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O Alívio do Estresse
O que provoca estresse e como acabar com ele
A Prática da Gratidão
Um caminho para a expansão da consciência
www.vedanta.org.br
O Valor Espiritual da Verdade
C
erta vez, o jovem Satyakama perguntou à
sua mãe, Jabala: “Mãe, desejo viver a vida de
um estudante dedicado à busca do Conhe-
cimento Supremo. Qual é o meu nome de família?
Quem é o meu pai?”
“Meu filho,” respondeu a mãe, “Eu não sei. Em mi-
nha juventude, quando passava por muitas dificul-
dades como uma serva, você foi concebido. Eu não
sei quem é o seu pai. Eu sou Jabala e você é Satyaka-
ma. Portanto, chame a si mesmo de Satyakama Jaba-
la.” O jovem foi então até Gautama – o maior sábio
daquela época e reverenciado por todos – e pediu
para ser aceito como seu discípulo. Imediatamente,
Gautama perguntou: “De qual família você veio,
meu filho? Eu só aceito como discípulo um brâmane
verdadeiro, com uma tradição familiar.”
Satyakama então respondeu: “Eu perguntei à minha
mãe qual era o meu nome familiar, ao que ela res-
pondeu: ‘Eu não sei. Em minha juventude, quando
passava por muitas dificuldades como uma serva,
você foi concebido. Eu não sei quem é o seu pai. Eu
sou Jabala e você é Satyakama. Portanto, chame a si
mesmo de Satyakama Jabala.’ Senhor, eu sou por-
tanto Satyakama Jabala.” O sábio sorriu e lhe disse:
“Ninguém, a não ser um verdadeiro aspirante à Ver-
dade Suprema, poderia ter falado dessa forma. Meu
filho, você está preparado para conhecer a Verdade,
pois você nunca se desviou da verdade. Ensinarei a
você agora o Conhecimento Supremo.”
◆
Chandogya Upanishad
ÍNDICE
8 Um Grande Sacrifício
Swami Nirmalatmananda
CONSELHO EDITORIAL
Equipe Editorial Ivan Pontual Costa e Silva, Swami Jitananda, Anete
Maria Alves Onça.
Jornalista Responsável: Adriano Quadrado
(Mtb 25519)
9 Questões Vitais Respondidas COLABORADORES
Neusa Watanabe, Dario Djouki.
Swami Madhavananda
CENTRAL DE ATENDIMENTO AO LEITOR
ASSINATURA, CARTAS E SUGESTÕES
vedantasp@vedanta.org.br
10 A Sabedoria do Gita (Versos Escolhidos) REDAÇÃO DA REVISTA VEDANTA
Largo Senador Raul Cardoso, 146 & 204
Vila Clementino - São Paulo - SP - CEP 04021-070
Fones: (11) 5908-1970 & (11) 5572-0428
15 A Prática da Gratidão
Ramakrishna da Índia.
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18 Notícias da Vedanta
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19 Sobre os Autores Exemplar avulso - R$ 11,00.
Assinatura 1 ano - R$ 40,00 (quatro exemplares).
2 anos - R$ 75,00 (oito exemplares).
Possa o mantra Om – a sílaba mais exaltada nos Vedas, Om, possam os meus órgãos vitais, minha fala, meus
que permeia todas as palavras e que surgiu como a olhos, meus ouvidos, assim como a energia em todos
quintessência dos Vedas – possa esse Om, o Supremo os órgãos, tornarem-se bem desenvolvidos. Tudo é o
Senhor, conceder-me inteligência. Ó Senhor, que eu Brahman revelado nos Upanishads. Que eu não negue
seja o receptáculo da imortalidade. Que o meu corpo Brahman. Que Brahman não me negue. Possam todas
esteja preparado. Que a minha fala seja extremamente as virtudes mencionadas nos Upanishads repousar so-
doce. Tu és a espada de Brahman, e estás coberto de bre mim, que estou engajado na busca do Ser. Possam
sabedoria. Proteje tudo aquilo que eu ouvi. todas elas repousar sobre mim!
