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Os impactos socioeconômicos do programa bolsa família: uma análise crítica

fundamentada no pensamento de Michel Foucault.

Robson Silva Generoso*

RESUMO

Este artigo tem por objetivo promover uma análise crítica sobre o programa de
redistribuição de renda implementado pelo governo federal, o Programa Bolsa
Família, bem como considerar a aferição de seus resultados em âmbito nacional
como fundamento da análise. Através da história de lutas sociais do nosso país, as
políticas públicas voltadas para as populações mais vulneráveis e subalternizadas
tomam espaço nos debates e criam contornos de ações diferenciadas para estes
setores objetivando sua emancipação em todos os campos da existência humana.
Para que a análise proposta não se torne uma mera exposição de dados estatísticos
recorre-se ao pensamento de diversos autores que jogam luz sobre as questões
pertinentes ao controle e regulamentação populacional. Nesse sentido, através da
análise dos mecanismos de poder e o exercício do controle social na conjuntura das
instituições do Estado responsáveis pela gestão do Programa Bolsa Família, intenta-
se descortinar os reais interesses por detrás do discurso oficial de uma democracia
representativa.

Palavras-chave: Programa Bolsa Família; Subalternidade; Mecanismos de Poder;


Michel Foucault.

* Graduando em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), Serro-
MG, 2017.
1. INTRODUÇÃO

Este estudo tem como objetivo desenvolver uma análise crítica dos impactos
sociais e econômicos decorrentes da implantação do programa de redistribuição de
renda Bolsa família, programa este concebido e mantido pelo Governo Federal. O
Programa Bolsa Família vem substituir os programas que lhe antecederam: Bolsa-
Escola, Auxílio-Gás, Bolsa-Alimentação e Cartão Alimentação. A unificação desses
programas visou melhorar e aumentar a efetividade do gasto social através da
otimização e racionalização, ganhos de escala e facilidade de interlocução do
governo federal com os demais entes federados (estados e municípios).

Em um primeiro momento a análise incidirá sobre os aspectos gerais


concernentes aos processos de criação e gestão do programa pelas instituições
responsáveis pela manutenção e atualização, tanto em âmbito estadual quanto
municipal. O Programa Bolsa Família (PBF), instituído pelo governo federal em 2003
e vinculado, desde 2004, ao então recém-criado Ministério de Desenvolvimento
Social e Combate à Fome (MDS), constitui um exemplo emblemático das medidas
de focalização. Direcionado ao público caracterizado pela carência proveniente da
renda familiar, o programa apresenta como seu principal objetivo a erradicação da
pobreza, atuando em três eixos principais: transferência de renda às famílias;
reforço no acesso dessas aos serviços básicos nas áreas da educação, saúde e
assistência social e integração com outras ações e programas complementares. Aos
dois últimos eixos são impostas determinadas condicionalidades que, caso sejam
descumpridas, podem acarretar a suspensão do benefício.

Após a exposição dos aspectos informativos do Programa Bolsa Família,


será abordada em temática específica a crítica realizada por Rémi Fernand
Lavergne ao Programa fundamentada no pensamento do filósofo pós-estruturalista
Michel Foucault, entendido no contexto da ordem social vigente, enquanto uma
modalidade inovadora de biopolítica. A fim de tornar a crítica mais clara e,
consequentemente, mais incisiva, se faz necessário discorrer sobre alguns conceitos
elaborados por Michel Foucault, dentre eles o próprio conceito de biopolítica,
podendo este ser entendido, preliminarmente, como um mecanismo de
regulamentação da vida através da imposição de normas de conduta previamente
estabelecidas.
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Dessa maneira é possível perceber, através de uma leitura das grandes


linhas do PBF, como sua aplicação a uma dada população (a nebulosa dos
“excluídos”) faz referência à ideia de mecanismos que Foucault designou de
biopoder, quais sejam: a articulação do dispositivo de gestão com o biopoder; a
estreita inter-relação da sua tecnologia social com a produção de saberes sobre a
miséria; a conexão estabelecida entre família e instâncias de controle; suas
dimensões individualizante e totalizante e a sua propensão a condicionar a conduta
dos outros (Foucault, 1995, p. 231-249) ou, em outras palavras, a sua incidência
centrada sobre a vida de determinados segmentos da população brasileira.

Diante do contexto de miséria que vivenciamos em nosso país, o


desenvolvimento de políticas públicas tornou-se uma estratégia sumamente
relevante a ser realizada pelo governo promovendo a erradicação da fome e a
diminuição dos níveis de desigualdade. Nesse sentido, as linhas de ações postas
em prática no Brasil têm buscado o desenvolvimento e aperfeiçoamento de
programas já existentes que, por sua vez, sustentam o discurso da maximização do
número de beneficiados. Os indicadores sociais do país apontam que, apesar dos
benefícios trazidos pela democratização que invadiu a política e a economia
brasileira no século XX, principalmente após a promulgação da Constituição
Republicana de 1988, a implementação de políticas públicas dessa natureza
constituía uma reivindicação feita por setores organizados, sendo que estes, por sua
vez, buscavam aprovação de emendas e ampliação de recursos que financiassem a
efetivação as mesmas.

