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Série Temas volume t Estudos literérios EdleSo do texto Marta de Mello ¢ Souza Proparacio dos Maria Licia’ Macedo Capa ‘Ary Almeida Normanha Edigao de arte (miolo) Anténio do Amerel Rocha Ardanuy ISBN 85 08 01725 1 Todos cs cetosesanses pela Esto Aca uo Bardo ce lguope, 110 CEPOTSO7900 (Conn Post 3937 CEP 01085970, S50 Pou - SP e011 33455000 Faxc D0 1 a7 7-A145 Iniomet hip/wewaicacombt ‘emolt ectora®atca.comtr SUMARIO Esriloatig. =~ _* * eves ure Primeira parte ¥. A educagao pela noite Aus ve Moe 2. Os primeiros baudelairianos 23 3. Os olhos, a barea eo espelholas a 39 4, Poesia ¢ ficgio na autobiografia— 31 Segunda parte © patriarea! on 12 Timidez do romance. ae} Fora do texto, dentro da vida______100 © ato eritico __ 122 pao Terceira parte 9. Literatura e subdesenvolvimento__140 10. Literatura de dois gumes______________163 11, A Revolueo de 1930 ¢ a cultura 181 12. A nova narrativa________ 199, Nota sobre os textos. 216 Indice onoméstico 218 Obras do autor EXPLICACAO Este livro redine textos de palestras ¢ artigos divulgados em circunstincias diversas, registradas numa nota final. Alguns se destinavam a piblico estrangeiro, e isto explica nao apenas certas informagdes dispensdveis para o leitor brasileiro, mas a ocorrén- de idéias que j4 estavam noutros escritos do Autor. Apesar de ‘organizados em trés partes, sio independentes e nfio ha ordem necessdria de leitura. Os da primeira parte abordam de perto alguns escritores, individvalmente ou em pequenos grupos. _O bortura, que dé nome ao livro, analisa_o teatro ¢ a nartiva em_prosa de “Alvares de Azevedo, talvez_o poeta _mais interessante _do_nosso “Romantismo. Nele & apresentada a hipotese de que o Macdrio se ‘articula com A noite na taverna, numa ousada modulagao de gé-) sjustando-a & Teiro daquele tempo. O terceiro texto, “Os oho: expelho”, analisa trechos dos disrios de Lima Barreto detectar sementes virtuais de ficgGo_no registro da_experiéncia pessoal, a fim de ver como ela Se mistura a0 sentimento social para esaguarem combinadas na_elgboracao_da_escita. Encerra esta parte uma andlise da infiltragdo da poesia e da fic¢do na autobio- grafia, com destaque para a obra de Pedro Nava Na segunda parte sfo estudados quatro eriticos: dois brasi- leiros bem conhecidos ¢ dois estrangeiros de outro tempo, quase ignorados mas importantes para quem se interesse pela historia da teoria do romance. “O patriarca” mostra o cardier inovador de um tratado de 1554, do italiano Giraldi Cintio, 0 primeito teérico da narrativa, que entio era moderna, sob a forma do poema cava- Ieiresco de assunto medieval. “Timidez do romance” fala de quem é talvez 0 primeiro tedrico da fiecdo em prosa, o francés Fancan, que tentou modestamente, no comeco do século XVI, reivindicar a dignidade do género, “Fora do texto e dentro da vida” focaliza a obra de Silvio Romero, procurando inclusive sugerit 0 ritmo vivo com que ele sentiu e exprimiu as contradigdes do seu pais. “O ato critico” € consagrado a Sérgio Millct, analista sensfvel, que transtormava o estudo das obras num certo tipo de engajamento da personalidade, A terceica parte contém amostras do que se poderia chamar “critica esquemética”, panoramas abrangendo segmentos amplos da atividade literéria e cultural vista a véo de péssaro. “Literatura subdesenvolvimento” expde a correlacio entre atraso cultural ¢ producao literdria na América Latina, “Literatura de dois gumes” istingue 0 papel duplo da literatura na formagao da sociedade brasileira: de um lado como instrumento do sistema de dominacio colonial; de outro, como elaboracao de uma linguagem culta propria a0 Pais. © terceiro texto procura mostrar a importincia que a ‘transformagio centralizada pelo movimento armado de 1930 teve na cultura brasileira, inclusive pela ampliagio das produces regio- nais para o Ambito nacional, junto com @ abertura motivada pela incorporagéo crescente do Modernismo. Encerra o livro uma visio de conjunto sobre certas tendéncias da ficedo brasileira contempordinea: “A nova narrativa” ANTONIO CANDIDO DE MELLO E Souza junho de 1986 PRIMEIRA PARTE Come, thick night And pall thee in the dunnest smoke of hell. Shakespeare, Macbeth. 