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ESTADO DE PERNAMBUCO

TRIBUNAL DE CONTAS
Ministério Público de Contas

REPRESENTAÇÃO EXTERNA – 00001/2018

Recife, 09 de abril de 2018

Exmo. Procurador-Geral de Justiça Sr. Francisco Dirceu Barros,

O MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS DE PERNAMBUCO, órgão


previsto no art. 130 da Constituição da República, no uso das prerrogativas
conferidas pelo art. 114, I, da Lei Estadual n. 12.600, de 14 de junho de 2004,
vem REPRESENTAR a Vossa Excelência, mediante memorial e documentos
anexos, a fim de que seja proposta AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE objetivando suspender a execução dos art. 1º, da
Lei Municipal nº 18.471/2018 do Recife, de 27 de março de 2018, que
DISPÕE SOBRE A CONTRATAÇÃO POR TEMPO DETERMINADO PARA
ATENDER ÀS NECESSIDADES TEMPORÁRIAS DE EXCEPCIONAL
INTERESSE PÚBLICO DE QUE TRATA A ALÍNEA "B", INCISO IX, DO ART.
63, DA LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DO RECIFE, visto haver flagrante
inconstitucionalidade.

Ao ensejo, apresentamos protestos de consideração e apreço.

Atenciosamente.

GERMANA GALVÃO CAVALCANTI LAUREANO


Procuradora-Geral do Ministério Público de Contas

Exmo. Sr. Francisco Dirceu Barros


MD. Procurador-Geral de Justiça
Rua Imperador Dom Pedro II, nº 473, Santo Antônio
CEP 50010-240 Recife-PE
ESTADO DE PERNAMBUCO
TRIBUNAL DE CONTAS
Ministério Público de Contas

MEMORIAL SOBRE A LEI MUNICIPAL Nº 18.471 DE 27 DE MARÇO DE


2018 DO MUNICÍPIO DO RECIFE

I. DA NORMA IMPUGNADA

No dia 27 de março de 2018, foi promulgada a Lei Municipal nº


18.471 que altera o prazo de duração das contratações temporárias previstas
na Lei 18.122/2015.

Em seu art. 1º, a LM nº 16.471 quadruplicou o prazo de duração


dos contratos temporários previstos na Lei 18.122/2015, aumentando de um
ano renovável por mais um ano para quatro anos renováveis por até mais
quatro anos, contrariando, inclusive o disposto na Lei Orgânica do Recife, que
em seu art. 63, IX, b) determina que os contratos temporários poderão ter
duração máxima de 1 ano, prorrogável por igual período.
In verbis:

Art. 1º O art.4º, inciso II da Lei Municipal nº 18.122, de 06 de março de 2015,


passa a ter a seguinte redação:

" Art.4º (...)

...

II - 04 (quatro) anos, nos demais casos do art. 2º, admitida a prorrogação dos
contratos, desde que as circunstâncias excepcionais que o autorizaram
estejam presentes e justificadas e que o prazo total não exceda a 8 (oito)
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anos."

Pela novel redação, os contratos temporários poderão perdurar,


pasmem, por até 96 meses!!!.

II. DA INCONSTITUCIONALIDADE DA NORMA IMPUGNADA

O prazo estabelecido para a vigência de tais contratos é por demais


dilargado. Há de se considerar que o mandato de um Prefeito Municipal é de 4
anos.

Assim sendo, a previsão legal (vigência de 96 meses) possibilita que um


alcaide tenha, durante 100% do tempo de sua gestão, mesmo se reeleito, a
Administração Pública funcionando à base de servidores temporários.

Na decisão do RE 658.026 – MG, o Pretório Excelsior deixou bem clara


a sua preocupação com a formação da cultura da gestão. No item 5 da
ementa de tal decisum, foi colocado que:

Há que se garantir a instituição do que os franceses denominam de la culture


de gestion, a cultura de gestão (terminologia atualmente ampliada para
‘cultura de gestão estratégica’) que consiste na interiorização de um vetor do
progresso, com uma apreensão clara do que é normal, ordinário, e na
concepção de que os atos de administração devem ter a pretensão de ampliar
as potencialidades administrativas, visando à eficácia e à transformação
positiva.

