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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS MARCELINO MESQUITA

Escola Secundária do Cartaxo Ano Letivo 2017/2018

Professora: Carla Gamboa


Trabalho de recuperação

Módulo 5 – Sermão de Santo António e Frei Luís de Sousa

Realiza as seguintes fichas que te são propostas para a recuperação do módulo 5

FICHA 1

Lê atentamente o texto seguinte.

Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama- lhes sal da
terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção,
mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal,
qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se
não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou
porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhe dão, a não
querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou
porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que
dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se
não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto
verdade? Ainda mal. Suposto, pois, que, ou o sal não salgue ou a terra se não deixe salgar; que se há-de
fazer a este sal, e que se há-de fazer a esta terra? O que se há-de fazer ao sal que não salga? Cristo o
disse logo: Quod si sal evanuerit, in quo salietur? Ad nihilum valet ultra, nisi ut mittatur foras et
conculcetur ab hominibus3 (Mateus V - 13). Se o sal perder a substância e a virtude, e o pregador faltar
à doutrina e ao exemplo, o que se lhe há-de fazer, é lançá-lo fora como inútil, para que seja pisado de
todos. Quem se atreverá a dizer tal cousa, se o mesmo Cristo a não pronunciara? Assim como não há
quem seja mais digno de reverência e de ser posto sobre a cabeça, que o pregador que ensina e faz o
que deve; assim é merecedor de todo o desprezo e de ser metido debaixo dos pés o que com a palavra
ou com a vida prega o contrário. Isto é o que se deve fazer ao sal que não salga. E à terra, que se não
deixa salgar, que se lhe há-de fazer? Este ponto não resolveu Cristo Senhor nosso no Evangelho;
mas temos sobre ele a resolução do nosso grande português Santo António, que hoje
celebramos, e a mais galharda e gloriosa resolução que nenhum santo tomou. Pregava Santo
António em Itália na cidade de Arimino, contra os hereges, que nela eram muitos; e como erros de
entendimento são dificultosos de arrancar, não só não fazia fruto o santo, mas chegou o povo
a se levantar contra ele, e faltou pouco para que lhe não tirassem a vida. Que faria neste caso o
ânimo generoso do grande António? Sacudiria o pó dos sapatos, como Cristo aconselha em outro
lugar? Mas António com os pés descalços não podia fazer esta protestação; e uns pés, a que se não
pegou nada da terra, não tinham que sacudir. Que faria logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia?
Daria tempo ao tempo? Isso ensinaria porventura a prudência, ou a covardia humana; mas o zelo da
glória divina, que ardia naquele peito, não se rendeu a semelhantes partidos. Pois que fez?
Mudou somente o púlpito e o auditório, mas não desistiu da doutrina. Deixa as praças, vai-se às
praias; deixa a terra, vai-se ao mar, e começa a dizer a altas vozes: Já que me não querem ouvir os
homens, ouçam-me os peixes. Oh, maravilhas do Altíssimo! Oh, poderes do que criou o mar e a
terra! Começam a ferver as ondas, começam a concorrer os peixes, os grandes, os maiores, os
pequenos, e postos todos por sua ordem com as cabeças de fora da água, António pregava e eles
ouviam. Se a Igreja quer que preguemos de Santo António sobre o Evangelho, dê-nos outro. Vós estis sal
terrae. É muito bom o texto para os outros santos doutores; mas para Santo António vem-lhe muito
curto. Os outros santos doutores da Igreja foram sal da terra. Santo António foi sal da terra e foi sal do
mar. Este é o assunto que eu tinha para tomar hoje. Mas há muitos dias que tenho metido no

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pensamento que nas festas dos santos é melhor pregar como eles, que pregar deles. Quanto mais que o
são da minha doutrina, qualquer que ele seja, tem tido nesta terra uma fortuna tão parecida à de Santo
António em Arimino, que é força segui-la em tudo. Muitas vezes vos tenho pregado nesta igreja, e
noutras, de manhã e de tarde, de dia e de noite, sempre com doutrina muito clara, muito sólida, muito
verdadeira, e a que mais necessária e importante é a esta terra, para emenda e reforma dos vícios que
a corrompem. O fruto que tenho colhido desta doutrina, e se a terra tem tomado o sal, ou se tem
tomado dele, vós o sabeis e eu por vós o sinto. Isto suposto, quero hoje, à imitação de Santo António,
voltar-me da terra ao mar e, já que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes. O mar está tão
perto que bem me ouvirão. Os demais podem deixar o sermão, pois não é para eles. Maria, quer dizer.
Domina maris: «Senhora do mar»; e posto que o assunto seja tão desusado, espero que me não falte
com a costumada graça. Ave Maria.
Padre António Vieira, Sermão de Santo António

