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RIO DE JANEIRO
2013
REGINA CÉLIA AZEVEDO SOARES
RIO DE JANEIRO
2013
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA
DIRETORIA DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTU SENSU E DE
PESQUISA
CDD – 616.855
Decs
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Setorial Tijucal/UVA
REGINA CÉLIA AZEVEDO SOARES
_____________________________________________
Profº. Drº. JOHN VAN BORSEL
Universidade Veiga de Almeida
_____________________________________________
Profª Drª MÔNICA MEDEIROS DE BRITTO PEREIRA
Universidade Veiga de Almeida
_____________________________________________
Profª. Drª. SOLANGE MARIA DA ROCHA
Instituto Nacional de Educação de Surdos
Banca Externa
Para Maíra e Ana
Lúcia, com todo o
meu amor.
AGRADECIMENTOS
The ability to communicate using verbal language is one of the aspects that
distinguishes humans from other living beings. This research aimed to assess the
expressive vocabulary of deaf students enrolled in early education, users of the
Brazilian Sign Language, through analysis of the conceptual fields in which the
students have more control to name and identification the processes they use. The
investigation was a cross sectional study. The sample consisted of seventeen
students with severe to profound sensorineural deafness, enrolled in preschool at
Early Education Service - in the National Institute for Deaf Education - MEC,
located on Rua das Laranjeiras, nº. 232 in the neighborhood of Laranjeiras, in the
city of Rio de Janeiro. They were divided in two groups aged between five to nine
years and eleven months, of both sexes. The language of instruction used was
LIBRAS, reason why the interpreter remained with the researcher during the test
application. Students enrolled in pre-school for less than a year and those with
other disabilities associated with deafness did not participate. The Test for Young
Children ABFW – Vocabulary was applied. Their answers were classified as:
Usual Word Designation (DVU), No Designation (ND) and Substituition Process
(PS), according to the proposal of the author of this assessment. Results show
that both the five and six year old deaf children were less developed with regard to
word designation and demonstrated more substitution processes. For word
designation there was no significant difference. The low performance of the group
studied can be explained by the fact that most of the children are from families of
listeners, who are unaware or make little use of LIBRAS as the language of
instruction, compromising steps that are crucial for the child to acquire concepts
and expand their vocabulary.
INTRODUÇÃO ................................................................................................ 10
1 REVISÃO DA LITERATURA......................................................................... 14
1.1 TEORIAS DE AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM: ACORDOS E 14
CONTROVÉRSIAS.................................................................................
1.2 CARACTERIZAÇÃO DA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM NA 23
SURDEZ..................................................................................................
1.3 HABILIDADE LINGUÍSTICA DE NOMEAÇÃO.................................. 25
1.4 A EDUCAÇÃO DO SURDO.............................................................. 33
1.5 LÍNGUA DE SINAIS.......................................................................... 38
2 METODOLOGIA............................................................................................ 44
2.1 PARTICIPANTES.............................................................................. 44
2.2 MATERIAL......................................................................................... 45
2.3 PROCEDIMENTOS........................................................................... 48
2.4 RESULTADOS.................................................................................. 50
2.4.1 Grupo de cinco anos............................................................ 50
2.4.2 Grupo de seis anos.............................................................. 51
2.4.3 Comparação entre os grupos de cinco e seis anos............. 52
3 DISCUSSÃO................................................................................................. 54
CONCLUSÃO................................................................................................ 58
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 59
APÊNDICE A – Carta para obtenção do consentimento livre.......................... 67
APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido........................ 68
APÊNDICE C - Vocabulário - registro das respostas....................................... 69
ANEXO A – Teste de linguagem infantil nas áreas de fonologia, vocabulário, 70
fluência e pragmática.......................................................................................
ANEXO B – Vocabulário – tabela de análise da tipologia de processos de 72
substituição.......................................................................................................
10
INTRODUÇÃO
emocional, social, cognitivo e cultural, uma vez que nessa idade, a linguagem já está
comprometida.
