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TUTELA COLETIVA AMBIENTAL:


Efetividade do meio ambiente
ecologicamente equilibrado

Thaisa Maira Rodrigues Held


2

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO


CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO ARAGUAIA
CURSO DE DIREITO

Reitora
Profa. Dra. Maria Lúcia Cavalli Neder

Vice- Reitor
Prof.Dr. João Carlos de Souza Maia

Pró-Reitor do Campus Universitário do Araguaia


Prof. Dr. José Marques Pessoa

Gerente de Ensino e Extensão


Profa. Me. Anna Maria Mancini

Diretor do Instituto de Ciências Humanas e Sociais


Prof. Dr. Alexandre Vicentine Xavier

Coordenadora do Curso de Direito


Profa. Dra. Alessandra Marconatto

PROJETO DE EXTENSÃO PENSAR DIREITO


Coordenador do projeto de extensão Pensar Direito
Prof. Me. João Paulo Rocha de Miranda

Bolsista do projeto de extensão Pensar Direito


João Pedro Guimarães Souza

Acadêmicos voluntários
Ewesh Yawalapiti Waurá
Juliana Oliveira Pinheiro

Comissão editorial do projeto de extensão Pensar Direito


Prof. Me. Adam Luiz Claudino de Brito (ICHS/CUA/UFMT)
Profa. Dra. Alessandra Marconatto (ICHS/CUA/UFMT)
Prof. Dr. Alexandre Vicentine Xavier (ICHS/CUA/UFMT)
Prof. Me. João Paulo Rocha de Miranda (ICHS/CUA/UFMT)
Prof. Dr. Luís Antonio Bitante Fernandes (ICHS/CUA/UFMT)
Prof. Dr. Odorico Ferreira Cardoso Neto (ICHS/CUA/UFMT)
Profa. Me. Thaisa Held (ICHS/CUA/UFMT)
3

PENSAR DIREITO
https://www.facebook.com/projetopensardireito

Editor
João Paulo Rocha de Miranda

Capa
João Pedro Guimarães Souza

Editoração eletrônica

Alessandra Marconatto
Alexandre Vicentine Xavier
Ewesh Yawalapiti Waurá
João Paulo Rocha de Miranda
Juliana Pinheiro
Thaisa Held
4

APRESENTAÇÃO

Esta obra está sendo publicada no âmbito do projeto de extensão Pensar


Direito, desenvolvido no Campus Universitário do Araguaia, da Universidade Federal
de Mato Grosso (CUA/UFMT). Este projeto tem o objetivo precípuo de fomentar o
pensamento jurídico e difundir a pesquisa jurídica produzida no CUA/UFMT. Isto se
dá com a publicação de livros (e-books) produzidos pelos docentes e discentes do
Curso de Direito do CUA/UFMT, bem como pela disponibilização destes na Fanpage
do referido projeto (https://www.facebook.com/projetopensardireito?ref=ts&fref=ts).
Desta forma, o caráter extensionista desta ação não se encerra com a publicação.
Isto porque, este, assim como os demais e-books, estarão, a partir de hoje,
disponíveis gratuitamente em uma plataforma virtual, disseminando a pesquisa
jurídica realizada no CUA/UFMT para o Brasil e o Mundo, através de Rede Mundial
de Computadores. Ademais, toda obra produzida neste projeto conta com um
lançamento, momento em que os autores e universidade possuem para se
aproximarem da comunidade acadêmica e da sociedade em geral, mediante as
palestras e debates realizados durante estes eventos.
5

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 7
CAPÍTULO 1: O AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO COMO 10
DIREITO FUNDAMENTAL
1.1. O direito fundamental ao ambiente equilibrado e sua correlação com a 10
dignidade da pessoa humana
CAPÍTULO 2: DO INDIVIDUAL AO COLETIVO: O ACESSO À JUSTIÇA 21
COLETIVA COMO DIREITO FUNDAMENTAL
2.1. A eficácia dos direitos fundamentais contida no preâmbulo da 21
Constituição Federal
2.2. O princípio da efetividade do direito fundamental 23
2.3. A ineficácia social da tutela individual e os caminhos para a tutela coletiva 27
2.4. A influência das ações coletivas no direito anglo-saxão: as classactions 33
2.5. O percurso histórico da tutela coletiva brasileira 39
2.6. Os interesses ou direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos 43
2.6.1. Interesses ou direitos difusos 48
2.6.2. Os interesses ou direitos coletivos 49
2.6.3. Interesses individuais homogêneos ou acidentalmente coletivos 51
CAPÍTULO 3: DA TUTELA COLETIVA COMO GARANTIA DO DIREITO
FUNDAMENTAL HUMANO AO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE 54
EQUILIBRADO
3.1. O meio ambiente e tutela jurisdicional: o devido processo legal ambiental 54
e seus mandamentos nucleares
3.2. A necessária distinção entre regras e princípios 56
3.2.1. Princípio do devido processo legal ambiental 59
3.2.2. Princípio do acesso à justiça e tutela do meio ambiente 59
3.2.3. Princípio da isonomia 62
3.2.4. Responsabilidade objetiva do poluidor em face de lesão ambiental 63
3.2.5. Princípio do duplo grau de jurisdição: a sentença e a coisa julgada 64
ambiental
3.3. O sistema processual de tutela do meio ambiente ecologicamente 66
6

equilibrado
3.3.1. A ação popular ambiental 67
a) Legitimação ativa e passiva na ação popular ambiental 70
3.3.2. A ação civil pública ambiental 73
a) Legitimação ativa e passiva na ação civil pública ambiental 76
3.3.3. O mandado de segurança coletivo ambiental 79
a) Legitimação ativa e passiva no mandado de segurança coletivo ambiental 80
3.3.4. O mandado de injunção ambiental 81
a) Legitimação ativa e passiva no mandado de injunção ambiental 82
CONSIDERAÇÕES FINAIS 84
REFERÊNCIAS 87
7

INTRODUÇÃO

As preocupações iniciais com a proteção ambiental na esfera jurídica


surgiram em meados do século XX e mesmo assim, por meio de legislações internas
criadas em decorrência de situações emergenciais ou catastróficas, especialmente as
que colocavam em risco a saúde humana. Tais legislações eram o reflexo de uma
sociedade que começava a sofrer as consequências da ação irrestrita do homem.
Em esfera ambiental, a conquista de tais direitos tem sido objeto de um
constante e complexo construído histórico, repleto de muitas lutas e interações
sociais nos mais diversificados setores da sociedade fazendo com que, tal matéria,
pouco a pouco se solidifique e ganhe proteção universal.
No período entre guerras ocorreram uma série de congressos científicos
internacionais. Todavia, eram restritos a grupos de pessoas altamente
especializadas. Exemplo disso é o I Congresso Internacional de Proteção da
Natureza, em Paris, no ano de 1923.
Todavia, nascia neste período o início do pensamento da proteção ambiental,
mesmo que de forma limitada. A exemplo, a Organização Internacional do Trabalho –
OIT, em Genebra, 1921, organizou a Convenção sobre a Utilização do Chumbo
Branco em pinturas, que ocasionaram aos trabalhadores a doença denominada
saturnismo.
Já em 1931, a Convenção para a regulamentação da pesca da baleia,
ocorrida em Genebra, serviu de modelo para a atual vigência, em 1946, no estado de
Washington, para o Sistema das Nações Unidas, trazendo um papel preservacionista
e ecológico.
Percebe-se que a tímida proteção ambiental foi tomando forma e espaço nas
discussões internacionais de um modo que transcendia os modelos utilitaristas e de
culto à natureza, como o modelo romântico de Rousseal trouxe e nesta nova era de
preocupação com as questões ambientais, sobretudo o caso da Fundição Trail, como
ficou conhecida mundialmente, que se tornou um divisor de águas na proteção
ambiental, trazendo princípios que ao longo dos anos foram abarcados por novas
questões ambientais, de modo a influenciar significativamente o direito internacional
ambiental contemporâneo.
8

Por mais que se busque estreitar os laços políticos firmados em épocas


remotas através de documentos internacionais que sabemos, não são cumpridos em
sua maioria das vezes pelos Estados-partes nos acordos internacionais de que são
signatários ou tenham aderido posteriormente, teremos sempre novos e mais novos
eventos internacionais para discutir e rediscutir questões que já vinham sendo
levadas a discussão desde a Conferencia de Estocolmo, em 1972.
Quarenta anos se passaram e nesse recorte temporal dizer que houve
progresso no reconhecimento do direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado como um direito fundamental humano e fato. Todavia, e fato também que
o caminho ainda e bem longo com relação a efetivação desses direitos, sobretudo os
direitos fundamentais visceralmente ligados a proteção do meio ambiente saudável,
como um corolário do direito a vida.
Existem vários motivos à participação do Brasil no processo de
internacionalização do direito ambiental, tais como a vasta extensão territorial,
ecossistemas que transcendem o território nacional, a tomar como exemplo, a Bacia
do Prata e o próprio Pantanal, por ser ainda um Estado rico em bens culturais de
patrimônio da humanidade, entre diversos outros motivos.
Ressalte-se que o Brasil e signatário de inúmeros tratados internacionais,
sobretudo os de direito ambiental, inclusive os firmados anteriormente a vigência da
atual constituição.
Todavia, para que se concretize a utilização dos tratados internacionais pelo
ordenamento jurídico interno, através do processo de constitucionalização, utilizando-
se dos instrumentos necessários à proteção e reparação do bem ambiental de forma
equilibrada.
Também há que se destacar o parágrafo segundo, do artigo 5º, da Lei Maior,
uma vez que este dispositivo nos remete à aplicação imediata de todos os direitos e
garantias fundamentais, nele incluindo-se a proteção ambiental.
É neste sentido que o arcabouço processual constitucional existente deve ser
utilizado, de modo a garantir o equilíbrio ambiental em casos de ameaça de danos ao
ambiente, atuando também de modo repressivo, buscando a reparação do dano já
ocasionado e seus impactos a toda a coletividade.
9

Os instrumentos estão à disposição dos legitimados ativos. Contudo, não


basta a simples existência, mas sim a viabilização, a democratização destes,
garantindo-se a aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais, entre eles o
acesso à justiça e a proteção ambiental.
Nesse aspecto, não basta declarar a fundamentalidade de um direito, mas
sim a sua efetividade, devendo os instrumentos serem eficazes socialmente, a fim de
garantir o direito fundamental ao meio ambiente saudável e ecologicamente
equilibrado essencial à qualidade de vida, em todas as suas vertentes.
10

CAPÍTULO 1

O MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO COMO DIREITO


FUNDAMENTAL

1.1 O direito fundamental ao ambiente equilibrado e sua correlação com a


dignidade da vida

Necessário, por primeiro, trazer, ainda que de forma sucinta, a definição do


meio ambiente. Para tanto, o conceito de Hugo Nigro Mazzilli, o qual aduz que:

O conceito legal e doutrinário é tão amplo que nos autoriza a considerar de


forma praticamente ilimitada a possibilidade de defesa da flora, da fauna,
das águas, do solo, do subsolo, do ar, ou seja, de todas as formas de vida
e de todos os recursos naturais, como base na conjugação do art. 225 da
Constituição com as Leis ns. 6.938/81 e 7.347/85. Estão assim alcançadas
todas as formas de vida, não só aquelas da biota (conjunto de todos os
seres vivos de uma região) como da biodiversidade (conjunto de todas as
espécies de seres vivos existentes na biosfera, ou seja, todas as formas de
vida em geral do planeta), e até mesmo está protegido o meio que as
abriga ou lhes permite a subsistência.1

A preocupação, de modo geral, com o meio ambiente, assim como a


consciência da necessidade de sua proteção no âmbito internacional é um fenômeno
2
do Século XX, mais precisamente nos arredores dos anos sessenta , período que
antecede a Conferência de Estocolmo, marcado pela inserção da temática ambiental
no contexto internacional e a consequente preocupação por parte de alguns países

1
MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
2
Ao final dos anos 60 o Estado Social entra em crise. Os defeitos da sociedade afluente parecem ter
ficado evidente naquela época, notadamente em razão das consequências ambientais do modelo
Keynesiano de produção. Somando-se a isso a Guerra Fria, a ameaça de guerra nuclear, o avanço do
conhecimento científico, o notável crescimento tecnológico, o advento dos testes atômicos, a Crise de
Suez, a ocorrência de alguns desastres ambientais e o surgimento de novos movimentos sociais
(principalmente a favor e o surgimento de novos movimentos sociais (principalmente a favor da paz e da
desigualdade social), se compreende a emergência de uma nova preocupação com o meio ambiente, onde
parece ter ocorrido a consciência de que degradação ambiental poderia significar uma ameaça tão grave
para a segurança material daquelas sociedades quanto a guerra. O surgimento da denominada crise do
petróleo nos anos 70, a seu turno, obrigou a uma tomada de consciência dos limites do crescimento
econômico e da esgotabilidade dos recursos naturais. DUARTE, Marise Costa de Souza. Meio Ambiente
Sadio: direito fundamental em crise. 3ed. Curitiba: Juruá, 2008, p. 40-41
11

em razão também de uma série de acidentes ecológicos que assolaram a


humanidade.
O primeiro documento de maior relevância internacional que tratou da
proteção ambiental, sobretudo como um direito fundamental humano, foi a
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, de 1972, mais conhecida
como Conferência de Estocolmo, trazendo ao cenário internacional os alicerces de
proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito fundamental
3
à vida .
O princípio primeiro de Estocolmo, no entendimento de José Rubens Morato
Leite, corresponde a um reconhecimento do direito do ser humano a um bem jurídico
fundamental, o meio ambiente ecologicamente equilibrado e a qualidade de vida”,
aduzindo ainda que se trata de um comprometimento de todos a preservar o meio
45
ambiente ecologicamente equilibrado, para as gerações presentes e futuras.
Guido Soares destaca que a Conferência de Estocolmo significou:

[...] o resultado de uma tomada de consciência sobre os grandes


problemas internacionais do meio ambiente, motivada por exigências dos
países industrializados da então Europa Ocidental, Canadá, EUA e Japão
(na verdade, os componentes naquele momento histórico, da OCDE). Tal
conscientização dos problemas ambientais, por parte dos países
industrializados, era, em parte, o resultado das pressões das respectivas
populações, sufocadas pelos problemas causados por uma industrialização
irracional dos séculos precedentes, completamente desrespeitosa dos
valores do equilíbrio e da sanidade ambiental6.

Neste cenário de discussões, pela primeira vez se reconheceu o direito


fundamental ao ambiente como:

3
LAGO, André Aranha Corrêa do. Estocolmo, Rio, Joanesburgo o Brasil e as três conferências ambientais
das Nações Unidas. Brasília: FUNAG, 2006, p. 18.
4
O Principio Primeiro, em seus exatos termos꞉ O homem tem o direito fundamental a liberdade, a
igualdade e ao desfrute de condições de vida adequada em um meio, cuja qualidade lhe permita levar uma
vida digna e gozar do bem-estar, e ter a solene obrigação de proteger e melhorar esse meio para as
gerações presentes e futuras”. Prevê também o Principio Segundo, do mesmo documento꞉ Os recursos
naturais da terra, incluindo o ar, a agua, a terra, a flora, a fauna e especialmente mostras representativas
dos ecossistemas naturais, devem preserva-se em beneficio das gerações presentes e futuras, mediante
uma cuidadosa planificação ou ordenação, segundo convenha.” DECLARACAO DE ESTOCOLMO (1972).
Declaração da Conferencia das Nações Unidas no Ambiente Humano, Estocolmo, 5-16 de junho de 1972.
Disponível em꞉ <http꞉www.mma.gov.br>. Acesso em 14. Out. 2012.
5
LEITE, Jose Rubens Morato. Dano ambiental꞉do individual ao coletivo extrapatrimonial. 2. ed. rev.,
atual. eampl. São Paulo꞉ Editora Revista dos Tribunais, 2003, p. 86.
6
SOARES, Guido Fernando Silva. Dez anos após Rio-92: o cenário internacional, ao tempo da cúpula
mundial sobre desenvolvimento sustentável (Joanesburgo, 2002). Revista Amazônia Legal de estudos
sócio-jurídico-ambientais. Cuiabá: UFMT, Ano 1, n. 1, jan.-jun. 2007, p. 127.
12

[...] a equiparação do meio ambiente à liberdade e à igualdade, como os


três direitos fundamentais de todo o ser humano; a consideração de direito
inalienável no sentido de que não cabe uma absoluta disposição sobre o
mesmo e que sua titularidade comporta deveres; e a atenção às gerações
futuras, como beneficiárias de tal direito.7

Muito embora se tenha avançado no reconhecimento da proteção ambiental


como um direito humano, havia a necessidade de aperfeiçoar na busca de efetivar a
garantia desses direitos. Foi nessa perspectiva que dez anos após realizou-se a
Conferência das Nações Unidas, realizada no Rio de Janeiro, trazendo avanços na
proteção do equilíbrio ecológico.
Percebe-se com esse novo documento internacional, a efetivação da
proteção ambiental como um direito humano fundamental, indissociável ao
desenvolvimento dos povos.
Para tanto, originou deste documento, a Resolução n. 44/228, de 22 de
dezembro de 1989, que assim determina: [...] proteger e preservar o ambiente são
fundamentais para o bem-estar e o desenvolvimento dos povos. Coerente com a
evolução, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, na qualidade de
8
direito fundamental, aliou-se ao direito ao desenvolvimento.
Não se pretende neste trabalho tratar de todos os documentos
internacionais a respeito do direito ao ambiente ecologicamente equilibrado como um
direito fundamental, mas apenas apontar os documentos mais importantes e que
deram guarida aos posteriormente firmados.
Perpassados os momentos históricos e documentos internacionais de
proteção do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como corolário dos
direitos humanos e seu viés fundamental à própria existência do ser humano, bem
como a incorporação desse reconhecimento internacional ao nosso ordenamento
jurídico interno, necessário discorrer acerca dos direitos fundamentais expressos na
Carta Magna, dos quais se inclui, inconteste, o direito ao ambiente equilibrado
ecologicamente.

7
LAGO, André Aranha Corrêa do. Estocolmo, Rio, Joanesburgo o Brasil e as três conferências ambientais
das Nações Unidas. Brasília: FUNAG, 2006, p. 32.
8
TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. O Direito ao meio ambiente: ecologicamente equilibrado como direito
fundamental. Porto Alegre: Livraria dos Advogados, 2006, p. 32.
13

A despeito dos direitos fundamentais, deve-se constatar, por primeiro, que a


nossa Constituição pode ser considerada como sendo da pessoa humana, por
excelência, ainda que não raras vezes este dado venha ser virtualmente
9
desconsiderado.
Todavia, muita cautela deve-se ter ao considerar a proteção ambiental para a
vida digna tão somente apenas dos seres humanos. Esta proteção transcende a vida
humana, de modo que aos seres humanos – dotados de discernimento suficiente
para explorar o ambiente, bônus que lhe aproveita, mas também o dever de
preserva-lo, sendo este o ônus que somente estes possuem – possam então
reconhecer não somente o direito ao ambiente, mas o dever de preservá-lo para a
vida digna em todas as suas formas.
Jose Rubens Morato Leite, tomando como base a noção generalizada de
meio ambiente, traz à baila as preocupações e valores que devem conduzir a
conduta antropocêntrica ao ambiente꞉

1. o ser humano pertence a um todo maior, que e complexo, articulado e


interdependente;
2. a natureza e finita e pode ser degradada pela utilização perdulária de
recursos naturais;
3. o ser humano não domina a natureza, mas tem de buscar caminhos
para uma convivência pacifica entre ela e sua produção, sob pena de
extermínio da espécie humana;
4. a luta pela convivência harmônica com o meio ambiente não e
somente responsabilidade de alguns grupos “preservacionistas”, mas
missão politica, ética e jurídica de todos os cidadãos que tenham
consciência da destruição que o ser humano esta realizando em
nome de produtividade e do progresso.10

À guisa de exemplo, a Declaração Universal dos Direitos dos Animais,


proclamada pela UNESCO em 27 de janeiro de 1978, em Bruxelas, Bélgica, em seu
preâmbulo, o qual afirma que “todo animal possui direitos.” Referido documento foi
posteriormente modificado para a Proclamação dos Direitos dos Animais, promulgada
pelo partido verde alemão em 1989, com disposições semelhantes, vejamos꞉

9
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal
de 1988. 9 ed. rev. Atual. 2. Tir. – Porto Alegre꞉ Livraria do Advogado Editora, 2012, p. 92.
10
LEITE, Jose Rubens Morato; AYALA, Patryck de Araújo. Direito ambiental na sociedade de risco. 2 ed.
rev., atual. eampl. Rio de Janeiro꞉ Forense Universitária, 2004, p. 53.
14

Art. 1. Todos os animais nascem iguais diante da vida e tem o mesmo


direito à existência.
Art. 2.
a) Cada animal tem o direito ao respeito.
b) O homem, enquanto espécie animal, não pode atribuir-se o direito de
exterminar os outros animais ou explora-los, violando esse direito. Ele
tem o dever de colocar sua consciência a serviço dos outros animais.
c) Cada animal tem o direito a consideração, a cura e a proteção do
homem.”

Cabe a observação de Patryck de Araújo Ayala, no que concerne à proteção


que transcende a vida humana꞉

Propõe-se que a necessidade de proteção dos elementos naturais decorre


de um projeto existencial definido pela ordem constitucional brasileira, que
requer a colaboração estatal e coletiva, com vistas a garantir a existência
duradoura de todas as formas de vida.11

Prossegue o autor ao afirmar que o direito fundamental ao meio ambiente꞉

Não pode representar necessariamente a afirmação de um


antropocentrismo que não seja moderado e que permita ser situado nesta
comunidade moral que é plural, admitindo que todas as formas de vida
estão sujeitas a proteção estatal. Assim o é porque a sua própria existência
constitui a causa que justifica e fundamenta o dever de cooperação
coletiva, dever que é, fundamentalmente, um dever de colaboração com a
humanidade (vinculada aqui a um sentido de natureza humana que não a
reconhece, v.g., em determinados comportamentos lesivos ou que sujeitem
outras formas de vida a estados de desfavorabilidade.12

Na lição de Cançado Trindade, a vida transcende os limites de sua simples


atuação física, abrangendo a sadia qualidade de vida em todas as suas vertentes e
formas. Em sendo a vida universalmente reconhecida como um direito humano
básico e fundamental o seu gozo é sinequa non para o gozo dos demais direitos
humanos, incluindo-se neste contexto, o direito a um meio ambiente ecologicamente
13
equilibrado.
Percebe-se que os direitos fundamentais sofrem um alargamento, ou seja,
estendem-se aos demais membros da cadeia animal, vegetal, mineral, perpassando
todas as formas de vida, sem quaisquer exceções. Para que se consiga o equilíbrio

11
AYALA, Patryck de Araújo. Direito fundamental ao ambiente, mínimo existencial ecológico e proibição de
retrocesso na ordem constitucional brasileira. Separata da Revista dos Tribunais, Ano 99 – vol. 901,
novembro de 2012, p. 29.
12
Idem, p. 34.
13
CANÇADO TRINDADE, Antonio Augusto. Direitos humanos e meio ambiente: paralelo dos sistemas de
proteção internacional. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1993. p. 71.
15

ambiental é necessária a proteção não somente do homem, mas da natureza, em


todas as suas formas, desfocando as consequências benéficas tão somente ao
homem, mas a todos os membros da natureza, onde o homem é apenas um
componente.
Nesse sentido, Ayala aduz꞉

Isso somente se faz possível a partir de um modelo de cultura


constitucional fundado em um pluralismo moral (responsável pelo
alargamento da comunidade moral que justifica os interesses protegidos),
pressuposto indispensável para que sentido do primado da dignidade da
pessoa humana possa proporcionar uma proteção reforçada para todos os
membros capazes de ter seus interesses afetados, e que possam de
algum modo, compreender e vivenciar o valor dignidade.14

A tratar dos direitos fundamentais, estes constituem um mínimo de direitos a


serem garantidos pela Constituição Federal, não obstando que as leis ordinárias
possam acrescentar outros direitos que não previstos na Lei Maior, tão somente não
15
sendo admissível a abolição dos direitos fundamentais.
Ingo WolffgangSarlet identifica que os direitos fundamentais transmitem a
ideia de democracia, ao discorrer que:

Os direitos fundamentais podem ser considerados pressupostos, garantia e


instrumento do princípio democrático da autodeterminação do povo por
intermédio de cada indivíduo, mediante reconhecimento do direito de
igualdade (perante a lei de oportunidades) de um espeço de liberdade real,
bem como por meio da outorga do direito à participação (com liberdade e
igualdade).16

A questão dos direitos fundamentais tem levantado várias discussões


doutrinárias, sobretudo no que pertine à própria conceituação e até mesmo sua fonte.
No entanto, a fundamentalidade deve ser material, e não formal, como bem
preceituam DimitriDimoulis e Leonardo Martins꞉