1. Tendo em conta o texto que leu, identifique as afirmações verdadeiras (V) e as falsas (F):

a) Padre António Vieira admira a corrupção na terra.


b) As constantes exemplificações fazem do discurso um texto credível.
c) “Vós sois o sal da terra” é o conceito predicável condicionador do raciocínio do orador.
d) Este momento do sermão corresponde à peroração.
e) Se o sal é o pregador, então ele deve espalhar o condimento necessário à prática do bem.
f) A referência a Santo António deve-se ao facto de se comemorar o seu dia.
g) O autor compara Santo António aos outros santos doutores devido às suas ações semelhantes.
h) O orador recorre diversas vezes à frase interrogativa, porque tem muitas dúvidas.

2. Responda, agora, de forma sucinta às questões que se seguem


2.1. Dê um exemplo para cada um dos recursos estilísticos que se seguem, comentando a sua
expressividade. a) paralelismo anafórico;
b) metáfora;
c) adjetivação.
2.2. Identifique a expressão textual que realça a perseverança de Santo António.
3. Com base nos conhecimentos que tem de Padre António Vieira, redija, para cada um dos
seguintes tópicos, um parágrafo, com um mínimo de 40 palavras, que pudesse ser inserido num sítio da
Internet:
- Vieira, o missionário.
- O sermão religioso e o texto argumentativo.

2
FICHA 2

Leia o excerto com muita atenção:

[…] Mas já que estamos nas covas do mar, antes que saiamos dela, temos lá o irmão polvo, contra o
qual têm suas queixas, e grandes, não menos que S. Basílio e Santo Ambrósio. O polvo com aquele seu
capelo(1) na cabeça parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com
aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo desta
aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa, testemunham constantemente os dois grandes
Doutores da Igreja latina e grega que o dito polvo é o maior traidor do mar. Consiste esta traição do
polvo primeiramente em se vestir ou pintar das mesmas cores de todas aquelas cores a que está
pegado. As cores que no camaleão são gala, no polvo são malícia; as figuras, que em Proteu(2) são
fábula, no polvo são verdade e artifício. Se está nos limos, faz-se verde; se está na areia, faz-se branco;
se está no lodo, faz-se pardo; e se está em alguma pedra, como mais ordinariamente costuma estar,
faz-se da cor da mesma pedra. E daqui que sucede? Sucede que outro peixe, inocente da traição, vai
passando desacautelado, e o salteador que está de emboscada dentro do seu próprio engano, lança-lhe
os braços de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas? Não fizera mais, porque nem fez tanto.
Judas abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; o polvo é o que abraça e mais o que prende. Judas
com os braços fez o sinal, e o polvo dos próprios braços faz as cordas. Judas é verdade que foi traidor,
mas com lanternas diante; traçou a traição às escuras, mas executou-a muito às claras. O polvo,
escurecendo-se a si, tira a vista aos outros e a primeira traição e roubo que faz é a luz, para que não
distinga as cores. Vê, peixe aleivoso(3) e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é
menos traidor!

Pe. António Vieira, Sermão de Santo António (Cap. V)

(1) Capuz; (2) Deus marinho da mitologia grega que tinha o poder de se metamorfosear; (3) perverso; perigoso.

Responda, por palavras suas e de forma completa, às questões que se seguem.

Escolhe a opção correta:


1. No início do seu sermão, Vieira refere que os peixes têm duas virtudes.
a) ouvem muito e falam pouco;
b) ouvem e falam pouco;
c) ouvem pouco e falam muito.
2. Vieira divide o seu sermão em duas partes:
a) na 1.ª ouve os colonos e na 2.ª repreende os índios;
b) na 1.ª louva as virtudes dos peixes e na 2.ª repreende os seus vícios;
c) na 1.ª louva os Jesuítas e na 2.ª repreende os índios.
3. Os peixes corporizam…
a) as virtudes dos homens de S. Luís do Maranhão;
b) os defeitos/vícios dos homens de S. Luís do Maranhão;
c) as virtudes e os defeitos dos homens de S. Luís do Maranhão.
4. Representam as virtudes dos peixes...
a) a rémora, o torpedo, o quatro-olhos, o Peixe de Tobias;
b) a rémora, o quatro-olhos, o polvo, o pegador;
c) o polvo, o pegador, o voador, o roncador.
5. Representam os defeitos/vícios dos peixes…
a) a rémora, o quatro-olhos, o polvo, o pegador;
b) o polvo, o pegador, o voador, o roncador;
c) a rémora, o torpedo, o quatro-olhos, o Peixe de Tobias.
6. A partir do excerto apresentado acima, explicite os traços de caracterização física do polvo referindo
os três recursos expressivos utilizados para os sublinhar no excerto acima apresentado.

3
FICHA 3

Antes, porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora as
vossas repreensões. Servir-vos-ão de confusão, já que não seja emenda. A primeira cousa que me
desedifica, peixes, vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância
o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora
pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos
pequenos, mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só
grande. Olhai como estranha Santo Agostinho Homines pravis, proversique cupiditibus facti sunt, sicut
puas invicem se devorantes: «Os homens com as suas mas e perversas cobiças, vêm a ser como os
peixes, que se comem uns aos outros.» Tão alheia cousa é, não só da razão, mas da mesma natureza,
que sendo todos criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria e todos finalmente
irmãos, vivais de vos comer! Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade
deste escândalo, mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para que vejais quão feio e
abominável é, quero que o vejais nos homens.
Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos
para os matos e para o sertão? Para cá para cá; para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os
Tapuias se comem uns aos outros? Muito mais açougue é o de cá, muito mais se comem os Brancos.
Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as
ruas; vedes aquele subir e descer as caçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego?
Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão-de comer e como se hão-de comer.(...)
(...) São piores os homens que os corvos. O triste que foi à forca, não o comem os corvos senão
depois de executado e morto; e o que anda em juízo, ainda não está executado nem sentenciado, e já
está comido.
E para que vejais como estes são comidos na terra são os pequenos, e pelos mesmos modos
com que vós comeis no mar, ouvi Deus queixando-se este pecado. «Cuidais, diz Deus, que não há-de vir
tempo em que conheçam e paguem o seu merecido aqueles que cometem a maldade7» E que maldade
é esta, à qual Deus singularmente chama maldade, como se não houvera outra no mundo? E quem são
aqueles que a cometem? A maldade é comerem-se uns aos outros, e os que a cometem são os maiores,
que comem os mais pequenos: Qui devorant plebem meam, uí cibum panis.
Nestas palavras, pelo que vos toca, importa, peixes, que advirtais muito outras tantas cousas,
quantas são as mesmas palavras. Diz Deus que comem os homens não só o seu povo, senão
declaradamente a sua plebe: Plebem meam, porque a plebe e os plebeus, que são os mais pequenos, os
que menos podem e os que menos avultam na república, estes são comidos. E não só diz que os comem
de qualquer modo, senão que os engolem e os devoram: Qui devorant. Porque os grandes que têm o
mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, ou
pouco a poucos, senão que devoram e engolem os povos inteiros: Qui devorant plebem meam. E de que
modo os devoram e comem? Ut cibum panis: não como os outros comeres, senão como pão.
In Sermão de Santo António aos Peixes

I
4
A. Da leitura que fez do Sermão de Santo António aos Peixes, de Padre António Vieira e dos
conhecimentos que adquiriu, assinale a opção que lhe pareça mais adequada.
1. Atendendo ao contexto em que está inserida, a expressão "Servir-vos-ão de confusão, já que não seja
de emenda." Significa que:
a) Pe António Vieira vai confundir os peixes.
b) a repreensão dos vícios serve para emenda dos mesmos.
c) a repreensão dos vícios serve para reflexão.
2. Com o recurso a argumentos de autoridade, nomeadamente com a citação
de St° Agostinho, "Homines pravis, praeversisque cupiditatibus facti sunt, sicut
pisces invicem se devorantes", o orador pretende:
a) mostrar que sabe latim.
b) validar e confirmar as suas palavras.
c) confirmar que os homens são iguais aos peixes.