No Brasil, apesar de a Constituição de 1988 ter colocado em pauta a ideia


de política pública como instrumento de inclusão através de ações que visavam
proporcionar o regate da assim denominada dívida social (Theodoro e Delgado,
2003), a lógica da agenda do ajuste macroeconômico, a partir do advento do Plano
Real, impôs a substituição de políticas com pretensões universalistas por programas
de transferência de renda ostensivamente focalizados sobre os mais pobres e
vulneráveis representantes da sociedade brasileira. Desse modo, uma das
perspectivas possíveis do reajuste estrutural dos governos se insere no contexto da
delimitação dos públicos-alvos e na racionalização de caráter contabilista das
atribuições das políticas sociais, muitas vezes denunciadas como sendo
responsáveis pelo déficit público.
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De acordo com essa problemática envolvendo a redistribuição de renda para


a população carente por meio da promoção de políticas públicas sociais voltadas a
este fim específico, esta pesquisa passará a abordar em sua temática final, reflexões
pertinentes ao planejamento e ações desenvolvidas pelo Estado a fim de que as
condutas dos beneficiários do PBF estejam devidamente limitadas pelos
mecanismos de segurança e disciplina como fatores preponderantes para o êxito do
controle social exercido sobre a camada marginalizada da sociedade brasileira.
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2. DESENVOLVIMENTO

Antes de iniciar uma análise propriamente dita dos campos de influência do


PBF nas diversas esferas de organização do poder estatal e sua consequente
configuração do cenário social e econômico, se faz necessário uma pequena
digressão a respeito de sua origem e atendimento de demanda a nível nacional. De
acordo com os dados fornecidos pelo Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome – MDS, órgão da administração federal, responsável pela gestão e
implantação do Programa Bolsa Família (PBF), atende atualmente 12.778.220 de
famílias, o que equivale a aproximadamente 50 milhões de pessoas, representando
uma estimativa de repasse mensal de 1,3 bilhão de reais, atingindo 98,33% de
famílias do total de famílias pobres concernentes ao perfil estipulado para o
programa.

O perfil dos beneficiários do programa se constitui por critérios de


determinação social de características predominantemente éticas – fome, pobreza,
trabalho infantil, dentre outros – que apontam para o grau de vulnerabilidade em que
se encontram os mesmos, ou também por fatores morais – violência, tráfico,
consumo de drogas, degradação ambiental, prostituição infantil, etc.

Nas considerações de Amélia Cohn, apesar das dificuldades de ampliação e


efetivação dos direitos sociais previstos pela Constituição Federal, é possível
perceber inúmeras experiências dos governos locais no sentido de enfrentar
questões sociais, promovendo políticas e programas estruturantes de novas práticas
e identidades sociais, mas que nem sempre conseguem materializar o que foi
idealizado.

A autora ainda ressalta que a história brasileira é marcada pelo empenho de


vencer a miséria, a pobreza e a desigualdade social, mas que as demandas por
proteção social surgem e organizam-se de maneira diferenciada em consequência
da dinâmica econômica e social, bem como da forma de organização e certificação
do sistema político. Portanto, limita-se num campo de disputas, uma vez que diz
respeito a desigualdade nos níveis econômico, político e cultural em um tipo
societário marcado pelo multiculturalismo. Tal constatação é de suma relevância
para determinar, dentro do contexto da cidadania, quais as prioridades a serem
abrangidas pelo Estado.
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Diante da colocação do que pode ser considerado primordial e


indispensável, é possível perceber a dificuldade de se pôr em prática os programas
que almejam a inclusão social ou redução da exclusão social no Brasil. A
diversidade cultural e o desconhecimento da realidade social pelo legislador, criam
obstáculos à ampliação dessas percepções, na medida em que o distanciamento da
realidade é uma das principais críticas existentes no sistema de representação
política brasileira. Desse modo, as ações planejadas para o combate à pobreza e à
desigualdade estão relacionadas a maneira como se constitui o entendimento e
reconhecimento das determinantes sociais.

Conforme exposto na introdução, o objeto de estudo desse trabalho é o


Programa Bolsa Família, instituído pela Lei nº 10.836/2004 (BRASIL, 2004), em duas
concepções que podem apresentar a concretização de direito social de caráter
fundamental na forma de política pública redistributiva de riqueza, erigida sobre a
renda mínima garantida aos que necessitam, e como elemento a compor política
econômica no fomento de consumo interno, integrando, assim, o fato econômico.
Respaldado nesses termos busca-se analisar seus fundamentos teóricos e
legais/constitucionais.

