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CONSTRUINDO O HUMOR:
ESTRATÉGIAS
Os textos humorísticos (piadas, charges, crônicas, charadas, HQs, etc.) fazem uso
de diversas estratégias linguísticas (ou seja, estratégias que utilizam vários recursos
da língua) para nos fazer rir, ao mesmo tempo em que nos passam uma certa
concepção de mundo.
TROCADILHO
O trocadilho é uma figura de palavra (figura retórica que lida com a matéria sonora
das palavras) que procura aproximar duas palavras idênticas quanto ao som, mas
diferentes quanto ao sentido. Ao utilizar tal estratégia na construção do texto
humorístico, o locutor trabalha em dois planos distintos: a) o plano fonológico (plano
do som) e b) o plano semântico (plano do sentido). Através do plano fonológico ele
passa uma ideia que, na maioria das vezes, é desconstruída pelo plano semântico.
Observe o exemplo abaixo:
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Figura 1 - Charge e o trocadilho
Ao fazer esse jogo, o autor insere o humor no texto, provocando o riso no leitor.
ESTEREOTIPAÇÃO
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O SEQUESTRO
A loira não conseguia passar no teste para nenhum emprego. Resolveu tomar uma
atitude extrema para ganhar dinheiro: - Vou seqüestrar uma criança! - pensou! Com o
dinheiro do resgate eu resolvo a minha vida... Ela encaminhou-se para um playground,
num bairro de luxo, viu um menino muito bem vestido, puxou-o para trás da moita e foi
logo escrevendo o bilhete: 'Querida mãe isto é um seqüestro. Estou com seu filho.
Favor deixar o resgate de R$10.000,00, amanhã, ao meio-dia, atrás da árvore do
parquinho. Ass: Loira seqüestradora ' Então ela pegou o bilhete, dobrou- o e colocou
no bolso da jaqueta do menino, dizendo: - Agora vai lá e entrega esse bilhete para a
sua mãe. No dia seguinte, a loira vai até o local combinado. Encontra uma bolsa. Ela
abre, encontra R$10.000,00 em dinheiro e um bilhete junto,dizendo: 'Está aí o resgate
que você pe diu. Só não me conformo como uma loira pôde fazer isso com outra...'
Os textos de humor são mestres em usar esse tipo de estratégia e isso acaba
influenciando muitas atitudes que tomamos no dia-a-dia. Quem nunca chamou uma
amiga ou uma conhecida de “loira-burra” só por causa de uma simples distração?
Tais atitudes mostram o quanto tais estereótipos influenciam nossas atitudes e
também nossa visão de mundo.
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públicas. No caso da charge, ao segurar a bola e dizer que o aluno joga futebol tão
bem, o deputado federal está reproduzindo uma representação muito comum em
nossa sociedade ao mesmo tempo nos fazendo rir.
AMBIGUIDADE/DUPLO SENTIDO
Dessa forma, ela é muito mais uma estratégia linguística do que um defeito de frase.
Vejamos alguns exemplos dessa estratégia em certos textos humorísticos:
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estratégia provoca o riso no leitor, ao mesmo tempo que faz uma crítica às atitudes
escusas de certos políticos.
IRONIA
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QUEBRA DE EXPECTATIVA (O INESPERADO)
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2. GÊNEROS HUMORÍSTICOS
CHARGE
Cartum cujo objetivo é a crítica humorística imediata de um fato ou acontecimento
específico, em geral de natureza política. O conhecimento prévio, por parte do leitor, do
assunto de uma charge é, quase sempre, fator essencial para sua compreensão. Uma boa
charge, portanto, deve procurar um assunto momentoso e ir direto onde estão centrados a
atenção e o interesse do público leitor. A mensagem contida numa charge é eminentemente
crítica e interpretativa. A charge usa, quase sempre, os elementos da caricatura na sua
primeira acepção.
Assim, a charge é um gênero que tem por finalidade satirizar, por meio de uma caricatura,
algum acontecimento atual com uma ou mais personagens envolvidas. A palavra é de
origem francesa (fr. charge) e significa carga, ou seja, exagera traços do caráter de alguém
ou de algo para torná-lo burlesco, sendo esse o princípio básico da caricatura. O gênero é
muito utilizado em críticas políticas no Brasil (no ano passado, 2010, ano de eleição
presidencial, vários jornais e revista, bem como sites especialidados, apresentam várias
charges evidenciando a situação política pela qual o Brasil passava). Apesar de ser
confundido com o cartum (do ing. cartoon), é considerado como algo totalmente diferente,
pois ao contrário da charge, que sempre é uma crítica contundente, o cartoon retrata
situações mais corriqueiras do dia-a-dia da sociedade. Mais do que um simples desenho, a
charge é uma crítica político-social onde o artista expressa graficamente sua visão sobre
determinadas situações cotidianas através do humor e da sátira. Para entender uma charge,
não é preciso ser necessariamente uma pessoa culta, basta estar por dentro do que
acontece ao seu redor.
A interpretação de uma charge não pode levar em conta somente o aspecto verbal
(linguagem verbal) do texto, mas também o seu aspecto não-verbal (linguagem não-verbal)
presente, pois o sentido de uma charge (assim como a crítica que ela faz) está contida na
interação entre esses dois elementos: verbal e não-verbal.
Exemplo 1 - Charge
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PIADA
Piada é um gênero anônimo, isto é, seu autor é totalmente desconhecido (uma vez que ele
surge em situações descontraídas) que se caracteriza como uma narrativa curta de final
surpreendente, às vezes picante ou obscena, contada para provocar risos.
Uma piada pode também nos fazer rir pelo duplo sentido que ela desperta: ambiguidade e
trocadilho constroem muitas piadas.
Porém é o final surpreendente que, de fato, caracteriza a piada. É nele que observamos o
humor de diferenças formas: estereotipação, ambiguidade, trocadilhos, duplo sentido, etc.
Esperteza do mineiro
O mineirinho chega no ponto do ônibus e encontra o compadre, com o qual havia combinado uma pescaria...
- Ô cumpadre, prá mode que cê tá levando esses dois emborná?
- Ah, cumpade, é que eu tô levando uma pinguinha!
- Mais nóis num tinha combinado que não ia mais bêbê, cumpadre?
- Combinamo sim, cumpadre. Mas sabe o que é....? E se di repente nóis tá pescando, e aparece uma cobra e
pica um de nóis dois. Daí nóis passa pinga onde a cobra mordeu e toma um gole pra aliviá a dor.
- Tá bão, cumpadre, ocê me convenceu. Mais vem cá, e no outro emborná, o que cê tá levando?
- É a cobra, cumpadre! Pode ser que lá num tenha, né ...
Exemplo 2 – Piada
CRÔNICA
A crônica é um gênero que intercala dois universos, duas esferas sociais: a esfera
jornalística e a esfera literária;
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Tenta simular um diálogo, isto é, há uma conversa entre o locutor e o interlocutor;
Está entre a notícia, a reportagem e a nota, visto que lida com um fato corriqueiro,
cotidiano, a que ninguém prestou atenção;
Pode ser usada para fazer uma crítica social, bem como para entreter (agradar) os
leitores;
Costa (2008) nos dá uma visão do gênero CRÔNICA ao longo do tempo. Vejamos o que o
autor diz:
Exemplo 3 - Crônica
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TIRA/TIRINHA (HQs)
Por se tratar de uma história, as tiras são textos narrativos que envolvem personagens em
certas ações engraçadas que nos fazem rir, mas que também podem nos levantar o senso
crítico, como fazem as tiras da personagem Mafalda (quase todas têm um viés político).
Exemplo 4 - Tira
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