3. Com a ideia que a antropofagia (canibalismo) social é pior do que a antropofagia ritual, Padre
António Vieira pretende esconder uma verdade que é:
a) Pe António Vieira simpatiza mais com os povos indígenas.
b) Pe António Vieira acha que os índios são menos selvagens que os brancos.
c) Pe António Vieira acha que os açougues são maiores no Brasil.

4. Ao afirmar "(...) ainda o pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem


comido toda a terra.", o orador quer dizer que:
a) os defuntos são explorados pela terra durante a vida e depois de mortos.
b) os defuntos não são comidos pela terra, mas comem a terra.
c) as pessoas são exploradas em vida, mesmo antes de o corpo entrar em decomposição.

5. Na expressão "Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às
praças e cruzar as ruas; vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem
quietação nem sossego?" coexiste:
a) uma repetição, uma enumeração e uma pergunta retórica.
b) uma repetição, uma metáfora e uma antítese.
c) uma metáfora, uma gradação e uma repetição.

B. Após a leitura atenta do texto, responda com o máximo de correção científica, sintática e
ortográfica às questões.
6. Integre o excerto textual apresentado na estrutura da obra a que pertence. Justifique a sua
resposta.
7. Que relação existe entre a conduta dos peixes e dos homens? Justifique a sua resposta.
8. A certa altura, o pregador faz apelo à observação direta dos peixes.
8.1. Identifique os motivos deste apelo.

8.2. Retire do texto algumas expressões exemplificativas.


8.3. Por que razão há uma grande movimentação na cidade?
8.4. Qual a distinção entre os homens da cidade e os do sertão?
9. Explique, por palavras suas, o sentido da expressão: «São piores os homens que os corvos».
10. Faça o levantamento dos recursos estilísticos mais relevantes presentes no segundo parágrafo do
texto.
11. Mostre como o extrato do sermão apresentado segue os três princípios da argumentação. Justifique
a sua resposta com elementos do texto.

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FICHA 4

Compreensão da obra: Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett

Escolha uma afirmação correta para cada questão.


1. A primeira cena do Ato I da peça decorre...
a) no salão do palácio de D. João de Portugal
b) no quarto de Maria
c) num banco de jardim
d) no salão do palácio de Manuel de Sousa Coutinho.
2. A divisão do palácio onde se encontra D. Madalena de Vilhena está...
a) isolada das restantes
b) totalmente escurecida
c) luxuosamente decorada
d) sem qualquer adorno.
3. D. Madalena, na primeira cena, encontra-se a ler o livro intitulado...
a) A Castro
b) Trovas à Morte de D. Inês de Castro
c) Menina e Moça
d) Os Lusíadas.
4. D. Madalena compara a sua vida com...
a) a de Inês de Castro
b) a da personagem de Menina e Moça
c) a de D. Sebastião
d) do autor de Os Lusíadas.
5. Na Cena 2, o diálogo entre Telmo e Madalena, informa-nos de que:
a) Maria tem agora treze anos
b) Madalena se casou quando ainda era uma criança
c) Telmo nutre uma imensa estima por Maria
d) Telmo já cuidava de Madalena desde que esta era criança.
6. Ao falarem do passado, ficamos a saber que:
a) Madalena encontrou vários indícios de que seu marido estava vivo
b) Telmo duvida que seu antigo amo, D. João de Portugal, tenha morrido na batalha
c) Madalena tinha 17 anos quando ficou viúva
d) Madalena procurou seu marido durante 7 anos.

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FICHA 5

Leia o excerto com muita atenção:


Manuel (passeia agitado de um lado para o outro da cena, com as mãos cruzadas detrás das costas; e
parando de repente) — Há de saber-se no mundo que ainda há um português em Portugal. Madalena —
Que tens tu, dize, que tens tu? Manuel — Tenho que não hei de sofrer esta afronta… e que é preciso sair
desta casa, senhora. Madalena — Pois sairemos, sim; eu nunca me opus ao teu querer, nunca soube que
coisa era ter outra vontade diferente da tua; estou pronta a obedecer-te sempre, cegamente, em tudo.
Mas, oh! esposo da minha alma… para aquela casa não, não me leves para aquela casa! (Deitando-lhe os
braços ao pescoço). Manuel — Ora tu não eras costumada a ter caprichos! Não temos outra para onde
ir; e a estas horas, neste aperto… Mudaremos depois, se quiseres… mas não lhe vejo remédio agora. —
E a casa que tem? Porque foi de teu primeiro marido? É por mim que tens essa repugnância? Eu estimei
e respeitei sempre a D. João de Portugal; honro a sua memória, por ti, por ele e por mim; e não tenho
na consciência por que receie abrigar-me debaixo dos mesmos tetos que o cobriram. — Viveste ali com
ele? Eu não tenho ciúmes de um passado que me não pertencia. E o presente, esse é meu, meu só, todo
meu, querida Madalena… Não falemos mais nisso: é preciso partir, e já. Madalena — Mas é que tu não
sabes… Eu não sou melindrosa nem de invenções; em tudo o mais sou mulher, e muito mulher, querido;
nisso não… Mas tu não sabes a violência, o constrangimento de alma, o terror com que eu penso em ter
de entrar naquela casa. Parece-me que é voltar ao poder dele, que é tirar-me dos teus braços, que o
vou encontrar ali… — Oh, perdoa, perdoa-me, não me sai esta ideia da cabeça… — que vou achar ali a
sombra despeitosa de D. João que me está ameaçando com uma espada de dois gumes… que a atravessa
no meio de nós, entre mim e ti e a nossa filha, que nos vai separar para sempre… — Que queres? Bem
sei que é loucura; mas a ideia de tornar a morar ali, de viver ali contigo e com Maria, não posso com
ela. Sei decerto que vou ser infeliz, que vou morrer naquela casa funesta, que não estou ali três dias,
três horas, sem que todas as calamidades do mundo venham sobre nós. […]
Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa
Responda, por palavras suas e de forma completa, às questões que se seguem.

1. Mostre como o diálogo entre os dois protagonistas põe em confronto e, assim, melhor evidencia: -
distintas relações com o passado; - diferentes temperamentos.

2. A reação de D. Madalena não desperta surpresa no leitor/espetador. Explique porquê.

3. Demonstre que os dois protagonistas desta cena revelam caraterísticas da estética romântica.

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FICHA 6

Cena III do Ato Primeiro, desde o início até à primeira e única fala de Telmo.

Questões:

1 – Integre o excerto transcrito na estrutura da obra a que pertence.

2 – Neste excerto de FLS encontram-se três personagens em cena.

2.1 – Indique o assunto principal da conversa e dois que lhe estejam associados.

2.2 – Apresente a perspetiva de Maria sobre a figura de dom Sebastião.

2.3 – Exponha os argumentos que dona Madalena contrapõe à opinião de Maria.

3 – Releia a segunda fala de Maria.

3.1 – Identifique os sentimentos nela expressos.

4 – Maria refere-se a dom Sebastião como “o nosso bravo rei, o nosso santo rei dom Sebastião”, “meu
querido rei dom Sebastião”, “o pobre do rei”.

4.1 – Descreva os efeitos de sentido produzidos por esta sequência de expressões.

5 – Caracterize, a partir de elementos do texto, a relação de Maria com Telmo e com Madalena.

6 – Aponte três características do Romantismo presentes no excerto transcrito.

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FICHA 7

Cena X
Jorge, Madalena
MADALENA (falando ao bastidor) - Vai, ouves, Miranda? Vai e deixa-te lá estar até veres chegar o bergantim; e
quando desembarcarem, vem-me dizer para eu ficar descansada. (vem para a cena) Não há vento e o dia está
lindo. Ao menos não tenho sustos com a viagem. Mas a volta... quem sabe? o tempo muda tão depressa...
JORGE - Não, hoje não tem perigo.
MADALENA - Hoje... hoje! Pois hoje é o dia da minha vida que mais tenho receado... que ainda temo que não
acabe sem muito grande desgraça... É um dia fatal para mim: faz hoje anos que... que casei a primeira vez; faz
anos que se perdeu el-rei D. Sebastião, e faz anos também que... vi pela primeira vez a Manuel de Sousa.
JORGE - Pois contais essa entre as infelicidades da vossa vida?
MADALENA - Conto. Este amor, que hoje está santificado e bendito no Céu, porque Manuel de Sousa é meu
marido, começou com um crime, porque eu amei-o assim que o vi... e quando o vi, hoje, hoje... foi em tal dia
como hoje, D. João de Portugal ainda era vivo! O pecado estava-me no coração; a boca não o disse... os olhos não
sei o que fizeram, mas dentro da alma eu já não tinha outra imagem senão a do amante... já não guardava a meu
marido, a meu bom... a meu generoso marido... senão a grosseira fidelidade que uma mulher bem nascida quási
que mais deve a si do que ao seu esposo. Permitiu Deus... quem sabe se para me tentar? ... que naquela funesta
batalha de Alcácer, entre tantos, ficasse também D. João.
Cena XI
Madalena, Jorge, Miranda
MlRANDA (apressurado) - Senhora... minha senhora!
MADALENA (sobressaltada) - Quem vos chamou, que quereis? Ah! és tu, Miranda. Como assim! Já chegaram?...
Não pode ser.
MlRANDA - Não, minha senhora: ainda agora irão passando o pontal. Mas não é isso.

