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ASPECTOS GERAIS DA PISCICULTURA

Jodnes Sobreira Vieira1


Juliana Sampaio Guedes Gomiero1
Marli Arena Dionízio1
Priscila Vieira Rosa Logato2

1 INTRODUÇÃO
A piscicultura é um tipo de exploração animal que vem se tornando
cada vez mais importante como fonte de proteína para o consumo humano,
principalmente pela redução dos estoques pesqueiros que, em 1991
(produção de 16.574.497 ton.) aumentou sua produção em 8,3% em relação
a 1990 e 100% nos últimos 8 anos;
Outros fatores que estão favorecendo o desenvolvimento atual da
piscicultura são as modificações drásticas do hábitat, como poluição,
desmatamento e represamentos, a mudança do hábito alimentar das pessoas,
o aparecimento de novos produtos mais práticos para o consumo e a
utilização para lazer e esporte.

________________________
1- Estudantes de Pós – Graduação em Zootecnia UFLA
2- Professora do DZO - UFLA
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2 CLASSIFICAÇÃO DA CRIAÇÃO QUANTO A SUA


FINALIDADE

➾ Cria ou produção de alevinos


• Exploração em que peixes são passados a terceiros para serem recriados
ou usados em povoamentos e repovoamentos de águas públicas ou
particulares.
• É considerada a fase mais lucrativa; entretanto, exige demanda favorável
por alevinos na região, maior dedicação por parte do produtor, maior
ocupação de mão-de-obra especializada e instalações de equipamentos mais
complexos.

➾ Recria, engorda ou produção de pescado


• Explora-se a capacidade de ganho de peso e crescimento dos animais,
englobando a fase de alevinagem até o abate.
• Menos lucrativa que a anterior; entretanto, caracteriza-se por exigir menor
dedicação do piscicultor, necessitar de menor ocupação de mão-de-obra,
sendo essa menos qualificada, necessitar de instalações e equipamentos
menos complexos, podendo ser realizada em represas rurais, arrozais
inundados, represas ou viveiros com ou sem integração com outras
explorações agropecuárias e por ser dependente da oferta de alevinos,
demanda e preço de pescado na região.

➾ Exploração mista de cria e recria


• Produz alevinos para uso próprio ou para terceiros.
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➾ Outros tipos de exploração:


• Para fins de lazer (povoamento de represa e pesque-pague).
• Para fins sanitários (controlar a proliferação de insetos ou animais vetores
de doenças).

3 CLASSIFICAÇÃO DA PISCICULTURA QUANTO AO


SISTEMA DE CRIAÇÃO

O peixe, ao contrário dos outros animais terrestres, pode ser criado


de várias maneiras diferentes, dependendo das condições da propriedade,
tipo de alimento, espécie considerada e aceitação de mercado. É possível
dividir, didaticamente, o sistema de criação em Extensivo, Semi-extensivo e
Intensivo.

➾ Piscicultura extensiva
• Exploração em que o homem interfere o mínimo possível nos fatores de
produtividade (apenas realiza o povoamento inicial do corpo d'água).
• Caracteriza-se pela impossibilidade de esvaziamento total do criadouro,
impossibilidade de despesca, ausência de controle da reprodução dos
animais estocados, presença de peixes e aves predadoras, ausência de
práticas de adubação, calagem e alimentação, alimentação apenas da
produtividade natural e pela produtividade baixa, dificilmente ultrapassa
400 kg/ha/ano.
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➾ Piscicultura semi-intensiva
• Sistema de exploração em que o homem interfere em alguns fatores de
produtividade, caracteriza-se pela possibilidade de esvaziamento total do
criadouro, possibilidade de despesca, controle da reprodução dos animais
estocados, ausência ou controle da predação, presença de prática de
adubação, calagem e, opcionalmente, uma alimentação artificial à base de
subprodutos regionais, manutenção de uma densidade populacional correta
durante o período de cultivo, produtividade que pode chegar a 10
ton./ha/ano, sistema racional e econômico de produção recomendado para
criação de peixes tropicais e por abranger ainda consorciações com suínos,
aves, arroz, etc.

