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de Terapêutica Hormonal
da Menopausa
2014
Editores:
Maria Celeste Osório Wender
Apoio Realização
Apoio Realização
http://www.menopausa.org.br/
http://www.menopausa.org.br/
Consenso Brasileiro
de Terapêutica Hormonal
da Menopausa
2014
Editores:
Maria Celeste Osório Wender
Luciano de Melo Pompei
César Eduardo Fernandes
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio ou sistema, sem prévio consentimento da editora, ficando
os infratores sujeitos às penas previstas em lei.
Wender, Maria Celeste Osório; Pompei, Luciano de Melo; Fernandes, César Eduardo
Consenso Brasileiro de Terapêutica Hormonal da Menopausa – Associação Brasileira de Climatério (SOBRAC) – São Paulo:
Leitura Médica, 2014.
Bibliografia
ISBN 978.85.61125.82.0
1. Consenso 2. Menopausa
3. Terapêutica hormonal 4. Consenso brasileiro
I. Título II. Associação Brasileira de Climatério (SOBRAC)
Impresso no Brasil
2014
Prefácio
Consenso Brasileiro de Terapêutica Hormonal da Menopausa – SOBRAC, 2014
6
11. Quais os efeitos da terapêutica hormonal sobre o risco de câncer de mama?
A terapêutica hormonal pode ser indicada após o tratamento desse câncer?____ 83
Luciano de Melo Pompei, César Eduardo Fernandes, Nilson Roberto de Melo
12. Quais os efeitos da terapêutica hormonal sobre o risco de cânceres
de endométrio, ovário e colo uterino? A terapêutica hormonal pode ser
indicada após o tratamento desses cânceres?____________________________ 89
Eliana Aguiar Petri Nahas, Jorge Nahas Neto
13. Quais os efeitos da terapêutica hormonal sobre o risco de cânceres do tubo
digestivo e do sistema respiratório? A terapêutica hormonal pode ser
indicada após o tratamento desses cânceres?____________________________ 99
Rogério Bonassi Machado
14. Quais os efeitos da terapêutica hormonal sobre o risco de outros cânceres?
A terapêutica hormonal pode ser indicada após o tratamento
desses cânceres?_________________________________________________ 105
Rogério Bonassi Machado
15. Quando indicar, como realizar e qual a duração da terapêutica
androgênica para mulheres na pós-menopausa?_________________________ 111
Jaime Kulak Junior
16. Posição sobre os denominados hormônios bioidênticos____________________ 115
Rodolfo Strufaldi
17. Quais as reais contraindicações para a terapêutica hormonal? ______________ 121
Luciano de Melo Pompei, César Eduardo Fernandes, Eliana Aguiar Petri Nahas,
Jorge Nahas Neto, Karen Oppermann, Marcelo Luis Steiner, Poli Mara Spritzer,
Rogério Bonassi Machado
18. Como tratar os sintomas vasomotores sem o emprego
da terapêutica hormonal?___________________________________________ 127
Lucia Helena S. da Costa Paiva, Luiz Francisco C. Baccaro
19. Conclusões da reunião plenária______________________________________ 135
Relatores e correlatores
Aarão Mendes Pinto-Neto Luiz Francisco C. Baccaro
- Professor titular do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências - Doutor em Tocoginecologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Médicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) - Pesquisador de pós-doutorado do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade
de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Ben-Hur Albergaria
- Professor de Epidemiologia Clínica da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) Marcelo Luis Steiner
- Vice-presidente da Comissão Nacional de Osteoporose da Federação Brasileira das - Doutor em Ginecologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP)
Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) - Professor afiliado do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de
- Diretor técnico do Cedoes _ Diagnóstico e Pesquisa de Osteoporose Medicina do ABC (FMABC)
- Responsável pelo Ambulatório de Osteoporose do Hospital da Mulher Prof. Dr. José
Carolina Leão Oderich Aristodemo Pinotti de São Bernardo do Campo (CAISM-SBC)
- Professora assistente de Medicina da Universidade Federal de Integração Latino-
Americana (UNILA) Maria Celeste Osório Wender
- Mestre em Medicina/Ciências Médicas e doutoranda em Medicina/ - Presidente da Associação Brasileira de Climatério (SOBRAC)
Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) - Professora associada do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade
- Especialista em Ginecologia e Obstetrícia pela Federação Brasileira das Sociedades de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) - Coordenadora do Ambulatório de Climatério e Contracepção em Situações Especiais
do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA)
César Eduardo Fernandes
- Professor titular da Disciplina de Ginecologia da Faculdade de Medicina do ABC Marisa Teresinha Patriarca
(FMABC) - Doutora em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
- Diretor científico da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo
(SOGESP) Nilson Roberto de Melo
- Presidente da Comissão Científica da Associação Brasileira de Climatério (SOBRAC) - Professor livre-docente em Ginecologia pela Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (FMUSP)
Eliana Aguiar Petri Nahas - Diretor científico da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e
- Professora doutora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Obstetrícia (FEBRASGO)
Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Membro do Executive Board da International Society of Gynecological Endocrinology
15
tivas em melhorar as ondas de calor para algu- esses sintomas como atrofia vulvovaginal rela-
mas mulheres5 (nível de evidência: A). Devido cionada com a menopausa8 (nível de evidência:
à resposta variável à TH e aos riscos associados, A). Nessa pesquisa, perguntou-se às mulheres se
recomenda-se individualizar a terapia, tratando o desconforto vaginal afetou suas vidas. Entre as
as mulheres com a menor dose efetiva e pelo mulheres norte-americanas que responderam,
menor período de tempo necessário. 80% consideraram ter afetado negativamente
Assim, a eficácia da terapêutica hormonal suas vidas; 75% relataram consequências ne-
para aliviar os sintomas vasomotores está muito gativas sobre a vida sexual; 68% mencionaram
bem estabelecida, sendo considerada o trata- ter se sentido menos atraentes sexualmente;
mento mais efetivo para os sintomas vasomo- 36% disseram ter se sentido mais velhas; 33%
tores em mulheres na peri e pós-menopausa em relataram efeitos negativos sobre o casamento
qualquer idade, sendo que os benefícios sobre- ou relacionamento; 26% mencionaram efeito
põem os riscos quando indicada para mulheres negativo sobre a autoestima; 25% responderam
abaixo de 60 anos e com menos de dez anos de que a atrofia vulvovaginal reduzia a qualidade
menopausa. de vida10 (nível de evidência: A).
