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CUNHA, Eugénia. Como Nos Tornámos Humanos.

Coimbra: Imprensa da
Universidade de Coimbra, 2010.

Lucas Brito Santana Da Silva


Disciplina: Antropologia Cultural
Período: 4º
- Porque somos como somos?
À pergunta que intitula este pequeno capitulo, a autora a ancora na maior
autenticidade científica, sendo uma questão realmente passível de estudo sério, longe
de cair na especulação ébria. A história natural do homem é feita a partir de achados
variados, “os ossos, os dentes, as pegadas, os genes, os instrumentos líticos” (p. 12)
e muitos outros. Além disso, os desenvolvimentos dos instrumentos, métodos e
técnicas possibilitam a extração de informações novas sobre os materiais
encontrados. A dinâmica na área da paleoantropologia é tal que os consensos que se
obtém podem ser no outro dia derrubados por descobertas novas, e assim tem sido
do século passado ao nosso. Ainda que as perguntas sobre a origem e o porquê dos
homens serem o que são atravessarem as diversas culturas, tem-se aumentado muito
a atenção tanto de leigos quanto de eruditos para as respostas que tem sido
oferecidas pela paleoantropologia e pelo evolucionismo; o maior sintoma disso, para
a autora, é o sucesso midiático que o assunto tem conquistado e a maior frequência
de artigos em periódicos científicos (p. 11-5).

- Porquê África?
Para a autora, teria sido a grande falha do Rift responsável pelas inúmeras
espécies que existiram no continente africano. Os movimentos das placas tectônicas
promoveram climas diferenciados e consequentemente subsistências diferentes,
abrindo possibilidades do aparecimento de variadas espécies. Da perspectiva
arqueológica, a África possibilita condições de fossilização eximias, não sendo por
acaso um dos sítios arqueo-paleontológicos mais ricos (p. 24-5).

- Fossilização e ambientes fósseis.


A quantidade de organismos vivos que vem a se fossilizar é ínfima, contribuindo
para a fossilização o ambiente em que o organismo se encontra. Se África é um ótimo
local para fossilização, por outro muitos têm sido os problemas de datação com os
quais se deparam os pesquisadores, devido à ausência de marcadores que permitam
a cronologia absoluta. Há dois grandes grupos de fosseis, o primeiro composto por
pegadas e coprólitos e o segundo composto por vestígios mais significativos de
plantas e animais. Com o avanço tecnológico, especialmente em relação às
tecnologias de reconstrução digital, os paleoantropólogos têm conseguido avançar em
seus estudos, sem que para isso se tenha que usar métodos invasivos que possam
destruir os fósseis. Cunha nos alerta ainda para a distinção entre fósseis e ossos,
pois estes nem sempre são fósseis, nem os fosseis são apenas de origem óssea (p.
26-30).

- A especialização leva à extinção: os Paranthropus


Os paranthropus foram uma espécie que se especializou no consumo de
raízes, sementes e frutos secos. Quando esses alimentos começam a desaparecer
com as intermitentes mudanças climáticas que o continente africano vai sofrendo, a
hiperespecialização de sua mandíbula para triturar e mastigar se torna inútil, e a
própria hiperespecialização impede que eles venham a adaptar-se às novas
condições. O contrário acontece ao gênero homo, especialmente com o homo
sapiens: a ausência de uma especialização inscrita na anatomia permite uma
adaptação universal através das práticas culturais (p. 56-9).

