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COLÉGIO EQUIPE DE RIO BRANCO

Língua Portuguesa (Interpretação)


Prof. Leonardo – 9º Ano

CONSTRUINDO O HUMOR:
ESTRATÉGIAS

1. ESTRATÉGIAS DE CONSTRUÇÃO DO HUMOR NOS


TEXTOS:

Os textos humorísticos (piadas, charges, crônicas, charadas, HQs, etc.) fazem uso
de diversas estratégias linguísticas (ou seja, estratégias que utilizam vários recursos
da língua) para nos fazer rir, ao mesmo tempo em que nos passam uma certa
concepção de mundo.

O humor joga um papel muito importante na interpretação e produção de textos, na


medida em que, ao nos fazer rir, ele consegue facilmente infiltrar nossas mentes
com ideias e conceitos (e até mesmo preconceitos) a respeito de diversos elementos
que compõem nossa atmosfera social. Por isso, estudar as estratégias de
construção do humor é importante: ele nos permite estar mais atentos a essa
“manipulação” que muitas vezes os textos humorísticos fazem com nossas crenças
e visões de mundo.

Vejamos quais são as principais estratégias:

TROCADILHO

O trocadilho é uma figura de palavra (figura retórica que lida com a matéria sonora
das palavras) que procura aproximar duas palavras idênticas quanto ao som, mas
diferentes quanto ao sentido. Ao utilizar tal estratégia na construção do texto
humorístico, o locutor trabalha em dois planos distintos: a) o plano fonológico (plano
do som) e b) o plano semântico (plano do sentido). Através do plano fonológico ele
passa uma ideia que, na maioria das vezes, é desconstruída pelo plano semântico.
Observe o exemplo abaixo:

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Figura 1 - Charge e o trocadilho

O jogo de palavras entre “deste pedido” e “despedido” constitui um exemplo de


trocadilho na charge acima. Observe que a matéria sonora dessas palavras são as
mesmas, entretanto o significado (e consequentemente o sentido) é completamente
diferente. A charge procura fazer uma crítica sobre os mal-entendidos que muitas
vezes cometemos (sobretudo em nosso ambiente de trabalho) e o poder que tais
mal-entendidos (transformados em boatos) podem ter sobre as pessoas.

Ao fazer esse jogo, o autor insere o humor no texto, provocando o riso no leitor.

ESTEREOTIPAÇÃO

A estereotipação é o uso de estereótipos como meio de provocar o riso.


Entendemos por estereótipo a imagem preconcebida (representação) de
determinada pessoa, coisa ou situação. Os estereótipos são usados principalmente
para definir e limitar pessoas ou grupo de pessoas na sociedade, sendo que sua
aceitação é ampla e culturalmente difundida gerando o prenconceito e a discrimição
dos elementos estereotipados. Consideremos a piada abaixo para compreendermos
melhor essa estratégia:

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O SEQUESTRO

A loira não conseguia passar no teste para nenhum emprego. Resolveu tomar uma
atitude extrema para ganhar dinheiro: - Vou seqüestrar uma criança! - pensou! Com o
dinheiro do resgate eu resolvo a minha vida... Ela encaminhou-se para um playground,
num bairro de luxo, viu um menino muito bem vestido, puxou-o para trás da moita e foi
logo escrevendo o bilhete: 'Querida mãe isto é um seqüestro. Estou com seu filho.
Favor deixar o resgate de R$10.000,00, amanhã, ao meio-dia, atrás da árvore do
parquinho. Ass: Loira seqüestradora ' Então ela pegou o bilhete, dobrou- o e colocou
no bolso da jaqueta do menino, dizendo: - Agora vai lá e entrega esse bilhete para a
sua mãe. No dia seguinte, a loira vai até o local combinado. Encontra uma bolsa. Ela
abre, encontra R$10.000,00 em dinheiro e um bilhete junto,dizendo: 'Está aí o resgate
que você pe diu. Só não me conformo como uma loira pôde fazer isso com outra...'

Figura 2 - Piada e a estereotipação

Na piada acima, percebemos que as duas personagens da piada, a sequestradora e


a mãe da criança, são representadas por meio do estereótipo de “loira-burra”. As
atitudes que ambas tomam (no caso da seqüestradora, devolver a criança para que
ela possa entregar o bilhete; no caso da mãe, dar o dinheiro mesmo tendo a criança
consigo) vão ao encontro desse estereótipo.