Constitui-se um desafio prover a pessoa surda de habilidades comunicativas,
permitindo que ele se torne participativo no seu meio social, aprendendo ainda a
superar as adversidades. Para tanto, é preciso que os profissionais envolvidos com
a educação infantil estejam dispostos a superar as dificuldades, auxiliando a criança
a ter uma cidadania plena. Nesse aspecto, Kramer (2006) explica que no Brasil o
interesse nas políticas educativas na fase de quatro a seis anos de idade, ou seja,
na Educação Infantil, só tiveram destaque a partir da Constituição Federal de 1988 e
da Lei de Diretrizes e Bases, de 1996, que determinaram o dever do Estado de
promover o atendimento especializado às crianças com necessidades especiais.
Assim é o entendimento sobre o universo das crianças:
1 REVISÃO DE LITERATURA
Nesse sentido, a construção de significados por parte da criança não pode ser
creditada, exclusivamente, ao processo cognitivo, mas deve ainda remeter ao
sentido que a escola dá a sua aprendizagem, incluindo as representações e
expectativas das crianças em idade pré-escolar. Assim, é importante que o educador
observe como as informações estão sendo apreendidas pela criança e como as
intervenções nesse processo podem contribuir para o aumento do vocabulário e
aprimoramento da linguagem.
Além disso, é necessário que a troca de ideias e de experiências seja
promovida constantemente, para que as crianças na fase pré-escolar possam
compreender situações funcionais e os significados da linguagem no contexto em
que vivem.
De acordo com Oliveira, Castro e Ribeiro (2002), a construção do léxico se dá
na apreensão dos vocábulos de um dado grupo sociolinguístico e cultural. Assim, a
capacidade de aprendizado é fundamental para o desenvolvimento da criança, para
quem é igualmente importante fortalecer conhecimentos sobre a sua língua nativa.
Nesse aspecto, sintaxe, morfologia e fonologia estão intrinsecamente relacionadas à
aprendizagem das palavras e da linguagem.
Através da utilização de signos se forma o sistema linguístico, que é o meio
de comunicação entre os indivíduos e, nesse contexto, a comunicação pode ser
entendida como um processo evolutivo. Assim, o papel da linguagem no
desenvolvimento cognitivo é analisado por diferentes teorias, que partem do
princípio de que existe, nos seres humanos, uma capacidade inata para a aquisição
da linguagem. De acordo com um dos maiores teóricos da Linguística, pode-se
afirmar que:
Assim sendo, cada indivíduo tem uma capacidade específica para a aquisição
da linguagem, processo esse que se inicia nos primeiros anos de vida e que irá
influenciá-lo no que diz respeito ao seu comportamento social, cultural, cognitivo. De
acordo com Vygotsky (1996) o uso de signos leva as pessoas a desenvolverem uma
16
Tendo em vista que o primeiro contato da criança com o mundo é com a mãe,
essa relação pode ser vista como um marco para o começo da formação das
atividades de compreensão, representação e interação com o mundo, sendo
afirmativa válida tanto para ouvintes quanto para surdos.
É importante retornar à tese de Vygotsky (1996), pois para ele o ambiente tem
um peso importante no desenvolvimento da criança, e será no ambiente interativo
que a infância poderá se adaptar e avançar para conhecimentos mais complexos.
Trata-se de uma trajetória de individualização progressiva, que começa nas relações
sociais familiares e se espalha para as relações interpessoais.
Isto implica considerar que as interações sociais são importantes não só com
adultos, mas também com outras crianças; e se a falta de uma linguagem
comunicativa interferir neste processo poderá trazer resultados para o aprendizado e
para a afirmação do indivíduo no mundo.
Assim, pode-se compreender a formação da linguagem como resultado de um
processo histórico-cultural, em cujo centro está o uso social dos instrumentos e
meios. Isto é: os homens podem reconhecer-se a si mesmos na sua história e
podem também compreender-se e explicar-se nas suas ações, porque fazem a sua
própria história.
Para Vygotsky (1996), portanto, o desenvolvimento da criança só pode ser
compreendido dentro do quadro familiar, social, e de convivência com colegas na
escola etc. e, assim, a educação precisa ser analisada como um todo, não se
isolando a criança deste meio social, intelectual e cultural em que nasce e vive.