1 teatro ¢ a narrativa em prosa de Alvares de Azevedo cons- tam do Macério, A noite na taverna ¢ do que restou (ou do que conhecemos) d’O livro de Fra Gondicdrio, Mas é preciso lembrar Que escreveu em verso 0 sketch “Boémios” (definido por ele em subtitulo como “ato de uma comédia nao escrita”) € 0s contos ou novelas metrificadas: O poema do jrade, 0 Conde Lopo, “Um cadaver de poeta”. Esta produgdo toda se apéia em estudos criticos, onde ele ‘exprimiu a sua concepedo de literatura com uma consciéncia teé- rica que o destaca entre 0s nossos poetas romanticos. De tais estudos interessariam, para a anélise dos escritos draméticos narrativos, os prélogos do Macdrio e @O Conde Lopo, os ensaios George Sand, Jacques Rolla e “Carta sobre a atualidade do teatro entre nds”. Mas a esséncia do seu melhor pensamento critico talvez esteja no preficio & segunda parte da Lira dos vinte anos, cuja base € 0 que ele chamava|“binomia” isto é, a coexisténcia ¢ choque dos contrérios, um dos pressupostos da estStiea romantica " Esta teoria justifica 0 esforco para dar realce a0 embate das ymonias, superando o equilfbrio do “decoro” e as normas que © procuravam tornar estangues os génetos literdrios. E 0 que se vé nas obras que vou comentar e cujo temério repousa numa psicologia tempestuosa, enquanto_a_organizagio formal mistura (para usar conceitos dele) o “horrivel” ao “sublime” e ao “belo doce ¢ meigo”. A conseqiiéncia foi que a corda esticou a ponto de rebentar nos escritos de nfvel inferior, onde o desejo de modular todos os sentimentos costeou o caos psicolégico, enquanto 0 desejo de desrespeitar as normas estéticas tradicionais levou & desorgani- zaglo do texto. Sob este aspecto, tais escritos inferiores sao inte- ressantes para se verificar, pelos casos extremos, certas caracte- risticas da sua escrita. Mas € preciso sempre lembrar- que as obras de Alvares de Azevedo foram publicadas depois da sua morte, sem que ele tivesse podido organizé-las nem dizer 0 que considerava acabado, 0 que era rascunho ¢ o que néo era para publicar. Daf a pergunta: esse monte de prosa e verso tio irregular porque néo foi devidamente selecionado e polido, ou porque o Autor quer'a que fosse assim ‘mesmo, para sugerir a inspiragdo desamarrada, em obediéncia a 1 estética atraida pelo espontineo e o fragmentério? E dificil dizer, mas as duas coisas devem estar combinadas, 2 © Maeério & um drama fascinante, feito mais para a leitura do que para a representacdo, com duas partes diferentes enquanto estrutura e qualidade, sendo a primeira melhor e uma das mais altas realizagdes de Alvares de Azevedo. ‘A aco desta primeira parte toda a noite, salvo a ‘breve cena final, © & organizada em cinco cena: (embora o Autor 36 especifique quatro) vivas e bem construfdas, distribuindo em réplicas curtas, ndo raro humoristicas, um debate moral ¢ psico- V6gico muito denso, desenvolvido com excelente articulacao. Bastante regular, o esquema se baseia num jogo alternativo de? cenas interiores e exteriores que fecha a agao mam anel, depois de ter propiciado o amadurecimento dos probler 3.8 cena (interior) 1.8 cena (interior) 2.8 cena (exterior) fala na casa de Satan quarto da estalagem — caminbo da cidade 48 cena (exterior) _5.8 cena (inierior) cemitério ‘quarto da estalagem nya 2 Na cena inicial o jovem Macério, viajando para uma cidade onde vai estudar, encontra na estalagem certo desconhecido, nada menos que Satan, com quem discute sobre o amor, obsedado pelo contraste entre pureza e impureza, entre @ aspiracio a relagoes ‘dealizadas © a realidade decepcionante — problema dramético para o adolescente daquele tempo. A sua tonica é um ciaismo que mal encobre 0 desespeto € vai se chocar no cinismo autentico de Satan, podendo este, assim, ser considerado o limite a que tende a sua personalidade. Na cena seguinte ambos estio a caminho de Séo Paulo, cujo nome no se diz e 0 deménio descreve de maneira admirdvel, cheia de sarcasmo, desencanto e poesia, O debate retomado’ numa escala mais tensa, porque agora tem como quadro de referéncia a realidade paulstana, gracas & qual o amor € reduzido a dimensio degradante do meretricio, ligado & doenca ¢ ao tédio. Isto prepara 0s tomas da terceira cena, em casa de Satan, jé na cidade, O amor aparece como ilusdo frégil tocada pela morte, que de certo modo se coneretiza na cena seguinte, nJo indicada como tal, mas desta- cando-se nitidamente da outra. Ela tem lugar no cemitério vizinho, aonde Satan leva Macirio. Deitado em cima de um témulo, este tem um sonho opressivo e complicado, no qual figura certa mulher, que toma nos bracos os cadaveres de homens rejeitados