14
AYALA, Patryck de Araújo. Direito fundamental ao ambiente, mínimo existencial ecológico e proibição de
retrocesso na ordem constitucional brasileira. Separata da Revista dos Tribunais, Ano 99 – vol. 901,
novembro de 2012, p. 35.
15
DIMOULIS, Dimitri; MARTINS, Leonardo. Definicao e características dos direitos fundamentais. In꞉
Direitos fundamentais e estado constitucional꞉ estudos em homenagem a J. J. Canotilho. Coordenacao
George Salomao Leite, Ingo Wolfgang Sarlet. São Paulo꞉ Editora Revista dos Tribunais; Coimbra (Pt)꞉
Coimbra Editora, 2009, p.119.
16
SARLET, Ingo Wolffgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 3. ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2003, p. 66.
16

Assim, não é possível concordar com uma definição ampla adotada por
parte da doutrina, segundo a qual a fundamentalidade de certos direitos
não dependem da força formal constitucional e sim de seu conteúdo. Com
efeito, não pode ser considerado como fundamental um direito criado pelo
legislador ordinário, mas passível de revogação na primeira mudança da
maioria parlamentar, por mais relevante e “fundamental” que seja seu
conteúdo. Os direitos fundamentais são definidos com base em sua força
formal, decorrente da maneira de sua positivação, deixando de lado
considerações sobre maior ou menor valor moral de certos direitos.17

E acrescentam os autores que isso indica que a expressão “direito


fundamental” é sinônimo da expressão “direito que possui força jurídica
18
constitucional”.
Compartilha deste entendimento Ingo Sarlet, ao discorrer que꞉

Em que pese sejam ambos os termos (“direitos humanos” e “direitos


fundamentais”) comumente utilizados como sinônimos, a explicação
corriqueira e, diga-se de passagem, procedente para a distinção é de que
o termo “direitos fundamentais” se aplica para aqueles direitos do ser
humano reconhecidos e positivados na esfera do direito constitucional
positivo de determinado Estado, ao passo que a expressão “direitos
humanos” guardaria relação com os documentos de direito internacional,
por referir-se àquelas posições jurídicas que se reconhecem ao ser
humano como tal, independentemente de sua vinculação com determinada
ordem constitucional, e que, portanto, aspiram a validade universal, para
todos os povos e tempos, de tal sorte que revelam um inequívoco caráter
supranacional (internacional).19

Contrariando o entendimento do doutrinador, o §2º, do art. 5º, da Constituição


Federal de 1988, é claro ao dispor que os direitos e garantias expressos nesta
Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil
20
seja parte.
Observação oportuna é a que mesmo não encontrando-se inserido no rol do
artigo 5º, da Carta Magna de 1988, este que integra o capítulo dos direitos e deveres
individuais e coletivos, prevendo expressamente os direitos fundamentais, o direito ao

17
DIMOULIS, Dimitri; MARTINS, Leonardo. Definição e características dos direitos fundamentais. In꞉
Direitos fundamentais e estado constitucional꞉ estudos em homenagem a J. J. Canotilho. Coordenação
George Salomao Leite, Ingo Wolfgang Sarlet. São Paulo꞉ Editora Revista dos Tribunais; Coimbra (Pt)꞉
Coimbra Editora, 2009, p.120.
18
Ibidem.
19
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 6 ed., Porto Alegre꞉ Livraria do
Advogado, 2006, p. 35-36.
20
CONSTITUICAO DA REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL꞉ promulgada em 5 de outubro de 1988.
47 ed. atual. eampl. São Paulo꞉Editora Saraiva, 2012, p. 12.
17

ambiente ecologicamente equilibrado é considerado, sem sombra de dúvida, um


Direito Constitucional materialmente Fundamental, de acordo com o mencionado
parágrafo segundo do artigo quinto.
Marcelo Antonio Theodoro, a este respeito, aduz que a existência dos direitos
fundamentais deve-se a uma maneira de se ressaltar a normatividade dos direitos
21
humanos na ordem Constitucional dos Estados Democráticos de Direito.
Como bem preceitua Ingo Wolfgang Sarlet, a diginidade da pessoa humana é
um superprincípio que atribui sentido próprio à hermenêutica constitucional da
contemporaneidade, unidade ao sistema jurídico e “racionalidade ética.” É assim o
princípio supremo da ordem hierárquica normativa que irradia sua “força normativa”
22
para todo o ordenamento jurídico, conferindo-lhe um sentido axiológico.
Nesse sentido, esclarece-se que a fundamentalidade formal está vinculada
ao direito constitucional de maneira expressa, ao passo que a fundamentalidade
material transcende a forma, ou seja, somente a análise do conteúdo permite tal
caracterização pelo “conteúdo e significado”, sendo que uma construção de conceito
material de Direitos Fundamentais somente será exitosa se considerar a ordem de
valores dominante e as circunstâncias sociais, políticas, econômicas e culturais de
23
uma determinada ordem constitucional.
Discorre sobre a temática Joaquín Herrera Flores, ao alertar que os direitos
fundamentais꞉

[...] constituem algo mais que o conjunto de normas formais que os


reconhecem e os garantem em um nível nacional ou internacional. Eles
fazem parte da ancestral tendência humana de construir e assegurar as
condições sociais, politicas, econômicas e culturais que permitem aos
seres humanos perseverarem na luta pela dignidade, ou seja, o impulso
vital que, em termos spinozeanos, lhes possibilita manter-se na luta por
continuar sendo o que são꞉ seres dotados de capacidade e potencia para
atuar por si mesmos.24

Significa dizer que os direitos previstos na Constituição Federal diversos dos


constantes do artigo quinto são implícitos, podendo ser encontrados em outros

21
THEODORO, Marcelo Antonio. Direitos fundamentais e sua concretização. Curitiba꞉ Juruá, 2009, p.28.
22
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 3 ed. Porto Alegre꞉ Livraria do
Advogado, 2003, p. 69.
23
Idem, p. 69.
24
FLORES, Joaquin Herrera. Os direitos humanos no contexto da globalização꞉ três precisões
conceituais. In꞉ Revista LugarComum n. 25-26. Rio de Janeiro꞉UFRJ, p. 70.
18

dispositivos do texto de lei, bem como em outras fontes, como os tratados


internacionais dos quais o Brasil seja parte.
Para ValerioMazzuoli:

O processo de internacionalização dos direitos humanos, assim, teve


fundamental importância para a abertura democrática do Estado brasileiro,
que passou a afinar-se com os novos ditames da nova ordem mundial a
partir de então estabelecida. Essa abertura, por sua vez, contribuiu
enormemente para a inserção automática dos tratados internacionais de
direitos humanos na ordem jurídica brasileira e para a redefinição da
cidadania no âmbito do direito brasileiro.25

Também há que se destacar a aplicação imediata de todos os direitos e


garantias fundamentais, conforme lição de Mazzuoli:

[...] É dizer, em seu âmbito material da aplicação transcende o catálogo


dos direitos individuais e coletivos insculpidos nos arts. 5º a 17 da Carta da
República, para abranger ainda outros direitos e garantias expressos na
mesma Constituição (mas fora do catálogo), bem como aqueles
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados e dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte, tudo,
consoante a regra do §2º do art. 5º, da Constituição.26

O direito ao ambiente ecologicamente equilibrado é um deles. Previsto no


artigo 225, da Carta Maior, como destaca Anisio Filho꞉

A norma do art. 225 vincula juridicamente a atuação do Legislativo, do


Executivo e do Judiciário. A possibilidade de controle jurisdicional da
realização do direito ao ambiente deixa claro que se trata de um direito
fundamental. A respeito, afora o controle de constitucionalidade da
normalização infraconstitucional sobre o ambiente, deve-se acrescentar
que a Constituição prevê o procedimento da ação civil pública e da ação
popular para a realização do direito ao ambiente. Aliás, para afastar
qualquer controvérsia contra o reconhecimento do direito do direito ao
ambiente como direito fundamental, a disposição do art. 5º, LXXIII, da
Constituição – integrante do Título que trata dos direitos e garantias
fundamentais – contém norma segundo a qual qualquer cidadão tem o
direito de propor ação popular para anular ato lesivo ao ambiente.27

25
MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. A proteção internacional dos direitos humanos e o direito internacional
do meio ambiente. Revista Amazônia Legal de estudos sócio-jurídico- ambientais. Cuiabá. Ano 1. p. 169-
196. Jan-jun. 2007, p.188.
26
MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. A proteção internacional dos direitos humanos e o direito internacional
do meio ambiente. Revista Amazônia Legal de estudos socio-jurídico- ambientais. Cuiabá. Ano 1. p. 169-
196. Jan-jun. 2007, p.191.
27
FILHO, Anizio Pires Gavião. Direito fundamental ao ambiente. Porto Alegre꞉ Livraria do Advogado,
2005, p. 37.
19

Conforme leciona Tiago Fensterseifer, para se obter a garantia ao ambiente


ecologicamente equilibrado, imprescindível que se garantam os direitos sociais꞉

[...] o acesso à água potável (através de saneamento básico, que também


é direito fundamental social integrante do conteúdo mínimo existencial) a
alimentação sem contaminação química (por exemplo, de agrotóxicos e
poluentes orgânicos persistentes), a moradia em área que não apresente
poluição atmosférica, hídrica ou contaminação de solo (como, por exemplo,
na cercania de áreas industriais) ou mesmo riscos de desabamentos
(como ocorre no topo de morros desmatados e margens de rios
assoreados).28

Prudente observar que, como o próprio artigo 225, da Constituição Federal


de 1988 preceitua, o direito ao ambiente ecologicamente equilibrado é fundamental à
própria existência do ser humano, impondo responsabilidade a estes (coletividade) e
ao Estado de preservá-lo para as gerações vindouras.
Ao observar o caput do artigo 225, da Carta Magna, imperioso trazer à lume
o entendimento de José Rubens Morato Leite, ao esclarecer que não deve ser o meio
ambiente considerado um patrimônio público, e sim um bem pertencente à
coletividade, dado que é de interesse público, afeto à coletividade e intergeracional,
em razão de que a preservação do meio ambiente deve ser concretizada por toda a
coletividade e pelo Estado, não se restringindo apenas a benefícios atuais, a
29
benefícios que se estendam inclusive às gerações futuras.
A proteção ambiental perpassa a visão antropocêntrica, em detrimento de
um novo paradigma mais ampliado de proteçãoambiental que induz a um
condicionamento tanto humano quanto político e da coletividade voltado às
30
necessidades do meio ambiente.
Também corresponde a proteção ambiental a um direito fundamental, pois
muito embora os posicionamentos doutrinários divirjam com relação ao rol de direitos
fundamentais insculpidos na Carta Magna, este mesmo documento dispõe em seu
parágrafo segundo do artigo quinto, que os direitos e garantias fundamentais ali
reconhecidos não excluem outros provenientes de tratados internacionais dos quais o

28
LEITE, Jose Rubens Morato. Dano ambiental꞉ do individual ao coletivo extrapatrimonial. 2 ed. rev.,
atual., e ampl. São Paulo꞉ Editora Revista dos Tribunais, 2003, p. 95.
29
Idem, p. 88-89.
30
LEITE, Jose Rubens Morato; AYALA, Patryck de Araújo. Direito ambiental na sociedade de risco. 2 ed.
rev., atual., e ampl. Rio de Janeiro꞉ Forense Universitária, 2004, p. 55.
20

Brasil seja parte. Isso significa dizer que ao se firmar tratado internacional de
proteção ambiental, este já adere ao ordenamento jurídico interno como direito
fundamental, não sendo, portanto, taxativo o rol de direitos e garantias fundamentais.
Percebe-se o viés coletivo de direito fundamental, no caráter
antropocêntrico alargado, no sentido de não de desconsiderar as demais formas de
vida, respeitando-se um mínimo existencial ecológico onde, muito embora o ser
humano esteja no topo da cadeia ecológica, este tem não somente o direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, mas sim o dever de preservá-lo para as
presentes e futuras gerações, como predispõe o artigo 225, caput, da Constituição
Federal de 1988.
21

CAPÍTULO 2

DO INDIVIDUAL AO COLETIVO꞉ O ACESSO À JUSTIÇA COLETIVA COMO


DIREITO FUNDAMENTAL

2.1 A eficácia dos direitos fundamentais contida no preâmbulo da Constituição


Federal

O Estado Constitucional de Direito, também alcunhado de Estado


Democrático de Direito, possui uma peculiaridade ímpar de organização de poder: a
positivação dos direitos humanos no corpo da Constituição Federal. Diversos direitos
fundamentais encontram-se elencados em título próprio, podendo-se observar tal
vertente no próprio preâmbulo da Carta Magna de 1988, alcunhada também de
Constituição Cidadã.
Veja-se que referido preâmbulo condiz com o poder do povo, sendo a lei
maior emanada por este, seguindo o ideal diferenciado do Estado Liberal, onde neste
a lei era imposta ao povo sem qualquer liame de justiça.
A respeito do poder que, conforme previsão constitucional, deveria emanar
do povo, de forma efetiva, esta não ocorre, conforme posicionamento de Paulo
Bonavides:

A presença direta do povo governante permanece, portanto, rudimentar,


inferior, indefinida, mal delineada, pouco desenvolvida, um tanto
programática, atropelada e subtraída em sua eficácia; por conseguinte,
reflexo de uma realidade que melhor guardara o espírito da Constituição se
porventura concretizasse com mais energia a força participativa do povo,
qual flui pura e límpida do parágrafo único do art. 1º da Constituição.31
[...] entende-se que o Preâmbulo, de uma parte, é a suma dos preceitos
básicos por onde se governa a Constituição; de outra parte, o patamar
mais alto a que pode subir a materialidade normativa dos princípios, ali
enfeixados e cristalizados em síntese para servirem de bússola ao sistema
e de luz e critério à aferição da juridicialidade de derradeira dos conteúdos
constitucionais e, ao mesmo passo, de texto onde o espírito da
Constituição foi construir a sua morada.
O Preâmbulo é, por conseguinte, a diretriz normativa e espiritual da
unidade da Constituição. Nele o constituinte de primeiro grau fixou, em
termos absolutos e irrefragáveis, a linha de valores que hão de reger o
ordenamento.

31
BONAVIDES, Paulo. Democracia participativa. Revista Achegas n. 27. Disponível em
<http://www.achegas.net/numero/vinteesete/p_bonavides_27.htm
22

Tem o Preâmbulo, de conseguinte, um incalculável préstimo, em se


tratando de abrir caminhos ou de achar justificação para uma nova
hermenêutica jurídica, suscetível de operar no espaço normativo das
Constituições. São estas formadas, grandemente, de cláusulas gerais e
abertas, que fazem de crucial importância a tarefa insubstituível do
hermeneuta constitucional.
O preâmbulo é, pois, a convergência de todos os princípios e de todas as
cláusulas constitucionais que compõem e tecem a unidade moral da Carta
Magna, quando esta busca concretizar o princípio dos princípios, a saber,
a dignidade da pessoa humana, a qual oura coisa não é senão a dignidade
mesma dos povos. E os povos têm, na democracia participativa, o seu
mais acabado instrumento de realização dos direitos de terceira e quarta
gerações, que conduzem ao desenvolvimento e à democracia.32

Todavia, ao se observar o texto preambular, bem como os fundamentos da


República Federativa do Brasil, tais como soberania (art. 1º, inciso I), a cidadania,
(inciso II), a dignidade da pessoa humana (inciso III), os valores sociais do trabalho e
da livre iniciativa (inciso IV), bem como do pluralismo jurídico (inciso V), denota-se a
preocupação do legislador em colocar os direitos e garantias fundamentais do
individuo como o próprio fundamento do Estado, tendo o povo como titular legítimo
do poder político.
Ainda há que ser ressaltado que o legislador fez questão de qualificar a
Constituição Federal como Democrática de Direito, como se observa do caput do art.
1º, além do parágrafo único do mesmodispositivo legal, onde se vislumbra a
concretização formal da democracia, além de elencar todos os objetivos
fundamentais da República Federativa Brasileira em seu art. 3º.
Nesta senda, os direitos fundamentais garantidos pelo Estado Democrático
e Constitucional de Direito não estão sendo efetivados, mas apenas declarados pelo
documento Maior. Nos dizeres de AluisioIunes[...] os direitos acabam sendo
concebidos por um plano abstrato, platônico, e terminam não se conformando à
realidade. Vivemos um Direito que não se realiza. Estudamos uma teoria que não se
33
aplica. Afirmamos uma fundamentalidade que não se efetiva.
O Estado Democrático e Constitucional de Direito, como apregoa o próprio
preâmbulo da Carta Magna de 1988, traz os ideais de poder que emana do povo e
deve ser para o próprio povo, donde se extrai o ideal de democracia participativa.
Nessa esteira aduz Rodolfo de Camargo Mancuso:

32
Idem, p. 40.
33
RE, AluisioIunesMontiRuggeri. Processo civil coletivo e sua efetividade. São Paulo: Malheiros Editores,
2012, p.41.
23

[...]há de entender-se que a participação direta da população não se


confina ao voto popular para eleição de governantes e parlamentares, aos
projetos de iniciativa popular, ao plebiscito e às audiências públicas, senão
que tal participação se faz também por meio do processo, visto como fator
de inclusão social, na medida em que recepciona e encaminha ao
Judiciário – ou aos meios alternativos, auto e heterocompositivos – os
reclamos, anseios e pretensões da coletividade, os quais, sem essas
formas de expressão, continuariam a fomentar a chamada litigiosidade
contida, ao intento da coletividade. Portanto, o fato de em muitos países,
como o nosso, os juízes não serem eleitos, não serve como argumento ou
premissa para dispensá-los de dar o seu quinhão para a boa gestão da
coisa pública e preservação do interesse geral, mediante os processos em
que são chamados a atuar.34

2.2 O princípio da efetividade do direito fundamental

A efetividade como princípio constitucional adentra o ordenamento jurídico


pátrio com a Constituição Federal de 1988. Esta, em seu bojo, elenca a necessidade
35
dos processos judiciais cumprirem alguns princípios norteadores .
Dentre estes, há a menção ao princípio da efetividade como forma de
assegurar uma razoável duração do processo por parte do Estado.
Constitucionalmente a garantia do princípio da efetividade está elencado no
artigo 5.º, inciso XXXV, que estabelece que a lei não excluirá da apreciação do poder
judiciário lesão ou ameaça de lesão a direito. Desta forma, não resguarda apenas a
garantia do acesso, como, também, que a tutela seja adequada e efetiva.
Quanto ao tema, Barroso leciona que:

A efetividade significa, portanto, a realização do Direito, o desempenho


concreto de sua função social. Ela representa a materialização, no mundo
dos fatos, dos preceitos legais e simboliza a aproximação, tão íntima
quanto possível, entre o dever-ser normativo e o ser da realidade social36.

O conjunto de normas que rege o procedimento constitui a técnica


processual. Entretanto, a importância da técnica processual deve ser
redimensionada, considerando-se a natureza instrumental do processo:

34
MANCUSO, Rodolfo de Camargo. A resolução dos conflitos e a função judicial no contemporâneo
Estado de Direito. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009, pp. 286-287.
35
LOPES, Maria Elizabeth de Castro; LOPES, João Batista. Princípiodaefetividade. In: NETO, Olavo de
Oliveira; LOPES, Maria Elizabeth de Castro (Org.). Princípios Processuais Civis na Constituição. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2008, p. 241.
36
BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da constituição. 5. ed. Saraiva: São Paulo, 2003,
p.88.
24

É preciso enfrentar e superar as dificuldades impostas pela técnica


processual, ou, melhor, pela visão excessivamente formalista desse
fenômeno, em decorrência da qual chega-se a atribuir às exigências
concernentes ao método de solução de controvérsias importância
incompatível com sua natureza instrumental37.

Esse redimensionamento da técnica processual, mormente quando se trata


de herança do Estado Liberal de Direito e das teorias clássicas processuais
individualistas, deve ater-se à duração razoável do processo.
O Estado Liberal não correspondia com os ideais de justiça, como aborda
Gustavo Zagrebelsky:

[...] como o direito foi resumido à lei e a sua validade conectada


exclusivamente com a autoridade da fonte da sua produção, restou
impossível controlar os abusos da legislação. Se a lei vale em razãoda
autoridade que a edita, independentemente da sua correlação com os
princípios de justiça, não ha como direcionar a produção do direito aos
reais valores da sociedade.38

Neste esteio, o positivismo jurídico, base do Estado Liberal, estava acima do


próprio legislador, dos magistrados e dos operadores do direito de modo geral,
39
transformando-se, segundo Marinoni , em ideologia, valendo ainda a transcrição da
observação de Peter Haberle꞉

Isso permitiu que a sociedade se desenvolvesse sob um asséptico e


indiferente sistema legal ou mediante a proteção de uma lei que, sem tratar
de modo adequado aos desiguais, tornou os iguais em carne e osso mais
desiguais ainda.40

Marinoni entende que as legislações modernas devem construir


procedimentos que tutelem de forma efetiva, adequada e tempestiva os direitos. O

37
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 87.
38
ZAGREBELSKY, Gustavo. A lei, o direito e a Constituição. Colóquiocomemorativo do XX Aniversário do
Tribunal ConstitucionalPortuguês; Kathleen M. Sullivan, The Supreme Court, 1991 Term – Foreword; The
justice of rules and standards, Harvard Law Review, v. 106, p. 22; Ronald Dworking, A Bill of Rights for
Britain. Apud. MARINONI, Luiz Guilherme. Teoria geral do processo. 5 ed. rev. e atual. – São Paulo꞉
Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 29.
39
MARINONI, Luiz Guilherme. Teoria geral do processo. 5 ed. rev. e atual. – São Paulo꞉ Editora Revista
dos Tribunais, 2011, p.32.
40
HABERLE, Peter. Die Wesengehaltsgarantie des Art. 19 Abs. 2 Grundgesetz, p. 90-91. Apud.
MARINONI, Luiz Guilherme. Teoria geral do processo. 5 ed. rev. e atual. – São Paulo꞉ Editora Revista dos
Tribunais, 2011, p.32.
25

ideal é que existam tutelas que, atuando internamente no procedimento, permitam


41
uma racional distribuição do tempo do processo .
Todavia, não basta a simples normatização dos direitos e garantias
fundamentais, ainda que individuais.
Nos dizeres de AluisioIunes꞉

Entendemos que a democracia se verifica mais pela existência e


funcionamento de instituições democráticas que por mera disposição legal.
Nesse sentido, muito importantes é a concretização da cidadania e dos
direitos fundamentais, como pressuposto que é para a exteriorização da
vontade popular, o estabelecimento de diálogo entre ideias diferentes, a
consideração das especificidades das minorias, a promoção dos direitos
humanos (mormente aqueles positivados no texto constitucional) e, assim,
a consubstanciação da democracia. Um Estado assim qualificado adquire
um papel promocional, ou seja, o próprio Estado deve intervir como agente
fomentador de todo e qualquer interesse referente à cidadania e à
democracia. A postura que se espera deste modelo estatal é, então,
aquela prospectiva, no sentido de funcionar como catalisador da projeção
daqueles direitos ou interesses afetos aos direitos fundamentais e a
cidadania, para, assim, permitir a irradiação de seus efeitos sobre a
democracia.42

Como bem ressaltou Miguel Reale, em Teoria Tridimensional do Direito,


não há falar em norma sem aplicabilidade no contexto socioeconômico꞉

Direito não e só norma, como quer Kelsen, Direito não e só fato, como
rezam os marxistas ou economistas do Direito, porque Direito não e
economia. Direito não e produção econômica, mas envolve a produção
econômica e nele interfere; o Direito não e principalmente valor, como
pensam os adeptos do Direito Natural Tomista, por exemplo, porque o
Direito ao mesmo tempo e norma, e fato e valor.43

Nesta senda, não basta alcunhar a Carta Magna como cidadã, social,
democrática, se no campo efetividade não há aplicabilidade. Esse poder que emana
do povo deve ser garantido não somente no direito material (norma abstrata), mas
também no campo processual, onde se afigura o acesso do povo ao Poder Judiciário,
desta feita, para garantir os direitos e garantias fundamentais, a começar pelo próprio
acesso.