O PBF foi instituído em 2004 a partir do processo de unificação de quatro


programas assistenciais de âmbito federal anteriormente existentes, quais sejam, o
Bolsa Escola, o Fome Zero, o Bolsa Alimentação e o Vale Gás, em conformidade
com o § 1º do artigo 1º da referida lei (BRASIL, 2004).

O programa se origina enquanto um esforço para alcançar melhores


resultados com as políticas públicas destinadas a atender a população carente, visto
que o “(...) o caráter altamente centralizado, burocratizado, fragmentado, privatista,
excludente e de baixa eficácia e eficiência social (...)” (Senna et al, 2007) sempre
caracterizou tais políticas no contexto brasileiro.

Nesse sentido, interessantes são as colocações de Senna sobre a política


pública de caráter social, sendo considerados verdadeiros desafios para os quais o
PBF foi concebido para enfrentar.

Dois traços característicos da política social brasileira vêm se destacando


enquanto questões-chaves a serem enfrentadas: a) os segmentos pobres
são os que tradicionalmente têm maiores dificuldades de acessar os bens e
serviços sociais, contribuindo para a persistência da desigualdade social; e
b) a falta de interação entre os diferentes setores de governo, entre governo
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e sociedade e a consequente dificuldade de coordenação das ações


desenvolvidas. (SENNA et al, 2007)
O PBF caracteriza-se, principalmente, por dois pontos: a transferência de
renda e a condicionalidade a que são submetidos aqueles que são beneficiados. A
transferência pecuniária, significando uma garantia de renda mínima, tem a
vantagem de reduzir os custos administrativos de operação do programa e ressaltar
a autonomia de quem recebe o benefício para as suas próprias escolhas de acordo
com suas necessidades. No que se refere às condicionalidades, surge o
questionamento sobre sua legitimidade, visto que configurariam uma restrição ao
direito social, limitando, dessa forma, o próprio exercício da cidadania (MONNERAT,
2007).

De acordo com Soares (2007), o PBF apresenta dois objetivos principais,


que são: “minorar a privação de renda de famílias pobres no curto prazo; e quebrar o
ciclo intergeracional de transmissão de pobreza”. Para tanto, estrutura-se em quatro
pontos organizacionais: público alvo (foco) e condições de acesso ao programa;
condicionalidades; descentralização administrativa e intersetorialidade; controle
social.

O PBF elegeu a família como núcleo social específico para o qual são
voltadas suas ações, abandonando a noção corriqueira de atenção isolada ao
indivíduo, ao mesmo tempo que alarga o conceito tradicional de família, conforme o
inciso I do § 1º do artigo 2º da lei (BRASIL, 2004). Com efeito, ocorre um
alargamento do conceito de família, abrangendo outros indivíduos, não
necessariamente parentes, mas que vivem sobre o mesmo teto em colaboração
para sobrevivência.

Parte-se do pressuposto que, ao proteger a família aumentam-se as


chances de estabelecer melhores condições de vida ao indivíduo, por meio da
otimização dos recursos empregados na política pública, oferecendo, dessa
maneira, resultados mais efetivos ao que se propõe, além do óbvio fortalecimento
dos laços sociais, o que, aliás, segue em conformidade com o texto constitucional,
mais precisamente em seu artigo 226, que declara ser a família base da sociedade
contando com especial proteção do Estado.

(...) o tema família adquire novas especificidades em razão do


reconhecimento de uma inequívoca situação de desemprego estrutural que
afeta a já frágil capacidade das famílias enfrentarem os desafios de
reprodução social de seus membros. Nesse sentido, são grandes as
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expectativas de se alcançar melhores resultados a partir da implementação


de programas e políticas que considerem a família como sujeito importante
no processo de proteção social. Dissemina-se, então, a ideia de que os
programas sociais têm maior possibilidade de otimizar recursos quando
passam a focar a família ao invés do indivíduo. Como defende Draibe
(1997), a decisão de se tomar a família como unidade de intervenção está
respaldada no argumento de que as políticas de proteção à família teriam
maior potencial de impactar as condições de vida da população pobre.
(SENNA, 2007)
Ao mesmo tempo em que se estabelece a família como núcleo central em
torno do qual irá girar o PBF, a lei instituidora cria um critério ao estabelecer uma
linha divisória com o objetivo de classificar as famílias como pobres e extremamente
pobres, as quais serão, então, beneficiadas com a transferência dos recursos
financeiros, desde que contém, ainda, com gestantes, nutrizes, crianças e
adolescentes até dezessete anos, conforme o artigo 2º e incisos da lei nº 10.836/04.

