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Unidade de Ensino Superior

Vale Do Iguaçu
Direito Processual Civil I.
3º período.

Disciplina: Direito Processual Civil I. Professor: Cainã Domit Vieira. 3º período.

Unidade 06 – Ação.

6.1. Teorias da ação.

6.1.1. Teoria civilista ou imanentista.

A teoria civilista ou imanentista, adotada por Friedrich Carl Von Savigny, no século XIX,
antes da autonomia do direito processual, possuía como foco o direito material, tratando a ação
como um elemento do direito, resultando em entendimento equivocado de que não havia ação
sem direito.1

Imanente é aquilo que faz parte de algo de modo inseparável, enquanto civilista diz
respeito ao direito material. Para tais teorias, a ação seria mera parte, expressão ou efeito da
essência do direito principal discutido no processo.

6.1.2. Teoria da natureza pública.

A partir do reconhecimento da natureza público do processo, iniciou discussão a respeito


da independência da ação do direito material. Assim, na Alemanha foi desenvolvida teorização
sobre a ação entre dois juristas: Bernhard Windscheid e Theodor Muther.2

Muther apontou a distinção entre “direito lesado e ação. Desta, disse, nascem dois
direitos, ambos de natureza pública: o direito do ofendido à tutela jurídica do Estado (dirigido
contra o Estado) e o direito do Estado à eliminação da lesão, contra aquele que a praticou”.

Windscheid admitiu a existência do direito de agir contra o devedor e o Estado,


complementando desta forma a teoria do então rival, Muther, consagrando a teoria da natureza
pública, uma vez que é o Estado que fornece a proteção jurisdicional e a posterior execução.

Ainda como direito autônomo em relação ao direito material, a ação passou a passar por
discussões a respeito da qualidade – concreto ou abstrato.

6.1.3. Teoria da ação como direito concreto.

Na Alemanha, Adolph Wach formulou a teoria do direito concreto à tutela jurídica, tendo
como base o fato de que só haveria tutela em caso de decisão favorável ao autor da ação, motivo
pelo qual “a ação seria um direito público e concreto (ou seja, um direito existente nos casos
concretos em que existisse direito subjetivo)”3.

Oskar Von Büllow desenvolveu uma espécie dessa teoria, afirmando que o direito de ação
seria satisfeito apenas pela sentença justa. Giuseppe Chiovenda também aderiu à teoria concreta,

1 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria
Geral do Processo. 24. Ed. São Paulo: MALHEIROS, 2008, p. 268.
2 Idem.
3 Idem.

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formulando em 1903 a ideia de que a ação é um direito potestativo, isto é, indiscutível,


pertencente “a quem tem razão contra quem não a tem”4, por meio da aplicação concreta da lei.

Assim, pela teoria do direito concreto, a ação apenas existia quando o pedido
fosse julgado em favor do autor. Se a decisão não fosse favorável, dizia-se que o direito de ação
não foi exercido.

6.1.4. Teoria da ação como direito abstrato.

Karl Heinrich Von Degenkolb, na Alemanha, em 1877, criou a teoria da ação como
direito abstrato de agir, pela qual a ação seria o direito de pedir a proteção da jurisdição, isto é, o
direito do qual qualquer um é titular, pois é indiferente se possui ou não razão no pleito
formulado em juízo.5

A teoria da ação como direito abstrato teve diversos seguidores, tais como o húngaro
Alexander Plósz, os italianos Alfredo Rocco – que falava no exercício do direito de ação contra o
Estado – e Franscesco Carnelutti – pregando a ação dirigida contra o juiz, e não contra o Estado
– e o uruguaio Eduardo Juan Couture, entendendo a ação como “categoria constitucional do
direito de petição”6.

Essa teoria estabeleceu crítica à ideia de Chiovenda em virtude do ponto de contradição


consistente na indiferença do teor da decisão com relação ao direito material para o conceito de
ação, o que é a base da teoria da ação como direito abstrato.