pelo tio préximo — “torrente”, conforme a marcago, Acordando, 0 rapaz uve um lamento angustiado, que segundo Satan é o suspiro de sua mie moribunda, transformado numa espécie de gemido noturno da Natureza. Talvez seja também signo de remorso e redencio, pois em nome da mie ele esconjura 0 deménio, que antes de desapa- recer the ensina a maneira de chamé-lo, Na Gitima e breve cena Macério esté de novo na estalagem, acordando, no dia seguinte, de um longo sono. Fica entéo na dhivida se tudo foi ou néo pesadelo, inclusive porque a hospedeica nfo confirma as ocorréncias da véspera nem a presenca de outra pessoa. No entanto, ambos véem no assoalho marcas chamuscadas de um pé de cabra, sugerindo a passagem do deménio, Assim, a ponta do fim engata na do comego, fechando o citculo como 05 dois tinicos momentos de realidade indiscutfvel. 0 espaco inscrito ¢ marcado por uma dubiedade de significado. que talvez indique a esirutura profunda do drama, construfdo sobre a reversiblidade entre sonhado e real, vacilante terreno onde, quan- do pensamos estar num, esiamos no outro. Um elemento importante desta primeira parte 6 0 que se podetia chamar de “a invencio literétia da cidade de Séo Paulo”, que Alvares de Azevedo instaurou como espaco ficcional. Com 2 {sto deu corpo a um processo em curso entre 0s mogos estudantes, enclausurados num lugar sem interesse, onde a sua energia trans- bordava tanto na boemia e na rebeldia estética quanto na imitacio, ée Byron. O noturno aveludado ¢ acre do Macério suscitou a’ noite paulistana como tema, caracterizado pelo mistétio, o vicio, a seducdo do_marginal, a inquietude todos os abismos da per sonalidade, Tema que fascinou geracdes numa dimensio quase ‘miol6gica, repontando em muitos poemas de Mario de Andrade e, ‘nos noss0s dias, em sambas de Adoniran Barbosa e Paulo Van- zolini, filmes de Walter Hugo Khoury, quadros de Gregério Cor- reia, contos de Jodo Anténio._ [A segunda parte do Macirid) pode ser chemada de “o_mo- mento de Penseroso” (novo personagem, de cunho angélico em oposigdo ao deménio) © € inferior sob todos os pontos de vista, a comecar pela composicio desarticulada em dez cenas sem nexo, duas das quais desprovidas da indicacio de lugar. O inicio td desligado, téo alhcio ao resto, que chegamos a pensar ter 0 Autor querido incluiIo artficainente como sobra da primeira parte, a fim de assinalar a continuidade do mesmo runiverso fantasmagérico, E noite, e Macério enda ao longo de “um rio torrentoso” (diz a marcagéo), em caja margem uma mulher embala desvairada o cadiver do filho que se afogara. Seria “citagio” do sonho da primeira parte, onde a mulher abra- cava os cadaveres emersos? A impressio € de que Macério se encontra no desdobramento daquele sonho, embora puxe a situa- fo para a realidade ao atribuir a loucura as palavras tresvariadas da mulher. Mas, quando a seguir encontra Perseroso na mesma paisagem, ficamos em dtivida ¢ fortalecidos na impressio de que © trecho’é uma espécie de friso onirico, destinado a manter a tonalidade dibia da primeira parte Nesta segunda predominam dois temas, ambos tratados de! maneira antinémica: 9 amor sentimental ¢ puto, encarnado_em).' Penseroso, que acaba se matando, depois de muito debater com ium Macério antagénico mas amistoso, entre cinico ¢ lirico; ¢ uma discussdo sobre literatura, de_grande interesse critico, mas_agra- vando 0 cunho pouco teatral desta parte, pois o seu momento mais importante & um debate teérico mais.ou-menos desligado do jogo dramitico, A propésito de um poeta (sem divida, ¢ apesar da falta de indicagio expressa, o proprio Alvares de Azevede da segunda parte 4a Lira dos vinte anos, como observou mais de um critico), Pen- ser050 defende 0 sentimentalismo, 0 pitoresco, o otimismo social, @nquanio Macério opde a legitimidade da ironia ¢ do ceticismo, combatendo com desencanto sarcéstico as posieées nacionalistas “ Quanto a este ltimo aspecto, Iembremos que Alvares de, Azevedo foi antinacionalista decidido em matéria de literatura. Segundo ele, a nossa fazia parte da portuguesa e nao havia sentido nem vantagem em proclamar a sua identidade especitica — atitude destoante do esforgo central da critica do tempo, constituindo um paradoxo que deve ter sido dificil e quase herdico sustentar. Além disso podemos considerar simbélica a dualidade dos lugares: primeira parte em Sao Paulo; segunda, numa Itélia inde- finida, mas correspondendo as