Assim, os benefícios serão disponibilizados às famílias que se enquadrem


ou como pobres ou extremamente pobres. O Benefício básico, no valor de R$ 68,00
(sessenta e oito reais) é pago às famílias consideradas extremamente pobres, cuja
renda mensal não ultrapasse R$ 70,00 (setenta reais) por pessoa, mesmo na
ausência de crianças, adolescentes ou jovens em sua composição. O Benefício
Variável, que corresponde ao valor de R$ 22,00 (vinte e dois reais), é pago às
famílias pobres, com renda mensal de até R$ 140,00 (cento e quarenta reais) por
pessoa, desde que tenham crianças e adolescentes de até quinze anos. Cada
família que se encaixe nos critérios de pobreza possui o direito de receber até três
benefícios variáveis, ou seja, até R$ 66,00 (sessenta e seis reais). O Benefício
Variável Vinculado ao Adolescente (BVJ), de R$ 33,00 (trinta e três reais), é pago a
todas as famílias do programa que tenham adolescentes de dezesseis e dezessete
anos que estejam devidamente matriculados e frequentes na escola. Cada família
pode receber até dois benefícios variáveis vinculados ao adolescente, ou seja, até
R$ 66,00 (sessenta e seis reais).

As condicionalidades são alvo de ressalvas por, em tese, restringirem o


próprio direito social referente ao benefício, além da crítica de que “(...) a lógica da
contrapartida exigida no PBF está embasada numa perspectiva de que os direitos
sociais são definidos de forma ‘contratual’, articulando direito e obrigação”
(MONNERAT et al, 2007), são contrapartidas que constituem pré-requisito para os
beneficiados mantenham a continuidade da disponibilização do benefício e se
mantenham inseridos no programa.
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As condições ou contrapartidas estão previstas no artigo 3º da Lei nº


10.836/04, sendo “(...) exame pré-natal, ao acompanhamento nutricional, ao
acompanhamento de saúde, à frequência escolar de 85% (oitenta e cinco por cento)
em estabelecimento de ensino regular, sem prejuízo de outras previstas em
regulamento”.

2.1 Condicionalidades do PBF: questionamentos iniciais

Inseridos em uma perspectiva mais ampla, concernente à dicotomia entre


renda mínima e direito ao trabalho, onde a espécie de política pública representada
pelo PBF enfrenta, questiona-se se as condicionalidades seriam incompatíveis aos
direitos sociais, pois teriam o condão de restringir o direito de exercer livremente a
cidadania, o que seria mais proficiente com transferências de renda incondicionais
(MONNERAT et al, 2007). Tal polêmica é melhor explicada pelas próprias palavras
dos autores:

No entanto, quanto a este debate, é preciso, em primeiro lugar, ter em


mente que a contrapartida exigida não se configura em termos de
contribuição financeira tal como no passado meritocrático de nossa política
social. Mas isso, de fato, é insuficiente para descartar a reflexão sobre a
pertinência ou não desta exigência. Assim, permanece a questão: a
contrapartida é uma cobrança indevida, já que o direito é uma prerrogativa
dos membros da sociedade? Ou é aceitável, principalmente no caso
brasileiro, porque se trata de envolver as famílias num circuito virtuoso de
direitos e deveres com potencial para ultrapassar o assistencialismo e
fomentar a cultura cívica e garantir o acesso a uma rede extensa de
proteção social? (MONNERAT et al, 2007)
Com relação à descentralização administrativa e a intersetorialidade, pode-
se considerar que se uma das características das anteriores políticas sociais que
conduzia à baixa efetividade era a sua gestão, o PBF inova nesse sentido com a
participação dos três níveis federados, incluído o Distrito Federal, conforme disposto
nos artigos 4º, 5º e 8º da lei regulamentadora, destacando-se a importância dos
municípios no controle e gestão do programa, uma vez que, de acordo com o artigo
9º, será no âmbito local que se dará a administração propriamente dita.

Pode ser considerada favorável a aceitação dessa nova configuração no


PBF, visto que nos encontramos em situação de discrepância em âmbito regional
quanto ao desenvolvimento brasileiro. Assim, pretende-se evitar a competição entre
os entes federados através da implantação de uma política de colaboração entre
eles, de forma a racionalizar o emprego de recursos nos programas de assistência
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social, evitando, portanto, sobreposições que acarretem déficit no desenvolvimento


de políticas públicas.

2.2 Os objetivos do Programa Bolsa Família

De fato, o PBF não tem como objetivo única e exclusivamente a


transferência de renda, como se fosse uma espécie de para-raios das tensões
sociais provenientes da desigualdade social. O que se propõe é a efetiva inserção
social dos que auferem o benefício, permitindo, dessa maneira, que,
gradativamente, não necessitem mais do benefício. Ou seja, o PBF para a família
beneficiada seria um instrumento provisório que teria o condão de impulsiona-la para
fora dos critérios estabelecidos de concessão, traduzindo-se numa melhoria das
condições de vida dos beneficiados, como pode ser verificado na leitura do artigo 4º
da lei nº 10.836/04, quando especifica o objetivo de “(...) apoiar iniciativas para
instituição de políticas públicas sociais visando promover a emancipação das
famílias beneficiadas pelo Programa (...)” (BRASIL, 2004).