Ao analisar o estado de desenvolvimento mental de uma criança, o teórico
considera que existem dois níveis: o do desenvolvimento real e a zona de
desenvolvimento proximal. O primeiro remete a como a criança desenvolve suas
funções mentais, de forma cíclica. Já o segundo, implica em um desenvolvimento
mais independente da criança.
Vygotsky é intervencionista e considera que o professor deve expandir e
desafiar a criança. Sua teoria se fundamenta no princípio da zona de
desenvolvimento proximal. Segundo este princípio, crianças diferentes têm,
obrigatoriamente, capacidades diferenciadas para desenvolver seus potenciais
intelectuais. Para ele, existe uma relação entre instrução e internalização de
conhecimentos.
19
Assim, candidatos a output efetivos de uma língua são avaliados por meio
dessas restrições e escolhidos em função de serem mais harmônicos que
outros, já que também os outputs considerados “ótimos” podem violar
restrições. Essas restrições podem exigir fidelidade entre forma de input e
de output ou proibir estruturas marcadas nas línguas do mundo (LORANDI,
CRUZ e SCHERER, 2011, p. 7).
Esta teoria utiliza algoritmos para prever quais restrições são modificadas na
formação da gramática em crianças.
Outra teoria igualmente recente é a Neurociência, que estabelece relações
entre cérebro e linguagem. O que se pode explicar que é no cérebro que se
processa a aquisição da linguagem. Tal teoria, por sua vez, deu origem ao
Neuroconstrutivismo, que reconhece a efetividade das ações da criança no seu
processo de aprendizagem e no fato de que as estruturas de conhecimento seriam
não inatas, mas sim, emergentes.
Segundo Lorandi, Cruz e Scherer (2011, p. 7), um estudo do final dos anos
1990, realizado por Mills, Coffey-Corins e Neville (1997), aponta que o
processamento bilateral da compreensão das palavras ocorre entre o décimo
terceiro e o décimo sétimo meses, porém, a lateralização deste processo ocorreria
somente aos vinte meses, o que iria de encontro à teoria de que a linguagem é um
processo inato.
Assim, embora não haja um consenso entre os teóricos, o conhecimento
dessas linhas de raciocínio contribui para que se possa analisar com maiores
possibilidades como se dá o desenvolvimento da linguagem, sobretudo ao se
analisar, especificamente, a aquisição da linguagem na surdez.
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considera que a linguagem tem uma função bem além de ser mero instrumento de
comunicação: ela promove a dimensão do significado das coisas. Nesse sentido, ao
se avaliar a linguagem infantil deve-se considerar o que a criança compreende e
qual a sua produção.
Ferreira et al. (2012), a esse respeito, utilizaram o Teste de Linguagem Infantil
ABFW – Vocabulário, visando identificar o desempenho de crianças surdas usuárias
de Libras, em comparação a outras crianças ouvintes, com uma amostragem de
sessenta e quatro sujeitos (trinta e duas crianças no grupo de estudo e trinta e duas
no grupo controle), divididos em quatro grupos por idade (cinco, seis, sete e oito
anos). As respostas foram classificadas em designação do vocábulo usual (DVU),
não designação (ND), e processo de substituição (PS), de acordo com a proposta
das pesquisadoras.
Os resultados mostraram que, na maioria dos campos conceituais, o grupo de
deficientes auditivos obteve pior desempenho em relação ao grupo controle. As
autoras observaram também que, em ambos os grupos estudados, os piores
desempenhos ocorreram nas categorias locais, alimentos e vestuário, em todas as
idades.
Tanto no grupo estudado como no grupo controle ocorreu melhor
desempenho nas crianças de cinco anos de idade, em comparação às demais
crianças. Também nos grupos estudados, os processos de substituição foram
observados com maior frequência no campo local e menor frequência em formas e
cores. Nas crianças usuárias de Libras os campos conceituais com maior índice de
acertos foram profissões, brinquedos, instrumentos musicais, móveis e utensílios.
Não houve diferença significativa considerando a idade dos participantes do estudo.
O estudo de Ferreira et al. (2012) concluiu que, apesar das diferenças
quantitativas observadas em relação aos grupos, observaram grande similaridade
qualitativa quanto às respostas obtidas, sugerindo a existência de um processo
evolutivo semelhante na aquisição lexical dos grupos.