Os textos de humor são mestres em usar esse tipo de estratégia e isso acaba
influenciando muitas atitudes que tomamos no dia-a-dia. Quem nunca chamou uma
amiga ou uma conhecida de “loira-burra” só por causa de uma simples distração?
Tais atitudes mostram o quanto tais estereótipos influenciam nossas atitudes e
também nossa visão de mundo.

Vejamos outros exemplos:

Figura 3 - Charge e a estereotipação

A aparente inocência da charge acima perpetua um estereótipo muito comum


quanto aos negros: sua incapacidade intelectual de frequentar universidades

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públicas. No caso da charge, ao segurar a bola e dizer que o aluno joga futebol tão
bem, o deputado federal está reproduzindo uma representação muito comum em
nossa sociedade ao mesmo tempo nos fazendo rir.

Assim, a estereotipação é uma estratégia muito perigosa na medida em que ela


pode nos levar ao racismo, xenofobismo, machismo, homofobismo e intolerância
religiosa.

Sua aparente inocência e grande aceitação reproduzem certos discursos de


representação, fazendo com que atitudes preconceituosas e discriminatórias sejam
tomadas por nós em nossas práticas sociais. Além disso, todo texto humorístico que
utiliza tal estratégia é, de certo modo, crítico: o estereótipo é usado como um meio
de criticar certo aspecto social.

AMBIGUIDADE/DUPLO SENTIDO

Ambiguidade – considerada por muitos gramáticos como um defeito da frase – é


outra estratégia muito importante na construção do humor em certos gêneros
textuais. Ela é a geradora do duplo sentido, pois seu fundamento linguístico reside
no fato de que ela é capaz criar dois ou mais sentidos para uma frase ou uma
palavra em determinado texto. Assim, ambiguidade é um fenômeno semântico que
trabalha com os diferentes sentidos que uma frase ou palavra pode ter dentro de um
certo texto.

Dessa forma, ela é muito mais uma estratégia linguística do que um defeito de frase.
Vejamos alguns exemplos dessa estratégia em certos textos humorísticos:

Figura 4 - Charge e a ambiguidade/duplo sentido

Na charge acima, percebemos que a expressão “pelas costas” é geradora do duplo


sentido. A expressão, na charge, é tomada em dois sentidos: a) pelas costas: fazer
as coisas debaixo dos panos; b) pelas costas: fazer propaganda do político nas
costas da camisa. Esses dois sentidos são explorados no texto em análise e tal

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estratégia provoca o riso no leitor, ao mesmo tempo que faz uma crítica às atitudes
escusas de certos políticos.

Mais uma vez, o humor ultrapassa o simples entretenimento. No caso da charge


acima (e de muitos outros textos), ele é muito mais usado para fazer um crítica (por
isso, é importante estudá-lo) do que entreter o leitor.

IRONIA

É, no dizer de Reboul (2008), uma figura de pensamento que consiste em dizer o


contrário do que se quer dizer, não para enganar, mas para ridicularizar. A ironia é
usada como um meio de tornar engraçado certo assunto, objeto ou pessoa
trabalhando sempre em dois planos: a) o plano do dito (explícito) e b) plano do não-
dito (implícito). Na ironia, o segundo plano (aquilo que fica implícito) sempre
sobressai sobre o primeiro. Além disso, para perceber a ironia em certo texto é
necessário possuir certo conhecimento mundo quanto ao objeto, situação ou pessoa
ironizada. Vejamos o exemplo abaixo:

Figura 5 - Charge e a ironia

No texto acima, percebemos a ironia quando contrastamos a linguagem verbal


(“Segundo o IBGE, a distância entre ricos e pobres está diminuindo...”) e a
linguagem não-verbal (imagem da charge) que apresentam ideias opostas e até
contraditórias entre si. Isso mostra que o autor que dizer uma coisa (explícito), mas
quer significar outra (implícito). A ironia, na grande maioria dos textos humorísticos,
aparece acompanhada das demais estratégias já estudadas.

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QUEBRA DE EXPECTATIVA (O INESPERADO)

A quebra de expectativa é uma outra estratégia muito recorrente em textos


humorísticos. Ela é baseada na surpresa que um texto pode causar quanto ao seu
desfecho. É muito comum encontrá-la em charges e piadas. Vejamos:

Figura 6 - Piada e a quebra de expectativa

A quebra de expectativa ocorre quando o locutor, ao longo do texto, conduz o


interlocutor a criar certas expectativas quanto ao final da história. Porém, no
desfecho, ele quebra tais expectativas, apresentando algo surpreendente e
inesperado para o interlocutor. Isso permite ao interlocutor rever seus conceitos e rir
de suas próprias ideias.

