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Área de Competência: CULTURA, LÍNGUA E COMUNICAÇÃO

DR 1: CONTEXTO PRIVADO Tema: Cuidados Básicos


Competências:
Interpretar e comunicar conteúdos com objetivos de prevenção na adoção de cuidados básicos
de saúde, em contexto doméstico.

CUIDADOS DE SAÚDE 1

A organização mundial de saúde na sua constituição define o termo saúde


como um completo estado de bem-estar físico, mental e social e não só a ausência
de doenças. A saúde é um bem precioso que devemos cuidar e conservar,
adotando desde muito cedo bons hábitos alimentares, de higiene e de atividade
física. Cedo, não significa obrigatoriamente após o nascimento. Ainda no período
da gravidez a mãe, para garantir uma saudável gestação do feto, deve também esforçar-se por adotar
cuidados básicos com a alimentação e descanso, evitando condutas que ponham em risco a sua saúde e a do
bebé.
A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO
A alimentação é considerada como um dos pilares da saúde e deve ser tida em consideração desde o
primeiro dia da nossa vida, por isso recomenda-se sempre que possível a amamentação do bebé, já que o
leite materno, pelas suas excelentes propriedades, não só aporta os nutrientes necessários à sua alimentação,
como também é de grande importância para o desenvolvimento e reforço do sistema imunitário, que o
defenderá das agressões externas de micróbios, vírus, bactérias e ajuda-o a um crescimento muito mais
saudável.
A sopa, os vegetais e o peixe devem desde cedo ser introduzidos na sua alimentação para que
aprendam a apreciá-los e possam aceitá-los facilmente como parte da sua dieta alimentar. O leite, os iogurtes,
a fruta e os cereais devem ser uma presença constante na alimentação, não só enquanto crianças, mas ao
longo de toda a vida. Estes alimentos, assim como o controlo do consumo de açúcar e sal, podem evitar
graves problemas de saúde como a diabetes e a obesidade.
RODA DOS ALIMENTOS
A roda dos alimentos divide-se em 7 grupos e apresenta as
proporções que devemos consumir para manter uma dieta saudável e
equilibrada.
Cereais e Tubérculos – 28% (4 – 11 porções)
Hortícolas – 23% (3 – 5 porções)
Fruta – 20% (3 – 5 porções)

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Lacticínios – 18% (2 – 3 porções)


Carnes, Peixe e Ovos – 5% (1,5 – 4,5 porções)
Leguminosas – 4% (1 – 2 porções)
Gorduras e Óleos – 2% (1 – 3 porções)
A água não faz parte de nenhum grupo, mas é um elemento presente em todos os alimentos e como
é indispensável à vida, é no centro da roda dos alimentos que aparece representada. 2

CUIDADOS DE HIGIENE
Não só o cuidado com a alimentação é suficiente para a manutenção de
um bom estado de saúde, são muito importantes também os cuidados com a
higiene pessoal, as boas condições de habitabilidade das nossas casas e um
eficiente saneamento básico, que permita a manutenção da saúde pública. Estes
cuidados previnem alergias, problemas respiratórios ou outros de maior
gravidade devido ao pó, aos ácaros ou à humidade.
ATIVIDADE FÍSICA
O hábito da prática desportiva não tem só importância na nossa
saúde física, mas também no nosso bem-estar mental. A realização da
atividade física recreativa surgiu pela necessidade que muitas pessoas
sentiam na ocupação dos tempos livres, da manutenção ou remodelação
da forma física ou para o alívio do stress causado pelo ritmo de vida das
sociedades modernas. Para uns é também uma forma de superação e autorrealização, explorando e pondo à
prova as suas capacidades físicas, para outros ainda a necessidade que a vaidade lhes impõe, de exibirem o
que consideram ser um corpo perfeito.
A preocupação cada vez maior com a forma física e a crescente procura de espaços dedicados à prática
desportiva ou de manutenção e cuidados do corpo resultou num incremento da oferta de espaços dedicados
a estas atividades, um negócio que se tornou bastante rentável e que proporcionou também muitos postos
de trabalho em ginásios, balneários e outros centros afins.
A IMPORTÂNCIA DO SONO
Assim como é importante a atividade física, é também de igual importância o repouso do corpo e da
mente. O sono é um importante mecanismo protetor do cérebro e de reequilíbrio do nosso organismo.
Durante o sono produzem-se hormonas que ajudam a regeneração dos tecidos e são restabelecidas as defesas
imunológicas.
Em Portugal, uma em cada cinco pessoas sofre de insónia (ausência de sono), um dos distúrbios do
sono, que segundo alguns especialistas pode ter como origem diversos fatores, como problemas psíquicos
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resultantes de casos traumáticos ou por inadequados hábitos de sono. A falta de descanso aumenta o risco
de doenças graves como as cardiovasculares, hipertensão, diabetes, obesidade, depressão, problemas de
memória, de capacidade e de aprendizagem.
Recomenda-se, então, que respeitemos um horário regular de sono e que à noite evitemos o consumo
de bebidas estimulantes, como o chá ou o café, bebidas alcoólicas e o tabaco. Podendo variar de pessoa para
pessoa, a necessidade de horas de descanso e também da idade, o número de horas de sono aconselhável é: 3

De 1 aos 3 anos – 12 a 14 horas Dos 5 aos 12 anos – 10 a11 horas


Adolescentes – 8 a 10 horas Adultos – 7 a 9 horas.
CUIDADOS MÉDICOS
Ter a vacinação em dia, fazer exames médicos regulares devem ser
procedimentos habituais assim como ter em casa a medicação habitual para socorro em
caso de complicações simples de saúde como podem ser constipações, pequenos
ferimentos ou leves dores.