O PBF, então, envolverá outras ações no que diz respeito à estruturação das
famílias para que seus componentes possam inserir-se plenamente na sociedade,
exigindo ações dos mais variados níveis e setores da Administração Pública. São
estas ações, na realidade, as que irão compor as chamadas “portas de saída” do
programa, evidenciando-se o caráter provisório deste, já que destinado a promover a
emancipação dos que são beneficiados com seus recursos.

Ademais, é preciso considerar que a perspectiva de inclusão social ao Bolsa


Família está também ancorada na oferta de programas complementares
(tais como programas de geração de emprego e renda, cursos
profissionalizantes, microcrédito, compra de produção agrícola, oficinas de
“empreendedorismo” e apoio a iniciativas de economia solidária, entre
outros) que, em tese, deve ser implementada de forma cooperativa entre os
diferentes níveis de governo e com base na intersetorialidade das ações.
Isso mostra o reconhecimento de que as ações básicas de saúde e
educação isoladas não são suficientes para alcançar os objetivos do
Programa. (SENNA et al, 2007)
Dessa forma, tem-se a necessidade premente de outras políticas de caráter
econômico e social, seja direcionada ao desenvolvimento da empregabilidade,
educação, promoção da saúde e inserção no mercado interno, sem as quais se
corre o risco da manutenção permanente do PBF no sentido de não promoção da
emancipação de seus beneficiários.
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O artigo 8º da lei nº 10.836/04 dispõe expressamente sobre a participação


comunitária e o controle social na execução e gestão do PBF atendendo a preceitos
de democratização da administração de recursos públicos, sendo disciplinado pelo
artigo 29 do decreto nº 5.209/2004 (BRASIL, 2004b), que determina nos conselhos
que exercerão o controle social, representação paritária entre sociedade e
integrantes do governo.

A participação comunitária é ainda mais relevante quando observados os


termos do parágrafo único do art. 9º da lei nº 10.836/04, cujo caput ressalva que tal
participação será feita no âmbito local, mas que de forma alguma será remunerada,
o que evidencia a participação social pelo interesse com o espaço público.

Com o intuito de enriquecer a discussão teórica a respeito do tema aqui


trabalhado, é possível considerar que a persistente desigualdade em face ao
distanciamento dos discursos políticos e a resolução dos problemas de
sobrevivência de grupos vulneráveis tem se mostrado a preocupação predominante
da sociedade brasileira, especialmente após o período ditatorial que colocou em
suspensão os princípios democráticos norteadores da organização política e social,
até mesmo porque, durante os assim chamados “anos de chumbo”, estas minorias
eram praticamente invisíveis.

2.3 Crítica social e PBF: implicações pertinentes

A sociedade se insere em uma lógica organizacional fundamentada nos


princípios neoliberais do livre mercado, onde todos os seus elementos constituintes
se apresentam passíveis de aferimento pecuniário. Diante desse contexto, é
inegável que valores como solidariedade e fraternidade, ideais advindos da
Revolução Francesa, passaram a ser esquecidas em decorrência da supremacia da
lógica mercadológica de funcionamento do capitalismo.

Nesse sentido, têm-se em autores como Jeffrey Sachs deferentes


concepções taxonômicas quanto à classificação dos níveis de pobreza em uma
determinada ordem social. De acordo com autor a pobreza pode ser categorizada
em três níveis distintos de imbricação, quais sejam: pobreza extrema, pobreza
moderada e pobreza relativa. A pobreza extrema se traduz como o não acesso aos
meios básicos para a subsistência de populações carentes, sendo as mesmas
atingidas sistematicamente pela fome crônica, associando-se a esse fato as
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condições de saúde, da mesma forma que lhes são impossibilitadas o acesso ao


saneamento básico, dentre outros fatores que contribuem para com a maximização
da precariedade de sua existência. Em medida diversa, a pobreza moderada diz
respeito às condições pelas quais são satisfeitas, embora muitas vezes com
dificuldades. E a pobreza relativa, por sua vez, pode ser definida como a uma renda
familiar abaixo dos valores médios de recursos de uma média nacional.

Ainda no âmbito da discussão teórica, fundamentando-se na perspectiva


elaborada pelo célebre Karl Marx, ainda pertinente nos tempos atuais (mesmo que
de uma maneira um tanto quanto restrita e passível de críticas), se pensamento
demonstra que a relação intrínseca entre capital e trabalho constitui o princípio dos
conflitos sociais na sociedade capitalista. Para ele, as desigualdades têm como
fundamento a disparidade inerente de uma sociedade que se divide em classes, ou
seja, entre aqueles que detêm o capital e os meios de produção e aqueles que
possuem a força de trabalho, constituída na regulação das formas de subordinação
do trabalho assalariado.