Om Paz, Paz, Paz Om Paz, Paz, Paz
N
as escrituras hindus, vários objetos da natureza Sem esse conhecimento vivemos na escuridão.
têm sido usados como símbolos para nos auxi- Enquanto somos ignorantes, não compreendemos quem
liar na compreensão dos fatos mais profundos somos; não compreendemos nosso verdadeiro objetivo; não
da vida espiritual. compreendemos de onde viemos; não compreendemos este
O vasto oceano é um símbolo de Deus, pois parece sem mundo em eterna mutação nem o constante fluxo da vida.
fim. Ondas estão constantemente surgindo e desaparecen- Nem compreendemos Deus. Temos ouvido que Deus criou
do no oceano; da mesma forma, na infinita Realidade que é o mundo e que Ele é a fonte de tudo o que existe – mas essas
Deus, tudo neste universo aparece e desaparece. Assim como são apenas palavras. No entanto, tanto as escrituras como
o oceano é a causa e o substrato das ondas, Deus é a causa aqueles que alcançaram o conhecimento de Deus nos dizem
e o substrato de tudo. Tudo retorna para aquela Realidade que é possível dissipar as perplexidades da vida. Quando
fundamental. O oceano é, por- chega a sabedoria divina, ex-
tanto, um símbolo adequado perimentamos uma transfor-
para Deus. mação interior e nossa atitude
De forma similar, o rio é um com respeito à vida muda;
símbolo para a humanidade. nossas emoções, pensamentos
Assim como um rio passa por e padrões de comportamento
muitas colinas, vales e florestas, mudam.
e finalmente desagua no ocea- Os Upanishads dizem que
no, nós temos nossa origem em podemos escapar de tudo,
Deus e nos movemos para Ele. mas não podemos escapar de
Nossas vidas fluem – algumas Deus. Quando conhecemos a
vezes através de alegrias, outras real natureza de Deus, vemos
vezes por sofrimentos; algu- que Ele está em toda parte,
mas vezes com facilidade, ou- a todo momento – em cada
tras, de maneira difícil – mas respiração e em nossa própria
nosso destino final é Deus. existência. Ele é a verdadeira
Outros símbolos são a ár- Realidade, mais fundamental
vore, o céu, o pássaro. Esses e que o tempo e o espaço. Essa
outros objetos da natureza são Realidade é Consciência; sem
utilizados nas escrituras hindus para nos ajudar a entender Consciência não pode haver espaço, pois quando pensamos
Deus, a nós próprios e a este mundo. Um tal símbolo é a flo- em espaço e tempo, a base dessa compreensão tem de ser a
resta. Em uma floresta densa onde não há trilhas, confun- Consciência. Precisa haver percepção de espaço, bem como
dimo-nos. Como podemos encontrar o caminho? Quando percepção de tempo, e essa percepção vem de Deus. Assim
não entendemos o verdadeiro propósito de nossas vidas, es- como o sol ilumina todas as coisas, Deus como a luz de to-
tamos de fato como que perdidos em uma mata sem trilhas. das as luzes ilumina tudo – as estrelas, os céus distantes, este
A floresta simboliza a vida imersa em ignorância. mundo, bem como nossos corpos, mentes e sentidos.
De maneira semelhante, o sol veio a simbolizar o conheci- Superficialmente, pareceria que cada um de nós é um pe-
mento espiritual, enquanto a lua simboliza a devoção. O sol queno indivíduo consistindo de um corpo, força vital, uma
nos dá tanto o calor, que às vezes queima, como também a mente, e um ego, mas os sábios iluminados nos dizem que
luz que ilumina todas as coisas. Com o nascer do sol somem essa não é toda a história. De acordo com as escrituras da Ve-
as sombras da noite, permitindo-nos ver e agir. Com a aurora danta, o Atman é a nossa realidade fundamental. O Atman
da sabedoria espiritual – isto é, o conhecimento de Deus, a não existe nem no tempo, nem no espaço; partilha da verda-
consciência de nossa verdadeira natureza, e uma compreen- de de Deus.