41
MARINONI, Luiz Guilherme. Teoria Geral do Processo. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. V.
1, p, 99.
42
RE, AluisioIunesMontiRuggeri. Processo civil coletivo e sua efetividade. p.33.
43
REALE, Miguel. Teoria tridimensional do Direito – situação atual. 5. ed.São Paulo꞉ Saraiva, 1994, p.
118.
26
44
A fim de traduzir a referida efetividade , no sentido de aplicabilidade da
norma no contexto social, leciona Teori Albino Zavascki que esta e denominada
eficácia social꞉

Aqui a eficácia da norma de Direito e fenômeno que se passa, não no


plano puramente formal, mas no mundo dos fatos e por isso mesmo e
denominada eficácia social ou efetividade. Uma norma pode, destarte, ser
juridicamente eficaz, sem, no entanto, ser socialmente eficaz, como
observou Jose Afonso da Silva. Enquanto a eficácia jurídica da norma
representa, pela sua incidência, a jurisdicializacao de certo fato ou estado
de fato, a eficácia social representa a concretização da vocação
prospectiva e transformadora da norma do Direito.45

Não se pode deixar de mencionar a ponderação de Norberto Bobbio,


relativamente aos direitos fundamentais꞉

No plano histórico, sustento que a afirmação dos direitos do homem deriva


de uma radical inversão de perspectiva, característica da formação do
Estado Moderno, na representação da relação politica, ou seja, na relação
Estado∕cidadão ou sobrerano∕súditos꞉ a relação que e encarada, cada vez
mais, do ponto de vista dos cidadãos não mais súditos, e não do ponto de
vista dos direitos do soberano, em correspondência com a visão
individualista da sociedade. (...). Do ponto de vista teórico, sempre defendi
– e continuo a defender, fortalecido por novos argumentos – que os direitos
do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou
seja, nascidos em certas circunstancias, caracterizadas por lutas em
defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo
gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas.46

No que diz respeito à visão social do processo, curial reportarmos o


pensamento de Rodolfo de Camargo Mancuso:

A visão progressista ou social da ciência processual deve ser


acompanhada da consciência de que os direitos processuais, formadores
do que se convencionou chamar “o devido processo legal”, hão que restar
preservados, de modo a se poder garantir aos cidadãos a isonomia no
processo, isto é, a garantia de que situações iguais serão tratadas
igualmente no processo: as partes receberão iguais oportunidades e se

44
Vale a pena citar decisão do STJ, Recurso Especial n. 1.041.197-MS, tendo como relator o Ministro
Humberto Martins, donde se extrai do voto a seguinte fundamentação: Assegurar um mínimo de dignidade
humana por meio de serviços públicos essenciais, dentre os quais a educação e a saúde, é escopo da
República Federativa do Brasil que não pode ser condicionado à conveniência política do administrador
público. A omissão justificada da Administração em efetivar as políticas públicas constitucionalmente
definidas e essenciais para a promoção da dignidade humana não deve ser assistida passivamente pelo
Poder Judiciário. (STJ, REsp 1.041.197-MS, rel. Min. Humberto Martins, j. 25.8.2009.)
45
ZAVASCKI, Teori Albino. Eficácia social da prestação jurisdicional. Revista de Informação Legislativa, v.
31, n. 122, p. 291-296, abr.;jun. 1994, p. 01.
46
BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. 4. ed.Brasília∕DF, 1994, p. 4 -5.
27

sujeitarão aos mesmos ônus, donde decorrerão vantagens e desvantagens


para ambas.47

No campo da efetividade ou eficácia social da norma, sobretudo quanto ao


acesso e garantia dos direitos fundamentais (e neste trabalho se destaca o acesso à
justiça na esfera ambiental), necessário observar quais os caminhos que o Estado
Democrático de Direito percorreu na prestação jurisdicional de tais direitos.

2.3 A ineficácia social da tutela individual e os caminhos para a tutela coletiva

O sistema de prestação jurisdicional trilhou por longo caminho, sendo que a


maior parte deste foi pautado pela resolução individual de conflitos, tendo a decisão
cunho meramente limitado às partes.
Ainda que neste mesmo caminho existam brechas à solução coletiva de
conflitos (onde, neste caso, um interesse era coletivo), a busca pela prestação
jurisdicional era feita por um particular, como já aduzido.
Este percurso esbarra em alguns obstáculos, os quais são esclarecidos por
Mauro Cappelletti e Bryan Garth, os quais de modo preciso trazem os problemas da
efetividade:
Embora o acesso efetivo à Justiça venha sendo crescentemente aceito
como um direito social básico nas modernas sociedades, o conceito de
“efetividade” é, por si só, algo vago. A efetividade perfeita, no contexto de
um dado direito substantivo, poderia ser expressa como a completa
“igualdade de armas” – a garantia de que a conclusão final depende
apenas dos méritos jurídicos relativos das partes antagônicas, sem relação
com diferenças que sejam estranhas ao Direito e que, no entanto, afetam a
afirmação e reivindicação dos direitos. Essa perfeita igualdade,
naturalmente, é utópica. As diferenças entre as partes não podem jamais
ser completamente erradicadas. A questão é saber até onde avançar na
direção do objetivo utópico e a que custo. Em outras palavras, quantos dos
obstáculos ao acesso efetivo à Justiça podem e devem ser atacados? A
identificação desses obstáculos, consequentemente, é a primeira tarefa a
ser cumprida.48

Dos três obstáculos que os autores identificaram na obra, o segundo versa


exatamente sobre o tema proposto: os interesses difusos. Para Cappelletti e Garth:

47
MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Interesses difusos – conceito e legitimação para agir. – 7 ed. rev.,
atual. eampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 152
48
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryan. Acesso a justiça. Trad. De Ellen Gracie Northfleet. Porto
Alegre;RS, Sergio AntonioFabris Editor, 1988.
28

Interesses “difusos” são interesses fragmentados ou coletivos, tais como o


direito ao ambiente saudável, ou à proteção do consumidor. O problema
básico que eles apresentam – a razão de sua natureza difusa – é que, ou
ninguém tem direito a corrigir a lesão a um interesse coletivo, ou o prêmio
para qualquer indivíduo buscar essa correção é pequeno demais para
induzi-lo a tentar uma ação.49

Note-se que a segunda onda de acesso à Justiça traz à reflexão de


todos acerca do processo civil tradicional, que sempre se pautou na afirmação dos
direitos e garantias individuais.
Continuam os autores a discorrer sobre a segunda onda, com o seguinte
exemplo:

Suponhamos que o Governo autorize a construção de uma represa que


ameace de maneira séria e irreversível o ambiente natural. Muitas pessoas
podem desfrutar da área ameaçada, mas poucas – ou nenhuma – terão
qualquer interesse financeiro direto em jogo. Mesmo esses, além disso,
provavelmente não terão interesse suficiente para enfrentar uma demanda
judicial complicada. Presumindo-se que esses indivíduos tenham
legitimação ativa (o que é frequentemente um problema), eles estão em
posição análoga à do autor de uma pequena causa, para quem uma
demanda judicial é antieconômica. Um indivíduo, além disso, poderá
receber apenas indenização de seus próprios prejuízos, porém não dos
efetivamente causados pelo infrator à comunidade. Consequentemente, a
demanda individual pode ser de todo ineficiente para obter o cumprimento
da lei; o infrator pode não ser dissuadido de prosseguir em sua conduta. A
conexão de processos, é, portanto, desejável – muitas vezes, mesmo,
necessária – não apenas do ponto de vista de Galanter, senão também do
ponto de vista da reivindicação eficiente dos direitos difusos.50

Veja que o processo civil limitava-se à resolução do litígio entre duas


partes, não havendo abertura de espaço para a tutela coletiva. Esta fora indesejável,
sobretudo no que pertine à reparação dos danos eventualmente causados. Se por
um lado o dano poderia ser sofrido por todos ao mesmo tempo – e neste caso a
demanda deveria ser coletiva, por outro lado, a reparação deste mesmo dano,
mesmo sendo coletiva, não atraia os prejudicados, que preferiam ingressar de forma
individual para a busca de uma reparação justa.
Nesse aspecto, pontua Rodolfo de Camargo Mancuso:

A segunda das ondas renovatórias do processo civil propugnou pela


judiciabilidade dos interesses que se diriam dessubstantivados, esparsos
por vastas coletividades cujos sujeitos são indeterminados e o objeto é

49
Idem, p. 26-27.
50
Ibidem
29

indivisível – os interesses difusos -, mencionados no art. 129, III, da CF,


definidos no art. 81, I, do CDC (Lei 80.78/90) – e que, ainda antes dessa
positivação, assim os havíamos conceituado: São interesses
metaindividuais, que, não tendo atingido o grau de agregação e
organização necessários à sua afetação institucional junto a certas
entidades ou órgãos representativos dos interesses já socialmente
definidos, restam em estado fluido, dispersos pela sociedade civil como um
todo (v.g., o interesse à pureza do ar atmosférico), podendo, por vezes,
concernir a certas coletividades de conteúdo numérico indefinido (v.g., os
consumidores). Caracterizam-se: pela indeterminação dos sujeitos, pela
indivisibilidade do objeto, por sua intensa litigiosidade interna e por sua
tendência à transição ou mutação no tempo e no espaço.51

Prossegue o autor nesse raciocínio, ao ponderar que:

O reconhecimento da judiciabilidade desses interesses sem dono


repercutiu em pontos nevrálgicos do processo civil: (i) conferiu uma
identidade processual a certos interesses legítimos e outras posições de
vantagem fora e além do desenho clássico dos direitos subjetivos
propriamente ditos, ao deslocar o eixo da legitimação para agir, do clássico
atrelamento à titularidade do direito (pertinência subjetiva do interesse)
para o binômio relevância social do interesse – representatividade
adequada do portador judicial; (ii) essa ocorrência revelou-se
tendencialmente capaz de evitar a deletéria atomização do conflito coletivo,
ao permitir a prolação de uma resposta judiciária unitária, com eficácia
expandida (CDC, art. 103, I), assim propiciando o tratamento molecular do
objeto judicializado; (iii) com isso, potencializou-se a eficácia do processo,
tradicionalmente vocacionado às lides intersubjetivas (Tício versus Caio),
passando a operar como instrumento de reivindicações sociais de largo
espectro, assim inserindo a via judicial no contexto da democracia
participativa[...]52

Esse pensamento individualista processual dos prejudicados tem raízes


históricas do próprio processo de Estado Liberal para o Estado Constitucional, que
garante – ou ao menos deveria garantir – a participação do povo, por o poder emana
deste.
E prossegue o autor ao observar que:
Em verdade, o poder que tem o modo de governar diretamente se acha
algemado por dispositivo do próprio texto constitucional, que a
hermenêutica cega de alguns intérpretes faz colidir e entrar em contradição
com a base principiológica do referido parágrafo único do art. 1º da
Constituição. Ora, é essa base que compõe nos países periféricos a
essência e o substrato contemporâneo da legitimidade de suas
Constituições.53

51
MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Interesses difusos – Conceito e legitimação para agir. 6 ed., São
Paulo: Ed. RT, 2004, p. 150. In: MANCUSO, Rodolfo de Camargo. A resolução dos conflitos e a função
judicial no contemporâneo Estado de Direito. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009, p. 316.
52
Idem, pp. 316-317.
53
Idem.
30

Nesse diapasão, aduz com clareza Elton Venturi:

A concepção tradicional do processo civil não deixava espaço para a


proteção dos direitos difusos. O processo era visto apenas como um
assunto entre duas partes, que se destinava à solução de uma
controvérsia entre as mesmas partes a respeito de seus próprios
interesses individuais. Direitos que pertencessem a um grupo, ao público
em geral ou a um segmento do público não se enquadravam bem nesse
esquema. As regras determinantes da legitimidade, as normas de
procedimento e a atuação dos juízes eram destinadas a facilitar as
demandas por interesses difusos intentadas por particulares.54

Segue nesse mesmo sentido o autor:

A implementação do sistema de tutela jurisdicional coletiva no Brasil, muito


mais que representar um aperfeiçoamento das técnicas de acesso à
Justiça, caracteriza verdadeira revolução científica no campo do processo
civil, na medida em que desafia a descoberta de novos princípios, métodos
e objetivos operados por via das ações coletivas.55

Esse aperfeiçoamento do sistema de tutela jurisdicional que abarcava


somente a tutela individual, ainda perdura em nosso sistema vigente, como bem
ressalta Rodolfo de Camargo Mancuso:

Ainda hoje, segmentos mais conservadores pretendem que o Judiciário


deva postar-se como um Poder discreto, avesso a expansões e
engajamentos sociais e políticos, não só pelo risco de comprometimento
da isenção/imparcialidade, mas também porque, ao contrário do que se
passa com o Executivo e o Legislativo, não haure o Judiciário sua
legitimidade a partir de um mandado outorgado pela população, detentora
originária do Poder político (CF, §1º do art. 1º). Tal argumento, verdadeiro
que seja no ponto em que sobreleva a legitimação técnica dos Juízes
(dentre nós, aprovação em concurso ou recrutamento pelo quinto
constitucional), todavia não comporta a ilação de que, por conta disso,
devam os juízes limitar-se a pronunciar mecanicamente a letra da lei,
despojando-se da condição de cidadãos inseridos num dado contexto
sócio-politico-econômico, ficando como que descompromissados com a
real efetividade dos comandos que pronunciam.56

A ideia de participação popular, nesse aspecto, transcende o direito ao


voto, entre outras situações em que o povo participa da tomada de decisões em favor
da coletividade, vestindo, de forma, definitiva, a roupagem dos direitos e garantias

54
VENTURI, Elton. Processo Civil Coletivo (A Tutela Jurisdicional dos Direitos Difusos, Coletivos e
Individuais Homogêneos no Brasil – Perspectivas de um Código Brasileiro de Processos Coletivos). São
Paulo: Malheiros Editores, 2000, p. 24.
55
Idem, p. 24.
56
MANCUSO, Rodolfo de Camargo. A resolução dos conflitos e a função judicial no contemporâneo
Estado de Direito. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009, p. 286.
31

fundamentais consagrados ao possibilitar a participação do povo no processo coletivo


e de forma coletiva.
Pontua, nesse sentido, o mesmo autor supra:

Com a democracia participativa o político e o jurídico se coagulam na


constitucionalidade enquanto simbiose de princípios, regras e valores, que
fazem normativo o sistema, tendo por guia e chave de sua aplicação a
autoridade do intérprete; mas do intérprete legitimado democraticamente
enquanto juiz eletivo que há de compor os quadros dos tribunais
constitucionais. Nisto consiste a essência e o espírito da nova legitimidade:
o abraço com a Constituição aberta, onde, sem cidadania não se governa
e sem povo não se alcança a soberania legítima.57

Denota-se que a tendência, por mais que se esbarre nos entraves históricos
da tutela coletiva que ainda insiste em se perdurar no Poder Judiciário, é a de
resolução dos conflitos coletivos, ou então, os interesses que fogem da esfera
individual.
Como bem apregoa Marcelo Abelha:

[...] é muito importante que ao estudarmos as técnicas processuais


coletivas do CDC estejamos desarmados do pensamento individual, ou,
pelo menos, reconhecendo que deve haver uma certa dose de esforço
científico para encontrar soluções teóricas para determinadas situações
coletivas, tendo em vista, aprioristicamente, as regras principiológicas do
direito processual coletivo.58

Cabe-nos distinguir quais são esses conflitos coletivos de interesses, bem


como a sua recepção pelo Judiciário.
Antes de distingui-los, cabe a ponderação de Rodolfo de Camargo
Mancuso, ao discorrer que a jurisdição coletiva é aquela que:

[...]apresenta-se, antes de mais nada, como um modo de ser do braço


judiciário do Estado, voltada a dirimir conflitos de largo espectro, em
grande parte motivados ou pela inação/incompetência das instâncias
administrativas que deveriam tê-los satisfatoriamente dirimido, ou pela
oferta irregular/insuficiente das medidas e programas implementados.59

57
BONAVIDES, Paulo. Teoria constitucional da democracia participativa – por um direito constitucional de
luta e resistência; por uma nova hermenêutica – por uma repolitização da legitimidade. São Paulo:
Malheiros Editores, 2001, p. 36.
58
ABELHA, Marcelo. Ação civil pública e meio ambiente. – 2 ed. – Rio de Janeiro: Forense .Universitária,
2004, p. 13,
59
MANCUSO, Rodolfo de Camargo. A resolução dos conflitos e a função judicial no contemporâneo
Estado de Direito. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009, pp. 325.
32

A despeito de ser o acesso à justiça coletiva como um direito humano


fundamental, registre-se que o processo coletivo como instrumento garantidor do
acesso à justiça é a própria consolidação dos direitos fundamentais, como aduz
Danielle Annoni:

O Estado, pressionado a reformular suas instituições jurídico-políticas,


passou, então, a empreender reformar a fim de atender aos novos direitos
e, consequentemente, aos novos sujeitos de direitos, em suas demandas
coletivas e difusas. Dentre suas preocupações mais legítimas encontram-
se a prestação jurisdicional estatal e a ampliação do direito ao acesso das
garantias processuais e dos mecanismos que tornem eficazes ao
indivíduo, e a toda a comunidade, a cessação da violação do direito e/ou a
sua reparação.60

Referida questão recai sobre a própria celeridade do processo, uma vez


que, não basta somente o Poder Judiciário estar à disposição (princípio da inércia) do
cidadão, mas também promover a prestação jurisdicional de forma ágil, célere e
justa, a fim de que haja um tempo hábil de duração do processo.
O direito humano fundamental ao acesso à justiça coletiva se perfaz sob o
prisma da celeridade, obtendo assim, a efetividade no cumprimento dos direitos e
garantias fundamentais, de modo que tornar efetivo o direito fundamental ao acesso
à justiça coletiva é dar resultado a algo já arquitetado, aplicando-se o direito em sua
tridimensionalidade.
Nesse aspecto, asseveram Marcelo Dias Varella e Ana Flávia Barros
Platiau que:

[...] pode-se concluir que, para que realmente uma norma seja efetiva, é
preciso, primeiro, que ela seja dotada de sua validade formal, valorativa e
dotada de eficácia, isto é, esteja regularmente aperfeiçoada como e
enquanto norma jurídica, em conformidade com os valores reconhecidos
socialmente, e adequada à realidade na qual se insere. Se algum desses
requisitos estiver viciado, restará prejudicada a efetividade da norma.
Nesse panorama, o discurso da efetividade recai para o campo do pós-
positivismo da norma jurídica, em que o direito se movimenta para os
anseios sociais que não mais priorizam ao exagero o aspecto da validade
formal da norma. Percebe-sea presença e a aceitação mais ampla de um
estudo da efetividade desde o momento em que ocorra uma maior

60
ANNONI, Danielle. O direito humano de acesso à Justiça no Brasil. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris
Editor, 2008, p. 183.
33

associação com a realidade em si e a correspondência da norma para com


ela61.

Desta forma como instrumento garantidor do acesso à justiça, a prestação


jurisdicional deve dissociar-se dos padrões arcaicos e burocráticos individualistas,
além de garantir ao detentor do interesse coletivo a duração razoável do processo, de
modo a garantir o direito fundamental humano ao acesso à justiça e à busca dos
próprios direitos fundamentais humanos – o bem da vida que se busca através da
esfera jurisdicional.

2.4 A influência das ações coletivas no direito anglo-saxão: as classactions

Imprescindível discorrer acerca da influência do modelo de ações coletivas


norte-americanas, as denominadas classactionssobre o processo coletivo brasileiro,
62
sobretudo no que pertine à legitimidade .

61
BARROS-PLATIAU Ana Flávia, VARELLA Marcelo Dias (Orgs). A Efetividade do Direito Internacional
Ambiental. Brasília: Ed. UNICEUB, UNITAR e UnB, 2009, p. 13.

Em termos de demanda coletiva, os primitivos escritos sobre o tema foram feitos por Joseph Story. O
primeiro caso West v. Randall, ocorrido em 1820, na verdade, passou a ser considerado não pelo seu
conteúdo ou julgado, mas, sim, por ter inspirado no autor o interesse pelo tema, na medida em que o fez
refletir e tecer comentários em torno da grouplitigation. Na espécie, um morador de Massachusetts ajuizou
uma ação alegando que o seu patrimônio teria sido dilapidado pelo réu, na qualidade de trustee(uma
espécie de gestor de negócios). O processo estava tramitando na Justiça Federal, tendo sido firmada sua
competência sob o fundamento da diversidade de jurisdição, embora, na realidade, seja provável que a
causa, de fato, tenha sido a ausência de tribunal de equidade em Rhode Island. Story comenta que a
situação poderia ter sido diferente se houvesse outras pessoas interessadas, como herdeiras, que
figurassem como litisconcortes necessárias. Consequentemente, o feito poderia não prosseguir na Justiça
Federal, na medida em que poderia deixar de existir a diversityjurisdictionentre as partes. Mas, segundo o
raciocínio desenvolvido por Story, a partir do estudo deprecedentes ingleses, a presença do interesse de
outras pessoas não precisaria ensejar sempre o litisconsórcio necessário: “Onde as partes são muito
numerosas e a corte percebe que será quase impossível trazê-las perante o tribunal, ou onde a questão é
de interesse geral em que uns poucos podem promover uma ação em benefício de todos que dela fazem
parte; nesses e em casos análogos, a ação se demonstra não ser meramente em nome dos autores, mas
de todos os outros interessados; o pedido para formação de litisconsórcio necessário deverá ser repelido e
o tribunal deverá dar prosseguimento ao processo até a decisão de mérito.” Cf. MENDES, Aluisio
Gonçalves de Castro. Ações coletivas no direito comparado e nacional. – 2 ed. rev., atual. eampl. – São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010,pp.58-59.
62
Conforme Marcelo Abelha, “O sujeito processual só estará credenciado a atuar na posição jurídica
processual respectiva se possuir legitimidade para tanto. Exatamente por isso, a palavra legitimidade
exprime ideia de transitividade, de caráter relacional, e só existe perante uma dada situação. Assim, só é
legítimo com relação a alguma coisa e/ou alguém, não sendo lícito pensar que a legitimidade seja sinônimo
de atributo de alguém e que por isso mesmo exista de per si e acompanhe essa pessoa em qualquer
situação.” E continua o autor: “Quando se fala em legitimidade ad causam (ordinária) ou legitimidade
extraordinária, apenas se está especificando a legitimidade a partir de elementos da demanda, cujo
espectro de abrangência, por ordem lógica, está inserido na legitimidade dos sujeitos do processo. In:
ABELHA, Marcelo. Ação civil pública e meio ambiente. – 2 ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2004, pp.65-66.
34

A classaction(ação de classe), especificamente, a do direito norte-


americano, é definida como um procedimento em que um indivíduo ou um pequeno
grupo de pessoas representa um grupo maior ou classe de pessoas, compartilhando
entre si, interesse comum, de modo que seu cabimento limita-se às hipóteses em que
a união de todos os detentores do direito (estes que poderiam, em tese, ser partes no
mesmo processo) não é plausível, em razão da impossibilidade de se quantificá-los.
No modelo common law, do Estado Norte-Americano, os cases de maior
repercussão ganham status de fonte de direito, abrindo, assim, precedentes para que
se julguem os casos semelhantes da mesma maneira, assemelhando-se com o papel
da jurisprudência brasileira.
A respeito dos casos de tutela coletiva norte-americana, Aluisio Gonçalves
de Castro Mendes aponta:

Em 1829, a Suprema Corte apreciou o caso Beaty v. Kurtz, case em que


se permitiu que um grupo de luteranos demandasse um herdeiro que os
estaria ameaçando de lhes retirar a posse do barracão, no qual faziam as
suas pregações, e do cemitério, onde enterravam os seus mortos. O
julgado, também relatado por Story, não apresentava, no entanto, maiores
dificuldades sob o ponto de vista da litigação de grupo, na medida em que
o próprio grupo havia escolhido quem deveria ir a juízo em nome dos
demais. Da mesma forma, não se questionava a existência do interesse
comum.
Em 1836, Joseph Story publicou a sua obra
CommentariesonEquityJurisprudence, na qual demonstrou que havia
adquirido um grande conhecimento sobre as ações coletivas. No trabalho,
o autor e juiz norte-americano apontou, com precisão, a importância e o
papel das demandas coletivas para o Poder Judiciário e para o acesso à
Justiça.63

Veja-se que até me mesmo no modelo classactionnorte-americano


observava-se ainda o ranço do processo individualista, o que se pode verificar na
segunda edição da obra CommentariesonEquityPleadings, como bem traduziu o
aludido autor:

[...] Story, impregnado pelo individualismo da época, passa a enfatizar o


problema das pessoas interessadas, porém ausentes, como parte no
processo, defendendo, no caso, a não-vinculação aos efeitos da decisão

63
MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações coletivas no direito comparado e nacional. – 2 ed. rev.,
atual. eampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p.60.
35

proferida na grouplitigation, na medida em que seus direitos não poderiam


ser afetados ou atingidos:[...]64

Desvinculando-se, de certa forma, ainda que se maneira muito tímida, a


Suprema Corte norte-americana, no ano de 1842, edita um conjunto de normas de
equidade, tendo como a mais conhecida, a EquityRule 48, sendo esta a primeira
65
norma escrita de classactionnos Estados Unidos.
Como reporta Aluisio Mendes:

Finalmente, em 1938, surge nos Estados Unidos o primeiro Código de


Processo Civil no âmbito federal. Dentre as FederalRulesof Civil Procedure
encontrava-se a de n. 23, destinada a regular as chamadas classactions,
que passavam a estar disponíveis para todo o direito e não apenas para os
processos calcados na equidade.
A Rule 23 previa, na verdade, três categorias diversas de ações coletivas:
a) as puras, verdadeiras, autênticas ou genuínas (true); b) as híbridas
(hybrid); e c) as espúrias (spurious) – classificação que é atribuída ao
professor J. Moore, que participou da redação do Código.66