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DR 2: CONTEXTO PROFISSIONAL Tema: Riscos e Comportamentos Saudáveis
Competências:
Intervir em contexto profissional, aprendendo e comunicando regras e meios de segurança, e
desenvolvendo uma cultura de prevenção.

“O Stress no trabalho”
É comum considerar-se que as condições actuais de trabalho se modificaram, acompanhando a evolução
tecnológica e a globalização, num ritmo mais acelerado do que a capacidade de adaptação dos indivíduos.
Assim, os trabalhadores vivem hoje sob contínua tensão, não só no ambiente de trabalho, como na vida em
geral. Há uma ampla área da vida moderna onde se misturam os factores de stress provenientes do emprego
e da vida quotidiana. O indivíduo, para além das habituais responsabilidades relativas ao seu posto de
trabalho, da competitividade exigida pelas empresas e das necessidades de aprendizagem contínua, tem
ainda que lidar com os factores de stress normais da vida em sociedade, tais como as tarefas domésticas
diárias, o cuidado da família, o cumprimento de normas sociais, etc. A procura de conciliação entre as
exigências do emprego e da vida familiar é muitas vezes geradora de stress – sobretudo nas mães
trabalhadoras.
O tipo de desgaste ao qual as pessoas são submetidas nos ambientes e nas relações de trabalho é um dos
factores determinantes para o aparecimento de doenças, como é o caso de depressões, ansiedade patológica,

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pânico, fobias, doenças psicossomáticas, etc. (…) Note-se que um factor agravante do stress no trabalho é a
limitação a que a sociedade submete as pessoas quanto às manifestações das suas angústias, frustrações e
emoções. Por causa das crenças e regras sociais vigentes, os indivíduos acabam por ficar prisioneiros do
„politicamente correcto‟, obrigados a assumir um comportamento emocional incongruente com os seus reais
sentimentos de agressão ou de medo.
No ambiente de trabalho, os estímulos geradores de stress são muitos. Podemos experimentar ansiedade 4

significativa (reacção de alarme) diante de desentendimentos com os colegas, devido à sobrecarga de


trabalho e à corrida contra o tempo, por insatisfação salarial e até com o tocar do telefone ou do telemóvel.
A falta de organização no ambiente ocupacional põe igualmente em risco a ordem e a capacidade de
rendimento do trabalhador. As condições propícias ao stress ocorrem sobretudo quando não há clareza nas
regras e tarefas que cada trabalhador deve desempenhar, quando faltam ferramentas de trabalho adequadas
à função desempenhada ou o local de trabalho é sombrio e/ou ruidoso.
Além disso, factores intra-psíquicos relacionados com o serviço também contribuem para a pessoa se manter
stressada, como é o caso da sensação de insegurança no emprego, de insuficiência de qualificação
profissional, pressão para comprovação de eficiência ou, até mesmo, a impressão continuada de estar a
cometer erros profissionais. Isso tudo sem contar com os factores internos que a pessoa traz consigo para o
emprego, tais como os seus conflitos, frustrações, as desavenças conjugais, etc.
O extremo oposto, ou seja, ter uma vida sem motivações, sem projectos, sem mudanças na ocupação ao longo
de muitos anos, sem perspectivas de crescimento profissional, assim como passar por períodos de
desocupação no emprego também podem provocar efeitos no organismo semelhantes ao Síndroma de Burnout
(falta de auto-estima, irritabilidade, nervosismo, insónia e crise de ansiedade, entre outros).
Assim, desde o subalterno até ao executivo, os trabalhadores podem apresentar alterações psicossomáticas
diversas diante de agentes psicossociais potenciadores de stress. Iremos analisar detalhadamente alguns
desses factores.
a) Sobrecarga
A sobrecarga de agentes causadores de stress pode ser considerada um factor importante para a eclosão do
stress patológico no trabalho. A sobrecarga destes estímulos é um estado no qual as exigências do ambiente
excedem a nossa capacidade de adaptação. Os quatro factores principais que contribuem para a acumulação
de agentes stressantes no trabalho são: 1. A falta de tempo; 2. A responsabilidade excessiva; 3. A falta de apoio; 4.
As expectativas excessivas de nós mesmos e daqueles que nos cercam.
b) Falta de Estímulos

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A falta de estímulos também pode resultar em stress crónico e, portanto, em doença. O risco de ataques
cardíacos, por exemplo, é significativamente maior nos dois primeiros anos após a reforma. Nesses casos, a
condição associada ao stress costuma ser o tédio, a sensação de nulidade e/ou a solidão.
Às vezes, no final do dia, sentimos o nosso corpo exausto mas, apesar disso, experimentamos uma agradável
sensação de bem-estar. Em geral, uma actividade pode tornar-se muito gratificante quando possui um
significado especial ou quando desperta grande interesse em nós. Contudo, as actividades medíocres, 5

destituídas de significação, altamente repetitivas ou desinteressantes, podem ser extremamente stressantes.