A terapia estrogênica promove o cresci-
Sintomas urogenitais mento celular vaginal e a maturação celular,
A atrofia vulvovaginal é um termo que se re- promove a recolonização com lactobacilos, au-
fere especificamente às mudanças nas superfí- menta o fluxo sanguíneo vaginal, diminui o pH
cies vaginais e vulvares que, ao exame, mostram vaginal para os níveis da menacme, melhora a
uma mucosa fina, pálida e seca. Os sintomas as- espessura e a elasticidade vaginal e a resposta
sociados a essa atrofia, como falta de lubrificação sexual11 (nível de evidência: D). Uma revisão
e dispareunia, afetam de 20% a 45% das mulhe- da Cochrane Library mostrou que o estrogênio
res na pós-menopausa6,7 (nível de evidência: A), melhora os sintomas vaginais. Todas as formu-
podendo ser progressivos e se intensificar sem lações vaginais para uso tópico demonstraram
tratamento. Muitas pesquisas com mulheres na melhora dos sintomas e dos resultados citoló-
pós-menopausa, como a Vaginal Health: Insights, gicos vaginais quando comparadas com estro-
Views & Attitudes (VIVA)8 (nível de evidência: gênio por via oral. Os efeitos adversos foram
A) e a Real Women’s Views of Treatment Options menos evidentes com os preparados vaginais12
for Menopausal Vaginal Changes (REVIVE)9 (ní- (nível de evidência: A). O tratamento para a
vel de evidência: A), têm mostrado que a atrofia atrofia vulvovaginal geralmente consiste em
vulvovaginal afeta negativamente a saúde se- uma dose diária de ataque, seguida por redução
xual e a qualidade de vida. Na pesquisa on-line desta até alcançar a mínima dose que mante-
VIVA, realizada em seis países, cerca de 45% nha a integridade vaginal.
das mulheres na pós-menopausa relataram ter Doses tão baixas como 10 mcg/dia de es-
sintomas vaginais, mas apenas 4% identificaram tradiol em creme ou 10 a 25 mcg na forma de
Qualidade de vida
A TH pode melhorar a qualidade de vida
(QV) relacionada com a saúde em mulheres Referências bibliográficas
sintomáticas mediante melhora dos sintomas,
1. Welton AJ, Vickers MR, Kim J, et al. Health rela-
desordens do sono, humor e função sexual30-32
ted quality of life after combined hormone repla-
(nível de evidência: A). Entretanto, não exis- cement therapy: randomised controlled trial. BMJ.
tem evidências claras de que TH melhore a 2008;337:a1190.
2. MacLennan AH, Broadbent JL, Lester S, et al. Oral
QV em mulheres assintomáticas30 (nível de evi- oestrogen and combined oestrogen/progestogen the-
dência: A). Em relação à função ou capacidade rapy versus placebo for hot flushes. Cochrane Database
física como um dos parâmetros de QV, dados of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library, Is-
sue 1, Art. No. CD002978. DOI: 10.1002/14651858.
do WHI não mostraram nenhum benefício de CD002978.pub1
TH em mulheres com 65 anos ou mais33 (nível 3. Nelson HD. Commonly used types of postmenopausal
estrogen for treatment of hot flashes: scientific review.
de evidência: A).
JAMA. 2004;291:1610-20.
4. Utian WH, Shoupe D, Bachmann G, et al. Re-
Conclusões da plenária lief of vasomotor symptoms and vaginal atrophy
with lower doses of conjugated equine estrogens
• O tratamento dos sintomas vasomotores and medroxyprogesterone acetate. Fertil Steril.
intensos e moderados permanece como 2001;75:1065-79.
Por quanto tempo manter a terapêutica sete anos, foi demonstrada redução no risco de
hormonal? câncer de mama (RR: 0,8; IC95%: 0,62 – 1,04)2
A duração do tratamento da sintomatologia (nível de evidência: A). Em uma análise de um
climatérica com a terapêutica hormonal (TH) subgrupo dessas pacientes, houve diminuição
na pós-menopausa continua sendo um dos as- significativa no risco de câncer de mama invasi-
suntos mais controversos na literatura. À luz do vo (RR: 0,71; IC95%: 0,52 – 0,99) em usuárias
conhecimento, está relacionada com a duração de estrogênio isolado por até sete anos3 (nível
dos melhores estudos em termos de classifica- de evidência: A).
ção de risco, em que o câncer de mama tem um Quanto a outras situações clínicas relacio-
importante papel no que diz respeito ao tempo nadas ao uso de TH, dados obtidos a partir do
de utilização da TH. seguimento por três anos de mulheres que par-
O estudo Women’s Health Initiative (WHI) ticiparam do estudo WHI e que suspenderam o
demonstrou aumento do risco de câncer de uso de TH indicam que usuárias de EEC asso-
mama em usuárias de TH estroprogestativa ciados a AMP tinham risco de doença cardio-
[estrogênio equino conjugado (EEC) + aceta- vascular, fraturas e câncer de cólon equivalente
to de medroxiprogesterona (AMP)] por mais ao de mulheres que haviam sido alocadas ao
de cinco anos (RR: 1,24; IC95%: 1,01 – 1,54)1 grupo placebo4 (nível de evidência: A). Por ou-
(nível de evidência: A). Entretanto, em usuárias tro lado, mulheres sem útero usuárias somente
de TH contendo somente EEC por, em média, de estrogênio e acompanhadas por três anos
23
após suspensão do tratamento não demonstra- gradativa (redução de um comprimido por se-
ram aumento ou redução do risco de doença mana por mês). A média etária foi de 56,8 ±
cardiovascular, trombose venosa profunda, fra- 4,2 anos e elas estavam usando TH por 8,8 ±
tura do colo femoral, câncer de colón ou mes- 3,8 anos. Após três meses de descontinuação de
mo aumento da mortalidade5 (nível de evidên- TH, o grupo 1 demonstrou mais severidade dos
cia: A). sintomas climatéricos que o grupo 2. Após seis
O tempo de manutenção da TH deve ser meses de descontinuação, o grupo 2 apresentou
considerado de acordo com os objetivos da pres- piora dos sintomas de hipoestrogenismo, espe-
crição e também com os critérios de segurança cialmente dos sintomas vasomotores, em com-
na utilização. O uso de TH é uma decisão indi- paração ao grupo 1. Em nove e 12 meses após a
vidualizada em que a qualidade de vida e fatores suspensão da TH, não houve diferença entre os
de risco, como idade, tempo de pós-menopausa, grupos, tendo ambos apresentado igual taxa de
risco individual de tromboembolismo, doença recorrência da sintomatologia climatérica; 42%
cardiovascular e câncer de mama, devem sem- das mulheres do grupo 1 e 36% das mulheres
pre ser avaliados. Além disso, o momento do do grupo 2 reiniciaram o uso de TH no nono
início da TH, a dose e a via de administração mês7 (nível de evidência: B).
parecem ter um importante papel na tomada Outro estudo aberto avaliou 70 mulheres
de decisão. Vale acrescentar que em uma rea- randomicamente divididas, tendo 35 delas (gru-
nálise do estudo WHI6 (nível de evidência: A) po 1) suspensão imediata e 35 (grupo 2), suspen-
as mulheres que tiveram maior benefício com o são gradativa (uso em dias alternados por duas
uso de TH foram aquelas com idade entre 50 e semanas e descontinuação após). As pacientes
59 anos ou com menos de dez anos de pós-me- foram avaliadas após quatro semanas, não tendo
nopausa. Esses benefícios incluem redução da havido diferença significativa entre os dois gru-
incidência de doença cardiovascular e da mor- pos no que diz respeito à severidade e à frequên-
talidade e podem influir na decisão. cia dos sintomas8 (nível de evidência: B).