raizes européias, que muitos romén- ticos desejariam superar ou mesmo negar (da boca para fora), numa auto-iluso que teve 0 seu papel no processo do nosso cres- cimento espiritual. Na obra de Alvares de Azevedo a dimenséo cosmopolita ¢ um pressuposto aceito e conscientemente incorpora- do como algo legitimo ¢ necessétio. Penseroso, puro, sonhador, morre simbolicamente, ¢ Macétio, depois de um momento de revolta, acamarada-se de novo com Satan, que 6 0 anti-Penseroso, enquanto 0 préprio Macério é a frdgil sfntese de ambos, encarnando 2 suprema “binomia” do bem em face do mal, das forgas que arrastam para os impulsos “‘infe- riores” e das que resistem a elas. E interessante que Alvares de Azevedo faga um desdobra- mento da classica dupla Homem/Diabo, to em voga no Roman- tismo, principalmente sob 0 avatar mais famoso de Fausto/Metis- tofeles — pois aqui Penseroso, Satan e Macério podem ser vistos espectivamente como Homem Angélico, Homem Diabélico Homem Homem. E é digno de nota que, assim como 0 Homem Angélico inexiste na primeira parte, nesta'o Homem Diabélico s6 pperpassa, voltendo & cena no fim (¢ af de maneira decisiva para Feorientar a aco), quando o antagonista potencial more, ¢ Ma- cério cal de novo Sob a sua influéncia. Esta é bastante complexa © abrange um toque de homoerotismo, sugerido numa fala de Satan carregando 0 amigo desfalecido: E como & belo descorado assim! com sens cabelos castanhos em esordem, seus olhos entreabertos e timidas, e seus lébios feminis! Se eu nd fosse Satan, eu te amaria, mancebo... Talvez se trate dum homoerotismo de tipo socrético, segundo ‘© qual Satan se dedica a formar & sua maneica o pupilo adolescente, Seja como for, morto Penseroso ele parece decidido a ir mais longe na instrucao de Macario ¢ 0 leva a uma orgia, Nao para participar, ‘mas para ver. Eo drama acaba de repente, no meio de uma fala; ou por outra, nfo acaba. Dai surgir a hip6tese, talvez audaciosa, mas bem encaixada na verdade dos textos, de que A noite na taverna pode ser lida 8 ‘como seaiiéncia do Macdrio, cujas linhas finais sio as seguintes (Sendo notério © tom pedagégico de Satan): Satan — Paremos aqui, Espia nessa janela. Macério — Eu vejo-os. & uma sala fumacenta, A roda da mesa festdo sentados cinco homens ébrios. Os mais revolvem-se no cchio, Dormem ali mulheres desgrenhadas, umas lividas, outras vermelhas.... Que noite! Satan — Que vida! néo 6 assim? Pois bem, escuta, Macério. Hé homens para quem essa vida € mais suave que a outra. vinho € como 0 épio, € 0 Letes do esquecmento... A em- briaguez € como a morte. Macério — Calate. Ougamos. Ougamos o qué? pensa 0 leitor. # claro qu> nfo se trata de tum fim, e 0 drama pode ter sido suspenso deliberadamente para dar logar a0 seu seguimento, isto & ao que Macério vai ver pela janela, Ora, o cendrio d’A’ noite na taverna uma orgia onde estio cinco homens numa mesa € outros deitados bébados no chao, dormindo de envolta com mulheres. E 0 seu comego é uma fala, isto & algo que se ouve, correspondendo a0 imperative da deixa final de Macério (“Cala-te. Qucamos.”): — Siléncio! mocos! acabai com essas cantilenas horriveis! Nao vedes que as mulheres dormem ébrias, macilentas como defuntos? Satan com certeza quer iniciar Macério nos aspectos mais convuilsos © extremos da vida, satisfazendo como se fosse um alter-ego a curiosidade dos seus impulsos. Paré isso Alvares de Azevedo pode ter querido efetuar (com raro malabarismo) uma substituigdo de géneros e personagens, passando do drama A nas “rativa, que dispée de recursos mais amplos para espécificar ¢ mul- “tiplicar no tempo e no espaco os exemplos do que hé de desvairado ‘na alma e no comportamento (sem falar no verdadeiro desvario esiético de levar a0 méximo a ruptura com a teoria dos géneros, pois aqui eles estariam nao apenas misturados, mas acoplados ‘uma mesma empresa). E esta narrativa seria « que os persona~ gens do drama ouvem pela janela. dificil marcar o lugar onde para o homem ¢ comega o animal, onde cessa a alma e comega 0 instinto — onde a paixto se torna ferocidade. E dificil marcar onde deve parar o galope do sangue nas artérias, ¢ a violéncia da dor no erfinio. (PrSloga do Macério) A noite na taverna & uma pesquisa dessas fronteiras dibias, © a sua matéria parece concebida e escolhida por Satan como Tantahvs, 6 episédio duma espécie de anti-Bildungsroman, que ele propusesse para a formacdo (as avessas) do seu pupilo. Para