Por seu turno, Costa e Chiari (2006) avaliaram o vocabulário expressivo de
vinte uma crianças portadoras de surdez de grau moderadamente severo a profundo
entre três anos e oito anos e onze meses, divididas em três grupos de acordo com
suas faixas etárias. Esse grupo utilizava o código oral em sua comunicação.
29
doze crianças (duas meninas e dez meninos) considerados como sujeitos de risco,
45,5% apresentaram Designação do Vocabulário Usual (DVU) considerando o
campo conceitual “local”, enquanto no campo conceitual “vestuário” foi encontrado
desempenho abaixo do esperado em 57% das crianças envolvidas.
No campo conceitual “local”, além dessas doze crianças, todas as restantes
obtiveram uma porcentagem de DVU aproximadamente 20% abaixo do esperado.
Considerando a média das crianças com risco em cada um dos campos conceituais,
observou-se um aumento percentual da DVU significativo, acima de 70% nas
respostas obtidas para os itens "vestuários", "animais", "alimentos", "meios de
transporte", "móveis e utensílios", "profissões", "formas e cores", "brinquedos e
instrumentos musicais". Como resultado do estudo os pesquisadores concluíram que
em casos de dificuldades escolares na pré-escola, deve abordar os demais aspectos
da linguagem e não somente o vocabulário expressivo.
Os estudos realizados por Mota et al. (2009) em crianças com desvio
fonológico para verificar os processos de substituição mais frequentes e os campos
conceituais mais alterados em prova de vocabulário expressivo, relacionando-os
com a gravidade do desvio constataram que o uso de co-hipônimo foi o processo de
substituição (PS) mais realizado. O campo conceitual “locais” foi o que apresentou
maior dificuldade por parte das crianças de um modo geral.
Bommarito e Chiari (1996) verificaram que crianças com surdez apresentam
mais facilidade com palavras que representam objetos concretos do que com
aquelas que envolvem maior abstração. Essa conclusão é semelhante ao estudo de
Azcoaga et al. (1997, p.55-75) que afirmam que “a falta do reforço auditivo em
coincidência com os vocábulos que representam os objetos presentes no ambiente
das crianças prejudica a aquisição e o aumento do vocabulário”.
Nesse sentido, Jerger, Lai e Marchman (2002) concluíram que o
desenvolvimento do vocabulário envolve aprendizagem de significados e nomes de
objetos comuns ao cotidiano das crianças o que requer integração de informações
conceituais, enquanto Connor et al. (2000, p.1185-1204) afirmam que "o vocabulário
dos indivíduos com surdez não aumenta na mesma proporção em que ocorre com
indivíduos ouvintes, apresentando atrasos cada vez maiores conforme a idade da
criança aumenta".
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signos, independente de como se realiza essa ação e de como ela pode assumir o
papel de um discurso.
Goldfeld (1997, p.159), por seu turno, ressalta que Bakhtin e Vygotsky
contribuíram fortemente para os estudos sobre linguagem no desenvolvimento do
pensamento em indivíduos surdos, haja vista terem demonstrado que a aquisição da
consciência por parte da criança deve ser transmitida através do diálogo, posto que
“sem uma língua de acesso fácil, os surdos não conseguiriam participar ativamente
da sociedade”.
Ainda segundo esta autora, ao longo da História, a visão hegemônica sobre
as pessoas surdas é negativa, sendo comum o tratamento piedoso e baseado em
sentimentos como a compaixão por um lado, ou, por outro, práticas de violência
como o castigo, o abandono e até mesmo o assassinato. Para Goldfeld (1997), até o
século XV prevaleceu à noção de que o surdo era um indivíduo primitivo, que não
poderia atingir os patamares da educação tradicional. Em alguns momentos da
História, ainda, os surdos eram proibidos de usar suas línguas, sendo “obrigados” a
se utilizarem da língua oral local, mesmo sem ter dela o conhecimento mínimo
necessário. Acreditava-se que eles poderiam ter uma aquisição espontânea das
línguas orais. Dessa forma, os surdos foram afastados da socialização e
encontraram enormes dificuldades na sua escolarização.
