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editorial

P rezado leitor,

Você tem em mãos uma edição que, além do conteúdo técnico e do debate de ideias,
traz um componente de emoção e sentimento. Nos 80 anos do DAER, casa dos técnicos
que compõem a Sudaer e a Secdaer, abordamos um pouco da história do órgão que se
transformou em referência no setor rodoviário e a visão de diferentes gerações sobre sua
trajetória e seu futuro.
Como tema técnico central deste número da Revista Estradas, apresentamos diversas
abordagens sobre a Reciclagem de Pavimentos. Você poderá acompanhar relatos
sobre pesquisas relacionadas a questões como avaliação das propriedades de misturas
asfálticas recicladas; avaliação da inserção de material fresado em misturas recicladas;
deformabilidade das misturas recicladas; reciclagem profunda de pavimentos, entre
outros.
Os técnicos do Departamento estão presentes com artigos sobre o novo SICRO; análise
de intersecção modificada para melhoria na segurança viária e o poder de polícia do DAER.
Estão na seção Pratas da Casa, onde você pode constatar que o aperfeiçoamento técnico
e a busca pelo conhecimento são características dos profissionais do Departamento.
Além disso, trazemos uma Prévia relatando o trabalho de pesquisa do Novo Método
de Dimensionamento de Pavimentos, que deve entrar em vigor a partir de 2018 e
que abordaremos com maior profundidade em nosso próximo número. A nova seção
Inovação traz um artigo com as pesquisas sobre asfalto auto cicatrizável, desenvolvidas
por pesquisadores da Holanda e do Chile.

Boa leitura!

Foto Júlio Cunha Neto

www.sudaer.com.br
2
REVISTA ESTRADAS Mensagem dos Presidentes
ISSN 1807-426X SUDAER SECDAER 4

sumário
Ano 16 - N° 22- Novembro 2017

Publicação da Sociedade dos Técnicos


Reportagem
Daer 80 anos 5
Universitários do DAER/ Sociedade dos
Engenheiros Civis do DAER
Av. Borges de Medeiros, 1555 - Prédio Anexo Prévia
CEP 90110-150 - Porto Alegre - RS Aspectos dos métodos de dimensionamento de pavimentos asfálticos de alguns
(51) 3210.5076 países comparados aos critérios propostos para o novo método brasileiro 12

Prata da Casa
SUDAER Novo Sicro: novas tecnologias e análises quanto a transição do sistema referencial
PRESIDENTE do DAER para sistema referencial do DNIT 25
Eng. Paulo Ricardo Aquino de Campos Velho
Análise de interseção modificada na ERS-122 Km 76 com objetivo de obter
VICE-PRESIDENTE
melhorias na segurança viária 35
Eng. Josani Carbonera Pereira
SECRETÁRIO Poder de Polícia do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem 40
Eng.Cláudio Eduardo Machado
TESOUREIRO Artigos
Eng. Luciano Dornelles
Avaliação da inserção de materail fresado em misturas asfálticas recicladas à
SECDAER quente 45
PRESIDENTE
Eng. Laércio Toralles Pinto da Silva Avaliação das propriedades de resiliência, deformabilidade, coesão e adesão
VICE-PRESIDENTE de misturas asfálticas recicladas mornas com uso de ligantes convencionais e
Eng. Ana Paula Pestana Cardoso modificados por polímero 53
SECRETÁRIA
Eng. Sônia Maria Bortoluzzi
Reciclagem profunda de pavimentos: determinação da resistência à flexão e
TESOUREIRA
deformação na ruptura de baes BGTC recicladas 60
Eng. Alessandra Ribeiro da Silva
Análise de misturas asfálticas recicladas a frio para emprego em camadas de base
e sub base de pavimentos 66

IDEALIZADORA Análise dos benefícios da implantação da segunda ponte do Guaíba 74


Eng. Sayene Paranhos Dias
Avaliação do comportamento mecânico do material fresado com adições de
COMISSÃO EDITORIAL cimento portland, cal hidratada, sílica de casca de arroz e cinzas volantes 82
Eng. Carlos Alexandre Pinto Toniolo
Eng. José Octávio Guimarães Rodrigues Deformabilidade de misturas recicladas estabilizadas com ligante asfáltico 87
Eng. Luana Rossini Augusti
Fatores que afetam o módulo de resiliência na compressão diametral de
Eng. Márcio Tassinari Stumpf
pavimentos reciclados com cimento 91
Eng. Marlova Grazziotin Johnston
Eng. Rodrigo Malysz
Inovação
JORNALISTA RESPONSÁVEL Asfalto auto-cicatrizável: a cura para os buracos/ Self-healing asphalt: the cure for
Francisco Canabarro potholes 98
Mtb 8569

DIAGRAMAÇÃO E FINALIZAÇÃO Relato de Experiência


Padda Comunicação Caracterização e análise para solução de reciclagem do pavimento da BR 420/BA 105

Recomendação Técnica
Adaptação em usinas de asfalto para reciclagem a quente ou morna
de materialfresado (RAP) 110

Agenda 117

As informações, os conceitos e as opiniões emitidos nos textos assinados são de


inteira responsabilidade de seus autores.
Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 3
80 ANOS DO DAER É ESTÍMULO
PARA CONTINUIDADE DA
MISSÃO
mensagemdospresidentes

Eng. Paulo Ricardo Campos Velho


Presidente da Sociedade dos Técnicos Universitários do DAER/RS

Eng. Laercio Toralles da Silva


Presidente da Sociedade dos Engenheiros Civis do DAER/RS

No Rio Grande do Sul 85% da movimentação de cargas profissionais de nível superior, mantendo a tradição de estimular
passa pelas rodovias. No transporte de passageiros este número e desenvolver ações que possibilitem o desenvolvimento e
sobe para aproximadamente 90%. Estes dados demostram a aperfeiçoamento técnico e científico de seus associados.
extrema importância do modal rodoviário para a sociedade E nessa perspectiva, a Revista Estradas representa uma
gaúcha e o papel do Departamento Autônomo de Estradas de das mais importantes e relevantes ações para alcançar esse
Rodagem - DAER na gestão de mais de 10 mil quilômetros de objetivo. A publicação se constituiu ao longo dos anos em
rodovias estaduais. referência na área de conhecimento voltada à tecnologia de
Completar 80 anos é motivo de comemoração. O DAER pavimentação, conservação rodoviária e mobilidade. A cada
tem se dedicado ao longo deste período, por meio de seus ano, seu lançamento é aguardado com expectativa pelos
servidores, a vencer os desafios que a sociedade lhe confere. profissionais que atuam no mercado de trabalho e por aqueles
Atende diferentes demandas de conservação, melhoramentos que propagam a importância da pesquisa acadêmica nas
e ampliação da malha rodoviária. Além disso, é responsável universidades. A publicação é uma demonstração eloquente do
pela gestão e fiscalização do transporte coletivo intermunicipal, que é possível fazer quando se reúnem esforços de diferentes
garantindo sua qualidade e segurança. esferas da sociedade atuando em prol de um objetivo comum.
Essa caminhada de protagonismo voltada para o A SUDAER e a SECDAER agradecem de forma muito especial
desenvolvimento do Rio Grande do Sul também teve reflexos aos profissionais que com sua dedicação e entusiasmo tornaram
na organização interna da autarquia através da criação de esta publicação possível. Nosso reconhecimento também à
suas associações. Assim, em 15 de abril de 1961, foi fundada Comissão Editorial e aos pesquisadores que nos honraram com
a Sociedade dos Técnicos Universitários do DAER/RS, SUDAER o envio de seus trabalhos e relatos.
e alguns anos depois, em 15 de setembro de 1986, surgiu a Chegar a esta edição da Revista Estradas, comemorando
Sociedade dos Engenheiros Civis do DAER/RS, SECDAER. Com os 80 anos do DAER, significa olhar para trás e sentir orgulho
isso, 56 dos 80 anos da autarquia contam com a organização dos do que foi feito e olhar para frente e saber que se tem muito
seus profissionais. a realizar. Como servidores, temos uma grande satisfação e
A Sudaer e Secdaer estão ligadas umbilicalmente estímulo para a continuidade dessa missão. Que venham mais
à Autarquia Rodoviária Estadual e congregam diversos 80 anos!

4 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


DAER 80 ANOS

reportagem
Francisco Canabarro
Editor da Revista Estradas

Há 80 anos as estradas de rodagem no Rio Grande do a Diretoria de Viação Terrestre, dotado de dinamismo e
Sul não passavam, em sua grande maioria, de precários contemplado com recursos de relativa consistência, o DAER
caminhos, muitos deles antigas trilhas de carretas, com escassos começou a cumprir a tarefa que lhe foi destinada.
melhoramentos. Uma simples viagem de poucas dezenas Mesmo com as dificuldades enfrentadas por um órgão
de quilômetros transformava-se em verdadeira epopeia. O recém-criado, acentuadas pela 2ª guerra mundial que, de 1939 a
desenvolvimento do Rio Grande do Sul era barrado por uma 1945, fez sentir seus reflexos no país e no RS, em 1949 os 420km
estrutura viária extremamente deficiente. trafegáveis o anos todo multiplicaram-se em mais de 6.300km.
A rede rodoviária do estado em 1937 contava com 500 As melhorias se sucediam: rampas particularmente íngremes
km de rodovias concluídas e 3.500km de caminhos rurais. eram suavizadas, curvas apertadas tinham seus raios ampliados,
Esta quilometragem pouco significava para o transporte no trechos demasiado estreitos se alargavam.
estado. Além de constituída por redes desarticuladas, estava em A primeira estrada foi construída em 1942 e ligava Pelotas a
completo abandono quanto à conservação, somente 420 km Rio Grande, com 52 km era pavimentada com cimento. Em 1949
ofereciam condições de tráfego durante todo o ano. foi criada a Seção de Construção e Reparação de Estruturas, que
No VI Congresso Nacional de Estradas de Rodagem realizado passou a projetar, construir e reparar pontes e outras obras de
no Rio de Janeiro, em 1936, o Rio Grande do Sul ficou em arte. A importância deste setor fica clara quando se sabe que
penúltimo lugar em extensão da rede rodoviária entre os estados até 1937 existiam 11 travessias por balsa de Uruguaiana a Porto
brasileiros. A repercussão deste fato junto à sociedade gaúcha Alegre. Em 1952, destas 11, apenas três ainda eram feitas por
fez crescer o apoio da opinião pública a iniciativa da Sociedade balsa. Seis já possuíam pontes definitivas, incluindo a ponte Gal.
de Engenharia, apoiada pela Escola de Engenharia, da criação de Osório, sobre o rio Ibicuí, com 506,80m de extensão.
um Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem. O final da década de 50, início dos anos 60 marcaram o
Em 11 de agosto de 1937, o movimento alcançava seu surgimento da indústria automobilística e a vontade do país de
objetivo. Naquela data, com a promulgação da Lei nº 750, o crescer e recuperar o tempo perdido. No setor rodoviário, já não
governador José Antônio Flores da Cunha declarava extinta a bastavam estradas apenas transitáveis. Tornava-se obrigatório
Diretoria de Viação Terrestre da Secretaria das Obras Públicas e livrar-se da lama, acabar com a poeira, encurtar distâncias e
criava o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem. Em reduzir tempos de percurso. Começava a era da pavimentação,
21 de fevereiro de 1938, decreto do Interventor José Maurício do aperfeiçoamento dos traçados, da otimização das
Cardoso regulamentava a atividade do novo órgão. Em 23 de características técnicas das rodovias. Em 1957 o DAER iniciava a
fevereiro ocorria a sua instalação oficial. Surgia o DAER. Sem implantação de seu Laboratório de Pesquisas, estrutura essencial
a rigidez de estrutura e funcionamento que caracterizavam para os novos tempos.

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 5


Os anos 50 e 60 também viram nascer grandes e José Augusto de
emblemáticas obras, como a Travessia do Guaíba e a Estrada da
Oliveira
Produção (hoje BR 386). A década de 70 trouxe a RS 62, ligando
Santa Maria a São Sepé, considerada na época a melhor rodovia
Engenheiro.
do estado. Em 1972, o DAER inaugurava seu Edifício Sede, na Av. Aposentado.
Borges de Medeiros, reunindo os setores até então dispersos em Ingressou no DAER
diversos prédios do Centro Histórico. É desta época, também, o em 1974.
embrião da Rota do Sol, projetada para ligar a Serra ao Litoral,
reportagem

com entrega prevista para 1974, mas que só foi concluída em


Entrei como estagiário, cursando o segundo ano da
2007.
engenharia na UFRGS e escolhi trabalhar no Laboratório O
As décadas de 80 e 90 viram surgir a Estrada do Mar,
DAER tinha uma grande estrutura. O Laboratório trabalhava
ligando Osório e Torres. Iniciada em agosto de 1989 e concluída
atualizando continuamente as especificações técnicas. Além
em setembro de 1990, um recorde da engenharia nacional.
disso, fazia ensaios para projetos e assistência nas obras.
Na década de 90 o DAER passou a supervisionar o Programa
Isso contribuiu para que nós juntássemos o conhecimento
Estadual de Concessão Rodoviária e surgiram os programas
teórico com a prática e aprendêssemos com os técnicos mais
financiados pelo BID e pelo Banco Mundial. A rede rodoviária sob
experientes do Departamento. Foi uma grande escola de
sua responsabilidade já era de mais de 11 mil quilômetros.
engenharia rodoviária. Eu aprendia com o grande conhecimento
O final dos anos 90 marca o momento em que as
dos meus superiores, que por sua vez haviam aprendido com os
dificuldades começaram. A redução de investimentos
seus. Havia esta transmissão do conhecimento.
do governo, a falta de recursos para repor e modernizar
O DAER tinha em torno de 3.000 servidores, ainda
equipamentos e estruturas e a redução do número de servidores
realizava algumas obras por administração direta, em
fazem com que o DAER, aos 80 anos, enfrente seu maior desafio:
especial a conservação, feita pelas Regionais e o controle de
descobrir um novo caminho para continuar cumprindo sua
qualidade era feita diretamente nas obras. Os laboratoristas
missão, sem abrir mão de sua história e de sua importância para
trabalhavam junto com as equipes de fiscalização. Nesta
o desenvolvimento do Rio Grande do Sul.
época, uma equipe de fiscalização era formada por cerca de
Para tentar entender este momento, a Revista Estradas
15 pessoas. O conhecimento técnico era muito bom também
procurou ouvir servidores do Departamento, que vivenciaram
na área da conservação e melhoramento nas estradas de terra,
diferentes épocas, para saber como os 80 anos de história podem
origem do Departamento. Quando aumentaram as estradas
contribuir para o DAER que virá.
asfaltadas, os técnicos do DAER tiveram treinamento através
de uma consultoria francesa, inclusive indo à França para
aprender melhores técnicas de conservação de pavimentos.
Esse conhecimento depois foi repassado aos funcionários das
Regionais.
O DAER tinha o respeito e a consideração da sociedade
e o reconhecimento técnico. Nossas especificações e normas
eram utilizadas em todo o país. Fomos pioneiros em diversas
tecnologias, como por exemplo: o uso da brita graduada
como base, o primeiro uso de microrrevestimento e do
asfalto borracha, entre outros. A contribuição do DAER para o
desenvolvimento do Rio Grande do Sul é enorme.
Eu diria que para o DAER pensar seu futuro, precisa olhar
para as suas origens. Não tanto pela forma de fazer, mas pela
filosofia com que ele foi criado. Ele surgiu com o estímulo e o
apoio de duas entidades técnicas, a Sociedade de Engenharia
e a Escola de Engenharia para substituir a Diretoria de Viação
Terrestre da Secretaria de Obras Públicas, com duas missões
técnicas: aumentar significativamente a malha rodoviária e
melhorar as rodovias já existentes. Então, o DAER precisa focar

6 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


na questão técnica, para a qual foi criado. Fazer engenharia uma escola, grandes projetos foram feitos pelos servidores da
rodoviária por essência. Mais engenharia rodoviária, menos SEP. As equipes de topografia faziam todo o levantamento e a
política. Acredito que seja este o caminho. Não pensar em voltar demarcação, os técnicos projetavam o traçado. A SEP fazia o
a construir como no passado, trabalhar por administração direta. projeto completo. E o DAER ainda executava pelo menos uma
Mas honrar a filosofia com que foi criado. parte destes projetos.
Acho que, diante da falta de recursos, a prioridade deveria A partir do governo Brito, nos anos 90, começou a
se dada à conservação. Mais de uma geração de engenheiros desmobilização, a terceirização do DAER. Com o PDV houve a
e servidores trabalhou para construir estradas, patrimônio redução de pessoal e o início da contratação de Consultoras. Em
da sociedade, que hoje estão deteriorando e muitas sem seguida, a contratação de consultorias foi suspensa e não houve
recuperação por falta de manutenção. Deveríamos priorizar a reposição de pessoal, principalmente de nível médio. Hoje, por
conservação, seja através de financiamentos, com recursos do exemplo, o DAER tem um Laboratório com todo o equipamento
orçamento, mas deveria ser a nossa atividade número 1. Até em necessário e não tem laboratoristas em número suficiente. Além
respeito a história do Departamento. disso, os salários iniciais não são competitivos com o setor privado.
Não imagino um estado sem ter um órgão que detenha o O DAER tem conseguido se manter minimamente ativo graças
conhecimento técnico, o know how, o saber como fazer. Nós aos financiamentos do BID e outros. Apenas com os recursos do
precisamos que exista um ente técnico que defina as normas da Tesouro do Estado não conseguiríamos cumprir nossa missão.
engenharia rodoviária, que repasse este know how. Acredito que o DAER precisa de uma grande reformulação.
Precisa repensar sua estrutura para atender a sociedade de forma
eficiente, com o pessoal e os recursos de que dispõem. Mas,
não pode simplesmente reduzir seu tamanho sem pensar em
César Marinho
como ficarão os seus servidores. Reduzir o tamanho do DAER
Rodrigues sem reestruturar a matriz salarial, principalmente dos níveis mais
Contador. baixos, que não tem condições de se aposentar sem sofrer uma
Superintendência redução de 60 a 70% nos seus vencimentos e que são maioria nas
de Finanças. Regionais, vai criar um problema social muito grande.

Ingressou no DAER
em abril de 1981. Luciano Faustino
da Silva
Recém-formado, fiquei sabendo que o DAER abrira 20 vagas
Engenheiro.
para Contador. Naquela época o DAER tinha autonomia para
realizar as provas e contratar. Fui aprovado e comecei a trabalhar
Ingressou no DAER
no Grupo de Controle e Análise que controlava as taxas de em 2012.
manutenção e fiscalização das rodoviárias e empresas de ônibus. Diretor de
A natureza do meu trabalho fazia com que viajasse muito Infraestrutura
para as Regionais, que nos davam suporte para fiscalizar as
Rodoviária
estações rodoviárias. E, nesta época, anos 80, o DAER ainda
realizava muita coisa por administração direta. Lembro que Iniciei em Lajeado, como superintendente regional adjunto
em 1983 foi feita a última grande compra de equipamentos, de 2012 a 2015. Em 2015 assumi como Superintendente e em
máquinas e caminhões, para as Regionais. Então, nesta época abril de 2016 foi convidado pelo Secretário Pedo Westphalen
as Regionais estavam em plena atividade. Já havia alguma para assumir a Diretoria de Infraestrutura Rodoviária.
coisa de terceirização, alguns contratos, mas as regionais ainda O DAER é uma instituição que completa 80 anos em 2017.
conservavam e construíam. A simples existência por 80 anos já traz toda uma história, uma
No âmbito da Superintendência de Finanças o DAER tinha bagagem. O Brasil vive uma transição gigantesca, e precisamos
autonomia para decidir os pagamentos. A Secretaria de Fazenda incluir o DAER neste contexto histórico. Houve a época em que
liberava os recursos e a Superintendência definia o cronograma de o Estado assumiu a responsabilidade de ser o grande executor,
pagamentos, tinha autonomia para gerir os recursos. fazer as obras necessárias e entregá-las para a sociedade, e
Meu pai foi motorista da Superintendência de Projetos e este era o contexto histórico no surgimento do DAER. Então, o
através dele acompanhei muito da história do DAER. A SEP era Departamento iniciou sua trajetória construindo estradas, com

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 7


pessoal e equipamentos próprios, com recursos próprios. O DAER cultura técnica. Qualquer servidor questionado sobre os pontos
era a grande construtora do Rio Grande do Sul. positivos do Departamento vai citar a cultura técnica. O grande
Aos poucos isso foi se transformando, assim como a volume de conhecimento que existe dentro do DAER.
economia brasileira passou pelo processo da iniciativa privada Este conhecimento vai passando entre as diferentes
assumir muitas questões que eram pertinentes ao serviço gerações que trabalham juntas. Confesso que não existe
público. Esse processo foi natural. E o DAER passou por isso. uma sistematização desse processo. É mais na prática. Tens
De um período inicial com milhares de funcionários, com a necessidade e buscas a solução através da consulta a uma
equipamentos de ponta, em que era um indutor de tecnologia especificação técnica, da conversa com um servidor com
reportagem

na área da construção rodoviária, essa transição está levando mais experiência, que conhece a região, conhece o tipo de
o DAER, digo levando porque a transição ainda está em trabalho que está sendo executado. E existe a colaboração
andamento, a se tornar um gestor de contratos. entre os técnicos do Departamento na disseminação deste
Neste período em que estou no Departamento, e podemos conhecimento.
dizer que nas últimas duas décadas, é a fase mais crítica. Por Para que este processo de transição aconteça de maneira
que o DAER ainda guarda um resquício do Órgão construtor, efetiva e correta, o DAER gestor de contratos precisa levar para
ainda temos equipes e equipamentos próprios que atuam as empresas esse conhecimento e exigir delas que mantenham a
nas rodovias, mais na questão de conservação, em pontos cultura técnica que o DAER desenvolveu. As nossas boas práticas
específicos em que nossos contratos ficam sem cobertura, e de execução de obras, de fiscalização. De maneira que eles
já existe o DAER gestor, que contrata um projeto, aprova, orça, ajustem seus processos para que se tenha uma obra executada
licita, fiscaliza e paga. Que hoje representa o maior volume de com a melhor qualidade, no menor tempo possível, com bom
investimentos. uso dos materiais, para que eles também tenham o resultado
Eu vivenciei isso na prática quando trabalhei na Regional. financeiro que precisam. Então, para que essa transição não seja
Resolvi problemas em campo com pessoal e equipamentos prejudicial ao DAER, precisamos disso: manter o conhecimento
do Departamento e fiscalizei obras contratadas. E eu senti que aqui dentro e passarmos esse conhecimento através da exigência
existe no DAER uma grande preocupação em não perder a das boas práticas por parte das contratadas. Isso se faz através
das especificações técnicas. O conhecimento do DAER tem que
ser transcrito e atualizado nestas especificações, para que as
novas gerações se utilizem desses instrumentos para perpetuar
este legado técnico.

Em resumo, o DAER não tem como voltar a ser o DAER


construtor, porque o próprio mercado não comporta, mas tem o
desafio de manter o seu legado, repassando seu conhecimento e
cobrando o uso das melhores técnicas de quem vai construir.

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DEPOIMENTOS
A Revista Estradas pediu ao Diretor Geral do DAER, ao presidente da Sociedade de Engenharia, mentora da criação do DAER e ao
Secretário dos Transportes um depoimento sobre os 80 anos do DAER.

Nosso resultado é enorme. Só que perto


do nosso tamanho ele não aparece.
Rogério Uberti Então, a ideia é reduzir patrimônio,
Diretor Geral do DAER casas, regionais que não tenham
mais finalidade. Hoje, com os avanços
tecnológicos, não tem sentido ter uma
regional a apenas 100 km de outra.
O DAER sempre foi respeitado e Conseguimos melhorar nosso Nós temos um quadro funcional com
admirado no RS e no Brasil. Referência processo de comunicação com a um grande número de servidores em
técnica para todos os DERs. Passou sociedade e mostrar nosso trabalho. idade de aposentadoria. Pretendemos
por um processo de degradação em Estamos construindo 25 acessos começar a encaminhar estes para a
virtude das questões políticas, da troca municipais, recuperando mil quilômetros aposentadoria e trazer novos servidores
de gestão e de objetivos a cada nova de rodovias, temos contrato para por meio de concurso público. É neste
eleição. Não houve continuidade. Hoje, qualquer tipo de obra, todos renovados. sentido que a reestruturação está
em virtude da situação do Estado, com Encaminhamos uma reestruturação em sendo pensada. Também vamos rever e
a necessidade de enfrentar a falta de que todos estão inseridos, ninguém foi modernizar processos. Mas, não podemos
recursos, o DAER teve que se adaptar e alijado do processo. Eu tenho orgulho deixar de contar com uma estrutura
graças aos financiamentos e a capacidade de estar vivenciando este período, de mínima para intervenções. O DAER não
do corpo técnico e aos servidores, que o DAER chegar aos 80 anos passando pode abrir mão da administração direta
são excelentes, estamos mostrando ao pelo seu melhor momento nos últimos num estado que, no momento, não está
Rio Grande do Sul que pode contar com o 10, 15 anos. Espero que no final deste em boas condições financeiras. Quando
DAER. O Departamento ainda tem muito processo, no ano que vem, tenhamos um estas condições melhorarem, podemos
que oferecer à sociedade gaúcha. Departamento reestruturado e com os pensar em só trabalhar com contratos.
Uma instituição com a história do servidores com a questão salarial bem Então, há um estudo paralelo, que no
DAER jamais será extinta, fechada ou equilibrada. Pretendo encerrar minha momento oportuno será inserido na
qualquer outro absurdo que inventam gestão com o Plano de Cargos e Salários reestruturação, que são as Patrulhas
por aí. Apesar de todas as dificuldades, aprovado pela Assembleia Legislativa. Rodoviárias.
o DAER executa um orçamento de 560 A ideia é fazer uma reestruturação A ideia é modernização,
milhões e a previsão para 2018 é de 750 de fato. O que pesa contra o DAER é o enxugamento e rejuvenescimento do
milhões. Estamos avançando, apesar da seu tamanho, não a sua competência. As DAER, sem esquecer o passado, a história
grande demanda e com um corpo técnico pessoas cobram: “...esse Departamento que nos trouxe aos 80 anos. Continuar
reduzido, mas de alto nível, estamos imenso, com estrutura em todo lugar, e sendo referência técnica para o Rio
cumprindo nossa missão. apresenta um resultado tão pequeno”. Grande do Sul e o Brasil.

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 9


Luis Roberto Ponte
Presidente da Sociedade O DAER foi escola para alunos
de Engenharia do RS de engenharia que ajudaram a pagar
seus estudos universitários com
A crise financeira do Rio Grande, os estágios que nele cumpriram
já agravada na década de 90, levou de modo muito profícuo para
o governo a implantar pedágio nas ambos, e foi berço de aprendizado
estradas de maior volume de tráfego, de inúmeros engenheiros que
tendência que, com a crônica falta compuseram ou compõem os
reportagem

O DAER foi modelo nacional na de recursos para manter bem excelentes quadros técnicos de
implantação de rodovias e pontes, conservada a malha viária, acabou tradicionais empresas de construção
aportando as últimas inovações se consolidando e culminando e supervisão das estradas do Estado,
tecnológicas que se iam criando no com a criação da Empresa Gaúcha muitas delas criadas ou dirigidas por
mundo, tendo formado um modelar de Rodovias-EGR, levando a que, esses engenheiros.
corpo técnico dedicado à dura e provavelmente esta empresa Consolidada a modernização
nobre missão de conceber, construir fique incumbida da manutenção e da sua gestão e superadas algumas
e manter a imensa, embora ainda duplicação das rodovias de maior dissenções político-ideológicas
insuficiente, malha rodoviária do VDM, deixando ao DAER a missão de internas, o DAER deverá voltar a ter
Rio Grande do Sul indispensável à construir estradas novas e cuidar da a grande proeminência que já teve
mobilidade das pessoas, à circulação manutenção do restante da malha na condução da solução do crucial
da sua produção primária e industrial pavimentada e de toda a imensa desafio de propiciar e manter uma
e a um vigoroso e sustentável malha ainda não pavimentada, o adequada malha rodoviária de que o
desenvolvimento econômico do que continua sendo um grande e desenvolvimento do Rio Grande não
Estado. importante desafio. pode prescindir.

10 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


Pedro Westphalen
Secretário dos
Transportes

respostas que o Rio Grande do


Sul precisa.
Neste ano que o DAER Fico muito honrado
completou 80 anos de história, de ter essa autarquia sob o
eu não poderia, como secretário nosso comando na Secretaria
dos Transportes do RS, deixar dos Transportes. Estamos
de fazer um agradecimento, realizando uma reestruturação
aos seus funcionários, diretores do departamento, com foco
e colaboradores pelos serviços total na prestação de serviços,
prestados à população e e o DAER tem feito sua parte.
aos caminhos construídos Que esse legado de 80 anos
ao longo desses 80 anos no da autarquia, sirva de exemplo
estado. Diante deste momento e motivação para sempre
de dificuldade que vivemos, realizar mudanças necessárias e
o DAER continua dando as avanços importantes.

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 11


ASPECTOS DOS MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO

DE PAVIMENTOS ASFÁLTICOS DE ALGUNS PAÍSES

COMPARADOS AOS CRITÉRIOS PROPOSTOS PARA O

NOVO MÉTODO BRASILEIRO


prévia

Laura Maria Goretti da Motta


COPPE/UFRJ

1 - INTRODUÇÃO e reconhecimento. Uma visão histórica do método está apresentada


no Relatório 1 do TED 682/2014, concluído em 2015 (Motta e
Em 2014, foi publicado em um número da revista Estradas Medina, 2015).
um artigo que apresentava os conceitos principais de um método No entanto, as condições de tráfego são muito diferentes
mecanístico-empírico (M-E) de dimensionamento de pavimentos daquelas a década de 1960-70.
asfálticos e trazia também informações sobre o empenho da Rede Aumentou muito: o volume, os tipos de veículos, os
Temática de Asfaltos (RTA), patrocinada pelo CENPES/Petrobras e do tipos de pneus, velocidades, pesos, etc. Evoluíram também o
DNIT em tornar realidade um novo método no país (Motta, 2009). conhecimento das formas de avaliar os materiais (novos ensaios),
Ao longo destes três anos, houve um avanço na definição do os processos construtivos, os materiais asfálticos, as exigências de
novo método mecanístico-empírico, que atualmente está em vias sustentabilidade, os métodos de cálculo de tensões-deformações,
de fechamento de uma versão de teste pelos engenheiros do DNIT etc.
e da RTA. A versão proposta neste momento está comentada neste Para os volumes de tráfego comercial presente nas principais
artigo. Também são apresentados alguns aspectos de métodos rodovias nacionais, aumentou muito a necessidade de uso de
vigentes em outros países. pavimentos semirrígidos e invertidos. Para estes, com mais razão, o
É sabido que se têm três tipos de métodos de uso do método do CBR com todas as suas simplificações ficou mais
anacrônico ainda.
.
dimensionamento de pavimentos asfálticos:
Métodos empíricos: como exemplo: Método do CBR Assim, se impõe como uma ação urgente o estabelecimento de
um novo método de dimensionamento. Muitos projetistas já têm
.
(Murillo Lopes de Souza, 1966, 1981)
Métodos mecanístico-empíricos: por exemplo MEPDG empregado métodos ME para dimensionar pavimentos asfálticos
no Brasil. No entanto, divergem em vários pontos tais como o
.
(AASTHO - EUA) e SisPav (Franco, 2007)
Catálogos de estruturas de pavimento: por exemplo de método de cálculo de tensões-deformações e quais critérios de
Portugal e Espanha. desempenho considerar, mas talvez o ponto mais importante seja a
O Método do CBR estabelecido pelo DNER em 1966 foi falta de calibração que os procedimentos particulares apresentam.
desenvolvido pelo Engenheiro Murillo Lopes de Souza e tem Os parâmetros de acompanhamento do desempenho são as bases
inegavelmente grande importância para o Brasil. Apesar de se dos critérios de um dimensionamento racional.
basear em dois métodos americanos de 1962, a versão que se usa Um método mecanístico-empírico basicamente considera que:
foi adaptada (fortemente) pelo Eng. Murillo. Muitos quilômetros – o pavimento é uma estrutura em camadas;
foram dimensionados com muito sucesso, merecendo homenagens – é necessário um programa de cálculo de tensões-

12 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


deformações: compatibilizar esforços do tráfego e a “pegar” modelos de desempenho de um método para uso em
deformabilidade dos materiais – a parte mecanística outro.
– É necessário ajustar os critérios com observações de Monismith (2004), professor da Universidade da Califórnia,
trechos acompanhados no campo - a parte empírica. Berkeley, apresentou extenso relato sobre o desenvolvimento
A tendência mundial de estabelecer métodos mecanísticos– histórico dos métodos de dimensionamento de pavimentos
empíricos de dimensionamento fundamentados em sólidas asfálticos que foi acompanhada da evolução da tecnologia dos
bases analíticas e experimentais se confirma mais a cada dia. concretos asfálticos. Diz que:
Otimizar recursos específicos de projeto, compatibilizar os • Pavimentos asfálticos duradouros podem ser
materiais e testar várias combinações para reduzir os custos e o projetados fazendo uso dos métodos mecanísticos - empíricos
tempo de construção são possibilidades deste novo enfoque. (base analítica) desenvolvidos nos últimos 40 anos.
Porém, mesmo com todo avanço dos ensaios de laboratório • Embora já seja possível projetar pavimentos asfálticos
e dos métodos de cálculo de tensões e deformações, ainda há duradouros, permanece a necessidade de dar cuidada atenção
necessidade de ajustar as relações matemáticas de previsão dos às boas práticas construtivas a fim de assegurar o desempenho
danos - que é a parte empírica, para: previsto no projeto.
- levar em conta a complexidade de parâmetros não
totalmente representados nos modelos numéricos,
- ajustar as funções dos modelos de desempenho para as 2 - CATÁLOGO DE ESTRUTURAS
condições particulares de uma região, de um clima, dos hábitos
de carga, das técnicas construtivas, etc. Em países de menor extensão, com materiais bem conhecidos
Somente a observação sistemática da evolução dos defeitos é possível o dimensionamento prévio de estruturas que são
ou danos – trincamento de fadiga e deformação permanente - agrupadas em “catálogo” em função do tráfego e do subleito. Este
nos pavimentos em uso, permite a validação dos critérios de um catálogo pode ser empírico ou mecanístico. Exemplos de catálogo
método M-E. são os ainda usados em Portugal e na Espanha, explicados a
Isto implica: contagem e pesagem de caminhões e seguir. Estas informações estão compiladas no Relatório 3 do TED
ensaios não destrutivos de auscultação da condição estrutural 682/2014, preparado pela COPPE (Motta et al, 2016).
do pavimento (deflectometria, geo-radar, mapeamento dos
defeitos, etc) por vários anos. 2.1 Portugal
Como principais critérios de um método M-E tem-se que o
dimensionamento de pavimento deve garantir que as espessuras O “Manual de Concepção de Pavimentos para a Rede
das camadas e suas características sejam suficientes para: Rodoviária Nacional” - MACOPAV (JAE, 1995) apresenta o
• minimizar o efeito do afundamento da trilha de roda catálogo com base mecanística usado em Portugal.
ATR (acúmulo excessivo de deformação permanente) É uma publicação com sete capítulos: introdução, tráfego,
• assegurar que a repetição da aplicação da carga não condições climáticas, fundação do pavimento, materiais de
irá causar o trincamento excessivo da camada de revestimento pavimentação, estruturas de pavimento e perfis transversais.
(fadiga) dentro do período de projeto. O MACOPAV indica estruturas tipo para pavimentos novos,
Quando se determina em laboratório a curva de fadiga e não sendo aplicável para projeto de reforço. Vale para volume
os modelos de deformação permanente criam-se os critérios de tráfego comercial de 50 a 2000 veículos por dia e considera
de acompanhamento do desempenho. No entanto, como as Eixo padrão: 8,2t. Para estruturas semirrígidas, a avaliação da
condições de laboratório são em geral simplificadas em relação capacidade de carga é feita para eixo padrão de 130 kN (13 t),
ao campo e muitas vezes mais severas, é necessário o ajuste utilizando fator de agressividade do tráfego pesado de 0,5 a 1.
destas previsões. O Fator Laboratório – Campo, FLC, serve para Portugal é dividido em três regiões climáticas – temperada,
ajustar a vida de fadiga estimada por ensaios de laboratório média e quente – e o tipo de ligante asfáltico é escolhido por
às condições de campo, por exemplo. Mais detalhes sobre a esta condição e pelo volume de tráfego. Os ligantes típicos são
Mecânica dos Pavimentos e o dimensionamento podem ser de penetração: 60/70 e 40/50. Se usar asfalto polímero deve-se
vistos em Medina e Motta (2015), por exemplo. redimensionar.
Todos os métodos de dimensionamento M-E apresentam O Módulo de Resiliência das misturas asfálticas pode ser
ajuste deste tipo, estabelecidos levando em conta todos os estimado pelo modelo da SHELL e o coeficiente de Poisson
aspectos do método. Portanto: não é possível simplesmente adotado foi 0,35. O modelo de fadiga é dado por:

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 13


No catálogo da Espanha (catálogo M-E), as características dos
parâmetros de dimensionamento são as seguintes:

Onde: Fadigas:
a = 3 a 3,5x10-3 e b = -0,20.
Para o subleito pode-se estimar o Módulo de Resiliência (MR)
pelas expressões:
Brita – Cimento (BGTC)

Ou

Solo - Cimento
prévia

Admite-se para algumas classes de SL a determinação do CBR


sem embebição e sem sobrecarga e indica-se melhoria de alguns
solos de fundação com cal ou cimento.
Na Figura 2 mostra-se uma das páginas do catálogo
Na Figura 1 mostra-se uma das páginas do Catálogo de
espanhol em função do tráfego e da condição do subleito
Portugal que foi estabelecido para tráfego de 500 a 800 veículos por
dia (T3) e para subleito de MR igual a 60 MPa (F2). Figura 2 – Exemplo de catálogo espanhol de dimensionamento de
pavimentos.
Figura 1 – Estruturas de pavimento propostas pelo catálogo de Portugal para
certa condição de tráfego e de subleito (JAE, 1995)

O fato de existir um catálogo oficial de dimensionamento


de pavimentos em Portugal não implica em que consultores e
pesquisadores não utilizem métodos mecanístico-empíricos para
seus projetos, por exemplo: PaviFlex (Baptista e Picado Santos,
2000).
Na Tabela 1 mostra-se uma comparação do catálogo de
Portugal com o da Espanha e o da França de 1998, em termos gerais.

Tabela 1 – Comparação entre espessuras indicadas para as camadas de


pavimento nos catálogos de Portugal e Espanha.

14 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


Todos os catálogos têm lista de materiais bem definidos:
.
.
exigências de qualidade, muito uso de materiais estabilizados trincas térmicas,

quimicamente, sendo que na década 1980eram empíricos, na irregularidades superficiais (International Roughness

década de 1990 passaram a ser mecanístico-empírico e na década Index - IRI)

de 2000 alguns são mantidos somente para baixos volumes de ATR:

tráfego. Hoje a substituição por programas está cada vez maior


devido à facilidade dos computadores.
Fadiga:
3 A TENDÊNCIA ATUAL DE USO DE
MÉTODOS MECANÍSTICOS-EMPÍRICOS
A grande parte dos países já migrou ou está migrando para
métodos M- E. Vão ser apresentados aqui alguns aspectos dos
métodos dos EUA, França, Inglaterra, Alemanha, África do Sul,
Austrália e México, a título de exemplos. Estas informações e outras Na Figura 3 mostra-se a tela inicial do MEPDG norte-
estão compiladas no Relatório 3 do TED 682/2014 preparado pela americano do ano de 2008. Uma característica importante a
COPPE (Motta et al, 2016). ser observada é que há sempre frequentes atualizações dos
métodos M-E. Na Tabela 2 mostram-se critérios de desempenho
3.1 Estados Unidos (2002, 2004,2008, 2013, deste método na versão de 2008.
2015): Ressaltam os americanos que vários fatores impactaram a

.
adoção do M – E nos EUA:
O método é conhecido como Mechanistic – Empirical
O processo de análise representou mudança radical de
Procedure Design Guide (MEPDG).

.
como os pavimentos são projetados.
Engloba num mesmo software o dimensionamento de
Implantação exige recursos para ser bem-sucedida e
pavimentos asfálticos (flexíveis) e de concreto de cimento portland

.
mudança nos órgãos.
(rígidos), novos e reabilitados. Para pavimentos asfálticos são
O Guia não é um “livro de receitas” que pode ser

.
utilizados quatro critérios de ruptura:
aplicado por engenheiros inexperientes: o usuário deve ter
deformação permanente (afundamento de trilha de roda

.
compreensão do comportamento do pavimento.

.
- ATR),
Implantação do M-E exige estreita coordenação entre
trinca por fadiga de baixo para cima, base-topo (bottom-
o conhecimento dos materiais, do tráfego, de construção, banco
up) e de cima para baixo, topo - base (top-down),
de dados e critérios de projeto.

Figura 3 – Tela inicial do MEPDG dos EUA (2008)

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 15


Tabela 2 – Ordem de grandeza dos critérios de ruptura – Base de materiais betuminosos (10 a 20 cm)
recomendados pelo MEPDG (2008) – Camada de materiais granulares sem aditivos
(aproximadamente 12 cm)
– Materiais tratados por ligantes hidráulicos (15 a 50 cm)
– Subleito

Em 1998 foi feita uma atualização do Catálogo mecanístico-


empírico (ALIZÉ) e a partir de 2005 passou-se a utilizar
diretamente o ALIZÉ para cada dimensionamento particular.
O programa ALIZE continua, cada vez mais adaptado para as
situações reais do país e com as facilidades operacionais que
3.2 Fança
prévia

se tem hoje. Em 2011 foi lançada nova versão do ALIZE – LCPC


Software 1.3 que permite análise M-E das estruturas sendo
O Guia Técnico Francês de dimensionamento estrutural de
ferramenta regulatória para projeto de pavimentos para a rede
pavimentos que pode ser considerado um dos primeiros M-E
federal francesa e outras agências. Nas Figuras 4 a 7 mostram-
é de 1994 (“Conception et dimensionment des structures de
se algumas telas do método francês aplicada a um projeto
chausée – Guide tecnique”). Mas desde a década de 1970 já era
brasileiro.
utilizado um programa de análise de tensões denominado ALIZÉ
Os critérios de desempenho são:
O Guia Técnico compreende seis partes:
– Deformação admissível dos materiais betuminosos:

1. Fundamentos do método de dimensionamento. ε_psit=ε_6∙((CAM∙N)/(1×[10]^6 ))^b∙k_r∙k_s∙k_c


2. Relação entre as escolhas de concepção dos
pavimentos e de gestão de uma rede rodoviária.
3. A camada superficial (revestimento). – Tensão admissível dos materiais tratados com ligante
4. O subleito (“plate-forme”) de suporte do pavimento. hidráulico:
5. Os materiais do pavimento.
6. Dimensionamento de pavimentos novos. σ_psit=σ_6∙((CAM∙N)/(1×[10]^6 ))^b∙k_d∙k_
A - As estruturas de pavimentos consideradas são: r∙k_s∙k_c
– Pavimentos flexíveis (chaussée souples)
– Deformação admissível de materiais granulares não
– Revestimento de materiais betuminosos
tratados:
– Base de materiais betuminosos (<15cm)
– Base granular sem aditivo (20 a 50 cm)
– Subleito
ε_psiz=A×(CAM∙N)^(-0,222)
B – Pavimentos betuminosos espessos
– Revestimento de materiais betuminosos
– Base de materiais betuminosos (15 a 40 cm) Figura 4 - Tela de entrada do método M-E da França (2011)
– Subleito
C – Pavimentos de camadas de base e sub-base tratadas
com ligantes hidráulicos
– Revestimento de materiais betuminosos (6 a 14 cm)
– Materiais tratados por ligantes hidráulicos (20 a 50 cm)
– Subleito
D – Pavimentos de Estrutura Mista
– Revestimento de materiais betuminosos
– Base de materiais betuminosos (10 a 20 cm)
– Materiais tratados por ligantes hidráulicos (20 a 40 cm)
– Subleito
E – Pavimentos de Estrutura Invertida
– Revestimento de materiais betuminosos

16 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


Figura 5 - Tela de Biblioteca de dados do método M-E da França (2011) 3.3 Inglaterra

O método inglês é empírico, mas os materiais são escolhidos


pelos seus Módulos de resiliência. Por exemplo para o Subleito
(CFT):
Fundação Classe 1 ≥ 50 MPa;
Fundação Classe 2 ≥ 100 MPa;
Fundação Classe 3 ≥ 200 MPa;
Fundação Classe 4 ≥ 400 MPa (subleito estabilizado
quimicamente).
A Classe 1 não pode ser para tráfego N > 2 x 107.
Figura 6 - Tela de resultados do método M-E da França (2011) Um outro aspecto considerado é que para pavimentos
flexíveis de vida útil longa usa-se base estabilizada com cimento
(HBM) e revestimento de espessura de 180 mm total, necessário
para retardar o aparecimento de trincas de reflexão, desde
que trincas transversais tenham sido induzidas na base HBM a
intervalos de 3m, requerido pela Especificação MCHW1 Série 800.
Para misturas asfálticas os valores típicos (de tipos dados por
siglas) de Módulo Dinâmico são:

• DBM125 = 2.500 MPa;


• HRA50 = 3.100 MPa;
• DBM50 / HDM50 = 4.700 MPa;
• EME2 = 8.000 MPa.
Figura 7 - Tela de tráfego do método M-E da França (2011)

São valores para a condição de referência de ensaio de 20°C


e 5 Hz. No controle no campo usa-se Módulo de resiliência a
compressão diametral.

3.4 Alemanha

Na Alemanha é utilizado um método M-E, cuja concepção


está apresentada na Figura 8. O dimensionamento mecanístico-
empírico da estrutura do pavimento de acordo com a Richtlinien
für die rechnerische Dimensionierung des Oberbaus von
Verkehrsflaechen mit Asphaltdeckschicht: RDO Asphalt 09
(FGSV 2009). Este procedimento contém princípios teóricos para
utilização do software que faz o dimensionamento estrutural do
Na França faz-se as seguintes considerações: pavimento.
Os critérios de projeto deste método analítico têm como
• Opção de pouca manutenção, portanto, a opção por premissa proteger o pavimento:
elevado investimento inicial, de forma a atingir longo período de
vida útil, de 20 a 30 anos, com camadas espessas, • deformações excessivas no subleito,
• Ampla gama de estruturas asfálticas, semirrígidas e • trincas por fadiga do tipo bottom up (de baixo para
rígidas; cima).
• Revestimentos com várias camadas e funções: 1) • Proteção contra gelo-degelo.
drenagem e atrito, 2) impermeabilizar, 3) fadiga, 4) deformação • Tipo de ligante e mistura escolhido de acordo com o
permanente. tráfego e os ensaios estão indicados na figura 9.

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 17


Na Figura10 mostra-se uma tela do programa de 3.5 África do Sul
dimensionamento da Alemanha.
A África do Sul é um dos países que desenvolveu tecnologias
Figura 8: Concepção do método M-E da Alemanha (2009). de avaliação de pavimentos pioneiras, especialmente nas
décadas de 1970 – 80. O atual Manual da África do Sul é de 2014
(South African Pavement Engineering Manual – SAPEM 2014) e
diz:
“SAPEM é um “documento vivo”. A primeira edição foi
disponibilizada em formato eletrônico em janeiro de 2013, e
segunda edição, em outubro de 2014. As opiniões de todas as
partes interessadas na indústria da pavimentação são apreciadas,
prévia

pois isso irá manter o SAPEM relevante” .


Um critério estrutural de ruptura é alcançado quando o
nível de desconforto atinge um nível pré-definido, inaceitável.
Exemplos de condições terminais:
– 20 mm de ATR para pavimentos flexíveis e
– 40% de área trincada.
Nas Figuras 11 a 15 mostram-se aspectos da concepção do
método M-E sul africano.

Figura 9 – Ensaios indicados para obter os parâmetros das misturas Figura 11 - Esquema do pavimento asfáltico típico e bulbo de tensões
asfálticas na Alemanha. (SAPEM, 2014)

Figura 12 - Classes de rodovias consideradas na África do Sul

Figura 10 – Tela do programa de dimensionamento da Alemanha (2009)

18 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


Figura 13 - Funções de transferência utilizadas na África do Sul As respostas críticas a serem consideradas são:
- Camada asfáltica: deformação horizontal de tração no
fundo da camada;
- Camada granular: não tem critério de ruptura);
- Camada cimentada: deformação horizontal de tração no
fundo da camada
- Subleito e camada final de terraplenagem: deformação
vertical de compressão no topo da camada.
Na Figura 16 mostra-se a tela do método australiano de
dimensionamento de pavimentos asfálticos.

Figura 16 – Método da Austrália e seus Critérios: ATR, Fadiga, IRI

Figura 14 – Concepção da base tratada com cimento no método da


África do Sul

Figura 15 – Pontos onde são calculadas as deformações pelo método de


dimensionamento sul-africano. 3.7 México
O Instituto Mexicano del Transporte lançou em 2013 o
programa de dimensionamento IMT – Pave 1.1. Em 2014 já
existia a versão modificada IMT – Pave1.2 (2014). E em 2016 foi
lançada a versão mais atual – Método mecanístico-empírico
atualizado: Software IMT – PAVE 3.0
O Projeto é para 20 anos e se emprega fadiga por
compressão diametral. Nas Figuras 17 a 21 mostram-se alguns
aspectos do programa de dimensionamento do México.

Figura 17 – Tela do endereço do programa de dimensionamento do


México.