Um terceiro estudo feito com base em
Como suspender a terapêutica hormonal? questionários e informações obtidas através
Há poucas evidências na literatura que po- da base de dados do gerenciamento de farmá-
dem servir de modelo no que diz respeito a cias avaliou 836 mulheres, das quais 75% delas
como se deve suspender o uso de TH. Dois suspenderam TH de forma imediata e 25%,
métodos são geralmente propostos: a suspensão gradativamente (métodos de descontinuação
imediata ou gradativa. variados). As que suspenderam de forma gra-
Um estudo aberto e controlado avaliou 91 dativa relataram menores escores relativos aos
mulheres de 48 a 73 anos de forma randomiza- sintomas climatéricos, porém estavam mais
da, dividindo-as em dois grupos: grupo 1, com inclinadas a retornar ao uso de TH9 (nível de
suspensão imediata, e grupo 2, com suspensão evidência: B).
Por quanto tempo manter a terapêutica hormonal e como suspender esse tratamento? 25
8. Aslan E, Bagis T, Kilicdag EB, et al. How best is to there a difference in recurrence of menopausal symp-
discontinue postmenopausal hormone therapy: imme- toms? Menopause. 2009;16(3):494-9.
diate or tapered? Maturitas. 2007;56(1):78-83. 10. Rolnick SJ, Jackson J, Kopher R, et al. Provider
9. Haskell SG, Bean-Mayberry B, Gordon K. Discontin- management of menopause after the findings of the
uing postmenopausal hormone therapy: an observa- Women’s Health Initiative. Menopause. 2007;14(3 Pt
tional study of tapering versus quitting cold turkey: is 1):441-9.
27
TH sobre a massa óssea e fraturas reduzem-se Por outro lado, a TH tópica local pode bene-
rapidamente após a descontinuação do trata- ficiar algumas mulheres com bexiga hiperativa.
mento5,6. Após alguns anos de sua interrupção, Realizou-se um estudo com 59 mulheres para
a incidência cumulativa de fraturas de quadril comparar a eficácia do anel vaginal com estra-
foi a mesma no grupo tratado ou no placebo, diol de ultrabaixa dose com a da oxibutinina,
sugerindo que deve haver uma transição para por via oral, no tratamento da bexiga hipera-
um tratamento diferente de osteoporose ou tiva em mulheres na pós-menopausa. Aquelas
uma estratégia de prevenção para preservar a que receberam oxibutinina tiveram diminuição
massa óssea6. No Study of Osteoporotic Fractures média de três perdas miccionais ao dia e as que
(SOF), as mulheres com mais de 65 anos com receberam anel vaginal, diminuição média de
história de menopausa precoce e sem TH apre- 4,5 perdas miccionais ao dia (p > 0,005). Logo,
sentaram mais fraturas de quadril do que o gru- ambas terapêuticas parecem ser igualmente
po menopausado na média esperada de idade7. eficazes em diminuir o número de perdas mic-
cionais ao dia em mulheres na pós-menopausa
Sintomas geniturinários com bexiga hiperativa10, podendo ser utilizadas
Além do alívio dos sintomas vasomotores, a como adjuvantes ou como terapêuticas alterna-
TH também parece apresentar benefícios sobre tivas (nível de evidência: B).
a função sexual e a urinária. O uso de estrogênio Dois estudos mostraram risco diminuído de
tópico em baixa dose pode melhorar a satisfa- infecção do trato urinário recorrente mediante
ção sexual por aumentar a lubrificação, o fluxo a utilização de estrogênio intravaginal11,12 (ní-
sanguíneo e a sensibilidade da mucosa vaginal, vel de evidência: B). Um ensaio clínico, duplo-
embora não haja evidências suficientes que cor- cego, randomizado e controlado por placebo
roborem efeito significativo da TH na melhora demonstrou redução de risco na recorrência
do interesse sexual, da excitação ou da resposta das infecções de 0,5 versus 5,9 episódios/pa-
orgásmica8. Essa via de utilização também pa- ciente-ano (P < 0,001)11, o que os autores rela-
rece melhorar casos de incontinência urinária cionaram a normalização da flora e redução da
por bexiga hiperativa e de infecções urinárias colonização por E. coli. Porém, esse benefício
de repetição (nível de evidência: B). Porém, não parece se associar ao uso de estrogênio tópico,
deve ser usado como terapêutica principal para e não oral13,14.
tratar disfunções sexuais ou perda de libido,
nem para disfunções do trato urinário. Distúrbios do humor e do sono
Em um dos braços do Women’s Health Ini- Em relação ao impacto da TH sobre o hu-
tiative (WHI), TH não se correlacionou com mor em mulheres na pós-menopausa, os resul-
maior persistência da atividade sexual ou da li- tados são controversos. Para aquelas sem diag-
bido9, não sendo recomendada como terapêuti- nóstico de depressão clínica, alguns pequenos
ca principal (nível de evidência: A). ensaios clínicos sugerem benefícios da TH so-
35
continência urinária em mulheres na pós-me- noites pré-coleta é suficiente para qualificar o
nopausa. A terapêutica hormonal (TH) pode exame citológico, com diminuição da atrofia7
melhorar os sintomas irritativos da atrofia va- (nível de evidência: B).
ginal, como ressecamento, prurido, dispareunia, Para mulheres com vulvovaginite atrófica que
sintomas urinários e modificações da microbio- não respondem ao tratamento não hormonal,
ta vaginal causadas pelo aumento do pH vagi- doses baixas de estrogênio tópico podem gerar
nal. Além disso, há evidências sugerindo ação grandes benefícios.
profilática do uso de estrogênio tópico contra O efeito terapêutico do ETV tem sido ob-
infecções urinárias de repetição (nível de evi- servado por reduzir a recorrência do risco de
dência: A). infecção urinária8 e bexiga hiperativa9. Contu-
Os riscos e benefícios da hormonioterapia do, pesquisas mostram que a TH tem sido as-
sistêmica já foram bem revisados e mostraram sociada a aumento de incontinência urinária10 e
que, em mulheres sintomáticas mais jovens do cálculo renal11 (nível de evidência: A).
que 60 anos ou com menos de dez anos de pós- O ETV em pequenas doses tem sido con-
menopausa, os benefícios superam os riscos4. siderado de reduzido risco, pois produz baixas
Quando a TH sistêmica é necessária para tratar doses de níveis séricos, sendo, em geral, mais
outros sintomas, tais como fogachos, a mulher baixos que os produzidos pela própria pós-me-
sente-se bem com a melhora dos sintomas uro- nopausa. A dose de 0,3 mg de creme de estro-
genitais conjuntamente, e somente 10% a 15% gênios conjugados não produz alteração nos
daquelas que usam TH sistêmica necessitam níveis de estrogênios séricos12. Podem ocorrer
complementar seu tratamento com baixas do- queixas de candidíase vulvovaginal, sangra-
ses de estrogênio tópico vaginal (ETV)5. mento vaginal e dor mamária com o uso de ET.
