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Como as pessoas fal(h)am!...

É frequente encontrarmos expressões que nos causam estranheza ao


ouvido e que, apesar de as reconhecermos como erradas, usamo-las de forma
mais ou menos inconsciente. Também estranhamos e até somos preconceituosos,
sempre que ouvimos alguém a falar com um sotaque diferente. Contudo,
compreender as variações linguísticas de uma língua é entender a riqueza
cultural dessa língua.

Existem três tipos de variações linguísticas: diatópica, diafásica e diastrática.


- A variação diatópica é a variação regional, em que a mesma língua é falada de
forma diferente, de acordo com a região.
Ex.: sotaque açoriano, alentejano, algarvio, madeirense, minhoto, transmontano, entre outros.
Por vezes, as palavras assumem formas diferentes para o mesmo referente, como é o caso de
cimbalino ou bica, que se referem a café.
- A variação diafásica é a que ocorre em função do contexto, em que o falante varia
o seu registo de língua, adaptando-o às circunstâncias.
Ex.: linguagem formal ou informal.
- A variação diastrática ocorre nos grupos sociais e profissionais, na mesma
comunidade.
Ex.: os advogados, os engenheiros, os surfistas, os jovens, os idosos, entre outros.

Naturalmente, os falantes de uma língua vão captando vícios de linguagem,


comumente designados de tiques linguísticos ou muletas discursivas que,
ciclicamente, vão debitando com maior ou menor frequência.
Às vezes damos por eles e conseguimos corrigi-los. Outras vezes, são os
outros que nos chamam à atenção e a nossa reação inicial é: – Quem, eu? Eu não
digo isso.
Conta-se que um brigantino foi interpelado por um portuense, a perguntar-
lhe o seguinte:
– Ouvi dizer que lá na tua terra, todas as pessoas dizem “Bô!”.
E a resposta não se fez demorar:
– “Bô!”, nunca ouvi lá falar isso…

Vejamos mais alguns exemplos de tiques, que, pelo seu uso excessivo,
acabam por se tornar irritantes. É o caso dos despropositados ‘é assim’ ou
‘prontos’, no início das frases. Ou ainda:
- “Tipo” – “É tipo isso”, “Tipo, passou-se...”, “Foi do tipo”, isto é, o uso atípico
de tipo para todo o tipo de situações.
- “Brutal/Baril” – uso instintivo desta palavra para definir qualquer coisa
surpreendente.
- “Bué” – em substituição do advérbio de quantidade e grau “muito”.
- “Bem podre” – usado pelos jovens, que tanto pode ser elogioso como
depreciativo.
Para além dos tiques linguísticos, no que se refere à tautologia ou ao
pleonasmo, encontramos no dia-a-dia exemplos subtis que irritam os falantes mais
atentos da língua. Algumas expressões tornaram-se clássicos, como “subir para
cima”, “elo de ligação”, “acabamento final”, “certeza absoluta”, “o espetáculo será
nos dias 3, 4 e 5, inclusive”, “duas metades iguais”, “outra alternativa”, “comparecer
pessoalmente”, “encarar de frente”, “multidão de pessoas”, “facto real”, “surpresa
inesperada”, “assim que amanhecer o dia” ou “gritar alto”.
Por vezes, acontece-nos mesmo termos dúvidas sobre a forma correta de
usar determinadas palavras ou expressões. No que se refere à conjugação de
verbos, assistimos frequentemente a algumas confusões na sua ortografia.
Proponho-vos, então, a resolução de alguns exercícios, onde podeis testar
os vossos conhecimentos.

Confusões frequentes na ortografia de alguns verbos


RESPOSTAS
agir
 É preciso que ajas com rapidez, para concluíres o trabalho em tempo útil.
sse / -se
 Se te contasse tudo o que sei, não acreditarias… Conta-se muita coisa, que não corresponde à verdade,
sabes?
haver
 A festa de Natal foi um sucesso. Havia muitos presentes para as crianças. Vocês haviam de ter visto a
expressão delas ao desembrulhá-los.
 Continua com esse mau feitio e hás de ter muitos amigos!
mos / -mos
 Ao darmos presentes também nos sentimos felizes! Era o que a minha dizia ao dar-mos.
 Hoje não levamos os manuais para a sala de aula. Por favor, leva-mos para o teu cacifo.
intervir
 As pessoas que intervieram no congresso eram de partidos políticos diferentes.
 Atualmente, intervimos em mais situações do que no passado.
poder
 Vamos poder andar mais de carro quando o meu irmão puder tirar a carta de condução.
 O Ricardo pode dar-se por feliz, pois a professora não pôde vir dar teste.
ter a ver / ter a haver
 A informação que me transmitiste nada tem a ver com o que foi referido nas notícias.
 Ela ainda tem a haver trinta e cinco cêntimos.

“Prontos!”, tenho dito.

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