➾ Piscicultura intensiva
• Sistema de exploração em que os fatores de produção são controlados pelo
homem, caracteriza-se por apresentar densidade populacional elevada de
peixes por volume d'água, alimentação artificial exclusivamente à base de
rações balanceadas,pela necessidade de alto fluxo de água ou uma
recirculação forçada por causa da alta densidade populacional, pela
produtividade elevada, podendo ultrapassar 90 kg/m3/ano, pelo sistema
racional de custo elevado, com mão-de-obra especializada e alto nível de
mecanização.
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4 QUANTIDADE DE ÁGUA NECESSÁRIA DE ACORDO


COM O SISTEMA DE PRODUÇÃO

A quantidade mínima de água que se deve dispor depende de vários


fatores, tendo, no mínimo, de ser suficiente para repor as perdas por
evaporação e por infiltração e, satisfazer, em parte, as necessidades de
oxigênio dos peixes.

➾ Semi-intensivo
- a renovação de água pode variar de 5 a 30% por dia;
- a vazão pode variar de 10 a 50 l/s/ha, estimada no período seco;
- o nível de oxigenação deve ser maior ou igual a 5 mg/l;
- a estocagem pode ser de 1 kg de peixe/ m2. Quantidades maiores podem
causar problemas na produção e saúde dos peixes.

➾ Intensivo
- renovação de água varia entre 100 a 200% por dia (Ex.: truta);
- vazão de 200 a 500 l/s/ha;
- nível de oxigênio entre 5 e 10 mg/l (dependendo da espécie);
- uma densidade de 50 a 600/m3 é permitida (Ex: tilápias em gaiola
podem produzir de 50 a 300 kg/m3/safra).

5 LIMNOLOGIA
A água é, entre todos os fatores, aquele que mais intervém na cultura
do peixe, a qual pode ser considerada como a parte final das múltiplas
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transformações que se processam nesse meio, e cujo meio é objeto de uma


ciência denominada Limnologia.
No estudo de Limnologia, incluem-se características físicas,
químicas e biológicas.

5.1 Características físicas


• Temperatura
A temperatura interfere diretamente na solubilidade de gases, velocidade
de reações químicas, circulação de água, metabolismo dos peixes, etc. A
faixa ideal das espécies tropicais está entre 20 a 30oC, sendo o nível ótimo
para a maioria entre 25 e 28ºC.
Temperaturas inferiores a 20ºC normalmente afetam o metabolismo dos
peixes tropicais, acarretando diminuição de apetite e das taxas de
crescimento. A temperatura letal muito variável entre espécies, sendo de 5ºC
para as carpas, 10ºC para as tilápias e 15ºC para tambaqui e pacu.
O controle de temperatura pode ser feitos por meios artificiais com o uso
de aquecedores, mas é inviável economicamente. A temperatura que
convém considerar não é a da água de alimentação do tanque, mas sim a
água dos tanques onde os peixes vivem. Por isso, ao se construir um tanque,
deve-se escolher um local bem exposto ao sol e ao vento, onde possa tirar o
maior rendimento do dois.

• Transparência
A tranparência está relacionada com o material em suspensão, tanto mineral
como orgânico.Quanto mais plâncton, menor a transparência.
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O disco de Secchi é o equipamento usado para medir esse


parâmetro.Uma transparência ideal da água de um tanque medida pelo disco
de secchi está em torno de 30 e 40 cm, indicando uma boa produção
biológica nos viveiros. A figura abaixo ilustra a medição da transparência
através do uso do disco de Secchi.
As águas de cor esverdeada ou azulada são geralmente boas. As
amareladas ou acastanhadas, provenientes de pântanos ou charnecas, são
ácidas e impróprias para culturas de peixes.

Figura 1- Ilustração da utilização do disco de Secchi.