3.6 Austrália

Na Austrália, o dimensionamento M-E se aplica mais


especificamente a tráfego médio a alto. A resposta ao
carregamento é calculada usando um modelo elástico linear,
utilizando o programa denominado CIRCLY (Mincad Systems 2009).

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 19


Figura 18 – Tela do tráfego do método do México
4 Método brasileiro em desenvolvimento
(DNIT)

Apoiado na Rede Temática de Asfalto e nas várias


instituições participantes, e na parceria IPR/DNIT e COPPE estão
sendo estabelecidos os padrões de dimensionamento e de
calibração do novo método M-E brasileiro.
Desde a década de 1970 que a COPPE tem parceria
com o IPR e, incialmente, coordenadas pelo prof. Jacques de
Medina foram introduzidos os ensaios de carga repetida para
determinação de módulo de resiliência e depois fadiga. Citam-se
prévia

pelo pioneirismo:

Figura 19 – Análise das cargas no programa do México


• Métodos de ensaio de carga repetida de solos
implantados desde 1978 (Preussler, 1978)
• Métodos de ensaio de carga repetida de concreto
asfáltico desde 1980 (Pinto e Preussler, 1980).
A Rede Temática de Asfalto da Petrobras chegou a
incorporar 20 universidades (desde 2006) e o IPR com vários
estágios de projetos. Em 2014 por ação do Ministério dos
Transportes surgiu a chance de se estabelecer um TED entre a
COPPE e o IPR para formalizar o método M-E que já vinha sendo
gestado, mas que realmente foi oficializado em abril de 2015.
Os critérios de desempenho adotados se apoiam nos
principais defeitos estruturais: Trincamento por fadiga da
Figura 20 – Análise da estrutura no programa do México
camada asfáltica (“flexível”) e da camada tratada com cimento
portland (BGTC); afundamento de trilha de roda (ATR) como
contribuição de todas as camadas e subleito. Nas Figuras 22 e 23
mostram-se exemplos destes defeitos.
Nas Figuras 24 e 25 mostram-se defeitos de deformação
permanente do revestimento asfáltico que não são considerados
no dimensionamento, mas sim nos critérios de dosagem da
mistura asfáltica.

Figura 22 – Exemplo de trincas de fadiga em alto grau de deterioração

Figura 21 – Análise das deformações permanentes no programa do


México

20 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


Figura 23 – Exemplo de defeito tipo afundamento de trilha de roda de com cerca de 500 amostras foi analisado por Ferreira (2007) –
contribuição das camadas geotécnicas Redes neurais
- Deformação permanente (parcela plástica) – modelo inicial
(Svenson, 1980) e atual (Guimarães, 2009).
Nas Figuras 26 e 27 mostram-se o modelo de representação
do módulo de resiliência de solos e britas que está incorporado
no método de dimensionamento para expressar a não
linearidade do MR com o estado de tensões. Na Figura 28
mostra-se um exemplo do ensaio de previsão da deformação
permanente dos materiais de camadas de base, sub-base e
subleito. Este ensaio foi normalizado recentemente dentro das
ações do TED.

Figura 24 – Defeitos de deformação permanente do revestimento


Figura 26 – Modelo de módulo de resiliência de solos e britas (modelo
asfáltico por problemas de dosagem.
composto, Macêdo, 1996)

Figura 27 – Tela do ensaio de módulo de resiliência de solos sob cargas


repetidas.

Figura 25 – Defeitos de deformação permanente do


revestimento asfáltico por problemas de dosagem.

Figura 28 – exemplo de resultado do ensaio de previsão da deformação


permanente de um solo (Guimarães, 2009).

Os critérios de seleção dos materiais são os seguintes:

a) Solos e britas
Com o ensaio triaxial de carga repetida definem-se:
- Módulo de resiliência (parcela elástica) - Banco de dados

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 21


b) Misturas asfálticas:
• Fadiga (Pinto, 1991, método DNIT, 2017)
• Módulo de resiliência (método DNIT, 2017) Estes ensaios, mostrados esquematicamente na Figura 29,
• Deformação permanente – FN (Nascimento, 2008 e foram atualizados (MR) e normalizados (Fadiga e FN) pelo DNIT
método DNIT, 2017) recentemente dentro das ações do TED.
Figura 29 – Exemplos dos ensaios de MR, FN e fadiga de misturas asfálticas usados no método de dimensionamento em desenvolvimento
prévia

O programa de cálculo de tensões-deformações que está Figura 32 – Características de um material de base do programa de
sendo utilizado baseia-se no sistema desenvolvido por Franco dimensionamento desenvolvido por Franco e atualizado para o DNIT
(2007) e tem sido atualizado e melhorado com a contribuição de
vários pesquisadores da COPPE, do CENPES e da RTA. Nas Figuras
30 a 35 apresentam-se as principais telas do programa que tanto
pode verificar se uma dada estrutura satisfaz aos critérios quanto
pode modificar a espessura de uma delas até dimensionar ou
seja atender a todos os critérios propostos pelo órgão. Na Figura
36 mostra-se uma tela do programa de retroanálise que foi
desenvolvido por Franco para permitir fazer o projeto de reforço
por método M-E.

Figura 30 – Programa de cálculo de tensões-deformações AEMC


desenvolvido por Franco (2007) Figura 33 – Características de um material de revestimento do programa
de dimensionamento desenvolvido por Franco e atualizado para o DNIT

Figura 35 – Características de uma estrutura analisada pelo programa de


dimensionamento desenvolvido por Franco e atualizado para o DNIT
Figura 31 – Tela de entrada do programa de dimensionamento
desenvolvido por Franco e atualizado para o DNIT

22 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


Figura 36 – Tela do programa BackSispav de retroanálise de bacias de Figura 37 – Danos de fadiga acumulados no revestimento
deflexão desenvolvido por Franco em 2016 para o DNIT com os meses, usados para obter a Função de Transferência -
exemplo (Fritzen, 2016)

Figura 38 – Função de transferência para transformar dano acumulado


A parte mais importante desenvolvida durante os projetos em % de área trincada (Fritzen, 2016).
da RTA e do TED é a calibração do método a partir da observação
sistemática de trechos monitorados. Neste método a chamada
função de transferência foi desenvolvida por Fritzen (2016)
baseado em proposições feitas por Nascimento (2015). A função
de transferência (FT) explicita o resultado do dimensionamento
em termos de porcentagem de área trincada.

Fritzen (2016) utilizou resultados de:

• 45 seções de Baixa, Média e Alta Porcentagem de AT do


Projeto Fundão;
• Bacias Deflectométricas com FWD;
• Propriedades Mecânicas das Misturas Asfálticas – Curva 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
de fadiga por compressão diametral e MR;
• Segmentos sem intervenção após implantação. Considera-se hoje que se tem completa condição de
implantação de um método mecanístico-empírico nacional, que
Nas Figuras 37 e 38 mostram-se os danos calculados resulta de um esforço coletivo da todos os participantes da Rede
nas camadas de revestimento com o tempo e a função de Temática de Asfalto, dos pesquisadores da COPPE que fazem
transferência gerada que foi incorporada ao programa de parte do TED, do apoio de órgãos e empresas que ajudaram
dimensionamento. A validação da FT foi feita com trechos na implantação e acompanhamento dos trechos monitorados
nacionais (Rede Temática), que dispunham de ensaios de fadiga e dos muitos alunos de mestrado e doutorado. Não é possível
e Módulo de Resiliência (CD) e foram os seguintes: neste artigo citar nominalmente todos, mas é preciso deixar
claro que o método proposto é a consolidação do conhecimento
. Quatro segmentos na concessionária Concer avaliados nacional iniciado a décadas e que já permeia o meio rodoviário.
pela COPPE; Agradecimentos especiais ao Professor Jacques de Medina,
. Três segmentos na concessionária CRT avaliados pela que introduziu a Mecânica dos pavimentos no país e formou
COPPE; gerações de professores e pesquisadores que agora seguem
. Um segmento UFSM; divulgando e ampliando o conhecimento.
. Um segmento da UFRGS; Deve-se também ressaltar a importância do apoio financeiro
. Dois segmentos da EPUSP; e de congregação dos temas de pesquisa feitos pelo CENPES/
. Um segmento da UFC. Petrobras com a Rede Temática de Asfalto nesta última década,

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 23


especialmente. E nos últimos três anos a decisiva atuação do
IPR/DNIT. PINTO, Salomão; PREUSSLER, Ernesto S. Módulos resilientes de
Podemos considerar que estamos honrando a memória e a concretos asfálticos. DNER. IPR. 1980.
PREUSSLER, Ernesto Simões. Ensaios triaxiais dinâmicos de um solo
coragem do Eng. Murillo Lopes de Souza atualizando o método arenoso. Tese (Mestrado em Engenharia Civil), COPPE/UFRJ, Rio de
de dimensionamento nacional, que, como ele fez, foi gerado Janeiro, 1978. 149p.
SOUZA, Murillo Lopes de. A Problemática do Dimensionamento de
observando o que se tem no exterior, mas desenvolvendo nossos Pavimentos. Rio de Janeiro: IPR, n. 594, 1972. 105 p.
próprios critérios. O programa calibrado e as bases do método e SOUZA, Murillo Lopes de. Método de Projeto de Pavimentos
Flexíveis. Rio de Janeiro: MVOP/DNER, 1966 (reformulação de 1961).
os critérios parecidos com os de vários países foram obtidos de SOUZA, Murillo Lopes de. Método de Projeto de Pavimentos
esforço coletivo e de consenso, mas considerando que, também Flexíveis. Rio de Janeiro: MVOP/DNER, 1961.
SOUZA, Murillo Lopes de. Método de projeto de pavimentos
como visto em todos os países esperando que as revisões e flexíveis. Rio de Janeiro: IPR, n. 667, 3. ed. rev. e atual., , 1981. 33p. (a
avanços sejam frequentes daqui pra frente. 1ª edição é de 1966).
prévia

SVENSON, Margareth. Ensaios triaxiais dinâmicos de solos argilosos.


A percepção geral do que se viu na maioria dos países é
Tese (Mestrado em Engenharia Civil), COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro,
dimensionar pavimentos para vida útil maior é o objetivo: 20 1980. 144p.
a 30 anos, com confiabilidade definida e que o conhecimento
dos materiais e novos padrões de ensaio sempre vão estar
disponíveis para melhorar o dimensionamento.

Referências Bibliográficas

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predição de módulos de resiliência de solos e britas utilizando
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transferência para previsão de dano por fadiga em pavimentos
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na deformação permanente. 2008. Dissertação (Mestrado em
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betuminosas e aplicação na avaliação estrutural de pavimentos.
Tese (Doutorado em Engenharia Civil), COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro,
1991. 478p.

24 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


NOVO SICRO: NOVAS
METODOLOGIAS E ANÁLISE
QUANTO A TRANSIÇÃO DO

prata da casa
SISTEMA REFERENCIAL DO DAER
PARA SISTEMA REFERENCIAL DO
DNIT
Eliane dos Santos
Engenheira Civil DAER/RS.

Júlio Xavier Bertúlio


Analista de Desenvolvimento
Econômico e Social SINFRA/MT

Na evolução da engenharia de custos, definida como gerenciar os custos para aprimorar o orçamento de uma obra, e consequente obtenção de preços
exequíveis, o novo SICRO do DNIT veio para revolucionar a metodologia de cálculo dos custos nas obras de infraestrutura, em conformidade com a Lei
8.666/93. Aspectos tão desejados pelas empreiteiras foram observados, que são: remuneração das obras, em função da influência da chuva, e a demora
da conclusão de uma etapa da obra, devido a influência do tráfego. Assim como, as questões tão desejados pelos órgãos de controle, tais como: BDI
diferenciado para cada tipo de obra, retirada da administração local do BDI e canteiro de obra alocado na planilha de custos (sendo possível a medição)
são algumas das mudanças que vieram para melhor apurar o custo de uma obra. Para o DAER, que apesar de algumas pequenas evoluções em sua
metodologia de cálculo, ainda está aquém de um estudo amplo e profundo como do DNIT, reverencia essa nova metodologia, considerando alguns
aspectos salutares, como composições de preços unitários alinhados às determinações do Tribunal de Contas da União - TCU e, consequentemente,
aos demais órgãos de controles. Bem como, a publicação do referencial de preços com mais frequência, do que atualmente ocorre, e uma pesquisa
de preços referendada pela Fundação Getúlio Vargas - FGV. Entretanto, para transição dessa nova metodologia acarretará um envolvimento de todo o
Departamento, pois essas e outras alterações implementadas pelo novo SICRO não ocorrerão, somente, nas composições de custos, mas, também, em
conceitos, especificações de serviços (medição, produção e consumos) e na fiscalização dos mesmos.

1. INTRODUÇÃO: último Referencial de Preço foi publicado em Novembro de


A importância de uma adequada gestão de custos fez com 2016. Em Janeiro de 2017, após dois anos de espera, expectativas
que, em 1946, o extinto e pioneiro Departamento Nacional de e muitos debates entre DNIT, órgãos de controle (TCU, CGU),
Estradas de Rodagem – DNER implementasse as primeiras Tabelas empresas privadas e órgãos públicos, o novo SICRO foi apresentado,
Referenciais de Preços. Onde, em 1972, lançou o Manual de Custos atendendo as obras de infraestrutura de transporte, que são elas:
Rodoviários (os famosos “livros azuis”), no qual demonstrava as obras rodoviárias, hidroviárias e ferroviárias. Salienta-se aqui,
a metodologia de cálculo dos custos dos serviços de obras que as inovações referentes as obras rodoviárias serão o foco
rodoviárias, onde todos os setores de custos dos Departamentos dessa apresentação e alguns dos novos conceitos e metodologias
Rodoviários do Brasil, inclusive o DAER, se basearam para elaborar implantados no novo SICRO, os motivos que o DNIT adotou essas
sua metodologia e composições de preços unitários. Conceitos ações e suas abrangências.
como Produção de Equipe Mecânica - PEM, custos produtivos
e improdutivos, entre outros foram introduzidos a partir dessa 1.1 Consideração Inicial
publicação do DNER. De lá para cá, o seu sucessor, o Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transporte - DNIT, atualizou esse O novo SICRO, em todo o seu Manual, é norteado por um
Manual diversas vezes, organizando e reformulando a metodologia, importante conceito chamado de preço de referência. Esse termo
e criando o Sistema de Custos Referenciais de Obra – SICRO. O é altamente utilizado pela Coordenação do CGCIT, em relação à
SICRO 2 foi a penúltima metodologia implementada, cujo seu Tabela Referencial do DNIT, significando “que é um preço formado

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 25


estatisticamente, por meio de pesquisa e coleta e informações de 2.1.1 Equipamentos:
mercado, aplicada a metodologias de crítica e cálculo gerando A inovação, com relação aos custos de referência dos
um resultado final. Por ser um produto de uma pesquisa não equipamentos, está na nova metodologia apresentada para o
possui as características principais tais como do preço transacional, cálculo do custo horário dos equipamentos, onde foi revisto o
como carga de negociação e informações reais para efetivação tempo de vida útil e o valor residual, a inclusão da parcela de
da compra. O preço de referência tem como principal objetivo oportunidade do capital no custo horário produtivo e a inclusão dos
servir de parâmetro à tomada de decisões” . Além disto, existem custos de propriedade no custo horário improdutivo. Além disto,
serviços que dependem de distâncias médias de transportes, foram ajustados os fatores de correção de Eficiência, Conversão
prata da casa

insumos significativos no orçamento de uma obra específica que e Carga em função das aferições em campo e das alterações
podem ter um custo mais apurado, bem como as composições metodológicas.
podem ser adaptadas de acordo com o projeto que será licitado. A parcela referente ao custo horário dos juros de oportunidade
O DNIT, ainda salienta que “a utilização indiscriminada dos preços de capital que é definido como a remuneração do valor monetário
divulgados pelo Sistema de Custos Referenciais de Obras - SICRO, do equipamento, por hora trabalhada, em reais, era, no SICRO 2,
sem o devido tratamento que a elaboração de um orçamento para remetida ao BDI. Na nova metodologia ela está agregada ao custo
contratação de obras públicas requer, independentemente do nível horário do equipamento, onde a taxa de juros deve incidir sobre o
de detalhamento do projeto, constitui grave erro para a correta valor médio do investimento em equipamento, durante sua vida
formação dos preços das obras de infraestrutura de transportes. útil. O valor da taxa de juro é de 6% ao ano, que se mostra, segundo
” Convergindo com a mesma temática, o Decreto 7.983/2013 em o DNIT, ajustada e compatível na análise dos rendimentos nas
seu artigo 4º diz que: “o custo global de referência dos serviços aplicações da caderneta de poupança.
e obras de infraestrutura de transportes será obtido a partir das Abaixo, destaca-se, o cálculo do custo produtivo e improdutivo
composições dos custos unitários previstas no projeto que integra do novo SICRO, sendo que metodologia do cálculo de cada parcela
o edital de licitação, menores ou iguais aos seus correspondentes está no Manual do novo SICRO.
nos custos unitários de referência do Sistema de Custos Referenciais
de Obras - SICRO, cuja manutenção e divulgação caberá ao
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT,
excetuados os itens caracterizados como montagem industrial
ou que não possam ser considerados como de infraestrutura de
transportes” .

2. NOVAS METODOLOGIAS
As inovações realizadas no Manual de Custos do novo SICRO
são muito significativas e alteram desde procedimentos e conceitos
comumente utilizados, como também, incluem inéditos métodos
de cálculo. Esses novos procedimentos e metodologias serão
apresentados, aqui, sucintamente, para se ter a noção da suas
abrangências.
Onde:

2.1 Nos insumos:


Dh - Depreciação horária (R$/h); Jh - Custo horário dos
De forma geral o DNIT inova no conceito metodológico na juros de oportunidade de capital (R$/h); Mh - Custo horário
determinação principalmente dos custos de cada insumo, onde se da manutenção (R$/h); Cc - Custo horário de combustíveis,
percebe que o objetivo principal é evidenciar maior transparência lubrificantes, filtros e graxas (R$/h); Cmo - Custo horário da mão de
aos detalhamentos dos custos a serem apresentados e que mais se obra de operação (R$/h); Ih - Custo horário de seguros e impostos
aproxime a realidade de mercado, como exemplo: o acréscimo da (R$/h).
parcela de depreciação no custo improdutivo dos equipamentos,
adoção de estudo do binômio, onde se considera o material e o seu 2.1.2 Mão de Obra
frete como forma de determinar qual será adotado, além da mão de
obra que passou a incluir despesas complementares e adicionais, O DNIT inovou na metodologia dos custos de referência
além dos já utilizados encargos sociais. pertencentes à mão de obra, onde foram definidos através de

26 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


d)     encargos adicionais: são os benefícios que os
valores referenciais médios do tratamento da base de dados do trabalhadores têm direito, de acordo com determinações
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do específicas, descritas nos dissídios e convenções coletivas.
Trabalho - CAGED/TEM, ampliando significativamente as categorias Exemplo: benefícios quanto ao auxílio funeral, seguro de
profissionais necessárias para as composições de custos do SICRO vida, cesta básica, assistência médica ou odontológica,
em conformidade com a realidade de mercado. Além disto, as deslocamento para visitas a família, etc.
categorias profissionais foram divididas em grupos, nos quais foram
concebidos por critério de similaridade de função profissional, O novo SICRO prevê, também, nos custos de mão de obra o
onde cada grupo possui um teto salarial. Os grupos são: oficiais, cálculo para as despesas extraordinárias (horas extras), adicional
ajudantes, operadores, encarregados, motoristas, nível superior, noturno, periculosidade e insalubridade que são as despesas de
técnicos e administrativos. trabalho em serviços com condições especiais, onde seus custos
Outra inovação do DNIT é na apresentação dos custos deverão ser agregados àquelas atividades que se caracterizam
individualizados, associados à mão de obra, definindo-os em quatro como penosas, insalubres e perigosas: cumpre ressaltar ainda
parcelas, demonstrados no quadro abaixo: que caberá ao orçamentista a busca detalhada das condições de
trabalho a que estarão sujeito os profissionais, procurando assim,
antever a necessidades de custos extras relacionados às atividades
a)      salário: são definidos como valores médios mensais,
desenvolvidas, atentando-se à legislação pertinente.
referente ao salário básico nominal de mercado dos arquivos
do CAGED, que fornece os dados de registro e desligamento 2.1.3 Materiais
em carteira profissional individualizada. Destaca-se também,
Para a definição dos custos unitários de materiais, o novo SICRO
que as categorias profissionais foram divididas em grupos
considera os preços médios das cotações de preços, e propõe na
por critério de similaridade de função profissional, com
sua pesquisa: pagamento à vista, incluindo todos os tributos e frete
seu respectivo teto salarial, que são: oficiais, ajudantes,
até a praça de cotação; preços preferencialmente pesquisados em
operadores, encarregados, motoristas, nível superior, técnicos
produtores, atacadistas ou representantes comerciais de fábricas;
e administrativos, mas são demonstrados no Referencial de
evitar preços de varejo; e também, observar a qualidade compatível
forma individualizada com seu respectivo salário.
com as especificações de materiais.
Além disto, utiliza o critério de definição dos custos referenciais
dos insumos (materiais), apresentando a metodologia de preços
médios ao invés do critério de menor preço, com tratamento
b)      encargos sociais (Grupos A, B, C e D): são definidos
estatístico, excluindo os extremos e considerando a natureza do
através do CAGED/MTE, Anuário Estatístico da Previdência
insumo. Quanto a metodologia referente a pesquisa de preços de
Social e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
mercado, estabelecendo critério do preço estimado através dos
IBGE. Representam obrigações incidentes sobre o salário
custos de transportes em função da distância média de transporte
nominal do empregado, por força da legislação vigente, CLT
– DMT (Metodologia de Frete). Essa metodologia é, também,
e Constituição Federal. No novo SICRO são diferenciados pela
chamada de binômio (preço + transporte), que é o preço estimado
categoria profissional, pelo regime de trabalho (horista ou
(valor de aquisição coletado na origem de fabricação/fornecimento
mensalista), e obviamente, para cada estado brasileiro.
do insumo) somado ao custo do frete de origem até o local de
utilização do insumo.
Essa metodologia é analisada, inclusive para a aquisição e
transporte de materiais asfálticos, preservando a utilização dos
c)      encargos complementares: também são obrigações
preços disponibilizados pela Agência Nacional de Petróleo, Gás
do empregador em função da natureza do trabalho
Natural e Biocombustíveis – ANP, com o objetivo de definir custos
e por força dos dissídios e convenções coletivas. São
mais ajustados para os materiais asfálticos, bem como, conceitos
necessários para a execução e a segurança do trabalhador e,
relacionados a cadeia de produção dos asfaltos e seus derivados.
consequentemente, do empregador. São eles: alimentação,
Das inovações referentes aos materiais destacam-se:
transporte, ferramentas manuais, equipamentos de proteção
individual e exames médicos admissionais, periódicos e
a) pesquisa de mercado local dos custos dos insumos
demissionais. Destaca-se aqui, as ferramentas manuais
mais significativos da obra, principalmente, para os agregados
que eram alocadas, no SICRO 2, na composição de preços
(produtos britados e areia), que apesar da publicação do Referencial
unitários.
de Preços, onde os insumos que tiverem maior relevância na

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 27


ocasião do orçamento, deverão ser pesquisados no mercado local, 2.2 Nas Composições de Custos
compatíveis com a realidade da obra e levando em consideração: as
quantidades previstas no projeto e a capacidade de fornecimento Nas composições de custos são demonstradas como um
dos estabelecimentos. Através da faixa A da Curva ABC os insumos serviço será executado, ou seja, é o detalhamento da execução
de custos mais relevantes poderão ser definidos. Observa ainda, de um determinado serviço, cujo objetivo é o valor do seu preço
que os preços publicados no Referencial de Custos do novo SICRO, unitário. Nelas são encontrados todos os insumos, seus consumos,
referem-se às condições de mercado para preços postos nas capitais produções, especificações dos materiais, serviços auxiliares e a
e a utilização dos preços comerciais desses insumos no SICRO. A parcela do BDI.
prata da casa

pesquisa deve ser realizada com cuidado devido à variedade de “A confecção das composições de custos é baseada em
preços entre as regiões de um Estado para outro; premissas obtidas a partir de informações técnicas, especificações
b) metodologia de pesquisa por família de materiais: de serviços, manuais, catálogos, observações de campo
chamadas de famílias homogêneas que são grupos cadastrados eprocedimentos executivos que atentem para critérios técnicos de
e organizados, antecipadamente, de acordo com sua forma de racionalidade, de eficiência e de economicidade” .
confecção e o tipo de material, onde define-se o “insumo líder”, No novo SICRO, quanto às composições de custos, as principais
relacionando-o com os demais insumos membros, facilitando assim inovações foram:
as cotações de preços;
c) e os custos da indenização do superficiário referente à a) apresentação das composições de custos, no Referencial
exploração de material de jazida, que “durante a fase de elaboração divulgado pelo DNIT, sem a parcela do BDI, considerando assim,
do projeto, deve-se atentar para a previsão dos custos associados todos os serviços principais, mas podem ser consideradas auxiliares
à remuneração do superficiário, detentor de posse das áreas quando utilizadas num orçamento específico;
potencialmente utilizáveis para exploração ou extração direta de b) a parcela improdutiva do equipamento, somente será
materiais de jazida” . considerada remunerada, quando fizer parte da patrulha do serviço
(conjunto de equipamentos por tipo e quantidade);
2.1.4 Transportes c) retirada da motoniveladora das composições dos serviços
de escavação, carga e transporte em rodovias pavimentadas;
O novo SICRO orienta para as operações de deslocamentos dos d) retirada do insumo Encarregado das composições de
insumos, o critério do menor custo é o que deve ser considerado. serviços, alocando-o na Administração Local, ainda como custo
Das inovações destacam-se: direto;
e) retirada do percentual de ferramentas que incidia sobre
a) as novas alocações em composições específicas, na o total da mão de obra. As ferramentas foram realocadas para os
parcela de transporte, tanto nos serviços de terraplenagem (com encargos adicionais da mão de obra, fazendo parte do cálculo
caminhão e motoscraper), da Produção de Equipe Mecânica – PEM, desse encargo, juntamente, com a alimentação, transporte e
bem como, nos serviços de transportes de insumos (com caminhão equipamentos de proteção;
basculante e caminhão carroceria com guindauto) - tempos fixos de f) criação do Fator de Influência de Chuvas – FIC, que
carga, descarga e manobras dos equipamentos transportadores. deverá ser aplicado diretamente sobre o custo unitário de execução
b) eliminação, nas composições de custos, da diferenciação dos serviços (mão de obra e equipamento) que sofram influência
entre transporte local e comercial. Após significativas observações, de chuva em sua produção. O FIC é um fator criado, a partir de
constatou-se que a distância do transporte local tem aumentado estudos das condições climáticas regionais, onde foi possível
em relação a distância comercial, equiparando-se uma com a outra. verificar o tratamento da série histórica de centenas de estações
Além disto, foi observado, pelo CENTRAN, que houve ocorrências pluviométricas do país. Ele foi criado com objetivo de prever a
de altas velocidades nos transportes locais, nos anos de 2008 e influência da chuva e de outras condições climáticas desfavoráveis
2009. Também, foi observado, que no entorno da obra, o transporte sobre a eficiência dos equipamentos e a produção das equipes
comercial, sofre interferência do tráfego, e essa interferência é mecânicas e de mão de obra, remunerando, somente, os serviços
contemplada no novo SICRO. Assim, considera-se a metodologia que sofrem essa influência;
de preço estimado por meio do cálculo dos custos de transportes g) criação do Fator de Interferência de Tráfego – FIT, é o fator
em função da Distância Média de Transporte – DMT, que consiste que remunera a redução de produção dos serviços de uma obra em
na estimativa do preço unitário, através do valor de aquisição do decorrência do volume de tráfego, principalmente, nos entornos
insumo (oriundo da fabricação e/ou fornecimento) acrescido do dos centros urbanos. É aplicado sobre o custo unitário de execução
custo do frete da origem até o local da utilização do insumo. de alguns serviços (mão de obra e equipamentos), além dos serviços

28 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


auxiliares e transportes. Este fator é aplicável, em serviços como de da taxa de juros básica do Banco Central (SELIC) sobre o preço de
obras de melhoramentos, de adequação de capacidade, construção venda, durante um mês, excluindo o lucro operacional. As despesas
de terceira faixa, de restauração, de conservação e de transporte, de inadimplência não são consideradas nesta parcela, por ser de
através do Volume Médio Diário – VDM. Entretanto, observa-se que caráter eventual.
se faz necessária, a aferição da real interferência do tráfego em casos a.3) Seguros e Garantias Contratuais são as despesas
específicos. referentes aos custos exigidos nos Editais de licitações, e são
geralmente, estimadas por empresas seguradoras. É atribuída ao
2.3 No BDI custo de mercado de uma apólice por um período de 2 anos da
garantia de execução de 5,0% do valor global do contrato exigida
O Benefício e Despesas Indiretas – BDI é definido como os pelo DNIT.
custos indiretos oriundos da estrutura de uma obra, representado a.4) Riscos são as depesas referentes a uma reserva para
por um percentual, aplicado diretamente sobre o custo direto do cobrir eventuais acréscimos de custos de obras não recuperáveis
serviço. contratualmente. “Em que pese a complexidade e as variações em
O novo SICRO inova caracterizando o mesmo, em função da função das diferentes formas de contratação, o SICRO define uma
natureza e do porte das obras, e devido à alteração de metodologia, parcela de 0,5% sobre o preço de venda para remunerar riscos em
onde incluiu o custo de oportunidade do capital no cálculo dos orçamentos definidos pelas diretrizes da Lei nº 8.666/1993” .
equipamentos, que antes era atribuído ao BDI. b) Benefícios: Lucro: segundo o DNIT “O desenvolvimento
As parcelas que compõem o BDI são os Benefícios, as de qualquer atividade empresarial ou de prestação de serviços
Despesas Indiretas e os Tributos. E todas essas, segundo essa nova pressupõe a sua justa remuneração financeira, normalmente
metodologia sofrem variações, em menor ou maior grau, em denominada lucro” . O lucro remunera os fatores de produção do
função do cronograma da obra, natureza e porte da obra, porte da executor que ocorrem na obra como a capacidade administrativa
empresa, localização geográfica, características especiais, problemas e a condução da obra, bem como, o conhecimento tecnológico, o
operacionais, situações conjunturais, nível e qualidades exigidos, investimento em formação e o treinamento de pessoal. O lucro no
prazos e condições de pagamento. BDI do novo SICRO é aplicado sobre o custo direto.
Semelhante ao dimensionamento da Administração Local, da
Administração Central e do Canteiro de obra, onde há a necessidade
da caracterização da obra quanto a sua natureza e porte, o lucro,
também teve essa metodologia para dimensioná-lo. O DNIT ressalta
que esses valores referenciais foram revisados e ajustados, pois
foi excluída parcela de oportunidade de capital, onde no SICRO 2
estava contida no lucro operacional do BDI e, agora, faz parte da
Fonte: Impactos do Novo SICRO nas Obras Rodoviárias – Elci Pessoa Júnior parcela do custo direto da propriedade dos equipamentos.
Como mostra a figura acima, os componentes do BDI, no novo c) Tributos
SICRO são: Os tributos são alíquotas regidas por Leis Federais,
apresentadas no novo SICRO, para obras de engenharia no regime
a) Despesas Indiretas: compostas por: cumulativo, por:
a.1) Administração Central são as despesas referentes à c.1) PIS – Programa de Integração Social = 0,65% § Lei
manutenção da estrutrura da sede principal da empresa como Complementar nº7/1970;
água, luz, telefone, aluguel, pagamentos de honorários da diretoria, c.2) COFINS – Contribuição para o financiamento da
despesas comerciais, materiais de consumo, aquisições de editais, Seguridade Social = 3,00% § Lei Complementar nº 123/2006;
realização de cursos treinamento e desenvolvimento tecnológico, c.3) ISSQN – Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza §
viagem do pessoal lotado na sede, etc. Lei Complementar nº116/2003: possui variação, dependendo de
a.2) Despesas Financeiras (DF) são as despesas referentes cada Município, mas o SICRO adota um valor referencial de 3,0%
ao financiamento da obra, pelo executor, ou seja, referem-se para o ISSQN em orçamentos de obras de engenharia, admitida
aos desembolsos mensais acumulados superiores às receitas alíquota máxima de 5,0% e redução da base de cálculo em 40,0%
acumuladas. São despesas realizadas, previstas ou utilizadas em virtude da possibilidade de dedução dos materiais produzidos
para cobrir o desembolso de recursos do capital de giro entre pelo prestador dos serviços;
o pagamento realizado e o efetivo recebimento dos serviços c.4) CPRB – Contribuição Previdenciária sobre a Receita
prestados. Os cálculos são realizados em função da incidência Bruta§ Lei nº 13.161, de 31/08/2015: também denominada

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 29


como Desoneração da Folha de Pagamento, no qual atribui, para determinada área pré-fixada e parte será variável de acordo com
empresas específicas de obras de construção de infraestrutura o número de funcionários. Serão levados em consideração ainda
de transporte, um valor de 4,50%. Esse tributo tem característica fatores como a distância do canteiro a uma cidade-base para apoio
específica de aplicação estabelecida pelo Memorando Circular nº comercial, o fator mobiliário (mobília de escritório a ser utilizado)
03/2016-DIREX, 02/02/2016, determinando que “os orçamentos de e a opção entre ser provisório e permanente (a administração
obras de infraestrutura no âmbito do DNIT devem ser elaborados optando por alvenaria ou madeira). O uso de contêineres também
nas duas condições de recolhimento de tributos previdenciários passou a fazer parte dos modelos padrões adotado, principalmente,
possíveis, inclusive com correção do BDI diferenciado face à inclusão para as áreas industriais e o caso de obras de conservação. A base
prata da casa

da parcela da CPRB. O menor valor global obtido nos orçamentos referencial para o custo das áreas edificadas continua sendo o custo
deverá ser utilizado como referência para licitação de obras de médio da construção civil do Sistema de Preços Custos e Índices -
infraestrutura, cabendo aos responsáveis dar ampla publicidade a SINAPI, extraído diretamente do site do IBGE.
respeito da condição adotada para elaboração dos orçamentos nos Através de elementos mínimos para projeto e o orçamento
termos de referência e nos editais de licitação ” . de um canteiro, como: a) cronograma físico da obra – estabelece a
Assim, o SICRO definiu valores referenciais de BDI, de acordo duração da obra e também, define os materiais para a construção
com a natureza e porte das obras, compartimentando-as em: do canteiro; b) histograma de mão de obra – é necessário para
construção e restauração rodoviária, conservação rodoviária, definir as dimensões dos alojamentos, refeitórios, e etc, através da
construção de Obras de Artes Especiais, recuperação, reforço e quantidade e distribuição no tempo. Na falta dessa ferramenta, o
alargamentos de Obras de Arte Especiais, alocando-as cada uma SICRO definiu o valor 1,33 para utilização desse dimensionamento;
delas em: pequenas, médias e grandes porte de obras. Ver Tabela 7. c) histograma de equipamentos – para dimensionar as instalações
Estabeleceu, também, que para serviços não constantes no de apoio tais como oficinas e pátios; d) estabelecimento do plano
SICRO 2, onde o custo total da execução do serviço for definido de ataque: se haverá ou não instalações de usinas, pedreiras, pátios
por meio de cotações de pesquisa de mercado, e, também para de pré-moldados; e e) determinação da infraestrutura do canteiro:
a aquisição e transportes de produtos asfálticos, o BDI a ser água, esgoto, telefonia, mobiliário, etc, começa-se a elaborar o custo
considerado é o chamado de BDI diferenciado, cujo valor é 15%, no do canteiro de obras.
caso de preços sem desoneração. Para obras cujo preço unitário seja A partir disto, o novo SICRO apresenta modelos referenciais
com desoneração o valor passa a ser de 21,24%. para o dimensionamento de um canteiro, onde se caracteriza em

Figura 3 – Valores referenciais de BDI do SICRO

2.4 Canteiro de Obras função do número de funcionários como, também, da natureza


(obras de construção, restauração rodoviária e obras de arte
O canteiro de obras não é uma novidade na metodologia especiais) e porte da obra (pequena, média e grande). Assim,
de custos do DNIT, pois no SICRO 2, já havia sido extinto do BDI introduz tabela referencial, com critérios de ocupação em função
e tratado como item constante na planilha de orçamento, mas a das premissas de dimensionamento de áreas para os tipos de
inovação do novo SICRO referente ao canteiro é, essencialmente, instalações estabelecidas que são estimadas de forma a atender
por trazer de forma detalhada modelos padrões de construção às necessidades dos funcionários (administração local, mão de
baseado em normas regulamentadoras, envolvendo quesitos como obra ordinária e operadores de veículos e equipamentos), dos
ventilação, espaço, circulação, acondicionamento de resíduos, etc., veículos e equipamentos e dos insumos necessários à execução
associado a um critério de dimensionamento onde, parte terá uma da obra, permitindo que sejam calculadas, por meio de equações

30 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


pré-estabelecidas. Essas equações resultam em áreas referenciais porte e de suas características, foi prevista a diferenciação dos
para as instalações cobertas do canteiro, conforme o número padrões construtivos (provisório e permanente) apenas para a
de funcionários, sendo elas: escritório e seção técnica, refeitório central de concreto de 150 m3/h e para a usina de asfalto de 120 t/h.
e cozinha, alojamentos, banheiros e vestiário, ambulatório, área Para as demais instalações industriais, foram previstos contêineres e
de recreação e residências. Salienta-se que a quantidade de barracões em tábua de pinho.
funcionários a ser considerada no cálculo dessas áreas de referência Foram criados coeficientes, denominados fatores de ajustes
está considerando a natureza de sua ocupação e a finalidade a que que são eles: Fator do Padrão de Construção (k1), fator de mobiliário
se destina, justificando a distinção dos parâmetros relacionados (k2) e fator de Ajuste da Distância do Canteiro aos Centros
à quantidade de funcionários da obra. As demais dependências Fornecedores (k3), que como dizem seus nomes, ajustam o custo do
como almoxarifado, depósito de cimento, oficina, topografia e canteiro de obras, e se caracterizam, respectivamente para:
guarita foram pré-estabelecidas, também, por meio de tabela, mas
seu cirtério para dimensionamento é pela natureza da obra e do
seu respectivo porte. As áreas descobertas, também foram pré- a)             k1 - fator do Padrão de Construção – de
estabelecidas, referencialmente, por meio de tabelas nas quais são acordo com o padrão construtivo: se provisório (0,80); se
em função da natureza e porte da obra. permanente (0,10);
Assim, para o dimensionamento das áreas do canteiro de
obras, o novo SICRO utilizou-se dos critérios, onde “As áreas totais
dos terrenos dos canteiros de obras devem ser suficientes para b)        k2 - fator de mobiliário – de acordo com o
garantir o ordenamento viário, a livre circulação de pessoas, veículos mobiliário e a aparelhagem do laboratório:foi estabelecido
e insumos, além de permitir a instalação das estruturas cobertas e coeficientes de 1,04, 1,05, 1,06 e 1,13 dependendo da
com vedação lateral e também das descobertas, tais como pátios natureza e porte da obra.
de manobra, estacionamentos, centrais de armação, pátios de
estruturas pré-moldadas, pátios de aduelas, rampas de lavagem,
postos de combustíveis, entre outras.” c)        k3 - fator de Ajuste da Distância do Canteiro
O novo SICRO estabelece também, parâmetros de relação aos Centros Fornecedores – caracteriza-se por fórmula
com o SINAPI, utilizando-o como referência para o cálculo do custo de transporte, em função da Distância de Transporte
por metro quadrado de construção das diferentes instalações dos relacionada à condição do pavimento (leito natural,
canteiros de obras. Desta forma, foi avaliada a variação dos custos revestimento primário ou rodovia pavimentada).
por metro quadrado das diferentes instalações cobertas e sem
vedação lateral em relação ao custo médio da construção civil do “O fator de ajuste do padrão de construção (k1), o fator de
SINAPI, originando o Fator de Equivalência das Áreas Cobertas distância de transporte do centro fornecedor (k3) e os fatores de
(FEAC) , o Fator de Equivalência das Áreas Descobertas (FEAD) e o equivalência de áreas cobertas, descobertas e totais (FEAC, FEAD
Fator de Equivalência de Áreas Totais do Terreno (FEAT), onde: e FEAT) foram definidos por meio de estudo comparativo entre os
custos destas composições de custos do SICRO e aqueles advindos
a) FEAC – entre 50% a 70%, dependendo do tipo de do custo médio da construção civil - CMCC, calculado pelo IBGE e
instalação (escritório, seção técnica, escritório, cozinha, alojamento, divulgado pelo SINAPI, para as diferentes estruturas e materiais dos
laboratório, oficina, etc). canteiros tipo”.
b) FEAD – 5,00 % (pátios de manobra, estacionamentos Através de todos esses parâmetros, o SICRO estabelece, então,
diversos, centrais de armação, pátios de fabricação de elementos a fórmula abaixo para o cálculo do Custo Total do Canteiro de Obras
pré-moldados, pátios de aduelas, rampas de lavagem, postos de (CCO):
combustíveis, etc).
c) FEAT – 3,00% especificamente, para a previsão de CCO=[(k1 x k2 x k3 x ΣAC x FEAC )+(ΣAD x FEAD )] x CMCC +CII
utilização exclusiva de contêineres, como em obras de conservação
rodoviária. onde:
As instalações industriais (CII) também foram previstas nesse CCO representa o custo total do canteiro de obras e de suas
estudo, semelhante ao procedimento adotado nas obras de instalações industriais; k1 representa o fator de ajuste do padrão de
construção e restauração rodoviária e nas obras de arte especiais, construção (provisório ou permanente); k2 representa o fator de
foram desenvolvidos canteiros tipo para as diferentes instalações mobiliário; k3 representa o fator de ajuste da distância do canteiro
industriais. Também, através de tabelas refereciais, em função do aos centros fornecedores; AC representa as áreas das edificações

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 31


consideradas cobertas e com vedação lateral; FEAC representa diversas, conforme Tabela 1.
os fatores de equivalência de áreas cobertas das instalações; AD Quando a obra for de Conservação Rodoviária há
representa as áreas descobertas ou sem vedação lateral; FEAD particularidades a serem consideradas, na Parcela Vinculada tais
representa o fator de equivalência de áreas descobertas; CII como: dimensionamento da extensão das faixas das rodovias; e
representa o custo específico das instalações industriais; CMCC quando na obra houver casos de serviços que envolvam operações
representa o custo médio da construção civil por metro quadrado, de tracionamento (protensão, tirantes e estaiamento) e de
calculado pelo IBGE e divulgado pelo SINAPI mensalmente e por suspensão (içamentos, reforços e trocas de aparelho de apoio) de
unidade da federação. elementos estruturais em algumas obras de infraestrutura, devem-
prata da casa

2.5 Administração Local se quantificar, na Administração Local, técnicos especializados,


Tendo em vista, o Acórdão nº 2622/2013 – TCU – Plenário que sendo que esses serão dimensionados em função das características
recomenda que os custos da Admistração Local, por serem passíveis intrínsecas do projeto e do cronograma proposto para esses
de identificação, mensuração e discriminação, devam ser inseridos serviços. Devem ser previstas, também, sua alocação na parcela
nas Planilhas orçamentárias, nos quais devam ser sujeitos a controle, vinculada da administração local apenas no período em que os
medição e pagamento individualizado pela Administração Pública, serviços estiverem sendo efetivamente executados.
e que sejam pagos de maneira proporcional ao avanco da execução Nos custos da manutenção do canteiro e acampamentos
financeira da obra, o DNIT, através do novo SICRO desenvolveu uma relativos à Conservação Rodoviária, por serem áreas reduzidas e por
metodologia inovadora para apurar esses custos com modelagens e utilizarem contêineres, é atribuído para o cálculo, o percentual de
critérios referenciais. 50% da equipe mínima de mão de obra e equipamentos prevista
Como as estruturas organizacionais são diversas, em função da para as áreas de canteiro, conforme Tabela anexa no Manual de
complexidade de cada obra e dos serviços que serão desenvolvidos, Custos do SICRO.
o novo SICRO desenvolveu uma metodologia, padronizando Assim, “detalhadas as parcelas fixas, vinculadas e variáveis da
uma estrutura organizacional referencial para bem administrá-la, mão de obra que compõem o custo de referência da administração
de acordo com a natureza e porte da obra, sendo composta por: local de uma obra, torna-se possível ao gestor público intervir em
mão de obra, veículos, equipamentos e despesas diversas. Sendo situações diversas de paralisação do empreendimento, garantindo
que, para melhor apurar os custos, formatou a mão de obra em: assim a preservação do erário e os interesses da Administração
equipe gerencial técnica, equipe gerencial administrativa, equipe Pública” .
de segurança e medicina do trabalho, manutenção do canteiro de Quanto aos critérios de medição da Administração Local, o
obras e campamentos, equipe de produção em campo, equipe de SICRO segue a orientação do Acórdão nº 2622/2013-TCU-Plenário,
frentes de serviço e equipe de controle tecnológico. estabelecendo que os pagamentos sejam realizados conforme a
Deste modo, classificou as despesas em cinco subgrupos, execução financeira da obra. Portanto, a metodologia proposta pelo
dimensionados em: parcela fixa, parcela vinculada, parcela variável, SICRO, possibilita que os valores atribuídos à Administração Local
manutenção do canteiro de obras e acampamentos e despesas sejam pagos proporcionalmente ao avanço físico da obra.

Tabela 1 – Grupos da Administração Local do SICRO

32 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


3. CONCLUSÃO: Tabela Referencial própria, atuando na pesquisa e coleta de preços,
elaboração dos orçamentos para obras a serem licitadas, bem como
Ao longo de seus 80 anos, o Departamento Autônomo de elaborando composições de serviços com a expressiva colaboração
Estradas de Rodagem do Rio Grande do Sul – DAER/RS, pioneiro da sua fiscalização, sejam nas áreas de projetos e construção/
como o DNIT, tem desenvolvido e investido na área de custos. restauração de rodovias, como também, na área de OAE. Salienta-se
A partir de apropriações de custos dos serviços executados no aqui, a parceria fundamental do Laboratório de Pesquisas, sempre
campo que, através da coleta das informações do corpo técnico, atuante e dando respaldo para a tomada de decisões, quanto à
fiscalização de obras e projetistas, juntamente, com o Manual de formação das composições. Todavia, a tarefa sempre foi árdua,
Custos do DNER, de 1972, com sua metodologia para compor os geralmente, com pouco pessoal e atendendo a toda a demanda do
preços, fizeram com que fossem formados os preços dos serviços Departamento. Além de, assiduamente, responder aos órgãos de
do DAER. No decorrer dos anos as composições de custos foram controle.
revisadas quanto aos insumos e consumos; equipamentos foram Nesse viés, há pelo menos três anos atrás, a Direção do DAER
atualizados, produções dos serviços foram adequadas, parâmetros vem demonstrando o interesse em adotar as composições do DNIT/
de transportes atualizados, BDIs foram modificados, sendo SICRO, já que essas são: frequentemente auditadas pelo TCU, são
obviamente, suprimidas muitas composições de custos e, também revisadas anualmente e tem Referencial de Preços divulgados com
outras tantas incluídas ao Referencial de Preços. As composições mais frequência que o Referencial do DAER, que é divulgado uma
de custos atendem as exigências dos órgãos de controle e, em vez por ano. Bem como, após diversos apontamentos dos órgãos de
quase em sua totalidade, pois foi evoluindo com o passar do tempo, controle nas quais, sempre o DAER é comparado ao DNIT, essa EER
adaptando-se as exigências da engenharia moderna, da tecnologia iniciou os estudos, subsidiados pela Direção desse Departamento,
e da legislação. Ressalta-se aqui, que o DAER é responsável pela como reuniões promovidas pela Associação Brasileira dos
pesquisa criteriosa e morosa de preços dos insumos no mercado Departamentos Estaduais Rodoviários – ABDER, através do
para confeccionar a Tabela Referencial de Preços do DAER, para Grupo de Custos - CUSTOROD, nos quais foram ministradas pelo
obra, projeto e supervisão de rodovias. Aléms disto, a Equipe de Coordenador Geral de Custos de Infraestrutura – CGCIT do DNIT,
Economia Rodoviária – EER, da Superintendência de Programação Luiz Heleno Albuquerque Filho, e outros cursos recentes com a
Rodoviária – SPR, subordinada a Diretoria de Gestão e Projetos - mesma temática, para, num futuro próximo, promover ou não, a
DGP, baseia-se na metodologia do DNER, com alguns parâmetros transição da Tabela Referencial do órgão para o Referencial do DNIT.
revisados e atualizados em conformação com SICRO 2 e, também, Através da participação desses eventos, foi constatado que
com conceitos e métodos desenvolvidos pela própria Equipe, as todas as composições do DAER, em relação com as inovações
desde sua criação. Assim, a EER sempre se orgulhou de ter sua do DNIT, terão que sofrer grandes ajustes para adaptar-se a essa

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 33


nova metodologia. Um exemplo é a retirada da Motoniveladora
das composições Escavações, carga e transportes, já que essa foi
considerada para espalhar o material, somente com o objetivo de
abrir caminho para a execução do serviço. Bem como, a retirada
do Encarregado, que está inserido em todas as composições de
custos. Além de considerar os novos fatores FIC e FIT, entre outras
mudanças. Quanto aos preços dos serviços, existem tanto no DAER
quanto no DNIT preços bons e alguns não tão bons, preços justos e
prata da casa

alguns não tão justos, pois esses dependem da percepção de quem


os analisa, sejam do ponto de vista dos empreiteiros ou dos órgãos
de controle. Do que tange as mudanças, a EER já começou o estudo
para a retirada da Administração Local do BDI, atendendo aos
apontamentos recentes da CAGE, baseando-se na metodologia do
novo SICRO, mas adaptando-a à metodologia do DAER. Entretanto,
observa-se a necessidade de uma comissão multidisciplinar para
estipular conceitos e métodos próprios do órgão. Assim, para
que isso aconteça de fato, a mudança não será, tão somente,
nas composições de custos, pois, também terão mudanças nas
especificações de serviços próprias do Departamento e na forma de
medição, que também tem características próprias. Além da forma
de gerenciar/planejar os custos dentro do órgão, fazendo com que
eles façam, realmente, parte do planejamento da obra, deixando de
ser um mero informador de preços.
A metodologia do novo SICRO, é realmente inovadora, além
de trazer maiores subsídios para o orçamentista, deixa claro, todas
as etapas da formação dos preços, conforme preconiza os órgãos
de controle. Além disto, demonstra com clareza, o quão importante
são as três premissas: a natureza, o porte e o cronograma da obra. E
com certeza, os orçamentos serão mais planejados, muito melhores
orçados e os custos mais adequados às condições locais e às
condições específicas de cada obra.
Deste modo, diante de tudo que foi exposto aqui, se faz a
pergunta: o DAER está preparado para essa grande transição?
Adota-se o novo SICRO, ou adaptam-se as composições de custos
do DAER às composições do DNIT, e como o Departamento definirá
suas ações daqui para frente?