são espiritual deste universo – nossa confusão desaparece. Essa compreensão não chega por meio de mera leitura ou
Um Grande Sacrifício
Equipe Editorial
D
urante o período após o colapso do Império Ro- ará um importante evento: o rei Rix terá uma morte repenti-
mano, a Europa dividiu-se em dois reinos, coman- na. Não fique fora da capital; de outra forma alguém tomará
dados por duas tribos germânicas. Em uma região posse do reinado em seu lugar.” Surpreso com tal predição
controlada pelos Vândalos, um bispo cristão chamado Pauli- importante, o príncipe não sabia se acreditava ou não, mas
nus era tão compassivo que tinha vendido todas as suas pos- como era um favorito do rei, foi até ele imediatamente e rela-
ses para resgatar prisioneiros mantidos pelos Vândalos. Ao tou o que tinha ouvido do jardineiro. “Eu mesmo quero ver
final, quando não tinha mais dinheiro algum, nem roupas esse homem”, disse o rei, “Dê-lhe ordens para trazer à minha
as quais pudesse vender, veio até ele uma pobre viúva im- mesa ervas e frutas.”
plorando-lhe ajuda para resgatar seu único filho. Paulinus Tão logo Paulinus entrou no palácio, Rix tremeu e, con-
procurou por toda a casa e, não encontrando uma única trolando as emoções, chamou seu sobrinho e lhe disse: “Suas
moeda, disse à mãe que soluçava em prantos: “Não tenho palavras são verdade: ontem de noite vi, em um sonho, meus
nada exceto eu mesmo; leve-me com você e venda-me como barões sentados em um conselho, e este homem estava acima
um escravo para libertar seu filho.” A pobre viúva já ia em- de todos eles. Conversando entre si, eles repentinamente
bora, pensando que o bispo estava brincando, mas Paulinus passaram uma resolução para tirar de mim o reinado. Per-
a impediu e insistiu que estava dizendo a verdade e pediu gunte a ele quem ele é. De onde ele veio? Não acho que seja
para ser vendido em troca do seu filho. um homem comum.” O sobrinho pressionou então Paulinus
Paulinus e a viúva deixaram a cidade e foram para os Vân- para que contasse toda a verdade sobre si mesmo. Paulinus
dalos. Ela ajoelhou-se aos pés do príncipe Vândalo, que era declarou a verdade de que era um bispo cristão.
o sobrinho de Rix, o rei dos Vândalos. Ela implorou para O rei Rix e seu sobrinho ficaram horrorizados. “Perdoe-me,
que um escravo fosse trocado pelo seu filho. A princípio, o ó homem de Deus,” disse o príncipe, “por fazê-lo realizar tra-
príncipe não queria aceitar, mas ao ouvir que Paulinus era balho escravo. Não sabia quem você realmente era.” “Peça de
um excelente jardineiro, aceitou-o em troca do jovem. A mim o que desejar”, disse o rei, “e volte à sua terra com grandes
viúva e seu filho retornaram ao vilarejo, enquanto Paulinus dádivas.” “Peço de você apenas isto”, respondeu Paulinus com
começou a labutar no palácio do rei e foi ordenado a trazer humildade, “Liberte os prisioneiros de todas as partes da
diariamente à mesa do príncipe várias ervas e frutas. Como minha terra; essa é a maior dávida que podes me conceder.”
o príncipe gostava de jardins, visitava frequentemente As ordens do rei foram dadas em todos os lugares. Todos os
Paulinus, falava com ele e, vindo a saber de sua sabedoria, prisioneiros foram reunidos em um único lugar e entregues à
afeiçoou-se tanto dele que começou a formar o hábito de Paulinos. Finalmente, ele retornou ao seu país e entregou os
falar com ele todos os dias. prisioneiros libertados aos seus pais e mães, esposas e filhos.