5.2 Características químicas


Toda água na natureza deriva da precipitação atmosférica, produto
da condensação do vapor de água no ar (chuva), e contém vários compostos
nitrogenados, sulfatos, cloretos, etc., cuja quantidade varia não somente com
o local, como com as estações do ano.
Em todo o trajeto, a água dissolve numerosas substâncias do solo,
que a tornam uma solução mais ou menos diluída de sais minerais e
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compostos orgânicos. Além dessas substâncias dissolvidas, a água arrasta no


seu caminho partículas não-solúveis, colóides e partículas maiores,
tornando-se uma suspensão mineral ou orgânica.
A água é o solvente universal encontrado na natureza. Ela dissolve
os gases como O2, N2, CO2, CH4, H2S, entre outros; os sais minerais e
substâncias orgânicas, etc. Todos esses gases são de fundamental
importância para a piscicultura.
O valor piscícola de uma água depende essencialmente da natureza
do terreno com o qual a água está em contato.

• pH
O pH reflete o grau de acidez ou de alcalinidade da água. A escala de
pH varia de 0 (zero) a 14 (quatorze), e varia em função de numerosos
fatores químicos e biológicos.
A melhor água para a cultura do peixe é a que possui uma reação
ligeiramente alcalina, isto é, pH entre 7 e 8.
Esses valores não devem ser inferiores a 4,5-5, nem superiores a 8,
embora existam espécies ictiológicas e planctônicas que os preferem.

• Oxigênio dissolvido (O.D.)


Sem o oxigênio dissolvido na água, os peixes de cultivo e todos os
outros organismos aquáticos não podem sobreviver.
Existem duas fontes naturais de obtenção de oxigênio:

a) Difusão direta
Através do contato e penetração direta do ar atmosférico na água.O
O2 da atmosfera entra na água principalmente por mistura mecânica,
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provocada pela ação dos ventos, por correntes naturais de massas híbridas e
agitações causadas pela topografia do terreno.
A concentração do oxigênio na água varia com a sua temperatura
(relação concentração/temperatura está intimamente ligada), bem como a
solubilidade desse gás depende ainda da pressão atmosférica.
A solubilidade do oxigênio na água diminui à medida que a temperatura
aumenta. Em temperatura alta, os peixes logo utilizam o O.D. da água,
podendo ocorrer mortalidade por asfixia.
A solubilidade de O.D. diminui com a redução da pressão atmosférica.A
solubilidade do O.D. na água baixa com o aumento da solubilidade.

b) Processo de fotossíntese
A liberação de oxigênio na água, mediante processo fotossintético
pelo fitoplâncton (algas, em especial), é a principal fonte de obtenção do
O.D. em um sistema de cultivo de peixes.
Durante o processo fotossintético pelos órgãos clorofilados dos
vegetais, o gás carbônico (CO2) é desdobrado sob a ação da luz solar.
Enquanto o carbono (C) é utilizado para a síntese de hidratos de carbono e
carbonatos, o oxigênio é expelido, contribuindo e muito para a oxigenação
da água.
Sem a luz solar, importantíssima para esse processo, o oxigênio é
expelido durante as horas do dia em que ela é suficiente para essa função
fisiológica e até onde possa penetrar em quantidade suficiente. À noite, há
consumo de O.D. e não produção.
Em águas turvas e com baixa transparência, a produção
fotossintética pode diminuir ou até mesmo parar. Pode-se notar, portanto,
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que o processo fotossintético dos organismos clorofilados estão limitados às


camadas superficiais de água, onde a maior parte da luz é absorvida.

• Dióxido de Carbono (CO2)


O gás carbônico, seja no estado livre ou na forma de ácido fraco ou
de bicarbonato, encontra-se na água em solução instável; e, às vezes, sobre a
forma de carbonatos que precipitam.
Quando ocorre um aumento de CO2, o pH diminui; o contrário
também pode ocorrer. Os altos teores de CO2 podem ser encontrados
quando usa-se água subterrânea, quando ocorre um “bloom” (alto consumo
de oxigênio durante o processo de respiração) de algas à noite, e no
transporte de peixes.
Os níveis subletais estão entre 12 a 50 mg/l e letais de 50 a 60 mg/l. O
CO2 pode ser removido da água pela aeração da água, pelo aumento de pH,
pelo controle fitoplâncton e pela construção correta dos viveiros (entrada de
água oposta à saída, saída da água no fundo, forma retangular, etc.).