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2. GÊNEROS HUMORÍSTICOS

CHARGE
Cartum cujo objetivo é a crítica humorística imediata de um fato ou acontecimento
específico, em geral de natureza política. O conhecimento prévio, por parte do leitor, do
assunto de uma charge é, quase sempre, fator essencial para sua compreensão. Uma boa
charge, portanto, deve procurar um assunto momentoso e ir direto onde estão centrados a
atenção e o interesse do público leitor. A mensagem contida numa charge é eminentemente
crítica e interpretativa. A charge usa, quase sempre, os elementos da caricatura na sua
primeira acepção.

Assim, a charge é um gênero que tem por finalidade satirizar, por meio de uma caricatura,
algum acontecimento atual com uma ou mais personagens envolvidas. A palavra é de
origem francesa (fr. charge) e significa carga, ou seja, exagera traços do caráter de alguém
ou de algo para torná-lo burlesco, sendo esse o princípio básico da caricatura. O gênero é
muito utilizado em críticas políticas no Brasil (no ano passado, 2010, ano de eleição
presidencial, vários jornais e revista, bem como sites especialidados, apresentam várias
charges evidenciando a situação política pela qual o Brasil passava). Apesar de ser
confundido com o cartum (do ing. cartoon), é considerado como algo totalmente diferente,
pois ao contrário da charge, que sempre é uma crítica contundente, o cartoon retrata
situações mais corriqueiras do dia-a-dia da sociedade. Mais do que um simples desenho, a
charge é uma crítica político-social onde o artista expressa graficamente sua visão sobre
determinadas situações cotidianas através do humor e da sátira. Para entender uma charge,
não é preciso ser necessariamente uma pessoa culta, basta estar por dentro do que
acontece ao seu redor.

A interpretação de uma charge não pode levar em conta somente o aspecto verbal
(linguagem verbal) do texto, mas também o seu aspecto não-verbal (linguagem não-verbal)
presente, pois o sentido de uma charge (assim como a crítica que ela faz) está contida na
interação entre esses dois elementos: verbal e não-verbal.

Além do mais, é um gênero extremamente humorístico, na medida em que utiliza o humor


como um meio de satirizar, caricaturar e criticar certos aspectos sociais. Por isso, as
estratégias de construção do humor têm um peso muito grande nesse gênero.

Exemplo 1 - Charge

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PIADA

Piada é um gênero anônimo, isto é, seu autor é totalmente desconhecido (uma vez que ele
surge em situações descontraídas) que se caracteriza como uma narrativa curta de final
surpreendente, às vezes picante ou obscena, contada para provocar risos.

A finalidade do gênero é entreter o público e despertar o riso. Entretanto, devido à temática,


a esta finalidade de entreter pode se juntar a finalidade de criticar, sobretudo através da
ambiguidade das palavras, dos estereótipos e do duplo sentido do texto. A malícia (“toda
brincadeira tem um fundo de verdade”) é bem constitutiva do gênero.

De temática variada – sexualidade, racismo, etnias, instituições, profissões (quase tudo


pode virar motivo de piada) – as piadas refletem e refratam (projetam) a sociedade, visto
que trazem um conteúdo que é de certa maneira “reprimido” pela indivíduos sociais e é por
causa disso que tendem a disparar o riso e a provocar o humor. Assim, a piada mexe com o
nosso “lado negro”, trazendo à tona aquilo que não admitimos e achamos jocoso.

Uma piada pode também nos fazer rir pelo duplo sentido que ela desperta: ambiguidade e
trocadilho constroem muitas piadas.

Porém é o final surpreendente que, de fato, caracteriza a piada. É nele que observamos o
humor de diferenças formas: estereotipação, ambiguidade, trocadilhos, duplo sentido, etc.

Esperteza do mineiro

O mineirinho chega no ponto do ônibus e encontra o compadre, com o qual havia combinado uma pescaria...
- Ô cumpadre, prá mode que cê tá levando esses dois emborná?
- Ah, cumpade, é que eu tô levando uma pinguinha!
- Mais nóis num tinha combinado que não ia mais bêbê, cumpadre?
- Combinamo sim, cumpadre. Mas sabe o que é....? E se di repente nóis tá pescando, e aparece uma cobra e
pica um de nóis dois. Daí nóis passa pinga onde a cobra mordeu e toma um gole pra aliviá a dor.
- Tá bão, cumpadre, ocê me convenceu. Mais vem cá, e no outro emborná, o que cê tá levando?
- É a cobra, cumpadre! Pode ser que lá num tenha, né ...