Na perspectiva apontada por Sonia Fleury, com o advento das políticas


sociais de redistribuição de renda e estabilização das disparidades socioeconômicas
brasileiras por meio do PBF, houve a criação equivocada de uma “nova classe
média”. Esse argumento tem como base de seu surgimento das políticas de inclusão
social, a abertura de crédito e facilidade de consumo articuladas a especulação dos
veículos midiáticos de massa que moldam distorcidamente o discurso de que o
governo teria conseguido modificar a estrutura brasileira favorecendo o movimento
de passagem de uma classe menos favorecida para os parâmetros materiais de
existência da classe média.

Todavia, a defesa da tese de que o Governo Federal reduziu a níveis


significativos a pobreza no Brasil e de que não há mais pessoas que se encontram
abaixo da linha da miséria denota uma flagrante contradição, uma vez que, se não
houvesse mais tanta miséria em nosso país, não haveria necessidade da ampliação
do benefício concedido pelo PBF como se verifica pelas próprias estatísticas
apresentadas nos relatórios disponibilizados pelo Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate a Fome em parceria com órgão das mais diversas esferas do
poder públicos responsáveis pela concatenação de dados dessa natureza.
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2.4 Foucault, Biopolítica e População: aprofundamento crítico

Antes de partirmos para um processo de concentração e incidência


específica dessas análises na esfera das dimensões de atuação dos profissionais da
assistência social, far-se-á, preliminarmente, um aprofundamento das considerações
até agora elencadas nos tópicos subsequentes. Para que este objetivo seja
devidamente alcançado utilizaremos as valiosas contribuições do filósofo francês
Michel Foucault que, através da perspectiva do biopoder, ressaltar o que há de mais
salutar e elucidativa por detrás dos discursos que sustentam determinadas práticas
sociais revelando, dessa maneira, e a título de proposta reflexiva, os interesses reais
encobertos pelo discurso político-legalista oficial.

Em artigo publicado por Rémi Lavergne, doutor em Educação Brasileira pela


Universidade Federal do Ceará, o autor aponta e destaca o Programa Bolsa Família
sob a perspectiva da biopolítica nos termos evocados por Michel Foucault,
evidenciando seus pressupostos de normalização, funcionamento pela norma e pela
regulamentação. O estudo elaborado ainda procura ressaltar a maneira pela qual o
Serviço Social e a educação exercem um importante papel nos processos de
subjetivação e de produção de subjetividades com a finalidade de incidir sobre as
condutas das populações indigentes e marginalizadas.

A prestação de serviços públicos e a garantia de bens pelo Estado, dentro


da ruptura ocasionada pelo advento do Welfare State nos anos da década de 1970,
bem como o reconhecimento de direitos sociais como consequência do surgimento
desse novo paradigma, se transformaram em alvos das instâncias internacionais
(FMI, OMS, OCDE, BID etc.) que ativamente participaram da redefinição da ordem
econômica então vigente e da reconfiguração das políticas públicas de caráter social
e educacional a elas subordinadas.

Lavergne (2012, p. 324), aponta que na década de 1980 surge uma


tendência de descentralização das atribuições que, até então, constituíam
competência privativa do poder estatal. Ocorre nesse período, em decorrência da
imposição dos novos modelos de organização da sociedade, a privatização dos
serviços públicos, a incidência mínima do Estado nos assuntos relacionados ao
mercado e a flexibilização dos meios e agentes de produção.
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Como dito anteriormente, na esfera nacional, a Constituição Brasileira de


1988 trouxe em seu bojo a ideia de política pública enquanto instrumento de
inclusão através de ações que teriam por objetivo o resgate da dívida social.
Entretanto, de acordo com Lavergne (2012, p. 324), “(...) a lógica do ajuste
macroeconômico, a partir do Plano Real, impôs a substituição de políticas com
veleidade universal por programas de transferência de renda ostensivamente
focalizados sobre os mais pobres e vulneráveis representantes da sociedade
brasileira”. Os pressupostos paradigmáticos do contexto da nova ordem social
fundamentam o recorte do público alvo a quem incidirá as políticas de
compensação.

Se nos ativermos a uma leitura das linhas de ação do PBF, poderemos


perceber de que maneira sua aplicação a uma dada estrutura social remete a ideias
de mecanismos preconizados pelo pensamento de Foucault, o qual a designou por
biopoder. Nesse sentido, Lavergne, citando Foucault, aponta as principais
implicações dessa leitura sendo:

(...) a articulação do seu dispositivo de gestão com o poder; a estreita inter-


relação da sua tecnologia social com a produção de saberes com a miséria;
a conexão estabelecida entre família e instâncias de controle; suas
dimensões individualizante e totalizante e a sua propensão a conduzir a
conduta dos outros (Foucault, 1995) ou, em outras palavras, a sua
focalização sobre a vida de certos segmentos da população brasileira.
(LAVERGNE, 2012, p. 326)
É cabível ponderar que o PBF contribui ao menos com a sobrevivência do
segmento mais pobre da população brasileira. Entretanto, é esse aspecto de
sobrevivência, ou seja, do “fazer viver”, que salienta o caráter assistencialista-
paternalista dos benefícios concedidos às famílias que se encontram em estado de
vulnerabilidade social, ensejando pensar o Programa como uma forma de
governamentalidade biopolítica que, de acordo com Machado (2007, apud Lavergne,
2012), tem “na população seu objeto, na economia seu saber mais importante e nos
dispositivos de segurança seus mecanismos básicos”.