Tais situações desmotivantes ou a sensação de falta de significado para as coisas que fazemos costumam
também causar stress em crianças e idosos.
c) Ruído
O ruído excessivo pode causar stress pela estimulação do Sistema Nervoso Simpático, provocando
irritabilidade e diminuindo o poder de concentração. Este factor stressante pode produzir alterações em
funções fisiológicas essenciais, como é o caso do sistema cardiovascular. O ruído também pode influenciar o
sistema hormonal e, dessa forma, pode ter efeitos prolongados sobre o organismo, considerando que as
alterações hormonais são sempre de efeito mais longo. Experiências com pilotos de aviões demonstraram
que, ao ficarem expostos aos ruídos de alta intensidade das turbinas, a sua produção de testosterona reduziu
para metade.
d) Alterações do Sono
As alterações no ciclo do sono devido a horários de trabalho variáveis, a viagens constantes ou ainda a
alterações no ritmo das actividades lúdicas e sociais, facilitadas pelo uso da luz eléctrica e atracções
nocturnas, podem causar insónia e, consequentemente, aumento do stress.
Os operários que fazem turnos ou têm trabalho nocturno, geralmente possuem um sono de má qualidade no
período diurno. Isso decorre dos conflitos sociais (coisas que fazemos de dia e coisas que fazemos de noite)
e do excesso de ruído diurno. Essa má qualidade do sono acabará por provocar aumento da sonolência no
período de trabalho (seja nocturno ou diurno), muitas vezes responsável por acidentes, desinteresse,
ansiedade, irritabilidade, perda da eficiência e stress. Por exemplo, como forma de atenuar os efeitos do jet
leg, isto é, as alterações resultantes da diferença de fusos horários das viagens internacionais, recomenda-se
não tomar decisões importantes ou não competir antes da readaptação fisiológica.
e) Falta de Perspectivas
A esperança, a alegria e o optimismo, são sentimentos que aliviam e minimizam a ansiedade e a frustração
do quotidiano.
Na falta de perspectivas de promoção ou na presença de um cenário de incerteza quanto ao futuro, o
trabalhador ficará totalmente à mercê da ansiedade, sem esperança de recompensas agradáveis. Há
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ambientes de trabalho onde o futuro se mostra continuamente sombrio, o emprego é precário e, se o medo
motiva para a acção durante um breve período de tempo (veja a fisiologia do stress), rapidamente sobrevém
o estado de esgotamento com efeitos perniciosos.
f) Ergonomia
O conforto do indivíduo no seu local de trabalho deve ser sempre considerado, pois o stress apresenta-se
como uma alteração global do organismo (e não apenas emocional). Assim, deve ser proporcionado ao 6

trabalhador um conforto térmico e acústico, momentos de pausa e outros elementos associados ao


desempenho profissional. Ambientes hostis, em termos de temperatura, humidade do ar e o contacto com
agentes agressivos à saúde fazem parte da exigência física a que alguns trabalhadores estão submetidos. Daí
a enorme importância da assessoria técnica da Medicina do Trabalho para prevenir estados de esgotamento.
g) Mudanças Constantes
Este assunto merece considerações mais amplas. As necessidades de mudança podem ser comparadas a um
ciclo vicioso: o presente exige mudanças, mas essas mudanças acabam por trazer novos problemas. Esses
problemas despertam novas soluções, as quais passam a exigir novas mudanças, e assim por diante.
- Mudanças determinadas pela empresa
Estas mudanças podem ser determinadas por uma nova chefia ou devido a uma nova orientação geral da
empresa, seja por causa de fusão ou aquisição desta. Normalmente, esse tipo de mudança gera inicialmente
muita insegurança.
Já estudámos que o stress é uma reacção necessária à adaptação e, portanto, face à mudança o stress acontece
naturalmente. Contudo, para que este não se torne patológico, o trabalhador deverá ter em mente que,
mesmo que o departamento esteja a ser "desmontado" ou algum colega estimado esteja a perder a sua
posição, continuará a ser o mesmo profissional que é, os seus conhecimentos continuarão intactos e a empresa
poderá utilizá-los até de forma melhor na nova situação. Assim, o mais importante é não deixar que
considerações emocionais (mágoa, orgulho, inveja, rancor, etc.) dominem o lado racional.
- Mudanças devidas às novas tecnologias
As tecnologias estão em contínua evolução e são substituídas por sistemas mais modernos, pelo que os
trabalhadores são emocionalmente solicitados para se adaptarem. Nesse caso, o stress será variável, de acordo
com as Disposições Pessoais e com o tipo dessa nova tecnologia a ser implementada. Pela disposição pessoal
sofrerão mais as pessoas com instabilidade afectiva, com traços marcantes de ansiedade ou já previamente
stressadas. Em relação às próprias mudanças, sofrerão mais as pessoas confrontadas com novas tecnologias
estrutural e funcionalmente muito diferentes das anteriores.
Em Inglaterra, há anos atrás, foi feita uma pesquisa entre trabalhadores de uma refinaria de petróleo e de
uma central telefónica, ambos submetidos a mudanças tecnológicas radicais. Na refinaria, apesar das
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mudanças para a automação terem sido profundas, como o sistema de tratamento do petróleo é sempre o
mesmo, a incidência de stress foi mínima entre os funcionários, inclusive entre os mais antigos. Na telefónica,
a situação foi muito diferente. O novo sistema não tinha nenhuma analogia com o anterior e os funcionários
mais antigos tiveram que ser transferidos ou demitidos.
- Mudanças devidas ao mercado
As constantes exigências do mercado são levadas a sério pelas empresas e, frequentemente, determinam 7