Complementando a explicação que o autor dá acerca da Rule 23, o


mesmo discorre:

Segundo a versão original da Regra 23, nas ações coletivas autênticas e


híbridas, os membros das classes envolvidas estariam sob o efeito do
julgado. Na espúria, todavia, não haveria vinculação de toda a classe, mas
apenas dos membros que tivessem participado do processo, o que a
transformava, na prática, numa espécie de litisconsórcio liberal, na medida
em que apenas as partes, em sentido formal, litisconsortes, estariam
adstritas ao julgado. Junte-se a isso que, em relação à aceitação da
spuriousclassactions, a exigência do pedido de um remédio comum

64
Idem, p. 61.
65
Ibidem.
66
Ibidem.

Conforme Aluisio Gonçalves O texto formulado para a Regra 23, em 1966, sofreu alterações nos anos de
1987, 1998, 2003 e 2007. Em 1º.08.1987, entrou em vigor pequena modificação redacional, alterando, na
alínea (c) (2), as expressões masculinas “he” e “him” para “membro”. Na emenda aprovada em 1998, foi
acrescentada a alínea (f), possibilitando, segundo a discrição da corte, a interposição imediata de recurso
contra as decisões que garantam ou deneguem o procedimento de classe. No ano de 2003, houve
mudança no texto das alíneas (c) e (e), bem como inserção de duas novas – (g) e (h) -, incorporando
basicamente entendimentos firmados na jurisprudência em torno de regras pertinentes à aprovação de
acordos, escolha de advogados e fixação de honorários. Em 2005, houve importante reforma legislativa,
com a entrada em vigor da ClassActionFairnessAct (CAFA), estatuto que incorporou modificações no Título
28 do United StatesCode, com aplicação nacional e tendo como propósito assegurar benefícios justos e
imediatos para os membros da classe, em caso de procedência das suas pretensões; estabelecer regras
relacionadas aos honorários advocatícios, com o intuito de impedir abusos; e restabelecer os parâmetros
de competência, especialmente para que fossem julgados pela Justiça Federal norte-americana os casos
interestaduais de importância nacional sob o preceito da diversidade de jurisdição. Por fim, em 1º.12.2007,
a Rule 23 para por uma última reestruturação de texto, resultando na redação atualmente vigente. In:
MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações coletivas no direito comparado e nacional. – 2 ed. rev.,
atual. eampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010,p. 69.
36

(common reliefbesought) ensejava grandes dificuldades. Havia tribunais,


por exemplo, que negavam seguimento ao processo coletivo, quando os
demandantes estivesses postulando indenizações individuais; todavia, o
entendimento predominante era no sentido de que apenas a espécie de
providência jurisdicional deveria ser comum. Assim sendo, estaria sarisfeito
o requisito da common relief quando todos os membros da classe
pleiteassem ressarcimentos individuais, bem como se o pedido fosse
apenas a condenação de fazer ou determinadas ordens; por outro lado,
não seria admitida a ação se houvesse a conjugação de pedidos de
natureza diversa, como v.g., quando alguns membros estivessem a pedir a
concessão de segurança e outros a de indenizações.67

Há de se ressaltar que a classactionpossui pré-requisitos próprios, como a


classe identificável, não, necessariamente, devendo possuir denominação política ou
social, mas sim clara e precisa, permitindo que se saiba, por conseguinte, o alcance e
os limites subjetivos do julgado, embora não se exija, a priori, desde o limiar do
processo, a indicação exata das pessoas ou mesmo do número certo de
68
interessados.
A numerosidade e a inviabilidade do litisconsórcio também fazem parte do
alicerce da classaction, cuja própria Regra 23 (a) (1) já apregoa que a classe seja tão
69
numerosa que a reunião de todos os membros seja impraticável.
A existência de questões comuns de fato ou de direito também é essencial
para que se caracterize a classaction. A commonality, como é chamada, deve incidir
sobre o ponto relevante para a causa e deve ser, inclusive, conjugada e avaliada em
conformidade com a exigência, contida na Rule 23 (b) (3), de predominância das
70
questões comuns e de superioridade da defesa coletiva sobre a individual.
Por sua vez, a identidade de pretensões ou defesas entre o representante e
a classe é imprescindível, consoante se extrai na Regra 23 (a)(3) a condição
denominada tipicality, segundo a qual devem as pretensões serem típicas de classe,
bem como a existência de representação adequada, valendo asseverar que a
classaction só será admitida e mantida como tal, se as partes representativas
71
efetuarem a justa e adequada proteção dos interesses de classe.

67
Ibidem, p. 67.
68
MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações coletivas no direito comparado e nacional. – 2 ed. rev.,
atual. eampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010,pp.70-71.
69
Idem, p. 71.
70
Ibidem.
71
Ibidem.
37

O papel do juiz, nas ações de classe, é de suma importância, como bem


pontua Teori Albino Zavascky:

Destaca-se, na ação de classe, o importante papel desempenhado pelo


juiz, a quem é atribuída uma gama significativa de poderes, seja para o
exame das condições de admissibilidade da demanda e da adequada
representação ostentada pelos demandantes, seja para o controle dos
pressupostos para o seu desenvolvimento e a sua instrução. Atendidos os
requisitos de admissibilidade e de desenvolvimento do processo, a
sentença fará coisa julgada com eficácia geral, vinculando a todos os
membros da classe, inclusive os que dele não foram notificados, desde
que tenha ficado reconhecida a sua adequada representação.72

Feitas as ponderações a respeito das classactions(seu surgimento, as


modificações e as influências no direito norte-americano, bem como as modificações
em seu texto e requisitos primordiais), resta-nos discorrer a respeito da influência que
estas ações de classe possui perante o processo coletivo brasileiro.
Segundo Marcelo Abelha:

Sem dúvida, o texto original da lei de ação civil pública e o que depois foi
acrescentado pelo Ministério Público tiveram decisiva inspiração no modelo
da classaction do direito anglo-saxão, tal como denuncia a própria
justificação de motivos da referida lei, com expressa referência à Regra 23
das classactions norte-americanas e o sistema da representatividade
adequada (adequacyrepresentation) do legitimado à sua propositura.73

Referido autor correlaciona as características da ação civil pública com as


ações de classe norte-americanas. Em uma análise mais aprofundada, Liane
Tabarelli Zavascki pontua as seguintes diversidades entre os dois modelos de tutela
coletiva de direitos:

1) Pré-requisitos: De um lado, tem-se os requisitos exigidos na Rule 23 da


Federal RulesofCivilProcedure para a propositura da classaction ; de outro,
para a propositura de uma ação civil pública seexige somente a existência
de uma violação de um interesse difuso (art. 81, CDC);
2) Legitimidade ativa: No sistema norte-americano, não há óbice para que
representantes defendaminteresses e direitos de um grupo em juízo nas
classaction , embora não façam parte da classe, talcomo no caso das
unincorporatedassociations. No direito pátrio, consoante do art. 6º, CPC,

72
ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo: tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. Tese
de Doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005, p.18.
73
ABELHA, Marcelo. Ação civil pública e meio ambiente. – 2 ed. – Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2004, p. 22.
38

ninguémpode pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando


autorizado por lei;
3) Representatividade adequada: Na ação civil pública, o legislador
presume a representatividade doslegitimados ativos para a tutela dos
interesses difusos. Nos EUA, o advogado (classcounsel) querepresentará
o grupo é eleito pelo julgador. Pode, ademais, haver substituição ou reforço
darepresentação. O Brasil desconhece absolutamente essa prática;
4) Atos de comunicação: Na ação civil pública brasileira, em se tratando de
direitos individuaishomogêneos em causa, a comunicação é feita pela
imprensa oficial e a decisão proferida no bojo daação não prejudica as
partes ausentes; já nos Estados Unidos, não há distinção entre
direitosindividuais homogêneos, direitos coletivos e direitos difusos.
Reconhece-se somente os direitoscoletivos. Ainda, a comunicação das
partes interessadas em uma ação de classe (notice) é pressupostoexigido
e apreciado rigidamente pelos tribunais, criando, inclusive, embaraços e
onerosidade excessivapara o representante a fim de cumpri-la[50];
5) Efeito do julgado: No brasil, a coisa julgada nas ações civis públicas se
dá secundumeventum litis .Não há coisa julgada em ações coletivas
julgadas improcedentes por insuficiência de provas. Já nosEUA tem-se o
bindingeffect (efeito vinculante - espécie de coisa julgada erga omnes),
pois entende-seque a adequada atuação do representante produz
resultado igual ao resultado que seria obtido se aspartes ausentes
tivessem participado do feito.74

Seja na Lei da Ação Civil Pública, com nítida semelhança, seja nos demais
instrumentos jurídicos de tutela coletiva, as classactionsdesenvolveram, ao longo dos
anos, papel de suma importância sobre o processo coletivo brasileiro, tendo como
norte o rol de legitimados, que pode ser preenchido por todos os interessados
(detentores do bem da vida tutelado), ou então parte deles e porque não, de apenas
um indivíduo, que age sozinho, mas em favor de toda uma coletividade, mesmo
incontável.
Surge, a partir dos ideais norte-americanos, na década de oitenta, um novo
modelo que, certamente, serviu de base para os estudos avançados de direito
processual civil brasileiro, por um grupo de juristas processualistas, culminando numa
corrente doutrinária que desaguou na Lei da Ação Civil Pública.
Nítidas, também, são as diferenças entre as regras da classactions,
sobretudo a Rule 23, com a Lei da Ação Civil Pública, não perdendo, mesmo assim, a
identidade com as normas estrangeiras.

74
ZAVASCKI, Liane Tabarelli. Influência do sistema das classactions norte-americanas na Ação
CivilPública e Ação Popular Brasileira: semelhanças e distinções para a tutela ambiental.
ProcessosColetivos, Porto Alegre, vol. 3, n. 3, 01 set. 2012. Disponível
em:http://www.processoscoletivos.net/doutrina/36-volume-3-numero-3-trimestre-01-07-2012-a-30-09-
2012/1004-influencia-do-sistema-das-class-actions-norte-americanas-na-acao-civil-publica-eacao-popular-
brasileira-semelhancas-e-distincoes-para-a-tutela-ambiental - Acesso em: 09-Nov-2012
39

Diante do que se pode observar acerca do processo coletivo norte-


americano, sobretudo quando se trata de legitimidade, mesmo com os problemas
torrenciais individualistas que tendem a permanecer até os dias atuais, diversas
foram as modificações a respeito de garantir maior efetividade à tutela dos interesses
coletivos, de modo a dar lugar aos instrumentos coletivos, como bem ressalta
Zavascki:

Os pontos mais sensíveis para a estruturação de um processo capaz de


dar resposta às exigências e aos desafios do novo tempo foram detectados
desde logo: a legitimação ativa, que deveria despojar de seus vínculos
estritamente individualistas, a fim de permitir que indivíduos ou grupos
atuem em representação dos interesses difusos; e a coisa julgada, que
também deveria assumir contornos mais objetivos, para vincular a todos os
membros do grupo, ainda que nem todos tenham tido a oportunidade de
ser ouvidos. A nova compreensão desses dois institutos deu ensejo a que
se percebesse, com clareza, que a visão individualista do devido processo
judicial está cedendo lugar rapidamente, ou melhor, está se fundindo com
uma concepção social, coletiva. Apenas tal transformação pode assegurar
a realização dos direitos públicos relativos a interesses difusos.75

Cabe-nos discorrer acerca dos direitos que transcendem a esfera do


individual. Quais os bens jurídicos coletivos que buscam a tutela jurisdicional, bem
como sua eficácia, como o próprio acesso à Justiça pela busca de direitos e garantias
fundamentais.

2.5 O percurso histórico da tutela coletiva brasileira

A preocupação em garantir maior efetividade ao acesso à justiça, fugindo,


assim, dos padrões arcaicos e individualistas do processo deu-se, com maior ênfase,
no ordenamento jurídico brasileiro.
Consoante preceitua Teori Albino Zavaski, foi o legislador brasileiro, na
verdade, que protagonizou, de modo muito mais profundo e mais rico do que nos
demais países do civil law a “revolução” mencionada por Cappelletti e Garth, em prol
76
da criação de instrumentos de tutela coletiva.

75
ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo: tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. Tese
de Doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005, p.20.
76
Idem, p. 22.
40

Necessário compreender que esse percurso rumo à tutela coletiva é


dividido em dois grandes períodos. O primeiro deles, na década de 1950, com a
edição da Lei n. 1.134/1950, a qual preceitua que às associações de classe
existentes na data da publicação desta Lei, sem nenhum caráter político, fundadas
nos termos do Código Civil e enquadradas nos dispositivos constitucionais, que
congreguem funcionários ou empregados de empresas industriais da União,
administradas ou não por ela, dos Estados, dos Municípios e de entidades
autárquicas, de modo geral, é facultada a representação coletiva ou individual de
seus associados, perante as autoridades administrativas e a justiça ordinária.
Além deste documento legal, o anterior Estatuto da Ordem dos Advogados
do Brasil, estatuído pela Lei n. 4.215/1963, estabelecia no seu art. 1º, parágrafo
único, que cabe à Ordem representar, em juízo e fora dele, os interesses gerais da
classe dos advogados e os individuais, relacionados com o exercício da profissão.
A própria Carta Maior de 1934, previa em seu art. 113, n. 38, que qualquer
cidadão será parte legítima para pleitear a declaração de nulidade ou anulação dos
atos lesivos do patrimônio da União, dos Estados ou dos Municípios. Referia-se à
ação popular, mantendo-se, a partir de então, em todas as Constituições posteriores,
inclusive a vigente.
Neste recorte temporal, não havia doutrina que reportasse a respeito da
possibilidade de se tutelar direitos coletivos.
Com relação ao sistema atual, diversos foram os encontros internacionais
que lançaram o debate sobre a tutela coletiva de direitos, tais como o Congresso de
Pavia, de 1974, o Congresso de Florença, em 1975, além do Congresso de Salermo,
também em 1975.
Não se pode negar o papel imprescindível e de relevância que a doutrina
processualista brasileira teve no que pertine à defesa dos interesses metaindividuais.
Conforme uma das figuras de maior participação mesmo aduz:

O estudo dos interesses coletivos ou difusos surgiu e floresceu na Itália


nos anos setenta. Denti, Cappelletti, ProtoPisani, Vigoriti, Trocker,
anteciparam o Congresso de Pavia de 1974, que discutiu seus aspectos
fundamentais, destacando com precisão as características que os
distinguem: indeterminados pela titularidade, indivisíveis com relação ao
objeto, colocados a meio caminho entre os interesses públicos e os
privados, próprios de uma sociedade de massa e resultado de conflitos de
41

massa, carregados de relevância política e capazes de transformar


conceitos jurídicos estratificados, como a responsabilidade civil pelos
danos causados no lugar de responsabilidade civil pelos prejuízos sofridos,
como a legitimação, a coisa julgada, os poderes e a responsabilidade do
juiz e do Ministério Público, o próprio sentido da jurisdição, da ação, do
processo [...].Nesse sentido, de um modelo processual individualista a um
modelo social, de esquemas abstratos a esquemas concretos, do plano
estático ao plano dinâmico, o processo transformou-se de individual em
coletivo, ora inspirando-se ao sistema das classactions da commomlaw,
ora estruturando novas técnicas, mais aderentes à realidade social e
política subjacente.77

78
No Brasil, os doutrinadores de renome, como Barbosa Moreira , Waldemar
79 80
Mariz e Ada Pellegrini Grinover , por via de seus trabalhos publicados, fizeram
repercutir em todo o cenário nacional as novas bases do processo coletivo,
culminando num movimento de grande relevo brasileiro, o qual culminou com a Lei
da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n. 6.938/81), a qual incluiu no artigo 14,
via do §1º, a possibilidade de o Ministério Público ajuizar ação civil de reparação de
danos causados ao meio ambiente. Entretanto, a lei disse apenas isso, deixando uma
lacuna quanto às regras dessa ação de responsabilidade civil por dano ambiental,
81
recaindo sobre o CPCa tarefa de regular as regras de direito processual.
No que diz respeito à tutela coletiva ambiental, este período foi considerado
como um marco na história da proteção jurisdicional ambiental. Nesse aspecto, o
trabalho de VicenzoVigoritifoi substancial para a compreensão de vários institutos
82
basilares relacionados com os interesses difusos.
Em 1982, a Associação Paulista dos Magistrados organizou um evento, a
fim de que seria posta em debate a tutela dos direitos difusos, tendo inclusive, fruto,
por publicação de livro coordenado por Ada Pellegrini Grinover sendo que, na
ocasião, fora proposto que os processualistas fizessem um anteprojeto de lei relativo
à proteção jurisdicional dos interesses difusos. Kazuo Watanabe, Cândido Rangel

77
GRINOVER, Ada Pellegrini. Significado social, político e jurídico da tutela dos interesses difusos. Revista
de Processo, ano 25, n. 97, janeiro-março de 2000. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000, p. 09.
78
Cf. MOREIRA, José Carlos Barbosa. A ação popular no direito brasileiro como instrumento de tutela
jurisdicional dos chamados interesses difusos. In: Temas de direito processual. São Paulo: Saraiva, 1977.
79
OLIVEIRA JÚNIOR, Waldemar Mariz de. Tutela jurisdicional dos interesses coletivos. In: Estudos sobre
o amanhã – ano 2000, Caderno 2. São Paulo: Resenha Universitária, 1978, pp. 257-284.
80
GRINOVER, Ada Pellegrini. A tutela jurisdicional dos interesses difusos. Tese apresentada à VII
Conferência Nacional da OAB (abril de 1978) e publicada na Revista da Procuradoria Geral do Estado de
São Paulo, n. 12, 1979.
81
ABELHA, Marcelo. Ação civil pública e meio ambiente. 2 ed. – Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2004, p. 15.
82
Ibidem.
42

Dinamarco, Ada Pellegrini Grinover e Waldemar Mariz de Oliveira Júnior aceitaram e


assim o fizeram, oferecendo ao Deputado Flávio Bierrenbach, em novembro de 1984,
como Projeto de Lei n. 3.034, sendo fruto disso foi a conhecida Lei da Ação Civil
83
Pública (Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985.
A Lei da Ação Civil Pública, na concepção de Zavaski:

Mais que disciplinar um novo procedimento qualquer, a nova Lei veio


inaugurar um autêntico sub-sistema de processo, voltado para uma tutela
de também original espécie de direito material: a dos direitos
transindividuais, caracterizados por se situarem em domínio jurídico, não
de uma pessoa ou de pessoas determinadas, mas sim de uma
coletividade.84

Referida lei previa responsabilidade aos causadores de danos ao meio


ambiente, ao consumidor e a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico.
Três anos após, a promulgação da Constituição Cidadã consagrou a
redemocratização dos interesses difusos, trazendo esta, em seus dispositivos
85 86
esparsos, a tutela coletiva, como se denota do art. 5º, XXI , bem como o art. 8º, III ,
87
além de manter as ações populares no inciso LXXIII , do art. 5º, elevar a ação civil

83
A lei da ação civil pública é de autoria mista, tratando-se da mescla de dois projetos de lei diversos. O
original, comandado por Adda Pelegrini Grinover, Candido Rangel Dinamarco e Waldemar Mariz de
Oliveira, cujo objetivo era criar uma lei de cunho processual para a defesa do meio ambiente, tendo por
base a ação de responsbilidade, prevista no parágrafo primeiro, do artigo 14, da Política Nacional de Meio
Ambiente (Lei n. 9.638/81).O segundo projeto alcançou primeiramente o status de lei, que é de autoria do
Ministério Público do Estado de São Paulo, por Nelson Nery Jr., ÉdisMilaré, Antônio Augusto Mello de
Camargo Ferraz). Aproveitaram-se as bases do primeiro projeto, mas ampliou a legitimidade ativa, o
objeto, a competência do local do dano, o inquérito civil etc.Tudo isso para a tutela processual dos conflitos
de massa, com a intenção de mitigar o sistema individualista e o tímido aparato da Ação Popular.A
aprovação se deu ao texto original (o primeiro), prevendo o remédio para a defesa dos direitos dos
consumidores e do meio ambiente. Em 1990, com o advento do Código de Defesa do Consumidor – CDC,
a Ação Civil Pública passou a ser utilizada para a defesa de todos os direitos difusos e coletivos, como
idealizado pelos autores do projeto inicialmente concebido.Desta forma, a Ação Civil Pública passou a ter
status de remédio processual para qualquer direito difuso e coletivo.Atualmente, a Ação Civil Pública (Lei
n. 7.374/85) e uma lei eminentemente processual, servindo a tutela de qualquer direito supraindividual (não
só o meio ambiente). É um instrumento para impor soluções para todo e qualquer tipo de crise jurídica,
entre elas, a crise ambiental.
84
ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo: tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. Tese
de Doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005, p.23.
85
Art. 5.º. (...) XXI – as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para
representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente.
86
Art. 8º. É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: (...) III – ao sindicato cabe a
defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
administrativas.
87
Art. 5.º. (...) LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise anular ato
lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao
43
88
pública, como se vê do art. 129, III e criar as ações de mandado de segurança
coletivo, objeto do art. 5º, LXIX e LXX.
A Carta Magna de 1988 consagrou de vez a tutela dos direito coletivos,
como pontua Teori Albino Zavaski:

[...] ficou expressamente consagrada, com marca da sua estatura superior,


a tutela material de diversos direitos com natureza transindividual, como o
direito ao meio ambiente sadio (art. 237), à manutenção do patrimônio
cultural (art. 216), à preservação da probidade administrativa (art. 37, §4º)
e à proteção do consumidor (art. 5º, XXXII). A Carta Magna também elevou
à estatura constitucional os instrumentos para a tutela processual desses
novos direitos. Foi alargado o âmbito da ação popular (art. Art. 5º, LXXIII),
que passou a ter por objeto explícito um significativo rol de direitos
transindividuais (moralidade administrativa, meio ambiente, patrimônio
histórico e cultural) e conferiu-se legitimação ao Ministério Público para
promover inquérito civil e ação civil pública destinados a tutelar qualquer
espécie de direitos e interesses difusos e coletivos (art. 129, III).89

Ante aos novos dispositivos constitucionais, após a promulgação da Carta


Cidadã, várias normas infraconstitucionais foram criadas para o fim de regulá-las,
como a própria Lei n. 7.707, de 10 de julho de 1989, que instituiu o Fundo Nacional
de Meio Ambiente.
Constata-se que o caminho rumo à tutela coletiva de interesses ou tutela de
interesses coletivos foi por demasia longo, e graças aos doutrinadores
processualistas, este tomou rumo mais próximo à efetividade dos direitos
fundamentais, tais como o próprio acesso à Justiça.