• Alcalinidade
A alcalinidade refere-se à concentração de bases na água e à
capacidade do meio em resistir às mudanças de pH para valores mais ácidos.
Na maioria das águas, os carbonatos e os bicarbonatos são as bases
predominantes.A tabela abaixo mostra a alcalinidade (mg CaCO3 /L) e seu
significado no viveiro.
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TABELA 1: Significado da Alcalinidade (mg CaCO3 /L) no viveiro.


Alcalinidade mg CaCO3/l Significado no viveiro
Água extremamente ácida, deve-se
Zero corrigir com compostos calcários
Alcalinidade muito baixa, pH varia
5-20 muito e a água não é muito produtiva
pH varia, a produtividade é pequena
25-100
pH varia entre pequenos limites e a
100-250 produtividade é ótima

• Sólidos suspensos
Os sólidos suspensos correspondem a partículas de alimento não
consumidos, fezes ou matéria inorgânica em suspensão na coluna d'água.
A água suja prejudica o peixe de duas formas:
• Direta- pelos ferimentos ou acúmulos nas brânquias, comprometendo a
respiração dos animais;
• Indireta- pela diminuição da penetração de luz na água, reduzindo a
produtividade natural do viveiro.
Teores de 10 g/l são suportados por espécies tropicais, sendo o nível
ideal de 2 g/l.
O Filtro mecânico simples pode diminuir os mesmos, sendo que um
filtro de 0,35 m de camada filtrante (cascalho de 7 mm), 0,30m de altura,
1,20 m de comprimento e 0,90 m de largura filtra um canal de alimentação
com descarga de 36 l/s.
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• Nitrito
O nitrito é um produto intermediário na oxidação biológica da
amônia a nitrato (nitrificação). Concentrações elevadas podem ocorrer em
conseqüência de poluição orgânica ou teor de O.D. baixo.
Para os peixes, o nitrito é muito tóxico, pois combina-se à
hemoglobina no sangue, originando a meta-hemoglobina (má transportadora
de oxigênio), que confere coloração amarronsada ao sangue, matando o
peixe por asfixia.
A presença de íons de cloro pode diminuir a toxidez do nitrito. O
nível de nitrito no meio não deve exceder a 0,15 mg/l.

5.3 Características biológicas


Um tanque de criação de peixes, apesar de ser um ambiente total ou
parcialmente controlado, não deixa de constituir um sistema ecológico que
deve ser estudado, pois todas as outras modalidades sofrem influência das
condições biológicas do meio, além das condições citadas nos tópicos
anteriores. É de fundamental importância o monitoramento do plâncton.
➾ Plâncton – são todos os organismos aquáticos incapazes de vencerem
correntes. Sua locomoção por conta própria é muito pequena, algumas
espécies locomovem-se na vertical.
Classificação:
- Fitoplâncton: fração vegetal composta de algas microscópicas, como,
por exemplo, as algas verdes, os dinoflagelados, etc.
- Zooplâncton: fração animal composta por microcrustáceos, copépodos,
rotíferos, etc.
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6 CONSTRUÇÃO DE TANQUES

A construção de tanques e viveiros de uma maneira adequada é de


fundamental importância para o manejo dos peixes. De uma maneira geral,
existem os seguintes tipos de tanques:

6.1 Tipos de Tanques


• Tanque de terra (escavados):
Os tanques feitos de terra apresentam condições próximas às naturais
dos peixes. São construções menos onerosas, mas necessitam de
manutenção e reparos constantes.
Suas paredes devem apresentar inclinação máxima de 45 graus e ter
suas bordas gramadas para evitar desmoronamentos.
• Tanques de alvenaria:
Os tanques de alvenaria possuem paredes revestidas de tijolos com
fundo de terra, exigindo menos reparos, mas são caros.
• Outros:
Podem ser construídos de concreto, cimento-amianto, fibra de vidro,
lona plástica, etc.

