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Dr.

Alan Rogério Mansur Silva


Procurador da República

Cabe indenização em caso de roubo ou


furto ocorrido dentro de estabelecimento
comercial?
É muito comum o consumidor entrar em uma loja, supermercado ou
shopping center e observar que há cartazes e avisos que indicam que o
estabelecimento comercial se exime de responsabilidade por qualquer
roubo ou furto contra o consumidor.

Cabe indenização em caso de roubo ou furto ocorrido dentro de estabelecimento comercial?

EBEJI

É muito comum o consumidor entrar em uma loja, supermercado ou shopping center e observar que
há cartazes e avisos que indicam que o estabelecimento comercial se exime de responsabilidade
por qualquer roubo ou furto contra o consumidor.

O estabelecimento comercial já passa a referida “mensagem” ao consumidor para evitar que seja
procurado pelo cliente para resolver a questão no balcão da loja ou nos Tribunais.

Porém, não é este, felizmente, o posicionamento de nossa jurisprudência. Com mais de duas décadas
de Código do Consumidor não se poderia esperar outro entendimento para a garantia dos direitos do
consumidor.

O Superior Tribunal de Justiça tem jurisprudência firmada sobre a real responsabilidade dos
estabelecimentos comerciais sobre os fatos ocorridos em sua área de atuação, seja dentro das áreas
de compras ou de prestação de serviços, seja na área de estacionamento.
Entende-se que deve haver reparação proporcional ao prejuízo que ocorra, bastando para tanto
que se comprove o dano e o nexo de causalidade. Ou seja, trata-se de responsabilidade civil
objetiva.

Ademais, além da própria indenização pelo valor do dano, do furto ou do roubo, também é cabível a
condenação por danos morais proporcional ao ocorrido.

No mesmo sentido, o STJ é firme na jurisprudência de imputar como responsável por furto, roubo ou
danos as lojas, shoppings centers, supermercados, empresas de estacionamentos e estabelecimentos
bancários. Todos devem ao consumidor esta obrigação de garantir a segurança em seus
estabelecimentos e estacionamentos. E quando não garantirem, devem ressarcir na forma da
legislação.

Decisão do STJ publicada no mais recente informativo de jurisprudência, de nº 534, indica o claro e
reiterado entendimento do Tribunal:

“Tratando-se de relação de consumo, incumbe ao fornecedor do serviço e do local do


estacionamento o dever de proteger a pessoa e os bens do consumidor. A sociedade empresária que
forneça serviço de estacionamento aos seus clientes deve responder por furtos, roubos ou latrocínios
ocorridos no interior do seu estabelecimento; pois, em troca dos benefícios financeiros indiretos
decorrentes desse acréscimo de conforto aos consumidores, assume-se o dever – implícito na
relação contratual – de lealdade e segurança, como aplicação concreta do princípio da
confiança”.

Assim, quando a pessoa retornar ao estacionamento onde deixou seu carro não encontrá-lo ou
encontrar danificado, com severos riscos, sem seus bens, vidros quebrados poderá pleitear
reparação por danos, sem a necessidade de comprovação de culpa, visto que se trata de
responsabilidade objetiva, de acordo com o art. 14, do Código de Defesa do Consumidor.

Além desta, temos diversos entendimentos daquela Corte sobre a questão:

a) Súmula 130: “A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo
ocorridos em seu estacionamento”;

b) Responsabilidade por danos e furtos de veículos ocorridos no estacionamento: “Aplica-se, ao


caso em tela, a Súmula 130 desta Corte, segundo a qual os estabelecimentos comerciais respondem,
perante os clientes, pela reparação dos danos ou furtos de veículos ocorridos em seu estacionamento”
(AgRg no AREsp 272706 / SP, Rel. Min. Sidnei Benetti, 26/02/2013);

Dever de segurança de shopping centers: “É dever de estabelecimentos como shoppings centers e


hipermercados zelar pela segurança de seu ambiente, de modo que não se há falar em força maior
para eximi-los da responsabilidade civil decorrente de assaltos violentos aos consumidores” (REsp
582047 / RS, rel. Min. Massami Uyeda, 17/02/2009);

d) Shoppings, hotéis e hipermercados devem garantir a segurança no estacionamento, mesmo


que de forma gratuita “De acordo com os ditames do Código de Defesa do Consumidor, os
shoppings, hotéis e hipermercados que oferecem estacionamento privativo aos consumidores, mesmo
que de forma gratuita, são responsáveis pela segurança tanto dos veículos, quanto dos clientes.
Aplicação, ainda, da inteligência da Súmula 130/STJ” (EREsp 419059 / SP, rel. Min. Luís Felipe
Salomão, 11/04/2012);
e) Responsabilidade de instituições financeiras por furtos e roubos no interior do
estabelecimento ou no respectivo estacionamento: “No que se refere à responsabilização das
instituições financeiras pela ocorrência de roubos e furtos no interior do estabelecimento bancário ou
nas dependências de estacionamento fornecido aos clientes e usuários dos serviços, o entendimento
adotado pelo colegiado estadual se encontra em consonância com a jurisprudência desta Corte (de
condenação do estabelecimento), incidindo, à espécie, o óbice da Súmula 83 desta Corte (“ Não se
conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do Tribunal se firmou no mesmo
sentido da decisão recorrida)” (AgRg no AREsp 327434 / SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, 06/08/2013);

f) Responsabilidade de instituições financeiras por furtos e roubos – responsabilidade objetiva


– risco inerente à atividade: “A jurisprudência desta Corte entende que há responsabilidade
objetiva das instituições financeiras pela ocorrência de roubos no interior do estabelecimento
bancário, pois esse tipo de evento caracteriza-se como risco inerente à atividade econômica
desenvolvida pelos Bancos” (AgRg nos EDcl no AREsp 355050 / GO, Rel. Min. Sidnei Beneti,
19/11/2013)

g) Responsabilidade de instituições financeiras por furtos e roubos – contratação de empresas


especializada não ilide responsabilidade: “A instituição bancária possui o dever de segurança em
relação ao público em geral (Lei n. 7.102/1983), o qual não pode ser afastado por fato doloso de
terceiro (roubo e assalto), não sendo admitida a alegação de força maior ou caso fortuito, mercê da
previsibilidade de ocorrência de tais eventos na atividade bancária. A contratação de empresas
especializadas para fazer a segurança não desobriga a instituição bancária do dever de segurança em
relação aos clientes e usuários, tampouco implica transferência da responsabilidade às referidas
empresas, que, inclusive, respondem solidariamente pelos danos.” (AgRg nos EDcl no REsp 844186
/ RS, rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, 19/06/2012).

h) Responsabilidade de empresas que exploram o estacionamento de automóveis por furto e


roubo: “Não há como considerar o furto ou roubo de veículo causa excludente da responsabilidade
das empresas que exploram o estacionamento de automóveis, na medida em que a obrigação de
garantir a integridade do bem é inerente à própria atividade por elas desenvolvida. Hodiernamente, o
furto e o roubo de veículos constituem episódios corriqueiros, sendo este, inclusive, um dos
principais fatores a motivar a utilização dos estacionamentos, tornando inconcebível que uma
empresa que se proponha a depositar automóveis em segurança enquadre tais modalidades
criminosas como caso fortuito”. (REsp 976531 / SP, rel. Min. Nancy Andrighi, 23/02/2010)

EBEJI
 Publicado em 4/03/14 às 18:08 por Dr. Alan Rogério Mansur Silva

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