1. Integre o excerto textual apresentado na estrutura da obra a que pertence.

2. Divida o texto em partes, justificando as suas opções.

3. Comente a importância que este extrato assume para o crescendo da atmosfera


trágica.

4. “Pois hoje é o dia da minha vida que mais tenho receado…”

4.1. Caracterize o estado de espírito de Madalena. Justifique a sua resposta.

4.2. Explique os motivos pelos quais Madalena teme tanto esta Sexta-feira.

5. Os presságios de Madalena acabam por se cumprir.

5.1.Comente a afirmação anterior, procurando provar a veracidade da mesma.

6. Identifique alguns recursos estilísticos utilizados para melhor exprimir o estado de


espírito em que se encontra Madalena. Justifique o seu valor expressivo.

7. O Frei Luís de Sousa segue as linhas orientadoras da estética romântica

7.1. Demonstre que o excerto apresentado tem as marcas do Romantismo.


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FICHA 8

Produção Escrita
TEMA 1
Leia o excerto do artigo jornalístico com muita atenção:
“A educação para a bondade foi substituída pela instrução para o cinismo. As consequências estão à
vista e são desastrosas: aos 15 anos, a alma dos nossos filhos cheira a cinzas. O chamado “bullying”, ou
sistema de aterrorização permanente, resulta de exemplos concretos, quotidianos: a prioridade dada às
boas notas sobre os bons comportamentos, a rasura da diferença moral entre verdade e mentira, o
estímulo à conquista de bens materiais, seja por que método for, a transformação do amor num
brinquedo temporário de exaltação do narcisismo e a consideração da amizade como um mecanismo de
promoção social.”
Inês Pedrosa, in Sol, 12.03.2014
No mundo contemporâneo, os valores que sempre serviram de referência à Humanidade – a verdade, o
amor, a amizade, a solidariedade, a bondade… - são postos em causa e substituídos por um egoísmo e
um materialismo ferozes, que parecem comandar as vidas.”
Num texto bem estruturado, com um mínimo de 150 e com um máximo de 200 palavras, defenda um
ponto de vista pessoal sobre a problemática apresentada.

TEMA 2
O universo trágico do Frei Luís de Sousa, feito a partir de elementos simples, assenta em bases sólidas.
As personagens apresentam-se torturadas desde o início da ação, sobretudo por causa dos conflitos
interiores e exteriores.
Redija um texto claro, correto e conciso, comentando as afirmações anteriores e procurando realçar a
importância desses conflitos na diegese da peça.
(Limites de tolerância: cento e cinquenta / duzentas palavras)
TEMA 3
“Este sermão notável pelas descrições e pela habilíssima concatenação da matéria, é uma autêntica
sátira e em cada peixe – que constitui um símbolo – procura Vieira louvar algumas virtudes humanas e
principalmente flagelar, sem dó nem piedade, os vícios e os desmandos dos colonos portugueses, em
alusões transparentes, mas subtilíssimas”.
Gonçalves, Mário, Padre António Vieira, Sermões e Lugares Secretos
De forma clara e concisa comente, com base no estudo realizado e em leituras feitas, a
afirmação transcrita (mínimo de 150 palavras e máximo de 200 palavras).

TEMA 4
No nosso mundo, a exploração humana é uma realidade constante que foi evoluindo ao longo dos
séculos.
Elabore um texto argumentativo sobre a veracidade e atualidade desta crítica.

TEMA 5 “Esta é uma verdadeira tragédia”.

Tendo em conta a afirmação anterior e o que estudou sobre Frei Luís de Sousa, construa um texto coeso
e coerente, entre 150 e 200 palavras, onde refira as características da tragédia clássica e do drama
romântico presentes na obra.

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