este, morto Penseroso, isto é, perdida a possibilidade de pureza e ideal, resta essa via feroz onde o homem procura ‘conhecer 0 segredo da sua humanidade por meio da desmedida, nna escala de um comportamento que nega todas as normas. Aqui ‘do se trata mais de anélise (como no Macdrio), mas de fatos, acontecimentos e sentimentos levados ao maximo de tensio moral, até a fronteira da crueldade, da perversio e do crime, que testam as nossas possibilidades diabélicas. Por isso, mesmo_néio_ tendo havido qualquer vinculo intencional entre as duas obras, podemos ‘dizer que esta novela € 0 momento de Satan, como a segunda parte do Macério & 0 momento de Penseroso. Lembrando que 0 Macdrio comeca pela viagem de um moco a caminho da escola, dir-se-ia que a clapa final desses estudos estd na terrivel ligo pelo exemplo dos narradares d’A noite na taverna, O estudante entrou na noite paulistana, passou pela da Tialia © acabou nesse espaco igualmente noturno, indeterminado, sangrento, onde 0 demdnio sugere a violagdo dos pardmetros por meio das vidas desenfreadas dos narradores, que ele mostra (den- tro dos seus hébitos) através de uma espécie de bola de cristal: f janela que termina o drama inicia a novela. A menos que esieja mergulhando Macério num pesadelo, cunforme a estrutura onirica j4 assinalada, Por estas razées penso que as duas obras podem ser vincula- das, formando uma grande modiilagio ficcional que vai do drama irregular a novela negra, Mas, apesar de quaisquer probabilidades, € obviamente impossivel dizer se esta teria sido de fato a intencio do Autor, que inclusive pode ter composto A noite na taverna em primeiro lugar. Caso tenha sido assim, € cabivel imaginar que a certa altura da composicao do drama ele viu como a novela ser- viria de continuacéo, e enganchou uma na outra de maneira alta- mente heterodoxa por meio da réplica final, tomando 0 cuidado de deixar patente 0 cunho de coisa inacabada, a pedir comple- mento. E se no houve nada disso, resta a verificagio meramente estrutural de que as duas obras podem ser relacionadas segundo @ hip6tese levantada aqui. Mas ficaria sempre uma diivida a favor desta — porque € coincidéncia demais a correspondéncia da orgia que Satan mostra e a que forma o caixilho da novela, Passando A novela, lembremos que é formeda por uma solda de histérias,o que a inclui no tipo de narrativa que sepoderia iamar_difuso, em contraste com 0 que se. poderia chamar-con- ‘centradp. v7 No preficio a The Fortunes of Nigel (1822), Walter Scott propde uma tipologia, reconhecendo duas modal dades fundamen. fais de romance. Primeito,o de linha coetente, com nexo causal entre 05 acontecimentos e atos, de modo a fazer d todo necessariamente.articulado. Conforme ele, € 0 tipo prop ce praticado por Fielding, no Tom Jones, que se tornou uma das matrizes do romance moderno. © segundo tipo, praticado por eseritores como Le Sage e Smolett, e, segundo Scott, por ele pri- prio na sua geragto, é aquele onde os acontecinentos vio saindo caprichosamente uns dos outros. a0_sabor_das associagdes_e dos Iihine etextos, sem haver uma diretriz que os concatene © dé a impres- Hib de che slo necessirios. A noite na taverna pertence a uma modalidade do tiltimo tipo, ‘com os seus cinco episédios independenies narrados por cinco figu- rantes da orgia que, segundo_a hipStesc apresentada, sio os que Satan mostra a Macério pela janela. A unidade & devida a0 Teal @ As intervencoes dos figurantes, que formam uma rede entre as} "s+ narrativas. Mas além disso elas se ligam por certa comunidade de} atmosfera, que as torna aspectos de uma linha ideal de assombra- mento ¢ catéstrofe, Estamos sem diivida ante um produto do jenn romance negro, mais particularmente da modalidade que_os ‘eeses chamam_ de “frenéi 0". Narrativa frenética é de fato esta ‘que Satan desvenda a Macério como uma espécie de experi lismo, a traigo, 0 assassinio — cuja funcfo para os romfinticos los era mostrar os abismos virtuais e as desarmonias da nossa_natu- ‘reza, assim como a fragilidade das convencSes. Associados a isto a modo de correlativo, a noite, a tempestade, 0 raio, o naufrégio, \ © tuff —, constituindo o arsenal daquele “belo sublime” que podia costear o “horrivel”, como indicam algumes paginas criticas de Alvares de Azevedo. Os cinco homens que Macétio avista pela jenela sio Johann, Bertram, Archibald, Solfieri e Arnold, Este, muito bébado, nio chega a falar por enquanto