Em uma análise secundária do estudo Wo- Uma revisão de 2006 da Cochrane Library
men’s Health Initiative (WHI), naquelas mu- não verificou aumento de risco de tromboem-
lheres com útero intacto, a TH ocasionou piora bolismo venoso (TEV) em usuárias de ETV13
da incontinência urinária e das infecções uriná- (nível de evidência: B).
ria de repetição. Tais desfechos não constavam Um estudo que avaliou a segurança do uso de
do objetivo primário do estudo, o qual não foi 10 mcg de estradiol por via vaginal foi realizado
desenhado para avaliar esses efeitos, o que pode em 336 mulheres com útero na pós-menopausa
explicar a falta de plausibilidade biológica dos por 52 semanas de tratamento. Ao final do es-
achados6 (nível de evidência: B). tudo, não houve aumento da proliferação ou hi-
Por causa da atrofia urogenital da pós-me- perplasia endometrial14 (nível de evidência: B).
nopausa, o exame de citologia cervicovaginal Poucas pesquisas avaliaram a segurança de
(Papanicolaou) é frequentemente insatisfató- ETV em mulheres com câncer de mama. Em
rio ou apresenta alterações que prejudicam o um estudo caso-controle, as pacientes que rece-
exame. O uso de estrogênio vaginal por cinco beram tamoxifeno ou IAs para câncer de mama
39
na coluna lombar e 4,1% no colo femoral. A dência: A). No WHI, braço estrogênico iso-
metanálise reportou também um forte efeito lado [WHI (E)], 10.739 mulheres menopau-
de dose-resposta da TH na DMO quando os sadas histerectomizadas, com idade entre 50 e
vários estudos eram agrupados por dose para 79 anos, foram randomizadas para EEC 0,625
comparação. Aos dois anos, aumentos médios mg diariamente ou placebo. Após média de seis
de DMO na coluna lombar eram de 3,9% e anos, DXA realizada em um subgrupo de 938
8,0% com o uso de doses equivalentes de estro- participantes demonstrou aumento de 7,1% na
gênios equinos conjugados (EECs) de 0,3 mg coluna lombar entre aquelas randomizadas para
e 0,9 mg, respectivamente. Uma comparação EEC comparado com aumento de 1,9% nas
entre os diversos estudos também demonstrou randomizadas para placebo. No fêmur, houve
efeito dose-resposta3 (nível de evidência: A). aumento estatisticamente significativo de 1,8%
Dois ECRs grandes e de longa duração con- de DMO com o uso de EEC e perda de 1,95%
firmaram os achados anteriores. No Postmenopau- nas pacientes alocadas no grupo placebo7 (nível
sal Estrogen-Progestin Intervention Trial (PEPI), de evidência: A).
875 mulheres menopausadas com idade de 45 a A via de administração não parece ser um
64 anos foram randomizadas para EEC 0,625 fator na efetividade da TH em preservar a mas-
mg/dia, EEC 0,625 mg associado a P [acetato sa óssea. THs oral, transdérmica e vaginal têm
de medroxiprogesterona (AMP) ou progesterona demonstrado efeitos benéficos na DMO8-10
micronizada (PM)] diariamente ou placebo, por (nível de evidência A). A dose sistêmica de E
três anos. As pacientes alocadas para TH experi- liberada por um anel vaginal de 0,05 mg de
mentaram aumento de DMO de 3,5% a 5% na estradiol produz níveis estrogênicos plasmáti-
coluna lombar e 1,7% no colo do fêmur, compa- cos suficientes para aumentar a DMO. Já anéis
rado à perda de 1,7% e 1,8% na coluna e no colo com dose mais baixa de estradiol, desenhados
do fêmur, respectivamente, naquelas designadas especificamente para efeito local vaginal, não
para o grupo placebo5 (nível de evidência: A). impactam a DMO10. Entretanto, em relação a
No estudo Women’s Health Initiative (WHI), E transdérmico, a ultrabaixa dose de 0,014 mg
braço estroprogestativo [WHI (E+P)], 16.608 de estradiol demonstrou ser efetiva em mu-
mulheres menopausadas com idade entre 50 e lheres entre 60 e 80 anos, com mais de cinco
79 anos foram randomizadas para EEC 0,625 anos desde a menopausa e T-score de -2 ou
mg associado a AMP 2,5 mg diariamente ou menos11 (nível de evidência: A). DMO foi 2%
placebo. A densitometria óssea (DXA) foi rea- maior na coluna lombar nas usuárias de adesivo
lizada em um subgrupo de 1.024 participantes. transdérmico de estradiol do que no placebo e
Comparados a placebo após seguimento médio 1,2% maior no fêmur (p < 0,001). Tipicamente,
de cinco anos, E+P aumentaram significativa- maiores aumentos de DMO têm sido relatados
mente a DMO na coluna lombar e fêmur em com o uso de doses convencionais de E (0,625
4,5% e 3,7%, respectivamente6 (nível de evi- mg de EEC ou equivalente).