Nos dizeres de Castro (2009, apud Lavergne, 2012), o que se apresenta na


contemporaneidade com relação ao PBF, bem como com políticas públicas de
natureza semelhante, é “estatização da vida biologicamente considerada”, que,
através da inversão do aforisma do poder soberano vigente até meados do século
XIX nas sociedades ocidentais (fazer viver e deixar morrer), cunhado por Foucault,
cria uma relação de correspondência direta com o poder disciplinar que recai sobre
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o corpo dos indivíduos (condicionamento das subjetividades individuais pela norma),


colocando no centro das suas preocupações a questão da regulação
socioeconômica das populações. Nessa mesma medida, são elaborados os
princípios de uma tecnologia social (mecanismos de controle da conduta
socialmente aceitável) marcada pela discriminação ostensiva das populações-alvos
que se pretende controlar, buscando, dessa maneira, criar estratégias impostas às
unidades familiares, cuja conduta pretende-se modificar.

O público-alvo ao qual se destina as ações concatenadas do PBF é o


segmento da população de indigentes e marginalizados socialmente. Nesse sentido,
pondera-se que se as estratégias político-econômicas dos últimos anos contribuíram
para modificar o desenho da pirâmide demográfica favorecendo relativamente uma
ampliação da classe média baixa, essas mesmas estratégias proporcionaram, em
contrapartida, um agravamento da situação de pobreza extrema persistente no
Brasil atingindo uma parcela considerável da população. Assim, como preleciona
Nardi (2003):

Vivemos em uma sociedade salarial incompleta, construída sobre o projeto


de uma modernidade que não reduziu a desigualdade e tampouco resolveu
os problemas sociais básicos relativos à miséria, à fome, à educação, ao
transporte, à moradia, ao saneamento, dentre um sem-número de
problemas sociais que estruturalmente compõem o fosso social brasileiro.
Ainda sobre esse aspecto, complementa Lavergne (2012, p. 327):

A nova problemática social centra-se sobre as consequências seriíssimas


do desengajamento do Estado; da desregulamentação das relações de
trabalho encoraja pelas instâncias internacionais e da mutação dos direitos
sociais em pacotes socioassistencialistas em nome da redistribuição
equitativa da renda e direcionados a populações cada vez mais estritamente
delimitadas.
A questão social emergente diz respeito, como apontado por Castel (1998),
à desfiliação de uma parte importante da população ativa, o que acarreta o
quantitativo de “supranumerários”, e à gestão de um contingente cada vez maior,
segundo Bauman (2005), de pessoas declaradas “redundantes”, “descartáveis”,
parte constituinte do que o eminente sociólogo designa como “refugo humano”. Um
segmento populacional cujos índices técnicos de discriminação organizam-se em
torno dos “marginalizados”, isto é, essa diversidade humana marcada pelo “fracasso
naturalizado” cada vez mais visível em decorrência dos discursos que lhe dá vida e
a situa ao alcance da norma do “socialmente administrável” e que termina por
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inquieta-la uma vez que todos sabem que qualquer um pode a essa massa nebulosa
de indigentes se juntar em caso de inadequação aos ditames do mercado.

Todavia, quando definidos pelo critério de inadequação às leis do mercado e


por sua consequente incapacidade de se responsabilizar pelas suas próprias
necessidades cotidianas, esse segmento marginalizado da população é
estrategicamente levado a incorporar a ideia da sua responsabilidade individual pela
situação de “suspensão social” em que se enquadram suas condições de
subsistência. Desse modo, não somente ficam numa situação de “devedores” em
relação às medidas assistencialistas das quais usufruem em um contexto social que
os predispõem a fazê-los viver, mas permitem àqueles que se adequaram aos
parâmetros de vida regimentados pela lógica do mercado o livre consumo isento de
culpa. Diante desse processo de usurpação dos papeis e responsabilidade
acrescente-se os efeitos colaterais da subjetivação pela norma. Tais efeitos são de
caráter econômico e são politicamente produzidos, na medida em que fazem com
que os marginalizados integrem a fatalidade do seu afastamento do mercado de
trabalho e de consumo e, em contrapartida, faz com que os que correspondem aos
interesses do mercado através da inserção no mesmo se envolvam cada vez mais
na constituição do seu capital humano, fazendo com que haja a confirmação de sua
eficiência na corrida consumerista.