6.2 Forma e dimensões de tanques


A forma e dimensões do tanque variam de acordo com a espécie
criada, topografia do terreno, disponibilidade de água, tipo de exploração e
criação.
Os tanques retangulares são os que apresentam melhor forma, tanto
para o manejo como para o bem-estar dos peixes. Tanques muito pequenos
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(menor que 400 m2) aumentam os custos e tanques muito grandes (acima de
600 m2) inviabilizam um bom manejo de criação.
A profundidade nos tanques pode variar de 0,80 a 1,50 metro.

6.3 Outras características importantes na construção de tanques


O local escolhido para a construção deve ser totalmente limpo,
retirando-se toda a matéria orgânica, pedras, etc, para tornar o terreno mais
estável e evitar problemas de infiltração. Os tanques devem ser construídos,
de preferência, escavados ou com levantamento de diques aproveitando o
máximo da topografia existente.
A compactação de fundo e das paredes é prática obrigatória para
evitar desmoronamentos, erosão e infiltração (se necessário construir
núcleos de argila nas paredes para maior segurança e durabilidade); o fundo
deve ter uma inclinação de 1,5% em direção ao sistema de escoamento.

Figura 2- Ilustração das características gerais dos tanques de piscicultura.

6.4 Saída de Água e Canal de Desague


Um dos fatores importantes no cultivo de peixes é poder esgotar
parcial ou totalmente um açude ou tanque, visando a despescas,
manutenção, adubação, etc.
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Para isso, existem algumas alternativas para se alterar, quando for


necessário, o nível da água de um tanque ou açude.
Quaisquer que sejam as estruturas de saída de água implantadas,
essas deverão estar localizadas na parte mais baixa do tanque, para que o
mesmo possa ser totalmente drenado.

a) Estrutura: O "Cotovelo ou Joelho”

É a estrutura mais barata, sendo muito utilizada atualmente para


tanques ou açudes com menos de 2 ha .
Essas estruturas são de PVC rígido (canos) e fixadas em uma base de
concreto ou alvenaria, variando de tamanho conforme as dimensões do
tanque. Existem dois tipos: os fixos ou móveis:

- Fixo
A estrutura de PVC rígido é fixada em um muro de concreto ou
cimento, e os níveis da água são alterados retirando-se os diferentes tampões
(também em PVC) existentes. Na parte superior do tubo que é aberta,
coloca-se uma tela de malha condizente com o tamanho dos peixes em
cultivo, para se evitar a fuga dos mesmos.
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Figura 3- Esquema ilustrativo de um “cotovelo ou joelho”fixo.

- Móvel
Análogo à estrutura anterior quanto à sua implantação. A diferença é
que essa estrutura não apresenta tampões e o nível da água é alterado,
baixando-se a estrutura (cano de PVC) para
um lado ou para o outro. Das existentes, é a mais barata e mais adotada
atualmente em todo o Brasil.
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Figura 4- Esquema ilustrativo de um “cotovelo ou joelho” móvel.

c) Estrutura: Monge
É a melhor estrutura desenvolvida para a saída de água de um
tanque, e por ser considerada de primeira qualidade, também é a mais cara e
mais complexa, podendo ser utilizada para qualquer dimensão de tanque ou
açude.
O monge é uma estrutura feita de concreto armado, por meio de um
molde em madeira e que tem a forma de letra "U". Essa estrutura é
construída na saída de água do tanque, na sua parte mais baixa.
Na sua porção interna, pode apresentar de duas a três ranhuras, onde
serão inseridas pequenas tábuas ou tabiques, serragem e telas de proteção,
que irão impedir a fuga dos peixes de cultivo.
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Figura 5- Ilustração da estrutura de um monge.