Certa manhã, em uma dessas conversas, Paulinus sobria- O próprio Senhor proteje a vida e dá liberdade àquele que se
mente mencionou-lhe o seguinte: “Em breve você presenci- sacrifica para salvar a vida e dar liberdade aos demais. ◆
p: Como podemos superar as forças que nos distraem duran- daquela alegria divina. Se nos lembrarmos bem desse fato, a
te a meditação? mente gradualmente tentará se acalmar por si mesma.
R: Tais forças surgem porque temos mais apego às coisas que Nós podemos também observar a mente e perceber como
distraem do que àquelas sobre as quais estamos meditando. ela entra em todos esses rodopios e gravita para o exterior.
Teoricamente, deveríamos ter mais amor a Deus, pois essa Deixe que a mente, uma parte da mente, observe como a
é a busca mais elevada da vida humana. Mas, em realidade, outra parte corre para cá e para lá. Se a parte “corredora” da
muitas outras coisas tomam por completo nossa atenção mente souber que “eu estou sendo observada”, então, gradu-
quando estamos vivendo no mundo, quando estamos apenas almente, esses movimentos e distrações ficarão cada vez me-
vivendo uma vida comum e nem nores e mais lentos. Esse deve ser
sequer tentamos meditar. Muitas um esforço constante. Antes de
outras coisas já se alojaram em tudo, fazer com que a mente se
nosso cérebro e desenvolvemos estabeleça nas glórias do Atman,
certo apego a elas. Assim, como nas glórias do Ideal Escolhido,
sempre acontece, tudo aquilo que essa é a primeira parte da práti-
amamos e desejamos tem algum ca. A segunda é observar como a
poder sobre nós, e portanto nos mente se comporta, como ela se
distraem no momento em que movimenta. Se mantivermos a se-
tentamos meditar. Contudo, elas guinte vigilância: “Sim, deixe que
não poderão nos distrair se esti- essa mente desobediente vá para
vermos sempre pensando e medi- onde quiser, eu vou observá-la;
tando sobre a glória do Ideal Es- vou observar onde ela está indo”,
colhido (Ishta)*, sobre a glória da ela ficará com “vergonha” de pe-
busca espiritual, que é sem dúvida rambular, de se distrair durante a
a maior busca da vida humana. meditação.
Em sua maioria, as outras coi- A pessoa também pode dizer à
sas que nos distraem estão rela- mente, como diria a uma criança:
cionadas a algum tipo de alegria. “Não, agora não.” Nós não esta-
Pode ser alegria de tipo inferior mos meditando 24 horas por dia;
que se obtém pelos sentidos, ou somente uma hora, ou meia hora
alegria intelectual, ou alguma ale- no máximo, tentamos meditar. Se
gria que experimentamos na vida. dissermos para os pensamentos
Swami Madhavananda (1888-1965)
Aquilo que é doloroso raramente de distração: “Espere um pouco,
nos atrai. Portanto, se tentarmos deixe-me terminar isso aqui e en-
nos lembrar de que Deus é a maior fonte de atração para nós, tão vou me entregar a você”. Dessa forma também eles ficarão
que além d'Ele não há nada que seja mais atrativo, esse tipo um pouco menos agressivos.
de pensamento diminuirá as distrações. Todas as outras ale- Esses pensamentos nos causam problemas no momento
grias que encontramos no mundo são apenas pequenas partí- em que se dão conta de que estão sendo extintos. A verdade
culas daquela suprema alegria, da suprema bem-aventurança metafísica por trás das distrações é a seguinte: ninguém quer
que é Deus. Deus é a encarnação de tudo isso. Todas as ou- morrer, nenhum princípio, nenhum ser, nenhuma existência
tras alegrias que encontramos através dos sentidos, através da quer ser extinta. Quando a mente pensa que está sendo mor-
mente, através de qualquer outra coisa, são como pequenas ta: “Ele está me obstruindo, ele está me controlando! Eu não
bolhas, como algo emprestado. O sol esquenta a areia da terei liberdade, eu morrerei!”, ela tenta ao máximo se desven-
praia, e aquela areia queima os nossos pés, mas esse calor é cilhar. O processo ocorre exatamente dessa maneira. Mas se
algo emprestado do sol; assim também, essas pequenas ale- formos bem sucedidos em dizer para a mente: “Veja bem, se
grias que obtemos são pequenas partículas “emprestadas” você ficar quieta, ganhará muito mais do que poderia obter
Vedanta Jul - Set 2016 9
do mundo exterior”, então ela se acalma- rá sobre nós. Se formos conscientes de nosso desenvolvimento espiritual?