Nesses contextos dúbios e difíceis, os educadores, no decorrer da história da
educação dos surdos, criaram diferentes metodologias de ensino para eles, assinala
Rodriguero (2000), e alguns métodos se baseavam unicamente na língua auditiva-
oral daquela região ou país. Alguns, ainda, se dedicaram ao estudo da língua de
sinais, que permaneceu viva, entre os surdos, apesar de todas as dificuldades.
Outros educadores procuraram criar códigos visuais para poderem se comunicar
com seus alunos, porém, nenhuma destas experiências pode ser classificada como
uma língua de sinais.
De acordo Rodriguero (2000), segundo a teoria de Vygotsky, seria mais fácil o
indivíduo surdo aprender a linguagem dos sinais. Porém, por ser esta uma
linguagem limitada, o surdo ficaria excluído do contexto geral do meio social em que
vive, ficando, via de regra, mais restrito àqueles ambientes onde poucos conheciam
a língua dos sinais.
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comunidade surda é uma língua que possui itens lexicais, morfologia, sintaxe e
semântica (KOZLOWSKI, 1998, p. 152).
Fernandes (2005, p. 23) diz que a “língua de sinais como sistema simbólico” é
a língua que melhor traduz “os processos de percepção e apreensão da experiência
da criança surda”, principalmente, por ser representada “através de signos de
natureza gestual, espacial e visual” e, portanto, sendo possível esta criança adquiri-
la de forma natural. Portanto, para esta autora “em tese, se aceita a aquisição da
língua de sinais como primeira língua e a língua portuguesa como segunda língua”
uma vez que esta necessita de um processo produzido artificialmente para que o
surdo seja ensinado (Ibid., p. 24).
Através das palavras de Kozlowski e de Fernandes, compreende-se que,
tanto os educadores ouvintes, incluindo os pais, quanto os alunos surdos,
necessitam trilhar um longo percurso já que diante de um discurso, seja ele falado
ou escrito, existem elementos que ultrapassam o mero conhecimento do vocabulário
e as normas da língua, seja ela oral-auditiva ou visual-espacial.
O Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) único em âmbito federal,
que se destaca na vanguarda da educação da pessoa surda, adota o
bilinguismo/bicultural como uma estratégia educacional, tendo como “princípio de
base o fato de que as crianças surdas são locutoras naturais de uma língua
adaptada às suas experiências do mundo e às suas capacidades de expressão e
compreensão: a língua de sinais” (KOZLOWSKI, 2003, p. 103). Assim, o surdo é
exposto à língua de sinais em situações naturais no qual outro surdo transmite não
apenas o modelo linguístico da LIBRAS, mas também toda a cultura contida nela. A
esse respeito à autora enfatiza que:
LIBRAS, como uma língua naturalmente adquirida pelo surdo, considerada sua
primeira língua (L¹) e a língua portuguesa, sendo ensinada através de metodologia
específica, como sua segunda língua (L²).
Para Quadros e Schmiedt, (2006, p. 22-23):
Aguirre (2009) assinala que tal estratégia não se refere ao surdo, pois este
não domina a língua oral; portanto, esta abordagem só é possível para aqueles
indivíduos que contam com todo o seu potencial auditivo e da fala, que lhes permite
acompanhar o processo de ensino e aprendizagem na escrita da língua portuguesa.
Acrescenta ainda que:
Existem algumas questões a respeito do alunato, como foi estudado por Góes
e Tartuci (2003), sobre uma escola regular do interior do estado de Goiás e, segundo
essa pesquisa, no local pesquisado, os professores procuram dar atenção aos
alunos surdos, inseridos em numerosa classe de aula, porém, os resultados não são
eficazes por faltar uma língua em comum entre os interlocutores. Nessa pesquisa de
campo, as autoras explicaram que os professores sentem-se despreparados para
ensinar aos seus alunos surdos, por desconhecerem a realidade do ensino para
essas crianças e, portanto, pouco podendo ajudá-las.