O segmento populacional em análise sobre qual recai a disponibilização do


benefício do Programa Bolsa Família representa, nesse contexto, uma potencial
ameaça à coesão social, à democracia marcada pelas diretrizes neoliberais e à
segurança pública. Esse mesmo agrupamento humano, caracterizado por sua não-
adaptabilidade às normas sociais, são classificados exatamente por seu
afastamento dessa normalidade – aqui entendida em termos de educação, saúde e
higiene pública, empregabilidade e consumo – ,cuja permanência no horizonte social
se tornou foco de uma regulamentação obsessiva.

Nos termos empregados por Lavergne (2012, p. 328-329) importados da


concepção de seres “redundantes” elaborada por Bauman:

À falha dos seus meios de sobrevivência, por parte dos redundantes,


escolheu-se, para fazê-los viver e consumir, opor não somente uma
resposta financeira quanto à definição do problema (a famosa
“redistribuição de renda”), mas também uma estratégia que possa incidir
eficazmente sobre a conduta dessa nebulosa populacional. A estratégia
privilegiada pelo programa, assim como o nome indica, é a família.
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As críticas ao PBF fundamentadas no pensamento de Michel Foucault


seguem no sentido de se apontar a família como a estrutura de poder premente
sobre a qual as tecnologias disciplinares e regulamentadoras fazem surgir seus
efeitos conformando-as aos padrões de conduta com a finalidade de reinseri-las na
cadeia produtiva do mercado. Suas condições elementares de existência são
mantidas dentro dos limites da precariedade e suas necessidades são supridas,
visto que delegadas às instâncias superiores organizadas e coordenadas pelo
Estado protecionista, nos limiares da subalternização das mesmas.
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um raciocínio conclusivo acerca da problematização levantada em relação à


análise do Programa Bolsa Família e seus impactos na transformação das relações
sociais no território brasileiro enquanto política pública de seu governo, pode
ocasionar incongruências a nível interpretativo quando considerados os contextos
históricos e sociais de onde parte o estudo. Abarcar as singularidades dos contextos
históricos de análise constitui meio técnico-operativo (ou metodologia) para os
agentes sociais possam planejar suas intervenções no campo das relações político-
administrativas fundamentados na detida investigação dos dados empíricos
dispostos em determinada comunidade ou agrupamento humano.

Entretanto, pode-se evocar, à guisa de conclusão, os fundamentos dessa


análise na profícua produção do filósofo francês Michel Foucault que, impulsionado
em suas análises pertinentes do poder e suas configurações pelo movimento
epistemológico paradigmático pós-estruturalista do século XX, fornece importantes
elementos que contribuíram para a elaboração e concretização dos propósitos dessa
pesquisa. Sob a luz de seu pensamento o Programa Bolsa Família pode ser
entendido como um mecanismo de exercício do biopoder que objetiva circunscrever
um determinado segmento da população (qual seja, aqueles que se encontram em
situação de vulnerabilidade social), dentro dos limites de uma segurança
regulamentadora das expectativas de comportamento da mesma, situando-a, por
meio da imbricação do exercício do poder disciplinar, a um permanente
remanejamento e condicionamento de suas subjetividades em consonância com a
perspectiva organizacional de uma sociedade marcada pelas concepções
neoliberais de existência e relação humanas.

Assim, de acordo com a linha de pensamento foucaultiana, as estatísticas


que apontam os resultados da implementação das ações do Programa Bolsa
Família, seriam o elemento do saber (epistemé) que retroalimenta o funcionamento
das engrenagens dos mecanismos do biopoder sendo que, na observância de
resultados positivos é que se decidirá sobre sua continuidade enquanto meta do
planejamento governamental ou não.

Nesse sentido, a verificação dos meios operacionais e organizacionais do


PBF fornecem aos profissionais do Serviço Social os elementos sobre os quais
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deverão atuar de acordo com os objetivos políticos explícitos de efetivação do


mesmo, sendo seu escopo a erradicação da fome da pobreza e a consequente
diminuição dos níveis de desigualdade social. Com a redistribuição de renda
pautada nos critérios igualitários de acesso aos meios de produção, pretende-se
construir uma sociedade mais inclusiva e cada vez menos segregacionista por meio
do compartilhamento de espaços de fala, sob as diretrizes de um sistema de
democracia representativa. Entretanto, a representação no plano político das
demandas oriundas do segmento populacional subalternizado constitui mais um
elemento que favorece o processo de subjetivação através do controle social
exercido tanto pelas instituições quanto pelos agrupamentos humanos. Assim, a
representação das demandas no cenário político não constitui um elemento que
favoreça a efetivação das mesmas, visto que a distância entre representante e
representado é gritante no que diz respeito às suas perspectivas singulares de
existência.
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REFERÊNCIAS

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BRASIL, IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em:


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biopolítica. Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 110, p. 323-344, abr./jun. 2012.

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