rá gradualmente. que, se amarmos a Deus, todas as outras R: Esse é realmente um grande proble-
coisas nos serão adicionadas; se essa ati- ma no mundo. A pessoa deve viver no
P: De que maneira podemos aumentar tude for estampada na mente pelo po- mundo, sem dúvida, e ao mesmo tempo
nossa devoção a Deus? der da discriminação, a graça descerá. não pode antagonizar amigos e paren-
R: Isso pode ser feito do mesmo modo tes. Porém, na medida em que se associa
que os nossos desejos pelas coisas tri- P: Mas a mente é inquieta. Como po-
com eles, atendendo os deveres sociais,
viais da vida são aumentados. Nós pen- demos controlá-la?
deve estar bem alerta para que a chama
samos: “Se eu tiver essa ou aquela coisa, R: Pense em apenas uma coisa: Deus. da espiritualidade – os ideais mais eleva-
quanta alegria terei, que maravilhosos Essa pergunta é melhor respondida dos que tem muito mais valor à pessoa
serão os seus frutos!” Se tivermos essa quando falamos sobre o assunto medi- – seja mantida acesa. Aqui um pouco
mesma atitude para com Deus, aumen- tação. Pois tudo o que se aplica à medi- mais de esforço é necessário. Se alguém
tando o desejo de conhecê-Lo e de co- tação, à firmeza na meditação, aplica-se pratica sinceramente, certamente a aju-
mungar com Ele, então naturalmente também à capacidade de tornar a men- da virá e ela será bem-sucedida. ◆
nossa devoção aumentará. Se pudermos te cada vez mais calma. Como mencio-
dizer à mente, convencê-la de que nada namos anteriormente, observar a men- * Ishta é o aspecto de Deus adorado pelo
há superior a Deus que se possa obter, te e pensar cada vez mais na glória do devoto em particular. Pode ser uma con-
pois Deus é a maior coisa que alguém Ideal Escolhido são meios eficazes de se cepção de Deus com forma ou sem forma:
pode ter, e que todas as outras atrações acalmar a mente. uma Encarnação Divina, qualquer ou-
são apenas partículas, pequenos refle- tra forma divina, ou o Ser Absoluto sem
xos da imensa alegria e felicidade que é P: Como podemos interagir intima- forma. Cada aspirante busca a realiza-
Deus, e nos aplicarmos resolutamente a mente com amigos e parentes que são ção espiritual adorando o seu Ishta par-
lutar para conhecer Deus, a graça desce- cínicos e descrentes, sem prejudicar ticular, seguindo a sua tendência inata.
A Sabedoria do Gita
O s conhecedores do Ser Supremo, que pos-
suem plena iluminação, veem com olhos
iguais um brâhmane dotado de erudição e hu-
mildade, uma vaca, um elefante, um cachorro, e
um pariah (que pertence à casta mais inferior).
