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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL

DA COMARCA DE CAMPINAS/SP.

Processo n. 1234

JULIANA FLORES, brasileira, solteira, empresária, portadora da carteira


de identidade nº xxx, inscrito no CPF/MF sob o nº xxx, endereço eletrônico xxx,
residente e domiciliada na Rua Tulipa, 33, CEP xxx, Campinas/SP, vem ao Juízo,
por seu/sua advogado(a) cujo endereço consta na procuração inclusa, com
fundamento nos artigos 335 a 342 do Código de Processo Civil, oferecer a
presente

CONTESTAÇÃO em face de

SUZANA MARQUES, brasileira, estado civil, profissão, portadora da


carteira de identidade nº xxx, inscrito no CPF/MF sob o nº xxx, endereço
eletrônico xxx, residente e domiciliada na Rua XXX, CEP xxx, Cidade/UF, pelos
motivos de fato e de direito que a passa a expor.

I – INICIALMENTE

I.1 – GRATUIDADE DE JUSTIÇA

A parte ré informa não possuir recursos suficientes para pagar as custas,


as despesas processuais e os honorários advocatícios. Como prova do alegado,
instrui a presente com a declaração de hipossuficiência (doc. x) e cópia das três
últimas declarações do IRPF (doc. x).

Por tal razão, pleiteia os benefícios da Justiça Gratuita, assegurados pela


Constituição Federal, artigo 5º, LXXIV e pela Lei 13.105/2015 (CPC), artigos 98
a 102.
I.2 – OPÇÃO DA PARTE RÉ PELA NÃO REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA DE
CONCILIAÇÃO OU MEDIAÇÃO

A parte ré, ciente da opção da parte autora pela não realização de


audiência de conciliação (artigo 319, VII, CPC), ratifica ao Juízo que, do mesmo
modo, não deseja a realização do referido ato processual, razão qual requer o
processamento e prosseguimento do feito.

II – SÍNTESE DA PETIÇÃO INICIAL

Consta da petição inicial que a parte autora doou em 18/03/2012 um sítio


situado na Rua Melão,121, Ribeirão Preto/SP, avaliado em R$ 50.000,00
(cinquenta mil reais), para o Orfanato Semente do Amanhã.

A parte autora afirma que era funcionária da empresa XYZ Ltda., cuja qual
a parte ré é sócia majoritária e presidente. Alega que a parte ré desempenhava,
à época do negócio jurídico, a função de diretora do orfanato beneficiário da
doação. Alega que tal doação ocorreu em virtude da coação sofrida pela parte
ré, que diariamente lhe dizia que deveria doar algum bem para a caridade, a fim
de que “reservasse seu espaço no céu”, crença da religião a qual pertencia.

Sustenta que, receosa de ser demitida, já que trabalhava como gerente


de recursos humanos da empresa, percebendo um excelente salário mensal,
decidiu por doar um de seus três imóveis, o de menor valor à instituição
supramencionada. Requer a procedência do pedido para anular o negócio
jurídico, atribuindo à causa o valor de R$50.000,00.

III – PRELIMINARES

III.1 – COISA JULGADA

A parte autora ajuizou ação idêntica à presente em 10 de abril de 2015,


feito que tramitou perante a 2ª Vara Cível da Comarca de Campinas, sob o n.
xxx. No referido processo, o pedido autoral foi julgado improcedente. Conforme
certidão acostada à peça de defesa (doc. XX), houve o trânsito em julgado da
sentença, não sendo cabível qualquer recurso.
Há coisa julgada quando se reproduz ação idêntica a outra que já foi
julgada por sentença de mérito de que não caiba mais recurso, nos termos do
artigo 502, CPC, caso dos autos.

Patente, nesse caso, a ocorrência da coisa julgada formal e material com


relação ao pedido de anulação do negócio jurídico, pois cuida-se de fato já
submetido à apreciação do Poder Judiciário. Nos exatos termos do artigo 505,
caput do CPC, "nenhum juiz decidirá novamente questões já decididas", exceto
quando autorizado por lei e nos casos de relações continuadas, que não ocorrem
na presente hipótese.

Nessa linha, a consequente extinção do feito sem resolução de mérito é


medida que se impõe, nos termos do art. 485, V, do CPC.

III.2 – ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM

Para postular em Juízo é necessário ter interesse e legitimidade,


conforme dispõe o artigo 17, CPC. A legitimidade para a causa exige a
verificação da pertinência subjetiva da ação. Para que o provimento de mérito
seja alcançado e a lide efetivamente solucionada, não basta existir um sujeito
ativo e um sujeito passivo. Mister se faz que os sujeitos processuais sejam, de
acordo com a lei, partes legítimas. Se tal não ocorrer, o processo deverá ser
extinto sem resolução do mérito.

A parte ré argui sua ilegitimidade processual, com fundamento no artigo


337, XI, CPC, considerando que a doação realizada pela parte autora teve como
beneficiário o ORFANATO SEMENTE DO AMANHÃ, e não a parte ré.

Indubitavelmente, conforme consta do contrato de doação juntado pela


parte autora (Doc. xx), não consta o nome da parte ré como beneficiária direta
ou indireta da doação realizada pela parte autora, razão pela qual há de ser a
presente ação extinta sem resolução do mérito, nos termos do artigo 485, VI,
CPC.

IV – PREJUDICIAL AO MÉRITO – DECADÊNCIA

Dispõe o art. 178, I do Código civil que é de 4 anos o prazo para pleitear
a anulação de negócio jurídico, contado, no caso de coação, do dia em que ela
cessar.
A parte autora alega que cedeu à vontade da diretora do orfanato, ora
parte ré, com receio de não perder o emprego. Contudo, esconde do Juízo o fato
de que no mês seguinte à doação, ou seja, em abril de 2012, a parte autora
pediu demissão por ter aceitado a proposta de emprego feita pela concorrente
em fevereiro de 2012, em razão do melhor salário.