2.6 Os interesses ou direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos

Os direitos coletivoslato sensu são aqueles que transcendem o individual,


atingindo uma série de sujeitos, titulares de tais direitos ou interesses.
O interesse, como bem ressalta Marcelo Abelha:

meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de
custas judiciais e do ônus da sucumbência.
88
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: (...) III – promover o inquérito civil e a ação civil
pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e
coletivos.
89
ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo: tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. Tese
de Doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005, p.23.
44

[...] pode ser conceituado como “uma situação favorável à satisfação de


uma necessidade”. Assim, a ideia de interesse está ligada ao juízo de valor
que um indivíduo formula no sentido de que possui uma aspiração
(necessidade) que só será suprimida por determinado objeto ou coisa
específica. Enfim, ligam-se sujeito e sua necessidade a um bem, Desta
forma, firma-se a ideia de que o interesse vincula-se ao final à ideia de
utilidade.90

Curial trazer a consideração de Mancuso, ao discorrer que:

Com efeito, desde o início do século e até nossos dias, assiste-se ao


crescimento formidável do processo corporativo, insuflado, em boa medida,
pela massificação da sociedade e pela globalização da economia:
sindicatos, associações, trustes, cartéis, holdings, conglomerados
financeiros, empresas multinacionais, partidos políticos, lobbies etc. Tem-
se mesmo a impressão de que o indivíduo, isoladamente considerado, não
mais “existe”, tragado pela voragem dos “sistemas” aos quais é agregado
compulsoriamente, manifestando-se socialmente através de cartões, cifras,
senhas e códigos de toda espécie. É curioso observar que o indivíduo
buscou o grupo como forma de melhor assegurar sua realização pessoal,
como também, para se proteger; renunciou, assim, a certas vantagens
pessoais, em nome dos interesses coletivos sustentados pelo grupo ao
qual se filiou.91

A questão terminológica direitose interesses afunilam-se no mesmo sentido:


o liame fático e jurídico dos sujeitos a uma determinada situação, situação esta muito
discutida na doutrina.
Kazuo Watanabe defende que os termos interesses e direitos são utilizados
como sinônimos, esclarecendo que:

[...] a necessidade de estar o direito subjetivo sempre referido a um titular


determinado ou ao menos determinável impediu por muito tempo que os
interesses pertinentes, a um tempo, a toda uma coletividade, como, por
exemplo, os interesses relacionados ao meio ambiente, à saúde, à
educação, à qualidade de vida etc., pudessem ser havidos por
juridicamente protegíveis. Era a estreiteza da concepção tradicional do
direito subjetivo, marcada profundamente pelo liberalismo individualista,
que obstava a essa tutela jurídica. Com o tempo, a distinção doutrinária
entre interesses simples e interesses legítimos permitiu um pequeno
avanço, com a outorga de tutela jurídica a estes últimos. Hoje, com a
concepção mais larga do direito subjetivo, abrangente também do que
outrora se tinha como mero interesse na ótica individualista então
predominante, ampliou-se o espectro de tutela jurídica e jurisdicional.92

90
ABELHA, Marcelo. Ação civil pública e meio ambiente. 2 ed. rev., atual. eampl. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2004, p. 37.
91
MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Interesses difusos: conceito e legitimação para agir. – 7 ed. rev.,
atual. eampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, pp. 42-43.
92
WATANABE, Kazuoet al. Código brasileiro de defesa do consumidor: comentado pelos autores do
anteprojeto. 6 ed. Rio de Janeiro: Forense Universtária, 2000, pp. 718-719. In:MENDES, Aluisio Gonçalves
de Castro. Ações coletivas no direito comparado e nacional. – 2 ed. rev., atual. eampl. – São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2010,p.210.
45

Contudo, Arruda Alvim, Thereza Alvim, Eduardo Arruda Alvim e James


Marins asseveram que:
[...] as expressões interesses e direitos não se equivalem. Em relação
àquela sirva de exemplo a hipótese de poder ser promovida uma ação para
que a coletividade não venha a ser lesada, como, exemplificativamente,
ocorre com a previsão do art. 102 do Código de Proteção e Defesa do
Consumidor, tendo aí sido atribuída legitimidade aos elencados no art. 82
do Código de Proteção e Defesa do Consumidor. Diferentemente, se se
tratar de hipótese de responsabilidade civil objetiva, por danos, onde se
verifica um autêntico direito; na verdade, um direito subjetivo, ainda que, no
caso da coletividade por ela atomizadamente distribuído, tem-se um direito
submetido a um tratamento coletivo ou difuso.93

Rodolfo de Camargo Mancuso, a despeito do tema, de acordo com a


94
terminologia da legislação pátria, elenca esse liame com a concepção de interesse .
Para o autor, o interesse interliga uma pessoa a um bem da vida, em
virtude de um determinado valor que esse bem possa representar para aquela
pessoa; a etimologia dessa expressão confirma-se essa exegese – quod inter est -,
isto é, um certo qualificativo aderente a um objeto e que o torna atraente ao
95
observador.
Nesse aspecto, esse liame, seja fático ou jurídico que liga mais de um
indivíduo e, consequentemente, autoriza a busca pelos interesses em comum,
perpassando a esfera individual, pode, em sentido lato, ser denominado de interesse
público, e deste modo, distinguindo-se daquele em que figura como parte do Estado.
Hugo Nigro Mazzilli, com destreza, afirma que:

93
ALVIM, Eduardo Arruda; ALVIM, Thereza; MARINS, James. Código do consumidor comentado. – 2 ed.
São Paulo: RT, 1995, p. 364. In: MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações coletivas no direito
comparado e nacional. – 2 ed. rev., atual. eampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010,p.209.
94
Para Mancuso, “Sendo ‘interesse’ uma palavra plurívoca, ela se faz presente em mais de um ramo do
conhecimento, podendo esse termo apresentar-se sob o enfoque econômico, com o significado de ‘lucro’,
‘renda’, ‘benefício pecuniário’, ou, mais especificamente, ‘juro’, isto é, remuneração do capital. Sob esse
prisma, ter ‘interesse’ em realizar certo negócio ou operação financeira significa ter uma perspectiva
favorável a uma dada situação de vantagem. Esse interesse material é levado em conta pelo Direito com
necessário à formação do interesse processual (art. 3º do CPC), visto este como a necessidade e a
utilidade do recurso ao Judiciário para se obter o reconhecimento ou a fruição de um certo bem da vida. O
‘interesse’ pode também apresentar-se sob certas conotações que tangenciam o ‘social’ e o ‘jurídico’. Sob
esse prisma, fala-se em ‘interesse social’, ‘público’, ‘geral’, tendo todos esses termos por núcleo comum o
fato de se referirem a interesses metaindividuais, portanto, transcendentes ao indivíduo isoladamente
considerado. Essas expressões apresentam por vezes um conteúdo tão aproximado que poderiam passar
como sinônimas [...]” In: MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Interesses difusos: conceito e legitimação para
agir.7 ed. rev., atual. eampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p. 29.
95
MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Interesses difusos: conceito e legitimação para agir.7 ed. rev., atual.
eampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, pp. 23-24.
46

[...] a expressão mais abrangente ainda é a do interesse público,


identificado com o conceito de bem geral, ou seja, o interesse da
coletividade como um todo. Nesse sentido, nem só não coincide,
necessariamente, o interesse público com o interesse do Estado enquanto
pessoa jurídica, como ainda se pode adiantar que se confundem com o
interesse público os mais autênticos interesses difusos (o exemplo, por
excelência, do meio ambiente). E, num sentido lato, são também públicos
todos os interesses que, posto reflexamente, atinjam a sociedade como um
todo. Mesmo o interesse coletivo (que atinge uma categoria determinada
ou pelo menos determinável de indivíduos) e até o interesse individual, se
indisponível, estão de certa forma inseridos na noção mais ampla, que é do
interesse público.96

Teori Albino Zavaski chama atenção para que não haja confusão entre
defesa de direitos coletivos e defesa coletiva de direitos (individuais), com a seguinte
observação:

É preciso, pois, que não se confunda defesa de direitos coletivos com


defesa coletiva de direitos (individuais). Direitos coletivos são direitos
subjetivamente transindividuais (= sem titular determinado) e
materialmente indivisíveis. Os direitos coletivos comportam sua acepção
no singular, inclusive para fins de tutela jurisdicional. Ou seja: embora
indivisível, é possível conceber-se uma única unidade da espécie de direito
coletivo. O que é múltipla (e indeterminada) é a sua titularidade e daí a sua
transindividualidade. “Direito coletivo” é a designação genérica para as
duas modalidades de direitos transindividuais: o difuso e o coletivo stricto
sensu. É denominação que se atribui a uma especial categoria de direito
material, nascida da superação, hoje indiscutível, da tradicional dicotomia
entre interesse público e interesse privado. É direito que não pertence à
administração pública e nem a indivíduos particularmente determinados.
Pertence, sim, a um grupo de pessoas, a uma classe, a uma categoria ou a
uma própria sociedade, considerada em seu sentido amplo.97

É imprescindível, pois, definir os interesses que transcendem o individual. O


artigo 81, do Código de Defesa do Consumidor, define, nos incisos I a III, os
interesses ou direitos difusos, coletivos e os individuais homogêneos,
respectivamente.
Para o inciso I, os interesses difusos são aqueles transindividuais, de
natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por
circunstâncias de fato, ao passo que o inciso II nos remete aos interesses coletivos
como aqueles transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo,

96
MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor e outros
interesses difusos e coletivos. – 4 ed. São Paulo: RT, 1992, p. 19.
97
ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo: tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. Tese
de Doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005, p.27.
47

categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma
relação jurídica de base, e por fim, como interesses individuais homogêneos, os
98
decorrentes de origem comum.
Registre-se que os direitos transindividuaiscorrespondem o sentido lato de
coletividade. Cuidou bem de esclarecer sobre o assunto, Aluisio Gonçalves, ao
discorrer que:
O primeiro aspecto, subjetivo, diz respeito à transindividualidade, ou seja,
está além do indivíduo, no sentido de que não lhe pertence com
exclusividade, mas, sim, a uma pluralidade de pessoas que poderão ser,
conforme sejam os interesses e direitos difusos ou coletivos,
respectivamente, indeterminadas ou determinadas, bem como ligadas por
circunstâncias de fato ou por uma relação jurídica base. Há, portanto,
identidade quanto à transindividualidade, mas distinção no que diz respeito
à determinação e à natureza do vínculo ou relação entre os interessados.
O segundo elemento, objetivo, é centralmente caracterizado pela
indivisibilidade do interesse ou direito. A impossibilidade de separação não
está afeta ao elemento subjetivo, na medida em que não se exige vínculo
direto e precedente entre as pessoas afetadas, até porque a presença de
relação jurídica entre elas não existirá no caso dos interesses ou direitos
difusos. Por outro lado, o vínculo de direito entre os interessados não
constitui condição sinequa non para a caracterização do interesse ou
direito como coletivo, em sentido estrito, na medida em que a relação pode
ser, tão-somente, com a parte contrária, nos termos da parte final do inciso
II do parágrafo único do art. 81. Consequentemente, a indivisibilidade
figura como qualidade do objeto que se quer buscar para a realização das
necessidades, pertinentes à coletividade, ao grupo, categoria ou classe.
Em termos processuais, a indivisibilidade deve ser apreciada a partir dos
objetos imediato e mediato do pedido formulado.99

No viés humano do direito processual, no que pertine aos direitos


transindividuais, o olhar do poder jurisdicional deve ser atento com relação à
efetividade de sua proteção. Como bem ressalta Rodolfo de Camargo Mancuso:

Os interesses de massa, que se expandem na sociedade contemporânea,


tanto podem vir coalizados num certo segmento (v.g., pais de alunos de
escolas particulares), como podem estar esparsos pela coletividade como
um todo (v.g., a defesa do meio ambiente), representando a superação da
anacrônica concepção pela qual “o que é de todos não é de ninguém e
assim não é judicializável”, substituída por uma concepção humanizada,
coexistencial e cooperativa do Direito e do Processo, permitindo alcançar
diretriz diametralmente oposta: “O que é de todos, justamente por não ter
um específico titular que o proteja, por maior razão necessita de proteção
específica e efetiva”. Com efeito, os interesses afetados a um titular
determinado são naturalmente protegidos por este mesmo, até manu

98
Código de Defesa do Consumidor, Lei n. 8.073/80, art. 81, incisos I, II e III.
99
MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações coletivas no direito comparado e nacional. – 2 ed. rev.,
atual. eampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010,p. 214.
48

própria, como se dá no desforço pessoal em defesa da posse (CC, §1º do


art. 1.210).100

Neste esteio, o direito ao ambiente ecologicamente equilibrado é, sem


sombra de dúvida, um interesse transindividual, mas de modo humanizado, muito
embora corresponda ao interesse da vida em todas as suas formas. Referido
interesse permite que qualquer cidadão possa, em nome de toda a coletividade,
exigir a proteção e o equilíbrio ecológico das autoridades competentes, mas também
tem o dever de preservar e proteger, agindo de forma direta e indireta.

2.6.1 Interesses ou direitos difusos

Os interesses difusos, em conformidade com o sistema legal (art. 81, I,


CDC), correspondem os interesses de natureza indivisível, ligados por uma situação
fatídica.
Para Rodolfo de Camargo Mancuso, os interesses difusos são:

[...] interesses metaindividuais que não tendo atingido o grau de agregação


e organização necessário à sua afetação institucional junto a certas
entidades ou órgãos representativos dos interesses já socialmente
definidos, restam em estado fluido, dispersos pela sociedade civil como um
todo, podendo, por vezes, concernir a certas coletividades de conteúdo
numérico. Caracterizam-se: pela indeterminação dos sujeitos, pela
indivisibilidade do objeto, por sua intensa litigiosidade interna e por sua
tendência à transição ou manutenção no tempo e no espaço.101

Os interesses difusos, com leciona José Carlos Barbosa Moreira:

[...] não pertencem a uma pessoa isolada, nem a um grupo nitidamente


delimitado de pessoas (ao contrário do que se dá em situações clássicas
como a do condomínio ou a da pluralidade de credores numa única
obrigação), mas a uma série indeterminada- e, ao menos para efeitos
práticos, de déficit ou impossível determinação -, cujos membros não se
ligam necessariamente por vínculo jurídico definido. Pode tratar-se, por
exemplo, dos habitantes de determinada região, dos consumidores de
certo produto, das pessoas que vivem sob tais ou quais condições sócio-
econômicas, ou que se sujeitem às consequências deste ou daquele
empreendimento público ou privado.102

100
MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Jurisdição coletiva e coisa julgada: teoria das ações coletivas. – 3 ed.
rev., atual. eampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012, p. 111.
101
MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação popular. 6 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 41.
102
MOREIRA, Carlos Roberto Barbosa. A proteção jurídica dos interesses coletivos. Temas de direito
processual. – 3 série. São Paulo: Saraiva, 1984, p. 184.
49

Para Mauro Cappelletti, os interesses difusos ganham importância


crescente, traduzidos como fenômenos de massa, aduzindo o autor que:

Os interesses difusos representam um fenômeno típico e de importância


crescente, da sociedade moderna, caracterizado pela passagem de uma
economia baseada principalmente em seus relatórios individuais para uma
economia em cujo trabalho, produção, turismos, comunicação, assistência
social e previdenciária, etc., são fenômenos de massa. Se passarmos no
desenvolvimento dos direitos sociais, típicos, ressalto, do moderno Estado
Social e previdencial esses podem comportar benefícios ou vantagens nos
confrontos das vastas categorias.103

Veja que os interesses difusos são aqueles que, devido a impossibilidade


ou até mesmo a dificuldade de se limitar os indivíduos (detentores do direito ou
interessados), permanecem inconteste em virtude de uma determinada situação
fática. Neste, não há necessidade de liame jurídico entre os indivíduos, o que
diferencia, pois, dos interesses coletivos. Nesse passo, diante de uma degradação
ambiental em um determinado espaço (cidade ou comunidade), não há como
determinar quais são os indivíduos detentores do interesse difuso.

2.6.2 Os interesses ou direitos coletivos

Consoante se deflui do inciso II, do art. 81, do CDC, os interesses coletivos


são os de natureza indivisível, mas tendo como titular uma categoria ou grupo,
interligadas por uma relação jurídica de base.
Veja-se que os interesses coletivos possuem dois aspectos que os
diferenciam dos demais transindividuais: a titularidade e o liame. Neste caso, a
titularidade, muito embora esse interesse seja transindividual, recai sobre um
determinado grupo ou classe, ao passo que o liame, neste caso, corresponde a uma
situação jurídica.
Para Marcelo Abelha, em análise dos inciso I e II, do art. 81, do CDC:

Pode-se concluir, pela rasa leitura dos incs. I e II do art. 81, parágrafo
único do CDC, que o divisor de águas entre o interesse difuso e o interesse
coletivo é a aspecto subjetivo. Assim, se o critério objetivo foi o
determinante para colocá-los na vala comum dos interesses

103
CAPPELLETTI, Mauro. O acesso à justiça e a função do jurista em nossa época. Revista de Processo,
n. 61, 144-160. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991, p. 150.
50

essencialmente coletivos, foi o critério subjetivo que o legislador adotou


para diferenciar um de outro.104

Ressalte-se que o liame jurídico no interesse coletivo se dá com a parte


contrária. Nessa mesma esteira percorre o entendimento de Marcelo Abelha, ao
discorrer que:

A preocupação do legislador em estender a proteção ao grupo de pessoas


que não possuam vínculo entre si, mas sim com a parte contrária, decorre
do fato de que, não sendo obrigatório o associativismo (liberdade pública),
é possível que mesmo a pessoa não associada a uma categoria ainda
assim seja titular de um direito coletivo, pelo simples fato de que possui,
como o associado, uma relação jurídica de base com a parte contrária.105

Diante das considerações a respeito dos direitos difusos e coletivos, é de se


concluir, de modo superficial, que o que diferencia ambos é determinabilidade,
devendo-se, neste caso, para se aferir que tipo de direito ou interesse transindividual
se está referindo, deve-se utilizar o critério de exclusividade, como bem determina
Marcelo Abelha:

Ora, se no interesse coletivo os titulares são determináveis, então é sinal


de que existe o caráter exclusive de fruição desse interesse por parte da
categoria à qual o interesse pertença. É exatamente por esse aspecto que
se pode dizer ser um interesse egoísta (em prol apenas daquela
coletividade determinada), visando atender os interesses concretos de
cada um de seus membros.106

A despeito da tendência da busca pela tutela coletiva, Rodolfo de Camargo


Mancuso assevera que os grupos começam a ganhar espaço, donde se observa que
cada vez mais o ideal individualista vai deixando espaço para o ideal coletivo:

É claro que essa “ascensão do coletivo”, veiculada pelos grupos cada vez
mais numerosos e poderosos, não se faz sem o seu preço: ao obter
“espaços” cada vez maiores, esses grupos fazem “concorrência” ao Estado
monocrático, exigindo porções cada vez maiores na partilha do poder, do
que é exemplo o Estado norte-americano, com seus possantes sindicatos
e associações de toda espécie. Se não é possível um meio-termo
totalmente satisfatório entre os polos individual e coletivo, o caminho deve
ser o que leve ao reconhecimento de uma sociedade pluralista, numa
“democracia participativa”, onde aquela indesejável “concorrência” fique

104
ABELHA, Marcelo. Ação civil pública e meio ambiente. 2 ed. rev., atual. eampl. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2004, p. 40.
105
Idem, p. 41.
106
Idem, p. 42.
51

substituída pela colaboração da sociedade civil na gerência da coisa


pública, com a prévia fixação de certos limites e condições.107

Prossegue no mesmo raciocínio o aludido autor:

Na verdade, afigura-se inútil ignorar ou minimizar os interesses coletivos e


os grupos; isso seria, ao mesmo tempo, desconhecer a natureza humana e
a luta contra o inevitável. Atualmente, assiste-se a uma verdadeira “divisão
de trabalho”, pelo critério do elemento predominante: os interesses
privados, para os indivíduos; os interesses coletivos, para os grupos; o
interesse público, para o Estado. Cabe a este último “aceitar” essa
entourage, conviver com ela, deixar que ela lhe facilite a gestão da coisa
pública, ao invés de combate-la, de que são expressivo exemplo as
contemporâneas e existosas parcerias público-privadas. Cabe ao Estado
ter presente que esses três planos não formam compartimentos estanques,
mas, ao contrário, eles interagem e se influenciam mutuamente; daí a
necessidade de critérios político-administrativos flexíveis, como reclama a
doutrina.108

Não há como negar que o caminho dos interesses coletivos lato sensu é
longo e ainda necessita de um bom período de maturidade, sobretudo da própria
população, aliada ao Estado, com programas de fomento ao acesso coletivo à justiça.
Contudo, também não se deve negar que houve um avanço, desde o Estado
Democrático de Direito aos novos modelos de constitucionalismo. O que, sem
sombra de dúvida, resta incontroverso, é que a tutela coletiva é sempre o melhor
caminho para a busca da efetividade dos direitos fundamentais.

2.6.3 Interesses individuais homogêneos ou acidentalmente coletivos

Os interesses individuais homogêneos correspondem, legalmente, ao inciso


III, do art. 81, do CDC. O legislador, a seu turno, apenas diferenciou-os pela origem
comum.
Segundo afirma Marcelo Abelha, a expressão acidentalmente coletivosfoi
trazida por José Carlos Barbosa Moreira:

Como bem disse José Carlos Barbosa Moreira, tais direitos são
acidentalmente coletivos, porque ontologicamente, na sua raiz, não
guardam uma natureza coletiva. Com isso se quer dizer que apenas por
ficção jurídica o legislador permitiu que em casos específicos de interesse

107
MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Interesses difusos: conceito e legitimação para agir. – 7 ed. rev.,
atual. eampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p. 45.
108
Idem, p. 46.
52

social, “assumida a natureza divisível do objeto, ou, a rigor, a multiplicidade


de objetos, que pertencem a cada um dos interessados” (indeterminados
num primeiro momento), fossem tais direitos tratados de modo coletivo, ou
seja, permitindo que se lhes aplicassem também todas as regras de direito
processual coletivo contidas no próprio CDC ou na lei de ação civil pública,
seja para dar maior efetividade ao direito material invocado, seja por
economia processual.109

Os interesses individuais homogêneos são a própria materialização dos


direitos subjetivos individuais, numa roupagem social e coletiva. Para Morato Leite:

[...] de índole individualista, contudo, o legislador, objetivando diminuir o


número de demandas em trâmite no Poder Judiciário, bem como propiciar
uma vazão mais rápida ao acesso à justiça, colocou tais interesses,
artificialmente, como um trato metaindividual. Tem-se duas características
marcantes desta espécie de interesse, ou seja, a origem comum e a
divisibilidade do objeto. É importante observar que o tratamento coletivo
dado ao interesse individual homogêneo favorece a uniformidade de
decisões, reconhecendo o trato via tutela jurisdicional coletiva, seja para
evitar decisões contraditórias, seja para evitar sobrecarga desnecessária
no volume do sérvio do Poder Judiciário.110

A bem da verdade, o legislador teve a intenção de garantir mais uma


válvula de escape no Poder Judiciário, em conformidade com os princípios da
celeridade e economia processual, ao inserir como coletivo um interesse
eminentemente individual. Aliás, esta é a tendência: coletivizar o processo para
garantir a efetividade das pretensões.
Denota-se, como ponto essencial para se diferenciar os interesses
individuais homogêneos dos demais, a relevância social, além da impossibilidade de
litisconsórcio.
Por esta razão é que os interesses individuais homogêneos devem ser
analisados sob a ótica qualitativa, ou seja, o interesse deve guardar uma relação
comum, não necessariamente idêntica, com dimensão social, o que atribui um caráter
coletivo. Na falta de caráter social, referido interesse não possui relação com
individual homogêneo, já que a homogeneidade também deve afigurar-se no

109
ABELHA, Marcelo. Ação civil pública e meio ambiente. 2 ed. rev., atual. eampl. – Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2004, p. 44.
110
LEITE, José Rubens Morato. Dano ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2000, p. 240.
53

presente caso, como um conceito relacional, que deve ser feito sob a luz de um
111
aspecto quantitativo e outro qualitativo.
Cabe aqui, a observação de Rodolfo de Camargo Mancuso acerca do
binômio individual/coletivo:

Parece-nos que o binômio “interesse individual/interesse coletivo” deve ser


visto de modo sereno e objetivo, sem radicalizações ou conclusões
precipitadas. Em primeiro lugar, jamais haverá uma fórmula inteiramente
satisfatória que os conjuguem, dada a natural antinomia dos conteúdos: o
“individual” tende ao egoísmo, imanente à natureza humana; o “coletivo”,
se por um lado persegue objetivos metaindividuais, contém o risco ou o
germe da massificação do indivíduo, tolhendo a livre criação.112

Prossegue no raciocínio o aludido autor, afirmando que os interesses


individuais tendem, naturalmente, a aproximar-se de outros interesses individuais
compatíveis, com vistas à proteção mútua e melhora das possibilidades de sucesso
113
para os integrantes do mesmo segmento.
Diante de todo o percurso histórico, do Estado Liberal ao Estado
Constitucional Democrático de Direito e da vertente atual, percebe-se que o Brasil
avançou de maneira inconteste na permissão de busca de interesses
transindividuais, via da tutela coletiva, pautada no texto preambular da vigente Carta
Magna.
Referido texto deve perder seu papel de mero texto introdutório e passar a
comandar os ideais de justiça e garantia dos direitos fundamentais, sobretudo a tutela
transindividual.
O legislador constitucional e infraconstitucional preocupou-se em tutelar os
interesses transindividuais, de modo a conter, em diversas leis esparsas, regências
basilares desses direitos e da busca pelos mesmos, onde o processo, nesta vertente,
caracteriza-se como um próprio direito fundamental humano.