Diversos estudos sobre o bilinguismo vêm sendo realizados, com vistas a
alavancar a educação de crianças surdas e uma das propostas mais significativas
seria priorizar a língua de sinais como língua base, o que garante que a criança
surda irá compreender o contexto educativo e os conteúdos que lhe são passados, a
priori e, conforme Aguirre explica:
As línguas de sinais são de outra ordem, uma ordem com base visual, e, por
isso, têm características que podem ser ininteligíveis aos ouvintes. Dessa forma,
compreendemos que a LIBRAS e a Língua Portuguesa apresentam todos os
elementos de uma língua natural, porém, se diferenciam em sua realização. Sobre a
aquisição da LIBRAS, a língua materna de filhos de pais surdos, Quadros e
Schmiedt (2006, p.19) dizem que tais crianças adquirem essa língua dentro do
mesmo período de desenvolvimento linguístico da ouvinte. Ou seja, é importante
compreendermos que tanto a criança ouvinte quanto a criança surda vivenciam
naturalmente um modelo linguístico, através de diferentes interações.
No entanto, as crianças que nasceram surdas ou que ficaram surdas no
primeiro ano de vida, filhas de pais ouvintes, não puderam construir um vocabulário
básico para a compreensão da língua materna e muito menos inferir as primeiras
regras linguísticas que são assimiladas pelas crianças ouvintes, de forma natural,
quando inexiste uma língua comum entre eles.
43
Para Vasconcelos (apud CEIV, 1982, p.37), a criança que apresenta uma
surdez profunda tem dificuldade muito grande para adquirir uma língua oral-auditiva
e que, se ocorrer, será “mediante processos não naturais, da maneira lenta,
trabalhosa e difícil” e que “não se realizando o circuito audição-fonação denominado
feedback, sua educação deverá ser feita através das outras vias sensoriais de
suplementação”.
Seguindo nessa lógica, Vasconcelos acrescenta que “estas, mais do que
aquelas com resíduos auditivos, desenvolvem rapidamente uma mímica espontânea
e expressiva, que representa sua língua materna”. E conclui que “a aprendizagem
da língua oral, difícil, artificial e lenta, não tende à evolução do seu psiquismo nem
às necessidades imediatas da exteriorização do pensamento”.
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2 METODOLOGIA
2.1 PARTICIPANTES
Participaram do estudo dezessete alunos com idade entre cinco anos a nove
anos e onze meses, de ambos os sexos, matriculados no Serviço de Educação
Infantil, frequentando respectivamente Jardim I, Jardim II e Jardim III, portadores de
disacusia neurossensorial bilateral de grau severo a profundo, diagnosticados na
Divisão de Audiologia do INES – DIAU.
Não participaram do estudo alunos matriculados na pré-escola há menos de
um ano e aqueles que apresentaram outras deficiências associadas à surdez.
Para ficar mais visível o número de participantes e suas respectivas faixas
etárias, bem como o gênero, a tabela a seguir clarifica essas informações.
Tabela 1 – Participante
2.2 MATERIAL
2.3 PROCEDIMENTOS
2.4 RESULTADOS
Tomando por base o fato de que para cada campo conceitual Befi-Lopes
(2002) estabeleceu parâmetros normativos expressos através de um percentual de
respostas considerado como adequado a cada faixa etária. Foi utilizado Wilcoxon
Signed Ranks Test para a análise estatística.
Para análise a amostra foi dividida em dois grupos por faixa etária cinco e seis
anos respectivamente, onde foi feita uma análise comparativa com o percentual do
teste e uma comparação dos resultados obtidos entre os grupos.
Para esse fim, foi calculada a média, mediana e desvio padrão do percentual
de respostas para cada faixa etária (cinco e seis anos) dos %DVU, %ND e %PS.
