concursos públicos, posto que
os candidatos que já se submeteram a anterior avaliação psicológica tendem a se sair
melhor em uma futura avaliação, até mesmo por já terem tido contato com os testes
aplicados. Claro que isso se aplica também às provas de conhecimento – mas se deve
lembrar que a avaliação psicológica não é considerada constitucionalmente uma etapa de
concurso, tal qual as provas de conhecimento, como afirmado acima. Além disso, o
modelo atual de avaliação favorece os candidatos mais abastados, que pagam para terem
treinamento com psicólogos antes da avaliação – embora os profissionais que realizam
tais treinamentos ajam de forma antiética e contrária aos normativos de sua categoria, é
certo que o CFP não consegue impedir tais práticas por seus profissionais, como ficou
demonstrado nos dados trazidos por esse trabalho. Até mesmo a divulgação na internet
dos testes psicológicos deve ser atribuída aos psicólogos, já que somente esses possuem
acesso aos manuais dos testes, de forma que somente por um psicólogo tais testes
poderiam ter sido divulgados. Portanto, o modelo atual de avaliação não é isonômico.
Continuando, também o princípio da segurança jurídica resta violado pelo atual
modelo de avaliação, especialmente pela ausência da previsão dos critérios que serão
avaliados e pela jurisprudência ainda vacilante sobre os candidatos que foram
considerados inaptos na avaliação. Não é nada incomum que candidatos que foram
igualmente considerados inaptos numa avaliação encontrem totalmente diversas soluções
no Judiciário. Logo, resta uma melhor consolidação jurisprudencial do assunto e melhor
regulamentação das avaliações.
Quanto ao princípio da supremacia do interesse público, que deve ser um norte
para todos os atos administrativos, exige esse que o processo de seleção de pessoal dos
órgãos públicos seja adequado, não eliminando candidatos aptos e eliminando os inaptos.
Entretanto, o atual modelo não consegue realizar adequadamente tais tarefas, dado seu
alto nível de erros. Portanto, clama o interesse público por aprimoramento das avaliações
psicológicas.
98
7 – CONCLUSÃO
muito rígidas, com o emprego apenas de testes objetivos e sem a possibilidade de uso de
testes projetivos, dinâmicas, entrevistas, observações, etc. Logo, o que é feito, como já
foi afirmado anteriormente, é a mera testagem psicológica, não uma avaliação psicológica
de fato. O ideal seria, de forma a permitir um processo de avaliação mais amplo, que a
avaliação psicológica deixasse de ser eliminatória e passasse a ser um processo indicativo
para as habilidades e aptidões dos candidatos selecionados, que permitisse que a
Administração pudesse alocar seus futuros servidores em funções que fossem adequadas
ao seu perfil. Sem a possibilidade de eliminação, não haveria questionamentos judiciais
a respeito dessa etapa e, com isso, haveria flexibilidade para que a avaliação psicológica
fosse realizada de forma aprofundada.
Além disso, em prol de uma avaliação mais ampla, poder-se-ia durante os cursos
de formação dos cargos, que geralmente duram mais de dois meses e nos quais há o
acompanhamento diário dos candidatos, realizar observações sobre o comportamento e
aptidões dos concursandos, sendo que, em casos em que o candidato demonstre
problemas psicológicos durante a formação poder-se-ia pensar em uma nova avaliação
por parte dos psicólogos que compõem o órgão.
É duvidoso o raciocínio de que a avaliação psicológica por meio de meros testes
objetivos consegue determinar o perfil de pessoas com problemas psicológicos, como
ficou demonstrado nesta pesquisa. Não por menos, nenhum dos países analisados neste
trabalho possuem um modelo como o brasileiro, no qual há emprego apenas de testes
psicológicos e eliminação com base em índices diferentes do mínimo (como no modelo
finlandês).
Por outro lado, durante o curso de formação, no qual o candidato pode ser
observado durante meses, a possibilidade de detecção dessas patologias é muito alta.
Logo, como o curso de formação ainda é uma etapa do concurso, o momento adequado
para aprofundar a avaliação do perfil dos candidatos é nesse curso, não em apenas um dia
de testes psicológicos, como ocorre atualmente.
Com avaliações mais profundas e ao longo de um período maior de tempo, as
chances de falsos negativos seriam extremamente reduzidas, o que acabaria com a
principal injustiça do atual modelo, que é a eliminação dos candidatos aptos por erro nas
avaliações. Da mesma forma, os falsos positivos, que são decorrência dos erros do modelo
atual e também do treinamento prévio dos candidatos, também seriam diminuídos,
permitindo que o quadro dos órgãos pudesse ser fortalecido.
102
maior, como ocorre em outros países – e mesmo permitir a realização de novas avaliações,
como ocorre nos EUA, de forma a evitar falsos negativos. O que não se pode permitir é
que o Brasil continue dando um peso aos testes psicológicos que outros países, muito
mais avançados em segurança pública e em psicometria, não dão. Sequer o Conselho
Federal de Psicologia considera o modelo atual de avaliação como sendo adequado, como
foi já discutido. Portanto, é urgente que nosso modelo de avaliação psicológica seja
repensado.
105
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