e, balbuciando uma cantiga, vai logo mmisturar-se 20s que esto deitados no cho, dof dos quais (de- Preende-se) viro depois @ mesa: Gennaso ¢ Claudius Herrmann. Os narradores sf0, na ordem: Solfier, Bertram, Gennaro, Claudius) Herrmann ¢ Johann. Terminada a narrativa dests, a ‘iltima, esto todos embriagados no assoalho quando entra Giorgia, que mata Jobann adormecido e acorda Arnold para reconhecé-lo. Assim ‘Scorn, Sic Walter. Introductory Epistle. In: —. The Fortunes of Nigel. Boston, De Wolfe, Fiske & Co. 34. p. XIE | = i I Ved presente completa o passado da nartativa de Johann, que pensava fer_morto em duelo Artur (mas este nio morreu e¢ vem a ‘Ammold), cuja amada fora em seguida possuir, aproveitando-se do escuro como se fosse 0 outro, Na saida um vulto o esperava: © irmao dela, que tinha vindo matar o suposto Artur. Eles lutam e Johann, levando a melhor, verifica ter matado 0 préprio irmio, (© que significa que violara a irma. Esta é Giorgia, agora prostituta, gue vem cinco anos depois realizar a vinganca. Em seguida morre nos bracos do antigo amado e este se apunhala. Se estruturalmente 0 Macdrio c A noite na taverna estio lig dos, no que toca aos significados profundos haveria nesta ligagao a visando a desenvolver o lado escuro do omem, que tanfo fascinowo Romantismo e tem por correlative manifesto a noite, cuja presenca envolve as duas obras ¢ tantas ‘outras de Alvares de Azevedo como ambiente e signo. E estou me referindo nao apenas as horas noturnas como fato externo, lugar da acdo, mas a noite como fato interior, equivalendo a um 1odo_de ser lutuoso ou melancslico ¢ A exploséo dos fantasmas otados na treva da alma. A minha anélise implica o desdol ‘mento do ser, segundo 0 qual os “outros” de Macécio sio Pense- oso e Satan, sendo que este Ihe propde, em oposicéo ao exemplo do primeiro, uma espécie de educagéo pela noite — expressio usada por causa da “educacdo pela pedra”, de Joio Cabral de Melo Neto. Este, partindo das conotacoes de secura, aridez, linha nitida, visa a promover no oficio do poeta as normas de concistio ¢ méxima lucidez, A “educacdo pela noite”, que estou imaginando, partiria das conotagdes de mistétio e treva, para chegar a um dis. curso_aproximativo ow mesmo dilacerado, como convém 20 derra- me sentimental unido a Tiberacfo das poténcias recalcadas no in- consciente, a 3 Isto dito, podemos considerar 0 Macdrio © A noite na taverna dois modelos bésicos da imaginacto dramdtica e narrafiva de Al- vates de Azevedo, O primeiro, ilustrando uma certa visio da alma; (0 segundo, ilustrando uma ceria visio do mundo — e ambos for- mando a representacio do destino como fatalidade inexoravel, a Ananké posta em voga pelo romance Nossa Senhora de Paris, de Victor Hugo, e mencionada mais de uma vez por Alvares de Azevedo. Noutros escritos podemos encontrar manifestagdes de ambos estes modelos em combinacdo variada, coma_no fragmento {que conhecemos do romance|0 livro de Fra Gondicéri » Conforme indicacdo do.manuscrito, trata-se da terceira parte, {ntitulada "LAbios e sangue”) Mas parece mais um inicio de livro, com prélogo em verso, invocagdo e autonomia fabulativa que 0 toma bastante a si mesmo. Dai a pergunta: estarfamos aqui tam- bem ante um romance feito pela justaposigo de episddios, 20 modo d'A noite na taverna? $6 que, a0 contrario deste, cuja linha nazrativa € nitida em cada epis6dio, ele se aproxima como estrutura do metrificados, nos quais a extrema proiixidade e 0 abuso da digressdo bifurcam o fio da histéria_a cada instante até confun- di-lo, restando no espirito do leitor uma lembranga de cenas, des- cerigées, tiradas declamatérias e figurantes melodraméticos, tudo mais ou menos desligado, ““Lébios e sangue” se passa em Veneza e € um verdadeiro com- péndio dos lugares comuns do Romentismo cxaltado, com um enredo retorcido e elementar, baralhado pelo paroxismo das des- crigbes, retrospectos, declamacdes, invocagées. Trata-se em essén- cia do seguinte (se leio bem): é noite, 0 servidor Ali guarda 0 palécio do Conde Tancredo, onde chega de gOndola a esperada e linda Elisah, Dalia pouco, debaixo de chuva, ckega ¢ entra (ines- perada) outra moca, Belvidera (nome da proiagonista de uma tragédia famosa do século XVII, a Venice Preerved, de Otway, com a qual o romance de Alvares de Azevedo ndo possui todavia qualquer outro ponto de contato). Isto, mais a invocagio a Veneza (bonita no género), ocupa quatro capitulos. ‘Numa