4. Referências Bibliográficas:
DNIT – DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE
TRANSPORTES - Manual de Custos De Infraestrutura de Transportes.
Metodologias e Conceitos. Volume 1.[Brasília], [2017].
PESSOA JR, Elci - Impactos do Novo SICRO nas Obras Rodoviárias –
[2017].
DNIT – DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE
TRANSPORTES - Manual de Custos De Infraestrutura de Transportes.
Canteiros de Obra. Volume 7.[Brasília], [2017].
DNIT – DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE
TRANSPORTES - Manual de Custos De Infraestrutura de Transportes.
Administração Local. Volume 8.[Brasília], [2017].
______. Acórdão 2622/2013. Administrativo. Entidade: Tribunal de
Contas da União. Interessado: Tribunal de Contas da União. Relator:
Marcos Bemquerer Costa. [S.I.]. Disponível em <https://contas.tcu.gov.
br/portaltextual/MostraDocumento?qn=1&doc=2&dpp=20&p=0>.
Acesso em: 10 fev. 2014.

34 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


ANÁLISE DE INTERSEÇÃO
Débora Alessandra M. Alves,
Técnica em Estradas
DAER /RS
MODIFICADA NA ERS-122 Km 76
Luciana do Val de Azevedo, COM OBJETIVO DE OBTER
MELHORIAS NA SEGURANÇA
Engenheiro Civil
DAER /RS

VIÁRIA

prata da casa
Luís Fernando Finamor,
Engenheiro Civil
DAER /RS

Larri Rivoire,
Professor
Uniritter

INDRODUÇÃO

Uma parte significativa e crescente de acidentes ocorre em Identificadas as causas, e os tipos de intervenções para alcançar
trechos onde a rodovia passa por área que sofreu desenvolvimento os objetivos almejados e estimados, a etapa seguinte reside
urbano desordenado. Nestes trechos encontra-se uma mistura na seleção daqueles locais que apresentam, preliminarmente,
de tráfego de passagem e tráfego local, com a participação melhores perspectivas de retorno econômico, em vista da
significativa de veículos pesados de carga, ônibus, bicicletas, e escassez de recursos humanos e materiais para desenvolvimento
pedestres atravessando a pista ao longo de toda sua extensão. de projetos para todos os locais que efetivamente tenham sido
Normalmente nessas travessias problemáticas encontram-se declarados críticos. E por fim, selecionados os locais para efetivo
também acessos e interseções com características inadequadas, em tratamento, devem ser desenvolvidos os projetos necessários para
condições precárias de operação e sem ordenamento de tráfego. essa situação.
Em geral os acidentes que ocorrem nessas travessias Entre as rodovias avaliadas, foi realizada pela Superintendência
urbanas resultam de uma multiplicidade de fatores contribuintes de Estudos e Projetos uma análise para o entroncamento de acesso
abrangendo: volumes de veículos e/ou pedestres excessivos em a Monte Bérico, km 76 da ERS-122, que por suas características
relação à capacidade da via, comportamento inadequado de geométricas e de ocupação apresenta maior vulnerabilidade
pedestres e de condutores de veículos, condições operacionais a acidentes. Da verificação da quantidade e a gravidade dos
insatisfatórias dos veículos em circulação, e deficiências do projeto acidentes, verificou-se a necessidade de elaborar um projeto com
viário. providências emergenciais para aumento de segurança viária e
Para minimizar acidentes e diminuir a sua gravidade, é minimizar o risco de acidentes na interseção (figura1).
necessário o desenvolvimento de um programa de estudo de Figura 1 - Imagem de satélite do acesso a Monte Bérico
segurança viária, com monitoramento de tráfego.
O propósito desses procedimentos é identificar os locais
onde ocorrem acidentes com maior frequência, para os quais seja
possível a adoção de algum tipo de melhoria capaz de reduzir a
quantidade ou a gravidade dessas ocorrências.
A abordagem começa com a identificação dos locais críticos
em termos de acidentes de trânsito, enfatizando-se a severidade
dessas ocorrências. Posteriormente, a identificação dos fatores que
efetivamente contribuíram para o desfecho dessas ocorrências,
ou seja, na investigação dos fatores contribuintes - diagnóstico. Fonte: (Google Earth –Abril/2014)

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 35


Após uma avaliação da interseção e seus acessos, técnicos Figura 2 – Pontos de conflitos 1 e 2
do DAER-RS constataram que devido à intensidade de tráfego
da rodovia, a maioria dos acidentes no local caracterizava-se
basicamente em abalroamento, colisão lateral, colisão traseira,
além de atropelamentos.
Para uma análise mais detalhada do problema, dividiu-se a
fase inicial em etapas, onde foram analisadas a geometria da via
e a sinalização existente, bem como, os pontos de conflito sobre
prata da casa

a mesma.
1.1.1 Elementos Geométricos

O trecho em estudo encontra-se em região montanhosa.


A seguir são apresentadas as principais características da via,
classificadas conforme as Normas de Projetos Rodoviários do Figura 3 – Pontos de conflitos 3 e 4
DAER/RS, (tabela 1).

Tabela 1 – Características técnicas da rodovia

Fonte: (Quadro de Características Técnicas - Projeto Geométrico da ERS-122)

1.1.2 Pontos Críticos

Ponto crítico de acidente de trânsito significa uma


interseção ou trecho entre interseções consecutivas que 1.1.3 Estudo dos Conflitos e Diagnóstico do Problema

apresentam uma frequência de acidentes excepcionalmente A interseção do tipo “rótula aberta”, que abrange toda rotatória,
elevada, se comparada com as demais interseções ou trechos não teria condições de atender ao elevado número de conversões
entre interseções da malha viária. realizadas naqueles pontos, representando um alto risco de
A identificação dos pontos críticos refere-se a análise acidentes no local.
dos fatores condicionantes das ocorrências em cada ponto Por ser um trecho em pista simples com relevo montanhoso,
identificado. São realizadas vistorias in loco objetivando a foi observada uma deficiência de visibilidade em relação ao sentido
confirmação do diagnóstico prévio, avaliação dos fatores de oposto de tráfego, pela própria geometria do trecho e traçado da
risco e comportamento dos usuários; proposição de melhorias e rodovia, o que implica ao usuário dificuldade em realizar manobras
estimativa dos custos e benefícios econômicos das alternativas de forma segura.
propostas; programação e execução de projeto e obras e Por essas características os condutores realizam ultrapassagens
finalmente acompanhamento das melhorias implantadas. e /ou conversões forçadas e inseguras, geralmente resultando em
Numa etapa inicial são demarcados os fluxos de circulação acidentes de trânsito.
de veículos e pedestres e identificados os pontos de conflito. Nos locais onde há a presença de 3ª faixa de tráfego, destinadas
Para facilitar, os pontos foram assinalados nas fotos com o a veículos lentos, muitas vezes, os condutores também utilizam os
seu respectivo número. No cruzamento da Rua Valentino acostamentos para fazerem as manobras ou ultrapassagens.
Venturim com a rodovia, tem-se o primeiro ponto de conflito, e Notou-se também a dificuldade de veículos mais longos, de
no cruzamento da Av. Luiz Amalcabúrio com a ERS-122, tem- presença constante na rodovia, em realizar curvas mais acentuadas
se o segundo ponto, sendo que os dois foram analisados em sem invadir a outra faixa, ou ainda a faixa de sentido oposto,
conjunto (figura 2). denotando uma incompatibilidade entre frota passante e geometria
Os pontos 3 e 4 apontam os cruzamentos analisados sobre a do trecho.
rodovia e no ponto 5, tem-se o cruzamento da Av. Jacob Luchesi Constatou-se ainda a presença de acessos irregulares à via
com a rodovia ERS-122, na saída do Motel (figura 3). principal, onde não existia definição de ruas laterais, as quais se

36 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


uniam a própria via. O conflito causado pelo tráfego de veículos 1.2 ALTERAÇÃO DE PROJETO
locais nessa área e atividades comerciais, localizadas em áreas
lindeiras à rodovia, resulta do crescimento desordenado da cidade Tendo em vista a situação no local, e o clamor da sociedade
ao longo do eixo da mesma e acentuam os problemas de tráfego em razão do crescimento dos acidentes de trânsito, a avaliação do
entre veículos de percursos longos e curtos. DAER para o segmento levou a adoção de intervenções em 3 fases.
Na figura 4, vê-se um veículo longo com dificuldades para Foram apresentadas propostas de ações a curto, médio e longo
realizar conversões na pista, pois a geometria da via foi projetada prazo, com base nos índices de acidentes e nas especificidades
prevendo veículos menores e também um volume de tráfego do local analisado. Porém, o objetivo deste trabalho é analisar
menor, de forma que permitisse a realização da manobra através de as propostas a curto prazo e verificar se as medidas adotadas
rótula vazada. minimizaram a situação encontrada na interseção da ERS-122.
Foi previsto então, como medida de curto prazo, um reforço
de sinalização nas aproximações da interseção na rodovia e nas
Figura 4 – Veículo longo aguardando para fazer a conversão
avenidas com controle de fluxo, buscando melhorar, de maneira
imediata, os conflitos mostrados nos pontos 1, 2, 3, 4 e 5.
Como nas interseções as correntes de tráfego devem cruzar
ou convergir utilizando a mesma área, surgem os conflitos. Sendo
assim, para que os veículos possam realizar as manobras de
forma adequada, foi indicada a implantação de dispositivos de
canalização e semáforos, com o objetivo de direcionar e disciplinar
o tráfego.
A proposição de curto prazo implantada, com intuito de
melhorar as condições existentes, está apresentada na figura 5 e
será melhor detalhada nos itens a seguir.

Figura 5 - Projeto de Semaforização e Reforço de Sinalização

1.2.1 Elementos Geométricos


As medidas adotadas

referentes a geometria
da interseção, por ser um
tratamento a curto prazo, foram
muito pequenas, pois este tipo
de procedimento requer mais
tempo para implantação.

1.2.2 Melhorias na
Sinalização Horizontal e Vertical

O reforço de sinalização
consiste na implantação de
placas de regulamentação
de velocidade, placas de
advertência principalmente
Fonte: (DAER/RS – Data do Projeto: Maio/2014)
para advertir sobre a
implantação de semáforos na
rodovia, além das placas indicativas informando as localidades
próximas. Foi indicado ainda a revitalização e a implantação

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 37


de reforço da sinalização horizontal, com a implantação de Linhas previstas 2 fases para o semáforo, conforme esquema a seguir
de Estímulo à Redução de Velocidade (LERV), faixa de travessia de (figura 7).
pedestres, indicando o local onde os pedestres poderão atravessar Figura 7 - Detalhe das fases do semáforo
de maneira segura, já que também estavam previstas placas para
advertir aos motoristas da existência da travessia de pedestres.
Em complementação, foi indicada a implantação de
demarcador central de pista, dispositivo projetado pelo
Departamento e utilizado com o objetivo de manter a velocidade
prata da casa

dos veículos no sentido descendente da rampa, em níveis desejáveis, E em novembro de 2014, ocorreram as obras de tratamento de
acompanhado de sinalização específica. Esta manutenção da segurança viária com a implantação do reforço de sinalização e dos
velocidade se dá através da sensação de confinamento do condutor semáforos. Na figura 8 tem-se imagem do local atualmente, onde
pela implantação de tachões, formando um “trilho de roda” pelo qual se verifica o acesso à empresa devidamente fechado, sinalização
o veículo deve se deslocar. Este procedimento se encontra em fase vertical e horizontal assim como os semáforos implantados
de testes e ainda não foi regulamentado, porém tem demonstrado conforme projeto.
bons resultados. Figura 8 – Imagem do local atualmente
Foi indicada ainda no projeto a implantação de canteiros
fictícios com o uso de tachões e supertachões, delimitando canteiros
laterais, para disciplinamento dos movimentos de conversão,
além de marcas viárias (zebrados) com a finalidade de servir como
canalizadores de fluxo.
Foi criado um canteiro divisor com tachões e pintura na
interseção da rodovia com a Av. Luiz Amalcabúrio, com o uso
de defensa metálica, desta forma, na saída existente na Av. Luiz
Amalcabúrio foram instaladas defensas metálicas, evitando-se
o acesso direto a rodovia Canteiro criado na saída da Av. Luiz
1.2.4 Análise das melhorias (antes e depois)
Amalcabúrio.
No detalhe abaixo mostra a disposição na qual o tachão e o Para auxiliar na definição dos locais com necessidade de estudos
supertachão foram projetados para impedir que algum veículo específicos foram coletados e tabulados os dados de acidentes na
utilizasse a área destinada ao canteiro para manobras (figura 6). rodovia.

1.2.4.1 Dados de Ocorrências de Acidentes Antes da


Figura 6 – Canteiro criado na saída da Av. Luiz Amalcabúrio
Intervenção
Na figura 9, apresenta-se o gráfico com a representação da
natureza dos acidentes, onde no período de análise (dez/2012 a
Out/2014), foram totalizados 59 acidentes, sendo 8% de acidentes
com vítimas fatais, 25% com lesões corporais e 67% com danos
materiais.
1.2.4.2 Dados de Ocorrências de Acidentes Após a
Implantação do Novo Projeto

Verificou-se que 71% dos acidentes registrados foram com


1.2.3 Implantação de Sinalização Semafórica danos materiais e os acidentes com lesões corporais ocorreram
em 29% dos casos, e nenhum acidente com vítimas fatais,
Nos estudos técnicos foi avaliada a implantação de totalizando 24 acidentes ocorridos neste período (figura 10).
semaforização no entroncamento, disciplinando a prioridade de Na figura 11 podemos verificar que houve uma redução
fluxos no entroncamento, e restringindo movimentos nos acessos significativa do número total de acidentes, sendo que com danos
existentes, a qual se mostrou viável, e o projeto de sinalização para materiais a redução foi de 59%, em acidentes com lesões corporais
implantação dos dispositivos no entroncamento das Ruas Jacob 53%, mas o fator mais relevante é que neste período, após a
Luchesi e Rua Venturim foi desenvolvido pelo DAER de acordo implantação do projeto de semaforização, não se registrou nenhum
com a Legislação vigente. Para um melhor funcionamento, foram acidente com vítimas fatais.

38 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


Figura 9 – Gráfico da natureza dos acidentes antes da intervenção Figura 10 - Gráfico da natureza dos acidentes após implantação do novo
projeto

Fonte: (elaborado pelo autor, baseado nos dados fornecidos pela CRBM) Fonte: (elaborado pelo autor, baseado nos dados fornecidos pela CRBM)

Figura 11 - Gráfico comparativo de antes e depois


Com o estudo de identificação de pontos críticos, análise,
elaboração e implantação de projeto para melhorias da interseção
na ERS-122, com as ações propostas visando melhorar o conforto
e a segurança dos usuários e também a redução dos acidentes de
trânsito já apresentaram um resultado muito significativo, com a
expressiva redução dos acidentes no local.
No entanto, com as medidas que devem ser adotadas a médio
e longo prazo, é provável que tenhamos resultados mais expressivos,
pois o trecho desenvolve-se em zona com elevado volume de tráfego
de veículos leves e pesados e com alto índice de ocupação urbana nas
Fonte: (elaborado pelo autor, baseado nos dados fornecidos pela CRBM)
adjacências da rodovia.
A seguir apresentou-se o gráfico da evolução dos acidentes
Entre as medidas previstas à médio prazo, está a adequação do
em UPS (figura 12).
dispositivo através de fechamento de rótula, bem como um reforço
Figura 12 - Gráfico da evolução dos acidentes em UPS da sinalização visando adequação aos novos projetos.
A implantação dessas alterações de médio prazo na geometria
e sinalização da interseção tem uma previsão de que ocorra nos
próximos anos, pois em função da característica da interseção, é
recomendável o estudo de medidas para adequar a capacidade
de tráfego, bem como melhorar ainda mais as condições de
trafegabilidade e segurança viária.
E a longo prazo está previsto a implantação de duplicação
da rodovia com bloqueio do cruzamento em nível na interseção,
estabelecendo pontos de retorno próximos do acesso ou a
implantação de interseção em dois níveis (viaduto).
Fonte: (elaborado pelo autor, baseado nos dados fornecidos pela CRBM) A presença de veículo pesado ainda é um fator de risco que
merece a devida consideração. A influência da quantidade de veículos
Não foram computados os dados de acidentes no mês de
pesados na quantidade de acidentes deve ser melhor avaliada, uma
novembro de 2014 em razão das obras de melhorias da interseção
vez que é um fator de risco que merece a devida consideração.
com a presença de sinalização de obras no local.
Ao finalizar o trabalho, conclui-se que para minimizar os
problemas em uma interseção, podem ser utilizados dispositivos
2 CONSIDERAÇÕES FINAIS
que visam canalizar o tráfego, diminuindo a aleatoriedade dos
O presente trabalho teve como objetivo a avaliação de uma movimentos, reduzindo a área de conflitos e melhorando as
interseção do tipo rótula vazada em pista simples, bem como as condições de fluxo, pois é realmente eficiente na redução de
modificações propostas nessa interseção, visando obter melhorias imprevisibilidades. A canalização adequada aumenta a capacidade
na segurança viária e no tráfego. da via, oferece conforto e segurança ao usuário e a implantação de
Neste trabalho foram analisadas apenas as medidas realizadas dispositivos de controle de tráfego permite que seja estabelecida uma
à curto prazo, em um único ponto, pois se fazia necessário uma alternância entre a prioridade de passagem dos fluxos conflitantes,
resposta mais imediata à sociedade. eliminando o risco por questões de imprudências.

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 39


PODER DE POLÍCIA DO DEPARTAMENTO
AUTÔNOMO DE ESTRADAS DE RODAGEM

Silvia Vargas Bertoglio


prata da casa

1 INTRODUÇÃO
A investigação do tema quanto
à compreensão do poder de polícia
O Departamento Autônomo de Estradas de Rodagens possui uma administrativa exercido pelo DAER, suas
grande abrangência no Estado do Rio Grande do Sul, haja vista a reais atribuições em face do interesse
malha rodoviária e a trafegabilidade de milhões de usuários que
público, da segurança e da ordem.
utilizam os serviços da Autarquia para suprir suas necessidades. Em
certa medida, atribui-se às autoridades o poder de sanção com a Contempla, tal estudo, o ramo do Direito
finalidade de orientar a conduta de cidadãos comuns. Assim, o Estado Administrativo, Direito Constitucional e
possui a faculdade de reprimir, não de forma absoluta e ilimitada,
demais leis infraconstitucionais utilizadas
sujeitando-se aos limites jurídicos, as liberdades individuais, sempre
asseguradas as prerrogativas na Constituição. O art.78, parágrafo pela Autarquia na condução dos atos da
único, do CTN faz referência às características do poder de polícia, relação intercorrente do Estado com os
que somadas, compõe a noção de exercício regular. A polícia particulares. A pesquisa foi no sentido
administrativa manifesta-se através de normatização condicionando
de agrupar dados devido à carência de
certos atos a regulação estatal. Ocorre que os atos fiscalizadores da
Administração Pública previamente se acautelam de possíveis danos dispositivos publicados que pudessem
que podem advir da ação de particulares. Portanto, as multas são esclarecer essa temática, uma vez que o
sanções que visam intimidar o cumprimento da norma e ressarcir Departamento possui outras atribuições
a Administração de algum prejuízo que a ação ou inação tenha
além da manutenção dos programas
causado. O DAER tem a função de vistoriar os veículos de transporte
intermunicipal de passageiros com o intuito de aferir as condições de de construção rodoviária, uma vez que
trafegabilidade e garantir a segurança dos usuários, prevenindo riscos a fiscalização nas rodovias do Estado
e possíveis acidentes. Da mesma forma, a fiscalização ao transporte
do Rio Grande do Sul realizada pelo
de cargas deve seguir um padrão com à marcação exata de peso
para prevenção de possíveis prejuízos a terceiros, como lentidão na Departamento Autônomo de Estradas
trafegabilidade nas rodovias, e o desgaste provocado no pavimento de Rodagens tem finalidade preventiva
das rodovias, bem como pontes e viadutos. A ideia imperativa de e denota particularidades no que tange
vedação de um comportamento está ligada à polícia administrativa,
a intervenção das liberdades dos direitos
no qual o Comando Rodoviário da Brigada Militar está inserido, uma
vez que, através de Convênio de Cooperação Técnica com o DAER, individuais em benefício da segurança e
possui delegação de poder para tanto. O objetivo principal é agilizar do interesse público.
os atendimentos e intervenções às demandas da comunidade.
2 O PODER DE
POLÍCIA NO ÂMBITO DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Os poderes administrativos são


instrumentos da Administração Pública
que possuem prerrogativas próprias,

40 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


no sentido da aplicação de regras Celso Antônio Bandeira de Mello de direitos alheios, cabe a observância do
vinculadas no caso concreto. Portanto, dá dois conceitos de poder de polícia: contraditório e ampla defesa no devido
trata-se de regras de atribuição de em sentido amplo e sentido restrito. processo legal em sentido procedimental.
competência administrativa, pela qual, O sentido amplo abrange tanto atos Por outro lado, em situações que exige a
a lei prevê um único comportamento do Poder Legislativo quanto do Poder interdição de excessos, ferindo o princípio
válido diante de uma determinada Executivo. É a atividade Estatal tutelando da proporcionalidade, observa-se o
situação. Nesse âmbito, a existência da a liberdade e a propriedade ajustando denominado devido processo legal em
discricionariedade administrativa pode ao interesse coletivo. Em contrapartida, sentido substancial.
decorrer tanto da perspectiva técnica do no sentido mais restrito refere-se a
legislador, sujeita a inúmeras imprecisões, intervenções gerais e abstratas, através
como também, das diversas situações de regulamentos, autorizações, e licenças 3 TRANSPORTE
apresentadas no cotidiano. Em certa do Poder Executivo para prevenir e COLETIVO RODOVIÀRIO
medida, a discricionariedade atribui obstar o desenvolvimento de atividades INTERMUNICIPAL DE
determinada hipótese legal, prevendo particulares que contrastem com os PASSAGEIROS NO ESTADO DO
mais de uma consequência. Desta forma, interesses sociais. Di Pietro considera que RIO GRANDE DO SUL
o administrador deverá eleger a hipótese o Estado utiliza meios para o exercício
legal mais adequada ou mais de uma, da polícia administrativa através de atos
considerando a melhor quanto a satisfazer normativos descritos pela lei e por atos O transporte coletivo rodoviário
o interesse público, ou seja, respeitando administrativas e operações materiais intermunicipal é uma atividade meio
a conveniência e oportunidade, em face aplicadas como medidas preventivas, que visa atender às necessidades de
das circunstâncias fático-jurídicas havidas como fiscalização, vistoria, ordem, deslocamentos de pessoas e por motivos
no caso concreto. Conforme José Cretella notificação, autorização e licença. diversos. Existem, para tanto, dois tipos
Júnior, o poder de polícia enseja três Os atributos do poder de polícia de transporte de passageiros, segundo
objetivos, quais sejam, a tranquilidade, abrangem a discricionariedade, a sua natureza: o regular e o especial. O
a segurança e a salubridade públicas, autoexecutoriedade, a coercibilidade, transporte regular engloba as linhas
para tanto, é faculdade discricionária e a exigibilidade que são, portanto, de operação normal, portanto, ativas
da Administração limitar as liberdades medidas que a Administração deve durante todo o ano, e contemplam as
individuais em prol do bem comum. adotar a partir de determinados linhas temporárias do Plano Praia que
Assim como os direitos individuais são elementos, como motivo ou objeto, são operadas apenas durante o período
relativos, da mesma forma, o poder pois não é dado ao legislador prever de veraneio. Por sua vez, o transporte
de polícia, não pode pôr em perigo a todas as circunstâncias fáticas possíveis. especial compreende o serviço de
liberdade e a propriedade. Portanto, Assim, a Administração terá que decidir fretamento e turismo e por isso são
as restrições a direitos individuais não qual a ação mais adequada, adotando contratados entre as partes interessadas,
devem ser excessivas e desnecessárias, de uma solução previamente estabelecida, como o transporte de estudantes,
modo a não configurar abuso de poder. sem qualquer possibilidade de opção. trabalhadores e turistas, mediante a
A polícia administrativa encontra-se No entanto, o excesso se manifesta na emissão de lista de passageiros fechada.
definida no art. 78 do Código Tributário intensidade da medida tomada em Segundo dados relativos a 2015, no Rio
Nacional, uma vez que, uma das formas determinada situação contra o particular, Grande do Sul, o transporte coletivo
de contraprestação da atividade de polícia ou quanto à extensão da medida que intermunicipal regular de passageiros
administrativa, porém não a única, se dá foi maior do que o necessário obtendo atende cerca de 51,6 milhões de
através da cobrança de taxas, conforme resultados indesejáveis. Portanto, a passageiros ao ano e 189 empresas são
disposto no art. 145, II, da CF e art. 77 do proporcionalidade dos meios para responsáveis pela circulação de 3.000
referido Código. Todavia, na obra de Maria atingir os fins equivale a não ir além veículos, com idade média de 11 anos.
Sylvia Zanella Di Pietro, a doutrinadora da finalidade, produzindo a eficácia da São efetuadas mais de 1,5 milhões de
menciona que o parágrafo único do artigo medida que deva ser mais adequada viagens durante o ano, somando um
78 do Código Tributário Nacional trata dos para impedir um dano à coletividade. total de 191 milhões de quilômetros
limites da lei aplicável, com observância Portanto, devido à imposição percorridos. O setor de transportes é
do processo legal, sem abuso ou desvio de constitucional (art. 5º, LIV, da CF), tratar da responsável por uma renda em torno de
poder, apesar da discricionariedade. atuação estatal potencialmente restritiva R$725 milhões, o que representa 0,3%

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 41


• 33 linhas semelhantes às
do PIB gaúcho. Conforme 4 TRANSPORTE
urbanas (suburbana interior);
levantamento efetuado pela Secretaria RODOVIÁRIO DE CARGAS
de Transportes, em 2001, o Sistema de • 325 estações rodoviárias;
Transporte Intermunicipal mantém • 17 postos de venda de
cerca de 60.000 empregos (diretos e passagens permanentes e 12 postos de
indiretos), com investimento de US$20 venda temporários (Plano Verão). O transporte rodoviário possui
milhões ao ano em frota, garagens, Oferecer transporte coletivo é grande representatividade no segmento
treinamento, sendo aproximadamente dever do Estado, todavia, essa tarefa é de cargas, uma vez que está relacionado
prata da casa

US$ 200 milhões o valor imobilizado no concedida a terceiros e executada por ao baixo custo inicial de implantação,
setor (patrimônio). No transporte especial empresas privadas que são operadoras grande flexibilidade e integração
existem 3.072 empresas cadastradas, do Sistema de Transporte Coletivo nacional, devido à extensão da malha
operando serviços de fretamento e Intermunicipal de Passageiros de rodoviária e a confiabilidade nos prazo de
turismo, possuindo uma frota de 8.600 Longo Curso, fiscalizado pelo Governo entrega de mercadorias. Todavia, a busca
veículos, com idade média de 13 anos. do Estado, através do Departamento por redução de custos e a constante
Além disso, a Equipe de Autônomo de Estradas de Rodagem otimização do transporte, faz com que
Planejamento de Linhas emite de 850 (DAER). Desta forma, as linhas oferecidas as empresas alterem a configuração da
a mil Ordens de Serviços, documentos para transporte de passageiros no frota, aumentando, assim, a capacidade
através dos quais, permitem que seja Estado do Rio Grande do Sul propiciam de carga dos veículos. Esta situação
autorizada a implantação ou modificação acesso equânime aos usuários, para acentua o desgaste nas rodovias, uma
dos serviços em determinadas linhas, a tanto, cabe ao Departamento gerenciar vez que compromete a durabilidade
fim de adequá-los às necessidades dos e coordenar essas atividades, inclusive dos pavimentos e das obras de arte
usuários. Da mesma forma, são fornecidas no que tange a política tarifária. Por isso, especiais, tais como pontes e viadutos,
autorizações para operações especiais é responsável pelo cálculo das tarifas, além de interferir diretamente na fluidez
programadas pelas empresas. Essas zelando pelo equilíbrio econômico e na segurança do tráfego pela limitação
operações são executadas em datas financeiro do sistema, visando garantir de velocidade e das possibilidades de
específicas, a fim de atender alterações do controle, bem como, a observância ultrapassagem vinculadas à presença
que advenham de demandas que possam à legislação vigente. Nesse contexto, destes veículos.
ocorrer em função de feriados e eventos o combate à clandestinidade de O Poder Público do Rio Grande
regionais. A gestão do transporte coletivo transporte de passageiros, merece uma do Sul atua nesta área através do
rodoviário intermunicipal é feita pelo fiscalização redobrada, pois os usuários Departamento de Autônomo de Estradas
Departamento Autônomo de Estradas incautos, visando, apenas o baixo de Rodagem e o Comando Rodoviário
de Rodagem, criado a partir da Lei custo, ficam a mercê da precariedade da Brigada Militar, através de fiscalização
Estadual nº 750 de 11 de agosto de 1937 da condução oferecida, sem qualquer do transporte desde o condutor do
e vinculado à Secretaria dos Transportes, garantia de segurança ou qualidade veículo, passando pelo transportador
órgão responsável pelas políticas setoriais de serviços. O transporte pirata de e o embarcador. Dessa forma, o
desse segmento do Estado. Outrossim, passageiros não contempla pagamento embarcador é responsável pela infração
além de gestor, o DAER tem também de impostos, obediência à legislação quando for único e o peso declarado no
a atribuição de Poder Concedente trabalhista, tampouco, preocupa-se documento fiscal for inferior ao aferido,
dos contratos de concessão das linhas com superlotação, uma vez que retira conforme descrito no Código Brasileiro
regulares e estações rodoviárias. passageiros do Sistema nos horários de de Trânsito. Neste caso, o transportador
O Sistema de Transporte Coletivo maior demanda. teria aprovado, de boa-fé, a declaração
Rodoviário Intermunicipal constitui-se de A constante manutenção do Sistema, falsa. Contudo, se o peso declarado for
(dados de 2015): contínuas avaliações e fiscalização, em superior ao limite legal (sem tolerância), o
certa medida, são ações que demonstram transportador e embarcador respondem
• 1255 linhas regulares e 383 a importância econômica e a função solidariamente pela multa.
secções; social que esse seguimento do Estado Nesse sentido, a Resolução 258/07
• 195 linhas temporárias (Plano possui, proporcionando aos usuários tornou mais rigorosa as normas de
Verão); bem-estar e segurança no que tange o controle de peso por eixo, uma vez que,
transporte coletivo intermunicipal. fixou em 5% a tolerância tanto no peso

42 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


bruto quanto no peso por eixo, manteve o veículo à pesagem, nos pontos fixos para 110 homens, com a formatura da 4ª
a tolerância de 7,5% nos eixos por um ou móveis, receberá multa e retornará, Turma de Guardas Rodoviários, possuíam
período de transição; exigiu o uso da obrigatoriamente, ao ponto de evasão três caminhonetes da marca DKW e
tolerância na verificação por meio de para a pesagem. Nesse caso, além das três veículos da marca JEEP. Em 1968, o
documento fiscal, de acordo com o penalidades previstas nos art. 210 e 278, número existente de policiais rodoviários
Código de Trânsito Brasileiro; flexibilizou do CTB, o motorista comete uma infração era de 132 homens, sendo que 112
a verificação por meio de documento penal, segundo o art. 330 do Código estavam presentes nos 17 destacamentos
fiscal, que, na impossibilidade da Penal Brasileiro. da Polícia Rodoviária, distribuídos nas
balança, pode ser feita a qualquer tempo localidades de: Rincão do Cascalho,
e em qualquer local; reafirmou que a Gravataí, Viamão, Guaíba, Montenegro,
tolerância não pode ser incorporada aos Cachoeira do Sul, Santa Cruz do Sul, Cruz
limites legais e regulamentou a multa
5 POLICIAMENTO DE Alta, Passo Fundo, Farroupilha, Pelotas,
por exceder a Capacidade Máxima de
TRÂNSITO RODOVIÁRIO NO Santa Maria, Santa Rosa, Estrela, Santo
Tração. Tanto o transportador quanto o
ESTADO DO RIO GRANDE DO Antônio da Patrulha, Taquara e Bagé.
embarcador entendem que para manter SUL A Brigada Militar incorpora a Polícia
a malha rodoviária em condições é Rodoviária do DAER, sendo criada a
preciso controlar o peso dos veículos de Companhia de Policiamento Rodoviário,
transporte de cargas, contudo resistem A Polícia Rodoviária do DAER entra com sede em Viamão. Nesse contexto,
ao controle de peso por eixo, ou do entre em funcionamento em 1º de janeiro do a Polícia Rodoviária Estadual cresceu
eixos. ano de 1951, com a função precípua de juntamente com a rede viária do Estado
Conforme dados estatísticos, a cada policiamento e auxílio aos usuários das e o número de usuários das rodovias,
1% de excesso de peso num eixo isolado, estradas estaduais do Rio Grande do Sul. prestando cooperação técnica às
resulta no aumento de 4,32% no desgaste O corpo policial possuía um efetivo de atividades do DAER. Além da fiscalização
do pavimento, portanto, uma rodovia 36 homens, comandados por um major e das rodovias estaduais e da orientação do
projetada e construída para durar dez auxiliado por dois tenentes, tendo como tráfego, os patrulheiros levavam ao DAER,
anos tem sua vida útil reduzida para equipamento disponível incluía: cinco dados estatísticos importantes para a
pouco mais de oito anos com sobrecarga veículos da marca JEEP, sete motocicletas, prevenção de acidentes. No ano de 1973,
de 5%; com sobrecarga de 7,5%, a vida da marca SUEDEN, de dois cilindros e 200 a Companhia de Policiamento Rodoviário
útil seria de pouco mais de sete anos; e cm de cilindrada, podendo alcançar a estabeleceu plano de prioridades para
com 20% de sobrecarga, a vida útil cairia velocidade máxima de 180 km/h, além propiciar a realização do objetivo de
para 4 anos e meio. disso, o comando dispunha de uma garantir segurança no trânsito. Em 1981,
Estradas danificadas com caminhonete da marca DODGE. houve a necessidade de reestruturar
deformações, enrugamento do asfalto, Não obstante, o número reduzido a unidade, dando-lhe a formação de
fissuras (rachaduras) e rupturas (buracos) de policiais, os mesmos fiscalizavam as Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv), o
prejudicam as estruturas dos veículos estradas de acesso às praias, estando qual permaneceu até o ano de 2004. A
e retardam as viagens, além disso, instalados em quatro postos da rodovia partir de então, em dezembro de 2004,
aumentam o desgaste das peças do nos trechos que abrangiam Gravataí- criou-se o Comando Rodoviário da
veículo e perturbam o fluxo de tráfego, Osório-Tramandaí e um posto no Morro Brigada Militar - CRBM do Rio Grande
resultando em acidentes e mortes. Alto, no entroncamento da rodovia que do Sul, encarregado da execução das
A fiscalização dos limites de peso permitia acesso a Capão da Canoa com atividades de polícia ostensiva nas
e dimensões é feita ao longo das vias BR-59. O posto nº 1 estava instalado no rodovias estaduais (art. 22-A, § 1º, Dec.
públicas; o excesso de peso é aferido km 31, à saída de Gravataí, o posto nº 2, Nº 42.871/04), em conformidade com as
por equipamento de pesagem ou na entrada de Santo Antônio, o posto nº competências da estrutura organizacional
pela verificação de documento fiscal, 3, na saída de Santo Antônio, o posto nº interna (Lei 10.991/97).
na forma estabelecida pelo COTRAN, 4, no Morro Alto, e o posto nº 5, ficava DAER e CRBM tornam-se partícipes
estabelecendo metodologia e na entrada de Tramandaí, no km 131. de um Convênio com duração de
periodicidade para aferição. De acordo Em 1957, a Polícia Rodoviária do DAER sessenta meses, na forma do art. 116
com o art. 99 § 3º do CTB, o condutor que contava com um efetivo de noventa da Lei Federal nº 8.666/93, adotando-
se evadir da fiscalização e não submeter homens, número que foi aumentado se os procedimentos do art. 20 da IN

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 43


CAGE nº 01/2006. O DAER – Autarquia Estadual integrante da automaticamente e de forma continuada até satisfação da
Administração Indireta (CERS/90. Art. 21), sob fundamento exigência descrita na lei.
legal do Art. 25 da Lei nº 9.503/97, Código de Trânsito Brasileiro, O CRBM tem ainda a função de coibir e reprimir atos
vinculada à Secretaria dos Transportes, criada pela Lei nº 750/37 criminosos como, posse e porte ilegais de armas, ocorrências
e reorganizada pela Lei nº 11.090/98, como entidade responsável com drogas, veículos furtados/roubados e captura de foragidos
pela gestão do transporte rodoviário do Estado do Rio Grande da justiça, a fim de manter a ordem e segurança de todos.
do Sul – delega à Brigada Militar, órgão da Administração
Direta, execução das atribuições nos termos do art. 23 da Lei 6 CONCLUSÃO
prata da casa

nº 9.503,97 (CTB), tendo em vista o interesse e a conveniência A polícia administrativa tem a incumbência de regular e
administrativa. No desempenho das atribuições delegadas, os orientar a conduta dos particulares, todavia, a existência da
militares estaduais, subordinados ao CRBM, denominam-se de liberdade individual e da restrição estatal estão relacionadas
agentes de trânsito por delegação. Não obstante, a competência à necessidade de respeitar essa liberdade e garantir a ordem
para julgar a consistência dos autos de infração de trânsito e social. O fundamento principal é a predominância do interesse
aplicar a penalidade cabível, nos moldes do art. 281 do Código público sobre o particular, com esse propósito, o DAER cumpre
de Trânsito Brasileiro, permanecerá do Diretor-Geral do DAER, a função fiscalizatória junto aos transportadores de cargas,
a quem competirá exercer o poder jurisdicional de autoridade aos veículos de transporte intermunicipal de passageiros, bem
de trânsito, em obediência ao disposto no art. 16, inciso II, do como, conveniado ao Comando Rodoviário da Brigada Militar. A
Decreto Estadual nº 47.199/2010. prevenção de atos prejudiciais a terceiros ou ações criminosas
As multas são a modalidade sancionadora mais comum; estão sujeitos às sanções estatais que são puníveis através
visa, coercitivamente, limitar ações que sejam contra a lei e de multas ou intervenções policiais, diante disso, assegurar a
ressarcir à Administração Pública por prejuízos causados por trafegabilidade de milhões de usuários e preservar a malha
ação ou inação causada pelo administrado. Podem se renovar rodoviária são os principais objetivos do DAER.

REFERÊNCIAS JESUS, FELIPE G. DE; FONTENELE, HELIANA B., Excesso de Peso nos

BOLETIM DO DAER. POLÍCIA RODOVIÁRIA DO DAER. ANO XVI Nº 61. Veículos Rodoviários de Carga e seu Efeito no Fator de Equivalência de
Dezembro/1953. Carga. Revista de Engenharia e Tecnologia. V.6, Nº 3. Dez/2014

BOLETIM DO DAER. PONTE SOBRE O RIO PARDO. ANO XX. Nº 76/77, MAFFINI, RAFAEL. Direito Administrativo. 3ª ed. rev., São Paulo: Editora
Setembro-Dezembro/1967. Revista dos Tribunais, 2009.

CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL. 15ª ed., São Paulo: Editora Rideel, MELLO, CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE. Curso de Direito Administrativo.
2014,. 25ª edição, São Paulo: Malheiros Editores. 2007.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. 15ª ed., São
Paulo: Editora Rideel, 2014. MISSIO, EUDES ANTIDIS. Fiscalização, Garantia de Segurança e
Satisfação para o Passageiro. Revista das Estações Rodoviárias, Gênese
DI PIETRO, MARIA SYLVIA ZANELLA. Direito Administrativo. 18ª ed. São Artes Gráficas.
Paulo: Atlas, 2005. .
OLIVEIRA, SÔNIA MARIA BORTOLUZZI DE. Transporte Coletivo
GODOY, VALDEMAR DE. MACHADO VILSON VITÓRIA. O Excesso de Peso Rodoviário Intermunicipal no Rio Grande do Sul. Revista Estradas, ano
Rodoviário – Manual Prático do Transporte Rodoviário de Cargas. Pesos 6, RS, nov. 2007.
– Dimensões e Configurações Técnicas. 2ª ed., Canoas, 2010.
REVISTA RODOVIÁRIA. ANO 3, Nº 11, 1974.
JÚNIOR, JOSÉ CRETELLA. Direito Administrativo do Brasil. Poder de
Polícia. Vol. V. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1961. www.crbm.bm.rs.gov.br/historico. Acesso em: 20/10/2015.

44 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


AVALIAÇÃO DA
INSERÇÃO DE
Roberta Centofante
Professora - pesquisadora – URI – RS
Luciano P. Specht
Professor - pesquisador – UFSM – RS.
Rinaldo J. B. Pinheiro MATERIAL FRESADO EM
MISTURAS ASFÁLTICAS
Professor - pesquisador – UFSM – RS.

artigos
Deividi da Silva Pereira
Professor - pesquisador – UFSM– RS.
Tatiana Cureau Cervo
Professora - pesquisadora– UFSM – RS. RECICLADAS A QUENTE
Fabio Hirsch
Engenheiro Civil – Triunfo Concepa – RS.
Fernanda Dresch
Professora - pesquisadora – Unicruz – RS.

1. INTRODUÇÃO A principal preocupação com o aumento das percentagens


admissíveis de RAP no asfalto em mistura quente refere-se à
O pavimento asfáltico representa uma estrutura de presença de materiais envelhecidos, os quais podem fragilizar a
múltiplas camadas de espessuras finitas formado, de maneira mistura e diminuir a sua resistência (Moreira et al., 2003; Daniel e
geral, por revestimento asfáltico, base, sub-base e reforço do Lachance, 2005; Mensching et al., 2014).
subleito, onde o revestimento tem como principal função Apesar de o uso de RAP em misturas a quente ter se tornado
resistir, de forma direta, aos esforços oriundos do tráfego, além uma prática comum nas últimas décadas, em países europeus
de impermeabilizar o pavimento e melhorar as condições de e nos Estados Unidos, com quase todas as misturas contendo
rolamento (Yoder e Witczak, 1975; Papagiannakis e Massad, 2008; alguma porcentagem do material reciclado. Porém, muitas
Bernucci et al., 2010). agências de transportes norte-americanas têm relutado em
A busca por alternativas favoráveis ambientalmente tem permitir que se use mais de 10 a 20% de RAP. Uma das principais
dado vazão ao surgimento de diversos métodos de reciclagem razões para essa relutância é devido às preocupações de que as
de pavimentos, por serem alternativas economicamente viáveis misturas resultantes serão muito rígidas e, consequentemente,
e utilizarem-se de técnicas politicamente corretas. Atualmente, menos trabalháveis, difíceis de compactar e, ainda, que podem
muitos países se empregam técnicas de reciclagem como levar a misturas propensas a falhas em campo (Vasconcelos e
forma de agregar valor à execução e à manutenção da vida útil Soares, 2004; Daniel et al., 2010; Mogawer et al., 2010, Bressi et
dos pavimentos. Assim, tendo em vista a redução de custos e al., 2015; Mohajeri et al., 2015; Rowe et al., 2015).
manutenção e, ainda, visando o aumento de sua vida útil, aliado Neste contexto, este trabalho tem por objetivo a avaliação
à questão ambiental, inúmeras tecnologias de reciclagem de laboratorial da técnica da reciclagem a quente em misturas
pavimento estão sendo testadas e aplicadas (Fonseca et al., 2013; asfálticas no que tange às propriedades mecânicas e de adesão/
Bressi et al., 2015; Mohajeri et al., 2015; Rowe et al., 2015; Zubaran coesão, a fim de verificar a pertinência de seu emprego na
e Motta, 2015; Pires et al., 2016). substituição de material granular virgem por RAP em diferentes
A reutilização de materiais reciclados em camadas de porcentagens, visando sua aplicação em camadas de pavimento.
pavimento, como o fresado em camadas novas, consiste na
aplicação desse resíduo a fim de obter uma redução no valor 2 RECICLAGEM DE PAVIMENTOS
econômico, no consumo de materiais novos, aumentado a
capacidade de carga, e proteger o meio ambiente. O impacto dos Reciclar pavimentos consiste no processo de reutilizar as
materiais de pavimentação de asfaltos recuperados (Reclaimed camadas envelhecidas e deterioradas de um pavimento para
Asphalt Pavement - RAP) no desempenho de um pavimento a produção de novas misturas, onde é possível aproveitar os
consiste em um importante tópico de estudo na indústria, agregados e ligantes remanescentes, provenientes da fresagem,
devido, principalmente, aos benefícios ambientais e de custo. com acréscimo de agente rejuvenescedor, espuma de asfalto,

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 45


CAP (Cimento Asfáltico de Petróleo) ou emulsão novos, se drum mixer convencionais, pois o contato do RAP com a chama
necessários. do tambor, que tem por finalidade gerar calor para secagem dos
A reciclagem de pavimentos consiste em uma solução para agregados virgens que serão incorporados na mistura, irá resultar
alguns problemas encontrados nos grandes centros urbanos e, em queima do ligante envelhecido que está aderido ao material.
ainda, oferece inúmeras vantagens em relação à utilização de Essa queima resulta na produção da chamada fumaça azul, que
materiais virgens convencionais. O surgimento da reciclagem dos acaba prejudicando o funcionamento do sistema (ARRA, 1997;
materiais na pavimentação corresponde à necessidade de proteger Lima, 2003; DNIT, 2006).
o meio ambiente, economizando em materiais provenientes de É possível observar um interesse crescente na produção
recursos naturais, espaços físicos, energia e redução de gases do de misturas asfálticas recicladas com propriedades similares
efeito estufa (DNIT, 2006; Brosseaud, 2011). aos materiais feitos de componentes 100% virgens. Além de ser
artigos

Há uma grande quantidade de técnicas de reciclagem as quais economicamente viável devido aos crescentes custos com CAP e,
se pode utilizar material asfáltico fresado, onde o desenvolvimento ainda, desencadeada pela crescente consciência com a produção
da reciclagem é muito variável de um país para outro, ou mesmo de materiais de pavimentos rodoviários sustentáveis. Na Europa, é
de região para região. Nos Estados Unidos, os materiais mais permitida a quantidade de RAP regulada por normas nacionais. Por
reciclados são as misturas asfálticas, sendo mais de 80 milhões exemplo, na Suíça, a adição de pavimento asfáltico recuperado em
de toneladas por ano. No Brasil, a técnica da reciclagem dos misturas asfálticas a quente é uma prática comum, onde a norma
pavimentos começou a ganhar destaque apenas no início de permite a utilização de um máximo de 70% de RAP em camadas de
1990, os quais relatam indícios de reciclagem a quente in situ do sub-base e 60% na base (Bressi et al., 2015, Bueche et al., 2015).
revestimento na rodovia Dutra, ganhando impulso a partir dos As misturas asfálticas recicladas a quente contendo elevadas
programas de concessão de rodovias, os quais já haviam sido porcentagens de RAP são cada vez mais comuns, sendo produzidas
iniciados em 1996. Assim, a partir disto, várias concessionárias têm em tambor misturador ligado em paralelo, pré-aquecendo o
utilizado esta técnica para recuperar segmentos de malha que RAP, ou por meio de cilindro de tambor duplo, o qual aquece os
necessitam de acréscimos na sua capacidade estrutural (Trichês et agregados virgens e, em seguida, mistura com RAP à temperatura
al., 2010; Brosseaud, 2011). ambiente. Em Portugal, os estudos e obras efetuados com material
A restauração de pavimentos utilizando a técnica de reciclado são desenvolvidos utilizando uma taxa de até 40% deste
reciclagem consiste em um método bastante promissor quando a agregado recuperado. A prática mais comum, nos Países Baixos, são
superfície reciclada apresenta grau de trincamento acentuado, o as misturas com 50% de material reciclado, onde não é incomum
qual possa ser conduzido ao problema de reflexão de trincas nas pré-aquecer os agregados virgens a 320°C para obter uma
camadas sobrejacentes ou, ainda, que exija espessuras elevadas de temperatura de mistura, no tambor duplo, de 160°C (Bento, 2010;
recapeamento. Além disso, é importante ressaltar que, desde que a Mohajeri et al., 2015).
reciclagem tenha sido considerada a alternativa mais viável para a
restauração, deve ser escolhida a melhor modalidade: a quente ou
a frio (Suzuki et al. 2004; DNIT, 2006). 3 METODOLOGIA
O processo de reciclagem a quente consiste em recuperar
materiais de pavimentação, no qual o pavimento asfáltico existente A partir dos ensaios laboratoriais é possível avaliar a técnica
é removido por intermédio de um equipamento fresador para da reciclagem a quente com relação às propriedades que se
produzir misturas de asfalto, as quais diferem de acordo com a deseja analisar. Foi realizada a análise de rigidez através do
temperatura em que ocorrerá o processo, ou seja, sob condições ensaio de Módulo de Resiliência, bem como a resistência através
de aquecimento dos materiais. As técnicas de reciclagem a quente do ensaio de Resistência à Tração. A verificação da deformação
podem ser classificadas de acordo com o local onde irá acontecer a permanente foi avaliada através do ensaio de Flow Number. Já,
mistura dos materiais: no próprio local onde está sendo executada a adesividade e coesão das misturas foram analisadas através
a obra (in situ) ou através de uma usina estacionária. A reciclagem dos ensaios de Lottman Modificado e Desgaste Cântabro,
a quente no local consiste de um método no qual o pavimento respectivamente.
existente é aquecido e amolecido e, em seguida, escarificado/ Este estudo trata da análise laboratorial das propriedades
moído até uma profundidade especificada. O tipo de usina mais mecânicas e de adesão/coesão de misturas asfálticas recicladas a
empregado para o processo é a drum mixer e o produto final deve quente, tendo por objetivo a análise dos resultados das misturas
atender às especificações de misturas asfálticas a serem aplicadas com adição de fresado nas proporções de 10%, 20% e 30%,
nas camadas desejadas, seja base, binder ou de rolamento. No comparados a uma mistura de referência, a qual não apresenta
entanto, o material fresado não pode ser processado em usinas material reciclado na sua composição.