7. CALAGEM E ADUBAÇÃO DE TANQUES

7.1 Calagem em tanque :


A calagem em tanque é a primeira coisa a ser feita e depende da
análise de solo do tanque. Tem como objetivo aproximar o pH de 7,0 e obter
uma saturação de bases em torno de 70% (com a análise de solos, têm-se
condições de atingir esse valor).
Os terrenos arenosos geralmente exigem uma calagem mais leve do
que terrenos argilosos. Os terrenos turfosos (presentes em locais baixos e
com coloração escura) necessitam de uma calagem mais pesada (de 5 a
ton/ha) por serem muito ácidos (pH entre 4 e 5).
A calagem deve ser realizada três meses antes de se colocar água no
tanque (tempo necessário para o calcário reagir com o solo). Esse tempo
pode ser menor caso o calcário tenha uma textura mais fina ou se utilize cal
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virgem (diminui o tempo para ± 45 dias; entretanto, esses produtos são mais
caros).
O calcário tem que ser incorporado no solo (pelo menos no fundo) a
uma profundidade de 15 a 20 cm (usar enxada ou grade).

7.2 Adubação em tanque :


Deve-se utilizar esterco de boi (tem que estar totalmente curtido) na
quantidade de 400 a 600 g por m2 (6.000 Kg/ha). O esterco de aves de
postura, também totalmente curtido, pode ser utilizado. Usar na faixa de 200
a 300 g por m2 (2000 à 3000 Kg/ha). Deve-se espalhar principalmente no
fundo e, se estiver muito seco, jogar uma camada de terra entre 2 a 3 cm
para que o esterco não bóie.
Deve-se utilizar 25g/m2 (250 kg/há) de superfosfato simples, sulfato
de amônia 25 g/m2 (250 Kg/ha). Espalhar o super simples no fundo do
tanque por cima da camada de terra; isso evita que esse adubo entre em
contato com esterco, o que poderia diminuir sua eficiência.
Em solos pobres em potássio, de reservas alcalinas, duros e pobres
em regiões de charneca, recomenda-se a utilização de adubos potássicos.
Em média, preconizam-se 200 kg/ha , salvo nos terrenos de charneca e
turfosos, nos quais se recomendam doses duplas.
A sua ação é de auxiliar nos tanques de criação de alevinos, pois
promove um aumento da alimentação natural e melhora as condições
sanitárias do meio aquático.
Esses adubos devem ser distribuídos misturados com os fosfatados.
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8 ESPÉCIES CULTIVADAS NO BRASIL

Existem no Brasil centenas de espécies de peixes de água doce que


poderiam ser tranqüilamente trabalhadas. Mas isso não ocorre,
principalmente porque há aos poucos estudos sobre a propagação natural ou
artificial de muitas espécies, isto é, faltam ainda conhecimentos sobre
biologia de inúmeras de nossas espécies.
Hoje, no País, cultivam-se espécies nativas e exóticas; como:

Nativas:
• Pacu (Piaractus mesopotamicus)
Origem: Brasil, Bacia do Paraná.
Hábito alimentar: Onívoro.
Limite de temperatura: 20 a 30oC.
pH ideal da água: 6 a 8.
Oxigênio dissolvido mínimo: 1,5 mg/l.
Sistema de cultivo: Monocultivo e policultivo.
Densidade de estocagem: 1 a 1,5 peixes/ m3 (tanque convencional).

• Piau, Piauçu, Piapara (Leporinus sp)


Origem: Brasil.
Hábito alimentar: Onívoro.
Limite de temperatura: 18 a 30oC.
pH ideal da água: 6 a 8.
Oxigênio dissolvido mínimo: 2 mg/l.
Sistema de cultivo: Monocultivo e policultivo.
Densidade de estocagem: 1 peixe/ m3 (tanque convencional).
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• Curimatã ou curimba (Prochilodus scrofa)


Origem: Brasil.
Hábito alimentar: Iliófaga.
Limite de temperatura: 20 a 30oC.
pH ideal da água: 6 a 8.
Oxigênio dissolvido mínimo: 1,0 mg/l.
Sistema de cultivo: Policultivo.
Densidade de estocagem: 1 peixe/ m3 (tanque convencional).

• Matrinchã, Piraputanga (Brycon sp)


Origem: Brasil, Bacia Amazônica, São Franscisco e Paraíba.
Hábito alimentar: Onívoro.
Limite de temperatura: 18 a 30oC.
pH ideal da água: 6 a 8.
Oxigênio dissolvido mínimo: 2 mg/l.
Sistema de cultivo: Monocultivo e policultivo.
Densidade de estocagem: 0,8 a 1 peixe/ m3 (tanque convencional).