sala luxuosa do paldcio, Elisah ouve a fala apaixonada de Tancredo, ¢ fica sugerido que vao se amar noutro aposento. ‘A cena seguinte é em torno dos restos de uma ceia, mas agora 2 moga estd vestida de homem, num disfarce povco explicével que talvez soja reminiscéncia de George Sand. Surge entio Belvidera © sai com Tancredo para outro lugar. Ela recorda como ele a seduzira e raptara da casa de seu pai, pescador na Sicilia, aban- donando-a depois. Revela entio que o pai morrera de desgosto e fla se tornara cortesd. Mas o belo Tancredo oave-a e despede-a com fastio, no antes de cla tentar maté-lo, Na sala vizinha, Elisah dé um grito e cai (ou porque ouviu tudo e ficou abalada, ou porque, segundo veremos, recebeu uma punhalada mortal, regis trada antes do tempo). Até aqui, mais quatro capitulos. Entéo voltamos ao exterior do palécio, onde esté o judeu Jedediah, 20 qual se junta outro, Issacear. Depreende-se, da nar- Tagdo confusa, que Tancredo teria seduzido Hlisah, filha deste, amada por aquele, e ambos disputam o direito & vinganca (que acabaré repartida). Nessa altura Belvidera surge e impede que Ali (fascinado por ela) cumpra o seu dever de guarda ¢ ataque 08 dois homens de aspecto suspeito; deste modo ela facilita 0 atentado contra Taneredo ¢ (parece) justifica-se narrando a0 mou- ro como foi seduzida pelo seu amo. Jedediah se desvencilha de Issacaar e entra no palacio, onde consegue ferir 0 conde, que toda- via o mata; mas antes de morrer ele conta que havia assassinado Elisah, eujo cadaver mostra, (Repito: se 0 grito mencionado acima corresponde a este ato, ela o tera soltado algumas paginas antes da hora). Tancredo sai, luta com Issacaar, que o mata ¢ se atira no canal, ferido mas triunfante. O fragmento termina com a seguinte fala, certamente de Belvidera, que assim ficou também vingada — # ele — morto — disse uma vor »* Como ficou dito, 0 fluxo verbal e a frouxidio da estrutura aproximam este romance dos contos metrficados, onde tais carac- teristicas so levadas a0 maximo. N’O poema do frade, por exem- plo, € preciso um grande esforco para saber do que se trata. Os Yversos puxam os versos,_as digressoes suscitam as digressdes, per- passam donzelas, cenas ‘mais ou menos confusas se sucedem, 0 narrador faz reflexdes, medita com extraordindria prolixidade sobre a vida, © amor e a morte — c tudo se esfuma na massa informe dos versos, alguns dos quais bonitos. J4 o fragmento dramatico ““Boémios” 0 conto metrificado ‘Um cadéver de poeta” (ambos relativamente curtos) séo claros, apesar de também se basearem no jogo fugidio das digressGes, segundo 0 cacoete romintico de assunto-puxa-assunto, que faz dos romances de Victor Hugo, por exemplo, monumentos de alarmante tagarelice. Portanto, essas ten- déncias nfo sio apenas traco pessoal, mas também estilo de época mais restritamente, resultado da intluéacia de certos modelos, sobrotudo Byron © Musset. $6 yue em Byron a prolixidade digres- siva mais parece capricho de narrador displicente do que inca- pacidade de organizer. 4 A propésito, convém fazer algumas observagdes finais sobre a estética das obras narrativas e draméticas de Alvares de Azevedo, na medida em que sao manifestagdes do Romantismo. Esquematizando um pouco podemos dizer que o cléssico tende ao resumo, porque o resumo mostra o essencial e com. isto. caminha ‘para o abstrato, Atras de cada particularidade dissolvida vai sur- gindo © geral, pois a abstracdo & uma superagao do particular. Die roméntico_deseja,_a0_contrétio, o particular, que-na_sua singularidade contém_o caracterfstico, Por isso ele tende_ao_con- fereio € se apeza_ao_pormenor, sem prejuizo de encaré-lo como sinal ou manifestago de uma generalidade ideal. Assim, 0 gosto pelo concreto leva a diminuir a capacidade de.» escolha, porque tudo interessa eo espirito quer abranger a varie- dade das coisas_Na narrativa isto gera 0 amor ao detalhe, que é a propria manifestagao do miltiplo. A inclinagéo roméntica & suge-! rit a realidade por meio da multiplicagio, néo da subtragao, como o cléssico. E 0 que vemos em Walter Scott, em Balzac, em Dickens, fem Alencar, para nao falar nos espichadores de textos ¢ € 0 que yernos na narrativa romantica em verso, de Byror, de Musset, de Lamartine e seus imitadores brasileiros. (Ora, essa estética da multplicacdo atenua o exforco de organi- zar_a matéria, porque diminui_o posto pela selecio. Dai as estru- ‘turas vacilantes, com