6.1.5. Teoria eclética.

Enrico Tullio Liebman formula a teoria denominada como eclética, pois intermediária
entre a concreta e a abstrata. Para Liebman, a ação “em sua extrema abstração e generalidade, não
pode ter nenhuma relevância para o processo, constituindo o simples fundamento ou
pressuposto sobre o qual se baseia a ação em sentido processual”7, considerando exercida a
jurisdição apenas pela decisão do juiz quanto ao mérito, favorável ou não ao requerente.

Na teoria de Liebman há destaque às condições da ação (interesse de agir, legitimidade de


parte e possibilidade jurídica do pedido), trabalhadas como “verdadeiro ponto de contato entre a
ação e a situação de direito material”8.

Desta forma, pela teoria eclética a ação é abstrata, mas condicionada, pois o direito ao
acesso à jurisdição é assegurado constitucionalmente a todos, mas a sentença com análise do
mérito é destinada apenas aos que preenchem as condições da ação: interesse de agir e
legitimidade processual (no Código de Processo Civil de 1973, havia ainda a possibilidade jurídica
do pedido).

4 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria
Geral do Processo. 24. Ed. São Paulo: MALHEIROS, 2008, p. 269.
5 Idem.
6 Ibidem, p. 270.
7 Ibidem, p. 271.
8 Idem.

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A teoria eclética critica a teoria concreta porque entende que direito de ação não é direito
concreto e definido à procedência do pedido, mas também critica a teoria abstrata, levando em
conta que devem ser impostos requisitos (condições da ação) à análise do mérito, impedindo que
o direito à ação se converta em direito à decisão de mérito sem qualquer fundamento ou
requisito.

6.2. Classificação das ações.

As ações se classificam de acordo com o tipo de atividade jurisdicional postulado em:


ações de conhecimento9, ações executivas10 e ações cautelares11. As ações de conhecimento têm
como finalidade uma sentença com a mesma natureza e se classificam em: ações declaratórias,
ações constitutivas, ações condenatórias, ações mandamentais e ações executivas lato sensu.

6.2.1. Ações declaratórias.

As ações declaratórias declaram a existência ou não de um direito ou relação jurídica.


Aquele que ajuíza ação meramente declaratória tem como finalidade apenas a obtenção de uma
declaração judicial acerca da existência ou não de determinada relação jurídica.

Há necessidade de uma dúvida objetiva ou de um estado de incerteza que justifique o


interesse do requerente na declaração, pois não havendo dúvida objetiva, a condição da ação de
interesse de agir não estará sendo preenchida.

As ações declaratórias podem ser positivas – para que a sentença declare (se procedente o
pedido) a existência de algo – ou negativas, com a finalidade de que a sentença declare a
inexistência de determinado direito ou relação jurídica.

6.2.2. Ações constitutivas

Confundida com a ação declaratória, a ação constitutiva possui como principal objetivo
a mudança de um estado jurídico, sendo possível constituir, desconstituir ou modificar uma
relação jurídica.

As ações constitutivas fazem valer o direito potestativo (direito indiscutível), pois ao


adversário apenas cabe se submeter ao direito. Assim como a declaratória, a ação constitutiva
pode ser positiva – constituindo estado jurídico – ou negativa, que ocorre quando a relação
jurídica é desconstituída, como por exemplo a ação de divórcio que desconstitui o estado jurídico
de casados.

9 As ações de conhecimento buscam um pronunciamento do juiz sobre quem tem razão no litígio. Trata-se de
atividade eminentemente intelectual, através de pesquisa para reconstruir os fatos narrados e dizer qual lei incidirá
sobre o caso. Para Liebman, nas ações de conhecimento o juiz age como um historiador.
10 Busca-se do juiz uma atuação concreta, requerendo atividades que afetem as condições do mundo físico. A ação

executiva será aplicada para fazer com que o devedor satisfaça o crédito do credor. Se mesmo assim não houver o
pagamento, tomam-se medidas como, por exemplo, a penhora.
11 Busca-se a cognição e a execução reunidas, em uma situação que demanda intervenção jurisdicional urgente.

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6.2.3. Ações condenatórias

Ação na qual o objetivo é a condenação do réu ao cumprimento de uma obrigação,


autorizando uma eventual execução, em caso de inadimplência, que será realizada por meio do
título executivo (decisão judicial) pelo denominado cumprimento de sentença.