• Pintado, Surubim (Pseudoplatystoma coruscan)


Origem: Brasil.
Hábito alimentar: Carnívoro.
Limite de temperatura: >22 oC.
pH ideal da água: 6 a 8.
Oxigênio dissolvido mínimo: >3,5 mg/l.
Sistema de cultivo: Monocultivo.
Densidade de estocagem: 1 peixe/ m3 (tanque convencional).
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Exóticas:
• Carpa cabeça grande (Aristichthys nobilis)
Origem: China.
Hábito alimentar: Zooplanctófaga.
Limite de temperatura: 16 a 30 oC.
pH ideal da água: 6 a 8.
Oxigênio dissolvido mínimo: >4,0 mg/l.
Sistema de cultivo: Policultivo.
Densidade de estocagem: 0,8 a 1 peixe/ m3 (tanque convencional).

• Carpa capim (Ctenopharyngodon idella)


Origem: China e sudeste da Ásia.
Hábito alimentar: Herbívora.
Limite de temperatura: 16 a 30 oC.
pH ideal da água: 6 a 8.
Oxigênio dissolvido mínimo: > 4,0 mg/l.
Sistema de cultivo: Policultivo.
Densidade de estocagem: 0,8 a 1 peixe/ m3 (tanque convencional).

• Carpa prateada (Hypophthalmichthys molitrix)


Origem: China.
Hábito alimentar: Fitoplanctófaga.
Limite de temperatura: 16 a 30 oC.
pH ideal da água: 6 a 8.
Oxigênio dissolvido mínimo: >4,0 mg/l.
Sistema de cultivo: Policultivo.
Densidade de estocagem: 0,8 a 1 peixe/ m3 (tanque convencional).
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• Tilápia (Oreochromis niloticus)


Origem: África, Bacia do Nilo.
Hábito alimentar: Onívoro.
Limite de temperatura: 26 a 28 oC.
pH ideal da água: 6 a 8.
Oxigênio dissolvido mínimo: >1,0 mg/l.
Sistema de cultivo: Monocultivo e policultivo.
Densidade de estocagem: 2 peixes/ m3 (semi-intensivo).
3 peixes/m3 (intensivo).
150 peixes/m3 (tanque-rede).

9 MANEJO ALIMENTAR

A forma de arraçoamento, a porcentagem de ração a ser fornecida e


sua freqüência de alimentação, que devem estar adaptadas de acordo com a
espécie a ser cultivada, a idade, o sistema de manejo empregado,
considerando sempre os aspectos econômicos. Um método bastante
utilizado para se estipular a quantidade de ração a ser fornecida baseia-se na
porcentagem de biomassa (peso total dos peixes). A tabela abaixo mostra a
porcentagem de biomassa referente a cada estágio de desenvolvimento dos
peixes.
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TABELA 2: Porcentagem de biomassa em cada estágio de


desenvolvimento dos peixes.
Fase Inicial Fase de Crescimento Fase de Terminação
8-10% peso total 6-8% do peso total 3-5% do peso total
OBS- Essa porcentagem é diária; o ideal é dividi-la em 2 vezes ao dia.

Existem basicamente duas formas de arraçoamento: o manual e o de


forma mecanizada.
A freqüência de arraçoamento é o número de vezes que os peixes
devem ser alimentados; isso varia com a temperatura, espécie, tamanho ou
idade dos peixes e qualidade da água. E o fornecimento das rações deve ser
sempre nos mesmos horários, para condicionar os peixes a buscarem o
alimento nessas horas. Geralmente eles alimentam-se nas primeiras horas do
dia ou então ao entardecer.