Exemplo 2 – Piada

CRÔNICA

De acordo com o Dicionário de Gêneros Textuais, de Sérgio Roberto da Costa, A crônica é


um gênero escrito, geralmente publicado em colunas de periódicos (revistas, jornais, etc.),
cuja finalidade é utilitária e predeterminada: “agradar aos leitores dentro de um espaço igual
e com a mesma localização.”. De fato, a crônica lida com o fato miúdo, pois “(...) é a notícia
em quem ninguém prestou atenção, o acontecimento insignificante, a cena corriqueira.” A
crônica é, assim, leve e rápida; ela constrói um lugar de familiaridade entre o escritor e o
leitor, criando o efeito de uma conversa amena, banal e cotidiana. Em suma, a crônica
jornalística/literária consolida o simulacro de relato informal de um “causo”. (c.f. COSTA,
2008, p. 71-73)

Assim, podemos entender que:

 A crônica é um gênero que intercala dois universos, duas esferas sociais: a esfera
jornalística e a esfera literária;

 A crônica possui uma linguagem coloquial e informal;

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 Tenta simular um diálogo, isto é, há uma conversa entre o locutor e o interlocutor;

 Está entre a notícia, a reportagem e a nota, visto que lida com um fato corriqueiro,
cotidiano, a que ninguém prestou atenção;

 Pode ser usada para fazer uma crítica social, bem como para entreter (agradar) os
leitores;

 Possui um aspecto literário (lê-se ficcional);

 Trata-se de um texto predominantemente narrativo;

 Pode ser usada para provocar o riso (estratégias de humor).

Costa (2008) nos dá uma visão do gênero CRÔNICA ao longo do tempo. Vejamos o que o
autor diz:

Originalmente a crônica limita-se a relatos verídicos e nobres, pois tratava-se da


compilação de fatos históricos apresentados segundo a ordem de sucessão no
tempo, como o dia-a-dia da corte, as histórias dos reis, seus atos, etc. Mais tarde,
entretanto, grandes escritores, a partir do século XIX, passam a cultivá-la, refletindo,
com argúcia e oportunismo, a vida social, a política, os costumes, o cotidiano, etc.
do seu tempo em livros, jornais e folhetins. Contemporaneamente, no jornalismo,
em coluna de periódicos, assinada, pode vir em forma de notícias, comentários,
algumas vezes crítico e polêmicos, abordando temas ligados a atividades culturais
(literatura, teatro, cinema, etc.), políticas, econômicas, de divulgação científica,
desportivas, etc. Atualmente também abrange o noticiário social e mundano.
Conforme a esfera social que retrata, recebe o nome de crônica literária, policial,
esportiva, política, jornalística, etc. (COSTA, S. R. Dicionário de gêneros textuais.
Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008.)

Exemplo 3 - Crônica

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TIRA/TIRINHA (HQs)

Tira ou tirinha (como é mais conhecido) é um fragmento de HQs (abrev. de História em


quadrinhos), geralmente com três ou quatro quadros em uma única faixa horizontal de 14cm
X 4cm aproximadamente, que apresenta um texto sincrético que alia a linguagem verbal e a
linguagem não verbal (imagem), sendo publicada em jornais e revistas. Uma tira de HQ pode
conter uma história curta e completa (como geralmente ocorre com as tiras cômicas ou
humorísticas), ou pode ser um capítulo de uma história seriada (é o caso das tiras de
aventuras, em geral). Sua finalidade é puramente o entretenimento: ela desperta o riso no
leitor como um meio de proporcioná-lo uma distração para o estresse da vida cotidiana.

Sua localização em jornais e revistas se dá em seções ou cadernos especializados (cadernos


de diversões e amenidades), vindo próximos de gêneros como as cruzadinhas, o horóscopo,
as HQs, as charges, etc.

Segundo Rabaça e Barbosa (1995), no seu Dicionário de Comunicação, as primeiras comic


strips ou daily strips (nome em inglês) surgiram em jornais norte-americanos no fim do século
XIX, com tamanha receptividade que hoje são raros os jornais em todo o mundo que não
incluem algumas séries de tiras em suas edições diárias. Há tiras com personagens bem
conhecidos como Snoop, Garfield, Asterix e Obelix, Níquel Náusea, Recruta Zero, Pantera
Cor-de-Rosa, Mafalda, entre outros.

Por se tratar de uma história, as tiras são textos narrativos que envolvem personagens em
certas ações engraçadas que nos fazem rir, mas que também podem nos levantar o senso
crítico, como fazem as tiras da personagem Mafalda (quase todas têm um viés político).

Exemplo 4 - Tira

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