46 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


Os materiais utilizados nesta pesquisa são aqueles Figura 1 – Composição granulométrica das misturas utilizadas na
convencionalmente utilizados em obras e empreendimentos pesquisa
rodoviários, além dos agregados reciclados, provenientes
de processo de fresagem do pavimento asfáltico da BR 392,
em trecho localizado entre os municípios de Santa Maria/RS
e São Sepé/RS, os quais foram utilizados em substituição ao
agregado virgem. Foram realizados ensaios de granulometria
e, ainda, extração de betume através do ensaio de centrífuga
Rotarex (DNER-ME 053/1994), o qual obteve teor médio de
ligante de 6,76%, e massa específica de 2,367 g/cm³, obtida
através da metodologia Rice (ABNT NBR 15619/2012).
Os agregados virgens utilizados nas misturas foram
obtidos através de processo de britagem e coletados O projeto de mistura desta pesquisa foi executado de acordo
diretamente nas unidades de produção, os quais foram com os procedimentos determinados para dosagem Superpave,
fornecidos pela empresa Della Pasqua Engenharia e seguindo os preceitos da norma da AASHTO M 323-13, considerando
Construção LTDA. Foram utilizadas frações de agregados 3/4”, o agregado reciclado como black rock, aplicando os critérios de
3/8” e pó-de-pedra de origem de rochas vulcânicas ácidas, projeto nível 1 (critério volumétrico), o qual depende do tráfego, com
com valores de abrasão Los Angeles de 14,35% seguindo a valores limite de tráfego (número N), e da importância da rodovia,
norma DNER-ME 035/98, sanidade da brita 3/4” de 2,86% e da conforme Bernucci et al. (2010). Através da curva volume de vazios x
brita 3/8” de 0,19% através da DNER-ME 089/94 e equivalente ligante, foi possível determinar, para cada uma das misturas, o teor de
de areia de 80,04%, de acordo com a norma DNER-ME 054/97. ligante correspondente ao Vv de 4%, com esforço de compactação
O ligante asfáltico utilizado foi o CAP 50/70, fornecido de projeto baseado no numero de giros de projeto (Nprojeto), o
também pela empresa Della Pasqua Engenharia e Construção qual corresponde a um número de giros igual a 100, utilizado nesta
LTDA. pesquisa, que representa um tráfego equivalente à carga de eixo
As misturas foram designadas em mistura de Concreto simples entre 3x106 e 3x107 (AASHTO), considerado em vias de
Asfáltico de Referência (CAref ), CA com adição de 10% de tráfego médio a pesado.
material fresado (CAF10), CA com adição de 20% de fresado
(CAF20) e CA com 30% de fresado (CAF30). Foram realizadas 3.1 Módulo de Resiliência
as dosagens através da metodologia Superpave das amostras,
para posterior escolha do teor de projeto de ligante para O ensaio de módulo de resiliência (MR) executado nas misturas
cada uma das misturas analisadas. asfálticas desta pesquisa foi realizado de acordo com as prescrições
No ajuste granulométrico buscou-se uma mistura das normas do DNIT-ME 135/2010. Através deste ensaio é possível
que estivesse enquadrada nos limites prescritos para a Faixa avaliar a propriedade de rigidez cosiderando o material puramente
C da norma DNIT 031/2006-ES, sendo que, depois de tomada elástico, da forma como se utiliza na prática corrente brasileira. O
uma mistura de referência contendo apenas materiais equipamento utilizado foi a Universal Test Machine (UTM) da IPC
virgens, o proporcionamento dos agregados foi realizado Global. O ensaio tem como intuito determinar a capacidade que
utilizando-se o método tradicional de tentativas. A partir um corpo elástico tem de armazenar energia quando solicitado a
da mistura de referência, foram aplicadas as sugestões do um carregamento e, após, retornar ao seu estado inicial. Consiste,
método Bailey para proporcionamento dos componentes, basicamente, em aplicar uma carga repetidamente no plano
detalhado por Mendes e Marques (2012), obtendo-se, assim, diametral em amostras cilíndricas regulares com dimensões 10 x
uma mistura que se enquadrasse nos parâmetros do método, 6,5 cm e Vv de 4% (±1). Tal carga gera uma tensão na qual mede-
bem como dentro dos limites exigidos pela especificação se o deslocamento diametral recuperável na direção horizontal
da Faixa C do DNIT. O mesmo foi realizado para as misturas correspondente à tensão aplicada, na temperatura de 25°C. Cada
contendo material fresado, sendo que, primeiramente, foi amostra foi ensaiada em três frequências de carregamento: 5 Hz, 10
estipulada e fixada a porcentagem deste material reciclado Hz e 25 Hz, sendo que o coeficiente de Poisson utilizado foi de 0,30.
e, após, seguindo o método de tentativas, foi realizado o Apesar de, tradicionalmente, este ensaio ser executado na frequência
enquadramento das misturas respeitando os dois parâmetros de 1 Hz, a norma do DNIT-ME 135/2010 possibilita a realização do
citados, resultando em misturas de curva granulométrica ensaio em variadas frequências e temperaturas, permitindo que se
apresentadas na Figura 1. analise a rigidez da mistura em diferentes situações.

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 47


3.2 Resistência à Tração temperatura de equilíbrio de 25°C quando são submetidas ao ensaio
de resistência à tração (RT’). Outro conjunto similar de amostras,
O ensaio para avaliar a resistência à tração por compressão não submetidas ao processo de saturação e congelamento, são
diametral (RTCD ou RT) foi realizado utilizando-se as mesmas igualmente submetidas ao ensaio de RT à temperatura de 25°C.
amostras do ensaio de MR. As amostras foram condicionadas por um A relação entre RT’/RT indica a perda de resistência por umidade
período de 12 horas antes da realização do ensaio, sendo realizado induzida ou resistência retida à tração (RRT). Essa relação deve ser
apenas à temperatura de 25°C. A norma que prescreve as orientações maior ou igual a 0,70, ou seja, a perda deve ser inferior a 30%.
utilizadas para a determinação da RT foi a norma do DNIT 136/2010.
O ensaio consiste em aplicação de uma carga estática de compressão
com velocidade de 0,8 mm/s, distribuída ao longo de duas geratrizes 3.5 Desgaste Cântabro
artigos

opostas, a fim de se obter as tensões de tração através do diâmetro


horizontal, perpendicular à carga, onde a medida resultante é a Para o ensaio de perda de massa, o qual mediu a resistência
resistência à tração, que representa uma inferência à fadiga. ao desgaste ou abrasão das misturas asfálticas, foi realizado o
ensaio de Desgaste Cântabro. Este ensaio consiste na análise das
3.3 Flow Number amostras submetidas ao aparelho e abrasão Los Angeles, sem esferas
metálicas, à 300 revoluções, onde, apesar de sua concepção estar
O ensaio de Flow Number (FN), realizado de acordo com a relacionada para pavimentos drenantes, o ensaio pode ser estendido
AASHTO TP 79-12 e a ABNT NBR 16505/2016, consiste basicamente para outros tipos de misturas asfálticas, normatizados através da
em um teste de desempenho simples de misturas de concreto ABNT NBR 15140/2004. O desgaste máximo admitido é de 25%
asfáltico para avaliação da resistência à deformação permanente com para misturas asfálticas porosas. Para o ensaio de perda de massa
base em cargas repetidas. Neste teste, a amostra é, primeiramente, cântabro foram moldadas amostras com volume de vazios de 4%
condicionada para temperatura específica, e submetida a um (±1%) e ensaiadas após condicionamento de 12 horas a 25°C.
carregamento repetido axial com pulso de carga de compressão. O
FN é definido como o número de ciclos de carga correspondente à
taxa mínima de mudança de tensão permanente. 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para a realização deste ensaio, foram utilizadas amostras
contendo volume de vazios de 7% (±0,5%), com dimensões de 10 x 4.1 Parâmetros volumétricos
15 cm. As amostras foram condicionadas a 60°C por um período de
5 horas. As deformações acumuladas foram obtidas em função do Foram utilizadas, para a determinação dos teores de ligante
número de ciclos, e a tensão aplicada em cada ciclo do ensaio foi de de projeto, no procedimento de dosagem, três amostras para cada
204 kPa no período de 0,1 s e de 10,2 kPa durante os 0,9 s de repouso, teor de ligante. Com esses valores, foi possível determinar cada um
que representa o descanso com uma carga equivalente a 5% da dos teores de projeto, os quais estão apresentados na Tabela 1, bem
carga aplicada. O FN corresponde à mudança de comportamento como os resultados dos parâmetros volumétricos de cada mistura,
do material (de secundário, taxa de deformação praticamente com Vv de 4%. É possível verificar uma importante economia no teor
constante para terciário, taxa de deformação crescente) indicando a de ligante adicionado, visto que, quanto maior a porcentagem de
incapacidade do material a resistir ao carregamento imposto. fresado existente na mistura, e, consequentemente, maior a taxa de
ligante antigo, menor a porcentagem de ligante novo necessário.
Esta redução variou de 12,9% a 35,7% para mistura com 10% e 30%,
3.4 Lottman Modificado
respectivamente.
Tabela 1 – Resultados volumétricos das dosagens Superpave das misturas
A avaliação da durabilidade do material ou da perda de
asfálticas
adesão se deu através da metodologia para o caso do dano por
umidade induzida, Ensaio de Lottman Modificado normalizado
pela AASHTO T 283 e ABNT NBR 15617/2011, em que amostras
compactadas cilíndricas de misturas asfálticas com volume de vazios
preestabelecidos (7%, ±1%) são parcialmente saturadas com água e
submetidas à temperatura de -18°C para congelamento, simulando,
com isso, a presença de água na mistura e induzindo tensões
Nota: VAM = Volume de vazios do agregado mineral; RBV = Relação
internas. As amostras descongeladas, aquecida a 60°C e depois à Betume Vazios

48 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


4.2 Módulo de Resiliência quanto a fadiga, que não está no escopo deste trabalho.
Em trabalho laboratorial, com relação ao aumento da
Na Tabela 2 e na Figura 2 são apresentados os valores de MR rigidez proporcionado pelo fresado, Segundo et al. também
para cada uma das misturas, em todas as frequências ensaiadas e encontraram a mesma lógica de tendência de aumento com a
temperatura de 25°C, sendo que os resultados apresentados são inserção do fresado.
formados pela média de três amostras ensaiadas nas mesmas É importante ressaltar ainda que, devido à grande
condições, com seus respectivos desvios-padrões (DP). Foi heterogeneidade do material fresado, as misturas CAF10
possível verificar que os maiores valores de rigidez são aqueles e CAF20 não seguiram exatamente o padrão, sendo que a
onde a frequência aplicada foi a mais alta (25 Hz), confirmando a CAF20 deveria apresentar maior rigidez quando comparada
natureza viscoelástica do material analisado. com a CAF10, o que pode ser observado através da Figura 2,
onde a CAF10 apresenta, levemente, maior rigidez.
Tabela 2 – Resultados de MR à temperatura de 25°C

4.3 Resistência à Tração

A Tabela 3 apresenta as médias dos resultados de RT à


25°C e dados da relação MR/RT. É possível verificar que os
valores de resistência aumentam conforme se eleva o teor de
FIGURA 2 – RESULTADOS DE MR A 25°C EM FUNÇÃO DA FREQUÊNCIA fresado na mistura, o que também é possível verificar através
DE CARREGAMENTO da Figura 3. Além disso, observa-se que os resultados de RT
estão de acordo com o limite imposto pelo DNIT 031/2006
para CA, o qual recomenda que o valor mínimo seja de 0,65
MPa. Os resultados são bastante positivos, todavia uma
análise acerca do comportamento à fadiga será necessária
no futuro. Ao se analisar a relação MR/RT, utilizando dados
medidos de MR a 10 Hz, visto esta ser usada como possível
indicador de fadiga, uma vez que relaciona informações de
rigidez e resistência, é possível observar que esta relação
diminui sensivelmente na medida que se adiciona material
fresado. Via de regra mituras com material fresado tem
piora no desempenho à fadiga e este tema deve ser melhor
investigado.
Através dos dados é possível verificar que as misturas
apresentaram, no geral, um aumento de rigidez com quantidade
de fresado, devido, possivelmente a presença de ligante já Tabela 3 – Resultados de RT à temperatura de 25°C e relação MR/RT

envelhecido (visto que a quantidade de ligante total nas misturas


é muito próxima). Quando se analisa o comportamento das
misturas em relação às diferentes frequências, nota-se que,
independentemente do valor, a mistura CAref sempre apresenta
menor rigidez que as demais.
Se considerarmos os valores medidos a 10Hz (padrão
nacional), verificam-se valores bastante típicos de concretos
asfálticos convencionais. Sob a ótica da Mecânica de Pavimentos
o incremento de rigidez causado pela incorporação do
RAP pode ser aproveitado no projeto estrutural como uma
camada portante importante que complemente ou substitua
o revestimento ou ainda como base negra ou como mistura
asfáltica de alto módulo; neste caso é relevante a avaliação

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 49


Figura 3 – Resultados de RT a 25°C em função do teor de fresado inserção de fresado na composição das misturas.
Para tráfego médio, o valor de FN deve ser maior do que 300
ciclos, sendo que, para tráfego pesado, esse valor aumenta para
750 ciclos (NASCIMENTO, 2008). Logo, seguindo esse parâmetro,
apenas a mistura CAF30 apresenta resultado positivo quanto
à análise do número de ciclos para tráfego médio, sendo que
nenhuma delas atende ao critério de tráfego pesado.

Figura 4 – Resultado do FN em função do teor de fresado das misturas


artigos

4.4 Flow Number

O ensaio de FN avaliou a resistência frente à deformação


permanente das misturas. Na Tabela 4 estão os resultados médios
com seus respectivos desvios-padrões e coeficientes de variação
(CV). É possível certificar que os resultados de CV atenderam à
norma AASHTO T 79. De acordo com os parâmetros da norma,
o CV para duas amostras ensaiadas não deve exceder o valor de
14,1% ao atingir o FN, logo, através da análise da Tabela 4, nota-se 4.5 Lottman Modificado
que os CV’s de todas as misturas se apresentaram abaixo deste
O ensaio de Lottman Modificado avaliou a propriedade
valor, atendendo, assim, o limite imposto pela norma.
de adesividade das misturas asfálticas considerando o
Tabela 4 – Resultado do FN para as amostras e média de cada mistura efeito deletério da água. A Tabela 5 apresenta as médias dos
resultados dos ensaios de resistência à tração por compressão
diametral das amostras com e sem condicionamento (RT’ e RT,
respectivamente) bem como a RRT (Resistência Retida à Tração).

Tabela 5 – Resultados dos ensaios de efeito deletério da água e do ensaio


de perda de massa

Fica clara a influência do teor de ligante das misturas


na sua resistência à tração e, ainda, que a quantidade de
ligante envelhecido afeta diretamente esse parâmetro. O FN
aumenta conforme o teor de fresado nas misturas também
aumenta (Figura 4), onde, consequentemente, o teor de ligante
adicionado é menor. Isto é evidenciado pela quantidade de
ligante antigo presente, ou seja, à medida em que o teor de Com isso, é possível afirmar que tanto a mistura CAref,
ligante antigo é maior, a resistência à deformação permanente apenas com agregados convencionais, como as demais misturas,
da mistura também é maior, visto que o ligante envelhecido contendo agregados reciclados da pavimentação, apresentaram
apresenta maior rigidez que o ligante novo, o que reflete resultados satisfatórios quanto ao efeito deletério da ação da
diretamente no FN. Assim, de acordo com este ensaio, é possível água, sendo esse efeito tendo queda de valor conforme a adição
afirmar que o material reciclado aumenta a resistência, ao passo de material fresado em sua composição.
que a deformação permanente não é um problema quando da A Figura 5 apresenta os resultados dos ensaios de RT das

50 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


amostras com e sem condicionamento. Nota-se que, para as 4.6 Desgaste Cântabro
amostras sem condicionamento, conforme aumenta o teor de
fresado na mistura, maiores são os valores de resistência. Já para Para o ensaio de resistência ao desgaste por perda de massa
as amostras com condicionamento, as amostras da mistura de Cântabro, a Tabela 5 mostra os resultados obtidos e, através
referência CAref apresentaram valores diferenciados das demais, dos dados apresentados, pode ser observado que, conforme
estas, apresentaram valores decrescentes conforme aumento do aumenta o teor de fresado nas misturas, os valores de perda
teor de fresado na mistura. de massa, em média, também crescem, o que significa que o
Figura 5 – Resultados dos ensaios de resistência à tração do Lottman fresado aumenta a tendência ao desgaste.
Modificado A Figura 7 mostra os mesmos resultados em função do teor
de fresado. Nota-se que, para as misturas contendo material
fresado, o desvio padrão aumenta à medida que aumenta a
perda de massa das amostras. Ainda, é possível verificar que o
desgaste é maior à medida que o teor de ligante antigo é maior,
e que o inverso ocorre para o teor de ligante novo adicionado.
Além disso, o desgaste por abrasão final, realizado através
das médias dos ensaios para cada mistura, apresenta valores
individuais bastante inferiores dos 20% exigido pela norma para
misturas porosas ABNT NBR 15140/2004.

Figura 7 – Resultado do ensaio de perda de massa em função do teor de


De acordo com a metodologia Superpave AASHTO T 283, os fresado
valores de referência preconizados para RRT são aqueles acima
de 80%. Através dos resultados da Figura 6, é possível verificar
que apenas a mistura com o maior teor de fresado (CAF30) não
respeitou o limite da metodologia. Apesar de a mistura CAF20 ter
ficado 1% abaixo do recomendado pela metodologia Superpave.
A maioria dos departamentos estaduais de transportes norte-
americanos utilizam o limite de 70% (HICKS, 1991). Logo, apenas
a mistura CAF30 não atende o limite recomendado, estando
abaixo dos 70%. Além disso, é possível verificar que, à medida
em que se aumenta o teor de ligante antigo, a RRT diminui, ao
passo que, conforme a quantidade de ligante novo é adicionado,
a RRT aumenta. Ou seja, a inserção de ligante envelhecido não
é favorável à resistência retida à tração, mesmo assim, isto não
representa um problema, visto que pode ser facilmente resolvido 4 CONCLUSÕES
com adição de cal, por exemplo Boeira (2014).
Este trabalho teve como objetivo analisar, através de ensaios
Figura 6 – Resultado do ensaio de efeito deletério da água em função do laboratoriais, o comportamento do material fresado (RAP) em
teor de fresado
substituição ao agregado natural, para aplicação em obras de
construção e restauração de pavimentos flexíveis. Assim, através
da reutilização do material asfáltico oriundo da fresagem e,
aplicando as técnicas de reciclagem a quente, para os ensaios
laboratoriais, foram avaliadas em quesitos de rigidez, resistência
mecânica e nas propriedades de adesão/coesão, obedecendo as
normas vigentes, as quais este material poderá vir a ser aplicado.
Através dos resultados de dosagem é possível afirmar que a
utilização de fresado em misturas asfálticas gera uma economia
de até 35% no teor de ligante adicionado, para misturas com
adição de 30% de agregado reciclado.

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 51


No geral, na análise dos resultados de MR e RT, estes
apresentaram valores superiores, da ordem de 30% e 40%, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

respectivamente, para as misturas contendo 30% de agregado AMERICAN ASSOCIATION OF STATE HIGHWAY AND TRANSPORTATION
reciclado, quando comparados com os valores obtidos nos OFFICIALS, AASHTO TP 79-12: Determining the Dynamic Modulus and
Flow Number for HMA Using the Asphalt Mixture Performance Tester
mesmos ensaios para a mistura de referência. Acredita-se que (AMPT), Washington, D.C., 2005.
estes resultados tenham sido motivados pela presença do
AMERICAN ASSOCIATION OF STATE HIGHWAY AND TRANSPORTATION
material fresado, que, por sua vez, age elevando a resistência das OFFICIALS, AASHTO T 283: Standard Method of Test for Resistance
misturas as quais contém esse material na composição. Em um of Compacted Hot Mix Asphalt (HMA) to Moisture-Induced Damage,
Washington, D.C., 2007.
projeto de pavimento, a análise da rigidez com a resistência à
fadiga torna-se relevante. AMERICAN ASSOCIATION OF STATE HIGHWAY AND TRANSPORTATION
OFFICIALS, AASHTO M 323-12: Standard Specification for Superpave
artigos

A relação MR/RT foi utilizada como indicativo da vida de


Volumetric Mix Design, Washington, D.C., 2013.
fadiga, no entanto, tal parâmetro não elimina a necessidade do
estudo da vida de fadiga das misturas. Os valores observados ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 15140: Misturas
asfálticas – Determinação do desgaste por abrasão cântabro, Rio de
decrescem ligeiramente com adição de fresado. Janeiro, 2002.
Com relação à deformação permanente, através do FN, é
MOHAJERI, M.; MOLENAAR, A. A. A.; VAN DE VEM, M. F. C., Bleding
possível verificar que o fresado aumenta a resistência em quase Simulation of RA and Virgin Binders in Hot Recycled Mixtures. 8th
90%, com a adição de 30% deste material, comparada à mistura RILEM International Symposium on Testing and Characterization of
Sustainable and Innovative Bituminous Materials. v. 11, 2015.
de referência, funcionando com uma estratégia, principalmente
em projetos com grandes espessuras. MOREIRA, J. P. V.; PEREIRA, P.; CORREIA, A. G., Reutilização de material
fresado em camadas estruturais de pavimento. IV Congresso
No entanto a adição de fresado aumenta a perda de Rodoviário Português – Centro de Congressos do Estoril, 2003.
massa e reduz a resistência ao efeito deletério da água, não
NASCIMENTO, L.A., Nova abordagem da dosagem de misturas
chegando a nenhum limite que possa condenar as misturas,
asfálticas densas com uso do compactador giratório e foco na
podendo ser utilizada, em algum caso específico, como camada deformação permanente. Rio de Janeiro, 2008, 204 p. Dissertação
(Mestrado). Universidade Federal do Rio de Janeiro.
intermediária ou ainda se incorporando cal ou alguma aditivo.
Esta propriedade merece atenção no processo de dosagem. PAPAGIANNAKIS, A. T.; MASSAD, E. A., Pavement Design and Materials,
Portanto, é possível afirmar que o material fresado tem John Wiley & Sons, Hoboken, p. 542, 2008.

alto potencial de redução de consumo de asfalto, além de ser PIRES, G. M.; SPECHT, L. P.; PINHEIRO, R. J. B.; PEREIRA, D. S.; RENZ, E.
excelente na distribuição de tensões, visto que é um material M., Comportamento mecânico de material fresado após processo de
estabilização granulométrica e química por meio da incorporação de
mais rígido, contribuindo para o projeto estrutural do pavimento. cimento e cinza de casa de arroz moída. Revista Matéria, v. 21, n. 2. Rio
Assim, ao realizar uma análise geral dos resultados, de Janeiro, 2016.
é possível concluir que a adição de material fresado em ROWE, G. M.; BARRY, J.; CRAWFORD, K., Evaluation of a 100% Rap
misturas asfálticas tem comprovada viabilidade técnica, visto Recycling Project in Fort Wayne, Indiana, 8th RILEM International
Symposium on Testing and Characterization of Sustainable and
que os experimentos de laboratório indicaram melhora no Innovative Bituminous Materials. v. 11, 2015.
comportamento destas misturas quando comparadas a misturas
SEGUNDO, I. G. R.; CASTELO BRANCO, V. T. F.; VASCONCELLOS, K.
convencionais.
L.; HOLANDA, A. S., Misturas asfálticas recicladas a quente com
incorporação de elevado percentual de fresado como alternativa para
camada de módulo elevado. Revista Transportes, v. 24, n 4. P. 85-94,
2016. DOI: 10.14295.

SUZUKI, C.Y.; PEREIRA, A. C. O.; AZEVEDO, A. M.; DIAZ, P. H.;


AGRADECIMENTOS TUCHUMANTEL, O. J. Avaliação Estrutural de Trecho Experimental
Urbano de Pavimento Asfáltico Reciclado a Frio. 35° Reunião Anual de
Pavimentação. Rio de Janeiro, 2004.
Os autores agradecem à FAPERGS, Capes e
TRICHÊS, G.; LORENA, M.; SANTOS, A. Reciclagem de pavimento com
CNPQ pelas bolsas e à ANP/PETROBRAS pelo suporte
YODER, E. J.; WITCZAK, M. W, Principles of Pavement Design, 2 ed., New
financeiro que possibilitou a infraestrutura laboratorial, York, John Wiley & Sons Inc., 1975.
no âmbito da Rede Temática do Asfalto.
ZUBARAN, M.; MOTTA, L. M. G., Avaliação de misturas asfálticas
recicladas mornas em laboratório e usina de asfalto. In: 42ª RAPV:
Reunião Anual de Pavimentação, Foz do Iguaçu, PR, 2015. Anais.

52 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES DE
RESISTÊNCIA, DEFORMABILIDADE, COESÃO
E ADESÃO DE MISTURAS ASFÁLTICAS
RECICLADAS MORNAS COM USO DE LIGANTES
CONVENCIONAL E MODIFICADO POR POLÍMERO

Kátia Aline Bohn Gustavo Pinheiro


Mestra em Engenharia Civil - PPGEC/UFSM Graduando em Engenharia Civil UFSM
Luciano Pivoto Specht Karlla Gabriella Eidt
Professor/Pesquisador - PPGEC/UFSM Graduanda em Engenharia Civil UFSM
Chaveli Brondani Deividi da Silva Pereira
Mestranda em Engenharia Civil - PPGEC/UFSM Professor/Pesquisador - PPGEC/UFSM

As misturas asfálticas com inserção de material reciclado de pavimento, aliadas à tecnologia das misturas mornas, trazem ganhos expressivos,
principalmente, na quantidade de material a ser inserido em novas massas asfálticas, além de atenderem aos preceitos da sustentabilidade. Com
esse intuito, o objetivo da presente pesquisa foi realizar um estudo sobre misturas asfálticas recicladas mornas, estudando misturas convencional à
quente (referência), morna (sem fresado), e morna com 25 e 50% de fresado (em substituição à massa total de agregados virgens), com uso de ligantes
convencional CAP 50/70 e modificado por polímero CAP 60/85. As amostras foram avaliadas quanto às propriedades de resistência, deformabilidade,
adesão e coesão. Os principais resultados apontaram que o desempenho das misturas asfálticas mornas é equivalente às convencionais à quente. Existe
também uma melhora significativa para as misturas com fresado incorporado. Os resultados de adesão e coesão, através do ensaio Lottman modificado,
mostraram-se positivos nas misturas com material reciclado, provavelmente, devido ao fresado utilizado na presente pesquisa dispor de ligante
envelhecido modificado com polímero (CAP 60/85) em sua composição. Quanto às misturas com ligante modificado, é possível afirmar que existe uma
expressiva melhora de desempenho quando comparadas às misturas com ligante convencional, para todas as propriedades estudadas.

1. INTRODUÇÃO meio ambiente, sem reutilização adequada. Começaram assim


os estudos sobre incorporação de resíduos em camadas de
Nas últimas décadas, a preocupação com o meio ambiente pavimentos, como escórias, fresado de pavimento, resíduos de
vem sendo fortemente debatida, e o setor rodoviário tem construção e demolição, borracha de pneu, resíduos industriais,
buscado o desenvolvimento de novas tecnologias no campo da entre outros (MANGIAFICO, 2014; SPECHT, 2004).
pavimentação. Ações que visam suprir as necessidades atuais dos O foco da indústria no exterior, nos últimos anos, tem sido
seres humanos, sem comprometer a capacidade das próximas colocar uma maior quantidade de Reclaimed Asphalt Pavement
gerações em atender suas próprias necessidades, são princípios - RAP -, conhecido como material reciclado de pavimento, nas
da sustentabilidade que começam a ser discutidos e medidas de massas de asfalto (MANGIAFICO, 2014; PRADYUMA et al., 2013).
maior preservação, com menos emissões de poluentes e redução Este é um resultado decorrente da triplicação dos custos do
de agressões ao meio ambiente como um todo, começam a ser ligante asfáltico, ocorrido durante a última década, que surgiu
adotadas, conforme determinação do Protocolo de Kyoto, em em um momento de financiamento extremamente difícil para a
1997. construção e manutenção de estradas. A maior parte dos estudos
Dentro deste contexto, a reciclagem de pavimentos surgiu incorporam em torno de 25% a 40% de RAP, em projetos de
como alternativa de reduzir a quantidade de agregados virgens misturas a quente ou morna. Todavia, essas proporções ainda são
necessários em novos pavimentos, e reaproveitar esse material consideradas como um alto teor de material reciclado para se
de grande valor econômico, que antes era deposto sobre o inserir em novas misturas, devido a existência de deficiências

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 53


em relação ao envelhecimento do ligante contido no fresado A dosagem realizada seguiu a metodologia Superpave,
(ZAUMANIS et al., 2014; ZHAO et al., 2013; SHIRODKAR et al., 2011). prescrita pela AASHTO M 323- 13, apenas com ressalvas quanto
Buscando atender as premissas de sustentabilidade, também a utilização do material fresado, que devido ao laboratório não
surgiram as misturas asfálticas mornas, chamada de Warm Mix possuir os equipamentos necessários, não foi possível efetuar
Asphalt - WMA -, produzidas a temperaturas intermediárias, entre a extração e recuperação do ligante desse material, e dessa
105° a 145°C (D’ANGELO et al., 2008). A redução de temperatura na forma, utilizou-se o RAP como “black rock”, encaixando as curvas
usinagem e compactação das misturas traz importantes benefícios granulométricas na Faixa C, do DNIT, baseado na norma DNIT
relacionados ao meio ambiente e à qualidade da pavimentação, - ES 031/2006. Também utilizou-se o Método Bailey para ajuste
pois reduz o consumo energético, emite menos poluentes na granulométrico das misturas asfálticas estudadas.
atmosfera, reduz a exposição dos trabalhadores aos fumos, Vale frisar que o material fresado foi peneirado na malha
artigos

diminui o envelhecimento asfáltico, aumenta a possibilidade de se #3/8”, sendo ocupado apenas o passante nessa peneira. Realizou-
transportar as misturas asfálticas a maiores distâncias entre pista e se um procedimento padrão de secagem desse material, o
usina e aplicar em locais de clima frio, além de trazer um grandioso qual foi deixado por 4 horas, na estufa, a 60°C. Esse processo foi
benefício que é a implementação de maiores quantidade de realizado antes de o material ser utilizado nas moldagens, para
material fresado, devido ao menor temperatura de produção das fins de eliminar qualquer umidade. Esse material era aquecido
misturas (MEJÍAS et al. 2012; PROWELL & HURLEY, 2007). até 110°C, durante 2 a 3 horas, antes da confecção dos corpos-
Na busca pela sustentabilidade, a união da tecnologia de-prova, a fim de não ocasionar um maior envelhecimento do
apresentada pelas misturas mornas e a reinserção de maiores material.
quantidades de RAP deu origem as misturas asfálticas recicladas Foram estudadas oito misturas asfálticas, entre misturas
mornas, uma das grandes áreas de estudo do ramo rodoviário na convencionais, assim chamadas as misturas de referência a
atualidade (CENTOFANTE, 2016; GENNESSEAUX, 2015; ZUBARAN, quente, e mornas com e sem adição de fresado, utilizando
2014; OLIVEIRA, 2013; MOGAWER et al., ligantes asfálticos CAP 50/70 e CAP 60/85. A proporção de
2011). Além do mais, ainda como aliado a aumentar cada fresado utilizada foi de 25% e 50%. Para análise da propriedade
vez mais o desempenho e qualidade das misturas asfálticas, há de resistência das misturas asfálticas recicladas mornas foi
incremento do uso de ligantes modificados por polímeros nas realizado o ensaio de Resistência à Tração por Compressão
misturas asfálticas recicladas mornas. Ligantes estes que têm Diametral (RT), a deformabilidade foi avaliada através do ensaio
como objetivo melhorar as características reológicas do asfalto, de Módulo de Resiliência (MR), e para averiguar as propriedades
principalmente em temperaturas extremas (ALMEIDA Jr., 2016; de adesão e coesão foram realizados os ensaios de Lottman
HAJJ et al., 2014). Modificado e Resistência ao Desgaste Cântabro.
A norma utilizada para o ensaio de Resistência à Tração
2. OBJETIVO por Compressão Diametral foi a DNIT - ME 136/2010. O ensaio
consiste na aplicação de uma carga estática de compressão
O objetivo geral da pesquisa foi avaliar o comportamento, distribuída ao longo de duas geratrizes opostas, a fim de se
quanto às propriedades de resistência, deformabilidade, adesão e obter as tensões de tração através do diâmetro horizontal,
coesão de misturas asfálticas recicladas mornas, utilizando ligantes perpendicularmente à carga. Antes de aplicar a carga, o
convencional e modificado, a partir de ensaios em laboratório, corpo-de-prova deve repousar em um compartimento com
analisando, principalmente, a influência do teor de fresado. temperatura controlada de 25°C, durante 24 horas. Foram
moldados e ensaiados corpos-de-prova com 6,3cm de altura e
3. MATERIAIS E MÉTODOS 10cm de diâmetro, aproximadamente, com volume de vazios
de 4±1%, que anteriormente a esse ensaio foram ocupados
Os agregados virgens utilizados foram provenientes do para realização do Módulo de Resiliência das misturas asfálticas
Km 30, da BR-290 (FreeWay/RS), coletados na pedreira da estudadas.
Concessionária Triunfo Concepa, de origem basáltica. O material O ensaio de Módulo de Resiliência foi determinado através
reciclado foi recolhido na fresagem de um trecho do pavimento, das prescrições da norma DNIT - ME 135/2010 e da norma ASTM
localizado no km 72+700, da também BR-290. Foram utilizados os D 4123:1982, na qual se baseia o equipamento utilizado para o
ligantes convencional CAP 50/70 e modificado por polímero CAP ensaio, a UTM - 25. O intuito do ensaio é determinar a capacidade
60/85. O aditivo surfactante para trabalho com misturas mornas que um corpo elástico tem de armazenar energia, quando
foi o Evotherm®, acrescido de 0,5% em função do peso do ligante solicitado a um carregamento e, após, retornar ao seu estado
asfáltico, para ambos os ligantes estudados. inicial. O Módulo de Resiliência é medido a partir da aplicação

54 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


do carregamento dinâmico com tempo de 0,1s de duração e 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
0,9s de repouso. Dessa forma, a amostra sofre deformações
horizontais, que são medidas através de LVDTs (Linear Variable
Differential Transducer), ligados a um microcomputador, que 4.1. Propriedade de Resistência - Ensaio de
coleta e arquiva todas as informações. O ensaio foi realizado a Resistência à Tração por Compressão Diametral
10°, 25° e 35°C, e os corpos-de-prova foram condicionados por
no mínimo 12 horas em cada temperatura. Os coeficientes de Os resultados do ensaio de RT são a média de três corpos-
Poisson, para execução do ensaio, foram de 0,15, 0,30 e 0,35 para de-prova por mistura, condicionados a 25°C. Analisando
as temperaturas de 10°, 25° e 35°C, respectivamente. A carga de os dados obtidos, a partir da Figura 1, é possível dizer que
ensaio adotada foi aquela de menor magnitude que mobilizasse as misturas convencionais e mornas trabalham de forma
a deformação, de modo a não causar danos na amostra. semelhante, provado pela pouca diferença no seu valor de RT.
As normas utilizadas para o ensaio Lottman Modificado Dessa forma, comprovam que, mesmo com a diminuição da
foram a AASHTO T 283-14 e a norma brasileira ABNT/NBR temperatura de mistura e compactação, as propriedades de
15617:2011. O objetivo do ensaio é avaliar, a longo prazo, a resistência sofrem pouca influência.
durabilidade das misturas asfálticas, em relação à propriedade Averiguando as misturas pelo teor de fresado
da adesividade ligante/agregado, considerando o efeito incorporado, pode-se ver claramente a influência do
deletério da água. Para determinação do dano por umidade aumento do teor de RAP no valor de RT. À medida em que
induzida, foram preparadas seis amostras por mistura, seguindo se aumenta a proporção de material fresado nas misturas,
a metodologia Superpave, com volume de vazios de 7±1%, as há um aumento do valor da resistência das mesmas, o que
quais foram separadas em dois grupos, de três amostras cada. era esperado, visto que aumenta a quantidade de ligante
As amostras do primeiro grupo foram, inicialmente saturadas, antigo, que deixa a mistura mais enrijecida. Isso pode ser
com grau de saturação entre 70% e 80% (com a finalidade notado para ambos os ligantes estudados. Nas misturas com
de atender os requisitos das duas normas acima citadas). As CAP 50/70, existe uma melhora de 60% para aquela com
amostras deste grupo foram submetidas ao condicionamento adição de 25% de fresado e de 110% para a mistura com 50%
de elevada severidade, onde o corpo-de- prova é levado ao de fresado, se comparadas a mistura morna sem material
congelamento com temperatura de -18°C, por um tempo reciclado. Já para as misturas com CAP 60/85, realizando
mínimo de 16h. Após remoção da refrigeração, as amostras a mesma comparação, existe uma melhora de 30% para a
foram, imediatamente, imersas em banho de água destilada, à morna com 25% de RAP e de 68% para aquela com 50% de
temperatura de 60°C, por um período de 24 horas. Por fim, as inserção de fresado.
mesmas foram submetidas a banho em temperatura de 25°C, Ao avaliar os resultados quanto aos diferentes tipos de
por um período de 2 horas, sendo, após, submetidas ao ensaio ligantes utilizados, é visível a melhora dos valores de RT nas
de resistência à tração (RT’). O segundo grupo foi submetido misturas com CAP 60/85 às misturas com CAP 50/70. Esse
ao ensaio de resistência à tração (RT), após condicionamento a comportamento era esperado, pois o ligante modificado
25°C, por pelo menos 12 horas. proporciona maior resistência à tração às misturas.
O ensaio de Resistência ao Desgaste Cântabro foi Os limites para RT são traçados pela norma DNIT - ES
desenvolvido no Centro de Estudios Carreteiras (CEC), na 031/2006, na qual diz que se deve ter um valor de resistência
Espanha, o ensaio é prescrito na norma NLT - 325/86, que à tração maior que 0,65MPa, para ligantes convencionais.
se baseia na análise das massas submetidas ao aparelho de Já para os concretos asfálticos com asfalto polímero o valor
Abrasão Los Angeles. As normas brasileiras que definem a de RT deve se encaixar dentro da variação de 0,7 a 1,2MPa,
metodologia, e foram utilizadas na pesquisa, Cântabro são: conforme norma DNER - ES 385/99. Pode-se afirmar que
DNER - ME 383/99 e DNER - ES 386/99. A massa das amostras todas as misturas estão de acordo com suas respectivas
é determinada antes e depois do ensaio e é calculada a perda normas, e também salientar que todas apresentam valores
de massa por desgaste. Este ensaio avalia de maneira indireta maiores que 1,2MPa, o máximo exigido por norma para
a coesão, resistência à abrasão e a resistência à desagregação ligante modificado por polímero. Bernucci et al. (2006)
de misturas asfálticas. Para avaliar as amostras, foram ensaiados afirmam que, para misturas asfálticas a quente, os valores
três corpos-de-prova por mistura, previamente condicionados típicos situam-se na média de 0,5 e 2,0MPa. Todas as
a 25°C, por no mínimo 12 horas. Cada corpo-de-prova foi misturas pesquisadas se encaixam nesses limites, e é
submetido a 300 rotações no aparelho Los Angeles, como importante frisar que as misturas com inserção de fresado
especificado na norma espanhola e na DNER - ME 383/99. apresentam valores acima de 2,0MPa.

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 55


Figura 1 - Resultados da Resistência à Tração por Compressão Diametral, frequência para a menor. A média dos resultados foi obtida a
a 25°C, em função do teor de fresado partir dos dez valores dados pelo software UTS003 (Indirect
Tensile Modulus Test), sendo cinco para a posição de 0° e cinco
valores para a de 90°. Analisando os valores de MR encontrados,
nota-se que à medida em que há aumento da temperatura e
redução da frequência de carregamento têm-se um acréscimo
da deformabilidade das misturas. Isso ocorre devido às misturas
asfálticas apresentarem um comportamento termo susceptível,
dependentes da temperatura e da frequência de carregamento.
Avaliando as três temperaturas ensaiadas, de modo geral,
artigos

em relação ao teor de fresado adicionado às misturas, pode-se


afirmar que à medida em que se aumenta a porcentagem de
Oliveira (2013) também estudou sobre misturas recicladas,
RAP há um acréscimo de rigidez das misturas. Isso acontece
tanto quentes, quanto mornas. O autor trabalhou com um
para ambos os ligantes estudados. Existe pouca diferença entre
CAP concedido pela Lubnor – Petrobrás, e encontrou, para as
os valores encontrados para as misturas mornas em relação as
misturas recicladas quentes, valores da ordem de 0,9, 1,4, 1,8
convencionais. Os ligantes CAP 50/70 e CAP 60/85 apresentam
e 2,2MPa, respectivamente, para as misturas de referência,
valores de MR muito semelhantes, nas temperaturas de 25 e
com adição de 15%, 35% e 50% de fresado. Já para as misturas
35°C, havendo uma leve melhora para os resultados das misturas
recicladas mornas com aditivo Gemul XT-14® obteve como
com maior porcentagem de teor de fresado incorporado, para as
resultados os valores de 0,9, 1,0, 1,5 e 1,5MPa para as misturas
misturas com ligante modificado por polímero. À 10ºC é notável
de referência, e misturas com adição de 15%, 35% e 50% de
a melhora dos resultados com CAP 60/85. A taxa de acréscimo do
fresado, respectivamente. Valores estes, que comparados com
módulo para misturas com fresado vai decrescendo na medida
a presente pesquisa, apresentam- se bem inferiores. Centofante
em que a temperatura de ensaio aumenta. Misturas ensaiadas a
(2016) estudou sobre misturas com reciclagem a quente e
35°C aumentam em proporções menores que a 25°C e a 10°C.
ligante convencional 50/70 (mesmo lote de coleta dessa
Bernucci et al. (2006) cita que valores típicos de MR a 25°C
pesquisa), e encontrou valores de 1,42, 1,79, 2,08 e 2,36MPa,
e 10Hz, para concretos asfálticos, estão na faixa de 2.000 a
respectivamente, para suas misturas CAref, CAF10, CAF20 e
8.000MPa. Todas as misturas da referente pesquisa apresentam
CAF30. Esses valores já apresentam uma maior semelhança
valores dentro desse limite, conforme pode ser visto na Figura
com os resultados de RT obtidos para as misturas com CAP
2. Somente as misturas com 50% de fresado tem resultados de
50/70 dessa pesquisa. Boeira (2014) trabalhou com agregado
MR acima de 8.000MPa, que pode ser explicado pela influência
da mesma origem que a presente pesquisa e CAP 50/70, e
da distribuição granulométrica e pela maior rigidez do material
obteve exatamente o mesmo valor de 1,44MPa, para sua mistura
fresado. Essas misturas podem ser aplicadas como base negra,
referência que o obtido nessa pesquisa.
por exemplo, desde que se adequem ao projeto estrutural do
Vale ressaltar ainda, que através do ensaio de RT é realizada
pavimento.
uma inferência de desempenho à fadiga das misturas asfálticas.
Dessa forma, quanto maior o valor de RT melhor o desempenho Figura 2 - Módulo de Resiliência das mistura estudadas, a 25°C e 10Hz,
das amostras ao dano por fadiga. Visto que na presente pesquisa com os limites propostos por Bernucci et al. (2006)
as misturas com maiores valores de RT são as que apresentam
material reciclado em sua composição, e sabido pela literatura
que há uma restrição quanto ao uso de fresado devido a
aumentar o trincamento à fadiga dos pavimentos, pode-se dizer
que essa pesquisa faz uma crítica a essa inferência, questionando
sua veridicidade, que somente pode ser sanada com a execução
do ensaio de fadiga.