Eventualmente supondo a existência da coação sofrida pela parte autora,


é certo que tal estado de vício do negócio jurídico cessou no mês de abril de
2012. A parte autora ajuizou a presente demanda em 20 de janeiro de 2017,
conforme consta na certidão de distribuição anexa (Doc. XX), tendo, portanto, a
parte autora, decaído de seu direito de ação.

V – MÉRITO

Ultrapassadas as questões preliminares e prejudiciais arguidas pela parte


ré, em homenagem aos princípios da Eventualidade e Impugnação específica
dos fatos, a parte ré passa a analisar as questões relativas ao mérito da presente
demanda, a fim de comprovar serem longe de verdadeiros os fatos narrados na
petição inicial.

O negócio jurídico pode ser anulado quando for maculado por vícios
resultantes de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra
credores, nos termos do que dispõe o artigo 171, II do Código Civil (CC). A parte
autora alega ter sido foi vítima de coação praticada pela parte ré, instituto que
constitui um defeito do negócio jurídico por atingir a vontade de um dos sujeitos,
tornando o negócio passível de ação anulatória.

A coação pode ser conceituada como sendo uma pressão física ou moral
exercida sobre o negociante, visando obrigá-lo a assumir uma obrigação que
não lhe interessa, conforme previsto no caput do artigo 153, CC. É, pois,
elemento essencial do instituto a submissão da vítima coagida à prática de
determinado negócio jurídico para evitar o mal objeto da ameaça.

Considerando a prova juntada aos autos, constata-se que o mal nunca


existiu, quer porque a parte ré em nenhum momento ameaçou a parte autora;
quer porque esta já havia pedido demissão do emprego, ao aceitar proposta que
lhe fora enviada no mês de fevereiro de 2012, frise-se, um mês antes da
celebração da doação.
A parte ré não exerce o cargo de diretora do orfanato desde o ano de
2013, porém, lá ainda trabalham pessoas que podem confirmar que, conquanto
possuam religião diversa, jamais realizaram qualquer doação ao orfanato que
era dirigido pela ré.

Ademais, ainda que a parte autora não houvesse requerido sua demissão
tal situação configuraria, no máximo, o temor reverencial, ineficaz à configuração
da coação, conforme expressamente dispõe o artigo 153, I, CC.

Ao julgar casos semelhantes ao presente, a jurisprudência deste Tribunal


de Justiça tem assim decidido, conforme verificado no acórdão colacionado:

2002.001.15203 - APELACAO CIVEL


DES. NAGIB SLAIBI - Julgamento: 01/10/2002 - SEXTA CAMARA CIVEL

DOACAO – COACAO - NAO CARACTERIZACAO - ACAO ANULATORIA
Direito Civil. Ação de anulação de doação cumulada com restituição das
quantias doadas. Demandante que ocupou por dez anos cargo em comissão
em gabinete de parlamentar seu tio, contribuindo mensalmente para
entidade religiosa, à qual estava ligado o parlamentar, no equivalente a
quinta parte de sua remuneração bruta. Coação não caracterizada. A coação
é a ameaça capaz de incutir temor (metus). Ameaça que perturbe o processo
de formação da vontade. Mas o que importa é o temor que inspira no
paciente. Deve ser fundado. Ao lado do fator psíquico entra, portanto, o fator
moral. A coação deve ser fundada em temor sério e grave, em virtude do qual
se veja a injustiça e ilegalidade do ato, com que se procurou arrancar o
consentimento, que não era livre nem espontâneo, pelo que se fez vicioso e
inválido. Como o que imporia substancialmente é o temor causado pela
ameaça, que deve ser grave, levam-se em conta, no apreciar a coação, todas
as circunstâncias influentes na sua gravidade, notadamente a idade, o sexo e
a saúde do paciente. A ameaça deve ser a causa determinante da realização
do negócio, ou influir no sentido de modificar seu conteúdo. Em síntese, para
viciar a vontade precisa a coação retinir os seguintes requisitos: 1º) ser a
causa determinante da vontade declarada; 2º) incutir fundado temor de
grave dano; 3º) ser injusta. A injustiça encontra-se normalmente no meio
escolhido para a ameaça (Orlando Gomes). Provimento do recurso.

VI - PEDIDOS

Com base nos fatos corretamente narrados, a parte ré requer ao Juízo


que se digne:

a) Acolher a preliminar de ocorrência de coisa julgada, extinguindo o processo


sem resolução do mérito, nos termos do art. 485, V, do CPC;
b) Acolher a preliminar de ilegitimidade passiva ad causam, extinguindo o
processo sem resolução do mérito, nos termos do art. 485, VI, do CPC;

c) Acolher a prejudicial ao mérito, reconhecendo a decadência do direito de ação


da parte autora (artigo 178, I, CC), extinguindo o processo com resolução do
mérito, nos termos do art. 487, II, do CPC;

d) Ultrapassadas as questões processuais e prejudiciais elencadas, em face dos


fundamentos expostos na contestação, julgar improcedente o pedido formulado
na petição inicial;

e) Condenar a parte autora ao pagamento das despesas processuais e


honorários advocatícios.

VII – PROVAS

Protesta provar a verdade dos fatos alegados por meio das provas
documental e testemunhal, cujo rol segue anexo, requerendo desde logo o seu
deferimento.

Campinas/SP, data.

Nome do Advogado(a)

OAB/UF

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