O
que é o estresse? Numa casa um bebê recém-nascido, planejar O desejo provoca estresse
linguagem simples, ele uma viagem de férias ou um casamen- O hinduísmo, assim como o budis-
pode ser descrito como to. Seja como for, não se pode negar mo, ensina que as emoções estressan-
ausência de bem-estar que o estresse ainda é um dos proble- tes são resultado dos desejos e anseios
físico e mental causada por situações mas mais opressivos deste complicado que acalentamos. Quando os desejos
ou estímulos desagradáveis, que fogem mundo de hoje. não são satisfeitos, transformam-se em
do nosso controle. A mente reage às O estresse pode ser causado por es- raiva, ciúmes, ódio, e outros maus sen-
circunstâncias diárias com sentimen- tímulos psicológicos, biológicos e so- timentos. Há dois versos no Bhagavad
tos de ciúmes, inveja, ódio, ira, Gita que expressam essa ideia de
ansiedade, tristeza, depressão, forma primorosa:
medo e pânico. Como a mente “Uma pessoa que pensa nos
e o corpo estão intimamente co- objetos dos sentidos desenvolve
nectados, essas emoções afetam um forte apego em relação a eles.
nossa saúde mental de forma ad- A partir dessa intensa ligação,
versa. Se não conseguirmos lidar surge um anseio tão grande por
com essas emoções, impedindo esses objetos que o desejo logo se
que elas nos invadam, começa- transforma em fúria. Em conse-
remos a sofrer grande estresse fí- quência da fúria vem o engano e,
sico e mental. A não ser que haja em seguida, a perda da memória.
algum tipo de alívio, esse tipo de O esquecimento faz com que se
tensão pode produzir sérias en- perca a habilidade de discernir
fermidades, inclusive derrames entre o que é bom e o que é ruim.
cerebrais e ataques cardíacos. Com a perda do discernimento,
Muitos consideram o estresse a pessoa perece.” (Cap.2, 62, 63)
como uma doença típica do Apego é sentir atração por al-
mundo moderno, o qual se tor- guém ou por alguma coisa com
nou altamente competitivo. Es- motivo egoísta. Imaginem um
quecem-se de que o estresse exis- jovem que se sentiu atraído por
te desde a pré-história. Nossos uma linda moça. Quanto mais
ancestrais, habitantes das caver- ele pensa nela, mais forte se torna
nas, viviam num único dia um sua atração. Essa atração é o ape-
nível de estresse físico e mental go. Esse apego provoca nele um
que não chegamos a experimen- forte desejo de possuir a moça
tar sequer em um ano. Hoje em dia, o ciais. Dentre os dois tipos de estresse, para seu próprio prazer e ele resolve
sistema nervoso de um corpo huma- o mental é muito pior do que o físico. casar-se com ela. A moça, porém, deci-
no sob estresse reage da mesma forma Para nossa sobrevivência física e psico- de desposar outra pessoa. Sua rejeição
como fazia no caso de nossos ancestrais lógica, devemos tratar desse problema torna-se um empecilho à satisfação dos
primitivos. As preocupações que senti- e aprender a resolvê-lo de maneira efe- intensos desejos do rapaz. Ele fica en-
mos com relação ao dinheiro e o medo tiva. Uma combinação de bom senso, furecido e com isso seus pensamentos
de perder nossos empregos podem ser pensamento racional e Yoga pode ser de tornam-se confusos. Desconcertado,
tão potentes quanto o temor de nossos grande auxílio. Para aliviar o estresse fí- sua memória falha e ele esquece to-
primitivos ancestrais diante dos tigres sico, as posturas da Hatha-Yoga podem das as lições morais e éticas que havia
pré-históricos. O estresse também pode ser úteis, enquanto as técnicas de medi- aprendido; não consegue discernir en-
ser causado por situações agradáveis ou tação ensinadas pela Raja-Yoga servem tre o certo e o errado, entre o que pode
previsíveis como, por exemplo, ter em para atenuar o estresse mental. e o que não pode fazer. Movido por um
Vedanta Jul - Set 2016 11
pescoço. Permaneça nessa posição de relaxamento
por no mínimo quinze minutos. Se conseguir fa-
zer isso, seu corpo ficará confortável e solto sobre
o chão. Na Hatha-Yoga, essa técnica é denominada
shavasana. Com frequência, esse exercício conduz
a um sono reparador.