4.2. Propriedade de Deformabilidade - Ensaio de


Módulo de Resiliência

O ensaio de MR foi realizado em três amostras por mistura,


na ordem da menor temperatura para a maior, e da maior

56 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


Vasconcelos & Soares (2003) estudaram sobre misturas Figura 3 - Resultados da Resistência Retida à Tração do ensaio Lottman
asfálticas recicladas a quente, porém, encontraram resultados de Modificado, realizado a 25°C, em função do teor de fresado
MR menores que está pesquisa, da ordem de 2.680 e 2.908MPa
para misturas sem adição de agregado reciclado, 2.822 e
3.031MPa para misturas com adição de 10% de fresado, e, 3.163 e
3.796MPa para misturas com adição de 50% de material fresado.
Importante salientar que os autores observaram uma tendência
de crescimento do MR com a adição de fresado, assim como
demonstram os resultados da presente pesquisa. Já Oliveira
(2013) estudou sobre misturas recicladas quentes e mornas. Para
as misturas recicladas a quente o autor analisou uma mistura
de referência e misturas com 15%, 35% e 50% de adição de
fresado, obtendo, respectivamente, os valores de 3.809, 6.056,
7.144 e 8.435MPa. Para as misturas mornas o autor realizou as
mesmas misturas, porém reduzindo em 40°C as temperaturas De acordo com a metodologia Superpave, os valores de
de mistura e compactação, e encontrou valores bem inferiores, referência preconizados para RRT são aqueles acima de 80%.
respectivamente, de 3.266, 2.672, 3.921 e 4.786MPa. Hicks (1991) afirma que a maioria dos departamentos estaduais
de transportes norte-americanos utilizam o limite de 70%.
4.3. Propriedade de Adesão e Coesão - Ensaio Através dos resultados apresentados, é possível verificar que
Lottman Modificado todas as misturas atendem o limite estabelecido por Hicks
(1991), porém, os 80% idealizados pela metodologia Superpave,
apenas não é atendido pela Mistura Morna CAP 50/70, a qual fica
Para o ensaio Lottman Modificado, as amostras foram 3% abaixo do estabelecido.
separadas em dois grupos, Grupo 1 e Grupo 2, com três corpos- Centofante (2016) pesquisou sobre misturas recicladas a
de-prova cada, com e sem condicionamento, respectivamente. quente, e encontrou resultados divergentes com o presente
A análise do ensaio Lottman Modificado se dá pelo RRT, trabalho. Ao passo em que foi aumentada a quantidade de
e os resultados são apresentados na Figura 3. Avaliando fresado nas misturas, a autora obteve valores de RRT em escala
os valores encontrados, é possível afirmar que existe uma decrescente. Na presente pesquisa ocorreu o inverso, para ambos
grande semelhança entre as misturas convencionais e mornas os ligantes em estudo. Pode-se alegar que um dos motivos por
trabalhadas, todavia com uma pequena superioridade para as esse aumento poderia ser a proveniência do RAP utilizado nas
misturas convencionais. misturas, e, por consequência, seu ligante de composição antigo,
Quanto ao teor de fresado incorporado nas misturas, há já que o material reciclado desse estudo é composto por ligante
um aumento da resistência retida à tração na medida em que é modificado, CAP 60/85, em contrapartida, que o fresado utilizado
aumentado esse teor. Nas misturas com CAP 50/70, existe uma por Centofante (2016) continha ligante convencional CAP 50/70.
melhora de 4% para a mistura com adição de 25% de fresado No Ceará, Wargha Filho (2013) estudou sobre misturas mornas
e de 7% para aquela com 50% de fresado, se comparadas a com 0,4% de Gemul® adicionado a CAP 50/70, aditivo surfactante
mistura morna sem material reciclado. Já para as misturas com como o utilizado nessa pesquisa, com temperaturas de mistura e
CAP 60/85, realizando a mesma comparação, existe uma melhora compactação de 135° e 125°C, respectivamente. O autor obteve
de 4% para a morna com 25% de RAP e de 3% para aquela com RRT de 74% para as misturas com aditivo Gemul®, comparado
50% de inserção de fresado, podendo-se perceber uma pequena com 81% para a mistura controle, na qual não ocorreu nenhum
queda quando aumentada a fração de fresado na mistura. Ao tipo de modificação.
verificar os resultados quanto aos diferentes tipos de ligantes
utilizados, nota-se um comportamento diferente quanto ao 4.4. Propriedade de Adesão e Coesão - Ensaio de
CAP 50/70, o qual apresenta valor de RRT, para as Misturas Resistência ao Desgaste Cântabro
Morna 25% e 50% Fresado, superior às misturas com ligante
modificado com polímero. Essa melhora pode ser devido ao fato O ensaio de resistência ao desgaste por perda de massa
do fresado conter ligante envelhecido modificado por polímero, Cântabro foi realizado a 25°C, ensaiando-se três corpos-de-prova
e a combinação com ligante virgem convencional gerar misturas por mistura. Conforme a norma DNER - ME 383/99, os resultados
com melhor desempenho quanto à adesividade. não podem diferir mais de 20% (para mais ou para menos) de

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 57


uma amostra para a sua média, para que o ensaio seja válido. 5. CONCLUSÕES
Todas as amostras pesquisadas atenderam a esse limite, sendo a
Pode-se concluir, que para todas as propriedades estudadas,
maior diferença apresentada de 3,50% para uma das amostras da
as misturas convencionais e mornas apresentaram comportamento
Mistura Morna 50% Fresado com CAP 50/70.
similar, e que as misturas com CAP 60/85 demonstraram melhores
Com base nos valores obtidos para o ensaio Cântabro, a partir
resultados, quando comparado às misturas com CAP 50/70,
da Figura 4, pode-se dizer que as misturas convencionais e mornas
confirmando sua superioridade e seu excelente desempenho em
diferem um pouco entre si, sendo as misturas convencionais
misturas asfálticas. Entretanto, o teor de fresado é o principal fio
a quente as que perdem maior proporção de massa. Quanto
condutor dos resultados de resistência, evidenciando notoriamente
ao teor de fresado, analisando as misturas com CAP 50/70 é
que à medida em que se aumenta o teor de reciclado incorporado às
possível notar que a Mistura Morna 25% Fresado tem uma perda
misturas, há um aumento dos valores de RT. Quanto à deformabilidade,
artigos

minimamente inferior a Morna. Já a Morna 50% Fresado tem a


constatou-se, a partir do ensaio de MR, que os maiores valores de
maior perda apresentada pelas misturas em estudo, mostrando
rigidez foram obtidos para as misturas com maiores taxas de fresado
ser a menos resistente ao atrito pneu/pavimento, na ordem de
incorporadas. Os resultados obtidos para os ensaios que avaliaram as
10,58%. Nas misturas com ligante modificado por polímero há um
propriedades de adesão e coesão, das misturas asfálticas estudadas,
comportamento distinto, onde a Mistura Morna 25% Fresado
constataram que o uso de fresado com ligante envelhecido modificado
apresenta uma maior porcentagem de desgaste se comparada
por polímero solucionou os problemas encontrados por outros autores,
a Mistura Morna referência, na ordem de 4,81%, e essa proporção
quanto a adesão das misturas recicladas. Os dados encontrados
decai à medida que se aumenta o teor de fresado, pois a mistura
para o ensaio de Lottman modificado demostraram com clareza
com 50% de fresado tem menor desgaste se comparada a com
que o efeito do polímero contido no RAP proporcionou melhor
25% de RAP. Verificando o comportamento das misturas quanto
desempenho quanto à adesividade, melhorando a RRT das misturas
aos tipos de ligantes utilizados, é notada a melhora dos resultados
à medida que foi aumentado o teor de fresado inserido, confirmando
nas misturas com CAP 60/85 se comparadas as com CAP 50/70. A
a reatividade do ligante presente no material reciclado de pavimento.
melhor mistura, aquela que apresenta menor desgaste à abrasão, é
O ensaio de resistência ao desgaste Cântabro ratificou o já averiguado
a Mistura Morna CAP 60/85, com 4,84%.
pela literatura, de que a inserção de RAP aumenta o desgaste à
É possível afirmar, com base na DNER - ES 386/99, na qual as
abrasão das misturas asfálticas. Porém, vale salientar que as misturas
misturas devem apresentar valor máximo de perda de massa de
recicladas, apesar de terem apresentado maior desgaste, atendem aos
25%, que todas as misturas estudadas atendem a esse limite, e
valores mínimos de referência, mesmo aquelas com 50% de fresado
apresentam coesão apropriada para serem utilizadas como misturas
incorporado, mostrando não ser empecilho para seu emprego, apenas
asfálticas.
um ponto a ser observado em projetos que irão para aplicação. É
Figura 4 - Resultados do ensaio de Resistência ao Desgaste por perda de notável concluir que a utilização de RAP passante na peneira #3/8 e
massa Cântabro, realizado a 25°C, em função do teor de fresado composto de ligante antigo CAP 60/85 trouxe inúmeros benefícios,
através dos resultados apresentados, e é, sem dúvida, uma expressiva
contribuição para futuras pesquisas e aplicações práticas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA Jr., P. O. B. de. Comportamento mecânico de concretos asfálticos


com diferentes granulometrias, ligantes e métodos de dosagem. 2016. 217p.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) - Universidade Federal de Santa
Maria, Santa Maria, 2016.
BERNUCCI, L.; MOTTA, L. G.; CERATTI, J. A. P.; SOARES, J. B. Pavimentação
Boeira (2014) encontrou valor de desgaste por perda de massa Asfáltica: Formação Básica para Engenheiros. 504 f. 1ª Reimpressão. Rio de
Janeiro: Petrobrás: ABEDA, 2006.
Cântabro de 5,90%, para CAP 50/70, a 25°C. Valor bem menor que BOEIRA, F. D. Estudo do comportamento de concretos asfálticos com diferentes
o obtido na presente pesquisa, onde encontrou-se desgaste por tipos de agregados e cales. 2014. 148p. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Civil) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2014.
abrasão de 9,03% para a Mistura Convencional CAP 50/70. Centofante CENTOFANTE, R. Estudo laboratorial da utilização de material fresado em
(2016) observou que, conforme aumentava o teor de fresado nas misturas asfálticas recicladas a quente. 2016. 152 p. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Civil) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2016.
misturas, os valores de perda de massa, em média, também cresciam, D’ANGELO, J.; HARM, E.; BARTOSZEK, J.; BAUMGARDNER, G.; CORRIGAN, M.;
significando que o fresado aumenta a tendência ao desgaste. De COWSERT, J.; HARMAN, T.; JAMSHIDI, M.; JONES, W.; NEWCOMB, D.; PROWELL, B.;
SINES, R.; YEATON, B. Warm-
modo geral, isso ocorre também na presente pesquisa.

58 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 59
RECICLAGEM PROFUNDA DE PAVIMENTOS:
DETERMINAÇÃO DA RESISTÊNCIA À FLEXÃO E
DEFORMAÇÃO NA RUPTURA DE BASES DE BGTC
RECICLADAS
artigos

Vinicius Eich D’Avila William Fedrigo


LAPAV - UFRGS LAPAV - UFRGS

Mario Alexander Castañeda López Washington Peres Núñe


LAPAV - UFRGS LAPAV - UFRGS

Jorge Augusto Pereira Ceratti


LAPAV - UFRGS

Este trabalho focou-se na determinação 1 INTRODUÇÃO


da resistência à flexão e da deformação à
tração na ruptura de bases de BGTC (Brita
Com o setor rodoviário sobrecarregado, a infraestrutura fragilizada e entraves ao
Graduada Tratada com Cimento) recicladas
e moldadas em laboratório para aplicação investimento em outros modais, o Brasil passa, nos últimos anos, por uma situação
em modelos de fadiga que utilizam esses delicada e preocupante em seu principal meio logístico de transporte. Intervenções
parâmetros. Seguindo uma metodologia como o recapeamento com grandes espessuras e reconstrução total, sob o volume
internacional de estudo de vida de fadiga
de bases cimentadas, as misturas foram
de tráfego atual, vem perdendo espaço no mercado com relações de custo-benefício
definidas com porcentagens de material aquém do desejado.
fresado asfáltico de 20%, 50% e 70% e o teor A técnica de reciclagem em bases de pavimentos com adição de cimento, portanto,
de cimento de 2%, 4% e 6% e um tempo de
surgiu nos últimos anos como uma alternativa econômica e com resultados satisfatórios
cura dos corpos de prova adotado como
sendo 28 dias. Com os parâmetros obtidos, de durabilidade e resistência. Este procedimento reaproveita os materiais do pavimento
foram realizados os ensaios de resistência à degradado para compor uma nova camada com acréscimo de agente cimentante,
flexão em viga quatro pontos, responsáveis formando uma mistura homogeneizada mais rígida e capaz de suportar um tráfego mais
por definir a resistência sob esse modo de
intenso.
solicitação e, através de um medidor LVDT, a
deformação na ruptura das bases recicladas. Em prática no Brasil desde a década de 1980, o processo de reciclar pavimentos
deteriorados foi tema de diversas pesquisas e publicações acadêmicas, porém, no
que diz respeito à metodologia de projeto, como o conhecimento das propriedades
mecanísticas das camadas recuperadas, ainda perduram dúvidas e questionamentos
sobre o tema.
Tendo em vista isso, este trabalho teve como objetivo ensaiar à flexão bases de
BGTC (Briga Graduada Tratada com Cimento) recicladas, proporcionando uma medida
mais real das condições in situ de uma base estabilizada devido ao comportamento
intrínseco dos materiais cimentados solicitados por um carregamento qualquer.
Seguindo metodologias internacionais de camadas cimentadas, definidas como
adaptáveis à camadas recicladas com cimento, foi possível determinar a resistência à

60 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


flexo-tração e a deformação na ruptura das misturas de forma Desde a década de 1980, o emprego de modelos de fadiga
a oferecer respaldo a um estudo de fadiga em bases de BGTC, tem sido considerado na análise e dimensionamento dos
etapa essencial para o desenvolvimento de um método de pavimentos. Tratam-se de iniciativas de pesquisa experimental
dimensionamento para a técnica de reciclagem profunda de com objetivo de compreender esse fenômeno, o qual ficam
pavimentos com adição de cimento Portland. sujeitos os materiais devido a repetição do tráfego rodoviário.
Daí a consideração de modelos representativos de previsão
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
do número de aplicações de carga (número “N”) para atingir o
trincamento por fadiga (BALBO, 2000).
A reciclagem profunda com adição de cimento trata-
Conforme Austroads (2010), após uma série de ensaios
se de um método de restauração de pavimentos em que se
de fadiga realizados, os dados obtidos apontaram que as
permite aproveitar camadas deterioradas visando recuperar,
relações associadas à deformação pareceram mais confiáveis
e até aumentar, a capacidade de suporte proporcionando
estatisticamente do que as que incorporam a tensão. A partir
características físico-mecânicas consistentes com adequado nível
de então, a vida de fadiga de uma camada cimentada passou
de serviço, e assim, um conjunto muito mais durável (INSTITUTO
a ser considerada, como uma função da relação entre tensão
ESPAÑOL DEL CEMENTO Y SUS APLICACIONES, 2013).
ou deformação aplicada e a tensão ou deformação na ruptura
A técnica consiste num processo, sem adição de calor, onde
conforme apresentada na fórmula 1.
uma nova base estabilizada é originada após a compactação
da combinação do revestimento asfáltico e parte das camadas
subjacentes existentes com acréscimo de cimento (PORTLAND
CEMENT ASSOCIATION, 2005). Uma das principais vantagens da
reciclagem profunda é a conservação dos materiais, evitando-se
Sendo:
assim, o descarte em bota-foras. Dessa forma, além de custos
N = número de repetições de carga necessário à ruptura do
reduzidos de transporte, problemas com poeiras e fumaças
corpo-de-prova por fadiga;
são eliminados passando a ser um processo ambientalmente
σ_t = tensão de tração aplicada;
desejável (UNITED STATES OF AMERICA, 1997).
σ_r = tensão de ruptura;
O processo executivo in situ passa por máquinas
ε_t = deformação de tração aplicada;
recicladoras de alta tecnologia e equipadas com motores de
ε_r = deformação na ruptura.
grande potência que podem trabalhar com profundidades de
até 300 mm. O cilindro fresador é o responsável pela trituração
das camadas do pavimento e por encaminhar a mistura até o O mesmo órgão ainda cita que, a relação entre a deformação
sistema de bombeamento de água, dosada de forma controlada inicial (ε_i) e a deformação na ruptura (ε_r) era capaz de explicar
e precisa por um regulador de vazão. Após a trituração do as principais diferenças entre características de fadiga dos
pavimento, um rolo compactador vibratório com amplitude materiais estudados e que, dessa forma, estes deveriam ser
máxima é responsável pela pré-compactação da camada, os parâmetros principais a serem considerados em modelos
seguida de uma motoniveladora para ajuste inicial do greide. de fadiga da Austroads. Conclui, afirmando que, que a razão
Por fim, é realizada a compactação final da base reciclada por (ε_i/ε_r) é vista como um método potencial de avaliação de
rolos lisos e pneumáticos com objetivo de atingir o grau de materiais cimentados e consistente com a pesquisa e prática de
compactação estabelecido em projeto (WIRTGEN, 2012). projeto no exterior.
Ensaios de fadiga consistem, basicamente, na determinação
3. FADIGA EM BASES CIMENTADAS do número N de repetições de carga que leva um corpo de
A adoção de critérios de ruptura para o dimensionamento prova ao colapso. Os esforços são aplicados em níveis inferiores
de pavimentos tem sido considerada, nos últimos anos, como ao limite de resistência ou deformação na ruptura do material
o meio mais racional para avaliação de desempenho dos encerrando-se na ocorrência de uma manifestação associada ao
materiais de pavimentação durante sua vida útil. Métodos processo de ruptura por fadiga (BALBO, 2000).
empíricos não contemplam, por exemplo, o fato de camadas O ensaio de flexão em viga quatro pontos, empregado nesta
asfálticas ou cimentadas resistirem à esforços de tração na flexão, pesquisa, é usualmente utilizado em países como Estados Unidos
estes mobilizados para resistirem aos deslocamentos verticais e Austrália. Pinto (1991, p. 109), de maneira teórica, descreve o
impostos pelo tráfego e, portanto, de sofrerem o processo de procedimento da seguinte forma:
ruptura por fadiga (BALBO, 2007).

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 61


[...] consiste em submeter uma vigota retangular
simplesmente apoiada a duas cargas simétricas em relação
ao centro da vigota, que produzem um estado de tração
Sendo:
uniforme na parte central do bordo inferior da vigota, abaixo
f_cf = resistência flexural (MPa);
da linha neutra, entre os dois pontos da carga.
P = força máxima aplicada (kN);
L = comprimento entre eixos dos cilindros de apoio (mm);
W = largura média da vigota (mm);
Ao solicitar o corpo de prova a esse tipo de carregamento,
H = altura da vigota (mm).
obtém-se uma região (entre os pontos de aplicação de
artigos

carga) sob ação de um momento fletor máximo e constante,


A deformação na ruptura, então, é determinada a partir da
com esforços cortantes nulos. Assim, garante-se um ensaio
equação 2, que utiliza o deslocamento medido pelos LVDT’s no
adequado, pois, é possível induzir a ruptura exclusivamente
momento em que 95% da carga de ruptura é registrada. Esse
por flexão (CERATTI, 1991). Para essa configuração, obtém-se
nível de carga é recomendado pela Austroads (2010) que, em
uma curva tensão x deformação a partir de equipamentos de
ensaios realizados, confirma que a variabilidade das deformações
instrumentação instalados no centro da viga (figura 1).
a 95% da carga máxima é menor do que quando se utiliza seu
Figura 1 – Corte transversal do aparelho de ensaio de flexão de vigotas valor de pico. Assim, torna-se um parâmetro mais consistente
para medir deformações na ruptura.

Sendo:
ε_r = deformação na ruptura (microstrain);
δ = deslocamento vertical no centro da viga com 95% da
carga de ruptura (mm);
H = altura da vigota (mm).
L = comprimento entre eixos dos cilindros de apoio (mm);

De acordo com a Japan Society of Civil Engineers (1984),


os corpos de prova podem ser extraídos ou moldados, com 4. METODOLOGIA
seção transversal de 10x10 ou 15x15 e comprimento do prisma
não deverá ser menor que 3 vezes a sua altura acrescido, ainda,
de 8 cm. A aplicação da carga se dá através de dois cutelos O programa experimental foi elaborado com objetivo
cilíndricos posicionados no terço médio da viga e a leitura de de obter dados de comportamento mecânico das misturas
deslocamentos é efetuada com o posicionamento de LVDT’s recicladas com adição de cimento. As variáveis de controle
(Linear Variable Displacement Transducer) centralizados nas faces foram definidas como sendo o teor de fresado e o teor de
laterais do prisma apoiados em um suporte alinhado à linha cimento. Para melhor identificação das combinações estudadas,
neutra do corpo de prova, de modo que apenas o deslocamento os corpos de prova receberam um código do tipo X-YY. Onde
relativo da viga seja medido, e não o total do sistema. X representa o teor de cimento (2%, 4% e 6%) e, YY, o teor de
Aplica-se um carregamento com carga constante até que fresado (20%, 50% e 70%), ambos em porcentagem.
a ruptura ocorra, esta devendo ocorrer no terço central da viga A coleta dos materiais envolvidos na pesquisa (figura 2) foi
para que o exemplar não seja descartado. Por fim, a resistência à realizada no Estado de São Paulo, na rodovia SP-070 (Rodovia
tração na flexão é dada pela equação 1. Ayrton Senna), próximo ao km 32.

62 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


Figura 2 – BGTC (esquerda) e fresado asfáltico (direita) empregados nas Figura 4 – Compactação estática por prensa hidráulica
misturas

O cimento utilizado na pesquisa foi adotado como sendo Após 28 dias em câmara úmida, as vigotas foram
o do tipo CP-II E, com classe de resistência à compressão de 32 submetidas aos ensaios de resistência à tração na flexão,
MPa em 28 dias. Trata-se de um cimento composto, com adição seguindo a metodologia adotada para materiais cimentados
de escória granulada de alto-forno (entre 6 e 34%), bem aceito e testados pela Austroads (2008). Um suporte tipo yoke
utilizado em serviços de pavimentação no Brasil. empregado para instrumentação era acoplado junto à linha
A caracterização granulométrica foi realizada na sequência, neutra da vigota que, por fim, recebia um LVDT em uma das
seguindo instruções descritas no método de ensaio DNER-ME faces laterais junto ao centro do corpo de prova. A figura 5
083/98. Foram ensaiadas a base de BGTC e o fresado asfáltico apresenta a configuração do ensaio com a vigota preparada
separadamente para que, a partir dos resultados, pudesse para recebimento da carga.
estimar amostras de cada combinação de mistura para definição
da granulometria final da camada reciclada. Figura 5 – Configuração do ensaio de resistência à tração em viga quatro
Para a determinação da umidade ótima (ω_ót) e da massa pontos
específica aparente seca máxima (γ_smáx) das misturas foram
realizados ensaios de compactação, cujos procedimentos estão
prescritos no método de ensaio DNIT 164/2013-ME. A energia
referente à Modificada de compactação foi utilizada, consistindo
na aplicação de 55 golpes de soquete por camada.
Um total de 15 vigotas foram moldadas em formas metálicas
com seção 100x100x400 mm (figura 3). A compactação dos
corpos prova se deu de forma estática através de uma prensa
hidráulica com capacidade de aplicação de carga de 60 tf (figura
4) para 3 camadas de mesma altura.

Figura 3 – Moldes prismáticos metálicos

A máquina de ensaio trata-se de uma prensa hidráulica


da MTS, modelo 810 UTM Test System com capacidade de
aplicação de carga de 25 tf, responsável por aplicar uma
força única, gradual e normal à superfície da vigota, evitando
excentricidades. Após a ruptura do corpo de prova, os dados
são instantaneamente enviados ao sistema computacional do
equipamento que extrai a relação de força e deslocamento

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 63


atuantes ao longo do ensaio. As equações 1 e 2, apresentadas no misturas 6-20 e 6-50 não houveram diferenças significativas nas
capítulo 6, fornecem, por fim, os valores de resistência à flexão e resistências dos corpos de prova ensaiados. Os resultados de
deformação da fibra inferior na ruptura. resistência à flexão variaram entre 0,32 e 1,34 MPa. A deformação
na ruptura foi medida a partir do LVDT instalado para o ensaio e
5. ANÁLISE DOS RESULTADOS foram registradas as deformações no momento em que ocorre
95% da carga de pico. A menor deformação na tração foi de 165
O coeficiente de variação para as misturas 2-20 chegou με, obtida na mistura de 2-20. Misturas com alto teor de fresado
a 37% para resistência e deformação, enquanto que, para acusaram altos valores, alguns superiores a 1000 με.

Tabela 1 – Resultados dos ensaios de resistência à tração na flexão


artigos

Fonte:: elaborado pelo autor

Os resultados dos ensaios foram cruzados com as variáveis de dosagem para verificação da influência de cada material na mistura
reciclada. As figuras 6 a 9 apresentam essas relações através de gráficos.

Figura 6 – Relação “teor de cimento x resistência à tração na flexão” Figura 7 – Relação “teor de fresado x resistência à tração na flexão”

64 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


Observou-se que, conforme as figuras 6 e 7, o aumento do cimento, enquanto que, para misturas com 4% de cimento, essa
teor de fresado não influenciou no ganho de resistência das relação parece manter a linearidade.
misturas para qualquer teor de cimento utilizado, apresentando
resultados muito próximos entre si. Além disso, uma relação 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
quase linear de pode ser verificada em todas elas, com um
coeficiente de determinação R² mínimo de 0,97. Com o objetivo de promover um estudo de vida de fadiga
Ainda, misturas com 6% de cimento resultaram em para pavimentos brasileiros reciclados, este trabalho focou-
resistências à flexão cerca de 3 vezes superior às misturas com se na determinação da resistência à flexão e deformação na
2% de cimento. Já em comparação com as misturas com 4%, ruptura baseada em metodologias internacionais que, por
houve também um incremento, porém, menos significativo, sua simplicidade, podem ser adotadas pelo meio técnico e de
cerca de 17%. pesquisa rodoviária nacional. O programa experimental aqui
descritos condizem com a realidade tecnológica do Brasil para
Figura 8 – Relação “teor de cimento x deformação na ruptura” caracterização física e mecânica de camadas de pavimentos
recicladas, podendo, assim, aprofundar estudos visando a
definição de modelos preliminares de vida de fadiga.
Ao trabalhar com corpos de prova em duplicata (misturas
com 20% e 50% de material fresado), verificou-se que a mistura
2-20 foi a única a apresentar resultados discrepantes entre si,
com coeficientes de variação acima do limite considerado para
representatividade de ensaio. Em contrapartida, as misturas
2-50, 4-20, 4-50, 6-20 e 6-50 apontaram valores muito próximos
entre os espécimes moldados, podendo ser utilizados com
confiabilidade nos ensaios de carga repetida.
As misturas com 70% de fresado, devido a indisponibilidade
Figura 9 – Relação “teor de fresado x deformação na ruptura”
de materiais, foram ensaiadas através de exemplar único, não
sendo possível comparar resultados como forma de verificação.
Porém, todas apresentaram deformações na ruptura muito
acima das demais, não se mostrando adequadas para emprego
nas condições de pavimento semirrígido, apesar de não ter sido
observadas reduções na resistência à flexão em comparação às
misturas com menor teor de material fresado.

REFERÊNCIAS
AUSTROADS. Fatigue performance of cemented materials under
accelerated loading: influence of vertical loading on the performance of
A figura 8 aborda os resultados de deformação na ruptura unbound and cemented materials. Sydney, 2008. AP-T102/08.
AUSTROADS. Cost effective structural treatments for rural highways:
medido nos ensaios em função do teor de cimento e de fresado. cemented materials. Sydney, 2010. AP-T168/10.
Constatou-se altos índices desse parâmetro para as misturas BALBO, J. T. Fatos, mitos e falácias sobre os modelos experimentais de
fadiga. In: REUNIÃO ANUAL DE PAVIMENTAÇÃO, n. 32, 2000, Brasília.
com 70% de fresado, possivelmente pela perda de atrito Anais... São Paulo: ABPv, 2000. 391-404.
entre as partículas causado pelo ligante asfáltico presente no BALBO, J. T. Pavimentação asfáltica: materiais, projetos e restauração. São
Paulo: Oficina de Textos, 2007.
material coletado. Misturas com 20% de fresado apresentaram
CERATTI, J. A. P. Estudo do comportamento à fadiga de solos estabilizados
deformações baixas e similares entre si, próximas aos resultados com cimento para utilização em pavimentos. 1991. 314 f. Tese
(Doutorado em Ciências em Engenharia Civil) – Universidade Federal do
obtidos através de materiais virgens cimentados estudado pela
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1991.
Austroads (2010). INSTITUTO ESPAÑOL DEL CEMENTO Y SUS APLICACIONES. Reciclado de
Na figura 9 foi possível observar o acréscimo de deformação firmes in situ con cemento. Madrid, 2013. Guía técnica.
JAPAN SOCIETY OF CIVIL ENGINEERS. Concrete Library os JSCE n. 3 –
com o aumento do teor de fresado na mistura reciclada. Ao Part III-2 – JSCE-SF4: method of tests for flexural strenght and flexural
ultrapassar o limite indicado pelos documentos técnicos de toughness os steel fiber reinforced concrete. [S. l.], 1984. p. 58-60.
PINTO, S. Estudo do comportamento à fadiga de misturas betuminosas
referência brasileiros (máx. 50% de fresado), as deformações e aplicação na avaliação estrutural de pavimentos. 1991. 478 f. Tese
crescem substancialmente nas misturas com 2% e 6% de (Doutorado em Ciências em Engenharia Civil) – Universidade Federal do

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 65


Mateus Camargo Tanski
Professor – pesquisador - URCAMP – RS.

ANÁLISE DE MISTURAS Luciano Pivoto Specht


Professor - pesquisador – UFSM – RS

ASFÁLTICAS RECICLADAS A FRIO Tatiana Cureau Cervo

PARA EMPREGO EM CAMADAS DE Professora - pesquisadora – UFSM – RS.


artigos

BASE E SUB BASE DE PAVIMENTOS


Fernanda Dresch
Professora - pesquisadora – UNICRUZ – RS.

O material fresado não recebe a atenção e importância que merece no Brasil. O reaproveitamento desse material, que apresenta comportamento tão
bom quanto os agregados virgens, quando empregado de maneira correta na composição de camadas de pavimentos novos ou restaurações, é uma
prática largamente utilizada em países europeus e nos Estados Unidos. Além de resolver o passivo ambiental das empresas, o reemprego do fresado
em misturas asfálticas, é uma alternativa sustentável que diminui o consumo de agregados virgens e custos com transporte de fresado e alocação
do mesmo. Este trabalho busca uma alternativa para emprego do material fresado como camada de base na execução de pavimentos novos. Foram
estudadas misturas recicladas a frio compostas de fresado estabilizado granulometricamente com pó-de-pedra e tendo como ligante betuminoso
emulsão asfáltica RL-1C nas proporções de 2% a 5% e de ligante hidráulico CP V ARI de 0% a 1% de cimento. As misturas propostas foram avaliadas
por meio de ensaios de resistência à compressão simples (RCS), ruptura por tração por compressão diametral (RT), módulo de resiliência (MR) e
FlowNumber (FN). Após a realização dos ensaios, observou-se que os valores obtidos demonstram que as misturas com proporção variando de 50%
a 75% de emulsão, em relação ao cimento empregado nas misturas, apresentam melhores resultados. Além disso, as mesmas misturas apresentam
valores de módulo resiliente variando entre 1500 MPa e 3000 MPa (valores muito acima dos recomendados por norma para camadas de base). O ensaio
de FN mostrou que a adição de cimento na mistura melhora os resultados aumentando o número de ciclos, apresentando como melhores as amostras
com 2% e 3% de emulsão. Acredita-se que esta será uma alternativa técnica e economicamente viável para destinação do material fresado gerado em
abundância pelas obras rodoviárias.

1. INTRODUÇÃO

A grande deterioração da malha rodoviária brasileira, para a sociedade. Os procedimentos clássicos de concepção
vivenciada pelos usuários, é oriunda de um conjunto de fatores. de rodovias utilizam variados métodos de construções
Podem-se elencar como componentes desse somatório: as normalmente empregando como agregados os materiais
elevadas solicitações, a idade dos pavimentos, o excesso de virgens. Uma alternativa favorável é a utilização dos resíduos
carga e a falta de manutenção no momento oportuno (DAVID, originados nas técnicas de decapagem do revestimento com o
2006). Ao mesmo tempo as condições ruins das rodovias emprego do próprio material fresado que é gerado em grandes
estão associadas a várias patologias, dentre elas: deformações volumes na manutenção de pavimentos.
permanentes excessivas, fissuras de fadiga, retração térmica Neste contexto, o presente trabalho tem por objetivo
e desagregação. As duas primeiras estão relacionadas com o demonstrar que a utilização do Reclaimed Asphalt Pavement
tráfego e a estrutura do pavimento, enquanto as últimas com as (RAP) para compor camadas de pavimento é viável. Assim
características dos materiais utilizados e as condições climáticas pode-se destinar um tipo de agregado nobre, muitas vezes
atuantes (SPECHT, 2004). desprezado, de forma correta para compor as camadas de um
A melhoria das condições das vias é de extrema importância pavimento sendo utilizado em bases e sub-bases.

66 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


2 RECICLAGEM DE PAVIMENTOS Geralmente é realizada na profundidade de 75 a 100 mm, para
produzir uma camada de base em rodovias com tráfego médio
Reciclagem de pavimentos consiste na reutilização, após baixo (HALL et. al., 2001; KHANDHAL; MALLICK,1997).
processamento, dos materiais existentes no pavimento deteriorado. A técnica de reciclagem profunda objetiva a obtenção de
Toda ou parte da estrutura do pavimento existente pode ser uma base estabilizada. Pode ser aplicado em rodovias com grau
reaproveitada para a construção de uma camada, incorporando ou de degradação elevado, ou seja, quando as trincas estão presentes
não novos materiais. Assim tem-se a incorporação de um material desde a base até o revestimento. A técnica consiste na fresa do
de qualidade nas misturas asfálticas diminuindo custo e destinando material e posterior homogeneização do revestimento antigo, da
de maneira corrreta o RAP. base, com adição de aglomerantes frios ou quentes.
Segundo Asphalt Institute (1979), mesmo em locais de A Portland Cement Association (PCA, 2013) aponta que os
ocorrência abundante de agregados pétreos, a reciclagem é custos deste tipo de reciclagem são normalmente de 25% a 50%
importante, uma vez que pode reduzir o custo devido ao transporte menores do que a alternativa convencional de restauração que
de materiais. A reciclagem também torna-se atrativa quando não há contemplam serviços de fresagem e recomposição do revestimento
local adequado para depositar o material removido do pavimento existente e posterior aplicação de camadas de reforço em concreto
deteriorado, principalmente, devido ao passivo ambiental e as asfáltico.
restrições impostas pela legislação. A reciclagem de base e sub-base com estabilizantes químicos
A reciclagem a frio é o procedimento aplicado para recuperar é outra técnica que tem espaço no Brasil. O cimento adicionado em
e reutilizar o material de um pavimento existente, sem a utilização misturas asfálticas melhora as propriedades como susceptibilidade
do calor como artifício para realização do trabalho. O campo da térmica e umidade, MR e a deformação permanente (Oruc et. al.
reciclagem a frio abrange alguns tipos de aplicações, como para 2006).
camadas relativamente finas, constituídas principalmente de A combinação de emulsão e cimento no processo de
material asfáltico (reciclagem a frio in situ) (WIRTGEN, 2012). reciclagem de pavimento visa com a incorporação de ligante
Comparando o processo de reflexão de trincas entre misturas asfáltico melhorar a coesão dos agregados da mistura e seu
a quente e a frio, as de baixa temperatura apresentam melhor comportamento frágil quando apenas cimentada. A adição de
absorção das tensões oriundas do processo. Segundo Davidson cimento visa aumentar a rigidez do RAP e o envolvimento do
et al. (2004), as misturas recicladas a frio têm propriedades mesmo pela emulsão asfáltica.
mecânicas que diferem significativamente das misturas asfálticas David (2006) realizou um estudo de laboratório utilizando
convencionais a quentes. emulsão e agente de reciclagem emulsionado em misturas asfálticas
A reciclagem parcial é um sistema utilizado para substituição recicladas a frio com o intuito de verificar o comportamento
do revestimento deteriorado por uma nova camada, composta mecânico da mistura para a utilização em base na recuperação de
por agregados gerados a partir da fresa do mesmo adicionado pavimentos. Os resultados mostraram que a emulsão asfáltica pode
de agentes aglomerantes, sem prejudicar a base ou subleito. ser um ótimo elemento a ser empregado para estes serviços.

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 67


Tabela 1 - Nomenclatura das misturas empregadas
3 METODOLOGIA

Este estudo trata da utlização de RAP em misturas


asfálticas a frio com a utilização de estabilização físico-
química através do empredo de cimento e emulsão, tendo
por objetivo identificar possíveis empregos para as misturas
propostas em camada de base ou sub base de pavimentos.
O estudo foi realizado em Santa Maria, Rio Grande do
Sul. O fresado foi cedido de uma obra de recuperação de
artigos

uma rodovia federal, BR-392 trecho entre São Sepé e Santa


Maria, próximo a Vila Block.
O RAP obtido é originado de um revestimento Faixa A mistura estabilizada é composta por 70% de material
C da especificação DNIT 031/2006-ES e por um ligante fresado e 30% de material virgem. O pó de pedra é responsável
asfáltico CAP 50-70, informação essa fornecida pela empresa por suprir a deficiência de finos da granulometria, de forma a
responsável pela execução dos serviços no trecho. Além enquadrá-la dentro da faixa C para camada de base do DNIT.
disso, o agregado que compõe a mistura fresada é oriundo Nota-se que a fração graúda da mistura (material acima da
do município de Itaara, RS, um Riodacito com alta absorção. peneira n° 4) é inteiramente constituída pelo RAP, conforme a
A escolha da emulsão asfáltica utilizada na pesquisa foi Figura 1.
baseada no impacto ambiental causado na sua produção Figura 1 - Granulometria da mistura reciclada
e a técnica que seria aplicada no campo para
execução da proposta estudada. No Brasil,
as emulsões usadas para pavimentação são
predominantemente catiônicas, na qual se
optou por uma emulsão RL-1C, caracterizada
por ruptura lenta e catiônica.
A emulsão utilizada foi produzida
especialmente para o estudo proposto e não
está disponível comercialmente. Quando
utilizada como ligante para a reabilitação de
pavimentos, não atinge os mesmo resultados
de resistência que as técnicas a quente e para
suprir essa deficiência optou-se pela adição de Após a caracterização dos materiais, iniciou-se o processo
cimento à mistura asfáltica. de dosagem das oito misturas asfálticas. A dosagem neste caso
Por fim, a água utilizada na mistura foi obtida na significa a obtenção da quantidade de água adicionada nas
rede hidráulica do LMCC da UFSM. Utilizou-se a mesma misturas de forma a obter-se a umidade ótima de compactação,
no processo de mistura aos demais materiais a 25ºC, obtendo-se a maior massa específica aparente seca do material,
temperatura usual normalizada em ensaios. Salvo os ensaios processo idêntico ao de compactação de solos e materiais
onde é necessária a utilização de água destilada. granulares.
As misturas para atingir os objetivos propostos nesta Para cada uma das oito misturas propostas montou-se uma
pesquisa foram compostas por uma matriz pétrea fixa com curva de compactação constituída por 5 pontos com diferentes
70% de RAP e 30% pó de pedra, com teores de cimento de umidades. A quantidade de água a ser adicionada na mistura foi
0% e 1%, combinando com emulsão asfáltica nos teores de obtida através das umidades necessárias para a criação da curva
2%, 3%, 4% e 5% em massa total, totalizando oito misturas. de compactação. Não foi considerada a água contida na emulsão
Para uma melhor compreensão das misturas no para a criação das curvas de compactação
trabalho adotou-se a seguinte abreviação, a primeira Primeiramente, pesou-se separadamente o material fresado
porcentagem é referente ao teor de emulsão e a segunda ao (70%) e o pó de pedra (30%), conforme curva granulométrica
teor de cimento adicionado à mistura, conforme mostra a pré-definida. A massa total de fresado e pó de pedra é 7 kg
Tabela 1. devido à amostra apresentar agregado graúdo. Nas 4 misturas

68 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


sem cimento, misturou-se juntamente com os agregados 3.3 Resistência a Compressão Simples
a porcentagem de emulsão, conforme cada mistura, nas
porcentagens de 2%, 3%, 4% e 5% da massa total da matriz pétrea. As amostras de 10 x 20 cm foram submetidas a um esforço
Para a obtenção dos 5 pontos da curva de compactação, em cada de compressão até a ruptura, a uma velocidade aproximada de
teor de emulsão adicionou-se diferentes quantidades de água. 0,43 mm/s. O capeamento com enxofre foi realizado para melhor
Nas outras 4 misturas com cimento na porcentagem distribuição das tensões em sua face de contato com o pistão
de 1%, misturou-se juntamente aos agregados secos. Após da prensa. As amostras foram ensaiadas com idades de 28 dias,
isso, adicionou-se os quatro teores de emulsão e também as moldaram-se 24 amostras, 3 para cada mistura.
diferentes quantidades de água para obtenção da curva de
compactação. O Cimento faz parte da matriz pétrea da mistura 3.4 Resistência a Tração por Compressão
e foi adicionado obedecendo à relação de 1% da massa total de Diametral
agregados, ou seja, para a produção de uma amostra, que contém A determinação da resistência à tração por compressão
1200 g, foram substituídos 12 g de material pétreo por 12 g de diametral nas amostras de 10 x 6,35 cm, moldadas por
cimento. Ressalta-se que foi feito o revolvimento dos materiais compactação manual em camada única, seguiram as
manualmente em uma bandeja na temperatura de 25°C. recomendações explicitas na norma DNIT 135/2010 - ME. Vale
Logo após a preparação da mistura, iniciou-se o processo lembrar que as amostras devem ser ensaiadas a temperatura de
de compactação para obtenção da máxima massa específica 25º C.
aparente de cada mistura. Foram retiradas duas amostras para Para que a temperatura esteja uniforme em toda a amostra,
controle da umidade, empregada em cada um dos 5 pontos estas ficaram em condicionamento por no mínimo 12 horas
necessários para obtenção da curva de compactação das na câmara de condicionamento. Foram utilizadas as amostras
misturas. Além disso, por se tratar de um material granular moldadas para realização do ensaio de MR. No ensaio de RT
utilizou-se 7 kg de material pétreo para cada ponto da curva utilizou-se pelo menos 3 amostras por mistura totalizando 24
de compactação, totalizando 35 kg por mistura. A energia de corpos de prova. As amostras foram ensaiadas após 28 dias.
compactação foi a modificada (56 golpes do soquete padrão
em cada camada de compactação) devido ao estudo objetivar a 3.5 Módulo de Resiliêcia
aplicação das misturas em base e sub-base de pavimentos.
O ensaio de módulo de resiliência foi determinado por meio
Após a coleta de dados de cada ponto da curva de
das recomendações da normativa do DNIT 135/2010 - ME. O
compactação realizou-se os cálculos previstos em norma sendo
equipamento utilizado foi a prensa UTM – 25. A UTM-25 possui
assim possível a construção da curva. A partir dela pode-se
uma câmara de condicionamento com temperatura controlada,
identificar a umidade ótima e massa específica aparente seca
permitindo a realização de ensaios em diversas temperaturas.
O coeficiente de Poisson adotado foi de 0,35, de acordo com
3.1 Compactação Rosa et al. (2007). As misturas asfálticas de revestimento utilizam
normalmente 0,30 e Balbo (2007) indica valores de 0,40 para
Para esta pesquisa foi utilizada a Energia Modificada, bases granulares.
conforme a norma DNIT 164/2013-ME – Solos – Ensaio de Todas as amostras foram ensaiadas a 0º e 90º, ou seja, os
compactação utilizando amostras não trabalhadas. A energia valores apresentados como resultados são médias entre 2 ensaios
de compactação utilizada foi a modificada devido a prática da mesma amostra. Produziram-se 4 amostras para cada mistura
para materiais granulares. A compactação foi realizada para as proposta, totalizando 32 corpos de prova. Todos os corpos de
oito misturas estabilizadas granulometricamente. As amostras prova foram ensaiados após 28 dias.
moldadas para o ensaio de compactação foram utilizadas para
o ensaio de ISC. Foram moldadas 5 amostras para cada mistura 3.6 Flow Number
proposta totalizando 40.
Os corpos de prova para realização deste ensaio foram
moldados com altura 10 x 15 cm no molde 10 x 20 cm utilizado
3.2 Índice Suporte Califórnia
para amostras de RCS, 3 amostras para cada uma das misturas
Para esta pesquisa foi realizada coforme a norma DNER ME propostas totalizando 24 corpos de prova. Realizou-se o ensaio na
049/94 – Solos – Determinação do Índice de Suporte Califórnia prensa UTM-25. Em sua câmara de condicionamento, os corpos
utilizando amostras não trabalhadas. Ensaiaram-se as amostras de prova estabilizaram sua temperatura em 60°C por 8 horas
moldadas no ensaio de compactação. conforme recomenda a AASHTO TP 79-12. As amostras

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 69


foram ensaiadas individualmente, utilizando-se uma membrana Os valores obtidos nessa pesquisa quando comparados aos
de látex, com 1mm de espessura, na parte superior e inferior. encontrados por outros autores apresentam pequena variação.
Devido a face superior dos corpos de prova apresentar vazios Os valores de (γ_(d )máx) das misturas se aproximam de 2,1 g/
optou-se por capear todos com nata de cimento para melhor cm³ encontrado por Silva (2012). Já Pires (2014) encontrou
distribuição das tensões na face de contato com o pistão. Os valores de 2,023 g/cm³ e 1,963 g/cm³ para misturas estabilizadas
valores coletados foram corrigidos pela aproximação do modelo granulometricamente. Observa-se que há variações nos resultados
de Francken. encontrados devido aos materias possuírem diferentes origens,
entretanto os valores são próximos aos encontrados nesta pesquisa.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Compactação 4.2 Ìndice Suporte Califórnia


artigos

Neste item são apresentados os resultados de estabilização Após a realização do ensaio de Compactação utilizou-se as
mecânica do material fresado misturado com pó de pedra, amostras para o ensaio de Índice Suporte Califórnia. Os resultados
emulsão e cimento, nas proporções das misturas avaliadas no dos ensaios de ISC são apresentados na Tabela 3.
estudo. Portanto, foram elaboradas oito misturas, as quais têm
Tabela 3 - Resultados do ensaio de ISC
suas curvas de compactação apresentadas na Figura 2.
Através do ensaio obtiveram-se as umidades ótimas e massa
especifica aparente para cada uma das misturas. As umidades
encontradas através deste ensaio serviram de base para todas
as moldagens do estudo. Vale lembrar que todas as misturas
passaram pelo processo de estabilização granulométrica (mistura
de 70% de fresado e 30% de pó de pedra) e físico-química
(adição de emulsão e cimento).
Figura 2 - Curvas de compactação das misturas propostas
Os resultados obtidos podem ser comparados a solos
grossos, pedregulhosos, do grupo G do Sistema Unificado de
Classificação de Solos ou também A1 e A2 da classificação do TRB
(Transportation Research Board) (DNIT, 2006). Todas as amostras
da pesquisa apresentaram valores superiores 20% (ISC) e expansão
inferior a 1%, parâmetros exigidos para materias utilizados como
sub-base. Os limites para utilização como camada de base são de
no mínimo 60% de ISC e 0,5% de expansão máxima, logo todas as
misturas cimentadas e a 2% 0% poderiam ser utilizadas.
Além disso, o aumento do teor de emulsão reduziu o ISC
Em resumo, a Tabela 2 apresenta as umidades ótimas e a tanto nas misturas com ou sem cimento, e também a incorporação
massa específica aparente seca máxima (γ_(d )máx) para cada de cimento aumentou consideravelmente o ISC das misturas. A
uma das 8 misturas. média do ISC das misturas com cimento foi de 249% maior que a
Tabela 2-Teores ótimos encontrados média das misturas sem cimento.
Pires (2014) encontrou valores para mistura estabilizada
granulometricamente com 70% de fresado e 30% material
virgem entre 68% e 95%. Já Silva (2012) encontrou valores de
45%. Ambos os autores encontraram valores próximos aos
dessa pesquisa. As misturas sem adição de cimento encontraram
resultados mais próximos ao de Silva (2012) e as misturas com
adição de cimento ao máximo encontrado por Pires (2014).
Nota-se que para as misturas sem cimento, conforme se As misturas estabilizadas com a adição de cimento
aumenta o teor de emulsão tem-se um aumento na umidade ótima apresentam os requisitos mínimos para utilização como material
das misturas. Já para as misturas com cimento, obteve-se uma de camada de base granular, segundo o método de projetos
mesma tendência, exceto a mistura 5% 1%. DNER de 1981. Para essa finalidade, o ISC deve ser superior a 80%

70 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


e expansão inferior a 0,5%. Se o número de passagens do eixo de 6,65% de cimento para o fresado oriundo da ERS-509 com RCS
padrão for inferior a 106 o valor mínimo do ISC é de 60%, com isso, médio igual a 1,87 MPa, e 5,26% de cimento para o material da
a mistura 2% 0% se enquadra dentro deste limite. BR-290 com RCS médio igual 1,83 MPa. Ambos com a proporção de
70% de fresado e 30% de material virgem.
4.3 Resistência a Compressão Simples Fedrigo (2015) encontrou valores de 1,90 MPa a 2,03 MPa
aos 7 dias para misturas com incorporação de 70% de fresado e
Para avaliação quanto a RCS foram ensaiadas 2 amostras por
estabilização química com cimento, com o teor fixado em 4%. Os
mistura, seguindo o prescrito pela DNER – ME 180/1994 – Solos
valores nas 8 misturas desta pesquisa são inferiores aos encontrados
estabilizados com cinza volante e cal hidratada – Determinação
pelos autores citados anteriormente, mas as misturas propostas
da resistência à compressão simples. A Tabela 4 apresenta os
nessa pesquisa propuseram uma melhor compreensão do material
resultados médios obtidos após a realização dos ensaios em
estabilizado com a adição de 2%, 3%, 4% e 5% de emulsão onde foi
laboratório.
adicionado apenas 1% de cimento.
Tabela 4- Valores de RCS para as misturas ensaiadas

4.4 Resistência a Tração por Compressão Diametral


A Tabela 5 mostra a média de três corpos de prova para cada
mistura ensaiada à compressão diametral na temperatura de 25ºC,
conforme norma DNER-ME 138/94. As mostras foram utilizadas após
a realização dos ensaios de MR.
Tabela 5 - Valores de RT para as misturas ensaiadas

O ensaio de RCS para pavimentação é um indicativo do


comportamento da camada estudada ligado ao cisalhamento,
consequentemente ao afundamento de trilha de roda (ATR), podendo
ser utilizado como indicativo de deformação permanente.
As misturas com a adição de 1% de cimento apresentaram
melhores resultados. Dentre esses destaca-se a mistura de 2% 1% que
apresentou 1,41 MPa de resistência à compressão simples. Pode-se
ainda constatar o decréscimo dos valores aferidos na realização dos As misturas com a adição de 1% de cimento apresentaram
ensaios com o aumento do teor de emulsão presente nas misturas. Os valores superiores às misturas sem cimento. Dentre essas, a mistura
menores resultados são das misturas com 5% de emulsão tanto para 2% 1% obteve maior valor entre todas apresentando 0,19 MPa e
misturas com ou sem adição de cimento, conforme a Figura 3. a mistura de 4% 0% apresentou o menor valor para esse ensaio,
Figura 3 - Resultados ensaio de RCS aos 28 dias 0,04 MPa. Também nota-se que o aumento do teor de emulsão,
em todas as misturas, não ocasionou uma diminuição linear dos
resultados obtidos no ensaio, somente constata-se uma tendência
de diminuição do RT com o aumento do teor de emulsão. Conforme
a Figura 4.
Figura 4 - Resultados de RT aos 28 dias

A recomendação da normativa para reciclagem com cimento


no Brasil, DNIT (2013a), propõe que o teor de cimento para a
dosagem de mistura reciclada deve ser definido pela resistência a
compressão mínima de 2,1 MPa, aos 7 dias, no qual nenhuma das 8
misturas atingiram o valor mínimo. Pires (2014) encontrou valores

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 71


Fedrigo (2015) encontrou valores de RT da ordem de 0,28 MPa Valores típicos de base granular, conforme Balbo (2007),
e 0,45 MPa para misturas cimentadas de base com 70% de fresado e encontram-se entre 200 e 350 MPa. Somente 2 misturas não
teor de cimento de 4%. Pires (2014) encontrou valores de 0,26 MPa apresentaram resultado dentro da faixa encontrada pelo autor, 4%
para misturas com fresado e adição de 50% Cinza de Casca de Arroz 0% e 5% 0%. As demais 6 misturas resultaram em valores superiores
(CCA). Apesar dos resultados obtidos serem menores, a mistura ao mínimo de 200 MPa.
2% 1% chegou a valor próximo ao RT obtido por Fedrigo e do RT Pires (2014) encontrou valores entre 5311MPa e 7154MPa para
resultante do estudo de Pires com apenas 1% de adição de cimento. base reciclada com cimento no teor de 5%. Fedrigo (2015) mostrou
resultados para misturas com 70% de fresado com 4% de cimento
4.5 Módulo de Resiliência
de 8420 MPa e 7892 MPa. Para a Mistura de 2% 1% obteve-se o valor
As amostras foram ensaiadas a temperatura de 25ºC e utilizou- de 3098 MPa e para misturas cimentadas um valor mínimo de 1800
se um tempo de carregamento de 0,1 s e um período de repouso MPa.
artigos

de 0,9 s. O coeficiente de Poisson para realização do ensaio foi de


4.6 Flow Number
0,35. Os valores médios de três amostras, além do desvio padrão e
coeficiente de variação (CV) estão apresentados na Tabela 6.
Os ensaios foram realizados após o condicionamento das
Tabela 6- Valores de MR amostras por um período superior a 12 horas a uma temperatura
de 60ºC. Submeteram-se as amostras a um carregamento cíclico
uniaxial repetitivo com carregamento de 0,1 s e repouso de 0,90 s.
A Tabela 7 apresenta os FN de cada uma das misturas propostas
juntamente com a média, o desvio padrão e coeficiente de variação,
além dos coeficientes da aproximação de Francken.

