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Universidade Estadual de Goiás

Campus de Ciências Exatas e Tecnológicas Henrique Santillo

Curso de Arquitetura e Urbanismo

Discentes: Ana Carolina Miranda Albernaz Martins

Denivaldo Ferreira Lemes Filho

Vitor Silva Martins Alves

Docente: Dra. Anelizabete Alves Teixeira

Disciplina: Sistemas Construtivos 3

Data: 17/03/2018

ANÁLISE CRÍTICA TEXTUAL: ARTESANATO DIGITAL E NATUREZA


CONSTRUÍDA – IÑAKI ÁBALOS

Ábalos ao escrever um texto componente do livro “Arquitetura e Técnica”,


organizado por Jorge Sarquis, deu o seguinte título ao texto “Artesanato Digital e
Natureza Construída”. Existe ainda um pequeno subtítulo, onde minimalistamente
delimita o propósito do texto “Novas Tecnologias”.

A discussão se inicia com o autor apontando o atual cenário que se tem da


arquitetura, na qual o arquiteto só tem a “(...) única responsabilidade (...) em escolher
quando pressionar a tecla ENTER (...)” (ÁBALOS, p.71), o autor é crítico quanto a esta
postura da contemporaneidade, para ele existe a necessidade de uma profunda
análise do tempo e da atenção dada a reflexão crítica das técnicas utilizadas.

“(...) O tempo é o principal material do qual se nutre o su oposto, o espaço, face


e reverso da arquitetura (...)” (ÁBALOS, p.71), a postura do autor é reforçada aqui pela
necessidade de reflexão histórica do ato de projetar. Quanto ao ponto de vista da
técnica o autor expressa de modo mais “maleável” em relação ao ato de projetar.

“(...) As técnicas não estão paradas, cada presente só tem um conjunto limitado
da mesma (...) e além disso também empurram em diferentes direções temporais (...)”
(ÁBALOS, p.71), sendo assim a técnica algo seria uma espécie de elástico temporal
podendo dialogar com mais de uma época, seja no passado ou no presente ou no
futuro.
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O autor ainda se atenta para o fato do aspecto historicista de revisitação das


técnicas, para ele existem dois caminhos quando essa ação se dá: uma sendo de
ingenuidade de querer encaixar qualquer coisa do passado num contexto
contemporâneo sem a devida reflexão ou adaptação e uma outra que seria o pastiche
pós-moderno aplicando uma espécie de plasticidade embasada nos métodos datados.

O texto dá seguimento a este pensamento de história e técnica, mas agora de


uma maneira mais palatável ao uso dos dois meios, a técnica, segundo o autor, só
atingiria o devido valor ou consistência quando existisse um diálogo horizontal entre
história e técnica, livre de imitações e a história servindo de base pra reflexões futuras.

Existe ainda uma analogia que o autor faz com relação ao movimento moderno
e um conceito da química contemporânea que é o de entropia. Sabe-se que os
arquitetos modernos, em sua maioria, pregavam a sobreposição do moderno ante ao
existente em vários campos, mas ao fim a modernidade não conseguia resolver tudo,
era necessária uma correspondência com métodos antigos que possuíam suas
caraterísticas para aperfeiçoar a modernidade, o conceito de entropia entra nesse
aspecto do tempo, não ser o tempo moderno sempre apontando para a frente, mas
aquele tempo em eterna suspensão, dispersão e concentração.

Entretanto, uma questão negligenciada por Ábalos foi a das contribuições de


arquitetos, ainda no movimento moderno, que refletiram em suas obras a história e a
técnica, como por exemplo, Alvar Aalto que produziu uma nova arquitetura com
qualidade e funcionalidade, mas detentora de técnicas de sua região (Finlândia). No
Brasil, o arquiteto Lúcio Costa também não virou totalmente as costas ao passado ao
utilizar de seus conhecimentos em arquitetura neocolonial, reinterpretando em uma
nova produção arquitetônica: a obra Park Hotel desse mesmo arquiteto exemplifica o
argumento.

O aspecto de memória e esse tempo entrópico é analisado pelo autor de forma


em que ele realiza uma outra analogia entre o tempo em que vivemos moldados pela
“(...) necessidade (...), certamente por contraste com as acelerações e tecnificação e
o consumismo introduziram na vida dos homens (...)” (ÁBALOS,

p.73) e pelo tempo cíclico aquele tempo da natureza, dos acontecimentos biológicos
(nascer, crescer e morrer), a arquitetura com o tempo passou a ter uma espécie de
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ciclo não mais buscando a eternização mas sim sendo algo que cumpre seu papel e
sabe de seu provável descarte.

O autor se debruça ainda sobre a relação do abstracionismo da técnica, certo


que os tempos atuais são marcadamente inspirados por abstrações das mais variadas
formas. Inclusive existe menção do autor a perseguição plástica pela forma
arquitetônica que reflita um alto nível de abstração. Essa afirmação tem seu fundo de
verdade em certos arquitetos e artistas, a modo de exemplo o autor cita dois artistas
plásticos no texto Peter Halley e Albert Oehlen, cada um a seu modo contribui para o
grau de complexidade da abstração.

