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Tabata escolheu estudar em Harvard após ser aprovada em cinco grandes universidades americanas
DA BBC BRASIL
17/12/2017 12h56
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A mãe de Tabata Amaral de Pontes acaba de completar o ensino médio. O pai,
que lutava contra o vício em drogas, morreu sem ter terminado o ensino
fundamental.
Tabata não atribui seu sucesso apenas à meritocracia: 'É preciso ter acesso a oportunidades'
Apesar de ter garantido uma vaga no curso de Física na Universidade de São
Paulo (USP), Tabata sonhava em estudar fora. Ela se candidatou então a
bolsas de estudo e foi aceita em seis das principais universidades americanas:
Harvard, Yale, Columbia, Princeton, Pensilvânia e o Instituto de Tecnologia da
Califórnia (Caltech). Optou por Harvard.
"Por muito tempo, a minha história foi contada quase como uma história de
herói, de um exemplo de 'quem quer, consegue, é só se esforçar'. Mas isso não
está certo. De fato, eu me esforcei muito, mas é preciso ter acesso a
oportunidades e a crença de que você pode sonhar diferente, sonhar grande",
afirma.
Tabata conversou com a BBC Brasil do aeroporto de São Paulo, após dar uma
palestra em uma escola pública. De lá, seguiria para Rio de Janeiro e Salvador,
onde também participaria de um evento com alunos da rede pública.
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Renato Stockler
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POLÍTICA E EDUCAÇÃO
"A educação é uma grande moeda de troca nesse país. A gente não teria a
pachorra de fazer o que se faz com a pasta da Educação com a Fazenda, por
exemplo. A educação precisa ser mais técnica e sofrer menos com a
politicagem. A política é um grande empecilho para a educação de qualidade, e
ela tem que ser o motor disso", avalia.
Ainda no ensino médio, Tabata já se destacava nas ciências exatas. Foi campeã
de diversas olimpíadas escolares e colecionou medalhas em química,
matemática e robótica, entre outras áreas.
Mas, ao ser aprovada em Harvard, perdeu o pai para as drogas e viu o irmão
mais novo, Allan, aluno de escola pública, desistir de fazer faculdade ao não
conseguir passar em nenhum vestibular.
"Acho que tem um preconceito com a política e com o estudo dela aqui no
Brasil. Na minha turma, os melhores alunos faziam estágio e iam trabalhar na
Casa Branca. Aqui no Brasil, isso jamais aconteceria. As pessoas se formam e
querem ir para o mercado de trabalho, não para o governo ou para a política",
diz.
"Eu fiz 'government' (governo), que é o segundo curso com mais prestígio em
Harvard, isso também não aconteceria aqui - a gente olha como se tudo fosse
sujo, corrupto, algo com que a gente não quer se envolver", acrescenta.
Arquivo Pessoal
Tabata tem participado de projetos de mobilização de jovens
"Fizemos uma mobilização gigante, mas não mudamos nenhum voto. Por isso,
revimos nossas práticas e agora trabalhamos na formação de ativistas
políticos, e em campanhas práticas para mudanças", conta.
'ACREDITO'
"A crise política e toda a mobilização que veio a partir de 2013 tiveram um
impacto nos jovens. O prazo de validade do tipo de política que está aí já
passou faz tempo. Sim, estamos indignados e vamos transformar nossa
indignação em ação."
"Há duas reações possíveis: uma é recorrer ao extremismo, às fake news, usar
práticas políticas antigas, falar do retorno da ditadura. E a outra, que é a que
eu estou seguindo, é renovar, participar, agir", explica.
O Acredito agrupa mais de 1,1 mil jovens em 11 Estados, para debater política e
discutir agendas e também identificar lideranças e lançar, na campanha de
2018, 30 candidatos que nunca tiveram mandato. Tabata admitiu que há
conversas com alguns partidos, embora não cite as legendas.
"Não faz sentido divulgar nomes porque não temos parcerias formais. Mas não
conversamos com partidos que apoiam extremismos, e nosso diálogo é com
partidos de centro que tenham uma campanha ética. Não queremos ficar
nessa de direita e esquerda, queremos olhar adiante."
"Queremos jovens que não sejam de família política. E vamos dar apoio como
movimento porque senão a chance de se corromper ou ficar desiludido e sem
ação é grande", completa.
"Eu não sei de onde surgiu essa maluquice. Não temos nada a ver com o MBL.
Principalmente porque temos práticas e valores diferentes. Não temos nem
diálogo, porque há muitas divergências."
ENVOLVIMENTO POLÍTICO
Mesmo que não saia candidata em 2018, Tabata não esconde o desejo de se
envolver mais ativamente na política.
"Sonho em um dia me candidatar, mas não tenho ideia de quando isso vai
acontecer, nem para que cargo. Vou fazer quando eu sentir que as pessoas se
sentem representadas por mim e pelas ideias que eu defendo. É meu sonho
porque é onde eu posso ter o maior impacto", afirma.
"Para mim, não é uma questão de ter estômago para o jogo político ou não.
Quando você tem um valor, é quase como se você não tivesse escolha. E a
importância da educação, da ética, da transparência não é negociável para
mim. Claro que o caminho vai ser mais difícil, mas eu não tenho escolha, e não
vou fazer isso sozinha."