acéimulo de incidéncias, a-propésitos e digres- 360s, resultando uma composicio em arabesco, extremamente aprichosa, na qual o fio da meada € torcido até se perder. E fécil verificar isto nos contos metrificados 2 em “Légrimas sangue", nos quais ocorre também verdadeiro delitio de caracte- rizagio, ou seja, a apresentacto excessivamente minuciosa do per- sonagem — técnica que as vezes parece substituio do desejo de desvendar a propria alma por meio de uma confidéncia vicdria, projetada. Delirio de caracterizacao que, na sua prolixidade, sacri- fica a acto, pois esta nunca chega a se configurat re 5 do que em Byron ou Musset, em Alvares de Azevedo ha uma fuga permanente do assunto, uma espécie de adiamento compulsivo que retira muitos dos seus escritos do Ambito da ficgio em prosa ou verso, pata reduzi-los a vastas meditacées. Acrescente-se a|fuga do presente) O modo de ser dos seus personagens nada mais 6 do que uma conseqiiéncia de experiéncias Gocisivas ¢ arrasadoras do passado, fazendo a nartativa fugir para tis © assim devorar a aco presente, como ficou visto na breve indicagéo sobre o enredo de “LAbios © sangue” ¢ como 6 quase aroxistico nos contos metrificados. Excecio € A roite na taverna, ‘onde © passado predomina, mas como retrospecto corretamente aferido a0 momento da narragdo, Assim, na narrativa ¢ no drama de Alvares de Azevedo, houve uma espécie_de_acemuagio de tendéncias caracteristicas do Ro- Mantismo em_geral, ¢ dos seus modelos literdrios_em_particul: Tneapaz na maioria das vezes de dominar a matézia, ele freqiien- ‘temente nio consegue manter a seqiiéncia nem articalar logicamente 08 fios do enredo, de tal modo que no exemplo extremo d'O poema do fradle © PO Conde Lopo nao se sabe se os personagens que falam agora so os que falaram antes; se as cenas descritas so episédios da mesma seqiiéncia ou unidades independentes. Daf o seu ar de fragmento. No entanto, este ndo parece resultar de uma opoio estética, como era freqiiente entre os rominticos, que costu- ‘mavam usar a composi¢do picada a fim de sugerir a sua concepgio do incompleto, do inexprimivel; e que os manifestavam no tateio estratégico do estilo, na elipse, ‘no subentendido, produzindo uma descricdéo aproximativa, que procura preservar 0 mistério. Em Alvares de Azevedo a fragmentagio mais parece abuso da liber- \ dade romlntica, desandando em obscuridade e confusio nas obras \ secundarias. Mas chegando ao fim convém repetir © que ficou dito no ‘comego: que a sua obra foi publicada por assim dizer a revelia, sem que ele pudesse dizer o que considerava pronto e o que era para jogar fora, Em consegiiéncia, s6 podemos ler o seu teatro © a sua ficedo em prosa_€ verso como um conjunto de tentativas e fragmentos, dos quais se destacam A noite na taverna, pela com- posicio mais acabada, ¢ 0 Macdrio, como surto de inspiracao ver- dadeiramente criadora. Na primeira parte deste drama fascinador encontramos alguns dos momentos mais fortes do nosso Roman- tismo, vindo até nés com o dom de longa vida das obras realizadas 2 OS PRIMEIROS BAUDELAIRIANOS Zouaio ae ts 1 44 se tem escrito que © momento culminante da influéncia de Baudelaire no Brasil foi o Simbolismo, no decénio de 1890 ¢ pri- -meiros anos do seguinte. Momento jin-de-siécle, r9sa-cruz ¢ floral, que viu nele sobretudo o mestre da arte-pela-a:te, 0 visionério sensivel ao mistério das correspondéncias © 0 filésojo, autor de pocmas sentenciosos marcados pelo desencanto. Logo a seguir os lltimos poetas de cunho simbolista, como Eduardo Guimaraens (teadutor de 84 poemas d’As flores do mal), 0 aproximaram peri- gosamente das elegincias decadentes de Wilde ¢ E’Annunzio. s pamasianos, que vinham dos anos de 1880, também o admiravam, mas nunca:o imitaram nem cultivaram tanto, salvo alguns secundérios como Yenceslau de Queirds e sobreiudo Batista Cepelos. E caberia a um heterodoxo, Augusto dos Anjos, levar 430 extremo certas componentes de amargura, senso da sigéo e castigo da carne, que se consideravam originé coadas através de Antero de Quental e Cruz ¢ Souss. Depois do Modernismo nio se pode mais falar em influéncia, mas apenas da presenga normal de um grande poeta na seasibili dade dos escritores ¢ leitores. No decénio de 1930 surgiu uma espécie de consagragdo académica, expressa em muitas tradugSes (quase todas devidas a poetas convencionais) © auma verdadeira

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