10 TRANSPORTE DE PEIXES

10.1 Reprodutores
O transporte de reprodutores deverá ser realizado após a anestesia
dos mesmos, por meio de tranqüilizantes, dos quais o mais utilizado é o MS
222.
Primeiramente, os animais são passados por uma solução forte de
MS 222 (1:20000 de MS 222), isto é, 5 g de tranqüilizante por 100 litros de
água. Depois de 15-20 minutos os peixes estão anestesiados. Após esse
período, procede-se à diluição da solução.
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-Duas vezes (1:40000) para peixes como a Carpa-Comum e a Carpa Cabeça


Grande;
-Duas vezes e meia (1:50000) para a Carpa Capim;
-Cinco vezes (1:100000) para a Carpa Prateada.
Após esse processo, os reprodutores podem ser transportados em
sacos plásticos com oxigênio sob pressão, ou ar comprimido bombeado
diretamente na água do saco.

10.2 Alevinos
Os alevinos com três a quatro semanas de idade devem ser
transportados em sacos plásticos com oxigênio sob pressão; cerca de 500 a
3000 alevinos podem ser colocados em cada saco.

11 DOENÇAS COMUNS NA PISCICULTURA

Existem algumas doenças que perturbam, sobremodo, o cultivo de


peixes. Abaixo são descritas algumas enfermidades e seus respectivos
tratamentos. O uso de produtos químicos e as dosagens devem ser indicadas
por um técnico responsável após identificação do problema. Deve ser
evitado o uso indiscriminado desses produtos, pois existem diferenças de
tolerância de doses entre as espécies. As larvas e alevinos são mais sensíveis
a produtos químicos que peixes adultos.

11.1 Ictioftiríase
Doença causada pelo fungo Icthyophythirius multifilis, também
conhecido por ictio ou doença dos pontos brancos, que parasita a pele e
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brânquias de qualquer espécie de peixe. Essa enfermidade ocorre mais


comumente quando há variações bruscas de temperatura, em especial na
incubação e larvicultura do Jundiá, por exemplo.
➾ Tratamento
1) colocar os peixes em solução preparada com 100 g de sal grosso
para cada dez litros de água, durante dez segundos.
2) elevar a temperatura acima de 27°C, durante duas semanas (feito
para peixes individualmente).
3) banhar tanques ou viveiros com 0,1-0,2 ppm de verde de
malaquita. (Produto altamente tóxico e cancerígeno).

11.2 Verme de Brânquias (Costia)


Causa infecções nas brânquias dos peixes.
➾ Tratamento
Em pequenos viveiros, utilizam-se 200-400 ppm de formalina,
durante 15-40 minutos. Concentração de 250-500 ppm durante 30 minutos
para larvas avançadas e 1000 ppm, durante 15-30 minutos, para os
reprodutores. Deve-se realizar a total renovação da água após o tempo de
tratamento.

11.3 Saprolegnose
Doença provocada pelo fungo Saprolegnia, que ataca peixes feridos
e debilitados; apresenta manchas brancas ou salientes semelhantes a bolas
de algodão sobre o corpo.
➾ Tratamento
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1) Um grama de verde de malaquita em 15 litros de água, durante


10-20 segundos, sendo o tratamento repetido uma vez por semana, até o
total desaparecimento dos sintomas.
2) concentração de 500 ppm de sulfato de cobre; os peixes são
mantidos nessa solução até apresentarem sinais de aflição.

11.4 Argulose
Parasitismo provocado pelo crustáceo Argulus, que provoca manchas
vermelhas no corpo do peixe.
➾ Tratamento
1) Neguvon diluído em pequena quantidade de água e pulverizado
no viveiro. Duas horas após a aplicação, deve-se aumentar a
renovação de água no viveiro.
32

12 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

COELHO, S.R.C. Produção de peixes em alta densidade em tanques-


rede de pequeno volume. Tradução de Eduardo Ono. Campinas: Mogiana
Alimentos S.A., 77p.

FURTADO, J. F.R. Piscicultura: uma alternativa rentável. Guaíba:


Agropecuária, 1995. 180 p.

MOREIRA,H.L.M.;VARGAS,L.;RIBEIRO,R.P.;ZIMMERMANN,S.
Fundamentos da Aqüicultura. Canoas: Ed. ULBRA, 2001. 200p.

OSTRENSKY, A.; BOEGER, W.. Piscicultura: fundamentos e técnicas


de manejo. Guaíba: Agropecuária, 1998. 211 p.

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