Quais os efeitos da terapêutica hormonal na massa óssea e no risco de fratura por fragilidade óssea? 41
Dois grandes estudos observacionais mere- Uma diferença interessante entre o WHI e a
cem atenção especial: o Million Women Study, metanálise de Torgensen e Bell-Seyer28 é que o
uma grande coorte prospectiva britânica com ECR demonstrou que o efeito benéfico da TH
138.737 mulheres na pós-menopausa, com ida- na redução de fraturas não é influenciado pela
de de 50 a 69 anos, que foram observadas por idade da paciente nem pelo tempo decorrido
um período médio de 2,8 anos. Nesse estudo, as desde a menopausa, como sugeria a mencio-
usuárias de TH apresentaram significativa re- nada metanálise. Além disso, o WHI demons-
dução de 38% no risco de fraturas (p < 0,001). trou que a eficácia antifratura da TH não difere
Como esse estudo incluiu uma variedade de de acordo com outros reconhecidos fatores de
regimes hormonais, uma comparação entre os risco para fraturas, incluindo índice de massa
regimes pôde ser feita. Tais comparações de- corpórea, baixa ingestão de cálcio, história de
monstraram apenas pequenas diferenças no quedas ou histórico pessoal/familiar de fratu-
efeito dos vários regimes, sugerindo fortemen- ras6,7 (nível de evidência: A).
te um efeito de classe25 (nível de evidência: A). É importante também ressaltar que o deli-
Outro importante estudo observacional foi o neamento do WHI não satisfez os padrões ha-
National Osteoporosis Risk Assessment (NORA), bituais de ECRs de fármacos para o tratamento
com 200.160 mulheres com idade igual ou da osteoporose, pois o diagnóstico de osteopo-
superior a 50 anos, demonstrando taxas 25% rose não era um requerimento de elegibilidade
a 29% mais baixas de fraturas em usuárias de para o estudo. DMOs da coluna lombar e fê-
TH24 (nível de evidência: A). mur proximal foram medidas no WHI, mas em
ECRs também têm demonstrado reduções apenas 6% dos participantes (1.024 mulheres),
no risco de fratura estatisticamente significati- como anteriormente mencionado. Em geral, o
vas com o uso de TH. O estudo WHI é o maior T-score médio foi de -1 no fêmur e -1,3 na co-
ECR com dados de fratura para TH. Ambos os luna vertebral; T-scores não diferiram entre os
braços do WHI, terapia com E isolado e com- grupos. Aproximadamente 10% das mulheres
binação estroprogestativa, demonstraram redu- do grupo E+P foram consideradas como tendo
ção aproximada de 30% nas fraturas de quadril osteoporose com base em seu índice T em com-
e fraturas vertebrais clínicas, além de 24% a 29% paração com 12% no grupo do placebo. Essa di-
de redução em todas as fraturas osteoporóticas, ferença não foi estatisticamente significativa. A
sendo todos esses achados estatisticamente sig- maioria das mulheres (53% a 58%) foi conside-
nificativos6,7 (nível de evidência: A). De maneira rada como tendo baixa massa óssea e, em cerca
geral, esses achados são consistentes com os da- de um terço das participantes, a DMO foi con-
dos observacionais mencionados anteriormente siderada normal. Ainda assim, TH diminuiu, de
e com várias metanálises da eficácia da TH na maneira estatisticamente significativa, o risco de
redução do risco de fraturas em mulheres na fraturas osteoporóticas em uma população não
pós-menopausa3,28,29 (nível de evidência: A). especificamente selecionada por ter alto risco de
Quais os efeitos da terapêutica hormonal na massa óssea e no risco de fratura por fragilidade óssea? 43
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Quais os efeitos da terapêutica hormonal na massa óssea e no risco de fratura por fragilidade óssea? 45
6 Quais os efeitos da terapêutica
hormonal na pele, cartilagens e
articulações?
Relatora: Marisa Teresinha Patriarca
47
to da barreira epidérmica e maior propensão aos lizaram estrogênio transdérmico ou placebo no
traumas e às dermatoses. Em 1940, Albright et antebraço e biópsias foram feitas através de pat-
al. foram os primeiros a relatar que mulheres na ches removidos da ferida após 24 horas. O grupo
pós-menopausa com osteoporose apresentavam que utilizou estrogênio mostrou melhor reepite-
menor espessura cutânea11. Alguns estudos clí- lização e mais rápida deposição de colágeno do
nicos controlados mostram aumento da espes- que o grupo placebo8 (nível de evidência: B). Es-
sura cutânea na pós-menopausa com o uso de tudos preliminares sugerem, porém, que a utili-
terapia estrogênica6,12 (nível de evidência: A). zação de estrogênios para acelerar a cicatrização
Dados do US National Health and Nutrition pode tornar a cicatriz mais evidente (hipertrófi-
Examination (NHANES I) demonstram me- ca), talvez pela maior produção de TGF β1 pelos
lhora significativa da hidratação cutânea em fibroblastos. De fato, a utilização de anticorpos
mulheres submetidas à estrogenioterapia sis- anti-TGF β1 torna a cicatriz menos perceptível17.
têmica na pós-menopausa5 (nível de evidência: A influência de TH no risco de desenvolver
B). Em um estudo randomizado, a utilização melanoma ou na evolução da doença ainda é
de estrogenioterapia tópica facial na pós-me- bastante controversa18. Apesar da presença de
nopausa, com estradiol a 0,01%, durante 24 receptores de estrogênio nesses tumores, evi-
semanas, mostrou aumento do conteúdo de dências sinalizam que a maior expressão dos
ácido hialurônico na derme, principal glicosa- receptores β (ERβ) no melanoma melhora o
minoglicano da pele e grande responsável pela prognóstico19 (nível de evidência: B). Mulheres
hidratação cutânea13 (nível de evidência: B). na pós-menopausa e homens têm menor ex-
Evidências sugerem que a TH pode prevenir pressão de ERβ no tumor quando comparados
a formação de úlceras venosas e favorecer a ci- a mulheres na menacme19.
catrização de feridas. Um estudo britânico com Embora alguns estudos de menor evidên-
uma coorte de 44.195 mulheres com idade de 65 cia mostrem efeito negativo da TH no risco
anos ou mais mostrou que aquelas que usaram de desenvolver melanoma, bem como no seu
TH, total de 4.944 (11,2%), apresentaram 30% prognóstico, a análise recente da população
a 40% menos chance de desenvolver úlceras ve- submetida ao estudo Women’s Health Initiative
nosas ou de pressão quando comparadas com as (WHI) não mostrou aumento da incidência de
não usuárias14 (nível de evidência: B). melanoma ou outro tipo de câncer de pele nas
Estudos experimentais mostraram que o es- mulheres submetida à TH, com ou sem proges-
trogênio parece favorecer a cicatrização das fe- tagênio, quando comparado ao grupo placebo20
ridas por meio de estímulo à secreção do fator (nível de evidência: A). Outro estudo prospec-
transformador de crescimento (TGF) β1 pelos tivo observacional de menor evidência avaliou
fibroblastos e do fluxo capilar cutâneo8,15,16 (nível 226 mulheres com diagnóstico de melanoma
de evidência: B). Um estudo controlado rando- localizado (estádios I e II), acompanhadas por
mizou 18 mulheres na pós-menopausa que uti- período mínimo de cinco anos. Dessas, 83 fo-
51
30.000 Mortalidade por doença cardiovascular consoante o sexo
(ano de 2009)
25.000
Homens
Mulheres
Número de óbitos
20.000
15.000
10.000
5.000
45 a 49 50 a 54 55 a 59 60 a 64 65 a 69 70 a 74 75 a 79 > 80 anos
anos anos anos anos anos anos anos
Faixa etária
Figura 1. Mortalidade por DCV entre homens e mulheres no Brasil em 2009 (fonte: Ministério da Saúde, por meio do SIM [catalogada pela Classificação Internacional de
Doenças (CID-10)], e computados IM [CID-10: I20, I21, I22, I23, I24, I25] e AVC [CID-10: I63, I64]1 .