Tabela 7- FN para todas as misturas propostas

Em relação aos valores de MR encontrados observou-se um


aumento considerável com a adição de cimento na mistura. Obteve-
se valores variando entre 170 e 570 MPa para misturas sem cimento,
já para as misturas cimentadas os resultados oscilaram entre 1820
e 3100 MPa. A mistura 4% 1% apresentou um aumento de 10,6
vezes em relação ao MR sem cimento. Constatou-se também
que a mistura com 2% de emulsão obteve os maiores resultados
nos ensaios, tanto com adição de cimento quanto sem adição. A
incorporação de cimento nas misturas aumentou a rigidez em 711% As misturas sem adição de cimento apresentaram valores muito
quando comparado os valores médios das misturas com e sem inferiores em relação às misturas cimentadas. As amostras dos 4%
cimento. 0% e 5% 0%, não suportaram a severidade do ensaio, assim não se
Outro fato observado é que o aumento da quantidade de tem resultados desse ensaio para essas misturas. Na Figura 6 pode-se
emulsão faz com que haja um decréscimo nos resultados tanto observar as duas amostras de cada mistura sem cimento; valores
para misturas cimentadas quanto para as sem cimento. Conforme muito inferiores aos considerados satisfatórios para esse ensaio.
demonstra a Figura 5. Figura 6 - Ensaio de FN para misturas sem cimento
Figura 5 - Resultados de MR a 25ºC aos 28 dias

72 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


A adição de cimento trouxe uma melhora considerável às 5 CONCLUSÕES
misturas. Os melhores valores ocorreram na mistura de 2% 1% que
obteve valor médio de 7246 Ciclos sendo este 207 vezes maior que Nesta pesquisa estudou-se a avaliação das misturas com 70% RAP
a mesma mistura sem adição de cimento. As demais misturas 3% e 30% de pó de pedra com a adição de 2%, 3%, 4% e 5% de emulsão
1% e 4% 1% superam 4500 ciclos e a mistura 5% 1% se aproximou e 0 e 1% de cimento. O aumento dos teores de emulsão não trouxe
de 700 ciclos. Ficando evidente que a adição de cimento diminui aumento de rigidez às misturas e também prejudicou a resistência ao
consideravelmente a suscetibilidade à deformação permanente das dano quando comparadas as misturas com sem cimento.
misturas propostas, conforme a Figura 7. A adição de cimento trouxe melhora aos resultados de ISC, RCS,
Figura 7 - Ensaio de FN para as misturas com cimento RT, MR, e FN das misturas. Todas apresentaram desempenho melhor
quando comparadas as sem cimento.
Nos ensaios de ISC as misturas cimentadas apresentaram
melhores resultados, dentre elas destacou-se a 2% 1%. Com resultados
198,52% maior que a sem emulsão. Fica evidente que o aumento do
teor de emulsão ocasionou o decréscimo dos resultados obtidos tanto
nas misturas sem cimento quanto com cimento.
O comportamento das misturas para os ensaios de RCS é
semelhante ao ensaios de ISC, tanto nas misturas cimentadas quanto
nas misturas sem cimento. A amostra 2% 1% obteve o maior resultado
apresentando um aumento de 63,45% em relação à mistura sem
Os valores médios encontrados no ensaio de FN para as cimento.
misturas cimentadas foram comparados com outros autores. Vale Para o ensaio de módulo de resiliência MR quando se compara
lembrar que Almeida Júnior (2016), Centofante (2016) e Nascimento as misturas, aquelas sem cimento possuem resultados inferiores às
(2008) estudaram revestimentos asfálticos e esta pesquisa busca misturas cimentadas. Comparando-se os resultados médios entre as
uma alternativa para camada de base ou sub-base de pavimentos. misturas com e sem cimento os módulos são aumentados em 711,16%.
Na Figura 8 observa-se que todas as misturas com adição de cimento A amostra com 2% 1% apresentou o maior valor entre todas e obteve o
obtiveram valores superiores aos demais autores sendo que o valor aumento de 546,87% em relação à mistura sem cimento.
mais baixo pertence a mistura 5% 1%. O ensaio de FN mostrou que as misturas cimentadas novamente
Nascimento (2008) recomenda valores de 300 ciclos para possuem maiores resultados que as sem cimento, ou seja, sua
pavimento de tráfego médio e 750 para tráfego pesado para um resistência a deformação permanente é superior as demais. Entre elas
desempenho adequado de deformação permanente de misturas destaca-se a mistura de 2% 1% com um aumento de 207 vezes o valor
asfálticas para uso em camadas de revestimento. As misturas sem cimento.
cimentadas 2% 1%, 3% 1% e 4%1% apresentaram valores superiores Conclui-se que as misturas cimentadas apresentam resultados de
a 750, assim estas podem ser recomendadas para aplicação em resistência à deformação permanente e à rigidez superior às misturas
trechos com tráfego pesado. A mistura 5% 1% apresentou valor entre sem adição de cimento. Entre todas as misturas os melhores resultados
300 e 750 ciclos podendo ser utilizada para trechos com trafego foram da mistura 2% 1% na qual a relação cimento/emulsão, em massa,
médio. As misturas 2% 1% e 3% 1% apresentaram comportamento não excede 62,5%. Demostrando o potencial de utilização da mistura
frágil. As demais misturas apresentaram comportamento dúctil sem reciclada como camada de base ou sub-base de pavimento.
planos de ruptura definidos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Figura 8 - Comparativo de FN com outros autores
ALMEIDA JÚNIOR, P. O. B.;Comportamento mecânico de concretos
asfálticos com diferentes granulometrias, ligantes e métodos de
dosagem.2016. 160 p. Dissertação de mestrado. Universidade Federal
de Santa Maria, Centro de Tecnologia, Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, Santa Maria, RS, 2016.
ASPHALT INSTITUTE. A basic Asphalt Emultion Manual.Manual Series,
No. 19. March 1979.
BALBO, J. T. Pavimentação Asfáltica : materiais, projetos e restauração.
São Paulo, ed. Oficina de textos, 2007.
CENTOFANTE, R. Estudo laboratorial da utilização de material fresado
em misturas asfálticas recicladas a quente.2016. Dissertação de
mestrado. Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Tecnologia,
Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil, Santa Maria, RS,
2016.

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 73


ANÁLISE DOS BENEFÍCIOS DA
IMPLANTAÇÃO DA SEGUNDA PONTE
DO GUAÍBA
Laísa Braga Kappler
Laboratório de Sistemas de Transportes – LASTRAN
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS

Felipe Caleffi
artigos

Laboratório de Sistemas de Transportes – LASTRAN


Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS

Helena Beatriz Bettella Cybis


Laboratório de Sistemas de Transportes – LASTRAN
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS

1. INTRODUÇÃO

A ponte do Guaíba integra o trecho da rodovia BR-


116/290 e se localiza em um ponto estratégico do estado do
Rio Grande do Sul, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
A região apresenta alta concentração populacional e grande
desenvolvimento econômico, seja pela intensa atividade
industrial ou pelo amplo e diversificado setor de serviços
nesse núcleo.
O objetivo deste artigo é analisar o segmento da BR-116/290-RS,
Sua localização é considerada privilegiada por conectar os
atual ponte do Guaíba, e a condição de tráfego na região após
principais eixos de rodovias federais que cortam o estado. Além
a implantação da segunda ponte do Guaíba. O estudo buscou disso, o modal hidroviário é significativo para o transporte de
quantificar a redução de tempo e atraso de viagem e comprimento carga na região. O lago Guaíba é importante rota de comércio
interior e exterior.
de filas sobre a ponte do vão móvel, seus acessos e saídas. O
Atualmente trafegam pela ponte do Guaíba cerca de 54
software VISSIM foi utilizado na modelagem da rede viária. Os mil veículos por dia, nos dias úteis. Enquanto nos finais de
cenários contemplam a configuração atual da rodovia (ano 2017) semana o volume diário atinge pouco mais de 43 mil, em
média. Deste volume, aproximadamente 15,5% é composto
e a condição futura (ano 2027), com a implantação da segunda
por veículos pesados – constatando, dessa forma, que o
ponte. A modelagem foi feita para as condições com e sem
tráfego de veículos de carga é representativo na rodovia.
içamento do vão móvel da ponte. Os resultados indicam que os (Dados obtidos de contagens volumétricas de veículos na
atrasos se devem ao içamento da ponte e que a implantação da rodovia BR-290, a partir de contadores instalados na via,
pelo levantamento de dados contidos no banco de dados da
segunda ponte poderá reduzir o tempo de viagem em até 73% e
CONCEPA, do ano de 2016.)
eliminar filas. A pequena altura útil da ponte provoca um conflito entre
os modais hidroviário e rodoviário, resolvido pelo içamento
do vão móvel. O içamento geralmente ocorre pelo menos

74 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


uma vez ao dia e bloqueia a passagem de veículos sobre a 2.1 Congestionamento
ponte. Somente no ano de 2016 ocorreram 434 içamentos e a Congestionamento ocorre quando a demanda por espaço
ponte ficou fechada ao tráfego por um período total de mais na via é maior do que a oferta, isto é, quando a via se aproxima
de 5 dias. (Dados obtidos a partir de documento interno da da capacidade (EUROPEAN CONFERENCE OF MINISTERS OF
CONCEPA, disponibilizado aos autores, através de planilha TRANSPORT, 2007). Também ocorre por interrupções temporárias
contendo o quadro de içamento da ponte do Guaíba, do ano que reduzem o espaço da via e, então, a capacidade do sistema
de 2016.) (FEDERAL HIGHWAY ADMINISTRATION, 2017).
Este artigo tem o intuito de analisar os benefícios ao
transporte rodoviário com a implantação da segunda ponte 2.2 Tempo de viagem
do Guaíba, comparando-se as condições atuais e futuras Ortúzar e Willumzen (2011) definem tempo de viagem como
de tráfego. Foram avaliados tempo e atraso de viagem, o tempo que o usuário do sistema de transportes leva para se
comprimento de fila e volume de veículos e velocidade deslocar entre dois pontos do espaço. O software VISSIM (PTV,
operacional da via através de simulações de tráfego, com o 2016) utiliza esse conceito para medir o tempo de viagem de
auxílio do software VISSIM. veículos no simulador.
A seção 2 contém as definições de conceitos
importantes. A seção 3 caracteriza a Região Metropolitana 2.3 Fila
de Porto Alegre e as pontes do Guaíba. A seção 4 apresenta Para Lovelock e Wright (2001), fila é a representação de uma
a metodologia utilizada no estudo. A seção 5 apresenta os linha de pessoas, veículos e objetos físicos e intangíveis (serviços)
resultados obtidos com as simulações de tráfego. Na seção 6 que aguardam atendimento. É formada quando a busca por
são expostas as considerações finais da pesquisa. atendimento excede a capacidade do sistema.
Nos dias atuais, a rodovia possui tráfego diário de
milhares de veículos, com velocidades que variam de 60
2.4 Capacidade
a 100 km/h nos perímetros não urbanos, inúmeras curvas Capacidade da via é o máximo fluxo de veículos que ela
acentuadas e trechos sinuosos. Dadas tais condições a ponte pode acomodar, isto é, sua oferta máxima. Uma via operando
estreita favorece a ocorrência de acidentes, nos quais além próximo à capacidade apresenta condições precárias e
da possibilidade da perda de vidas humanas, resulta na dificuldade na troca de faixas (TRANSPORTATION RESEARCH
paralização do trânsito, acarretando prejuízos financeiros BOARD, 2010).
consideráveis, uma vez que existe o dano aos veículos que 2.5 Simulação de tráfego
vierem a se envolver em uma batida, os custos médicos de
Portugal (2005) define simulação como a ação de imitar uma
socorro às vítimas, do serviço especializado para desobstruir
situação real, através do uso de modelos. Poyares e TRB (2000
a pista e, pôr fim, a interrupção temporária no fluxo de
apud PORTUGAL, 2005), como o método de reproduzir eventos
carga transportada pelos caminhões, gerando atrasos no
hipotéticos do sistema estudado com o decorrer do tempo, em
cumprimento de prazos.
um computador.
Esta pesquisa tem como principal objetivo identificar os
impactos causados ao fluxo de veículos e quaisquer outros 3. CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO EM ESTUDO
problemas, que a presença de uma ponte estreita em uma
estrada federal pode acarretar. A Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) é a área
Para compreender os impactos causados nas rodovias mais densamente povoada do Rio Grande do Sul, composta
pela redução da largura da pista de rolamento em função da por 34 municípios, incluindo a capital do estado (INSTITUTO
presença de pontes estreitas, torna-se necessário identificar BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010).
como surgiu está situação, qual o seu nível de impacto e A RMPA é polo de desenvolvimento e de geração de viagens
quais as melhores soluções podem ser adotadas. no estado. A distribuição de funções entre cidades somada
às aglomerações urbanas da região impulsiona movimentos
2. CONCEITOS IMPORTANTES pendulares de pessoas (ALONSO et al., 2009). Além disso, a
região concentra o transporte de cargas nas principais rodovias
do estado, como a BR-116/290-RS.
A seguir são definidos conceitos relevantes para o estudo,
A ponte do Guaíba (Travessia Getúlio Vargas) compõe a
a fim de delimitar seu significado. São eles: congestionamento,
Travessia Régis Bittencourt sobre o Guaíba, entre Porto Alegre e
tempo de viagem, fila, capacidade e simulação de tráfego.

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 75


Eldorado do Sul. Tem pista dupla, 1,1 quilômetro de extensão e Figura 2 – Gráfico do modelo de tendência de crescimento de demanda
10 metros de altura. Seu vão móvel eleva-se por mais 23,5 metros anual na BR-290

(CONCESSIONÁRIA DA RODOVIA OSÓRIO-PORTO ALEGRE S/A;


SPECHT et al., 2012).
A segunda ponte do Guaíba, ou de Transposição sobre o
Delta do Rio Jacuí, está em fase de construção. O projeto prevê
pista dupla, com 36 metros de altura e 12,3 quilômetros de
extensão, entre obras de arte e trechos em aterro (CONSÓRCIO
PONTE DO GUAÍBA; DEPARTAMENTO NACIONAL DE
INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES, 2013). A Figura 1 apresenta
artigos

a rede viária em estudo, com a implantação da nova ponte do


Guaíba.

Figura 1 – Trecho da Travessia Régis Bittencourt com o projeto da


segunda ponte do Guaíba 4.2 Definição dos cenários e simulações

O VISSIM é um software alemão de microssimulação de


tráfego, selecionado para a análise do tema proposto devido
a sua capacidade de modelar diferentes cenários e usar uma
função de distribuição estocástica de velocidades desejadas para
cada tipo de veículo (PTV, 2016).

4.2.1 Construção dos cenários modelados

O modelo da rede viária foi construído para os dois sentidos


da via, entre Porto Alegre e Eldorado do Sul, através da análise do
mapa da região e do projeto geométrico da nova ponte. A Figura
3 apresenta os perfis de demanda de entrada para as simulações.
Figura 3 – Perfis de demanda utilizados como entrada para as simulações

fonte: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, 2015

4. METODOLOGIA
O software VISSIM foi usado para a modelagem da via,
considerando diferentes condições de tráfego. A seguir apresenta-se
a metodologia utilizada no estudo.

4.1 Levantamento de dados


Foram extraídos dados do banco de dados da CONCEPA, fonte: CYBIS; CALEFFI, 2016

através de contadores automáticos instalados na BR-290/RS,


entre 2013 e 2017. O levantamento permitiu realizar a contagem Através da análise de dados dos contadores, foram
volumétrica de veículos, estimar a composição do tráfego e sua construídas hipóteses para estimar as trajetórias dos motoristas,
distribuição na rede viária. após a implantação da nova ponte do Guaíba. São elas:
Para previsões futuras, o volume foi determinado pelo modelo a) usuários que partem de Eldorado do Sul com destino às
de tendência de crescimento de demanda da série histórica de rodovias BR-290 e BR-448 passam a utilizar a nova ponte;
dados da BR-290. A taxa de crescimento anual foi estimada em 12% b) motoristas com origem em Eldorado do Sul que visam
(CYBIS; CALEFFI, 2016). Retirando os dados do período de verão, chegar a Porto Alegre seguem usando a atual ponte;
obteve-se a taxa de 8% ao ano, semelhante à apresentada pela c) usuários oriundos das BR-290 e BR-448, que se destinam a
empresa Engevix, de 8,3% (DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRA- Eldorado do Sul, utilizam a segunda ponte;
ESTRUTURA DE TRANSPORTES; ENGEVIX, 2013). d) motoristas que saem de Porto Alegre e se dirigem a

76 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


Eldorado do Sul continuam a usar a atual ponte; 5. RESULTADOS
e) todos os motoristas utilizam a nova ponte quando a
atual se encontra bloqueada ao tráfego, exceto os que deixam Os resultados desconsideraram o tempo de warming up
Porto Alegre pela avenida Sertório (sem saída direta para a nova (tempo necessário para os veículos se distribuírem dentro do
ponte), que devem aguardar a reabertura da ponte ao tráfego. modelo de simulação). A seção foi dividida para o período
Para este trabalho fez-se a modelagem da via para quatro atual (ano 2017) e futuro (ano 2027). As considerações sobre as
cenários distintos: análises são expostas a seguir.
a) cenário 1: representa o traçado atual do trecho em estudo,
onde há somente a atual ponte do Guaíba, no momento em que 5.1 Período atual (ano 2017)
está aberta ao tráfego rodoviário;
b) cenário 2: representa a condição presente da via, em que Este item está dividido em: tempo e atraso de viagem,
há apenas a atual ponte do Guaíba, porém ela está obstruída, velocidade e comprimento de fila.
devido ao içamento do vão móvel;
c) cenário 3: inclui a nova ponte do Guaíba ao traçado 5.1.1 Tempo de viagem
original, quando as duas pontes estão operando;
d) cenário 4: apresenta a atual ponte fechada ao tráfego, em O trecho em que o tempo de viagem foi mensurado possui
razão do içamento, e a segunda ponte do Guaíba operando. 8 quilômetros (para veículos que utilizam a atual ponte) e 7
Para os cenários 2 e 4, nos quais ocorre a obstrução da atual quilômetros, para veículos que trafegam pela segunda ponte.
ponte, foram analisadas as configurações com o tempo médio de Os gráficos de tempo e atraso de viagem (em segundos) foram
içamento do vão móvel, igual a 17 minutos. As condições foram agregados a cada cinco minutos.
simuladas para os períodos atual (ano 2017) e futuro (ano 2027). O atraso de viagem é caracterizado no VISSIM pelo tempo
4.2.2 Calibração do software VISSIM extra dispendido pelo veículo no trecho modelado. No início da
Os valores dos parâmetros da calibração realizada por Caleffi simulação, o software calcula o tempo de viagem esperado para
foram empregados neste estudo. Para detalhes sobre o método, cada veículo baseado em sua velocidade desejada, e o tempo
sugere-se consultar a publicação de Caleffi et al. (2016). extra contabiliza em atraso.
4.2.3 Método de simulação dos cenários
Cada condição foi simulada três vezes de forma randômica 5.1.1.1 Sentido Porto Alegre-Eldorado do Sul
(sementes aleatórias), totalizando 24 simulações, com 8 horas de
duração. A semente aleatória replica a natureza estocástica do A Figura 5 apresenta a duração dos tempos e atrasos de
fluxo e variações temporais, alterando o padrão de chegada de viagem dos veículos ao longo do dia, entre a saída da BR-448 até
veículos (PTV, 2016). o município de Eldorado do Sul.
Foram inseridos contadores nos dois sentidos da via, para Os tempos de viagem são menores nos cenários 3 e 4 (6
se obter dados de velocidade. Instalaram-se coletores do tempo minutos) já que a nova ponte tem menor extensão. No cenário 2,
de viagem, em ambos sentidos, entre a BR-448 e Eldorado do o tempo sobe para 22 minutos devido ao içamento e o tráfego
Sul. Também foram coletados dados de comprimento de fila. A sofre alterações por uma hora. Os atrasos acompanham a
Figura 4 apresenta o modelo construído no VISSIM, com uma variação dos tempos de viagem.
rede de mais de 36 quilômetros de extensão.

Figura 4 – Modelo da rede viária no simulador VISSIM

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 77


Figura 5 – Gráficos de tempo e atraso de viagem, sentido Porto Alegre- Os tempos de viagem dos cenários 1, 3 e 4 mantêm-se
Eldorado do Sul (ano 2017) constantes em 6 minutos. No cenário 2, o tempo de viagem é de
22 minutos com atraso de 17 minutos. Neste sentido de tráfego,
o tempo de viagem aumenta com o içamento, porém ocorrem
menores perturbações.

5.1.2 Velocidade

Os dados de velocidade foram agregados em intervalos de


cinco minutos.
5.1.2.1 Sentido Porto Alegre-Eldorado do Sul
artigos

A Figura 7 apresenta os resultados obtidos para o sentido


Porto Alegre-Eldorado do Sul.

Figura 7 – Gráfico de velocidade, sentido Porto Alegre-Eldorado do Sul


(ano 2017)

5.1.1.2 Sentido Eldorado do Sul-Porto Alegre

A Figura 6 apresenta o tempo e atraso de viagem de


Eldorado do Sul a Porto Alegre.
Figura 6 – Gráficos de tempo e atraso de viagem, sentido Eldorado do Os cenários 1 e 2 apresentam maior variabilidade no perfil
Sul-Porto Alegre (ano 2017) de velocidades, com média de 85 km/h. Os cenários 3 e 4
apresentam velocidades mais elevadas e constantes, de 95 km/h.
No cenário 2 a velocidade atinge o valor zero no momento do
içamento do vão móvel da ponte, enquanto no cenário 4 a nova
ponte serve de rota alternativa ao trecho obstruído.
5.1.2.2 Sentido Eldorado do Sul-Porto Alegre

A Figura 8 apresenta resultados para o sentido de tráfego de


Eldorado do Sul a Porto Alegre.

Figura 8 – Gráfico de velocidade, sentido Eldorado do Sul-Porto Alegre


(ano 2017)

78 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


O perfil de velocidade apresenta resultados muito Figura 10 – Gráficos de tempo e atraso de viagem, sentido Porto Alegre-
semelhantes para todos os cenários, entre 79 e 92 km/h. Apenas Eldorado do Sul (ano 2027)
o cenário 2 apresenta uma queda para 48 km/h, quando do
içamento.

5.1.3 Comprimento de fila

Os valores foram obtidos para a extensão máxima de fila


medida no simulador, sobre a atual ponte do Guaíba. A Figura 9
apresenta os resultados.
Figura 9 – Gráficos do comprimento máximo de fila, em km (ano 2017)

O aumento do volume de tráfego no período futuro provoca


alterações nos gráficos de tempo. No cenário 1, os tempos de
viagem variam entre 5 e 14 minutos. O cenário 2 apresenta um pico
no momento do içamento, com tempo de viagem de 26 minutos e
atraso de 21 minutos.
As filas ocorrem no momento do içamento do vão móvel da
Os cenários 3 e 4 sofrem perturbações justificadas também
ponte, e são reduzidas – ou eliminadas – com a implantação da
pela geometria da via (Figura 11). Na saída da nova ponte a rodovia
segunda ponte, já que os veículos passam a utilizá-la quando a
recebe quatro faixas de rolamento. Próximo a Eldorado do Sul, no
atual se encontra obstruída. Na configuração atual da rede viária,
início da curva horizontal, a pista se estreita para três faixas e, no
são formadas filas de mais de dois quilômetros quando a via é
final da curva, chega a duas faixas. Isto provoca um gargalo, devido
obstruída. No sentido Porto Alegre-Eldorado do Sul, apenas os
aos conflitos gerados nas trocas de faixa.
veículos retidos na avenida Sertório, que não têm acesso direto à
Figura 11 – Geometria do trecho da BR-116/290-RS, em
nova ponte, formam fila.
Eldorado do Sul

5.2 Período futuro (ano 2027)

Neste item as análises foram separadas em: tempo e atraso


de viagem, velocidade e tamanho de fila.

5.2.1 Tempo de viagem

Esta seção apresenta os gráficos de tempo e atraso de


viagem (em segundos), agregados a cada cinco minutos.

5.2.1.1 Sentido Porto Alegre-Eldorado do Sul

A Figura 10 apresenta as observações feitas desde a saída da


BR-448 até Eldorado do Sul.

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 79


A imagem apresenta o detalhamento da rodovia BR- Figura 13 – Gráfico de velocidade, sentido Porto Alegre-Eldorado do Sul
116/290-RS, onde há estreitamento da pista. No horário de (ano 2027)
pico da manhã, ocorre grande circulação de veículos na região
e estes ficam retidos na via, devido ao gargalo formado após a
implantação da segunda ponte.

5.2.1.2 Sentido Eldorado do Sul-Porto Alegre


A Figura 12 apresenta os tempos e atrasos de viagem entre
Eldorado do Sul e Porto Alegre.

Figura 12 – Gráficos de tempo e atraso de viagem, sentido Eldorado do


artigos

Sul-Porto Alegre (ano 2027)

Os cenários 1 e 2 têm velocidade média de 75 km/h. Os


cenários 3 e 4 apresentam velocidades maiores, de até 93 km/h,
com uma queda brusca devido ao estreitamento de pista,
caracterizando o regime de breakdown.

5.2.2.1 Sentido Eldorado do Sul-Porto Alegre

Os resultados para o sentido Eldorado do Sul-Porto Alegre


são apresentados na Figura 14.

Figura 14 – Gráfico de velocidade, sentido Eldorado do Sul-Porto Alegre


(ano 2027)

O cenário 2 apresenta um pico de 23 minutos, com atraso


de 18 minutos, no momento do içamento, que perturba o O cenário 2 é o único que apresenta uma queda na
tráfego no restante da manhã. Os demais cenários têm tempos velocidade para o valor zero, quando ocorre o içamento do vão
de viagem em torno de 6 minutos, com atrasos próximos a zero. móvel da ponte. O perfil de velocidades dos cenários 3 e 4 são
A implantação da nova ponte (cenário 4) atende à demanda da mais estáveis, visto que com a implantação da segunda ponte
rodovia quando a atual ponte se encontra obstruída. não ocorrem interrupções no tráfego.

5.2.2 Velocidade

Os resultados foram divididos para os dois sentidos de 5.2.2 Comprimento de fila


tráfego e são discutidos na sequência.
No período futuro, as filas são maiores devido ao
5.2.2.1 Sentido Porto Alegre-Eldorado do Sul
aumento do volume de tráfego na via. Enquanto que a
A seção contém os resultados obtidos para o sentido Porto implantação da segunda ponte provoca uma redução
Alegre-Eldorado do Sul. A Figura 13 apresenta os resultados de significativa no tamanho das filas, já que os veículos se
velocidade (em km/h). dirigem a ela quando a outra ponte está obstruída.

80 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


Figura 15 – Gráficos do comprimento máximo de fila, em km (ano 2027)
Agradecimentos

Os autores agradecem o apoio da concessionária


CONCEPA e da construtora Queiroz Galvão, que
disponibilizaram os dados de tráfego.

REFERÊNCIAS

ALONSO, J. A. F.; MAMMARELLA, R.; BARCELOS, T. M. de. Território,


economia e sociedade: transformações na Região Metropolitana de
Porto Alegre. Porto Alegre: Editora da FEE, 2009. Parte 1.
CALEFFI, F.; CYBIS, H. B. B. Proposição e análise de um sistema de
gerenciamento ativo de tráfego em um estudo de caso de uma
autoestrada. Revista Transportes, 2016. v. 24, n. 1, p. 74-83. Disponível
em: <https://www.revistatransportes.org.br/anpet/article/view/925>.
Acesso em: 8 nov. 2016.
No sentido Eldorado do Sul-Porto Alegre, a fila cai de 10 CALEFFI, F.; MOISAN, Y.; CYBIS H. B. B. Analysis of an Active Traffic
Management System proposed for a brazilian highway. Vol. 6, Cap. 2,
quilômetros para 1,7 quilômetros, o que representa uma redução abr. 2016. Disponível em: <www.ijetae.com>. Acesso em: 8 nov. 2016.
de 83%. Já o sentido inverso sofre perturbações devido ao CYBIS, H. B. B.; CALEFFI, F. Avaliação das condições operacionais da
Freeway considerando o atendimento do fluxo sazonal de verão e
estreitamento de pista, e as filas chegam a atingir 4 quilômetros, identificação de alternativas para atender as condições de uso futuro
na condição sem içamento. da rodovia. Jan. 2016. Disponível em: <www.antt.gov.br>. Acesso em: 3
abr. 2017.
CONCEPA. Construção da Ponte do Guaíba e da Free Way. Disponível
6. CONCLUSÕES em: <http://www.triunfoconcepa.com.br/empresa/construcao-da-
ponte-do-guaiba-e-da-free-way.aspx>. Acesso em: 6 nov. 2016.
CONSÓRCIO PONTE DE GUAÍBA: CQG e EGT. Sobre a Nova Ponte.
Disponível em: <www.pontedoguaiba.com.br>. Acesso em: 7 nov. 2016.
A análise dos resultados das simulações permitiu
DNIT. Audiência pública: nova ponte sobre o rio Guaíba – BR-116/290/
confirmar que o gargalo existente hoje na BR-116/290-RS RS, out. 2013. Disponível em: < https://portoimagem.wordpress.
se deve ao içamento do vão móvel da ponte do Guaíba. A com/2013/11/10/apresentacao-da-segunda-ponte-sobre-o-guaiba-41-
slides/ >. Acesso em: 19 maio 2017.
implantação da segunda ponte promove uma rota alternativa DNIT. Ponte do Guaíba, 2015. Disponível em: <http://www.dnit.gov.
ao fluxo de veículos que necessitam atravessar a rodovia, br/copy_of_sala-de-imprensa/arquivos-soltos/ponte-do-guaiba.jpg/
view>. Acesso em: 6 nov. 2016.
sem necessidade de aguardar o fim do içamento para seguir DNIT; ENEGEVIX. Relatório final do projeto básico: projeto executivo
viagem. de engenharia para a construção de uma Segunda Ponte sobre o Rio
Guaíba e acessos, set. 2013. Disponível em: < http://www1.dnit.gov.br/
A implantação da nova ponte provoca uma redução de até editais/consulta/resumo.asp?NUMIDEdital=4292>. Acesso em: 20 maio
73% no tempo de viagem, comparando-se os cenários 2 e 4 na 2017.
ECMT. Managing urban traffic congestion. Paris, França, 2007.
condição atual (ano 2017) com içamento, no sentido Eldorado Disponível em: <http://www.itf-oecd.org/sites/default/files/
do Sul-Porto Alegre, no período de pico da manhã (a partir docs/07congestion.pdf>. Acesso em: 8 nov. 2016.
FHWA. Operations history. Washington, DC, Estados Unidos da América,
das 8h30min). Isto se deve, em grande parte, à diferença de
5 fev. 2017. Disponível em: <https://ops.fhwa.dot.gov/aboutus/opstory.
extensão das duas pontes, de cerca de um quilômetro. htm>. Acesso em: 1 jun. 2017.
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Acesso em: 5 nov. 2016.
aumenta a velocidade operacional da via e diminui o LOVELOCK, Christopher; WRIGHT, Lauren. Serviços: marketing e gestão.
comprimento de filas. As filas podem ser eliminadas com a São Paulo: Saraiva, 2001.
ORTÚZAR, J. de D.; WILLUMSEN, L. G. Modelling Transport. Estados
devida sinalização de uma rota de acesso à nova ponte, para os Unidos da América, 2011. 4. Ed.
veículos oriundos da avenida Sertório. PORTUGAL, L. da S. Simulação de tráfego: conceitos e técnicas de
modelagem. Rio de Janeiro: Interciência, 2005.
Uma ressalva deve ser feita a respeito do sentido de PTV. VISSIM 7 user manual: v.7.0. Karlsruhe, Alemanha, 2016.
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entrar em regime de breakdown consiste em um problema no móvel da Ponte do Guaíba utilizando revestimento asfáltico com
projeto geométrico, próximo a Eldorado do Sul, quando do SBS+TLA. Revista Estradas nº 17. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil,
2012.
estreitamento de pista. Esta condição provoca um aumento no
TRB. Highway capacity manual. Washington, DC, Estados Unidos da
conflito de veículos, além da diminuição da capacidade da via. América, 2010.

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 81


AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO MECÂNICO
DO MATERIAL FRESADO COM ADIÇÕES DE
CIMENTO PORTLAND, CAL HIDRATADA, SÍLICA
DE CASCA DE ARROZ E CINZA VOLANTE
artigos

Marcos Rodrigues da Silva Tatiana Cureau Cervo


Mestrando em Engenharia Civil, UFSM Doutora em Engenharia Civil, docente UFSM

Luciano Pivoto Specht


Magnos Baroni
Doutor em Engenharia Civil, docente UFSM
Doutor em Engenharia Civil, docente UFSM

Jaelson Budny
Mestre em Engenharia Civil, docente Unipampa

Em virtude da importância de se preservar as matérias primas e reduzir os custos que englobam as obras de pavimentação, torna-se premente o estudo de
técnicas construtivas econômicas e sustentáveis para o meio rodoviário brasileiro. Os materiais provenientes da reciclagem de pavimentação asfáltica têm o
potencial necessário para se tornarem uma importante alternativa construtiva, além de contribuírem na política de sustentabilidade. Neste cenário, o artigo
possui o objetivo de analisar o desempenho mecânico quanto à resistência à tração por compressão diametral do material fresado estabilizado com pó de
pedra, misturado com diferentes aglomerantes (cimento Portland CP-IV e cal hidratada dolomítica CH-II) e adições minerais (sílica da casca de arroz e cinza
volante) para sua utilização como camada de base para pavimentos. Utilizando o compactador Marshall, foram moldadas 10 misturas com diferentes teores
de adição na energia modificada do ensaio Proctor. Os ensaios foram realizados aos 28 dias de cura em corpos de prova com dimensões de altura de 5 cm e
diâmetro de 10 ± 0,2 cm. Os traços contendo 80% material fresado e 20% pó de pedra, estabilizados com 5% de cimento + 5% de sílica e estabilizados com
5% de cal + 10% de sílica apresentaram os melhores resultados. Verificou-se que tanto o cimento como a cal podem ser utilizados como agentes cimentantes
e que as adições minerais melhoram significativamente as propriedades mecânicas, contudo só podem ser utilizadas em conjunto com aglomerantes que
possuem a capacidade de ativar as suas reações pozolânicas. Também, que o estudo das mais variadas adições químicas se justifica, pois independente do
agente cimentante, os resultados foram satisfatórios. Por fim, considerando que o descarte indevido do material fresado é considerado um passivo ambiental, e
que as resistências mecânicas obtidas nos corpos de prova foram superiores às preconizadas tanto na normativa brasileira (DNIT-ES 167/13) como internacional
(WIRTGEN, 2012), conclui-se que os traços analisados apresentam potencial de utilização como material de base de pavimentos.

1. INTRODUÇÃO
O modal rodoviário é qualificado como uma das principais no momento adequado, excesso de cargas e idades elevadas dos
indústrias mundiais, seja do ponto de vista político, militar ou pavimentos.
econômico. No Brasil, este modal é a principal infraestrutura Em 2016, a Confederação Nacional dos Transportes (CNT,
de transporte para cargas e passageiros, representando 2017) identificou 49.898 km (48,3% da extensão total avaliada)
aproximadamente o transporte de 90% dos passageiros e 60% com algum tipo de problema no pavimento. A melhoria das
das cargas (SPECHT et al., 2012). Este fato leva a uma excessiva condições dessas rodovias é vital para o desenvolvimento da
degradação da malha rodoviária, que ainda está relacionada a economia brasileira. Neste cenário, uma possibilidade favorável à
um conjunto de outros fatores, como: ausência de manutenção disposição final do material fresado é a reciclagem dos materiais

82 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


oriundos dos processos de conservação e/ou restauração Essa especificação estabelece que se atinja 98% da energia
dessas vias. No Brasil, a técnica de reciclagem de pavimentos modificada do ensaio Proctor. O tempo de cura está diretamente
vem sendo aplicada há pouco mais de 20 anos, entretanto, por relacionado ao ganho de resistência, causado pelas diferentes
mais que tenha ganhado ênfase na última década, ainda não adições na mistura, a PCA (2007) relata que os tempos de cura de
existem metodologias de dosagem e projeto das misturas de 7 e 28 dias acabam sendo utilizados como padrões de execução
material fresado estabilizados. Neste sentido, há uma grande e desempenho das camadas.
necessidade de estudos que busquem analisar as mais diversas A base reciclada apresenta comportamento de um
formas de utilização desse material, visando gerar um banco de pavimento semirrígido. Desta forma, trabalha sobre compressão
documentação técnica qualificada para fomentar o reuso do no topo enquanto as fibras inferiores estão sujeitas a tensões
pavimento fresado. de flexão (SEVERI et al,. 1999). A partir disso, os métodos de
Diante deste contexto, a pesquisa objetivou verificar a ação dosagem adotam dois ensaios de caracterização mecânica
de diferentes agentes cimentantes e adições minerais quando que buscam atender os mecanismos de ruptura: resistência à
adicionados em misturas de materiais fresados. Em razão das compressão e tração. A resistência à tração é um dos principais
camadas cimentadas apresentarem problemas de fadiga, o meios de análise de misturas recicladas, visto que por meio
comportamento mecânico destas misturas será analisado frente da avaliação da fratura se pode estimar a vida a fadiga deste
ao ensaio de resistência à tração por compressão diametral. A material. A especificação DNIT-ES 167/13 estabelece que tal
partir dos resultados, apresentar-se-á diferentes análises da ação propriedade deve se situar entre 0,25 MPa e 0,35 MPa, aos 7 dias
individual e interação dos agentes químicos na matriz pétrea de cura. Já pela WIRTGEN (2012) o valor mínimo de resistência
com 80% material fresado e 20% pó de pedra, visando seu à tração deve ser de 0,25 MPa (também aos 7 dias de cura), a
emprego em camadas de base de pavimentos. fim de impedir a desintegração da mistura que ocorre pelas
mudanças volumétricas decorrentes do processo e também para
avaliar questões referentes a durabilidade que estão relacionadas
2. BASE CIMENTADA – RECICLAGEM DE
com os efeitos destrutivos da carbonatação.
PAVIMENTOS

De acordo com a Portland Cement Association (PCA, 2010), 3. PROGRAMA EXPERIMENTAL


a técnica de reciclagem de pavimentos consiste na trituração do
revestimento asfáltico, simultaneamente com camadas inferiores. O programa experimental foi elaborado com o objetivo
O material resultante é misturado com o agente cimentante de avaliar a resistência à tração por compressão diametral
e novamente compactado, gerando-se nova camada de base (RTCD) das misturas composta pela matriz pétrea fixa com 80%
estabilizada, que apresentará maior homogeneidade, resistência material fresado e 20% pó de pedra misturado com diferentes
e propiciará um melhor desempenho em relação ao pavimento aglomerantes (cimento Portland CP-IV e cal hidratada dolomítica
original, proporcionando maior durabilidade e menores custos CH-II) e adições minearias (sílica de casca de arroz (Si) e cinza
de manutenção. O DNIT (2006) prescreve que a técnica pode ser volante (CV)). Foram realizadas 10 diferentes misturas. As
utilizada em rodovias de baixo volume de tráfego, acostamentos proporções estão identificadas na Tabela 1.
de rodovias principais e como base estabilizada. O desempenho
Tabela 1 – Nomenclatura das misturas
destas misturas é analisado a partir de sua estabilidade
granulométrica e dos parâmetros relacionados à compactação,
umidade ótima e tempo de cura.
A estabilidade é atingida a partir da utilização de faixas
granulométricas que estão de acordo com a metodologia de
dosagem empregada. A WIRTGEN (2012) relaciona que os
fatores que influenciam a granulometria são as condições do
asfalto in situ (composição e uniformidade do material) e pela
operação de fresagem (profundidade, velocidade, sentido de
corte). Os parâmetros relacionados à compactação das misturas
recicladas seguem a normativa DNIT-ES 167/13, buscando
sempre o aumento de resistência a partir do incremento do
grau de compactação para o mesmo teor de agente cimentante.

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 83


De acordo com Silva (2016), a composição granulométrica A Figura 1 representa as curvas granulométricas do
de 80% material fresado e 20% pó de pedra contém finos material fresado e pó de pedra utilizados, sendo obtidas apenas
suficientes para preencher os espaços vazios entre os grãos, por peneiramento até a peneira de abertura de 0,075 mm.
aumentando a interação entre os mesmos e consequentemente
sua densidade e resistência ao cisalhamento. O teor de cimento Figura 1 – Curva granulométrica do material fresado e pó de pedra
foi fixado em 5% (em massa), já que este é o mínimo indicado
pela NBR 12253/92 e também o valor sugerido por pesquisas
anteriores (PIRES, 2014). A determinação dos teores de sílica de
casca de arroz foi baseada na literatura nacional sobre concreto
de cimento Portland (ISAIA et al., 2010), dado que os avanços
artigos

na área da construção civil estão à frente no que diz respeito à


aplicação em pavimentação. O teor de cal adotado foi a partir de
ensaios físico-químicos que visavam o máximo aproveitamento
da sílica na mistura. Por fim, para critério de comparação, adotou-
se o mesmo teor da sílica para a cinza volante.
A compactação foi realizada com a energia modificada
do ensaio Proctor. Apesar da especificação brasileira (DNIT-ES
167/13) sugerir valores para a RTCD aos 7 dias de cura, nesta
pesquisa será utilizado o tempo de cura para os corpos de prova Os aglomerantes utilizados foram o cimento Portland CP
(CPs) de 28 dias. Este período foi adotado, pois se pretende IV – 32 e a Cal hidratada CH – II de origem dolomítica. As adições
avaliar o comportamento mecânico das misturas frente as minerais escolhidas foram à sílica da casca de arroz e a cinza
diferentes adições químicas com o decorrer do tempo, e esta volante. Os aglomerantes são industrializados e foram adquiridas
análise seria prejudicada, uma vez que a cal hidratada necessita no comercio local, já a sílica da casca de arroz foi cedida pela
de um período maior de cura para que ocorram suas reações empresa Pillecco Nobre (situada em Alegrete – RS) ea cinza
químicas e se formem os silicatos e aluminatos de cálcio. volante que é um resíduo gerado a partir da queima do carvão
mineral foi fornecida pela Usina Termelétrica Presidente Médici –
UTPM – Candiota II.
3.1 Materiais Em seu estudo, Marangon et al. (2013) utilizaram a
mesma sílica da casca de arroz. Os autores verificaram que a sílica
obtida por um sistema inovador de combustão, que proporciona
controle de temperatura, resultando em uma sílica homogênea
O fresado utilizado na pesquisa é oriundo da e altamente amorfa apresenta grande potencial pozolânico. Por
restauração da pista existente na BR – 290, próximo à cidade de meio de ensaios, verificaram que a mesma apresenta 91,48%
Rosário do Sul – RS, sendo que sua extração foi realizada pela de dióxido de silício (SiO2), sendo que para um material ser
técnica de fresagem a frio. O material fresado foi peneirado e a considerado sílica este teor deve estar entre 91 e 95%.
fração de material utilizada foi a passante na peneira 9,5 mm. A
escolha da fração de material fresado se deu pelas dimensões
dos moldes dos corpos de prova. 4. MÉTODOS
O pó de pedra foi adquirido através do processo de
britagem e coletado diretamente da unidade de produção, o
qual foi fornecido na pedreira localizada na cidade de Alegrete
– RS, na latitude (29°50'13.45") Sul e longitude (55°46'27.02") O ensaio de compactação foi realizado apenas na
Oeste. Ele é proveniente de rocha basáltica básica da formação mistura FP, composta por 80% material fresado e 20% pó de
Serra Geral, semelhante à encontrada em outros pontos do pedra, pois as adições incorporadas não alteram de maneira
estado de RS e considerada a mais representativa desta região do significativa o peso específico e a umidade ótima das misturas.
país. A fração de pó de pedra utilizada nas misturas foi a passante A massa específica máxima determinada foi de γ_d = 2,36 g/
na peneira 4,75 mm, visto que o DNIT-ES 167/13 sugere que a cm³ para a umidade ótima de 7,5%. Estes resultados foram
fração passante na peneira nº 4 (4,75 mm) da mistura, seja de, no adotados para todas as misturas analisadas. Foram moldados
mínimo, 50%. seis corpos de prova (CPs) para cada traço proposto, totalizando

84 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


60 corpos de prova. Esta etapa se baseou em alguns pontos no
procedimento estabelecido pela NBR 5738/15. Primeiramente Figura 2 – Resistência à Tração por compressão diametral
se realizou a mistura a seco dos materiais que haviam sido
separados, até que houvesse a homogeneização dos mesmos.
Após se determinou a umidade higroscópica do fresado e do
material pétreo e se executou a mistura úmida, adicionando o
teor de umidade definido pela curva de compactação. Por fim,
procedeu-se a compactação dos corpos de prova com altura
entre 3,5 cm e 6,5 cm e diâmetro de 10 ± 2 cm, utilizando o
compactador Marshall.
O número de golpes necessários para atender os
parâmetros de compactação foi definido pelas recomendações
da DNER-ME 181/94. A umidade de moldagem foi verificada
em amostras após a compactação, tendo como tolerância
de aceitação o teor de 7,5 ± 1%. Decorrida 24 horas após a
moldagem, os CPs foram desmoldados e acondicionados em
ambiente climatizado a 22°C para a cura em câmera úmida por
um período de28 dias. Analisando a mistura FP, percebe-se que a mesma
Os ensaios de resistência à tração por compressão apresentou valores relativamente baixos de RTCD, isto era
diametral foram realizados conforme o método de ensaio DNIT- esperado, visto que, não havia nenhuma adição de aglomerante
ME 136/10. Dos 6 CPs existentes de cada traço, 3 foram colocados em sua composição. O mesmo acontece com as misturas FP-Si10
submersos em água por 24 horas antes do ensaio e 3 foram e FP-CV10, onde foram realizadas apenas adições minerais de
ensaiados com a umidade natural de cura. Fez-se uso de uma sílica e cinza volante. Estas adições necessitam da presença de
Máquina Universal de Ensaios da marca EMIC, com capacidade um outro estabilizante, como cal ou cimento, para que ocorram
máxima de 200 kN, modelo DL20.000MF e a velocidade de suas reações pozolânicas. Percebe-se que os corpos de prova
aplicação do carregamento foi 0,8 mm/s. O programa que desses 3 traços (FP, FP-Si10 e FP-CV10) desmancharam durante
acompanha a prensa é o software Tesc, o qual fornece os dados o período em que estiveram submersos em água. A ausência de
da força resistente de ruptura, da tensão resistente e os gráficos agentes cimentantes nessas misturas explica a desagregação das
de ruptura. mesmas na condição submersa.
Adotando-se a mistura FP-Ci5(80% fresado e 20%
pó de pedra + 5% cimento) como referência para a análise
5. RESULTADOS das misturasFP-Ci5-Si5 e FP-Ci5-CV5, percebe-se o grande
incremento de resistência à tração propiciados por ambas
adições minerais, respectivamente, 217% para a mistura FP-
É de conhecimento que aos 28 dias de cura, a Ci5-Si5 (+ 5% sílica) e 62% para FP-Ci5-CV5(+ 5% cinza volante).
cal hidratada já iniciou suas reações pozolânicas, porém Estas dosagens apresentam grande potencial para utilização
ainda não atingiu sua resistência máxima. Também que as na pavimentação, pois materiais com maior resistência à tração
misturas contendo cimento Portland na composição, por tendem a ter uma maior vida à fadiga, sendo este um dos
possuírem aceleradas reações pozolânicas, podem atingir principais problemas encontrados da pavimentação brasileira.
aproximadamente a resistência máxima no mesmo período. Por apresentarem cimento na sua composição, o estudo destas
A diferença de comportamento e reações desses misturas aos 7 dias de cura seria de grande valia para análise
materiais justifica o grande uso do cimento Portland em relação frente das normativas supracitadas. Os resultados dos CPs
à cal hidratada. Por possuir reações de hidratação superiores, o submersos seguiram o mesmo padrão que os secos, contudo,
cimento por questões construtivas acaba sendo mais utilizado obtiveram em média um decréscimo de resistência de 17%.
e pesquisado. Mesmo assim, ambos os materiais podem ser Tendo a mistura FP-C10(80% fresado e 20% pó de
utilizados como aglomerantes na reciclagem de pavimentos. pedra + 10% cal) como referência para a análise das misturas
A Figura 2 apresenta os resultados dos ensaios de FP-C10-Si5e FP-C10-CV5, verifica-se que assim como nos traços
resistência à tração por compressão diametral das 10 misturas contendo cimento, ocorreram significativos incrementos de
ensaiadas a seco e submersas por 24h com 28 dias de cura. resistência à tração, resultantes das adições minerais,

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 85


respectivamente, 326% para a mistura FP-C10-Si5(+ 5% REFERÊNCIAS
sílica) e 105% para FP-C10-CV5(+ 5% cinza volante). Já o ASSOCIAÇÂO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12253: Solo
traço FP-C5-CV10, que recebeu adição de 5% de cal e 10% cimento – Dosagem para emprego em camada de pavimento. Rio de
Janeiro, 1992. 14p.
de sílica, apresentou a maior tensão resistente das misturas
estabilizadas com cal e foi a que permaneceu mais estável _____. NBR 5738: Procedimento para moldagem e cura de corpos-
frente a saturação dos CPs. Em relação aos demais CPs de-prova. Rio de Janeiro, 2015. 9p.

submersos (FP-C10, FP-C10-Si5 e FP-C10-CV5), apresentaram CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE. Anuário


em média um decréscimo de resistência igual a 18%, valor CNT do transporte 2017: Estatísticas Consolidadas. http://
anuariodotransporte.cnt.org.br/2017/Rodoviario/1-3-1-2-/
semelhante ao encontrado nas misturas estabilizadas com Condi%C3%A7%C3%A3o-das-rodovias---Pesquisa-CNT-de-Rodovias.
cimento Portland. Acesso em 28/09/2017.
artigos

DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM – DNER.