mudanças de procedimentos no trabalho. Os ansiosos tendem mais para o stress devido, principalmente, à
ansiedade antecipatória, ou seja, a ansiedade que aparece muito antes de quaisquer resultados das
mudanças. Embora o bom senso recomende que as pessoas devam estar continuamente atentas aos
resultados dessas mudanças, sofrer antecipadamente não resolve problemas, não facilita a adaptação e pode
determinar atitudes precipitadas danosas.
- Mudanças auto-impostas
São as exigências que fazemos a nós mesmos. Em psiquiatria, o mais sadio é que estejamos sempre
inconformados e sempre adaptados. Isso significa que, através do inconformismo estamos sempre a fazer
com que o amanhã seja melhor que o dia de hoje; e que é indispensável que a pessoa se mantenha adaptada
às circunstâncias actuais, mesmo que sejam circunstâncias adversas.
O próprio inconformismo humano exige uma reciclagem constante, ou seja, exige mudanças continuadas e
necessidades de adaptação a essas mudanças. Encarar a mudança sob uma perspectiva de crescimento e
adequação pode ajudar à nossa adaptação, enquanto considerá-la uma tarefa tediosa, inútil e humilhante,
favorece o descontentamento, a ansiedade e, consequentemente, o stress.
(Adaptado de: Ballone G.J.; Moura E.C ., “Estresse e Trabalho” in PsiqWeb, www.psiqweb.med.br)

1. Aponte a razão pela qual muitos indivíduos vivem atualmente sob contínua tensão.
2. A vertente do “politicamente correto” é uma agravante do stress. Justifique.
3. Indique e explique os principais agentes psicossociais geradores de stress no trabalho.
4. Explique em que aspetos as mudanças são fatores geradores de stress.

“O Stress no trabalho: a Síndrome de Burnout ”


A Síndrome de Burnout é definida por alguns autores como uma das consequências mais graves do stress
profissional, e caracteriza-se por exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e
insensibilidade em relação a quase tudo e a todos (até como mecanismo de defesa emocional). O termo
Burnout é uma composição de burn (queima) e out (exterior), sugerindo que o trabalhador com esse tipo de

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stress consome-se física e emocionalmente, chegou ao seu limite máximo e deixou de cumprir as suas tarefas
por completa falta de energia.
A incidência da Síndrome de Burnout ainda é incerta, embora os dados sugiram que afecte um número muito
expressivo de profissionais. A epidemiologia desta síndrome tem aspectos bastante curiosos, como mostrou
o detalhado trabalho de Martinez, destacando-se: os primeiros anos da carreira profissional são os mais
vulneráveis ao seu desenvolvimento; parece haver uma preponderância do transtorno nas mulheres, 8