Mesmo quando estiver sentado numa poltrona
de espaldar reto, um relaxamento similar das arti-
culações do corpo pode ser praticado. Para come-
çar, apóie os dois antebraços nos braços da poltro-
na. Você deve manter as costas eretas e apoiadas
sobre o encosto da cadeira. Primeiramente, relaxe
as articulações dos pés, depois dos joelhos, dos
braços e, finalmente, do pescoço. Ao relaxar o pes-
coço, não será possível manter-se ereto e você irá
encostar o queixo no tórax. Essa técnica não deve
impulso cego, seu único pensamento agora está focado em ser praticada por mais do que dez minutos. Quem tem pro-
como prejudicar aquele que obstruiu seu desejo. blemas nas vértebras do pescoço não deve usar essa técnica
Em um outro exemplo, uma moça muito bonita vai a uma e sim a shavasana.
festa. Chegando lá, depara-se com outra jovem, muito mais
bonita do que ela. A presença dessa jovem provoca nela uma Técnicas para reduzir o estresse mental
crise de ciúmes, pois é um obstáculo ao seu desejo de ser a Para eliminar o estresse mental, devemos primeiro tentar
pessoa mais linda daquela festa. impedir que emoções estressantes invadam nossas mentes.
O hinduísmo ensina que as emoções que produzem estres- Se no entanto elas aparecerem, devem ser cuidadosamente
se negativo, como a ira, o ódio, a inveja e o medo, não são manejadas. Preocupações, ansiedades e medos são estados
essencialmente diferentes e, com facilidade, transformam-se de apreensão mental e causam estresse. O desastre ainda
umas nas outras. Todas são causadas pelo apego e pelo desejo. não aconteceu; mesmo assim, a apreensão em relação a ele
Todas as pessoas querem ser livres e ficam contrariadas já provoca estresse. Quando o desastre acontece, já não es-
quando esse desejo é frustrado. Funcionários em posições tamos mais temerosos, ansiosos ou preocupados; todas as
subalternas ressentem-se da falta de liberdade para tomar sensações causadas pela antecipação do desastre desapare-
decisões, o que cabe somente a seus chefes. Esse ressentimen- ceram. Nesse momento, estamos ocupados apenas em so-
to provoca estresse. breviver. Apesar da situação ter mudado, novos medos po-
Para os executivos encarregados da chefia de grandes com- dem surgir. Enquanto nos identificarmos com o complexo
panhias, o estresse pode ser causado por sua inabilidade de corpo-mente, jamais poderemos suplantar completamente o
corresponder às expectativas dos acionistas. Se o seu desem- medo. O temor de um possível dano ao corpo e o medo da
penho não for satisfatório, se não conseguirem apresentar morte continuam ali e causam estresse. O medo só desapa-
lucros, serão dispensados. Consideram que seu desejo de rece por completo quando se alcança a iluminação espiritual
trabalhar livremente é impedido pela interferência dos acio- chamada asamprajnata samadhi. Ao experimentar esse tipo
nistas. Para eles, reconhecer que não têm liberdade alguma de samadhi, adquirimos o conhecimento de que não somos
e que vivem à mercê dos acionistas desperta ressentimentos o complexo corpo-mente, mas sim o Espírito Divino e Eter-
que causam estresse. no, que jamais nasceu e jamais morrerá. Enquanto isso não
acontece, o alívio para alguns tipos de estresse pode ser con-
Técnica da Yoga para aliviar o estresse físico seguido por meio dos métodos citados a seguir.
Um dos métodos para aliviar o estresse é aprender a rela-
xar o corpo. Deite-se de costas sobre o piso acarpetado de Livre-se dos apegos
seu quarto. Não use almofada sob a cabeça. Você pode até Segundo a psicologia hindu, as emoções que produzem
mesmo deitar sobre sua cama se o colchão for bem firme a estresse são provocadas pelo apego. Como já mencionamos
ponto de impedir que sua coluna vertebral se curve. Observe anteriormente, apego é um relacionamento que envolve ego-
o ritmo da respiracão durante cinco minutos. Em seguida, ísmo. O envolvimento egoísta desperta o medo, a preocu-
relaxe todo o corpo, imaginando que todas as articulações pação e a ansiedade. Vamos supor que uma pessoa em Nova
se soltaram. Inicialmente, faça isso com os pés, depois com York caminha, à meia noite, por uma viela perigosa carre-
os joelhos, com as articulações dos braços e, por fim, com o gando uma maleta com cem mil dólares. Nessa situação,
N
a América (EUA) temos o Dia
de Ação de Graças, quando se
espera que sintamos gratidão
por tudo. Em nosso convento,
havia uma monja que se dizia moralmen-
te contra esse dia, pois achava-o artificial.
