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RESUMO - A FAMÍLIA DO PONTO DE VISTA PSICOLÓGICO: LUGAR

SEGURO PARA CRESCER?


A construção histórica do atual modelo de família do Brasil surge no inicio do
século XIX, onde ocorre uma transição de família como uma realidade social, para
uma realidade afetiva, que se fundamenta no amor, fidelidade e cuidado da prole, se
organizando de forma nuclear. Desde o modelo patriarcal do Brasil Colônia, temos
no imaginário coletivo que família é constituída de Pai, Mãe e filhos, sendo um lugar
de paz, amor e harmonia, que transforma o ambiente familiar num mito de um
refugio seguro. (MACEDO, 1994)
Já para as ciências sociais e humanas o conceito de família é a unidade
social que deve educar e transmitir a cultura para suas crianças, e assim da
continuidade a cultura da sociedade. No campo da psicologia, um conceito genérico
de família pode ser dispensável, já que cada sujeito vai ter sua própria concepção do
que é família, fundamentado em sua experiência pessoal. Aqui, a família é vista
como primeiro espaço psicossocial, sustentado por fortes laços de afeto, onde o
individuo desenvolve sua personalidade e o sentimento de pertencer ao grupo. Ao
mesmo tempo que a criança pertence à família, adquirindo hábitos, crenças e
valores desse grupo, ela também aprende a se diferenciar, assumindo diferentes
papeis familiares. A família deveria oferecer o suporte para o desenvolvimento
saudável da criança, suprindo as necessidades primarias como segurança,
alimentação, ter um lar, ter a possibilidade de desenvolver-se afetivo, cognitivo e
socialmente, e ainda de ser aceito e amado. (MACEDO, 1994)
No entanto, mudanças históricas como legalização do divórcio, os novos
papeis da mulher na sociedade, uso de métodos contraceptivos e relações
homoafetivas, apresentam novas realidades como famílias chefiadas por mulheres,
uniparentais, com avós, tios e primos e outras configurações parentais que
constituem novas formas de ser família. (MACEDO, 1994)
Num contexto terapêutico, tendo embasamento em seu referencial teórico, o
psicólogo deve manter sua neutralidade num atendimento familiar, e estar aberto
para o surgimento de outras possibilidades de família alcançando uma postura ética
diante de seus pacientes, construindo através do dialogo novas soluções para as
demandas familiares. (MACEDO, 1994)
Pensando a família como um sistema, essa relação de pessoas em
diferentes momentos do ciclo de vida gera mudanças de padrões de pensamentos,
comportamento, conceitos e valores e está continuamente sendo alvo das
mudanças sociais vividas por cada membro. Nos faz lembrar de uma estrofe da
música Anacrônico:
“Mudaram os horários, hábitos, lugares inclusive as pessoas ao redor. São
outros rostos, outras vozes interagindo e modificando você, e aí surgem
novos valores,vindos de outras vontades. Alguns caindo por terra, pra
outros poderem crescer” (Pitty, 2005)

Quando o sistema não tem recursos para dar conta dessas mudanças, as
dificuldades de um dos membros evidencia as falhas no funcionamento do sistema
familiar, tornando-o porta voz. Diante dessas reflexões é possível concluir que
mesmo diversos arranjos familiares, com seus conflitos e dificuldades peculiares, é
possível ao terapeuta, juntamente com a família em atendimento, encontrar meio e
recursos que possibilitem as mudanças necessárias para o melhor e mais saudável
funcionamento do sistema. (MACEDO, 1994)
Esse é o contexto em que as igrejas e seus lideres estão inseridos: famílias
cujas mulheres priorizam suas carreiras, casais que estão optando por ter filhos mais
tarde ou não tê-los, aumento do divórcio, jovens que iniciam sua vida sexual mais
cedo aumentando os casos de gravidez na adolescência, famílias carentes cujas
necessidades básicas de sobrevivência não são supridas, crescimento do uso de
drogas e muitas outras situações que tem modificado o que definimos como
“família”.
Para uma intervenção da igreja nessas situações, um primeiro passo seria
estudar e perceber qual a realidade social na comunidade, quais são as formas de
configuração familiar presentes, a faixa etária e econômica e outras informações que
ajudem a construir formas de atender a essa comunidade. Mesmo tendo o
fundamento bíblico de família, é importante compreender o individuo como um ser
completo, biopsicossocial que tem sua história que não pode ser ignorada. Só a
partir dessa compreensão, a igreja poderá então oferecer auxilio emocional,
espiritual e material para as famílias que atende.
As igrejas poderiam ser cooperadoras no processo de tornar a família um
ambiente seguro para crescer, auxiliando no suprimento das necessidades básicas,
oferecendo educação em saúde e higiene, oferecendo seu espaço físico e recursos
humanos para o desenvolvimento educacional e profissional da comunidade.
MACEDO, Rosa Maria. A família do ponto de vista psicológico: lugar seguro
para crescer?. São Paulo, Caderno Pesquisa. 1994.
LEONE, Priscilla. In.: Pitty. Anacrônico. Rio de Janeiro: Deck Disc, 2005,
Faixa 2.

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