Em especial, o autor utiliza Oehlen para abrir a discussão sobre o espaço


público e a técnica, envolvendo os motivos de paginação de espaços públicos.
Tomando como exemplos Rio de Janeiro e Barcelona, que possuem paginações
tradicionais em grande parte dos espaços públicos, assinala que seria completamente
diferente a inserção de uma paginação mais abstrata nesses lugares, para abrir um
comportamento diferente das pessoas em tais.

Isso tudo proporcionado pela técnica do fabrico de novas possibilidades e


formas, muito mais além do “tradicional mosaico romano ou português”. O autor
aproveita o gancho da discussão de espaço público, para lançar uma inquietação
quanto ao uso do espaço público.

O modo de como usufruímos do espaço público não é como era há 40 anos,


por exemplo, o tempo em que vivemos pede outra postura no espaço público. Tendo
essa visão crítica, Ábalos, se apoia em um componente do espaço publico, que é o
mobiliário, mais especialmente nos bancos.

O autor apresenta o banco público contemporâneo como um elemento que teria


como preceito ser “(...) algo mais que um assento, é condensador do olhar e do
movimento, um objeto que reclama ser construído com mais fundamentos que os
ergonômicos tradicionais(...)” (ÁBALOS, p.74). Utilizando esse conceito de banco,
Ábalos nos apresenta um produto de sua assinatura: o banco Xurret.

O Xurret busca trazer pontos de referência a partir da combinação livre de cinco


peças e três cores. Iñaki Ábalos, nesse momento defende que tais mobiliários, por si
só, são capazes de transformar um espaço público ruim em uma arquitetura de
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qualidade; capaz, inclusive, de trazer toda uma dinâmica de apropriação do espaço


público. Tal raciocínio acaba sendo um equívoco, pois um mobiliário por si não é capaz
de interferir/criar um programa em um espaço público capacitando-o com
características qualitativas.

A última discussão do texto é sobre sustentabilidade, que a princípio pode


parecer deslocado no texto, devido ao desenvolvimento do mesmo. No entanto, é o
fechamento da discussão, iniciada por Ábalos, no parágrafo anterior, que trata de
paisagem urbana em relação ao Xurret.

A paisagem se molda a cada dia da vida urbana e juntamente com essas


mudanças, nos últimos 40 anos debates em relação a manutenção do planeta tem
sido colocados em antítese ao desenvolvimento da cidade. Tendo em vista que o setor
da construção civil é um dos mais poluidores no mundo.

Ábalos contesta a onda “sustentável”, que nasceu em resposta às exposições


de problemas que o mundo enfrenta em relação ao impacto das construções, essa
“moda” segundo o autor, seria fruto de ações mercadológicas que proporcionariam
técnicas construtivas renováveis ou sustentáveis.

De maneira generalista, o autor diz que os arquitetos contribuem para a


deturpação do significado do termo sustentabilidade. É inegável que haja tantos
arquitetos de mercado produzindo edifícios sobre modificações das boas intenções de
palavras como “sustentabilidade”, mas não é possível generalizar todos os
profissionais da área.

O acontecimento dessa palavra em nossa geração é algo cíclico como aponta


Ábalos “(...) Cada década, aproximadamente, os arquitetos sofrem a invasão de uma
palavra mágica frente a qual muito sucumbem e a todos afetam sua maneira de
trabalhar (...)” (ÁBALOS, p. 76), claramente uma crítica aos “edifícios inteligentes” que
na verdade são apenas produto de uma espécie de “maquiagem”, adições de alguns
painéis solares, por exemplo, que a princípio forneceriam energia limpa.

O esgotamento de sentido da palavra é exclamado pelo autor, pelo seu uso


deturpado não se sabe bem definir uma arquitetura sustentável de forma sucinta, por
ter desenvolvido ao longo do tempo meandros desnecessários na discussão.
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Na finalização do texto, Ábalos defende que “(...) Ainda está por ser construído
um mapa crível da sustentabilidade, mas não há dúvidas de que outras dimensões já
ensaiadas esgotaram sua credibilidade (...)” (ÁBALOS, p.78). Nesse instante, há uma
crença por parte do autor que, embora o termo sustentabilidade tenha sido
“prostituído” ao mercado, há ainda boas formas de explorar a pureza do conceito de
sustentável, para produção de boa arquitetura.

REFERÊNCIA

ÁBALOS, Iñaki. Artesanato Digital e Natureza Construída. In: SARQUIS, Jorge (org.).
Arquitetura e Técnica. Porto Alegre: Masquatro Editora Ltda e Nobuko S.A :
2012. p. 71-78. Tradução de Cristina Menuzzi.

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