70.000
60.000
Número de óbitos
30.000
20.000
10.000
45 a 49 50 a 54 55 a 59 60 a 64 65 a 69 70 a 74 75 a 79 > 80 Total
anos anos anos anos anos anos anos anos
Faixa etária
100
Doença cardiovascular 91,68 94,09
90 88,39
Câncer de mama 85,13 86,06
Percentual de óbitos
79,49
80
70,57
70 66,8
61,88
60
50
40 38,12
33,2
30 29,43
20,51
20 14,87 13,94
11,61
10 8,32 5,91
0
45 a 49 50 a 54 55 a 59 60 a 64 65 a 69 70 a 74 75 a 79 > 80 Total
anos anos anos anos anos anos anos anos
Faixa etária
Figura 2. Mortalidade em números absolutos (painel superior) e em percentuais comparativos (painel inferior) por DCV e câncer de mama em mulheres no Brasil em 2009 (fonte:
Ministério da Saúde, por meio do SIM (catalogada pelo CID-10) e computados IM (CID-10: I20, I21, I22, I23, I24, I25), AVC (CID-10: I63, I64) e câncer de mama (CID-10: C50)1 .
Quais os efeitos da terapêutica hormonal no risco cardiovascular em mulheres sem doença cardiovascular diagnosticada? 53
agir, elevando de 20% a 25% os níveis de TGs essa razão, não interferem negativamente nos ní-
e de lipoproteína de muito baixa densidade veis pressóricos arteriais, não contribuindo para
(VLDL), provavelmente por estimular a ex- elevar o risco individual de hipertensão arterial
pressão do RNA mensageiro da apolipoproteí- (HA) em mulheres na pós-menopausa subme-
na B (ApoB) hepática11,12. Há estudos que não tidas à terapêutica estrogênica. As usuárias que
demonstram elevação de TGs, principalmente desenvolvem HA possivelmente o fazem por
nas doses mais baixas de estrogênio13,14. Con- causa da via empregada, sendo muito mais co-
tudo, na via transdérmica, apesar da menor po- mum quando os estrogênios são administrados
tência em relação à elevação da HDL e à dimi- por via oral. Nessas circunstâncias podem esti-
nuição da LDL, o aumento de TGs não ocorre, mular o SRAA e promover retenção de sódio e
podendo até diminuir por mecanismos ainda água. Esse inconveniente não ocorre com a via
pouco compreendidos15. transdérmica em razão de se evitar a primeira
Por outro lado, a adição de um determina- passagem hepática e não interferir no SRAA17.
do progestagênio à terapêutica de reposição Por sua vez, os progestagênios, dependendo
estrogênica pode promover diminuição dos ní- de sua natureza e estrutura molecular, têm efei-
veis plasmáticos de HDL, principalmente da tos diferentes sobre o metabolismo de sódio,
HDL2, e TGs. Esses efeitos mencionados so- que podem variar desde retenção significativa
bre os níveis plasmáticos da LDL dependem da até excreção de sódio. Alguns progestagênios
natureza do progestagênio empregado, do seu sintéticos 19-nor-derivados causam aumen-
grau de “androgenicidade” e da dose do hormô- to da angiotensina hepática e da angiotensina
nio administrado16. plasmática, elevando, dessa forma, a retenção
de sódio. Já a progesterona natural concorre
Terapêutica hormonal e hipertensão arterial com a aldosterona em sua ação renal de ma-
É bem conhecido o efeito dos estrogênios neira dose-dependente, promovendo um efei-
endógenos e exógenos em estimular a sínte- to natriurético. A didrogesterona promove um
se hepática de angiotensina, que, por sua vez, efeito similar sobre a excreção de sódio nos rins.
promove o aumento da aldosterona plasmáti- A drospirenona, um progestagênio derivado da
ca mediante a ativação do sistema renina-an- espironolactona, tem um poderoso efeito anti-
giotensina-aldosterona (SRAA). O principal mineralcorticoide, com capacidade de contra-
efeito da aldosterona é estimular a reabsorção balançar o aumento da aldosterona, que pode
de sódio no rim. Portanto, em mulheres com ser induzida em pacientes sob terapêutica es-
predisposição, os estrogênios podem causar re- trogênica e predispostas a desenvolver HA18-22.
tenção de sódio e água e promover aumento da Portanto, por um lado, o efeito global da TH
pressão arterial. sobre a pressão arterial se relaciona com a res-
Os estrogênios têm predominantemente, na posta individual para ativar o SRAA e, por outro,
maioria das mulheres, efeito vasodilatador e, por com a dose do hormônio empregado, o tipo de
Quais os efeitos da terapêutica hormonal no risco cardiovascular em mulheres sem doença cardiovascular diagnosticada? 55
com estradiol transdérmico, não foram nota- paradas às que não recebem essa modalidade de
das mudanças significativas. Assim, concluí- tratamento31,32.
ram que a via oral é menos benéfica e, por Nessa direção apontam alguns estudos que
outro lado, sugerem ser preferível empregar a demonstram em usuárias de TH atenuação da
via transdérmica para administrar estradiol a obesidade visceral relacionada à menopausa e
pacientes portadoras de SM28. da perda de massa muscular33-35. Entre estes,
Doses mais baixas de estradiol por via oral um estudo cruzado e controlado envolvendo
parecem exercer menos efeitos sobre os mes- mulheres saudáveis na pós-menopausa (idade
mos parâmetros de inflamação e de coagulação 55 ± 3 anos) mostrou um determinado compor-
em comparação a doses plenas convencionais29. tamento no peso corporal durante 12 semanas
Mulheres na pós-menopausa tendem a ga- no grupo de usuárias de TH semelhante ao ob-
nhar peso a partir do primeiro ano da meno- servado no grupo placebo. No entanto, a massa
pausa. Ao mesmo tempo, experimentam uma corporal magra aumentou (p < 0,01) e a gordura
redistribuição da gordura corporal, mudando a abdominal diminuiu (p = 0,04)33. Em outro, en-
típica distribuição ginecoide feminina da me- volvendo mulheres com sobrepeso, as usuárias
nacme para um padrão androide. Aumentos de TH mostraram massa de gordura visceral
significativos no peso corporal acima de 5 kg menor (p = 0,05) que as não usuárias34. Ainda
nos 36 primeiros meses após a menopausa fo- que não sejam estudos com grandes casuísticas,
ram observados e encontram explicação no au- seus resultados não podem ser ignorados.
mento de gordura corporal total30.