111
ABELHA, Marcelo. Ação civil pública e meio ambiente. 2 ed. rev., atual. eampl. – Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2004, p. 46.
112
MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Interesses difusos: conceito e legitimidade para agir. 7 ed. rev., atual.
eampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 44.
113
MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Interesses difusos: conceito e legitimidade para agir. 7 ed. rev., atual.
eampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 44.
54

CAPÍTULO 3

DA TUTELA COLETIVA COMO GARANTIA DO DIREITO FUNDAMENTAL


HUMANO AO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO

3.1 O meio ambiente e a tutela jurisdicional: o devido processo legal ambiental


e seus mandamentos nucleares

Como um direito humano fundamental, previsto nos tratados internacionais


de direito ambiental em sua vertente humanística, bem como na Constituição Cidadã
de 1988, o meio ambiente, inconteste assim o é (assunto tratado no Capítulo Um)
deste trabalho.
Também já se asseverou no Capítulo Dois os avanços que a tutela
jurisdicional sofreu, no que tange ao desestímulo das lides individualistas, tal como
preceitua o modelo clássico de processo, e no Estado Democrático de Direito, em
conformidade com o próprio preâmbulo, a participação do povo, garantia que emana
do direito deste.
É nesta vertente que se expressam os instrumentos processuais de garantia
ao acesso à tutela efetiva ambiental.
Consoante ensinamento de Marinoni, o direito à tutela jurisdicional de modo
efetivo exige a técnica processual adequada, capaz de viabilizar a participação e a
própria resposta jurisdicional:

Note-se, em primeiro lugar, que o direito à tutela jurisdicional efetiva tem


relação com a possibilidade de participação, e por isso pressupõe um
direito à participação (o Teilhaberechte dos alemães). Nessa linha, a
necessidade de participação fez Canotilho relacionar o procedimento
coletivo como o direito a um procedimento justo. Trata-se do procedimento
capaz de conferir a possibilidade de participação para a proteção dos
direitos fundamentais e para a reivindicação dos direitos sociais
Acontece que essa participação deve ser feita perante um procedimento
idôneo à proteção dos direitos, até mesmo porque o direito à proteção não
exige somente normas de conteúdo material, mas igualmente normas
processuais [36]. Isso quer dizer que o direito à proteção dos direitos
fundamentais tem como corolário o direito a pré-ordenação das técnicas
adequadas à efetividade da tutela jurisdicional, as quais não são mais do
que respostas do Estado ao seu dever de proteção.
Porém, o direito à tutela jurisdicional não só requer a consideração dos
direitos de participação e de edição de técnicas processuais adequadas,
55

como se dirige à obtenção de uma prestação do juiz. Essa prestação do


juiz, assim como a lei, também pode significar, em alguns casos,
concretização do dever de proteção do Estado em face dos direitos
fundamentais. A diferença é que a lei é resposta abstrata do legislador, ao
passo que a decisão é resposta do juiz diante do caso concreto. Ou seja,
há direito, devido pelo Estado-legislador, à edição de normas de direito
material de proteção, assim como de normas de direito instituidoras de
técnicas processuais capazes de propiciar efetiva proteção[37]. Mas o
Estado-Juiz também possui dever de proteção, que realiza no momento
em que profere a sua decisão a respeito dos direitos fundamentais.114

Nesse aspecto, como propõe o aludido autor, o direito à tutela jurisdicional


é, sem sobra de dúvida, o acesso à justiça, considerado assim como o direito ao
acesso à efetiva proteção do direito material que se está a tutelar, do qual tem esse
papel o magistrado e o legislador, garantindo, assim, o viés social do poder
jurisdicional, o que torna, desta feita, eficaz o direito fundamental.
Convém exemplificar, a própria tutela do meio ambiente de modo
equilibrado, pela participação do indivíduo ou de um grupo através de seu
reconhecimento como parte legítima, utilizando-se como meio os instrumentos
constitucionais de acesso (estes que são a garantia fundamental ao acesso à justiça).
Tem-se, com o processo ambiental, a garantia de dois direitos fundamentais: o
acesso à justiça e o meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Vale trazer a lição de Patryck Araújo Ayala no que pertine ao devido
processo ambiental:

A consideração de um devido processo ambiental e de suas manifestações


concretizadoras, como as garantias do contraditório, participação no
procedimento, motivação e fundamentação das escolhas decisórias é,
sobretudo, da imparcialidade (examinada com detalhamento nas próximas
seções), ocupa uma posição (e uma função) de proeminência para a
compreensão dos caminhos que se delineiam para a organização e para a
disciplina de um assim denominado Direito ambiental de segunda geração.
Neste são requeridos esquemas organizatórios que assegurem às funções
públicas [em colaboração com a comunidade], proteção diante de ameaças
ainda não conhecidas ou investigadas satisfatoriamente sob o ângulo do
conhecimento científico disponível.115

114
MARINONI, Luiz Guilherme. O direito à tutela jurisdicional efetiva na perspectiva da teoria dos direitos
fundamentais. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 378, 20jul.2004 . Disponível em:
<http://jus.com.br/revista/texto/5281>. Acesso em: 13 nov. 2012.
115
AYALA, Patryck de Araújo. Devido processo ambiental e o direito fundamental ao meio ambiente. Rio
de Janeiro: Lumen juris, 2011, pp.336-337.
56

Compreende-se, pois, que o devido processo ambiental pressupõe a


garantia dos instrumentos processuais aos legitimados, de modo democrático, não se
desincumbindo, em momento algum, da participação do povo, já que é conquista do
Estado Democrático de Direito. Assim, o direito ao ambiente ecologicamente
equilibrado, previsto no caput do art. 225, da Constituição Federal de 1988 também
corresponde ao dever de preservá-lo para as presentes e futuras gerações, como um
ônus que incumbe ao próprio povo, em conjunto com o Poder Público.

3.2 A necessária distinção entre regras e princípios

É salutar destacar que os princípios são a fonte mais importante do direito.


Estes diferenciam-se das normas e das regras. Como bem pontua Robert Alexy, os
princípios são normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida
116
possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes.
Para Alexy, a distinção entre regras e princípios desempenha um papel
fundamental no que tange aos direitos fundamentais. O aludido autor afirma que:

Para a teoria dos direitos fundamentais, a mais importante delas [das


diferenciações teorético-estruturais da norma de direito fundamental] é a
distinção entre regras e princípios. Essa distinção é a base da teoria da
fundamentação no âmbito dos direitos fundamenta-os e uma chave para a
solução de problemas centrais da dogmática dos direitos fundamentais .
[...] Nesse sentido, a distinção entre regras e princípios é uma das colunas-
mestras do edifício da teoria dos direitos fundamentais.117

Em que pese as distinções necessárias entre regras e princípios, o próprio


Alexy defende ambos correspondem a normas, pois possuem grau de imposição.
Para o autor:

Tanto regras quanto princípios são normas, porque ambos dizem o que
deve ser. Ambos podem ser formulados por meio das expressões
deônticas básicas do dever, da permissão e da proibição. Princípios são,
tanto quanto as regras, razões para juízos concretos de dever-ser, ainda
que de espécie muito diferente. A distinção entre regras e princípios é,
portanto, uma distinção entre duas espécies de norma.118

116
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 105.
117
Ibidem.
118
Idem, p. 87.
57

Feitas as considerações a respeito das regras e princípios, estes garantes


dos direitos fundamentais, chega-se a inevitável indagação de como se resolve a
questão da possível colisão entre esses princípios.
Na tutela coletiva ambiental, como se verá adiante, existem vários
princípios norteadores do processo, corolários inclusive do devido processo
ambiental, a exemplo da coisa julgada e do duplo grau de jurisdição. Como, então, se
resolve a colisão, por exemplo, do princípio da coisa julgada e o devido processo
legal? Há possibilidade de um princípio chocar-se com outro?
Robert Alexy trata exatamente desta problemática, dando o nome a este
conflito de colisão de princípios, ao afirmar que são as condições sob as quais um
princípio tem precedência em face de outro constituem o suporte fático de uma regra
119
que expressa a consequência jurídica do princípio que tem precedência.
Para tanto, é necessário também assinalar que a distinção entre princípio e
regra já está superada pela doutrina, tampouco no que pertence à hierarquia entre
estes, de modo que as normas jurídicas, em geral, e as normas constitucionais, em
particular, podem ser enquadradas em duas categorias diversas: normas-princípios e
120
as normas-disposições.
Luís Roberto Barroso entende que as normas-disposição, também referidas
como regras, têm eficácia restrita às situações específicas às quais se dirigem. Já as
normas-princípio, ou simplesmente princípio, têm normalmente, maior teor de
121
abstração e uma finalidade mais destacada dentro do sistema.
Sopesadas as considerações a respeito de regras e princípios, chega-se ao
entendimento de que ambas correspondem às normas, ou seja, devem ser
respeitadas e aplicadas sem qualquer hierarquia, de modo a compreender que, no
tocante aos princípios, estes, diante da colisão entre os mesmos, há a cessão de
espaço para que outro possa ser aplicado, de modo a garantir os direitos
fundamentais. E não é diferente com o direito fundamental ao ambiente
ecologicamente equilibrado.

119
Idem, p. 99.
120
BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da constituição: fundamentos de uma dogmática
constitucional transformadora. 4 ed. São Paulo: saraiva, 2001, p. 149.
121
Ibidem.
58

Celso Antônio Bandeira de Mello utiliza a expressão mandamento nuclear


ao princípio, ao tratar deste como um mandamento nuclear de um sistema,
verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia diferentes normas
compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e
inteligência exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo,
122
no que lhe confere tônica e lhe dá sentido harmônico.
Quando se infringe um mandamento nuclear, está-se cometendo uma
infringência maior que se infringisse uma regra. Como bem aponta Mello, a
desatenção ao princípio implica ofensa não a apenas um específico mandamento
123
obrigatório, mas a todo o sistema de comandos.
Relativamente ao Direito Processual na esfera Constitucional, Nelson Nery
Júnior afirma:

Naturalmente, o direito processual se compõe de um sistema uniforme,


que lhe dá homogeneidade de sorte a facilitar sua compreensão e
aplicação para a solução das ameaças e lesões a direito. Mesmo que se
reconheça essa unidade processual, é comum dizer-se didaticamente que
existe um Direito Constitucional Processual, para significar o conjunto das
normas de Direito Processual que se encontra na Constituição Federal, ao
lado de um Direito Processual que se encontra na Constituição Federal, ao
lado de um Direito Processual Constitucional, que seria a reunião dos
princípios para o fim de regular a denominada jurisdição constitucional.
Não se trata, portanto, de novos ramos do direito processual.124

Por tratar-se de tutela transindividual de interesses, não há prevalecer um


processo destinado à defesa dos interesses individuais, de modo que o instrumental
empregado para protege-los deve estar pautado nos princípios que privilegiam a
natureza difusa do bem, guardando relação com os firmados constitucionalmente.
Com relação a princípio e sua importância, ressalta Rui Portanova que o
princípio é tão amplo e tão significativo que legitima a jurisdição e se confunde com o
125
próprio estado de direito.
Nesse sentido é a lição de José Joaquim Gomes Canotilho:

122
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 24 ed. São Paulo: Malheiros, 2007,
p. 931.
123
Idem, p. 931.
124
NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. 2. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 1995, p. 67.
125
PORTANOVA, Rui. Princípios do Processo Civil. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997, p. 146.
59

[...] compreende-se, pois, que o direito ao processo implique: (1) a


proibição de requisitos processuais desnecessários ou desviados de um
sentido conforme ao direito fundamental de acesso aos tribunais; (2) a
exigência de fixação legal prévia dos requisitos e pressupostos
processuais dos recursos e acções; (3) a sanação de irregularidades
processuais como exigência do direito à tutela judicial.126

Nesse linear, o acesso à justiça como garantia de processo justo deve fugir
de uma visão meramente legalista, bem como instrumentos mecânicos e
padronizados, adaptando-se às novas exigências da coletividade, voltando-se para a
face social da tutela jurisdicional, a fim de atender os interesses transindividuais,
entre eles, os ambientais.

3.2.1 Princípio do devido processo legal ambiental

O devido processo legal ambiental é, a bem da verdade, o nascedouro e a


junção de todos os demais princípios norteadores do processo coletivo, onde se
afigura a questão material ligada à preservação ecológica. Assim, a isonomia, o
contraditório, a ampla defesa, a imparcialidade do juiz natural, o direito ao acesso à
127
prova etc. nada mais são do que desdobramentos do “devido processo legal”.
Registre-se que todo aquele arcabouço individualista do processo civil
ortodoxo liberal encontra-se descartado nessa nova sistemática, haja vista que esses
“novos direitos” reclamam uma tutela diferenciada, o que se observa nos princípios
pertinentes ao processo ambiental, os quais serão sopesados, um a um, a seguir.

3.2.2 Princípio do acesso à justiça e tutela do meio ambiente

O acesso à justiça, como princípio e regra fundamental da Constituição


federal no espírito do Estado Democrático de Direito, prevista no art. 5º, XXXV,
dispõe que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito. Sedimenta-se, na letra da lei posta, o princípio do acesso à justiça.

126
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 2. ed. Coimbra:
Almedina, 1998, p. 454.
127
Idem, p. 85.
60

Assim, o acesso à justiça é garantido pelo sistema processual, que oferece


diversos caminhos diretos e indiretos para a proteção do meio ambiente
ecologicamente equilibrado. A proteção ecológica pode ser feita por intermédio de
diversas técnicas processuais, sendo as mais comuns (que envolvem provimentos,
procedimentos e módulos processuais diversos): a ação civil pública, a ação popular,
128
o mandado de segurança coletivo, o mandado de injunção me o habeas data.
Marcelo Abelha Rodrigues afirma que:

Falar em devido processo legal em sede de direitos coletivos lato sensu é,


inexoravelmente, fazer menção ao sistema integrado de tutela processual
trazido pelo CDC e pela LACP (Lei 7.347/1985). Assim, hoje, em sede de
jurisdição civil, há existência de dois sistemas de tutela processual: um
destinado às lides individuais, cujo instrumento adequado e idôneo é o
CPC, e outro destinado à tutela coletiva, na exata acepção trazida pelo art.
81, parágrafo único, do CDC.129

Veja, portanto, que a busca pela resolução de interesses coletivos,


notadamente a tutela ecológica (meio ambiente ecologicamente equilibrado, tal qual
preceitua o caput do art. 225, da Constituição Federal de 1988), desvia-se do
caminho processual do Código de Processo Civil, buscando, ao máximo, a tutela do
direito material prevista no art. 461, do mesmo código.
Nesta vertente, busca-se a efetiva tutela coletiva ambiental nos
instrumentos contidos em leis esparsas, até porque ainda não temos um código de
processos coletivos.
Cabe ressaltar que esse acesso à justiça deve ser célere, haja vista que a
tutela do meio ambiente tem precedência sobre qualquer outra, pois ela lida com a
proteção de todas as formas de vida, os bens ambientais são essências à saúde de
todos (art. 225, caput, da CF/1988), além do que os danos ou ilícitos ambientais são
130
altamente nocivos.
Como bem pontua Aluisio Gonçalves:

Em termos legislativos, a história recente dos processos coletivos no Brasil


encontra-se indissoluvelmente marcada por três diplomas: a Lei da Ação

128
ABELHA, Marcelo. Processo civil ambiental.- 3 ed. rev. e atual. – São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2011, p. 92.
129
Idem, p. 88.
130
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Processo civil ambiental. – 3 ed., rev. e ampl. – São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2011, p. 93.
61

Civil Pública (Lei n.º 7.347), de 1985; a Constituição da República de 1988;


e o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº. 8.078), de 1990. Ao longo
dos últimos vinte anos, pode-se dizer que houve não apenas o
florescimento de um conjunto de normas pertinentes, mas também o
desabrochar de substanciosa doutrina relacionada com as ações coletivas
e a ocupação de um espaço crescente por parte da preocupação de
docentes e discentes no meio acadêmico, consubstanciando o surgimento
de uma nova disciplina: O Direito Processual Coletivo.131

Na hipótese de ocorrência de dano ao ambiente, não obstante a leitura do


inciso XXXV, da Carta Magna vigente diga respeito, de maneira geral, a
impossibilidade de exclusão de apreciação pelo Poder Judiciário a lesão ou ameaça
a direito, cabe observar que existem alguns pressupostos processuais
imprescindíveis, de tal modo que não afeta, em hipótese alguma, o acesso à justiça
ambiental, como o direito de agir, que está condicionado à pressupostos de
constituição e desenvolvimento válido do processo.
Celso Antônio Pacheco Fiorillo elenca-os de maneira sintetizada:

Os pressupostos processuais de existência da relação processual


ambiental são a jurisdição (dentro da concepção que apontamos na
presente obra ao analisar o Poder Judiciário, item 1.2.1), a citação
(enquanto necessária a comunicação a ser feita a todo e qualquer poluidor
de que perante ele existe litígio ou mesmo acusação, a fim de que possa
ter assegurado seu direito constitucional ao contraditório e ampla defesa,
na forma do art. 5º, LV, da Carta da República), a capacidade postulatória
(entendida como representação técnica vinculada à aptidão para promover
ações judiciais ambientais e via de regra circunscrita no processo
ambiental aos advogados – art. 133 da CF – e inicial (peça inaugural – e
mais importante – do processo ambiental em que o autor suscita a
atividade jurisdicional visando a ordem destinada a assegurar a
incolumidade do bem ambiental como regra).132

131
MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Construindo o código brasileiro de processos coletivos: o
anteprojeto elaborado no âmbito dos programas de pós-graduação da UERJ e UNESA. In: Tutela coletiva:
20 anos da lei da ação civil pública e do fundo de defesa de direitos difusos, 15 anos do código de defesa
do consumidor. Paulo Henriquedos Santos Lugon (coordenador). – São Paulo: Atlas, 2006, p. 279.

Segundo Aluisio Mendes, “A elaboração recente do Código Modelo para Processos Coletivos, no âmbito
dos países ibero-americanos, reavivou e consolidou a vontade de se repensar a legislação brasileira em
torno das ações coletivas. Nesse sentido, foi elaborado, sob a coordenação da Professora Ada Pellegrini
Grinover, na esfera da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), um primeiro Anteprojeto
de Código Brasileiro de Processos Coletivos, oferecido à discissão e sendo nesse sentido enviado aos
membros do Instituto Brasileiro de Direito Processual. In: MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro.
Construindo o código brasileiro de processos coletivos: o anteprojeto elaborado no âmbito dos programas
de pós-graduação da UERJ e UNESA. In: Tutela coletiva: 20 anos da lei da ação civil pública e do fundo de
defesa de direitos difusos, 15 anos do código de defesa do consumidor. Paulo Henrique dos Santos Lugon
(coordenador). – São Paulo: Atlas, 2006, p. 280.
132
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Princípios do direito processual ambiental. – 2 ed. rev. e atual. –
São Paulo: Saraiva, 2007, p. 51.
62

Compreende-se, pois, que o acesso à justiça, como um dos princípios


basilares da tutela ambiental assemelha-se com o contexto geral, apenas
diferenciando-se com relação aos pressupostos processuais e a matéria objeto: a
lesão ou ameaça ao equilíbrio ecológico.

3.2.3 Princípio da isonomia

Reporta-se o aludido princípio ao art. 5º, caput e inciso I, da Carta Maior,


estabelecendo esta que todos são iguais perante a lei. Em outras palavras, no
processo ambiental, a Constituição garante o tratamento isonômico entre os sujeitos
detentores do interesse transindividual, o que significa reconhecer a igualdade
jurídica entre aqueles que sob o ponto de vista econômico/social/cultural são de fato
iguais e a desigualdade jurídica entre aqueles que sob o ponto de vista
133
econômico/social/cultural são de fato desiguais.
Referido mandamento nuclear decorre do princípio do devido processo
legal, bem como do princípio do contraditório. Nesse sentido, afirma Rui Portanova
que:

O plano da concreta aplicabilidade da garantia do contraditório tem íntima


relação com o princípio da igualdade, em sua dimensão dinâmica (princípio
igualizador). Assim, o contraditório opera com vistas à eliminação (ou pelo
menos diminuição) das desigualdades, jurídicas ou de fato, entre os
sujeitos do processo.134

No caso da defesa ambiental, a interpretação do princípio da isonomia


segue o mesmo sentido, impondo-se a observância do princípio da isonomia,
garantindo a igualdade substancial dos litigantes nas ações ambientais, como bem
ressaltado por Arruda Alvim:

[...] desde que as situações possam ser havidas como efetivamente


equilibradas, dever-se-á respeitar a igualdade existente entre os sujeitos
de tais situações. No entanto, a partir da percepção de que inexiste essa
igualdade, deve o legislador acorrer para tratar desigualmente os

133
Idem, pp. 65-66.
134
PORTANOVA, Rui. Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. 2. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1995, p. 67.
63

desiguais, pois que, assim o fazendo, é que estará fazendo com que se
respeite a própria essência do princípio da igualdade.135

Neste passo, o conteúdo jurídico da isonomia enquanto princípio reflete em


todos os aspectos instrumentais de acesso à justiça, aplicáveis à tutela ecológica.

3.2.4 Responsabilidade objetiva do poluidor em face de lesão ambiental

A Carta Magna de 1988 cuidou, também, de garantir indenização em


136
eventual lesão ao direito material ambiental, consoante se dispõe do art. 5º, V e X ,
reconhecendo três modalidades de danos, os quais aplicam-se à tutela ambiental
inconteste, como bem explica Fiorillo:

1) dano material – também chamado no subsistema civil de dano


patrimonial, consiste em uma lesão (prejuízo) que venha a afetar
determinado interesse relativo aos bens materiais de qualquer
brasileiro ou estrangeiro residente no País (pessoa física ou jurídica),
de forma individual ou coletiva (com reflexos no campo individual e
metaindividual), consistente na deterioração ou mesmo na perda
(parcial ou integral) de aludidos bens materiais (corpóreos);
2) dano moral – consiste em uma lesão que venha a ofender
determinado interesse que não seja corpóreo de qualquer brasileiro
ou estrangeiro residente no País (pessoa física), de forma individual
ou coletiva (com reflexos no campo individual ou metaindividual),
consistente na ofensa de valores imateriais da pessoa humana
tutelados pela Constituição Federal, afetando fundamentalmente a
denominada “paz interior” de referidas pessoas.
3) dano à imagem – consiste em uma lesão que venha a atingir
determinado interesse vinculado à reprodução das pessoas humanas,
de forma individual ou coletiva (com reflexos no campo individual e
metaindividual), consistente na ofensa de valores tutelados pela Carta
Magna ligados às pessoas antes referidas e que de alguma forma
afetem a representação da forma ou do aspecto de ser qualquer
brasileiro ou estrangeiro residente no País (pessoa física ou jurídica).

A questão da reparação material, aparentemente, não encontra óbices na


prática jurisdicional. No que pertine ao dano moral na esfera ambiental, este tem,
mesmo que de forma tímida, tomado o palco de discussões a respeito. Todavia, o

135
ALVIM, Arruda. O Código de Processo Civil, suas matrizes ideológicas, o ambiente sócio-político em
que foi editado e as duas décadas em que se lhe seguiram, com suas novas necessidades. In: Revista de
Processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, n. 70, abr./jun. 1993, p. 35.
136
Art. 5º. (...) V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por
dano material, moral ou à imagem. (...) X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material decorrente de sua violação.
64

Superior Tribunal de Justiça já vem aplicando reparações aos danos


137
extrapatrimoniais, como se vê do Recurso Especial n. 791.653-RS , entre outras
decisões, onde se afigura o dano moral coletivo e a justa reparação.

3.2.5 Princípio do duplo grau de jurisdição: a sentença e a coisa julgada


ambiental

Em razão da segurança jurídica (certeza formal da existência e


reconhecimento de direitos materiais), a Constituição Federal da 1988 traz a coisa
julgada, em seu art. 5º, inciso XXXVI, como qualidade que torna imutável/indiscutível
138
o comando que emerge de sentença proferida em determinado processo.