possivelmente devido à dupla carga de trabalho para conciliar a prática profissional com as tarefas familiares;
e associa-se a síndrome sobretudo a pessoas sem parceiro estável. Com muita frequência este quadro está
associado a outros transtornos emocionais, como a depressão e/ou ansiedade crónica. Tais transtornos têm
de ser considerados na medida em que afectam a vida pessoal, através das repercussões físicas do stress
psíquico; no domínio profissional, diminuem a eficiência e o desempenho das tarefas; no domínio social,
aumentam a conflitualidade nos relacionamentos interpessoais, bem como os custos associados ao
pagamento das baixas por doença e ao tratamento dos pacientes.
Como síndrome, constitui o resultado da combinação entre as características individuais e as condições do
meio, traduzido em momentos de stress excessivos e prolongados no local de trabalho. Essa síndrome refere-
se a um tipo de stress ocupacional e institucional com incidência em profissionais que mantêm uma relação
constante e directa com outras pessoas, principalmente quando esta actividade é de ajuda e/ou
aconselhamento (médicos, enfermeiros, professores).
Entre os factores aparentemente associados ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout está a pouca
autonomia no desempenho profissional, problemas de relacionamento com as chefias, problemas de
relacionamento com colegas ou clientes, conflito entre trabalho e família, sentimento de desqualificação e
falta de cooperação da equipa de trabalho. Os autores que defendem a Síndrome de Burnout como sendo
diferente do stress, alegam que esta doença envolve atitudes e condutas negativas em relação aos
utentes/clientes, à organização e tarefas, enquanto o stress apareceria mais como um esgotamento pessoal
com interferência na vida do sujeito e não necessariamente na sua relação com o trabalho.
Definida como uma reacção à tensão emocional crónica gerada a partir do contacto directo, excessivo e
stressante com o trabalho, essa doença faz com que a pessoa perca a maior parte do interesse na sua relação
com o trabalho, de forma que as coisas deixam de ter importância e qualquer esforço pessoal passa a parecer
inútil. Em alguns países, a Síndrome de Burnout está classificada nos Transtornos Mentais e Comportamentais
Relacionados com o Trabalho, manifestando-se com a sensação de estar acabado, e aparece como sinónimo de
Síndrome de Esgotamento Profissional.

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Um dos primeiros cientistas a descrever essa síndrome foi Freudenberg num estudo de 1974, constatando-a
inicialmente em funcionários das equipas de saúde mental. Observou que, com o passar do tempo, alguns
desses funcionários apresentavam uma síndrome composta por exaustão emocional e
adaptativa, desilusão ou frustração e vontade de isolamento social. Os sintomas básicos dessa
síndrome seriam, primeiramente, uma exaustão emocional onde a pessoa sente que não pode dar
mais nada de si mesma. Em seguida, desenvolve sentimentos e atitudes muito negativas, por exemplo, 9

um certo cinismo na relação com os colegas de trabalho e aparente insensibilidade afectiva.


Finalmente, o paciente manifesta sentimentos de falta de realização pessoal no trabalho, afectando
sobremaneira a eficiência e habilidade para realização de tarefas e adequação à organização. Os seus
principais indicadores da presença desta síndrome são: cansaço emocional, despersonalização e falta
de realização pessoal.
Quadro Clínico da Síndrome de Burnout
1. Esgotamento emocional, com diminuição e perda de recursos emocionais para adaptação ao meio.
2. Sintomas físicos de stress, tais como cansaço e mal-estar geral.
3. Transtornos psicossomáticos, traduzidos em fadiga crónica, dores de cabeça, insónia, úlceras
digestivas, hipertensão arterial, arritmias, desordens gastrointestinais, perda de peso, dores
musculares, alergias, etc.
4. Manifestações emocionais negativas: sentimentos subjectivos de falta de realização pessoal e
profissional; sensações de vazio, esgotamento, fracasso, impotência e baixa auto-estima.
5. Comportamentos desajustados: maior probabilidade de consumo de substâncias psico-aditivas (café,
álcool, fármacos e outras drogas), bem como condutas de inadaptação e evitamento social
(desconforto e ansiedade na presença dos outros; frequentes conflitos interpessoais no ambiente de
trabalho e dentro da própria família; distanciamento afectivo dos outros como forma de protecção do
ego; tendência para o isolamento; abstinência sexual; sérias dificuldades em manter ou iniciar novos
relacionamentos).
6. Comportamentos reactivos: inquietude, irritabilidade, desorientação, incapacidade de concentração,
depressão, comportamentos paranóides e/ou agressivos para com os clientes, companheiros e a
própria família.
7. Desumanização, que consiste em encarar o outro como um objecto destituído de valor, e que se
manifesta em insensibilidade ou cinismo para com outras pessoas com as quais tem de contactar.

 “O combate contra o stress no trabalho”

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O stress relacionado com o trabalho é um dos maiores desafios para a saúde e a segurança na Europa.
Cerca de um em cada quatro trabalhadores é afetado pelo stress, havendo estudos que o apontam como
responsável por 50% a 60% dos dias de trabalho perdidos. Ora, isto representa um custo enorme, tanto em
termos de sofrimento humano, como de desempenho económico.
Segundo dados de 2005, o stress é o segundo maior problema de saúde relacionado com o trabalho,
afetando 22% dos trabalhadores da UE 27. (…) 10

Note-se que em 2002, o custo económico do stress relacionado com o trabalho na EU 15 foi estimado
em 20 000 milhões de euros. Deste modo, a redução do stress relacionado com o trabalho e dos riscos
psicossociais constitui um imperativo, não apenas moral como jurídico. A boa notícia é o facto de o stress
relacionado com o trabalho poder ser tratado da mesma forma, lógica e sistemática, que qualquer outra
questão relacionada com a saúde e a segurança. (…) A Agência Europeia para a Segurança e Saúde no
Trabalho faculta o acesso a uma vasta gama de trabalhos de investigação sobre a eficácia das diferentes
abordagens de prevenção e tratamento do stress relacionado com o trabalho.