TH pode atenuar essa redistribuição de gor- Risco de tromboembolismo venoso em
dura corporal observada no período pós-me- usuárias de terapêutica hormonal
nopáusico. Um estudo comparou mulheres sob O risco de tromboembolismo venoso (TEV)
TH por 36 meses com usuárias de placebo por eleva-se entre as usuárias de TH, particular-
igual período e mostrou que as usuárias de hor- mente entre as que utilizam estrogênios por
mônios não apresentaram aumentos significati- via oral36,37. Os efeitos dos estrogênios sobre
vos do peso corporal da gordura corporal total, os mecanismos de coagulação sanguínea e de
da gordura no tronco e dos braços, enquanto o fibrinólise parecem ser responsáveis por esse
grupo placebo experimentou aumentos signifi- incremento de risco tromboembólico, em de-
cativos em todos esses parâmetros30. corrência da primeira passagem hepática.
De qualquer modo, as evidências disponí- O uso de estrogênios (17beta-estradiol) por
veis sugerem que mulheres na pós-menopausa via transdérmica não parece acrescentar risco de
que recebem TH, especialmente por via trans- TEV entre usuárias de TH38. Um estudo caso-
dérmica, podem estar mais protegidas contra controle verificou aumento de risco para episó-
mudanças na distribuição da gordura corporal dios tromboembólicos em usuárias de TH por
associada à SM e de suas sequelas quando com- via oral (OR: 4,2; IC95%: 1,5-11,6), mas não
0 1 2 3 4 5 6 7
Figura 3. Estudo Estrogen and Thromboembolism Risk (ESTHER) _ Risco de TEV consoante a via de administração de estrogênios39.
entre usuárias de estrogênios por via transdér- do Nurses’ Health Study41. Segundo esse estudo,
mica (OR: 0,9; IC95%: 0,4-2,1)39 (Figura 3). as mulheres que iniciam TH durante a meno-
Até o final da década de 1990, com base pausa ou próximo dela tiveram proteção sig-
nas influências até então conhecidas que a TH nificativa contra a DCC (HR: 0,66; IC95%:
exercia sobre os marcadores intermediários, era 0,54-0,80 para estrogênios isolados; HR: 0,72;
forte a convicção de que esse tipo de terapêu- IC95%: 0,56-0,92 para terapêutica estropro-
tica trazia benefícios sobre o risco de DCVs. gestativa). Em contrapartida, as que iniciaram
Com essa convicção, os médicos prescreviam TH com tempo de menopausa superior a dez
TH para a quase totalidade das pacientes na anos não obtiveram essa proteção (HR: 0,87;
pós-menopausa para prover-lhes o benefício de IC95%: 0,69-1,10 para estrogênios isolados;
proteção cardiovascular. HR: 0,90; IC95%: 0,62-1,29 para terapêutica
Essa convicção se viu muito abalada com a estroprogestativa).
divulgação dos resultados da primeira publica- A controvérsia e a polêmica estavam criadas.
ção do estudo Women’s Health Initiative (WHI) Com base nessa celeuma, alguns trabalhos re-
que mostrava um aumento das DCVs em usuá- vendo o banco de dados das pacientes do estudo
rias de TH com a formulação de estrogênios WHI ou mesmo as reconvocando para novas
equinos conjugados (EECs) em associação investigações chegaram a novas conclusões, que,
com acetato de medroxiprogesterona (MPA)40. de certa forma, também questionam a validade
Entretanto, alguns trabalhos igualmente dos achados desse estudo, pelo menos no que se
importantes apresentavam resultados diame- refere a extrapolá-los para todas as etapas da pe-
tralmente opostos e criavam o conceito da ja- rimenopausa ou da pós-menopausa. Do mesmo
nela de oportunidade para a TH. Esse é o caso modo, deixam claro que não se podem validar
Quais os efeitos da terapêutica hormonal no risco cardiovascular em mulheres sem doença cardiovascular diagnosticada? 57
seus resultados para todas as modalidades de aberto, controlado, randomizado e denominado
TH disponíveis para a prática clínica42,43. Danish Osteoporosis Prevention Study (DOPS)
Em um desses estudos, foi realizada uma avaliou mulheres logo no início do período pós-
análise secundária do estudo WHI. Após es- menopáusico que receberam doses convencio-
tratificar as pacientes por tempo de menopau- nais de estradiol e noretisterona por dez anos e
sa, os autores puderam concluir que as mulhe- que foram acompanhadas por 16 anos. Destas,
res que iniciaram TH com menor tempo de 502 foram alocadas, de início e aleatoriamente,
menopausa apresentavam tendência de redu- para receber TH, enquanto 504, para não re-
ção do risco de DCC em comparação com o ceber nenhuma TH (controle). Após dez anos
aumento de risco observado entre as mulhe- de tratamento, as mulheres que recebem TH
res com mais tempo de menopausa, ainda que tiveram um risco significativamente reduzido
essa tendência não encontrasse significância de mortalidade, de insuficiência cardíaca ou
estatística. Uma tendência na mesma direção, IM, sem qualquer aparente aumento no risco
também não significativa, foi observada para a de câncer, tromboembolismo venoso ou AVC44.
mortalidade total42. Dois outros ensaios clínicos randomizados
Em outro estudo, 1.064 mulheres histerec- avaliaram os efeitos da TH sobre marcadores
tomizadas do estudo WHI, quais sejam, as do intermediários em mulheres nos primeiros anos
braço em que se compararam EECs isolados ao pós-menopáusicos, incluindo a medida da es-
placebo, com idade entre 50 e 59 anos na época pessura do complexo íntima-média da artéria
da randomização, foram reconvocadas para rea- carótida e o escore do cálcio coronário45,46.
lizar tomografia computadorizada do coração. O Kronos Early Estrogen Prevention Stu-
O exame foi realizado após uma média de 7,4 dy (KEEPS), recentemente concluído e ainda
anos do início do estudo e de 1,3 ano após seu não publicado em seus resultados finais, avaliou
encerramento (8,7 anos após a randomização). mulheres nos primeiros anos de pós-menopau-
O escore de cálcio coronariano (ou Agatston) sa e não mostrou diferenças entre as usuárias de
foi aferido em um único centro, sem o conhe- EEC 0,45 mg, de 0,05 mg de estradiol trans-
cimento do estado de randomização de cada dérmico e de placebo. Essas mulheres saudáveis
paciente. Nesse grupo de mulheres, o escore de não tiveram, virtualmente, DCC. É possível
cálcio coronariano, que guarda correlação com que nos quatro anos de observação do estudo
o estado das placas ateroscleróticas, foi menor não tenha ocorrido progressão suficiente para
entre as usuárias da terapêutica estrogênica em detectar diferenças entre os grupos45.
comparação às usuárias de placebo43. Os dados do Early versus Late Intervention
Um estudo recente chegou às mesmas con- Trial with Estradiol (ELITE), que estudou os
clusões a respeito da proteção cardiovascular efeitos da dose baixa de estradiol por via oral
exercida pela TH em mulheres com pouco (1 mg/dia) e placebo, ainda não são conhecidos
tempo de pós-menopausa. Um ensaio clínico e serão analisados somente ao longo deste ano46.