Solos estabilizados com cinza volante e cal hidratada – determinação
5. CONCLUSÕES da resistência à tração por compressão diametral, DNER-ME 181/94.
Rio de Janeiro, 1994, 7p.

DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES


- DNIT. Manual de Pavimentação.3º ed. Rio de Janeiro, 2006, 274 p.

As seguintes conclusões podem ser inferidas a partir dos _____. DNIT-ME 136/2010: Pavimentação asfáltica – Misturas
asfálticas - Determinação da resistência à tração por compressão
resultados obtidos neste trabalho: diametral – Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2010, 6 p.

_____. DNIT-ME 164/13: Solos – Compactação utilizando amostras


Por mais que o cimento Portland seja o aglomerante não trabalhadas – Método de Ensaio. Rio de Janeiro, 2013, 7 p.
mais difundido no meio construtivo e o mais estudado, a
_____. DNIT-ES 167/13: Pavimentação – reciclagem profunda de
cal hidratada tem igual potencial para ser utilizada no meio
pavimentos in situ com adição de cimento Portland – especificação
rodoviário quando consideradas suas limitações. de serviço. Rio de Janeiro, 2013a, 11 p.

ISAIA, G. C.; GASTALDINI, A. L. G.; MEIRA, L.; DUART, M., ZERBINO,


As misturas que receberam adições minerais R. Viabilidade do emprego de cinza de casca de arroz natural em
apresentaram propriedades mecânicas muito superiores às que concreto estrutural. Parte II: Propriedades da durabilidade. In: CINPAR
2010, Córdoba. Anais… Córdoba, Argentina, 2010.
receberam apenas agentes cimentantes, isto comprova a grande
capacidade pozolânica destas adições quando misturadas com MARANGON, E.; MARTON, L. F. M.; SOARES, E. L.; MENDES, G. G.;
MARTINS, R. P.; SILVA, D. M. G. Atividade Pozolânica da Sílica da Casca
cimento ou cal e sua usabilidade para a pavimentação. Realça- de Arroz por combustão em leito fluidizado. In: Congresso Brasileiro
se a sílica que obteve um acréscimo médio de resistência igual do Concreto, 55., 2013, Gramado, RS. Anais... Gramado, RS: IBRACON,
2013, p. 135.
a 102% em relação acinza volante. Fica evidente também, que
as adições só podem ser utilizadas quando misturadas a outros PIRES, G. M. Estudo da estabilização granulométrica e química de
material fresado com adição de cimento Portland e cinza de casca
aglomerantes.
de arroz para a aplicação em camadas de pavimento. 2014. 162 p.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) –Universidade Federal
de Santa Maria, RS, 2014.
Dentre todos os traços, os que obtiveram as melhores
respostas frente as adições químicas, resultando em elevadas
resistências à tração, foram os traços FP-Ci5-Si5 e FP-C5-CV10. PORTLAND CEMENT ASSOCIATION – PCA. Design of Full-Depth
Reclamation with Portland Cement (FDR-PC) Pavements. Annual
Verifica-se que possivelmente todas as misturas que receberam Conference of the Transportation Association of Canada Halifax,
adições químicas poderiam ser utilizadas no meio rodoviário, Nova Scotia, Canada, 2010. 12 p.

necessitando-se de uma análise econômica e de disponibilidade _____. PCA: Full-Depth Reclamation using Portland Cement: A Study
de material para a devida adequação de projeto da mistura a ser of Long-Term Performance. Illinois, E.U.A, 2007. 60 p.
adotada. SEVERI, A. A., BALBO, J.T. RODOLFO, P.R., SESTINI, V. M., PRIETO, V.
Verificação à fadiga de Revestimentos Asfálticos e Bases Cimentadas
“Programa Pavimentos Asfálticos v. 1.0” Der. 1999. 27 p.
Fazer um estudo aprofundado das misturas que
apresentaram melhor comportamento mecânico. Pois, percebe-
SILVA, M. R. Utilização de material fresado com adições de cimento
se que mesmo adições químicas não usuais, apresentam
Portland e pó de pedra em camadas de base e sub-base de
resistências semelhantes às combinações tradicionais pavimentos. 2016. 83 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação
(estabilização com cimento Portland). em Engenharia Civil) –Universidade Federal de Santa Maria, RS, 2016.

86 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


DEFORMABILIDADE DE MISTURAS
RECICLADAS ESTABILIZADAS COM LIGANTE
ASFÁLTICO

artigos
Vanderlei Dias da Silva Kamilla Vasconcelos Liedi Légi Bariani Bernucci
Departamento de Engenharia de Transportes EPUSP Departamento de Engenharia de Transportes EPUSP Departamento de Engenharia de Transportes - EPUSP

A utilização de materiais reciclados tem se 1. INTRODUÇÃO


mostrado cada vez mais importante para
a restauração de pavimentos, em vista
dos benefícios econômicos, sustentáveis
e de logística. Os pavimentos asfálticos As estruturas de pavimento sofrem deteriorações ao longo do tempo devido
construídos com materiais reciclados
à solicitação do tráfego e às ações climáticas, reduzindo o nível de qualidade do
estabilizados com ligante asfáltico têm
apresentado bom desempenho frente aos pavimento e potencializando o risco da ocorrência de acidentes. Dessa forma, serviços
principais mecanismos de deterioração de intervenções como conservação, revitalização e restauração são necessários para
que são a deformação permanente e o proporcionar uma condição favorável do nível de qualidade do pavimento.
trincamento por fadiga. A presente pesquisa
tem como objetivo avaliar o comportamento
Neste contexto, a reciclagem dos pavimentos surge como uma solução técnica
quanto à deformação permanente de e sustentável que possibilita a manutenção das condições ideais dos pavimentos
material reciclado estabilizado com espuma com o emprego de novas tecnologias e materiais. O uso de materiais reciclados em
de asfalto e com emulsão asfáltica por meio
pavimentação, particularmente para estruturas de pavimentos flexíveis, é uma prática
da análise dos resultados obtidos no método
de ensaio de Flow Number. Os resultados econômica e sustentável que vem ganhando aceitação nas últimas décadas (KUNA,
evidenciaram o melhor desempenho do 2015).
material reciclado estabilizado com espuma As principais vantagens na utilização da técnica da reciclagem são os benefícios
de asfalto que apresentou maior resistência à
econômicos, ecológicos e logísticos por meio da redução dos custos com transporte e
deformação permanente.
utilização de materiais reciclados em substituição aos materiais virgens, a redução no
tempo de construção e impactos operacionais, e a possibilidade de uma reabilitação
mais rápida das camadas. Assim, a reciclagem passou a ser considerada uma ferramenta
importante para os serviços de manutenção e conservação, principalmente em rodovias
de tráfego intenso, onde questões operacionais são bastante relevantes (GUATIMOSIM,
2015; KUNA, 2015).
Para promover a recuperação do pavimento com a reutilização do material fresado
são adotados alguns tipos de reciclagem para esses materiais, como a reciclagem a
frio, morna ou quente. A técnica de reciclagem a frio utiliza materiais provenientes da

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 87


fresagem (podendo ser profunda) estabilizados com espuma Figura 1 - Comportamento dos diferentes materiais utilizados em
de asfalto, ou com emulsão asfáltica, geralmente com a adição pavimentação
de uma pequena porcentagem de fíler ativo (cimento ou cal
hidratada) e água. Em muitas referências internacionais esse
material é denominando de Bitumen Stabilized Materials
(BSMs) (JENKINS & COLLINGS, 2016), apesar de ainda haver
muito debate sobre os limites de ligante asfáltico e ligante
hidráulico para que o material se mantenha como BSM. Os BSMs
são materiais ligados não continuamente, devido ao ligante
ser distribuído de forma descontínua, e possuem duas fases
artigos

de comportamento estando sujeitos a sofrerem deterioração


principalmente por deformação permanente (ARRA, 2001;
BONFIM, 1999; WIRTGEN, 2012).
A caracterização do comportamento do material quanto
à deformação permanente é relevante para o conhecimento
Fonte: adaptado de Asphalt Academy (2009)
do efeito deste mecanismo na estrutura do pavimento. Dentro
deste contexto, este trabalho objetiva realizar uma análise da Os BSMs se encontram dentro da gama de aplicação
deformação permanente dos BSMs, estabilizados com emulsão dos materiais granulares e dos concretos asfálticos. Contém
asfáltica e com espuma de asfalto, por meio da adoção do em sua composição aglomerantes hidráulicos (geralmente
método de ensaio de Flow Number (FN) adaptado às misturas cimento Portland ou cal hidratada) em baixos percentuais e
recicladas a frio. Os ensaios foram realizados sem tensão de asfalto (espuma ou emulsão) que proporcionam aos BSMs
confinamento, a uma condição de temperatura constante e a um desempenharem um papel estrutural importante, tendo como
nível de tensão de carregamento (σd) constante. benefícios adicionais o aumento da resistência à umidade e
flexibilidade, conforme aumento do teor de asfalto e, o aumento

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA da resistência à deformação permanente, porém com uma


flexibilidade reduzida conforme o aumento do teor de cimento
2.1 Comportamento de Materiais Estabilizados com (KHOSRAVIFAR, 2012; PÉREZ et al., 2013).
Asfalto
2.2 Deformação Permanente de Materiais
O comportamento dos BSMs pode ser dividido em Estabilizados com Asfalto
duas fases: (i) na primeira fase ocorre o aumento da rigidez
inicial devido à cura e densificação do material, nesta fase A deformação permanente é considerada uma das principais
considera-se que o BSM comporta-se como um material patologias dos BSMs (WIRTGEN, 2012). Diversos são os fatores
granular com dependência da tensão; (ii) na segunda que influenciam o desempenho dos BSMs frente a deformação
fase considera-se que o BSM apresenta comportamento permanente, podendo ser citados a origem do agregado, as
semelhante ao de um concreto asfáltico usinado a quente, propriedades do agregado, a composição volumétrica do
tendo um comportamento viscoelástico, porém menos material reciclado, o clima da região onde será utilizado, o tipo
dependente da temperatura e da frequência de carga (PÉREZ de ligante asfáltico e emulsão, o teor e dispersão do ligante
et al., 2013). asfáltico, a utilização de fíler, o teor de umidade, o processo de
A quantidade de emulsão ou espuma de asfalto cura, etc (JENKINS & COLLINGS, 2016).
utilizadas, geralmente, não ultrapassam a taxa de 3% em Como forma de reduzir os efeitos desses fatores no
massa. O aumento da resistência da mistura, a melhora na desempenho à deformação permanente e aumentar a resistência
coesão e a redução da susceptibilidade a umidade estão dos BSMs com emulsão asfáltica ou espuma de asfalto pode-se:
diretamente associados ao resultado da dispersão destes ajustar a distribuição granulométrica para melhorar o ângulo
estabilizantes e da cobertura dos agregados. O ângulo de de atrito; melhorar a forma, a rigidez, a rugosidade e o tamanho
atrito interno dos BSMs é pouco influenciado pela dispersão das partículas; aprimorar o processo de compactação para um
e o seu comportamento comparado com outros materiais aumento da densificação do material; aumentar os cuidados com
utilizados em pavimentação pode ser observado na Figura 1 o processo de cura; limitar o teor de emulsão asfáltica ou espuma
(ASPHALT ACADEMY, 2009). de asfalto (geralmente em torno de 3%), pois porcentagens

88 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


maiores podem ter efeito lubrificante na mistura diminuindo A Tabela 1 apresenta os parâmetros aplicados nos estudos
o ângulo de atrito e podendo levar o material a ruptura por realizados por Kim et al. (2009), Kim e Lee (2012), Apeagyei et
cisalhamento e consequentemente a deformação permanente al. (2011) e Boriack et al. (2014). Algumas premissas do ensaio
(KHOSRAVIFAR, 2012; WIRTGEN, 2012). foram mantidas as mesmas com relação ao ensaio de misturas
asfálticas usinadas a quente, como: dimensões dos corpos de
2.3 Flow Number prova, número de aplicação de ciclos de carga e forma do pulso
de carregamento.

O ensaio de Flow Number (FN) foi desenvolvido para Tabela 1 - Parâmetros adotados no ensaio de Flow Number para estudo
identificar as características de deformação permanente de de misturas recicladas
misturas asfálticas e vem sendo adotado também para os BSMs,
sendo o material submetido a um carregamento cíclico, sem
confinamento (KIM et al., 2009). De acordo com Witczak et al.
(2002), o ensaio é realizado a uma temperatura específica e com
aplicação de um pulso haversine axial compressivo de carga
repetida com duração de 0,1 s e com um período de repouso de
0,9 s de duração, até atingir 10.000 ciclos de carga ou até a falha da
amostra resultando em 5% de deformação, o que ocorrer primeiro,
utilizando amostras confeccionadas com 100 mm de diâmetro e Após realização do ensaio, os dados de deformação e número
150 mm de altura. O número total de ciclos e o tempo de duração de ciclos são ajustados a um modelo matemático para calcular
do ensaio são dependentes da temperatura e dos níveis de tensão o ciclo no qual a zona terciária começa, caracterizando o FN da
aplicados. O autor descreve que para misturas asfálticas os níveis amostra. Para isso tem sido utilizado o modelo de Francken, que
de tensão cobrem o intervalo entre 69 e 207 kPa. foi determinado em estudo realizado por Biligiri et al. (2007), após
Os resultados do ensaio de FN são normalmente estudar diversos modelos de deformação permanente, como sendo
apresentados num gráfico de deformação permanente o modelo que melhor representa o FN por descrever as três zonas
acumulada versus número de ciclos. A deformação permanente de deformação permanente.
acumulada é dividida em três zona: (i) na primeira, ocorre uma
consolidação inicial da mistura a medida que é carregada; (ii) 3. MATERIAIS E MÉTODOS
na segunda, a taxa de deformação permanente se mantém Foram analisadas amostras de material reciclado estabilizado
constante; e (iii) na terceira, a taxa de deformação permanente com emulsão asfáltica e com espuma de asfalto. A mistura com
aumenta rapidamente, como ilustrado na Figura 2. O FN é emulsão asfáltica foi preparada manualmente e a mistura com
definido como o número de ciclos de carga até o início da zona espuma de asfalto foi preparada com a misturadora WLB 10 S da
terciária (WITCZAK, 2007; COPELAND et al., 2010). marca Wirtgen. Os parâmetros adotados para as misturas estão
descritos na Tabela 2.
Figura 2 - Gráfico do ensaio de FN - deformação permanente acumulada
Tabela 2 - Parâmetros da mistura das amostras de BSMs
versus ciclos de carga

Para o ensaio de FN, as amostras foram compactadas pelo


método de compactação Proctor, compactando as amostras em
8 camadas na energia modificada (26 golpes por camada). Após a
compactação e cura, as amostras produzidas para o ensaio de FN
foram serradas para atingir a altura de 150 mm especificada pelo
método, Figura 3. Todas as amostras foram ensaiadas após cura
completa, não sendo contemplado nesse artigo o efeito da cura na
deformabilidade. Maiores informações sobre o efeito da cura nessa
Fonte: Kim et al. (2009) deformabilidade em campo pode ser encontrado em Andrade (2016).

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 89


Figura 3 - Amostras compactadas para o ensaio de FN, (a) emulsão e (b) Figura 5 - Gráfico do FN - BSM estabilizado com espuma de asfalto
espuma
artigos

5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
A B

O ensaio de FN foi conduzido sem confinamento com Os ensaios realizados possibilitaram verificar a vantagem
aplicação de tensão axial de 140 kPa, conforme estudo de Kim quanto ao desempenho mecânico das misturas recicladas a frio
e Lee (2012), que adotaram tal nível de tensão com o objetivo indo além das vantagens ambientais e econômicas do material,
de atingir a zona terciária em um número de ciclos que não com destaque ao material estabilizado com espuma de asfalto,
ultrapassasse os 10.000, adotando uma temperatura de 40°C. que apresentou maior resistência à deformação permanente.
Para observação da tendência a deformação permanente Os resultados de FN evidenciaram o melhor desempenho
das amostras ensaiadas, os dados de deformação axial e do BSM estabilizado com espuma de asfalto, corroborando as
número de ciclos do ensaio de FN coletados foram utilizados diferenças observadas por Muthen (1999) entre os dois processos
para determinação matemática do FN por meio do modelo de de estabilização. A maior deformabilidade da mistura produzida
Francken, conforme descrito anteriormente. com emulsão asfáltica pode ter sido influenciada pela ligação
química ocorrida entre a emulsão asfáltica polimérica e o cimento
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES adicionado (2%), pelo teor de emulsão e sua dispersão na mistura,
ou também pela composição do corpo de prova com 98% de RAP
Os gráficos com a curva de deformação e o FN calculado podendo influenciar no intertravamento do material.
das amostras das misturas recicladas com emulsão asfáltica A pesquisa mostra a importância da caracterização do
e com espuma de asfalto são mostrados nas Figuras 4 e 5, material quanto à deformação permanente. É importante ainda
respectivamente. Pode-se verificar que a mistura com emulsão mencionar a necessidade da realização de ensaios em outras
asfáltica apresentou a ocorrência de FN com valores de 736 e configurações de misturas recicladas a frio. Os teores de cimento e
901, demonstrando a susceptibilidade da mistura com emulsão à asfalto utilizados nas duas misturas investigadas são considerados
deformação permanente. elevados para padrões adotados em misturas recicladas a frio em
As misturas com espuma de asfalto não atingiram o FN até alguns países.
os 10.000 ciclos de carga e também não apresentaram grande
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
variação na taxa de deformação. A partir dos resultados para as
duas amostras testadas, pode-se atribuir que a mistura reciclada ANDRADE, L. R. (2016). Comparação do comportamento de pavimentos
asfálticos com camadas de base granular, tratada com cimento e
com espuma de asfalto apresentou-se com maior resistência à
com estabilizantes asfálticos para tráfego muito pesado. São Paulo:
deformação permanente. Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

Figura 4 - Gráfico do FN - BSM estabilizado com emulsão asfáltica ASPHALT ACADEMY. (2009). Technical Guideline: Bitumen Stabilized
Materials, A Guideline for Design and Construction of Bitumen Emulsion
and Foamed Bitumen Stabilized Materials. Pretoria, África do Sul.

BORIACK, P., KATICHA, S. W., FLINTSCH, G. W. (2014). Laboratory Study


on Effects of High Reclaimed Asphalt Pavement and Binder Content
- Stiffness, Fatigue Resistance, and Rutting Resistance. Transportation
Research Record: Journal of the Transportation Research Board, nº 2445.
Washington, DC.

BONFIM, V. (1999). Estudo da granulometria resultante da fresagem de


revestimentos asfálticos com vistas à reciclagem “in situ” a frio. São Paulo:
Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

90 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


FATORES QUE AFETAM O
MÓDULO DE RESILIÊNCIA NA
COMPRESSÃO DIAMETRAL DE
PAVIMENTOS RECICLADOS COM
CIMENTO

Thaís Radünz Kleinert Washington Peres Núñez


LAPAV UFRGS LAPAV UFRGS

William Fedrigo Jorge Augusto Pereira Ceratti


LAPAV UFRGS LAPAV UFRGS

Gabriel Grassioli Schreinert


LAPAV UFRGS

O objetivo da pesquisa relatada neste artigo foi verificar a influência do teor de cimento, da porcentagem de fresado e do tempo de cura no módulo de
resiliência na compressão diametral (MRD) de pavimentos reciclados com cimento, considerando diferentes materiais de base empregados nas rodovias
brasileiras (brita graduada simples – BGS, brita graduada tratada com cimento – BGTC, solo-cimento – SC e solo laterítico – SL). A partir dos resultados,
constatou-se que todas as variáveis analisadas afetam o comportamento das misturas recicladas, sendo que o teor de cimento elevou a rigidez das
misturas estudadas. Já a adição de fresado asfáltico provocou a redução do MRD das misturas com BGS, BGTC e SC, mas elevou a rigidez das misturas
com SL. Ainda, o tempo de cura aumentou o módulo de resiliência das misturas com BGS, BGTC e SC, porém reduziu para misturas com base de SL. As
misturas com BGS apresentaram os maiores valores de MRD; seguidas das que incluíram BGTC e SC, que exibiram um comportamento similar; sendo as
misturas com SL as que apresentaram menor rigidez.

1. INTRODUÇÃO dimensionamento da nova estrutura do pavimento. Diversos


estudos laboratoriais focando nesta propriedade foram
desenvolvidos ao longo dos últimos anos, podendo-se citar
A reciclagem profunda com adição de cimento Portland vem os estudos de: Kolias (1996), Puppala et al. (2011) e Trichês et
se tornando uma alternativa bastante viável para a recuperação al. (2013), que avaliaram misturas de fresado e brita graduada;
de pavimentos. Dentre os benefícios ocasionados pela Dellabianca (2004), que estudou misturas compostas por
reutilização dos materiais do pavimento degradado, pode-se fresado e cascalho laterítico, e; Aranha (2013) e Ji et al. (2016),
citar a conservação de recursos, a preservação do meio ambiente que analisaram misturas formadas por bases cimentadas (solo-
e a manutenção da geometria original da via. Além disso, a cimento e brita graduada tratada com cimento, respectivamente)
partir da adição de cimento, obtém-se uma camada resistente e fresado. Contudo, ainda perduram dúvidas acerca dos fatores
aos efeitos do tráfego e pouco suscetível à umidade. Entretanto, que influenciam o módulo de resiliência deste tipo de mistura.
mesmo que a técnica esteja em crescente utilização, existem Com base no exposto anteriormente, o objetivo da pesquisa
lacunas no conhecimento da mesma, como, por exemplo, a relatada neste artigo foi verificar estatisticamente o efeito
inexistência de procedimentos de dimensionamento que levem do teor de cimento (Ci), da porcentagem de fresado (Fr) e do
em consideração as peculiaridades dos materiais obtidos por tempo de cura (TC) no módulo de resiliência, determinado a
meio deste processo. partir do ensaio de compressão diametral cíclico, de misturas
O módulo de resiliência da mistura obtida a partir da de reciclagem com cimento compostas por fresado asfáltico e
reciclagem com cimento é um parâmetro chave para o adequado diferentes materiais de base utilizados no Brasil, sendo esses

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 91


a brita graduada simples (BGS), a brita graduada tratada com 2.1 Materiais
cimento (BGTC), o solo-cimento (SC), e o solo laterítico (SL).
O cimento utilizado foi o tipo CP II E, de classe de resistência
2. PROGRAMA EXPERIMENTAL intermediária (32 MPa), devido à existência de diversas
experiências de utilização de tal tipo de cimento em serviços de
Para alcançar o objetivo proposto neste trabalho, foram reciclagem de pavimentos no Brasil. As misturas estudadas eram
realizados ensaios para avaliar o módulo de resiliência na compostas por fresado asfáltico, diferentes materiais de bases
compressão diametral (MRD) de diferentes misturas recicladas (BGS, SC, BGTC e SL) e cimento. Os materiais eram provenientes
com cimento. Dentre as variáveis de resposta analisadas, de pavimentos de diferentes rodovias.
destaca-se que o teor de cimento e a porcentagem de fresado Além dos materiais supracitados, também foi utilizado
artigos

foram definidos a partir em um projeto de experimentos do tipo agregado virgem (brita 3/8”) para promover a correção
fatorial 2k para as misturas com BGS como material de base, e granulométrica das misturas formadas por 80 e 92,43% de
em um projeto composto de segunda ordem (PCSO) ao estudar solo-cimento. Nas misturas com solo laterítico optou-se por não
os demais materiais, sendo este último realizado no software empregar agregado adicional, já que em algumas delas seria
estatístico Minitab. necessária uma grande quantidade de material complementar
As matrizes experimentais são apresentadas na Tabela 1, para correção das curvas, o que descaracterizaria as misturas,
sendo que os planejamentos experimentais adotados neste dificultando a comparação entre elas e também entre os
artigo são detalhadamente descritos nos trabalhos de Fedrigo diferentes materiais de base.
(2015), Kleinert (2016) e Schreinert (2017). Nas Figuras 1 a 4 são apresentadas as curvas
Quanto ao tempo de cura, os corpos de prova foram granulométricas das misturas estudadas, assim como a faixa
ensaiados aos 3, 7 e 14 dias. Para a moldagem dos mesmos, foi granulométrica ideal para reciclagem com cimento proposta
empregada a energia de compactação Modificada de Proctor, pela Wirtgen (2012). Ressalta-se que apenas na granulometria do
recomendada por Fedrigo (2015), por gerar grande acréscimo na solo laterítico foi utilizado defloculante.
resistência e rigidez da mistura, o que possibilita uma redução do Com base nas curvas granulométricas, observa-se que todas
teor de cimento. as misturas com brita graduada simples, brita graduada tratada
Na análise dos resultados, realizada pelo Minitab, foi com cimento e solo-cimento ficaram enquadradas nas faixas
verificado o valor-p, que é a probabilidade de errar na afirmação propostas pela Wirtgen (2012). Dentre as misturas com solo
de que o fator controlável tem efeito significativo quando na laterítico, verifica-se que apenas aquelas com predominância de
verdade não tem. O efeito para ser significativo precisa ter um material fresado (80 e 92,43%) se condisseram com tais limites,
valor-p inferior a 0,05, de modo que foram retirados dos modelos o que indica que as misturas com porcentagem de fresado entre
todos os termos com valor-p superior a 0,05. 7,57 e 50% são mal graduadas. A Tabela 2 apresenta os valores de
teor de umidade ótimo (ωót) e de peso específico aparente seco

Tabela 1 - Descrição das matrizes experimentais


máximo (γsmáx) obtidos para cada mistura através de ensaios de
compactação.

Figura 1 - Curvas granulométricas das misturas com brita graduada


simples

92 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


Figura 3 - Curvas granulométricas das misturas com solo-cimento 2.2 Métodos

As misturas foram realizadas manualmente, primeiro


com os materiais secos e procedendo com a incorporação da água
(para alcançar o teor ótimo), de maneira a respeitar um mesmo
período de homogeneização. Foram utilizados moldes cilíndricos
Marshall com dimensões internas iguais a 10,2 cm de diâmetro e
6,5 cm de altura. Os corpos de prova (CPs) foram moldados a partir
da compactação de uma única camada em ambos os lados. A
quantidade de material adicionada e o número de golpes dados
Figura 2 - Curvas granulométricas das misturas com brita graduada foram ajustados para reproduzir o peso específico aparente seco
tratada com cimento máximo obtido nos ensaios de compactação.
O processo de cura empregado foi diferente de acordo
com o material de base empregado. As misturas com BGS foram
curadas em câmara úmida mantida a uma temperatura próxima
de 23°C e umidade relativa acima de 90%. Devido a problemas na
câmara úmida do laboratório, foi necessário buscar um método
alternativo para realização da cura dos corpos de prova das demais
misturas (brita graduada tratada com cimento, solo-cimento e
solo laterítico). Desta maneira, a cura das misturas com BGTC e SC
foi realizada a partir da imersão dos CPs em água, os quais eram
Figura 4 - Curvas granulométricas das misturas com solo laterítico
colocados dentro de sacos plásticos a fim de evitar o contato direto
com a água. Já os CPs com SL, quando submetidos a um ambiente
com umidade elevada, desagregavam, o que impossibilitava a
realização do ensaio. Desta maneira, optou-se por envolvê-los em
sacos plásticos a fim de manter a umidade do próprio corpo de
prova, o que corresponde a uma cura “seca”.
Os ensaios de módulo de resiliência na compressão diametral
foram realizados conforme o método de ensaio DNIT-ME 135 (DNIT,
2010). Para realização do ensaio é necessário conhecer a resistência
à tração e o coeficiente de Poisson do material a ser ensaiado. Desta
Tabela 2 - Parâmetros de compactação obtidos para as misturas estudadas maneira, anteriormente ao ensaio, foi determinada a resistência à
tração na compressão diametral (RCD) de todas as misturas deste
trabalho. Ainda, foi usado um coeficiente de Poisson igual a 0,17
para as misturas com BGS, SC e SL, e de 0,26 para aquelas contendo
BGTC, como pode ser observado em Fedrigo (2015), Kleinert (2016)
e Schreinert (2017).
O ensaio foi realizado aplicando-se 1 ciclo de carga por
segundo (frequência de 1 Hz) com carga vertical equivalente a 30%
da tensão de ruptura obtida no ensaio de RCD. Os deslocamentos
horizontais eram determinados através de um transdutor de
deslocamento. Na Figura 5 é apresentada a configuração do ensaio.
O módulo de resiliência foi determinado com base na relação
entre a carga vertical aplicada diametralmente no corpo de prova
e a deformação resiliente horizontal, assim como nas dimensões
do CP. Cada ensaio realizado resultou em três valores de módulo
de resiliência. Ensaiou-se cada CP no mínimo duas vezes, alterando
a posição do transdutor de deslocamento, já que pode ocorrer
bastante variação para cada ensaio.

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 93


Figura 5 - Configuração do ensaio de MRD
asfalto residual faz com que menos superfície de agregados fique
disponível para ser envolvida pelo cimento, o que inibe a formação
de ligações entre a pasta de cimento e os agregados; e 3) o mesmo
asfalto residual também deixa o formato das partículas de fresado
mais arredondado, reduzindo o intertravamento entre as partículas.

Tabela 3 - Parâmetros dos modelos de determinação


artigos

3. RESULTADOS

A análise dos resultados foi realizada utilizando o software


Minitab. Durante a análise foram retirados os termos não
significativos (valor-p superior a 0,05) dos modelos, de modo a
obter uma maior representatividade dos resultados. Na Tabela 3
são apresentados os coeficientes de determinação (R²), os termos
considerados em cada modelo, assim como o coeficiente codificado
e o respectivo valor-p.
A partir da Tabela 3, verifica-se que os coeficientes de
determinação obtidos para as misturas com BGS, BGTC e SC Entretanto, nas misturas com solo laterítico se percebeu uma

foram significativos. Já o modelo gerado para misturas com SL elevação do MRD com o aumento da quantidade de material

apresentou um coeficiente de determinação inferior (61,90%), que é fresado asfáltico. Acredita-se que a composição granulométrica

considerado aceitável em decorrência do tamanho da amostra e da das misturas resultou nesse comportamento, já que a

variabilidade de dados encontrados para tal material. predominância do SL fez com que as misturas apresentassem

Com base nos dados provenientes dos modelos, observa-se muitos finos e insuficiência de material graúdo, tornando essas

que os efeitos principais (Fr, Ci e TC) foram significativos para todos mal graduadas. Desta forma, quanto maior a quantidade de

os materiais de base estudados, sendo o teor de cimento a variável fresado asfáltico, maior estabilidade granulométrica e, por

que mais influenciou o módulo de resiliência das misturas com BGS consequência, as misturas apresentaram uma maior rigidez.

e BGTC. Já nas misturas com SC, verificou-se que o teor de cimento O cimento tem grande influência no comportamento

e o tempo de cura apresentaram efeito semelhante. No caso das mecânico da mistura reciclada. Seu acréscimo aumentou a rigidez

misturas com SL, a porcentagem de fresado apresentou maior das misturas independentemente do material de base empregado.

influência nos resultados, seguida pelo teor de cimento. Isso aconteceu devido ao fato de gerar maior quantidade de

Verifica-se uma influência negativa quanto à incorporação do produtos cimentícios, o que ocasiona um número mais elevado de

fresado asfáltico para as misturas com BGS, BGTC e SC. Alguns dos pontos de ligação entre os agregados.

motivos para tal comportamento são: 1) os aglomerados de asfalto Quanto ao tempo de cura, sua influência é positiva para as

e agregados miúdos formam partículas menos resistentes que bases em BGS, BGTC e SC, já que a hidratação do cimento continua

as partículas de agregados naturais, que frente a carregamentos, ocorrendo durante a cura úmida, elevando a rigidez das misturas.

permitem que maiores níveis de deformações aconteçam; 2) o Para o solo laterítico ocorreu o contrário, já que os maiores valores

94 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


de módulo de resiliência foram obtidos aos 3 dias de cura. Figura 7 - Gráficos de contorno de MRD com 7 dias de cura
Esse comportamento pode ser relacionado com a condição de
cura empregada, já que para esse último material foi utilizada a
cura seca das misturas. Esse processo pode ter provocado falta de
água para hidratação do cimento.
As considerações fundamentadas nos parâmetros
dos modelos de determinação obtidos também poderiam
ser realizadas com base na Figura 6, a qual apresenta o
comportamento médio das misturas analisadas, considerando o
efeito principal das variáveis de estudo.
Pelos gráficos de efeitos principais, além de verificar a
influência de cada variável (porcentagem de fresado, teor
de cimento e tempo de cura), conforme já observado pelos
parâmetros dos modelos de determinação expostos na Tabela
3, é possível comparar o comportamento entre as misturas
com diferentes materiais de base. Desta maneira, observa-se
que os maiores valores de módulo de resiliência foram obtidos
pelas misturas com BGS como material de base; seguidas pelas
misturas com BGTC e solo-cimento, com comportamento bastante
próximo; e pelas misturas com solo laterítico. Tal comportamento
também pode ser verificado nos gráficos de contorno, conforme a
Figura 7.
Figura 6 - Gráficos de efeitos principais para MRD

Na Figura 7 são expostos os resultados obtidos considerando


um tempo de cura de 7 dias. A partir de tais resultados, é possível
relacionar um dado teor de cimento com uma determinada
porcentagem de fresado, propiciando a estimativa da faixa de
rigidez na qual uma determinada mistura se encontra. Também
se pode verificar a magnitude dos módulos de resiliência a
partir da divisão em faixas em escala de cinza, sendo que cores
escuras representam maiores valores de MRD. Desta forma, além
de identificar os maiores valores de módulo de resiliência para
as misturas com BGS, é possível verificar a influência do teor de
cimento e da porcentagem de fresado, conforme já apontado
anteriormente.

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 95


4. CONCLUSÕES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

As seguintes conclusões podem ser inferidas a partir dos ARANHA, A. L. Avaliação laboratorial e de campo da tecnologia
de reciclagem de base com cimento para a reabilitação de
resultados apresentados neste trabalho:
pavimentos. Dissertação (Mestrado em Engenharia – Escola
O teor de cimento foi a variável que apresentou maior Politécnica): Universidade de São Paulo, São Paulo SP, 2013.
influência na rigidez das misturas recicladas com cimento, pois
DELLABIANCA, L. M. A. Estudo do comportamento de material
apresentou coeficiente elevado nos modelos de determinação fresado de revestimento asfáltico visando sua aplicação em
para todos os materiais de base estudados. Sua adição elevou os reciclagem de pavimentos. Tese (Doutorado em Engenharia –
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental): Universidade de
valores de módulo de resiliência, devido à geração de pontos de Brasília, Brasília DF, 2004.
contato entre os grãos e enrijecimento das misturas;
DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE
A porcentagem de fresado também foi bastante TRANSPORTES. Pavimentação asfáltica – Misturas asfálticas –
artigos

significativa para os quatro materiais de base, sendo que sua Determinação do módulo de resiliência – Método de ensaio: DNIT
135/2010 – ME. Rio de Janeiro, 6 p. 2010.
incorporação aumentou o módulo para as misturas com solo
laterítico, devido às características granulométricas. Para os FEDRIGO, W. Reciclagem de pavimentos com adição de cimento
Portland: Definição das bases para um método de dosagem.
outros materiais de base, verificou-se uma redução do módulo de
Dissertação (Mestrado em Engenharia – Programa de Pós-
resiliência, devido a aspectos relacionados à presença do ligante graduação em Engenharia Civil): Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre RS, 2015.
asfáltico que inibe a formação de pontos de cimentação;
O aumento do tempo de cura reduziu o módulo de KLEINERT, T. R. Reciclagem de pavimentos semirrígidos com
resiliência para misturas com SL e aumentou para misturas com adição de cimento: contribuição ao desenvolvimento de um
método de dosagem. Dissertação (Mestrado em Engenharia –
BGS, BGTC e SC. Tal comportamento pode estar relacionado com o Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil): Universidade
tipo de cura empregado; Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre RS, 2016.

A análise estatística realizada no Minitab foi satisfatória JI, X.; JIANG, Y.; LIU, Y. Evaluation of the mechanical behaviors of
e possibilitou a comparação entre os diferentes materiais de base, cement-stabilized cold recycled mixtures produced by vertical
vibration compaction method. Materials and Structures, 2016, 49
indicando uma maior rigidez para misturas com BGS e uma menor (7), 2257-2270.
rigidez para misturas com SL.
KOLIAS, S. The influence of the type of loading and temperature
É importante ressaltar que, devido à grande quantidade on the modulus of elasticity of cement-bound mixes of milled
de material necessária, não foi utilizado um único tipo de fresado bituminous concrete and crushed aggregates. Materials and
Structures. 1996, 29, 543-551.
na composição das misturas com diferentes materiais de base,
sendo este fato desconsiderado quando da análise entre as PUPPALA, A. J.; HOYOS, L. R.; POTTURI, A. K. Resilient moduli
misturas estudadas. response of moderately cement-treated reclaimed asphalt
pavement aggregates. Journal of Material in Civil Engineering,
Ainda, o ensaio de módulo de resiliência na Vol. 23, n7, p. 990-998, 2011.
compressão diametral foi realizado para fins comparativos
SCHREINERT, G. G. Reciclagem de pavimentos com adição de
entre a rigidez das diferentes misturas. Salienta-se que os cimento: comportamento mecânico de misturas contendo
valores de rigidez resultantes se distanciam bastante daqueles fresado asfáltico e solo laterítico. Trabalho de conclusão
(Engenharia Civil) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
normalmente obtidos por retroanálise de deformações elásticas Porto Alegre RS, 2017.
verificadas em pavimentos reciclados com cimento. Para fins de
TRICHÊS, G. et al. Caracterização do comportamento mecânico
dimensionamento, sugere-se a realização de ensaios flexurais, de misturas recicladas com adição de cimento. In: 42ª REUNIÃO
uma vez que as solicitações impostas e os resultados obtidos se ANUAL DE PAVIMENTAÇÃO, 2013, Gramado. Anais... Gramado:
RAPV, 2013.
aproximam mais ao que é observado em campo.
WIRTGEN. Reciclagem a frio: Tecnologia de reciclagem a frio
AGRADECIMENTOS Wirtgen. Windhagen, Alemanha, 2012.

Os autores agradecem às equipes dos laboratórios da Universidade


Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) envolvidos na pesquisa:
Laboratório de Pavimentação (LAPAV), Laboratório de Ensaios
e Modelos Estruturais (LEME) e Laboratório de Geotecnologia
(LAGEOTEC). Estendem-se os agradecimentos aos parceiros:
Tecnopav, Wirtgen, Grupo CCR, Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (DNIT), Associação Brasileira de Cimento
Portland (ABCP) e Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

96 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 97
Asfalto auto-cicatrizável: a cura para os buracos.
Self-Healing Asphalt: the cure for potholes.
inovação

Erik Schlangen & Shi Xu


Delft University of Technology, Faculty of Civil Engineering & Geosciences, Stevinweg 1, 2628 CN Delft, Netherlands – erik.
schlangen@tudelft.nl

Alvaro Gonzalez
CIMAT, Faculty of Engineering, Universidad del Desarrollo, Santiago, Chile

José Norambuena-Contreras
LabMAT, Department of Civil and Environmental Engineering, University of Bío-Bío, Concepción, Chile

1. INTRODUÇÃO 1. INTRODUCTION
Na última década, um grupo de estudos em Delft tem se
concentrado nos revestimentos asfalticos auto cicatrizáveis. In the past decade, the group in Delft has focussed on
O foco principal foi a mistura asfaltica de textura aberta ou the self-healing of asphalt. The main focus was open graded
mistura asfáltica porosa. Este material é usado especialmente or porous asphalt. This material is used especially in the
na Holanda como camada superior de revestimento de todas Netherlands as top-layer of all the main highways. The reason
as rodovias principais devido ao seu excelente desempenho is its excellent performance in both noise reduction and water
na redução de ruído e drenagem de águas superficiais (ver Fig. drainage (see Fig. 1a). Although porous asphalt has these great
1a). Entretanto, a vida útil das rodovias revestidas com mistura qualities, its service life is much shorter (sometimes only half )
asfáltica porosa é muito mais curta (às vezes, apenas a metade) compared to dense graded asphalt roads. The main damage
quando comparada com rodovias revestidas com misturas mechanism of porous asphalt surface wearing courses is
asfálticas densas. O principal mecanismo de defeito superficial ravelling. This starts with ageing of the bituminous binder by
deste revestimento poroso é a desagregação que inicia com o oxidation, UV-light exposure and temperature cycles. The ageing
envelhecimento do ligante betuminoso por oxidação, exposição results in an increase of the stiffness of the binder, shrinkage
à luz UV e variação de temperatura. O envelhecimento resulta and micro-cracking, and subsequently debonding of the stone-
em um aumento da rigidez da mistura, contração e micro- matrix interface and loss of stones from the surface (see Fig. 1b).
rachaduras, e consequentemente o rompimento da interface Progressive loss of stones finally results in potholes. A review of
da matriz pétreae a perda dos agregados para a superfície (ver the work in Delft and also references to other groups that started
Fig. 1b). A perda progressiva de agregados finalmente resulta similar developments are given in [1]. Basically, two methods
em panelas. Uma revisão do trabalho realizado em Delft e are developed to prevent or stop the ravelling process, which
referências a outros grupos que iniciaram desenvolvimentos are discussed in this article and an outlook is given towards the
similares são dadas no trabalho de Tabakovic e Schlangen (2016) future. Finally, some research about the self-healing asphalt
[1]. Este artigo discute dois métodos desenvolvidos para prevenir developed in others countries have also been included in this
ou interromper o processo de desagregação, e fornece uma article.
visão para o futuro. Finalmente foram incluídas neste artigo.,
algumas pesquisas sobre as misturas asfálticas auto cicatrizáveis
desenvolvidas em outros países .

98 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


2. LÃ DE AÇO E INDUÇÃO: ENSAIOS DE 2. STEEL WOOL AND INDUCTION:
LABORATÓRIO E DE CAMPO LABORATORY AND FIELD TESTING
O primeiro método investigado faz uso de pequenas fibras The first method investigated makes use of small steel wool
de lã de aço (ver Fig. 1c) e energia de indução [2]. A idéia básica é fibres (see Fig. 1c) and induction energy [2]. The basic idea is that
que um campo magnético é criado com a indução, o que aumenta a magnetic field is created with induction, which increases the
a temperatura na lã de aço. Isso derrete o asfalto, fecha micro- temperature in the steel wool. This melts the bitumen and closes
trincas e corrige a desagregação da interface. O tratamento com micro-cracks and fixes the interface debonding. Such a treatment
aquecimento por indução deve ser realizado antes que ocorra a with induction heating has to be performed before the actual
desagregação, por isso é um tipo de manutenção preventiva. Este ravelling occurs, so it is a kind of preventive maintenance. This
método resultou em uma pista de teste construída na rodovia A58 method has resulted in a test-track built on highway A58 in 2010 [3]
em 2010 e vários outros trechos de estradas nos anos seguintes. and several other stretches of road in the years after.
Uma grande quantidade de ensaios mecânicos e de
durabilidade foram realizados em amostras obtidas na pista de teste From the 400 meter long trial section samples were taken that
de 400 metros de comprimento. Estasamostras foram envelhecidas are aged in the laboratory and a lot of durability and mechanical
no laboratório.. O resultados destes ensaios resultaram em um testing was performed on the samples [4]. These tests resulted in a
esquema de manutenção que exige passar a máquina de indução maintenance scheme which requires to run the induction machine
a cada quatro anos sobre o asfalto. Com este tratamento, espera-se every four years over the asphalt. With this treatment it is expected
que a vida útil da superfície da rodovia seja dobrada de 8 a 10 anos that the service life of the road surface can be doubled from 8-10
para 16-20 anos. No verão de 2014, um pequeno protótipo de uma years to 16-20 years. In the summer of 2014 a small prototype of an
máquina de indução foi construído e aplicado na pista de teste. induction machine was built and run over the test track.

Figura 1: Asfalto poroso; esquema do mecanismo de degradação e lã de aço adicionada para aumentar a temperatura por indução.
Figure 1: Porous asphalt (a), schematic diagram of ravelling mechanism (b) and steel wool added for increasing temperature by induction (c).

a b c

Fig. 2 shows photos taken with an infrared camera of


A Figura 2 mostra fotos obtidas, com uma câmera
the induction machine and the heated asphalt. From the
infravermelha, da máquina de indução e da mistura asfáltica
close-up in Fig. 2b it can be seen that the bitumen part of the
aquecida. Na aproximação da Figura 2b pode-se ver que o
asphalt heats up and the stones stay cold. This is exactly how
ligante asfáltico aquece e os agregados permanecem frios.
the system was designed. Only the bitumen needs to melt to
É exatamente assim que o sistema foi projetado. Somente
close micro-cracks and subsequently the stones should cool
o ligante precisa derreter para fechar as microfissuras e,
down the bitumen again to be able to open the road shortly
posteriormente, os agregados devem esfriar o betume
after treatment and to prevent dripping of the bitumen and
novamente para liberar a rodovia logo após o tratamento,
closing the pores in the porous asphalt.
evitar a exudação do ligante fechando os poros da mistura
asfáltica.

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 99


FIGURA 2: MÁQUINA DE AQUECIMENTO POR INDUÇÃO EM USO AO AR FIGURE 2: INDUCTION HEATING MACHINE ON OUTDOOR APPLICATION
LIVRE (A) E FOTO APROXIMADA DA MISTURA ASFÁLTICA AQUECIDA (A) AND CLOSE UP OF THE HEATED ASPHALT (B) AS SEEN WITH AN
(B). FOTOGRAFIAS REALIZADAS COM UMA CÂMERA INFRAVERMELHA. INFRARED CAMERA.

a b
inovação

3. REJUVENESCEDOR ENCAPSULADO 3. ENCAPSULATED REJUVENATOR

O segundo método segue outra abordagem. Em vez de The second method follows another approach. Instead of
aguardar a ocorrência de micro-rachaduras após o envelhecimento, waiting for micro-cracks to occur after ageing, encapsulated
o rejuvenescedor encapsulado é adicionado ao ligante fresco, rejuvenator is added to fresh bitumen, which should be released
que deve ser liberado quando o ligante fica rígido e quebradiço. when the bitumen gets stiff and brittle. The rejuvenator diffuses into
O rejuvenescedor difunde-se no ligante envelhecido e mantêm o the aged bitumen and makes (or keeps) the bitumen flexible and
ligante flexível evitando a desagregação. prevents ravelling.
A Figura 3 mostra diferentes tipos de cápsulas que foram
experimentadas nos últimos anos: partículas de areia porosa (2,5 Fig. 3 shows different types of capsules that have been tried in
mm) com revestimento à base de cimento, cápsulas de pré- the past years: porous sand particles (2.5 mm) with cement based
polímero de MMF (50 μm), cápsulas de alginato (1,7 mm ) e fibras de coating [5], MMF pre-polymer capsules (50 µm) [6], alginate capsules
alginato com bolsas contendo o rejuvenescedor. Todos os tipos de (1.7 mm) [7] and alginate fibres with pockets containing rejuvenator
cápsulas têm seus próprios prós e contras que são descritos pelos [8]. All capsule types have their own pros and cons which are
autores em artigos listados nas referências. described in the respective references.

a b c d
a)García, Schlangen, Van de Ven b) J.F. Su, E. Schlangen c) Xu, Tabaković, Schlangen, Liu d) Tabaković, Post, Cantero,

Figura 3: Diferentes tipos de cápsulas Figure 3: Different types of capsules containing


contendo rejuvenescedor: a) areia porosa, rejuvenator: a) porous sand, b) MMF pre-polymer,
b) pré-polímero de MMF, c) cápsulas de c) alginate capsules and d) compartmented
alginato, d) fibra de alginato compartimentada alginate fibre observed under light optical
observada em microscópio ótico de luz e e) microscope and e) cross section under SEM
seção transversal sob SEM.
e
e)Copuroglu, Garcia, Schlangen

100 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


4. COMBINANDO AS DUAS TÉCNICAS 4. COMBINING BOTH TECHNIQUES

Ambos os métodos têm um grande potencial de cicatrização Both methods have great potential of healing of asphalt
de revestimentos asfálticos. Os métodos foram desenvolvidos road surfaces. The methods are developed for porous asphalt,
para a mistura asfáltica porosa, no entanto, também podem however, can also be applied to other (dense) asphalt mixes. The
ser aplicados a outras misturas asfálticas densas. A principal main disadvantage of the method with steel wool and induction
desvantagem do método com lã de aço e indução é que o is that ageing of the bitumen still takes place. This means that
envelhecimento do ligante continua ocorrendo. Isso significa the time between treatments will get shorter each time and at
que o tempo entre os tratamentos ficará cada vez mais curto e, some point the bitumen is aged so much that the method will
em algum momento, o ligante envelhece tanto que o método not work anymore.
não funcionará mais.