 Stress e Riscos Psicossociais: conselhos para as entidades patronais


As entidades patronais têm a obrigação de gerir o stress relacionado com o trabalho, através da Diretiva
89/391/CEE, relativa à saúde e à segurança na União Europeia. (…)
Entre os fatores a ter em conta no que respeita ao stress contam-se:
A carga de trabalho excessiva ou a exposição a perigos físicos;
O tipo de controlo exercido pelos trabalhadores sobre a forma como executam o seu trabalho;
O grau de compreensão, por parte dos trabalhadores, do papel que desempenham;
O tipo de relacionamento interpessoal – incluindo questões como o assédio e a violência;
O nível de apoio que os trabalhadores recebem dos colegas e das chefias;
A existência de formação de que os trabalhadores necessitem para executar bem o seu trabalho.
A ‘gestão do stress’ tem, tendencialmente, valorizado mais os indivíduos do que as organizações. Não
obstante, o mais importante para prevenir o stress relacionado com o trabalho e os riscos psicossociais é uma
boa organização e a gestão do trabalho. Mais vale prevenir as consequências do stress relacionado com o
trabalho do que procurar remediá-las depois de terem ocorrido.
 Stress e Riscos Psicossociais: conselhos para os trabalhadores
Entre os sintomas de stress relacionado com o trabalho a que deve estar atento destacam-se:
Mudanças de humor ou de comportamento, como problemas constantes com colegas, irritabilidade ou
incapacidade de cooperar com a equipa de trabalho;
Dificuldade em fazer face às tarefas, tomar decisões ou descontrolo na gestão;

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Consumo de maiores quantidades de álcool ou de tabaco, utilização de drogas ilegais, e queixas de


saúde - como dores de cabeça frequentes, insónias e problemas digestivos.
A entidade patronal tem o dever legal de proteger a saúde e segurança no trabalho. (…)
Entretanto, há medidas que pode tomar para não vir a sofrer de stress:
Pedir maior autonomia na planificação do seu próprio trabalho;
Pedir para participar nas decisões sobre a sua área de trabalho; 11

Falar com o seu chefe, com o representante dos trabalhadores ou com outros colegas que se mostrem
disponíveis se achar que está a ser alvo de assédio, registando o que aconteceu;
Falar com o seu chefe se as suas responsabilidades não estiverem bem definidas;
Solicitar formação (de base ou complementar), se a considerar necessária;
Falar com o seu chefe ou representante dos trabalhadores se começar a sentir que não é capaz de fazer
face às suas obrigações.
Além disso, melhorar o seu estilo de vida também ajuda: não resolve o problema, mas ajuda a evitar
ou a reduzir os danos. Essa melhoria passa por uma alimentação mais saudável, pela realização de mais
exercício, pelo relaxamento, ou pode optar por deixar alguns vícios e investir mais no convívio com a
família e os amigos. Se está preocupado com a sua saúde, vá ao médico.

REFLEXÃO:
o “O stress relacionado com o trabalho é um dos maiores desafios para a saúde e a segurança na
Europa.” Justifique.
o Em que medida as entidades patronais, no âmbito da União Europeia, são responsáveis pela
prevenção do stress no trabalho?
o Qual deverá ser o papel do trabalhador para prevenir o stress no seu trabalho?
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DR 3: CONTEXTO INSTITUCIONAL Tema: Medicinas e Medicação
Competências:
Relacionar a multiplicidade de terapêuticas com a diversidade cultural, respeitando opções diferenciadas.

 Os medicamentos
Um medicamento é um produto farmacêutico utilizado para curar, aliviar ou
prevenir doenças.
Os medicamentos são compostos por substâncias ativas e excipientes. Substância
ativa, ou princípio ativo, é a substância de estrutura química definida responsável por produzir uma

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alteração no organismo. Os excipientes completam a massa ou o volume especificado. Um excipiente é uma


substância inativa usada como veículo para fixar o princípio ativo.
Atualmente, fala-se muitos nos medicamentos genéricos. Um medicamento genérico não tem marca, no
entanto deve ser similar ao medicamento de marca, isto é, todos os medicamentos genéricos possuem a
mesma composição qualitativa e quantitativa da substância ativa. As indicações terapêuticas não podem
diferir relativamente ao medicamento de referência. 12

Os genéricos têm ainda de ser identificados pela Denominação Comum Internacional (DCI),
designação proposta pela Organização Mundial de Saúde, seguida do nome do titular da AIM (Autorização
de Introdução no Mercado), da dosagem e da forma terapêutica e, por fim, da sigla "MG".
(…)
Os genéricos chegaram a Portugal pelo ano de 1990. (…) Em Portugal a Infarmed – Autoridade
Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde - é a entidade competente do Ministério da Saúde, que regula
a avaliação, autorização, inspeção e controlo de produção dos medicamentos.
Os medicamentos genéricos “apareceram” na década de 60, por iniciativa do governo dos Estados
Unidos da América, o primeiro país a adotar esta política.
Há diversos tipos de medicamentos tópicos, alguns sobrepõem-se: agentes de limpeza, protetores, anti-
infecciosos, hidratantes, absorventes, os que aliviam os sintomas e os anti-inflamatórios.
Todos os fármacos podem ter efeitos adversos, nem sempre descobertos na fase dos testes, mas é
obrigatório trazer informação dos efeitos secundários junto ao medicamento.
(…)
http://rvccsecundario.blogspot.pt/2010/11/os-medicamentos.html