Refoge, por completo de tal cultura, a manutenção de servidores


contratados durante toda uma gestão. Como ficaria, nesta hipótese, o
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conhecimento / histórico gerado pela máquina pública ao final dos 3 anos de


vigência do contrato?

Ainda no julgamento do RE 658.026-MG, o Min. Luís Roberto Barroso


manifestou-se no seguinte sentido:

Naquela oportunidade1, na hipótese de relatoria da Ministra Cármen Lúcia,


discutia-se a validade de uma lei do Estado do Maranhão, e nós entendemos
que era possível a contratação de professores pelo prazo máximo de doze
meses e com a obrigatoriedade de realizar concurso.
[…]
Portanto, Presidente, eu estou dando parcial provimento ao recurso para
explicitar essas restrições a eventuais contratações temporárias: prazo máximo
de doze meses e obrigatoriedade de abrir o concurso. Porque nós discutimos,
naquela ocasião, as hipóteses em que, no meio do semestre, por exemplo,
houvesse uma falta de professor, ou um afastamento definitivo ou até mesmo
temporário, que houvesse necessidade de uma contratação apenas para
completar o ano letivo. De modo que, fiel ao precedente, presentes as mesmas
razões, eu estou adotando a mesma solução.

A doutrina não destoa de tal posicionamento. Olhando para a finalidade


de tal forma de contratação, Celso Antônio Bandeira de Melo, na obra Regime
constitucional dos servidores da Administração direta e indireta (São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1991, p. 82-83) coloca que o interesse público,
nos casos de contratação temporária, deve ser excepcional, bem como que
não se coaduna com a índole do referido instituto “contratar pessoal
senão para evitar o declínio do serviço ou para restaurar-lhe o padrão
indispensável mínimo seriamente deteriorado pela falta de servidores”.
Tal situação é a que se configura no município de Águas Belas, pois a cada 3

1
Referindo-se ao julgamento da ADI nº 3.247.
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anos, é possível que haja um verdadeiro desmanche da máquina pública.

O STF nos dá um balizamento seguro de qual é o prazo razoável para


tal tipo de contratação. Novamente, no RE 658.026 – MG, por maioria de
votos, ficou consignado que os contratos firmados, utilizando a legislação
questionada, não poderiam exceder a 12 (doze) meses de duração. Eis aqui
um critério objetivo e razoável que deveria ser observado pelos nossos entes
menores da federação.

III. DA NECESSIDADE DE MEDIDA CAUTELAR

A Lei Municipal do Recife nº 18.471/2018 do Estado de


Pernambuco entrou em vigor na data de sua publicação. Como a referida
norma encontra-se em plena vigência, é possível que o município esteja ou
venha a se utilizar, em um futuro próximo, de tal permissivo, legal e
inconstitucional, para proceder com novas ou renovações indevidas de
contratações temporárias que podem ultrapassar o tempo razoável para sua
duração.

Tal situação é evidente que traz, em seu bojo, um claro fumus


bonus iuris e o periculum in mora. As repercussões financeiras ao ente
municipal são evidentes, já que o dispositivo ora questionado possibilita a
manutenção, indevida, de servidores temporários dentro da máquina pública,
além do prazo razoável.
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IV. DO PEDIDO

Pelo exposto, pede-se que seja interposta uma Ação Direta de


Inconstitucionalidade, perante o Tribunal de Justiça de Pernambuco - TJPE em
que se pugne:

a) liminarmente, a concessão de MEDIDA CAUTELAR, para


suspender todos os efeitos decorrentes da norma impugnada;

b) a declaração de INCONSTITUCIONALIDADE do art. 1º da Lei Municipal do


Recife nº 18471/2018, com a consequente suspensão de seus efeitos.

Atenciosamente.

GERMANA GALVÃO CAVALCANTI LAUREANO


Procuradora-Geral do Ministério Público de Contas

Em anexo: Cópia da Lei Nº 18.471 de 27 de março de 2018, do Município do Recife.

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