50
cpds
% DVUN % DVUA % NDN % NDA % PSN % PSA
cc d
Vestuário 65 30 5 1 30 69
Animais 60 36 15 14 25 50
Alimentos 70 15 15 4 15 71
Meios de transportes 60 27 0 8 40 65
Móveis e utensílios 60 36 5 7 35 57
Profissões 35 18 25 29 40 53
Locais 70 1 10 24 20 75
Formas e cores 70 31 10 29 20 40
Brinquedos e Inst. Musicais 55 47 10 6 35 47
Legenda:
cpdsd – Classes de Processos de Designação e Substituição de Designações CC- Campo Conceitual
DVUN – Designação de Vocábulo Usual de Normalidade DVUA – Designação de Vocábulo Usual da amostra da Amostra
NDN – Não Designação de Normalidade NDA – Não Designação da Amostra
PSN – Processo de Substituição de Normalidade PSA – Processo de Substituição da Amostra
DVU ND PS
N A N A N A
N 9 9 9 9 9 9
cpdsd
cc % DVUN % DVUA % NDN % NDA % PSN % PSA
Vestuário 80 33 0 10 20 57
Animais 70 57 20 5 10 38
Alimentos 90 36 5 3 5 61
Meios de transportes 70 54 5 1 25 45
Móveis e utensílios 65 40 5 4 30 55
Profissões 45 26 25 4 30 70
Locais 70 18 5 7 25 76
Formas e cores 85 49 5 8 10 43
Brinquedos e Inst. Musicais 70 57 10 5 20 38
Legenda:
cpdsd – Classes de Processos de Designação e Substituição de Designações CC- Campo Conceitual
DVUN – Designação de Vocábulo Usual de Normalidade DVUA – Designação de Vocábulo Usual da Amostra
NDN – Não Designação de Normalidade NDA – Não Designação da Amostra
PSN – Processo de Substituição de Normalidade PSA – Processo de Substituição da Amostra
DVU ND PS
N A N A N A
N 9 9 9 9 9 9
Média 71,6667 41,1111 8,8889 5,2222 19,4444 53,6667
Mediana 70,0000 40,0000 5,0000 5,0000 20,0000 55,0000
DP 12,99038 14,09295 8,20738 2,72845 9,16667 13,74773
Na faixa etára de seis anos observou-se diferença entre os dados normativos do teste no entanto, os
dados das crianças do INES apresentaram diferenças significativas para DVU e PSA (p=0,008).
demonstrando que o grupo de pesquisa apresentou desempenho inferior no que se refere a DVU e
mais processos de substituição. Novamente, como no grupo de cinco anos nenhuma diferença foi
observada em relação aos processos de não designação (ND)
52
% DVU % ND % PS
Campo conceitual
5 anos 6 anos 5 anos 6 anos 5 anos 6 anos
Vestuário 30 33 1 10 69 57
Animais 36 57 14 5 50 38
Alimentos 15 36 4 3 81 61
Meios de transportes 27 54 8 1 65 45
Móveis e utensílios 36 40 7 4 57 55
Profissões 18 26 29 4 53 70
Locais 1 18 24 7 75 76
Formas e cores 31 49 29 8 40 43
Brinquedos e Inst. Musicais 47 57 6 5 47 38
A comparação entre as crianças de cinco e seis anos do INES apontou diferenças significativas
para DVU (p=0,008) e ND (p=0,044), demostrando que as crianças de seis anos apresentam
vocabulario mais completo do que as de cinco anos. Dados relativos à média, mediana e desvio
padrão podem ser encontrados na tabela 3. Não foram observadas diferenças em relação aos
processos de substituição (p= 0,172).
Tabela 4 – Comparação da amostra de alunos nas faixas etárias entre cinco e seis
anos
DVU ND PS
N 9 9 9 9 9 9
Legenda:
DVU designação de vocábulo usua
ND não designação
PS processo de substituição
53
3 DISCUSSÃO
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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J.E et al. Los retardos del lenguaje em el niño. Buenos Aires: Paidós, 1977. cap.
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DEMETRIO, SES. Surdez e família. In: BEVILACQUA, MC, MORET, A LM. Surdez:
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QUADROS, RM, SCHMIEDT, MLP. Ideias para ensinar português para alunos
surdos. Brasília : MEC, SEESP, 2006.
VYGOSTSKY, Lev. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
APÊNDICE
___________________________________ Data_______/______/______
Assinatura do informante
Nome:
Endereço:
68
ANEXO
cont.
70
Fonte: BEFI-LOPES, DM. Vocabulário. In: ANDRADE, CFR.; BEFI-LOPES, DM; FERNANDES, FDM;
WERTZNER, HF. ABFW, teste de linguagem infantil nas áreas de fonologia, vocabulário, fluência e
pragmática. Carapicuiba, Pró-Fono, 2000.
71
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