 Medicina Convencional vs. Alternativa


A medicina é uma das áreas do conhecimento humano ligada à manutenção e restauração da saúde. Esta
trabalha num sentido vasto com a prevenção das doenças humanas num contexto médico. A medicina utiliza
os conhecimentos de diversas áreas científicas, como a Biologia, a Química, a Física, Antropologia e
Epidemiologia.
A saúde consiste no bem-estar físico, mental, psicológico e social de cada pessoa. Faz-se exercer por
acumulação e deve ser promovido ao longo da vida de maneira a assegurar que os seus benefícios sejam
desfrutados.
A Medicina Convencional
Refere-se a práticas, abordagens e conhecimentos com conceitos materiais, técnicas manuais e exercícios
aplicados individualmente ou combinados em indivíduos ou a uma coletividade de forma a tratar,
diagnosticar e prevenir doenças, visando o bem-estar.
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Vantagens:
- É menos dispendiosa;
- É mais rápida na atuação;
- Os seus conhecimentos são cientificamente provados.
Desvantagens:
- Certos medicamentos têm efeitos secundários e podem ser nocivos. 13

A Medicina Alternativa
É um conjunto de procedimentos que visam a cura e o bem-estar, que diferem a partir da prática medicinal
Ocidental. É derivada de medicamentos antigos e práticas de cura originadas em culturas antigas que, mais
tarde, são adaptadas para medicamentos modernos.

Medicina Convencional Medicina Alternativa


Baseada em evidências Sem validação científica
Pode incluir práticas espirituais e
Procura através de técnicas e pesquisas científicas o
metafísicas, tradições não-europeias,
melhor tratamento
técnicas novas de cura, entre outros
Engloba os métodos e práticas utilizadas
Utiliza antibióticos, anti-inflamatórios, analgésicos,
em adição ou em vez do tratamento
antipiréticos, entre outros
médico convencional
Não tradicional Tradicional
Relativamente recente Método antigo
Rejeita o efeito placebo Aceita o efeito placebo

Aspetos Comuns
Ambas têm como objetivo apresentar resultados eficientes nos seus pacientes. E ambas têm como objetivo
tratar doenças, embora de formas diferentes.
http://opesodasmedicinas.blogs.sapo.pt/1523.html

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DR 4: CONTEXTO MACROESTRUTURAL Tema: Patologias e Prevenção
Competências:
Mobilizar saberes culturais, linguísticos e comunicacionais para lidar com patologias e cuidados
preventivos relacionados com o envelhecimento e o aumento da esperança de vida.

Envelhecimento
Participei, esta semana, na Fundação Gulbenkian, num seminário sobre a saúde e o envelhecimento.
Valeu a pena recordar um problema que muito fazemos para ignorar. São quase dois milhões os idosos de
mais de 65 anos, um quinto da população e um quarto do corpo eleitoral.

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Núcleo Gerador 3 – SAÚDE
Área de Competência: CULTURA, LÍNGUA E COMUNICAÇÃO

Uma inspiração marcante do Estado providência é a do cuidado a ter para com os mais fracos: crianças,
idosos e doentes. Acontece que foram imensos os progressos feitos no cuidado das crianças e dos doentes e
foi menor, muito menor, a atenção prestada aos idosos. Não falo só dos cuidados prestados pelo Estado: falo
da sociedade em geral, de todos nós. A verdade é que, as mais das vezes, os velhos não existem. Cruzamo-
nos todos os dias com eles, mas, como se fossem invisíveis, nem os vemos.
Diz-se que o progresso da medicina tem sido enorme, o que é verdade se olharmos para o alongamento 14