137
Referido julgado restou desta forma ementado: REsp. 791.653-RS. EMENTA: PROCESSUAL CIVIL
RECURSO ESPECIAL. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL. REGULAR ANÁLISE E JULGAMENTO DO LITÍGIO PELO TRIBUNAL RECORRIDO.
RECONHECIMENTO DE DANO MORAL REGULARMENTE FUNDAMENTADO. Trata-se de recurso
especial que tem origem em agravo de instrumento interposto em sede de ação civil pública movida pelo
Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul em desfavor de AGIP do Brasil S/A, sob o argumento
de poluição sonora causada pela veiculação pública de jingle que anuncia produtos por ela
comercializados. O acórdão impugnado pelo recurso especial declarou a perda de objeto na ação no que
refere à obrigação de fazer, isto porque lei superveniente à instalação do litígio regulou e solucionou a
prática que se procurava coibir. O aresto pronunciado pelo Tribunal a quo, de outro vértice, reconheceu
caracterizado o dano moral causado pela empresa agravante – em razão da poluição sonora ensejadora
de dano ambiental – e a decorrente obrigação de reparação dos prejuízos causados à população. Daí,
então, a obrigação de reparação dos prejuízos causados à população. Daí, então, a interposição do
recurso especial que se ora aprecia, no qual se alega, em resumo, ter havido violação do artigo 535, do
Código de Processo Civil. 2. Todavia, constata-se que o acórdão recorrido considerou todos os aspectos
de relevância para o julgamento do litígio, manifestando-se de forma precisa e objetiva sobre as questões
essenciais à solução da causa. Realmente, informam os autores que, a partir dos elementos probatórios
trazidos a exame, inclusive laudos periciais, a Corte a quo entendeu estar sobejamente caracterizada a
ação danosa ao meio ambiente perpetrada pela recorrente, sob a forma de poluição sonora, na medida em
que os decibéis utilizados na atividade publicitária forma, comprovadamente, excessivos. Por essa razão,
como antes registrado, foi estabelecida a obrigação de a empresa postulante reparar o prejuízo provocado
à população. 3. A regular prestação da jurisdição, pelo julgador, não exige que todo e qualquer tema
indicado pelas partes seja particularizadamente analisado, sendo suficiente a consideração das questões
de relevo e essencialidade para o desate da controvérsia. Na espécie, atendeu-se com exatidão, a esse
desiderato. 4. Recurso especial conhecido e não provido. (STJ – 1ª Turma - RECURSO ESPECIAL Nº
791.653 -RS (2005/0179935-1) - RELATOR : MINISTRO JOSÉ DELGADO – julgado em 06/02/2007).
138
Conforme Pacheco Fiorillo, O art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal diz respeito, no plano
infraconstitucional, à denominada coisa julgada material (auxtorias rei judicante), o que significa, em
matéria ambiental, a qualidade que torna imutável e indiscutível o comando que emerge da parte
dispositiva da sentença de mérito, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário nem à
denominada ‘remessa necessária’ encontrada nos diplomas processuais (caso do art. 467 do CPC,
aplicável subsidiariamente ao processo ambiental, que sujeita ao duplo grau de jurisdição as sentenças
proferidas contra a União, o Estado, o Distrito Federal, O município e respectivas autarquias e fundações
de direito público, ou seja, sentenças proferidas contra os maiores poluidores ambientais no Brasil,
conforme já tivemos oportunidade de sublinhas na presente obra). Destarte, em face da interpretação
antes indicada, somente o pedido vinculado a determinada causa de pedir é acobertado, no plano da Carta
da República, pela coisa julgada denominada material, o que a torna imutável quanto em processo futuro.
65

Nesse prisma, a Carta Magna garante que o direito material seja resolvido
definitivamente no plano formal. No que tange à tutela coletiva ambiental, a coisa
julgada visa tornar imutável/indiscutível o comando que emerge de sentenças
proferidas em face de ações ambientais, autorizando aqueles que foram beneficiados
pela decisão a requerer providências de força ao Poder Judiciário na hipótese de
descumprimento da mesma, ou seja, é por meio da coisa julgada que a defesa
139
judicial do meio ambiente encontrará seu mais importante instituto.
Destaca ainda Fiorillo que:

Destarte, as sentenças ambientais, para que possam tornar-se definitivas


(coisa julgada em matéria ambiental), dependerão do devido processo
legal estabelecido para as lides ambientais; impugnadas de forma
fundamentada, deverão aguardar os critérios definidos em lei para que
realmente possam produzir seus efeitos, sempre em obediência aos
fundamentos já discutidos na presente obra e em harmonia com os
princípios estruturantes do Estado Democrático de Direito.140

Nesta senda, a coisa julgada, corolário do devido processo legal, garantido


pela democracia participativa, fruto desta nova era do Estado Constitucional de
Direito, é garante de que às partes que buscam a tutela de interesses, lhe é prestado
o serviço jurisdicional com a mais ampla justiça, garantindo-se o poder da decisão
que sobrevém do julgado.
Perfilhando, como se pode observar, apenas alguns dos princípios basilares
do processo ambiental em sua vertente coletiva lato sensu, até porque não se
pretende esgotar o tema no presente trabalho, é salutar observar que os princípios
próprios do processo ambiental (corolário do devido processo legal), guardam relação
quase idêntica com os princípios processuais em sentido largo, apenas
diferenciando-se quando se trata da matéria objeto (tutela ecológica equilibrada).

A denominada coisa julgada forma, como impugnabilidade da sentença no processo em que foi proferida,
por tratar-se substancialmente de verdadeira preclusão (perda da faculdade de praticar ato processual),
não é objeto da garantia constitucional descrita no art. 5º, XXXVI, da Carta Magna. É o caso já mencionado
em que os legitimados ativos não recorrem de sentença prolatada contra o Estado: ocorre a preclusão
(cois julgada formal) mas a coisa julgada material, abarcada portanto pelo comando constitucional,
somente vai ocorrer com o reexame necessário da sentença pelo Tribunal (art. 475 do CPC), aplicável ao
processo ambiental).In: FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Princípios do direito processual ambiental. – 2
ed. rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2007, pp. 113-114.
139
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Princípios do direito processual ambiental. – 2 ed. rev. e atual. –
São Paulo: Saraiva, 2007, p. 114.
140
Idem, p. 115.
66

3.3 O sistema processual de tutela do ambiente ecologicamente equilibrado

A tutela ambiental é prevista pelo próprio caput do art. 225, da Carta Magna
de 1988, nela contendo a maior parte dos instrumentos de proteção à tutela
ambiental, advindo também os demais instrumentos de leis esparsas, como a novel
lei do mandado de segurança. Este aparato instrumental do processo é denominado
por Marcelo Abelha Rodrigues de sistema processual.
Conforme leciona o aludido autor:

O sistema processual oferece diversos caminhos para a proteção do meio


ambiente. Existem, por assim dizer, os caminhos diretos e os indiretos,
sendo estes últimos mecanismos precipuamente utilizados para outro fim
imediato, mas que resultam na proteção do equilíbrio ecológico. Os
caminhos diretos ou comuns são as demandas cujo pedido de tutela é a
proteção imediata do meio ambiente e do equilíbrio ecológico, o que
normalmente é feito mediante o exercício da pretensão de proteção dos
recursos ambientais.141

A Carta Magna, conforme dispõe no art. 225, caput¸ impõe um dever positivo
e outro negativo a toda a coletividade em relação à proteção do equilíbrio
142
ecológico.
Afirma Marcelo Abelha que:

Sob essa perspectiva, indica-se ainda na Constituição Federal de 1988 o


próprio art. 225, quando no seu caput determina que é um dever do Poder
Público e da coletividade proteger o meio ambiente para as presentes e
futuras gerações. Isso vem evidenciar que esse dever social precisa ser
visto sob dois flancos distintos, um negativo e outro positivo: o primeiro na
adoção de comportamentos sociais, personalíssimos, portanto egoísticos,
de não praticar atos que possam ser ofensivos ao meio ambiente e a seus
componentes; o segundo na adoção de comportamentos sociais que
representem um facere, uma tomada de atitude, comissiva, mas que não
se resuma apenas à esfera individual, ou seja, não preocupada apenas
com o “eu”, mas com o “todos”.143

Nesse aspecto, o papel do processo civil é o de ofertar os meios necessários


à tutela ambiental, tanto a preventiva, como a reparatória, no ideal de justiça
ambiental, e no caso da tutela preventiva, quanto à proteção do direito material, tem-

141
ABELHA, Marcelo. Processo civil ambiental.- 3 ed. rev. e atual. – São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2011, p.92.
142
Idem, p. 73.
143
Ibidem.
67
144145
se que a aplicação do louvável art. 461, do Código de Processo Civil , é a opção
mais acertada, em razão de que o previsto no caput do art. 225 refere-se a
obrigações de fazer e não fazer, não somente do Poder Público, mas de toda a
coletividade.
Possui esta tarefa as técnicas processuais disponíveis para assegurar o
direito material (ambiente ecologicamente equilibrado como um direito humano
fundamental).
Como bem aduz Marcelo Abelha:

Tratando-se de tutela jurisdicional do meio ambiente, o conjunto de


técnicas processuais (provimentos, processos e procedimentos) oferecidos
pelo legislador como sendo aptas para debelar as crises ambientais –
como também as crises envolvendo interesses difusos tout court –
encontra-se, precipuamente, sedimentado no que se convencionou chamar
de “jurisdição civil coletiva”. Trata-se, na verdade, de um conjunto de
regras e princípios de direito processual coletivo, ou seja, técnicas
processuais que foram criadas para serem usadas e debelar as crises de
interesses coletivos (lato sensu), dentre as quais se situa a tutela do
equilíbrio ecológico.146

O arcabouço instrumental que nos é disposto para que busquemos a tutela


do bem ambiental ecologicamente equilibrado possui suas peculiaridades próprias,
mas com uma única finalidade: a de proteção do meio ambiente ecologicamente
equilibrado, tal qual como garantido no caput do artigo 225, da Carta Magna de 1988.
Registre-se que não é intenção explorar todas as facetas de cada
instrumento, cabendo, neste momento, alguns apontamentos.

3.3.1 A ação popular ambiental

144
Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz
concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de
13.12.1994)
145
Marcelo Abelha explica que: “Igualmente, serve o art. 461 para os casos em que a tutela a ser entregue
seja coincidente com o resultado querido pelo legislador (caso houvesse o cumprimento espontâneo),
ainda que tal resultado seja obtido por meios diversos daquele que foi idealizado pelo legislador. Assim, se,
por determinação judicial, a realização do estudo de impacto ambiental foi feita pelo terceiro, às expensas
do poluidor, nem por isso deixou de se ter aí a mesma situação jurídica final prevista na morma jurídica. In:
ABELHA, Marcelo. Processo civil ambiental.- 3 ed. rev. e atual. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2011, p. 78.
146
ABELHA, Marcelo. Processo civil ambiental.- 3 ed. rev. e atual. – São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2011, pp. 81-82.
68

Referido instrumento de acesso à justiça é um dos mais remotos,


proveniente de constituições federais antecessoras à vigente, passando, claro, por
todas as necessárias modificações, nesse percurso que ainda não chegou a seu fim.
Curial, por primeiro, trazer o conceito tradicional de ação popular, de Hely
Lopes Meireles:

Ação popular é o meio constitucional posto à disposição de qualquer


cidadão para obter a invalidação de atos ou contratos administrativos – ou
a estes equiparados – ilegais e lesivos do patrimônio federal, estadual e
municipal, ou de suas autarquias, entidades paraestatais e pessoa
jurídicas subvencionadas com dinheiros públicos.147

Necessário buscar as raízes legislativas da ação popular, como instrumento


de acesso à justiça na proteção do bem ambiental ecologicamente equilibrado, tal
qual como o é atualmente.
Referido instrumento constitucional tem nascedouro bem remoto e se
148
caracteriza como pioneiro na tutela coletiva lato sensu.
O primeiro marco constitucional da ação popular no Brasil se deu com a
149
Constituição do Império, de 1824, em seu art. 157 , onde previu a sua utilização
pelo povo, a fim de reprimir abusos de poder e prevaricação de juízes de direito e
oficiais de justiça no exercício do cargo.
Em 1934, a Constituição Federal deu guarida ao referido remédio, donde se
extrai do inciso XXXVIII do art. 113, cujo texto previa que qualquer cidadão será parte
legítima para pleitear a declaração de nulidade ou anulação dos atos lesivos do
patrimônio da União, dos Estados ou dos Municípios. Tal remédio, contudo, não foi
utilizado em razão da falta de lei que a regulamentasse.
Por sua vez, a Constituição de 1946, restabeleceu referido remédio em seu
art. 141, §38, alargando o campo para as entidades autárquicas e as sociedades de
economia mista.

147
MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de segurança, ação popular, ação civil pública,mandado de
injunção, habeas data. 21. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,1987, p.114.
148
LEITE, José Rubens Morato. Ação popular: um exercício da cidadania ambiental? Disponível em
<http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/files/anexos/26356-26358-1-PB.html>
149
Art. 157 – Por suborno, peita, peculato e concussão, haverá contra eles a ação popular, que poderá ser
intentada dentro de um ano e dia pelo próprio queixoso ou por qualquer do povo, guardada a ordem do
processo estabelecido na lei.
69

Foi nesse lapso temporal que a Lei da Ação Popular foi instituída, a fim de
regulamentar a previsão constitucional, traduzida na Lei n. 4.717, de 29 de junho de
1965, ampliando o âmbito de atuação antes restrito às lesões pecuniárias.
Já a Constituição de 1967 cuidou de manter a ação popular em seu art.
150, §31, com o escopo de proteção patrimonial, sem, contudo, relacionar as
entidades cujo patrimônio deveria ser protegido, utilizando-se do termo genérico
patrimônio das entidades públicas, redação esta mantida pela Emenda Constitucional
n. 01, de 1969.
Registre-se que a Lei n. 6.513/77 introduziu a atual redação do §1º, do art.
1º, abarcando a proteção dos bens e direitos de valor econômico, artístico, estético,
150
histórico ou turístico, como patrimônio público.
Atualmente, a ação popular tem seu papel de extrema relevância no que
pertinente à tutela dos interesses da coletividade, nela se encaixando a moralidade
administrativa, o patrimônio público ou de entidade que o Estado participe, o bem
ambiental, o patrimônio histórico e cultural, como se vê do art. 5º, inciso LXXIII, da
151
Carta Maior de 1988. Referido remédio constitucional é o meio em que qualquer
cidadão se investe de legitimidade, a fim de exercer um poder de natureza
152
essencialmente política, com manifestação direta da soberania popular.
José Rubens Morato Leite, a respeito da participação do cidadão de forma
ativa, assim afirma:
Trata-se, de fato, da abertura de uma via de mão dupla na proteção
ambiental, onde o cidadão pode passar de mero beneficiário e destinatário
da função ambiental exercida pelo Estado para ocupar uma posição
positiva, podendo intervir, nesta exercendo sua responsabilidade social
compartilhada, conforme ditames do artigo 225 da Constituição da
República Federativa do Brasil. Tornando o cidadão, com esta
legitimidade, um verdadeiro defensor do interesse da legalidade e da
coletividade, sem ter que invocar e demonstrar interesse pessoal no ato
lesivo ao meio ambiente.153

150
Lei n. 6513, de 20 de dezembro de 1977, quedispõe sobre a criação de Áreas Especiais e de Locais de
Interesse Turístico; sobre o Inventário com finalidades turísticas dos bens de valor cultural e natural;
acrescenta inciso ao art. 2º da Lei nº 4.132, de 10 de setembro de 1962; altera a redação e acrescenta
dispositivo à Lei nº 4.717, de 29 de junho de 1965 e dá outras providências.
151
Art. 5º. (...) LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato
lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao
meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, alvo comprovada má-fé, isento de
custas judiciais e do ônus da sucumbência.
152
SILVA, José Afonso da.Curso de direito constitucional positivo. 15 ed. São Paulo: Malheiros, 1998, p.
462.
153
LEITE, José Rubens Morato. Ação popular: um exercício da cidadania ambiental? Disponível em
<http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/files/anexos/26356-26358-1-PB.html>
70

Acerca do bem ambiental, matéria objeto da ação popular ambiental, o


aludido autor esclarece que referido remédio constitucional abarca duas modalidades
de tutela ambiental, ao aduzir que:

[...] a lei fundamental, ao tratar da ação popular ambiental, protegeu o bem


ambiental em duas concepções relacionadas entre si:
a. O patrimônio público (pertencente ao domínio do Estado) conecto
com o meio ambiente. Um exemplo de patrimônio público ambiental é
um Parque Nacional, de titularidade do Estado. Havendo ato lesivo
prejudicial a este bem abre-se acesso ao judiciário, ao cidadão, com a
finalidade de proteger este patrimônio público, estrito senso e não o
macrobem ambiental da coletividade.
b. O meio ambiente pode ser objeto de proteção via ação popular
ambiental como bem de uso comum da coletividade, de titularidade
indeterminada e indivisível, isto é, está sendo protegido em sua
caracterização de macrobem ambiental pura. Um exemplo desta
hipótese é um ato lesivo que provoca poluição atmosférica. O que se
protege, no caso, é um bem pertencente à coletividade como um
todo.154

Percebe-se a vertente difusa da tutela ambiental, de modo a não limitar os


interessados, entendendo-se como o macrobem ambiental pura, além de sua
vertente limitadora a uma certa coletividade, e como o próprio autor acima transcrito
afirma, o macrobem ambiental da coletividade, na proteção do patrimônio público
estrito senso.
Nas duas vertentes, tem-se que: há uma transindividualidade
inquestionável, pois o direito material (no caso, ao ambiente sadio), transcende a
pessoa do particular, abarcando legitimidade não somente a este, mas como todo o
grupo ou a coletividade lato sensu.
Por estas questões é que se assevera inconteste a função da tutela
jurisdicional via de seus instrumentos garantidores ao acesso à justiça ambiental.

a) Legitimação ativa e passiva na ação popular ambiental

A Lei da Ação Popular confirma o que a própria Carta Magna de 1988


atribui como legitimidade. Tanto para a norma constitucional quanto para a norma
regulamentadora, legitimado a propor ação popular é qualquer cidadão.

154
LEITE, José Rubens Morato. Ação popular: um exercício da cidadania ambiental? Disponível em
<http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/files/anexos/26356-26358-1-PB.html>
71

Todavia, esse qualquer cidadão tem causado controvérsias doutrinárias no


que tange a seu conceito constitucional (direitos políticos), quanto a seu alargamento.
Para o §3º, do art. 1º, da aludida lei, resta estabelecido que a petição inicial
deverá estar instruída com o título eleitoral, ou com documento que a ele
corresponda.
Restam excluídas as pessoas jurídicas, como já sumulou o Supremo
155
Tribunal Federal.

A questão da legitimação ativa na ação popular se restringe ao cidadão,


tido como este aquele no gozo de seus direitos políticos, tal qual previsto na Carta
Magna de 1988, art. 12, bem como ao Ministério Público, em casos onde o mesmo
pode assumir o polo ativo da demanda em caso de desistência do legitimado, ou até
mesmo se der causa sem julgamento de mérito, conforme dispõe o art. 9º.
José Afonso da Silva entende que o conceito de cidadão se restringe a tão
somente àqueles que possuam o direito de voto, ao dispor que a cidadania:

[...] qualifica os participantes da vida do Estado, é atributo das pessoas


integras na sociedade estatal, atributo político decorrente do direito de
participar no governo e direito de ser ouvido pela representação política.
Cidadão, no direito brasileiro, é o indivíduo que seja titular dos direitos
políticos de votar e ser votado e suas consequências.156

Ao reverso do que afirma José Afonso da Silva, o termo cidadão, na


acepção democrática de direito, em respeito ao próprio direito fundamental ao acesso
à justiça, tendo o povo o poder e esse povo corresponde a todos, inclui-se os
estrangeiros residentes de Brasil.
Na lição de Pacheco Fiorillo e Lorenzo Vadell, a figura do cidadão
transcende à figura do eleitor:

[...] a palavra cidadão, na linguagem constitucional, não é sempre


equivalente perfeito de eleitor. Prova de que não se acha no art. 64 do
ADCT, pois do contrário somente o eleitor teria direito a receber um
exemplar da Constituição Federal, isso apesar de todos os brasileiros
estarem igualmente sujeitos às suas disposições! Porém, não só ali. No n.

155
Súmula 365, do STF. “Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.” (13/12/1963 -
Súmula da Jurisprudência Predominante do Supremo Tribunal Federal - Anexo ao Regimento Interno.
Edição: Imprensa Nacional, 1964, p. 157.)
156
SILVA, José Afonso da.Curso de direito constitucional positivo. 24 ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros,
2005. pp. 345-346.
72

V, do § 2º do art. 58, há também prova de que não existe relação


necessária entre cidadão e eleitor, porquanto, se houvesse, as Comissões
da Câmara e do Senado, ou as do Congresso Nacional, não poderiam
solicitar depoimentos a não ser de autoridades e eleitores! E mais: a
insistir-se na ideia de equivalência, apenas o partido político, a associação,
o sindicato ou o eleitor poderiam representar ao Tribunal de Contas contra
irregularidades ou ilegalidades, enquanto que qualquer pessoa poderia
dirigir às comissões parlamentares, do Congresso, da Câmara e do
Senado, petições, reclamações, representações ou queixas contra atos
das autoridades ou entidades públicas, quaisquer que sejam, o que seria
rematada estultice, dessa de fazer corar um frade de pedra! Daí se segue
que, se a um mesmo vocábulo o texto atribui significados descoincidentes,
o acertado é dar-lhe, em cada caso, o sentido mais ajustado à finalidade
do sistema inteiro, porque é de sistema que se trata.157

Desta forma, em se tratando de um Estado Democrático de Direito, onde o


poder advém do próprio povo e este deve desempenhar um tratamento adequado
aos brasileiros e estrangeiros residentes neste país, não há que se falar em limitação
de legitimação à figura do cidadão eleitor, mas sim ao cidadão possuidor do direito à
garantia do bem ambiental equilibrado e necessário à sadia qualidade de vida.
Vale a pena trazer a lição de Fiorillo e Lorenzo Vadell, no que pertine a
amplitude do conceito de cidadão:

Propugnamos pela discordância de que o conceito de cidadão não se


restringe em sede de ação popular ambiental, porquanto tem por objeto um
bem ambiental, de natureza difusa e não pública, bem, portanto, de caráter
supraindividual justamente porque é de todos ao mesmo tempo.
Outrossim, o segundo argumento baseia-se nas regras de interpretação,
de forma que o conceito de cidadão deve ser, aprioristicamente,
preenchido com elementos e dados fornecidos pela própria Constituição
Federal de 1988.158

No que pertine à legitimidade passiva, a Lei da Ação Popular (Lei n.


4.717/65) dispõe, em seu art. 6º, que serão sujeitos passivos da ação popular as
pessoas públicas ou privadas em nome das quais o ato a ser anulado foi praticado,
159
inclusive as mencionadas no art. 1º .

157
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco; VADELL, Lorenzo M. Bujosa. A ação popular ambiental e a
interpretação contemporânea do conceito de cidadão na sociedade de informação. Disponível em:
<http://www.saraivajur.com.br/menuesquerdo/doutrinaArtigosDetalhe.aspx?Doutrina=1144>
158
Idem.
159
Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de
atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de entidades
autárquicas, de sociedades de economia mista (Constituição, art. 141, § 38), de sociedades mútuas de
seguro nas quais a União represente os segurados ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais
autônomos, de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou
concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao
73

Nesse prisma, fala-se em litisconsórcio passivo necessário, uma vez que


todos os beneficiários do ato impugnado devem ser citados, sob pena de ausência de
citação de parte necessária inquina de vício insanável referida demanda, e, por via de
consequência, inexistente a sentença prolatada.
A ação popular, muito embora tenha sido a intenção do legislador de
alargar o campo da efetividade do acesso à justiça, tem encontrado alguns
obstáculos, o que dificulta a utilização deste remédio pelo cidadão comum.
Como bem pontuam Daniel Mendes e Henrique Cavedon:

Grande problema para o efetivo uso da Ação Popular é que sua estrutura
não foi alterada, apesar da inclusão da possibilidade de tutela dos
interesses difusos de ordem ambiental, o que certamente traz dificuldades
na sua utilização por parte do cidadão que pretenda defender o patrimônio
ambiental da coletividade através deste instrumento. Outro ponto que
dificulta sua utilização são as barreiras de Acesso à Justiça que podem se
colocar entre o cidadão e a efetiva propositura da ação popular, como, por
exemplo, arcar sozinho com o ônus econômico, material, psicológico do
litígio, na maioria das vezes, contra atos do Poder Público, o que
certamente lhe trará os inconvenientes da exposição pública; a diferença
econômica e informativa do autor popular para com, geralmente, figurando
no polo passivo, o Estado, etc.160

Como se vê, a tarefa árdua do legislador em tornar o remédio constitucional


mais eficaz e mais acessível não terminou. Por mais que haja mudanças legislativas
no tocante aos bens a serem protegidos, entre outras mudanças, ainda há muito que
se fazer para se alcançar o efetivo acesso à justiça.
A questão da legitimidade, quando se discute a figura do cidadão é uma
vertente que deve ser resolvida, desta feita, num campo alargado, onde o legitimado
transcende a figura do eleitor, de modo a garantir o direito de petição e o próprio
acesso à justiça, tal qual fundamentam bem Cappelletti e Garth, quando tratam da
segunda onda reformadora do processo: a tutela coletiva.