Para ela, deveríamos ser gratos o tempo
todo. Venho pensando cada vez mais sobre
o valor da gratidão. É triste que na América
tenhamos de separar um dia para celebrar a
gratidão, mas acho que as pessoas são iguais
em todos os lugares, pois, na vida cotidiana,
temos a tendência de não dar atenção à be-
leza da vida, às pessoas e às virtudes espon-
tâneas. É verdade que não deveríamos ter
um dia especial para a gratidão, mas acho
importante ter a prática da gratidão, pois é
uma prática espiritual.
A prática da gratidão é uma oportunidade
espiritual, e se não a levarmos a sério sere-
mos espiritualmente pobres. Nós sempre te-
remos a oportunidade de sentir gratidão se nos lembrarmos Procuramos estar com nossas famílias, nossos amigos, pesso-
dela. Em nossas vidas, fomos nutridos por tantas pessoas! as desconhecidas, simplesmente por amor. Então pensamos:
Há muitas coisas boas que nos aconteceram que precisamos o que é realmente o amor?
apreciar, e muitas coisas ruins e terríveis que nos tornaram Quando somos jovens pensamos que o amor é o dese-
mais sábios e mais fortes. Quando olhamos para trás, temos jo, que é um rosto perfeito, nariz perfeito, corpo perfeito.
uma visão mais ampla da vida. Quando envelhecemos, percebemos que é algo mais pro-
Cada um de nós já fez boas coisas e também já cometeu fundo. O amor é o reconhecimento da unidade da vida. No
muitos erros, e temos de ser gratos por ter feito os dois, pois Brihadanaryaka Upanishad, o sábio Yajñavalkya diz à sua
em geral aprendemos mais com os erros do que com os acer- esposa Maitreyi: “O marido ama sua esposa não por causa
tos. Mesmo que tenhamos arrependimento de ter magoado da esposa, mas pelo Atman (espírito divino) que existe na
as pessoas, ainda assim devemos ser gratos, pois com isso pu- esposa. Todos aqueles a quem amamos, o pai, a mãe, o fi-
demos aprender mais. lho, o marido, a esposa, não é pelo seu aspecto externo, mas
Na América, o Dia de Ação de Graças é lembrado como um pelo Atman que está em tudo. Tudo que amamos é apenas
dia para comer. Eles cozinham um grande peru, fazem tortas, o reconhecimento do divino, e o reconhecimento da nossa
muitas frutas...Todos se juntam às suas famílias. Quando des- unidade com essa realidade una e divina.”
cobrem que alguém não tem família, ou está longe de casa, É por isso que a gratidão é tão importante. Com ela, nosso
ou perdeu sua família, dizem: venha conosco, vamos cele- Eu superior aparece mais. Quando sentimos gratidão, nos-
brar este dia. Junte-se à nossa família. Muitas pessoas saem e sa vida se torna doce e nos traz contentamento, ou santosha
servem os moradores de rua. Vão até os abrigos, cozinham o (palavra sânscrita que significa contentamento). Santosha é
peru, levam bolos e tortas. Sentam-se todos juntos e dizem: um dos Yamas. Os Yamas e Niyamas são as práticas éticas
vamos comer juntos, pois hoje somos uma família. centrais na tradição hindu. Sem essas práticas não pode-
Há apenas uma razão para isso: amor! É a única razão. mos ter vida espiritual. Seria como construir uma casa sem
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