Figura 4 Esquema que mostra a abordagem combinada de Figure 4: Scheme showing the combined approach of steel
fibras de lã de aço e aquecimento por indução e cápsulas que wool fibres and induction heating and capsules that release
liberam rejuvenescedores após o aquecimento. rejuvenators upon heating.

Esse problema não acontece com os rejuvenescedores This problem will not happen with the encapsulated
encapsulados. Neste caso, a principal desvantagem é a rejuvenators. Here the main disadvantage is the speed of the
velocidade da difusão do rejuvenescedor no ligante envelhecido. diffusion of the rejuvenator into the aged bitumen. This speed
Contudo, esta velocidade aumentará se a temperatura aumentar. will however increase if the temperature increases. The solution
A solução pode ser combinar ambas as técnicas, tal como might be to combine both techniques as presented in the Fig.
apresentado na Figura 4. A indução irá aquecer o ligante e 4. Induction will heat bitumen and repair damage and promote
reparar o dano promovendo a difusão do rejuvenescedor. diffusion of rejuvenator.

5. PESQUISA EM OUTROS PAÍSES: O CASO DO CHILE 5. RESEARCH IN OTHER COUNTRIES: THE CASE OF CHILE

Diferentes grupos de pesquisa e laboratórios em todo Different research groups and laboratories all over the world
o mundo assumiram a idéia de desenvolver um asfalto com have taken up the idea of developing an asphalt that has self-
propriedades auto cicatrizantes. Sabemos que a pesquisa está healing properties. We know that research is being performed in
sendo realizada na Alemanha, Reino Unido, Suíça, Espanha, Germany, UK, Switzerland, Spain, Ireland, Turkey, China, Korea,
Irlanda, Turquia, China, Coréia, EUA e Chile. Os principais grupos USA and Chile. The main research groups in Chile are currently
de pesquisa no Chile são liderados pelo Dr. Álvaro González, da leaded by Dr. Álvaro González, from Universidad del Desarrollo
Universidad del Desarrollo (UDD), e pelo Dr. José Norambuena- (UDD), and by Dr. José Norambuena-Contreras, from Universidad
Contreras, da Universidade do Bío-Bío (UBB). del Bío-Bío (UBB).

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 101


O primeiro projeto sobre mistura asfáltica auto-cicatrizante The first project on self-healing asphalt in Chile was
no Chile foi conduzido pelo Dr. Norambuena-Contreras em conducted by Dr. Norambuena-Contreras in collaboration with
colaboração com outros pesquisadores. Este projeto visou other researchers [9]-[11]. This project aimed to develop a new
desenvolver um novo pavimento de asfalto com propriedades asphalt pavement with crack-healing properties through the
de cicatrização de trincas através da adição de fibras metálicas addition of metallic fibres and the use of microwave heating. In
e o uso de aquecimento por microondas. Além disso, foram addition, the influence of metallic fibres and their amount on
avaliados, neste projeto,a influência das fibras metálicas e the physical, electrical, thermal and mechanical properties of the
sua quantidade nas propriedades físicas, elétricas, térmicas asphalt mixture under different environmental conditions was
e mecânicas da mistura de asfalto sob diferentes condições also evaluated in this project.
ambientais.
inovação

a b c

Figura 5: (a) Ensaio de flexão em três pontos, (b) cicatrização Figure 5: (a) Three-point bending test, (b) crack-healing
de trincas da amostra de mistura asfáltica através de of asphalt sample via microwave heating, and (c) healing level
aquecimento por microondas e (c) nível de cicatrização versus versus repeated healing cycles for test samples with various
ciclos de cicatrização repetidos em amostras de ensaio com percentages of fibres [9].
várias porcentagens de fibras.

Fonte: J. Norambuena-Contreras, R. Serpell, G. Valdés Vidal, Source: J. Norambuena-Contreras, R. Serpell, G. Valdés Vidal,
A. González, and E. Schlangen (2016) A. González, and E. Schlangen (2016)

Basicamente, eles usaram misturas asfálticas densas, com Basically, they used dense asphalt mixtures with different
diferentes porcentagens de fibras de lã de aço, para construir percentages of steel wool fibres to build semi-circular asphalt
amostras de ensaio semi-circular (Figura 5a). Eles realizaram test samples (Fig. 5a). They conducted three-point bending
medidas de resistência à flexão em três pontos em dez amostras strength measurements of test samples before and after healing
antes e depois da cura (Figura 5b). A resistência das misturas ten times (Fig. 5b). The strength of the asphalt mixtures after the
de asfalto após os primeiros ciclos de cicatrização foi da first healing cycles was in the order of 80-90% (Fig. 5c), which
ordem de 80-90% (Figura 5c), que diminuiu com os ciclos de decreased with healing cycles to 40-50% for microwave heating
cicatrização para 40-50% com o aquecimento por microondas (J. [10].
Norambuena-Contreras and A. Garcia, 2016).
The researchers also investigated the steel wool fibres spatial
Os pesquisadores também investigaram a distribuição distribution and their influence on the physical and mechanical
espacial das fibras de lã de aço e sua influência nas propriedades properties of asphalt mixtures with crack-healing purposes by
físicas e mecânicas das misturas asfálticas com efeitos de cura microwave radiation. They tested their mechanical properties
de trincas por radiação de microondas. Eles testaram suas such as particle loss resistance in dry and wet conditions, and
propriedades mecânicas, como resistência à perda de partículas stiffness modulus and cracking resistance at four different
em condições secas e úmidas e o módulo de rigidez e a temperatures were evaluated.
resistência ao trincamento a quatro temperaturas diferentes.

102 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


Além disso, as amostras dessas misturas foram examinadas Furthermore, samples of these mixtures were examined using
usando microscopia eletrônica de varredura (Figura 6a) e analisadas Scanning Electron Microscopy (Fig. 6a) and analysed using X-ray
usando tomografia computadorizada de raios-X (Figura 6b) para micro computed tomography (Fig. 6b) to study the condition and
estudar a condição e distribuição de fibras dentro da matriz de distribution of fibres within the bitumen matrix. Results showed
ligante. Os resultados mostraram que, independentemente da that regardless the test temperature, steel wool fibres did not have
temperatura de teste, as fibras de lã de aço não tiveram influência a relevant influence on the improvement of particle loss resistance,
relevante na melhoria da resistência à perda de partículas, módulo stiffness modulus and cracking resistance of asphalt mixtures.
de rigidez e resistência ao trincamento de misturas asfálticas. O Moreover, the effect of different metallic waste on the electrical and
efeito de diferentes resíduos metálicos nas propriedades elétricas thermal properties of self-healing asphalt mixtures have also been
e térmicas das misturas asfálticas auto-cicatrizante tem sido recently investigated by the Chilean researchers [11].
recentemente investigado pelos pesquisadores chilenos.

Figura 6: (a) imagem de SEM de uma fibra de lã de aço e (b) imagem de Figure 6: (a) SEM image of a steel wool fibre, and (b) CT scan image of the
varredura de TC da distribuição de fibra dentro de amostra de asfalto de fibre distribution inside of self-healing asphalt specimen (box dimensions
auto-regeneração (dimensões da caixa 25x25x12mm). 25x25x12mm) [10].

a b
Fonte: J. Norambuena-Contreras and A. Garcia (2016). Source: J. Norambuena-Contreras, R. Serpell, G. Valdés Vidal, A. González, and E. Schlangen (2016)

Os pesquisadores chilenos estão atualmente investigando a


The Chilean researchers are currently investigating the addition
adição de fibras de lã de aço e outros tipos de metais em misturas
of steel wool fibres and other type of metals into mixtures with
com pavimento asfáltico reciclado (RAP). O princípio por trás deste
recycled asphalt pavement (RAP). The principle behind this project is
projeto é atualizar ou adaptar as misturas recicladas convencionais
to upgrade or retrofit conventional recycled mixtures into mixtures
em misturas com propriedades auto-cicatrizáveis, para que possam
with self-healing properties, so they can be healed in the future
ser regeneradas no futuro por microondas ou por indução (Figura 7).
by microwave or induction healing (Fig. 7). In Chile about 80% of
No Chile, cerca de 80% das rodovias são feitas com asfalto e, devido
the roads are made with asphalt, and due to new environmental
a novas restrições ambientais, o uso do RAP será mais comum nos
restrictions, the use of RAP will be more common in future
futuros projetos de infraestrutura. Os resultados desta pesquisa, em
infrastructure projects. The results of this research, in collaboration
colaboração com a TU Delft, serão publicados até o final deste ano.
with TU Delft will be published by the end of this year.

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 103


inovação

Figura 7: (Esquerda) Cura e monitoramento de temperatura


de misturas de asfalto com RAP, fibras e outros tipos de
metais por aquecimento por indução (Direita) Tomografia
computadorizada de amostras com RAP e 4% de fibras.

Figure 7: (Left) Healing and temperature monitoring of


asphalt mixtures with RAP, fibers and other type of metals by
induction heating (Right) Fibers CT scan image from specimens
with RAP and 4% fibers

Referências
References

[1] A. Tabaković, E. Schlangen, Self-healing Technology for [7] S. Xu, A. Tabaković, E. Schlangen, X. Liu, Preparation of
Asphalt Pavements, Self-healing Materials, Advances in Polymer Calcium Alginate Capsules and the Application in Asphalt Mastic,
Science, 285-306, 273 (2016). This conference (2017).
[2] Q. Liu, A. García, E. Schlangen, M. van de Ven Induction [8] A. Tabaković, W Post, D. Cantero, O. Copuroglu, S.J.
healing of asphalt mastic and porous asphalt concrete. Garcia and E. Schlangen, The reinforcement and healing of
Construction and Building Materials 25 (9), 3746-3752 (2011). asphalt mastic mixtures by rejuvenator encapsulation in alginate
[3] E. Schlangen, A. García, M. van de Ven, G. van Bochove, compartmented fibres. Smart Mater. Struct. 25 (2016).
J van Monfort, Q. Liu, Highway A58: The first engineered self- [9] J. Norambuena-Contreras, R. Serpell, G. Valdés Vidal,
healing asphalt road. 3rd International Conference on Self- A. González, and E. Schlangen, Effect of fibres addition on the
Healing Materials, Bath, United Kingdom (2011). physical and mechanical properties of asphalt mixtures with
[4] Q. Liu, Induction healing of porous asphalt concrete, PhD- crack-healing purposes by microwave radiation. Construction
thesis Delft University of Technology, The Netherlands (2012). and Building Materials, 127:369-382 (2016).
[5] A. García, E. Schlangen, M. Van de Ven, Properties [10] J. Norambuena-Contreras and A. Garcia. Self-healing of
of capsules containing rejuvenators for their use in asphalt asphalt mixture by microwave and induction heating. Materials
concrete. Fuel 90 (2), 583-591 (2011). and Design, 106:404-414 (2016).
[6] J.F. Su, E. Schlangen. Synthesis and physicochemical [11] J. Norambuena-Contreras, M. Alvarado, J.L Concha, I.
properties of high compact microcapsules containing González-Torre. Effect of metallic waste on the electrical and
rejuvenator applied in asphalt. Chemical engineering journal thermal properties of self-healing asphalt mixtures. 71st RILEM
198, 289-300 (2012). Annual Week & ICACMS 2017, Chennai, India (2017).

104 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


CARACTERIZAÇÃO
Aline Albernaz da Silva
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Mario Sergio de Souza Almeida


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
E ANÁLISE PARA
SOLUÇÃO DE

relato de experiência
Jamille Freitas Fiuza
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
RECICLAGEM DO
Marcos Couto Correia
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia PAVIMENTO DA
Felipe Freitas Santos de Jesus
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
BR 420/BA

Este artigo apresenta os estudos


relativos a alternativas de soluções
1. INTRODUÇÃO
de restauração da camada de base da
rodovia BR 420/BA, que consistiu na
caracterização e avaliação geotécnica
de três alternativas de restauração A manutenção adequada da infraestrutura de transportes é um dos grandes
do pavimento existente. A primeira desafios para os governantes ao redor do mundo. O elevado custo de manutenção,
alternativa consistiu na manutenção da principalmente no modal rodoviário, acaba por consumir grande parcela dos
base existente, a segunda considerou
a adição de 25% de brita corrida
investimentos públicos e privados destinados ao setor de transportes. O Brasil, por
ao material da base existente e a ser um país de grandes dimensões, e ter optado por ter como principal modal de
terceira contemplou a incorporação transportes o rodoviário, com participação de aproximadamente 60%, possui uma
do revestimento existente à base e a
malha total de cerca de 1,7 milhões de quilômetros, dos quais, aproximadamente,
adição de 25% de brita. Os resultados
demonstraram que o material da base 12% são pavimentados. Por ser o Brasil um país emergente, o reflexo dos custos de
existente não atende as exigências manutenção em seu produto interno bruto (PIB) é ainda maior, quando comparado aos
estabelecidas pela norma DNIT países chamados de desenvolvidos. Sendo assim, a busca incessante para a redução
141/2010-ES para camada de base
de custos e aumento de produtividade tem se tornado, cada vez mais, uma prioridade
de pavimentos rodoviários para
tráfego pesado. As duas alternativas nas estratégias governamentais e privadas para adoção de soluções de manutenção da
de misturas analisadas revelaram-se malha viária. Nesse contexto, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes
como satisfatórias para a reciclagem (DNIT) adota, em seu Sistema de Custos Rodoviários (SICRO II), soluções padronizadas
da camada de base existente, sendo
que a incorporação do revestimento
para reciclagem do pavimento flexível, as mais diversas, para que sejam contempladas
existente além de melhorar as no planejamento das soluções de manutenção. Estas soluções de reciclagem passam,
características da base atual propicia via de regra, pelo aproveitamento do revestimento existente, incorporando-o à camada
uma destinação adequada para o
de base subjacente, dando à esta mistura betuminosa envelhecida uma destinação
resíduo de revestimento asfáltico
envelhecido que seria gerado, caso não ambientalmente adequada, evitando sua remoção e destinação final em locais
fosse aproveitado. indevidos. O DNIT prevê, ainda, nesse tipo de solução, a utilização de um percentual de
brita para melhoria geral da performance da mistura acabada.
A resposta estrutural para este tipo de mistura depende, contudo, das diferentes
características apresentadas pelos em estágio avançado de deterioração do de base com espessura, em média, de 14
materiais locais que serão utilizados em seu pavimento. cm. Entretanto, nos pontos de coleta das
cada obra. Torna-se necessário, portanto, Para avaliar as condições do amostras a espessura da camada de base
conhecer-se às características geotécnicas material que compõe a camada de base variou entre 10 e 17 cm.
relato de experiência

dos diferentes materiais constituintes da existente da BR 420/BA no segmento, O material foi retirado de forma
mistura, de forma a garantir que não haja foram realizadas coletas e preparação manual, com o auxílio de uma picareta
prejuízo estrutural na adoção deste tipo do material para realização dos e uma pá, e preparado conforme a
de solução. ensaios de caracterização, englobando norma DNER-ME 041-94, que apresenta
Este presente trabalho tem como granulometria por peneiramento, limites os procedimentos para a preparação
objetivo caracterizar geotecnicamente de Atterberg, equivalente de areia, de amostras de solo para classificação
e definir a solução a ser adotada para compactação e CBR, seguindo as normas granulométrica, determinação dos
restauração do pavimento existente da técnicas específicas do DNIT. limites de Atterberg, densidade real e
BR-420/BA, através da avaliação de três Foram estudados três diferentes umidade higroscópica para os ensaios
diferentes proposições: a) manutenção materiais: a) material coletado da camada de caracterização geotécnica. Com as
da base existente e execução de de base existente; b) material coletado amostras devidamente preparadas
novo revestimento; b) remoção do na camada de base existente acrescido foram realizados no Laboratório de
revestimento asfáltico existente para bota de 25% de brita corrida (brita corrida Pavimentação da UFRB os seguintes
fora e reciclagem da base existente com com 100% passando na peneira de 1”); ensaios: a) granulometria foi executada
incorporação de 25% de brita corrida; c) material coletado na camada de base conforme norma DNER-ME 080-94; b)
c) reciclagem da base existente com existente, acrescido do revestimento limite de liquidez de acordo com a norma
incorporação do revestimento existente e existente e 25% de brita corrida. A DNER-ME 122-94; c) limite de plasticidade
incorporação de 25% de brita corrida. expectativa inicial foi, a partir dos com base na norma DNER-ME 082-94; d)
resultados obtidos nas três diferentes equivalente de areia seguindo a norma
1.2 MATERIAL E MÉTODOS abordagens, definir destes materiais DNER-ME 054-97; e) compactação e CBR
é o mais técnica e economicamente conforme a norma DNER-ME 049-94.
O estudo foi realizado na rodovia viável para adoção na recuperação do A definição da quantidade de material
federal BR-420/BA, trecho: Entr.BA pavimento da BR-420/BA, no segmento de base e revestimento existentes nas
093(P/Pojuca) - Entr.BR 116/BA-250(B), estudado. misturas, em relação à massa seca total,
subtrecho: Entr.BR101(B) - Entr.BR 116/ Foram coletadas três amostras levou em consideração, dentre outros
BA-250(B), segmento: Km 229,0-km 352,1. do pavimento em pontos espaçados, aspectos, a espessura de cada um no
O volume diário de tráfego no em média, 600 metros um do outro, campo. Entretanto, nas misturas contendo
segmento é de, aproximadamente, 5000 localizados como indicado na Tabela 1. brita corrida, a sua quantidade foi sempre
veículos/ dia, culminando num número Em cada ponto foram coletadas amostras de 25%, também em relação a massa
N de 6,4 x 106 para um horizonte de e medidas as espessuras das camadas seca total da mistura. Nesse caso, os 75%
10 anos, período considerado para de revestimento e base, de forma a restante foram constituídos pelo material
projetos de correções estruturais, como a possibilitar a definição do percentual de da base existente, nas misturas entre
reciclagem do pavimento, por exemplo. cada um nas misturas analisadas. base existente + 25% de brita corrida, e
O trecho experimental escolhido Tabela 1 - Localização dos pontos onde foram por base e revestimento existentes, nas
para o presente estudo está localizado coletadas as amostras. misturas formadas de base existente +
entre as estacas 3905 e 3965, nos km revestimento existente + 25% de brita
307,1 e km 308,30, correspondendo a corrida, respeitando a participação
1200 m de extensão, situado entre os de cada um em função, conforme já
Municípios de Santa Inês/BA e Itaquara/ mencionado, das espessuras medidas
BA. A rodovia, nesse local, possui 8m As sondagens realizadas revelaram no campo. A brita corrida utilizada nas
de largura, sendo 7,0 m de pista de que nas proximidades dos locais de misturas foi adquirida em uma pedreira
rolamento e 0,5 m de acostamento coleta das amostras, o revestimento é do comercial localizada no Município de
em cada lado. Este trecho da rodovia tipo TSD + Micro revestimento e possui Jequié/BA, a mesma que será utilizada na
apresenta-se, numa extensão de 7,2 km, espessura de 3 cm, sobre uma camada obra.

113
2. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Material da base existente
Os resultados da granulometria por peneiramento, para cada
amostra coletada, estão presentados na Figura 1, juntamente
com seus respectivos enquadramentos nos limites da faixa D
estabelecidos pela norma DNIT 141/2010-ES.
É possível observar que todas as faixas encontradas
estão enquadradas na faixa D, de acordo especificação 2.1 Caracterização da mistura material da base
do DNIT 141/2010-ES, caracterizando-se como materiais existente + 25% de brita corrida
granulometricamente adequados para aplicação em camada de
base de pavimento rodoviário compatível com o nível de tráfego A Figura 2 apresenta as curvas granulométricas das
previsto para a BR-420/BA, nesse segmento analisado (6,4 x 106). misturas de material da base existente + brita corrida, para
O material foi classificado pelo Método de classificação TRB as três amostras coletadas (km 307,1, km 307,6 e km 308,3),
em A-2-6, com IG = 0, tanto no km 307,1 quanto no km 307,6. comparadas às tolerâncias da faixa D, estabelecidas pela norma
No km 308,3, entretanto, foi classificado como A-2, com IG = 1, DNIT 141/2010-ES, que foi a que a de melhor enquadramento
sendo os três materiais considerados como de boa qualidade para para todos os materiais analisados. Observa-se da Figura 2(a)
emprego em camada de base de pavimento rodoviário. que a faixa de trabalho da mistura com o material de base do
Os resultados dos limites de consistência e equivalente de km 307,1, que considera granulometria e tolerâncias, extrapola
areia do material coletado da base são apresentados na Tabela 2. o limite inferior da faixa D, desabilitando a mistura para uso
como base de pavimento rodoviário para o nível de tráfego
Tabela 2 - Caracterização do material coletado da base existente
projetado (6,4 x 106). Quanto as misturas com os materiais
coletados na base do km 307,6 e km 308,3 ambas as faixas de
trabalho se enquadram adequadamente na faixa D do DNIT,
conforme Figura 2(b) e (c).
Após a estabilização granulométrica com adição de 25% de
brita corrida os materiais da base existente, para os três locais
Embora, granulometricamente, os três materiais estejam de coleta, passaram a não apresentar a plasticidade sumarizada
aptos para utilização em camada de base de pavimento rodoviário, na Tabela 2, atendendo as exigências da norma DNIT 141/2010
conforme apresentado na Figura 1, verifica-se, da Tabela 2, que - ES quanto aos limites de consistência para serem empregados
estes foram reprovados, de acordo com as especificações da em pavimentação como camada de base estabilizada
norma DNIT 141/10-ES, pelos limites de consistência (wL > 25% e granulometricamente.
IP > 6%) e, também, pelo equivalente de areia menor que 30%. Figura 2 - Granulometrias das misturas de material da base existente +
Figura 1 - Granulometria dos materiais da base: km 307,1(a), km 307,6(b) brita corrida
e km 308,3(c)

107
para os três pontos analisados, indicando que os materiais são
adequados para utilização como camada de base de pavimento
com base nesses parâmetros.

2.3 Ensaios de Compactação e CBR


relato de experiência

Os resultados dos ensaios de compactação e CBR


executados, para os três diferentes materiais estudados, para
2.2 Caracterização da mistura formada pelo material cada ponto de análise, estão apresentados na Tabela 3, sendo: a)
de base existente + revestimento existente + 25% de base existente; b) mistura de base existente + 25% brita corrida;
brita c) mistura de base existente + revestimento existente + 25% brita
corrida.
Na distribuição granulométrica das misturas de base
existente + revestimento existente + 25% de brita, a curva do Tabela 4 - Parâmetros ótimos dos ensaios de Compactação e CBR
km 307,1, apresentada na Figura 3(a), extrapola os limites de
tolerância da faixa D nas peneiras 3/8” e #4.
As curvas do km 307,6, Figura 3(b), e km 308,3, Figura 3(c),
indicam que as misturas possuem distribuições granulométricas
adequadas para uso como base de pavimento rodoviário, do
ponto de vista de suas texturas.

Figura 3 - Granulometrias das misturas de material da base e


revestimento existentes + brita

Observa-se da Tabela 4, referente ao material coletado


no km 307,1, um pequeno aumento da densidade seca
máxima das duas misturas, em relação ao material da base
existente, da ordem de 2,8%. Por outro lado, a umidade ótima
praticamente não variou entre as amostras analisadas, com
pequena variação, apenas, do material da base existente para as
outras misturas. Vale destacar que a mistura de base existente
+ 25% de brita corrida apresentou um crescimento no CBR
de, aproximadamente, 37%, em relação ao material da base
existente, enquanto na mistura de base existente + revestimento
existente + 25% de brita corrida esse crescimento foi de cerca de
33%.
Para o material do km 307,6 é possível observar um
aumento das densidades secas máximas das duas misturas
analisadas, em relação ao material da base existente, em nível
bastante similar. A umidade ótima, por sua vez, varia pouco entre
os três materiais, da mesma forma que o observado na análise
Os resultados da análise dos limites de consistência do material do km 307,1. A mistura de base existente + 25% de
mostraram que com a incorporação do revestimento, os brita corrida apresentou um crescimento no CBR menor, de 31%,
parâmetros exigidos por norma continuam a serem atendidos, aproximadamente, em relação ao material da base existente, que

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 108


a mistura de base existente + revestimento existente + 25% de existente se mostraram adequadas para utilização como camada
brita, onde esse crescimento foi da ordem de 35%. de base de pavimentos rodoviários para todos os parâmetros
Por fim, para o material do km 308,3, nota-se um pequeno analisados. Vale ressaltar que o maior CBR encontrado para essas
aumento das densidades secas máximas das duas misturas misturas chegou a 128,7% e 129,8 para as misturas de base
analisadas, em relação ao material da base existente. Entretanto, existente + 25% de brita corrida e base existente + revestimento
a mistura de base existente, 25% de brita e revestimento existente + 25% de brita corrida, respectivamente.
existente atingiu o maior valor de γd. A umidade ótima, por
sua vez, apresentou ligeiro aumento para as duas misturas • A reciclagem da base existente, com a incorporação
em relação a base existente, num percentual bastante similar. do revestimento existente e 25% de brita, é uma solução
Os resultados do material de base do km 308,3 revelam que tecnicamente mais viável para restauração da BR 420-BA, no
esse material não atende, isoladamente, em termos de CBR, ao segmento analisado, quando comparada a solução composta
limite mínimo estabelecido pela norma DNIT 141/2010-ES, para pela base existente e 25% de brita corrida apenas, na medida em
qualquer nível de tráfego. Contudo, as duas misturas analisadas que o aproveitamento do revestimento existente proporciona
apresentaram CBR e expansão dentro dos limites exigidos pela um reaproveitamento da mistura asfáltica já envelhecida,
mesma norma, para o nível de tráfego projetado para esse evitando sua remoção através de operação de fresagem e
segmento da BR 420/BA (6,4 x 106). Porém, neste caso, da mesma consequente destinação em locais de bota fora.
forma que no km 307,1, a mistura de base existente + 25% de
brita corrida apresentou um crescimento no CBR menor, de
cerca de 37%, em relação ao material de base existente, quando
comparado a mistura de base existente + revestimento existente
+ 25% de brita corrida, onde esse crescimento foi de cerca de
58%.

3. CONCLUSÕES

Com base nos resultados obtidos é possível concluir REFERÊNCIAS


que:
DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM.
DNER 080/94 ME - Solos - análise granulométrica por
peneiramento. Rio de Janeiro, 1994. 4 p.
• Com relação aos materiais de base existentes no DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM.
km 307,1 e 307,6, apesar dos resultados de CBR, expansão e DNER 082/94 ME - Solos - determinação do limite de
plasticidade. Rio de Janeiro, 1994. 3 p.
granulometria estarem dentro dos limites estabelecidos pelas DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM.
normas do DNIT, em relação aos parâmetros de plasticidade DNER 049/94 ME - Solos - determinação do índice de suporte
Califórnia utilizando amostras não trabalhadas. Rio de Janeiro,
e equivalente de areia, o material se mostrou inadequado 1994. 14 p.
para utilização como base. Além disso, chamou a atenção a DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM.
DNER 122/94 ME - Solos - determinação do limite de liquidez
discrepância observada para o CBR da amostra de base do km - método de referência e método expedito. Rio de Janeiro,
308,3. Em função da análise, nesse ponto, ter sido realizada 1994. 7 p
DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM.
sem repetição não é possível afirmar se esse comportamento é
DNER 041/94 ME - Solos - preparação de amostras para
representativo. ensaios de caracterização. Rio de Janeiro, 1994. 4 p.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM.
DNER 054/97 ME - Equivalente de areia. Rio de Janeiro, 1997.
• Diferentemente das outras amostras, o material do 10 p.
km 307,1 após as misturas, apresentou problemas na curva DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA E
TRANSPORTES. DNIT 141/2010 ES- Pavimentação – Base
granulométrica, indicando ser inadequado para uso em camada estabilizada granulometricamente. Rio de Janeiro, 2010. 9p.
de base de pavimento rodoviário. Vale ressaltar que este
problema ocorreu apenas com este material.

• Para o km 307,6 e 308,3 as misturas de base existente


e 25% de brita e base existente, 25% de brita e revestimento

116
ADAPTAÇÕES EM USINAS DE ASFALTO
PARA RECICLAGEM A QUENTE OU
recomendação técnica

MORNA DE MATERIAL FRESADO (RAP)

Karina Yuriko Suzuki


Desenvolvimento Tecnológico – Grupo CCR Engelog

Kamilla L. Vasconcelos
Laboratório de Tecnologia de Pavimentação
Departamento de Engenharia de Transportes – Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo

Sandra A. Margarido Bertollo


Desenvolvimento Tecnológico – Grupo CCR Engelog

Liedi Légi Bariani Bernucci


Laboratório de Tecnologia de Pavimentação
Departamento de Engenharia de Transportes – Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo

Carlos Yukio Suzuki


Planservi Engenharia Ltda.

A utilização de material fresado de pavimento asfáltico, 1. Introdução


também conhecido como RAP (do inglês, Reclaimed
Asphalt Pavement), em misturas asfálticas recicladas, já
tem comprovada os benefícios econômicos, ambientais A reciclagem de uma mistura asfáltica é um processo
e sociais na literatura internacional. A qualidade e o em que o material fresado de pavimento asfáltico (RAP) é
desempenho final da mistura reciclada dependerão da
combinado, se necessário, com um novo cimento asfáltico
proporção de RAP utilizado e principalmente, da maneira
como o material será dosado e produzido. O objetivo do de petróleo (CAP), e/ou Agente Rejuvenescedor (AR) e/ou
artigo é apresentar as principais adaptações necessárias agregados virgens, em usinas de asfalto para a produção de
que têm sido utilizadas no exterior, em usinas de asfalto
misturas asfálticas que satisfaçam as especificações, normas e
estacionárias, para a incorporação de diferentes teores de
material fresado no processo de usinagem de misturas padrões (Asphalt Institute, 1986). O que irá determinar o teor de
asfálticas recicladas a quente ou mornas. RAP na mistura é a qualidade do material fresado e a forma de
transferência de calor, seja por condução, convecção ou indireta,
para o seu devido aquecimento e homogeneização na mistura.
A umidade do material fresado também deve ser levada em
consideração, pois quanto maior for a umidade, maior deverá
ser a temperatura de aquecimento dos agregados. Segundo
a NAPA (1996), as áreas destacadas na Tabela 1 apresentam as
temperaturas dos agregados excessivamente altas, as quais

110 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


seriam necessárias para altos teores de RAP e umidade, mas que Uma alternativa tecnológica de mistura asfáltica que tem
na prática, dificilmente podem ser atingidas. sido utilizada é o asfalto morno (WMA – Warm Mix Asphalt),
Tabela 1: Temperatura necessária para aquecimento dos agregados. desenvolvido com o intuito de diminuir a temperatura das
misturas asfálticas convencionais em cerca de 30°C a 50°C
(Motta, 2011). Assim sendo, a utilização de teores elevados de
RAP pode ser combinada com esta tecnologia e apresentar
vantagens não só quanto ao consumo energético, como também
pela necessidade de superaquecer os agregados virgens
complementares da mistura final.
Conforme aumenta-se o teor de RAP na mistura, deve-se
avaliar a necessidade de adição de agente rejuvenescedor, afim
de restaurar as propriedades do ligante envelhecido. O AR deve
ser devidamente dosado e combinado tanto com o ligante novo
quanto com o ligante remanescente no RAP. A adição do agente
rejuvenescedor no RAP pode ser realizada na usina, através de
barras espargidoras, durante a trajetória do material na correia
transportadora.

2. Beneficiamento do RAP

É importante ressaltar que antes da usinagem da mistura


reciclada é essencial um prévio processamento do RAP para
se obter um maior controle de qualidade final da mistura.
Dependendo da velocidade de avanço da fresadora, da rigidez
da camada, do espaçamento e conservação dos dentes de corte
do cilindro fresador, durante a operação formam-se partículas
menores ou maiores (grumos).
O fracionamento do RAP é o processamento e a separação
do material em pelo menos dois tamanhos, uma fração mais
grossa e outra mais fina (Copeland, 2011). É comum a formação
de “torrões” de material fresado por ocasião do empilhamento
Fonte: Adaptado de NAPA, 1996 do mesmo. Recomenda-se então, o “destorroamento” do RAP,

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 111


sempre que possível, para um maior
controle da granulometria na mistura
reciclada final. A Figura 1 exemplifica um
processo de fracionamento do RAP.
recomendação técnica

Já em relação ao controle de
umidade, as pilhas poderão ser estocadas
tomando-se alguns cuidados específicos
como, por exemplo, a cobertura do
material. Além disso, deve ser mantida
uma altura de pilhas relativamente
baixa, deixando a superfície de apoio
ligeiramente inclinada, de modo a
favorecer a drenagem de eventual
Figura 1: Fracionamento do RAP. Fonte: Adaptado de Risley,2010
umidade excessiva retida (Risley, 2010).
Outro aspecto que deve ser
levado em consideração é o grau de
homogeneização do RAP em vista das 3.1 Usinas Gravimétricas (baixos bateladas por hora.
diferentes procedências de materiais. O teores de RAP) A incorporação de RAP durante o
teor de CAP do RAP a ser reaproveitado processo de usinagem em usinas do tipo
(considerando a reativação do ligante) gravimétrica pode ser realizada de duas
irá depender da idade do material, das As usinas gravimétricas são maneiras, introduzindo o material a ser
condições climáticas a que ele foi exposto conhecidas por terem a produção reciclado diretamente no misturador ou
etc. da mistura asfáltica por bateladas na entrada inferior do elevador, conforme
devidamente controladas por pesagem. abordado a seguir.
3. Usinagem Os silos frios armazenam os agregados e
por meio de uma correia transportadora 3.1.1 Inserção do RAP no Misturador
migram para um tambor secador para
A mistura asfáltica reciclada a secagem e aquecimento através da O primeiro modelo de misturador
quente ou morna pode ser obtida em energia de um queimador. usado para produzir uma mistura
usinas de asfalto fixas (estacionárias) Após a extração da umidade, asfáltica reciclada de alta qualidade
ou móveis. A seguir, serão um elevador de caneca transporta os foi desenvolvido em Maplewood,
apresentadas as principais adaptações materiais para a parte superior de uma para o Departamento de Transportes
especificamente para usinas fixas, torre de pesagem. Um conjunto de de Minnesota (NAPA,1996). Este
visando a incorporação de material telas vibratórias classifica as partículas modelo ficou conhecido na literatura
fresado no processo de usinagem. na granulometria desejada que internacional como “Minnesota Method”,
Tradicionalmente, para a produção de posteriormente são separadas nos silos traduzido aqui livremente para o “Método
misturas asfálticas são empregados quentes. de Minnesota”, pois provou que misturas
dois tipos de usinas de asfalto: Os materiais são pesados em asfálticas de alta qualidade poderiam ser
gravimétricas e contínuas, ambas balanças individualmente de modo a produzidas com material fresado.
abordadas no presente artigo. As garantir a correta proporção da mistura. Esta técnica consiste na passagemdo
Figuras apresentadas a seguir limitam- O CAP é injetado no misturador para RAP (frio e com baixo teor de umidade)
se a ilustrar apenas as adaptações para homogeneização e o tempo de mistura é pelo funil de pesagem como um material
a inserção do RAP nos equipamentos controlado por um sistema automatizado. adicional, onde a troca de calor ocorre
e não contemplam as questões A mistura é armazenada em um silo por condução com os materiais virgens
relacionadas ao controle de emissões e quente ou descarregada diretamente superaquecidos na caixa de pesagem
demais etapas necessárias ao processo no caminhão que será enviado para a e no misturador ao longo do ciclo de
(incorporação do ligante, retorno de obra. A produção deste tipo de planta mistura a seco.
finos, etc). é determinada pela capacidade de Com este tipo de configuração, onde

112 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


a troca de calor ocorre no misturador,
o percentual de RAP em usinas
gravimétricas raramente ultrapassam
25-30%, pois com a umidade do material
variando entre 3 a 5% é difícil elevar a
temperatura dos agregados na ordem
de 315°C devido a eficiência do secador.
A Figura 2 ilustra a adição do RAP
(frio e com baixo teor de umidade) no
misturador de uma usina gravimétrica.

3.1.2 Inserção do RAP no Elevador

Uma outra adaptação em usinas


gravimétricas é a entrada do RAP (frio e
com baixo teor de umidade) na entrada
inferior do elevador. O material fresado
é misturado com os agregados virgens
superaquecidos à medida que estes
saem do secador e entram no elevador,
Figura 2: Adição de RAP (frio e com baixo teor Fonte: Adaptado de Ammann, 2012
ou ainda ser adicionado em um segundo de umidade) no misturador de uma usina
elevador. gravimétrica.
Com esta configuração, o teor de
RAP raramente ultrapassa 20%, pois
o caminho do material fresado até o
elevador leva pouco tempo, além do
RAP necessitar estar seco antes de passar
sobre as telas, caso contrário, estas
podem causar entupimento (Banasiak,
2000) e a segregação da mistura. A
Figura 3 apresenta a entrada do RAP na
parte inferior do elevador de uma usina
gravimétrica.
3.2 Usinas Gravimétricas (elevados
teores de RAP)

Visando aumentar o teor de RAP


na mistura para teores acima de 25%,
um novo secador especialmente para
o material fresado pode ser adicionado
ao processo. Uma técnica amplamente
utilizada na Europa Ocidental na década
Figura 3: Entrada de RAP (frio e com baixo teor Fonte: Adaptado de Ammann, 2012
de 90 foi a incorporação de um secador de umidade) na parte inferior do elevador de
externo de fluxo paralelo. O RAP é uma usina gravimétrica.

aquecido por convecção gerando gases


que contém vapor e hidrocarbonetos.
Esses gases são emitidos para o primeiro
secador de agregados virgens, onde os
hidrocarbonetos são reaproveitados na
área de combustão deste secador.

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 113


O RAP aquecido é transportado e
armazenado em um silo quente separado
que tem seu próprio sistema de pesagem
e posteriormente encaminhado ao
recomendação técnica

misturador. Com esta configuração é


possível alcançar até 50% de RAP na
mistura, dependendo da capacidade
do queimador no primeiro secador de
agregados virgens em aceitar os gases
provenientes do segundo secador de RAP.
A Figura 4 ilustra a configuração de uma
usina gravimétrica com secador externo
Figura 4: Configuração de usina gravimétrica Fonte: Adaptado de Ammann, 2012
específico para o pré-aquecimento do com secador externo para pré-aquecimento
RAP. do RAP.

Usinas de última geração permitem


a utilização de até 100% de RAP em
usinas gravimétricas. O diferencial está no 3.3.1 Tambor de fluxo paralelo 3.3.2 Tambor de Contrafluxo
tambor secador do tipo contrafluxo que
Em usinas contínuas com tambor Em usinas contínuas com tambor
possui dupla inclinação para o centro, de
misturador do tipo de fluxo paralelo, do tipo contrafluxo, os agregados são
forma que o material fresado não tenha
os agregados entram na mesma inseridos na extremidade superior oposta
contato direto com a chama do secador.
extremidade em que se encontra o ao do queimador e fluem em sentido
Posteriormente, o material é adicionado
queimador. Desta forma, os agregados contrário aos gases. Normalmente, este
no misturador para homegeneização.
são secos e aquecidos pelos gases de tipo de usina pode processar misturas
exaustão do queimador que fluem no com até 50% de RAP, com pouco ou
3.3 Usinas Contínuas
mesmo sentido. A configuração para a nenhum efeito observado sobre as
As usinas contínuas, ou volumétricas, adição de RAP é através de um anel no emissões (EPA, 2004). Os itens a seguir
como o próprio nome sugere, têm a centro do tambor, onde o RAP é aquecido mencionam as possibilidades de inserção
produção da mistura asfáltica de maneira principalmente por convecção. Segundo do RAP em usinas com essa configuração.
ininterrupta, onde a pesagem dos a NAPA (1996), em relação à transferência
a) Anel Intermediário
agregados é feita de forma individual. de calor, é possível atingir percentuais
As correias possuem um dispositivo de até 70% de RAP. No entanto, para
O RAP pode ser incorporado num
eletrônico que faz a pesagem dos Kandhal & Mallick (1997), este teor é
tambor misturador do tipo contrafluxo
materiais e a regulagem das quantidades limitado para um valor máximo de 50%
com anel intermediário, sem que tenha
automaticamente. Os agregados em usinas volumétricas. A Figura 5 ilustra
contato direto com as chamas do
são encaminhados para um tambor a configuração de entrada de RAP via
queimador. Neste caso, os agregados
ligeiramente inclinado, que pode ser do anel em um tambor misturador do tipo
virgens são aquecidos por convecção
tipo paralelo ou contrafluxo do sentido de fluxo paralelo.
da chama de queimador, para a secagem
Figura 5: Entrada de RAP via anel intermediário em um tambor misturador de fluxo paralelo.
e aquecimento dos agregados. O CAP é
então adicionado e a homogeneização
da mistura pode ser feita no próprio
tambor misturador (drum-mixer), ou
em um misturador externo. A seguir
serão apresentadas as diversas maneiras
de incorporar o RAP ao processo de
usinagem em usinas contínuas.

Fonte: Adaptado de Risley, 2010

114 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


com os gases quentes, enquanto o Figura 6: Adição de RAP via anel em tambor misturador de contrafluxo.
RAP é aquecido por condução com os
agregados virgens superaquecidos.
A Figura 6 ilustra a adição de RAP via
anel em tambor misturador do tipo
contrafluxo após a área de combustão
dos gases.

b) Tambor Duplo

Há ainda a opção de adicionar Fonte: Adaptado de Risley, 2010


o RAP num tambor duplo, em um
compartimento externo entre o secador
de contrafluxo e um misturador do tipo
pugmill. O processo consiste na secagem Figura 7: Entrada de RAP em um tambor duplo.
dos agregados virgens no secador, que
posteriormente são descarregados por
lâminas fixadas na parte externa do
secador para um leito do misturador
localizado entre o invólucro de secagem
rotativo e o invólucro do misturador
externo fixo.
O RAP é então misturado com os
agregados virgens, com o CAP, os finos e
outros aditivos, ganhando calor também
no revestimento metálico quente do
secador na área de combustão. Um maior Fonte: Adaptado de Risley, 2010
percentual de RAP pode ser alcançado
pois este tem um maior tempo de RAP (frio e com baixo teor de umidade) da entrada de RAP em um misturador
contato com os agregados virgens na e os agregados virgens quentes e contínuo ao secador de contrafluxo.
proximidade mais quente da superfície secos. A Figura 8 ilustra a configuração
externa do tambor secador. No entanto, o
teor de material fresado pode ser limitado
pelo espaço e tempo disponível para
a homogeneização da mistura dentro
do compartimento. A Figura 7 ilustra a
configuração da entrada de RAP em um
tambor duplo.

c) Misturador Contínuo

Uma possível adição de RAP na


mistura pode ser feita através de um
misturador contínuo ao secador do tipo
contrafluxo. O teor de RAP na mistura
é limitado dependendo da dimensão
do misturador que irá afetar o tempo Figura 8: Configuração da entrada de RAP Fonte: Adaptado de Ammann, 2012
de homogeneização da mistura entre o em um misturador contínuo ao secador de
contrafluxo.

Revista Estradas N°22 | Novembro 2017 115


Para misturas 100% recicladas, a diferença não está no contínuas. Em usinas gravimétricas, para baixos teores de RAP, o
processo de secagem e aquecimento do material, mas no controle material pode ser introduzido diretamente no misturador ou na
de emissão de poluentes. Segundo Frank (2014), o ligante asfáltico parte inferior do elevador. Já nas usinas contínuas, o RAP pode ser
não é queimado ou prejudicado. Para o controle de emissões, introduzido em tambores secadores do tipo paralelo, contrafluxo
recomendação técnica

um dispositivo de multi-estágios remove as partículas no ar e um (via anel ou tambor duplo), ou ainda em um misturador contínuo
filtro final remove a “fumaça azul” (termo dado em inglês como blue ao secador.
smoke). Além disso, para uma mistura final de qualidade, Tanto nas usinas gravimétricas, quanto volumétricas, a
é necessário um maior fracionamento das pilhas de fresado e utilização de altos teores de RAP na mistura final requer um pré-
consistência dos materiais. aquecimento do material de modo a evitar o contato direto da
chama do queimador com o ligante presente no RAP.
Em vista disso, o teor de RAP será função do tempo e forma de
4. Adaptações de Usinas no Brasil
exposição ao calor durante todo o processo de usinagem da nova
No Brasil, existem poucos casos relatados na literatura de mistura. A usina deve estar preparada e adaptada para garantir
aplicação de misturas asfálticas recicladas. Isso deve-se ao fato o aquecimento e homogeneização entre os materiais reciclados,
da falta de exigência por parte dos órgãos governamentais por virgens e possíveis aditivos químicos.
materiais reciclados, e ainda por falta de conscientização dos A incorporação do RAP em misturas asfálticas recicladas não
impactos ambientais causados por obtenção de agregados e está limitada apenas ao tipo de usina. O material fresado requer
ligantes asfálticos novos. alguns cuidados em sua gestão que vão desde o momento da
Uma das primeiras experiências de reciclagens de operação da fresagem, o seu beneficiamento, fracionamento,
material fresado no país ocorreu em 1986, quando a DERSA estocagem, monitoramento das pilhas, controle de granulometria e
(Desenvolvimento Rodoviário S/A) aplicou uma mistura asfáltica principalmente de umidade, até a fase de usinagem.
reciclada com 50% de RAP em uma usina do tipo drum-mixer, no Por fim, recomenda-se o estudo da viabilidade de utilização de
recapeamento da Rodovia Anhanguera. Castro Neto (2000) relata material fresado em misturas asfálticas, sobretudo em programas
que, após 14 anos de serviço, o desempenho do pavimento de manutenção de rodovias que dispõe da previsão do volume
encontrava-se excelente e, em sua dissertação de mestrado, de material fresado a ser gerado, localização das usinas de asfalto,
propôs um método de dosagem de misturas recicladas a quente. distâncias de transporte de materiais e os custos dos insumos de
Gennesseaux (2015) aponta que as misturas asfálticas produção e aplicação de misturas asfálticas. Com uma boa gestão do
recicladas na técnica morna, com altos teores de RAP, ou processo de geração do RAP é possível garantir uma pavimentação
combinando ambas as técnicas, atendem aos níveis de cada vez mais sustentável.
durabilidade requeridos pelas normas. No entanto, ressalta que é
necessário o uso de usinas adaptadas que prevejam a entrada do REFERÊNCIAS
AMMANN – Usinas de asfalto – Catálogo de divulgação. Gravataí, Rio
material longe da chama do secador. Grande do Sul,2012.
ASPHALT INSTITUTE. Asphalt Hot-Mix Recycling. Manual Series n. 20 (MS-
5. Conclusão 20). Second Edition. 1986.

CASTRO NETO, A. M. Proposta de Projeto de Dosagem de Concreto


A reciclagem a quente ou morna de misturas asfálticas já é uma Betuminoso Reciclado a Quente. Dissertação (Mestrado) –Escola
técnica bastante difundida nos países desenvolvidos, porém ainda Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.

pouco explorada no Brasil. Um dos critérios adotados para aquecer e COPELAND, A. Reclaimed Asphalt Pavement in Asphalt Mixtures: State
dar trabalhabilidade ao RAP é utilizar o excesso de calor proveniente of the Practice. Federal Highway Administration, Report Nº FHWA-
HRT-11-021. Form DOT F 17007.7 (8-72). 2011.
do superaquecimento dos agregados virgens. Assim sendo, é
necessário controlar a temperatura de usinagem para que não ocorra FRANK, B. New Law Permits 100 Percent RAP on Streets. Equipment
Worlds’s Better Roads, Highway Contractor, 2014. Disponível em: <http://
o risco de queima e oxidação do ligante remanescente. raptech.us/library/Highway-Contractor-New-Law.pdf>. Acesso em: 20 Jul.
Dentro deste contexto, tem sido analisado e pesquisado em 2017.
função do tipo de usina, do teor de RAP utilizado e o volume total
KANDHAL, P. S.; MALLICK, R. B. Pavement Recycling Guidelines for State
produzido, o melhor local para se introduzir o RAP na linha de and Local Governments. Federal Highway Administration, Report Nº
produção da mistura reciclada tanto morna, como totalmente a FHWA-SA-98-042. Form DOT F 17007.7 (8-72). 1997.

quente.
A incorporação de RAP em misturas asfálticas recicladas pode RISLEY, K. APAM. Plant Operations. In.: Annual Asphalt Paving Conference,
54th, 2010, Michigan. Disponível em: <http://www.apa-mi.org/docs/
ser realizada tanto em usinas gravimétricas, quanto em usinas PlantOperations.pdf>. Acesso em: 01 jul. 2017.

110 Revista Estradas N°22 | Novembro 2017


fevereiro março
28 - 02 26 - 28
2° Congresso Mundial
sobre Conservação,
Seminário Tendências Modernização e
2018

Mundiais em Design, Adaptação de Rodovias


Construção e Operação de à Mobilidade do Futuro,
Túneis, Bogotá, Colômbia Nice, França
www.piarc.org/en/calendar/ www.pprs2018.com/es/

abril
18 - 20
Seminário Internacional
sobre Questões Ambientais
em Projetos e Operação de
2018

Rodovias, São José, Costa


Rica
www.piarc.org/en/calendar/

julho
31 - 03

10ª Conferência
2018

Internacional sobre Pontes


de Pequena e Média
Extensão, Quebec, Canadá
www.smsb-2018.ca/

setembro
19 -21
2018

46ª RAPv - Reunião Anual


Pavimentação, Bonito, MS
http://www.abpv.org.br/
RAPv/

Revista Estradas N°16 | Dezembro 2011 3


4

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