3.3.2 A ação civil pública ambiental

patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas
ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos.
160
MENDES, Daniel Henrique Bini; CAVEDON, Fernanda de Salles. Ação popularambiental e acesso à
Justiça: considerações acerca da legitimidade ativa. Revistade Direitos Difusos, São Paulo, v. 30, p. 157-
176, 2005.
74

A lei da ação civil pública é de autoria mista, tratando-se da mescla de dois


projetos de lei diversos. O original, comandado por Adda Pelegrini Grinover, Candido
Rangel Dinamarco e Waldemar Mariz de Oliveira, cujo objetivo era criar uma lei de
cunho processual para a defesa do meio ambiente, tendo por base a ação de
responsabilidade, prevista no parágrafo primeiro, do artigo 14, da Política Nacional de
Meio Ambiente (Lei n. 9.638/81).
O segundo projeto alcançou primeiramente o status de lei, que é de autoria
do Ministério Público do Estado de São Paulo, por Nelson Nery Jr.,
ÉdisMilaré,Antônio Augusto Mello de Camargo Ferraz). Aproveitaram-se as bases do
primeiro projeto, mas ampliou a legitimidade ativa, o objeto, a competência do local
do dano, o inquérito civil etc.
Tudo isso para a tutela processual dos conflitos de massa, com a intenção de
mitigar o sistema individualista e o tímido aparato da Ação Popular.
A aprovação se deu ao texto original (o primeiro), prevendo o remédio para a
defesa dos direitos dos consumidores e do meio ambiente.
Em 1990, com o advento do Código de Defesa do Consumidor – CDC, a
Ação Civil Pública passou a ser utilizada para a defesa de todos os direitos difusos e
coletivos, como idealizado pelos autores do projeto inicialmente concebido.
Desta forma, a Ação Civil Pública passou a ter status de remédio processual
para qualquer direito difuso e coletivo.
Atualmente, a Ação Civil Pública (Lei n. 7.374/85) é uma lei eminentemente
processual, servindo a tutela de qualquer direito supraindividual (não só o meio
ambiente). É um instrumento para impor soluções para todo e qualquer tipo de crise
jurídica, entre elas, a crise ambiental.
Neste olhar sobre a proteção ambiental, raiz da Lei da Ação Civil Pública,
necessário se fazer alusão ao principio da precaução. Segundo lição do Professor
Marcelo Abelha Rodrigues:

É que, resguardado pelo principio da precaução, o direito ambiental não


admite e nem negocia os riscos. Assim, a tutela jurisdicional preventiva e
imperiosa, pois sua finalidade é a mais próxima dos princípios de direito
ambiental. Nesse diapasão e importante ressaltar que a tutela jurisdicional
do meio ambiente pode ser feita antes mesmo de se ter iniciado uma
75

ação concreta lesiva ao meio ambiente, ou quando isso esteja em risco


de acontecer.161

Veja que a Ação Civil Pública é o instrumento de aplicação do princípio da


precaução, a fim de se evitar danos ao bem ambiental diante das ameaças
constantes que certamente culminarão em desastres de grande monta, de modo que
o objeto na ação civil pública é extremamente estreito com o princípio da precaução,
servindo de controle corretivo na fonte,contra escolhas de políticas públicas malfeitas
162
que no futuro seriam irreversíveis para o meio ambiente.
Consoante lição de Álvaro Luiz Valery Mirra, a ação civil pública, disciplinada
pela Lei n. 7.347/85, não pode deixar de ser estudada como um dos mecanismos
destinados à efetivação do regime democrático-participativo em matéria ambiental,
verdadeiro instrumento processual por meio do qual se concretiza a denominada
participação judicial na defesa do meio ambiente.
Neste raciocínio, continua o aludido autor:

[...] de todos, o mais amplo instrumento processual, já que por seu


intermédio podem-se perseguir a anulação ou a declaração de nulidade
de atos administrativos lesivos ao meio ambiente, a responsabilização
civil do degradador por danos ao meio ambiente, seja pessoa física ou
jurídica, esta de direito publico ou privado, bem como a prevenção de
danos ao meio ambiente.163

Portanto, não se trata de desmerecer os demais instrumentos de proteção


aos interesses coletivos lato sensu, mas sim de reconhecer o avanço que a ação civil
pública trouxe à questão processual na defesa e efetivação dos interesses coletivos,
sobretudo ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Para Hugo Nigro Mazzilli, uma ação que verse a defesa dos interesses
difusos, coletivos ou individuais homogêneos, se estiver sendo movida pelo Ministério
Público, o mais correto sob o prisma doutrinário, será chamada de ação civil pública.
Todavia, se tiver sido proposta por associações civis, mais correto será ação coletiva.
Este entendimento causa estranheza, uma vez que tanto o Ministério Público
quanto as associações civis são legitimados para propor a ação civil pública, como
veremos adiante.

161
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Ação civil publica e meio ambiente. .p. 21.
162
Idem.
163
MIRRA, Alvaro Luiz Valery. Acao civil publica e a reparacao do dano ao meio ambiente. P. 145-146.
76

Todavia, no enfoque legal, será ação civil pública qualquer ação movida com
base na Lei n. 7.347/85, para a defesa de interesses transinsidividuais, ainda que seu
autor seja uma associação civil, um ente estatal, o Ministério Público ou qualquer
outro colegitimado, ao passo que será ação coletiva qualquer ação fundada nos
artigos 81 e seguintes do Código de Defesa do Consumidor, que verse a defesa de
interesses transindividuais.
O Professor Marcelo Antonio Theodoro explica que os direitos de terceira
dimensão são direitos fundamentais, que expressam a proteção transindividual, ou
seja, protege o ser humano, mesmo que não se possa apurar exatamente a quem se
164
está efetivamente protegendo.
Ainda sobre os interesses transindividuais, acrescenta-se que o prefixo
transpermite a ideia de que os direitos, mesmo comunitários, tocam, imediata e
individualmente, cada um dos membros da coletividade, muito embora, ao vocábulo
individual não se possam atribuir o mesmo conteúdo excludente de quando se refere
a direito daquela natureza.
A teoria dos direitos transindividuais desponta como instrumento de
participação popular no poder, seja no processo de reconhecimento de direitos, seja
no tocante à tutela dos direitos reconhecidos.
Fica assentado que, consoante doutrina, o termo mais adequado para
designar os direitos que não tem como titular o indivíduo com exclusividade,
étransindividuais ou coletivos lato sensu, em prejuízo da expressão metaindividuais,
porquanto transsignifica movimento para além, denotando apenas, neste caso, que
tais direitos, sem deixarem de pertencer ao indivíduo, pertencem também a outros
inseridos no mesmo contexto comunitário.
Feitas as considerações sobre os direitos transindividuais, necessário
discorrer sobre o objeto tutelado na ação civil pública, como segue adiante.

a) Legitimação ativa e passiva na ação civil pública ambiental

164
THEODORO, Marcelo Antonio. Ação popular e ação civil pública como instrumentos constitucionais de
tutela processual do meio ambiente. p. 261.
77

Antes de adentrar na esfera da legitimação da lei da ação civil pública, mister


trazer a explicação de Hugo Nigro Mazzilli do que seria a legitimação ordinária e
extraordinária. A legitimação ordinária é aquela em que o próprio titular do direito
defende seu interesse, como é o caso das ações de cunho individual, em
consonância ainda com o direito de ação.
Já a legitimação extraordinária, segundo Hugo Nigro Mazzilli, se dá em
proveito da efetividade da defesa do interesse violado, no sentido dos interesses de
grupos, classes ou categorias de pessoas que, de outra forma, seria impossível a
cada pessoa lesada buscar a tutela jurisdicional diante do ônus que isso representa
165
(caráter probatório, custas etc).
Isso ocorre nas ações civis públicas, para a defesa dos interesses
transindividuais, onde alguns legitimados substituem processualmente a coletividade
de lesados.
Superada a questão das formas de legitimação, necessário se faz analisar a
legitimidade para agir na ação civil pública.
A legitimidade ativa vem expressamente delineada no artigo 5º, da Lei
7347/85, cumulado com o artigo 82, do Código de Defesa do Consumidor.
Ou seja, têm legitimidade para propor ação civil pública, o Ministério Público,
a Defensoria Pública, a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios,
autarquias e empresas públicas, fundações ou sociedade de economia mista, bem
como a associação que esteja constituída há pelo menos um ano e que inclua entre
suas finalidades, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica,
livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico, em conformidade com o artigo 5º.
Já o artigo 82, do Código de Defesa do Consumidor, traz como legitimados
também as entidades e os órgãos da administração pública, direta ou indireta,
mesmo sem personalidade jurídica.
Dentre todos os legitimados, merece destaque o Ministério Público e as
associações civis.

165
MAZZILLI, Hugro Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. p. 64.
78

Inegável a atuação do Ministério Público na atuação como órgão da


sociedade civil. Hoje em dia, o papel do Parquet é como um verdadeiro defensor do
povo.
Nas palavras de Marcelo Pedroso Goulart:

O Ministério Público apresenta-se, em seu novo perfil, como agente


parceiro da consolidação e ampliação desses novos espaços, servindo-se
de canal privilegiado às demandas que visasm a concretização dos novos
direitos e o resgate da cidadania da parcela majoritária da população
brasileira que vive à margem dos processos político e econômico.166

Portanto, o Ministério Público tem fundamental importância nas ações civis


públicas como legitimado ativo.
Não menos importante é o papel das associações civis, que são entidades
criadas no seio da sociedade pela iniciativa de cidadãos desvinculados do Estado,
atuando no interesse difuso da coletividade, sem conotação corporativista.
São conhecidas por ONGs (organizações não governamentais) e ilustram a
carência do Estado-providência.
Trazendo o olhar sobre a proteção do bem ambiental, podemos ressaltar a
importância das ONGs ambientalistas.
Saliente-se que no âmbito da lei da ação civil pública, o modelo participativo
judicial adotado, no Brasil é o da participação judicial semidireta.
Segundo Álvaro Luiz Valery Mirra, importante compreender que o Ministério
Público e as associações civis se, por um lado, atuam em nome próprio e na defesa
de um direito de todos os membros do grupo social, por outro lado, sob a ótica
substancial, agem como verdadeiros representantes do povo e autênticos porta-
167
vozes dos interesses da sociedade na proteção do meio ambiente.
Quanto à legitimação passiva, conforme lição do Professor Marcelo Antônio
168
Theodoro , são aqueles que causaram, ou ameaçaram causar, lesão ao interesse
coletivo, no caso, do meio ambiente ecologicamente equilibrado, podendo ser
pessoas naturais ou jurídicas de direito público ou privado.

166
GOULART, Marcelo Pedroso. Ministério Público e democracia. Leme: Editora de Direito, 1998, p.90.
167
MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Tese de Doutorado. Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo –
USP, 2010.
168
THEODORO, Marcelo Antonio. Ação popular a ação civil pública como instrumentos constitucionais de
tutela processual do meio ambiente. In: Novas perspectivas do direito ambiental: visões interdisciplinares.p.
268.
79

Diante do quanto exposto, mesmo de que forma superficial às características


da ação civil pública, compreende-se que a ação civil pública é o instrumento que
mais garante a efetividade dos interesses difusos lato sensu (transindividuais), e, nas
169
palavras do Ministro Rosado de Aguiar, citado por Hugo Nigro Mazzilli :

É preciso enfatizar a importância da ação coletiva como instrumento útil


para solver judicialmente questões que atingem um número infindo de
pessoas, a todas lesando em pequenas quantidades, razão pela qual
dificilmente serão propostas ações individuais para combater a lesão.170

Sendo o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado como um


direito fundamental humano, este carece de instrumentos processuais que se
destinem a protegê-lo e torná-lo efetivo. A ação civil pública é um destes
instrumentos, em destaque, que se destina à tutela dos direitos transindividuais,
estando inserida no rol das garantias repressivas fundamentais.

3.3.3. O mandado de segurança coletivo ambiental

A Constituição Cidadã de 1988, em seu artigo 5º, inciso LXIX, prevê que o
mandado de segurança é instrumento processual cabível para defesa do cidadão
contra atos ilegais provindos de autoridade que esteja em exercício de função pública
ou de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.
Referido remédio constitucional pode ser utilizado individual ou coletivamente,
consoante se extrai da Novel Lei n. 12.016, de 2009.
Em relação ao mandamus coletivo, que é o objeto de estudo, verifica-se que a
Constituição Federal vigente apenas delimitou os legitimados constitucionalmente à
impetração do writ, limitados a partido político com representação no Congresso
Nacional, organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente
constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de
171
seus membros ou associados.

169
Op. cit. p. 69.
170
REsp. 235.422-SP. 4ª t. STJ., 19-10-00, v.u. rel. Min. Rosado de Aguiar, DJU, 18-12-00,p. 202. E RSTJ,
146:357.
171
Art. 5º, LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:a) partido político com
representação no Congresso Nacional;b) organização sindical, entidade de classe ou associação
legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus
membros ou associados. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de
80

Necessário acrescentar que, no que pertine à terminologia mandado de


172
segurança coletivo ambiental, este se traduz no direito líquido e certo à vida com
qualidade, como bem destaca Fiorillo:

Usamos mandado de segurança coletivo ambiental justamente porque o


vocábulo coletivo, que vem a adjetivar a expressão mandado de segurança
não traduz a ideia, como se pode pensar, de proteção a direitos coletivos
stricto sensu. Não há se perder de vista, para a melhor compreensão deste
tema, que os valores ambientais traduzem-se, em última análise, no
próprio direito à vida com qualidade.173

Prossegue o autor, com a seguinte afirmação:

E, sendo o meio ambiente bem de natureza difusa, imprescindível a


observância dos princípios processuais e materiais formados pela
Constituição Federal de 1988, pela Lei n. 12.016/09, bem como pela Lei
8078/90, Lei 7347/85 e evidentemente pela Lei da Política Nacional do
Meio Ambiente (Lei n. 6.938/81), a fim de que haja perfeita
compatibilização dos instrumentos de proteção aos bens em questão,
porquanto sabemos que o Código Civil e o Código de Processo Civil foram
criados sob a égide de um espírito individualista, tornando-se inadequados
à tutela reclamada pelos bens e valores difusos.174

Veja-se que o mandamus coletivo deve desvencilhar-se a todo custo, das


técnicas individualistas que sempre nortearam o processo civil como um todo, donde
nos retomamos à máxime democracia participativa.

a) Legitimação ativa e passiva no mandado de segurança coletivo


ambiental

A previsão constitucional do mandado de segurança coletivo difere do


mandado de segurança individual, sobretudo no que tange à legitimidade ativa,

1988/obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Curia, Livia Céspedes
e Juliana Nicoletti – 4 ed. atual. eampl. – São Paulo: Saraiva, 2012. – (Coleção Saraiva de legislação)
172
Segundo Hely Lopes Meireles, direito líquido e certo é: [...] o que se apresenta manifesto na sua
existência, delimitando em sua extensão e apto a ser exercitado no momento da impetração. Por outras
palavras, o direito invocado, para ser amparável por mandado de segurança, há de vir expresso em norma
legal e trazer em si todos os requisitos e condições de sua aplicação ao impetrante; se sua existência for
duvidosa; se sua extensão ainda não estiver delimitada; se seus exercícios depender de situações e fatos
ainda indeterminados, não rende ensejo à segurança, embora possa ser defendidos por outros meios
judiciais. In: MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de Segurança. 30. Ed. Editora Revista dos Tribunais. São
Paulo: 2006, p. 403.
173
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Mandado de segurança coletivo ambiental e a lei n. 12.016/09.
Disponível em: ttp://www.saraivajur.com.br/menuesquerdo/doutrinaArtigosDetalhe.aspx?Doutrina=1103
174
Idem.
81

trazida por um rol exemplificativo, em razão de outras leis que sobrevenham ao texto
constitucional sobre a matéria.
Destaque se dá ao Ministério Público, que também possui legitimidade ativa
para impetrar referido remédio coletivo, de acordo com o art. 129, inciso III e §1º, da
Carta Maior.
Os partidos políticos, entidades de classe e associações também são
legitimados para a propositura do writ, por força do art. 81, do Código de Defesa do
Consumidor.
Na assertiva de Antonio Pacheco Fiorillo:

Tratando-se de direitos difusos, os legitimados para a propositura da ação


de mandado de segurança coletivo possuirão a referida titularidade ativa
para conduzir o processo, porquanto, pela própria definição de direitos
difusos estabelecidas no art. 81, parágrafo único, do Código de Defesa do
Consumidor, tais direitos dirão respeito aos interesses de seus
associados.175

Tangente aos sindicatos, a legitimidade ativa encontra guarida no art. 8º,


inciso II, da Lei Maior, incluindo-se aqui as ONGs ambientais, que também são partes
legítimas para impetrar o mandado de segurança coletivo.
Com relação à legitimidade passiva, encontra-se guarida na Constituição
Federal, donde se extrai que somente tem legitimidade passiva o sujeito passivo de
tal ação a autoridade pública ou a pessoa ou empresa exercendo atividade típica e
delegada do Estado que perpetra a ilegalidade ou abuso contra o meio ambiente.

3.3.4 Mandado de Injunção ambiental

O mandado de injunção está previsto e conceituado no art. 5º, inciso LXXI,


da Carta Magna, sendo ele o instituto processual por meio do qual o cidadão pode
reclamar junto ao Judiciário os direitos, liberdades ou prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania, à cidadania, conferidos pela Constituição, contudo não
podem ser exercidos em função da falta de lei que complemente o dispositivo
constitucional.

175
Ibidem.
82

Deve-se explicar a palavra injunção, cuja origem injuncionsignifica ordem


formal imposição.
Conforme Francisco Antônio Oliveira:

[...] é remédio constitucional mandamental colocado à disposição de


pessoa física ou jurídica (de direito público e privado) e figuras
despersonalizadas (espólio etc.) com o objetivo criar a norma jurídica
regulamentadora do direito do impetrante por intermédio do Estado-juiz
para a satisfação do pedido.176

Constatada a omissão, por parte do Poder Público, em regulamentar


normas constitucionais de eficácia limitada em matéria ambiental, este instrumento
pode ser suscitado por qualquer cidadão. Nesse sentido, destaca Nelson Nery Júnior
que:

O mandado de injunção é instrumento hábil para tutelar o meio ambiente,


na medida em que o direito ambiental tem como objeto uma vida de
qualidade. Em outras palavras, não se tutela somente a vida, acrescenta-
se a esta uma exigência: qualidade. Falar em vida com qualidade é buscar
tornar efetivos os preceitos dos arts. 5 e 6 da Constituição, e estes são
indiscutivelmente objeto de mandado de injunção, porquanto ostentam a
natureza de direitos constitucionais.177

Segundo Elida Séguin, como parte da cidadania, está elencado o meio


ambiente, que é objeto de tutela do mandado de injunção:

Havendo uma lacuna legal na disciplina do exercício do direito a uma sadia


qualidade de vida, o remédio constitucional pode ser invocado, ou seja, a
CF [Constituição Federal] permite que o [Poder] Judiciário supra tal
omissão. Inegavelmente a questão ecológica, como direito difuso, faz parte
do elenco da cidadania e, como direito individual, pode ser objeto desse
remédio, quando comprovado o interesse de agir. 178

3.3.4.1 Legitimação ativa e passiva no mandado de injunção ambiental


Não existem restrições quanto à legitimidade ativa no mandado de injunção.
Nesse sentido posicionam Celso Antônio Pacheco Fiorillo, Rosa Maria Andrade Nery
e Marcelo Abelha Rodrigues:

176
OLIVEIRA, Franciso Antônio. Mandado de Injunção: da inconstitucionalidade por omissão, enfoques
trabalhistas, jurisprudências. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 23.
177
NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios Gerais do Código Brasileiro de Defesa do Consumidor. Revista de
Direito do Consumidor, São Paulo: Revista dos Tribunais, vol. 3, p. 11
178
SÉGUIN, Elida. O Direito Ambiental – Nossa casa Planetária. 3. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:
Forense, 2006, p. 349.
83

Se toda pessoa é sujeito de direitos, basta que esses direitos sejam


aqueles estabelecidos no art. 5º, LXXI, da Constituição Federal, e que
preencham os requisitos de cabimento do writ para que sejam tuteláveis
pelo mandado de injunção. (...) Assim a titularidade para impetração do
mandado de injunção é ampla. Pode ser impetrado por pessoa natural, de
direito público ou privado. Ainda, nada obsta que seja figura
despersonalizada.179

Continuam os aludidos autores discorrendo que o mandado de injunção se


refere ao [...] exercício de um direito já previsto na Constituição, ou seja, tem escopo
de satisfazer no caso concreto o referido exercitamento do direito já previsto que
180
esteja ausente de norma que lhe dê regulamentação.
Por sua vez, no pertinente aos legitimados passivos, no mandado de
injunção, há variações doutrinárias a este respeito.
Marcelo Abelha Rodrigues, Rosa Maria Nery e Celso Fiorillo aduzem que
por ser a expressão “ausência de norma regulamentadora” muito abrangente, admite-
se variado número de pessoas no polo passivo, destacando-se as pessoas políticas
do Estado (União, Estados e Municípios) e os entes da Federação (Executivo,
181
Legislativo e Judiciário).

179
FIORILLO, Celso Antonio; NERY, Rosa Maria Andrade;RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito
Processual Ambiental Brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, 1996, p. 252.
180
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco; RODRIGUES, Marcelo Abelha; NERY, Rosa Maria Andrade. Direito
processual ambiental brasileiro: ação civil pública, mandado de segurança, ação popular, mandado de
injunção. Belo Horizonte: Del Rey, 1996, p. 525.
181
Idem, p. 221.
84

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desfecha-se a presente pesquisa - que não pretendeu esgotar o tema, mas


apenas trazer algumas questões pontuais sobre a questão ambiental e sua proteção
jurisdicional – com algumas considerações.
As ideias propostas na presente dissertação foram fruto de intensos
questionamentos, dúvidas e pesquisas nas diversas áreas do conhecimento. Por
tratar-se de Direito Ambiental e sua Tutela Jurisdicional, não há como fugir de qual a
natureza jurídica do direito ambiental que, notadamente, possui cunho fundamental –
à vida de todas as formas, e não apenas do ser humano, como bem preceitua parte
da doutrina.
A proteção do bem ambiental – e aqui não se trata de apenas o bem, mas
sim que este seja equilibrado ecologicamente – vem delineada desde a década de
setenta, com a Conferência de Estocolmo, onde se reconheceu o direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado como um direito fundamental.
Não obstante os demais documentos internacionais de extrema relevância,
que se pretendeu não abordá-los todos, mas apenas os principais, até porque o
primeiro deles, já mencionado acima, é espelho dos demais que foram
confeccionados aos longo de décadas.
O Brasil, como signatário de inúmeros tratados internacionais envolvendo
não somente direitos humanos, mas o direito ambiental como corolário deste, de
cunho fundamental, deve adequar-se às regras impostas quando das tratativas
negociais até a ratificação. Significa dizer que, uma vez ratificado um tratado
internacional, este deverá ser cumprido, sob pena de violação de fontes do Direito
Internacional.
No caso dos tratados internacionais de direito ambiental, reconhece-se a
necessidade de se manter o ambiente sadio e há, a partir daí, a necessidade de
adequação, seja no campo do Poder Legislativo, do Poder Executivo ou do Poder
Judiciário.
Este último tem o papel de aproximar o direito material do interessado, e
quando se trata de interesses transindividuais, aproximá-los aos legitimados e
colegitimados de forma eficaz, garantindo, assim, o bem da vida a ser tutelado.
85

Ocorre que, sob influência do Estado Liberal de Direito, o Estado fechava


as portas à tutela coletiva, sendo o processo eminentemente individualista,
permitindo somente a atuação do autor, do réu e do magistrado, com resultados intra
partes.
No entanto, para a glória de toda a sociedade, surgiram, no âmbito
internacional, modelos de tutelas coletivas, as denominadas class actions. O Brasil
também deu significativa contribuição no que pertine aos modelos de tutela
jurisdicional coletiva, sendo o legislador brasileiro que mais inovou a revolução dada
por Cappelletti e Garth.
Nesse cenário, várias leis foram postas, com a previsão de legitimados
ativos de forma coletiva, como a própria Lei n. 1.134/1950, o anterior Estatuto da
Ordem dos Advogados do Brasil, Lei n. 4.215/1963, também com legitimação ativa
coletiva. Não se deve olvidar das anteriores constituições, que, de modo bem singelo,
começaram a trazer questões coletivas ao processo.
Todavia, toda essa mudança se deu por parte da doutrina processualista
brasileira, cabendo destacar Barbosa Moreira, Waldemar Mariz e Ada Pelegrini
Grinover que, com seus trabalhos e relevante importância, deram força para a
criação da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, Lei n. 6.938/91. Mais tarde,
com a Lei da Ação Civil Pública e a promulgação da Constituição Cidadã, a questão
da tutela jurisdicional coletiva restou mais aflorada.
É com esse escopo que os instrumentos processuais entram em cena.
Garantir a efetividade dos interesses transindividuais, de modo a mitigar os
interesses individuais.
Referidos instrumentos encontram-se no ordenamento jurídico interno do
Brasil, sobretudo na Constituição Federal, com o nome de remédios constitucionais.
Também previstos em legislações infraconstitucionais, sobretudo as que digam
respeito à regulamentação da norma constitucional, possuindo suas peculiaridades
próprias, permitem a busca pela tutela jurisdicional coletiva.
Contudo, falhas ainda existem, sobretudo no que diz respeito ao seu modo
de utilização por parte dos operadores do Direito, bem como pelo próprio ranço do
modelo processual individualista e egoísta.
86

No que diz respeito à tutela coletiva ambiental, a preocupação não difere


com relação à mitigação da tutela individual.
Conclui-se que, diante das falhas existentes no plano da eficácia social da
norma, também devem ser levados em consideração que, além do direito ao
ambiente sadio ser fundamental, também o é o direito ao acesso à justiça, de modo
que esta justiça ambiental seja efetivada pela via adequada, ou seja, qualquer um
dos remédios constitucionais existentes é capaz para garantir a tutela efetiva dos
direitos, isso se bem manejada. A finalidade é, sem sombra de dúvida, a garantia ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado não somente para as presentes, mas para
todas as gerações e todas as formas de vida existentes.
87

REFERÊNCIAS
1
MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo. 18. ed. São
Paulo: Saraiva, 2005, p. 56.
2
LAGO, André Aranha Corrêa do. Estocolmo, Rio, Joanesburgo o Brasil e as três
conferências ambientais das Nações Unidas. Brasília: FUNAG, 2006, p. 18.
4
LEITE, Jose Rubens Morato. Dano ambiental꞉do individual ao coletivo
extrapatrimonial. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo꞉Editora Revista dos Tribunais,
2003, p. 86.
5
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