6.2.4. Ações mandamentais

As ações mandamentais têm o objetivo de obter sentença que já traga consigo a ordem,
além de também reconhecer o direito à prestação. O juiz ordena o réu a cumprir determinada
prestação, cujo descumprimento pode acarretar em desobediência à autoridade estatal.

Os meios coercitivos das ações mandamentais pressionam a cumprir a determinação, de


modo que ele considere melhor cumprir do que sofrer as consequências do descumprimento. São
exemplos de ações mandamentais o mandado de segurança, as medidas cautelares, entre outras
que possuem finalidade de ordem judicial em face do réu.

6.2.5. Ações executivas lato sensu

A ação executiva lato sensu visa à prolação de sentença apta a determinar a produção de
efeitos no plano dos fatos, como a ação de despejo, que determina de plano todas as providências
para a remoção do inquilino. Tal ação funciona como um título executivo, pois não necessita de
posterior execução, sendo desde o início dotada de “carga executiva”.

6.3. Elementos da ação.

Existem três elementos da ação: as partes (elemento subjetivo), o pedido e a causa de


pedir (elementos objetivos).

Pedido é o que o autor pretende em juízo, e divide-se entre imediato (o pedido de tutela
jurisdicional dirigido ao juiz) e mediato (o pedido pelo denominado “bem da vida”, isto é, o
direito material pretendido, a finalidade concreta da ação, a razão do litígio).

A causa de pedir é a fundamentação constante na petição inicial, considerando fatos e


fundamento jurídico para convencimento do magistrado. A causa de pedir se divide em remota
(fatos) e próxima (jurídica).

6.3.1. Identidade entre ações.

Duas ações são idênticas quando todos os elementos objetivos e subjetivos são os
mesmos.

 Litispendência: quando é ajuizada ação idêntica a uma ação em trâmite. Nesse caso, pode o
juízo, de ofício, extinguir a última ação proposta, sem resolução de mérito.

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 Coisa Julgada: quando é ajuizada ação idêntica a uma ação que já teve decisão definitiva
proferida, da qual não cabe mais recursos, tratando-se de coisa julgada. Tal questão também deve
ser reconhecida de oficio pelo juiz, que irá extinguir a ação mais nova sem resolução de mérito.

6.3.2. Semelhança entre ações.

Duas ações são semelhantes quando alguns dos elementos coincidem.

 Continência: quando há igualdade entre as partes e causa de pedir, mas no pedido há uma
diferença, como, por exemplo, a segunda ação tem pedido mais amplo e abrange a primeira. É
chamado de continência porque a segunda ação contém a primeira. As ações são reunidas e a que
possui menor abrangência é extinta sem resolução de mérito.

 Conexão: igualdade entre o objeto da ação (pedido imediato) ou a causa de pedir remota (fatos).
Nesse caso, as ações serão reunidas e julgadas. Exemplo: acidente de automóvel faz com que as
duas partes, sem saber, entrem com uma ação de indenização em direção ao outro. Mesmos fatos
ou mesma causa de pedir.

6.4. Atividades de reflexão.

(a) Explique a teoria imanentista.

(b) O que é um direito potestativo? Pesquise e cite exemplos.

(c) Diferencie ações condenatórias e ações mandamentais.

(d) Luís José Silva sofre acidente em virtude de ato ilícito praticado por Pedro Rodrigues, que
atravessa sua preferencial. Luís ajuíza ação de indenização por danos materiais e morais em face
de Pedro em virtude das despesas decorrentes do acidente. Dois meses após o ajuizamento de tal
ação, Luís recebe carta de citação pela qual descobre que Pedro também propôs ação de
indenização pelos mesmos fatos, com fundamento similar e postulando danos materiais
referentes aos gastos sofridos em razão do sinistro. Pedro argumenta, em sua ação, que a culpa
pelo acidente foi de Luís.

Considerando tais fatos, responda:

- Qual é a classificação da ação ajuizada por Luís? Justifique.


- Identifique todos os elementos das duas ações.
- Quais institutos jurídicos são aplicáveis em relação ao ajuizamento da segunda ação? De qual
forma? Justifique.
- Entre as teorias da ação, qual atende melhor ao interesse de Luís no caso acima?

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