- Homo: os primeiros
Inexiste consenso sobre o que é ser homo, mas algumas características em
relação aos pré-humanos são: cérebro grande, dentes molares menos largos e ossos
cranianos mais densos. Segundo Cunha, a diversidade nas espécies sempre foi
comum, sendo nós uma exceção por sermos os únicos hominídeos na atualidade.
Não se tem dados sobre espécies pré-humanas terem desenvolvido alguma
tecnologia, somente quando se chega aos homens é que aparecem as primeiras
ferramentas, acrescentando-se que não há uma relação estritamente determinante
entre a morfologia e a produção tecnológica das espécies homo. Outro ponto
importantíssimo, também ressaltado em vários outros tópicos do texto, é que – a
evolução não é unilinear, sendo mais semelhante às raízes, onde coexistem vários
segmentos e ao mesmo tempo novos segmentos são produzidos, multilinearidade por
excelência (p. 60-3).
- A importância do fogo para sermos como somos.
O fogo foi essencial para que o ser humano se tornasse o que é. A tentativa do
homem em dominar o fogo mostra um grau de autoconsciência e o seu domínio leva
a mudanças estruturais na espécie. O homem passa a alimentar-se apenas de
alimentos cozidos e passa a dormir no chão, sendo o fogo também uma grande arma
contra outros animais. É por ter o fogo como arma que o homem se permitirá
descansar mais, dormir mais, com isso haverá uma expansão da atividade onírica,
crucial para o cérebro, trazendo desse modo transformações na estrutura de sua
mente A mudança na alimentação levará à transformação da mandíbula e arcada
dentária, e o homem não mais sobreviverá se alimentar-se apenas de alimentos crus.
Há uma grande dificuldade em identificar a partir dos vestígios, por exemplo de
incêndios, se eles teriam sido causados por fenômenos naturais ou se seriam fruto da
ação humana. Por fim, apesar de alguns hominídeos conseguirem algum grau de uso
do fogo, será apenas com os neandertais que o fogo será controlado e habilmente
usado (p.86-9).

- A percepção da morte: os enterramentos.


Os enterros aparecem em maior quantidade a partir da emergência dos
neandertais. Além de apontar para uma consciência de si, os enterros podem ser
sintomas do inicio de um comportamento religioso, onde o homem já mostra
preocupação com um outro mundo, com a sua passagem para este outro mundo. Em
outro capítulo, a autora abordará uma caverna que legou aos pesquisadores mais ou
menos trinta esqueletos, eles foram colocados no mesmo lugar propositalmente, mas
Cunha diz que não há informação suficiente para interpretar esse acontecimento como
manifestação de comportamento ritual ou se os corpos foram colocados ali para evitar
que a putrefação perturbasse a existência dos vivos (p. 97-9).

- Porque desapareceu uma criatura inteligente?


Tratando do porquê os neandertais teriam desaparecido, a autora não dá uma
explicação conclusiva. A inteligência dos neandertais é indubitável, Cunha se
pergunta se não teriam sido agente patogênicos trazidos pelos homo sapiens
africanos que promoverão a extinção daqueles, mas fala da possibilidade de as
mudanças geográficas terem aí papel, assim como um baixo nível de natalidade em
relação aos homo sapiens, o que teria tornado a existências desses últimos
predominante. Já que as duas espécies conviveram, a autora aponta para uma
substituição dos neandertais pelos sapiens. E ainda que tenham existido cruzamentos
entre as espécies, os seus descendentes não obtiveram sucesso adaptativo (p. 99-
105).

Bipedismo: Porquê e desde quando somos bípedes?


Uma das informações mais importantes deste capítulo é a que contesta a
hipótese clássica que o bipedismo teria sido implicado pela transformação da
vegetação, passando das florestas às savanas. Contrapondo isso, a autora apresenta
outra perspectiva para o porquê do bipedismo, este seria estaria mais relacionado as
vantagens da locomoção bípede antes de qualquer mudança de vegetação. Andando
eretos os nossos ancestrais conseguiram subsistências diferentes, não se restringindo
mais àquilo que as árvores poderiam oferecer. Além da variação alimentícia, a
locomoção bípede tornou possível carregar os alimentos. Ainda na variação
alimentícia, será ela que possibilitará mudanças na estrutura cerebral. Contrariando
outra hipótese, Cunha diz que a locomoção bípede ocorreu antes do crescimento do
cérebro, porém há sempre uma ligação entre os comportamentos e as estruturas
cerebrais, mais ainda – tamanho do cérebro não é sinônimo de estruturas cerebrais
mais complexas (p.127-31).

- A linguagem articulada: será possível conceber o nosso pensamento na ausência de


linguagem?

Foram milhões de anos até que o cérebro e a anatomia tornassem possível a


linguagem como a conhecemos. Segundo Cunha, a linguagem não foi um acidente,
mas uma adaptação, e uma adaptação muito vantajosa. A linguagem permitiu a
expansão dos grupos, permitiu a transmissão eficaz de informações entre os
indivíduos, tornou parcimonioso o gasto energético na comunicação exercida por
outras maneiras. Enfim, a linguagem foi uma das conquistas evolutivas da
humanidade que só é comparável à aquisição do fogo, foi ela quem nos deu uma
capacidade cognitiva sem igual (p.140-43).

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