da esperança de vida. Povos europeus que, ainda há poucas décadas, tinham um horizonte de cinquenta
anos, podem hoje esperar viver até aos oitenta. É a isso (e à quebra da natalidade) que se deve o
envelhecimento pronunciado das sociedades. Mas esse ganho de tempo nem sempre representa um
melhoramento da condição de vida. Nas últimas décadas, a marginalidade e a solidão dos idosos não
pararam de crescer. É possível que, para evitar o envelhecimento solitário, nenhum idoso queira morrer
mais cedo. Compreende-se. Mas tal verificação não é fundamento para que baste uma esperança de vida
mais longa. Ao mesmo tempo que as crianças são objecto de toda a espécie de protecção (para os pais irem
trabalhar), são cada vez mais os idosos que deixam a casa da família, vivem sozinhos, residem em lares,
arrastam-se por hospitais e casas de saúde, enfim, morrem sozinhos. Felizes os que não duram o suficiente
para perceberem que são um fardo. Felizes os que não são objecto de encarniçamento médico. Felizes os que
morrem depressa.
A não ser que sejam velhos, os doentes poderão amanhã ser saudáveis. É o que eles esperam e é o que
todos esperam por eles. As crianças serão amanhã trabalhadores, técnicos e profissionais. Se eles não esperam
ainda, outros, os pais, esperam por eles. Os idosos, esses, amanhã não serão nada. Eles próprios não têm
esperança. Deles nada se espera. Ou antes, os outros esperam que os velhos os não incomodem, os não
impeçam de trabalhar, divertir-se, passar férias, viajar e sair à noite. E às vezes esperam heranças.
Olhemos para eles, arrastando-se num jardim público, sozinhos ou aos pares. Por vezes, com ar de
estarem "a ser passeados", atrás dos filhos, nem sempre com afecto e vontade suficientes. No centro
comercial, sem poder de compra, não são bons clientes, poucos se interessam por eles. Ficam horas a olhar
para as montras. Já não têm força para subir escadas, nem para carregar embrulhos. Demoram eternidades a
contar os trocos. Enganam-se nas compras e nas filas de espera. Andam devagarinho, à procura de um banco,
em geral ausente, de uma casa de banho, quase sempre cheia. Fogem dos locais com mais movimento, têm
medo que tropecem neles. Quantos não desejariam, acima de tudo, ser independentes e não precisar dos
outros para tudo! E, no entanto, são muitas vezes a imagem mesmo da dependência. O que só aumenta o seu
sofrimento. Porque padecem de tudo: da dependência e da solidão. Da dependência dos outros e da solidão
sem os outros.

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Núcleo Gerador 3 – SAÚDE
Área de Competência: CULTURA, LÍNGUA E COMUNICAÇÃO

A sociedade, para os velhos, não voltará a ser o que muitos pensam e nem sempre foi verdade: o fim
de vida passava-se com as novas gerações. Não é possível imaginar uma evolução tal que os idosos possam
um dia terminar os seus dias em companhia daqueles de quem gostam, os do seu sangue e da sua história.
O problema é sério. Obrigados a trabalhar dias inteiros, homens e mulheres, filhos e filhas, netos e netas, não
podem passar os dias a tratar dos seus velhos e a fazer-lhes companhia.
Conhecemos, neste século, mil e um progressos: culturais, políticos, sanitários, tecnológicos e de bem- 15

estar. Mas, num caso, talvez num só, o dos idosos, conhecemos mais regressos e crueldade do que progressos.
As gerações activas separam-se dos seus idosos de modo irreversível. A sociedade está organizada para
quem produz. Eventualmente para quem virá a render amanhã. Mas não está, definitivamente não está
organizada para quem cumpriu o seu tempo e os seus deveres, para quem já rendeu e produziu, para quem
espera acabar com algum calor e morrer em paz. Para esses, as famílias e os poderes preparam instituições e
mecanismos capazes, não de lhes dar o que precisam, mas de lhes fornecer aquilo de que nós precisamos:
ver os velhos à distância. Sozinhos ou em lares. Arrumados. As sociedades da eficácia e da competitividade
querem os velhos estacionados, tão imóveis quanto possível, tão amestrados quanto imaginável e tanto de
boa saúde quanto for útil para os outros, os mais novos: a isso, chamam-lhe conforto. Ou solidariedade.
Para além de tudo o mais que não possuem (força física, resistência, esperança, poder de compra...), os
idosos não têm capacidade reivindicativa. Quer isto dizer que os poderes públicos, os afortunados, as
organizações sociais e todos os grupos humanos só acodem aos velhos se a tal forem forçados. Ou por
interesse e egoísmo. Por isso os esquecem e desprezam. Tratar dos idosos sem interesse e por afecto: é a mais
drástica prova que as sociedades enfrentam, a prova da sua humanidade. Pelo que conhecemos hoje, a
resposta não é famosa. Em vez de promover a actividade e de prolongar o tempo de utilidade e ocupação, as
sociedades esmeram-se em cuidar do limite de idade.
Há, todavia, uma boa notícia para os velhos. Lentamente, vão adquirindo uma força inesperada: a sua
capacidade eleitoral. Dentro de alguns anos, serão mais do que um terço do eleitorado. Nessa altura, quando
os adultos precisarem deles, os velhos terão tudo. Menos afecto e companhia.
BARRETO, António – Os Velhos, 10 de Dezembro de 2000
http://visao.sapo.pt/opiniao/ostrabalhoseosdias/natalidade-crescimento-e-apocalipse=f786263

1. Explique de que forma a sociedade encara os idosos.

2. Enuncie os mecanismos que o Estado coloca à disposição do idoso.

3. Comente o último parágrafo do texto.


A Formadora,
Tânia Oliveira

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Núcleo Gerador 3 – SAÚDE

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