Quais os efeitos da terapêutica hormonal no risco cardiovascular em mulheres sem doença cardiovascular diagnosticada? 59
os idosos. Até os 55 anos de idade, um maior hepática e, por conseguinte, não interferir no
percentual de homens tem HA, dos 55 a 74 SRAA17.
anos o percentual de mulheres é discretamente Em relação aos progestagênios, a escolha re-
maior, e acima dos 75 anos, o predomínio no cai sobre os que causam menos interferência no
sexo feminino é significativamente superior53. SRAA, com menor aumento da angiotensina
Assim, cerca de 80% das mulheres, eventual- hepática e da angiotensina plasmática, com in-
mente, desenvolverão HA no período de cli- cremento da retenção de sódio. Pelas razões já
matério. A incidência de HA aumenta tanto consideradas, a escolha de progestagênios em
com a idade quanto com o início da fase de TH para as pacientes hipertensas controladas
pós-menopausa. recai, preferencialmente, sobre a progesterona
O incremento dos níveis pressóricos no oral micronizada, a didrogesterona, a trime-
período pós-menopáusico sugere que os hor- gestona, o acetato de nomegestrol e a drospi-
mônios ováricos interferem na modulação da renona. Além disso, em mulheres hipertensas,
pressão arterial54. Por outro lado, no entanto, a drospirenona é eficaz em reduzir a pressão
os efeitos da administração de estrogênio sobre arterial por si só ou em combinação com outros
a pressão arterial em mulheres no período de agentes anti-hipertensivos18-22.
pós-menopausa são variáveis. Enquanto o es- Em relação às portadoras de DM, ainda que
tudo Postmenopausal Estrogen/Progestin Inter- nos estudos WHI e HERS as pacientes saudá-
ventions (PEPI) registra que estrogênios isola- veis que receberam TH reduziram o risco de
damente ou em associação com progestagênios desenvolver DM224,25, conforme já menciona-
não alteram os níveis pressóricos55, outros estu- do, não existem estudos de boa qualidade com
dos, a exemplo do WHI, mostraram aumento objetivo primário aferindo o risco de desfechos
significativo da pressão arterial sistólica de 1 a 2 clínicos cardiovasculares entre as pacientes com
mmHg na comparação do grupo placebo com doença estabelecida.
as usuárias, quer de estrogênios isolados, quer Os poucos estudos que avaliaram desfechos
associados à medroxiprogesterona56. clínicos cardiovasculares em pacientes com
Ainda que existam poucos ensaios clínicos DM2 demonstraram proteção contra IM entre
sobre os efeitos da administração transdérmi- as usuárias de TH. Esse efeito provavelmente
ca de estradiol, alguns estudos relatam efeitos resulta da melhora observada no metabolismo
favoráveis sobre a pressão arterial de mulheres da glicose e na resistência insulínica com o em-
normotensas e hipertensas no período da pós- prego de TH57,58.
menopausa17. Um estudo observacional realizado utili-
A HA controlada não se constitui em con- zando os dados do Northern California Kaiser
traindicação à terapêutica estrogênica. A via Permanente Diabetes se propôs a avaliar a in-
transdérmica é preferível em pacientes hiper- fluência da TH em relação à incidência IM em
tensas por desviar-se da primeira passagem pacientes com DM2. Para tanto, acompanhou
Quais os efeitos da terapêutica hormonal no risco cardiovascular em mulheres sem doença cardiovascular diagnosticada? 61
boembólicos em usuárias de TH por via oral os desfechos clínicos (IM, AVC e eventos
(RR: 4,2; IC95%: 1,5-11,6), mas não entre tromboembólicos).
usuárias de estrogênios por via transdérmica • Não existem estudos sobre o risco cardio-
(RR: 0,9; IC95%: 0,4-2,1) (Figura 3)39. vascular com o emprego de testosterona
Entretanto, este não é um estudo que tenha ou de outros androgênios em associação
avaliado pacientes que colecionam fatores de à terapêutica com estrogênios isolados ou
risco para TEV, a exemplo das pacientes que estroprogestativa.
têm história familiar ou pessoal de TEV prévio, • Não existem estudos em DCV, com des-
obesidade, HA, DM ou dislipidemias. Portan- fecho clínico, para terapêutica hormonal
to, não existem evidências de boa qualidade que de dose baixa e para tibolona.
autorizem o uso de TH em pacientes de risco • Novos estudos precisam ser realizados com
para TEV. delineamento correto, com desfechos finais
bem definidos, especificando-se o tempo de
Conclusões da plenária pós-menopausa decorrido, a dose de hor-
• Em mulheres saudáveis sem DCVs, há mônios, a formulação terapêutica, o regime
evidências de benefícios cardiovasculares terapêutico dos progestagênios utilizados e
quando a TH é iniciada na transição me- as vias de administração empregadas.
nopausal ou nos primeiros anos de pós- • Há evidências de que TH realizada com
menopausa, na chamada janela de oportu- EEC e AMP em mulheres com DCV
nidade (nível de evidência: A). prévia aumentou o risco de novos eventos
• Contrariamente, há aumento do risco car- cardiovasculares no primeiro ano de uso
diovascular quando iniciada em mulheres (nível de evidência: A)
com muitos anos de menopausa (nível de • Não existem estudos que ofereçam con-
evidência: A), ainda que o único estudo clusões definitivas e que tenham avaliado
randomizado tenha avaliado apenas um os efeitos da TH com outras formulações
tipo de estrogênio e progestagênio. ou vias de administração em mulheres
• Não existem evidências que justifiquem o menopáusicas com DCV prévia.
emprego da TH em mulheres saudáveis e
assintomáticas com a única finalidade de
reduzir o risco de DCV durante todo o pe-
ríodo do climatério (nível de evidência: A).
• Existem numerosas lacunas de conheci- Referências bibliográficas
mento quanto aos distintos regimes de
TH empregados, particularmente em re- 1. Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre
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lação a estudos que envolvam resultados http://www2.datasus.gov.br/DATASUS. Acesso em:
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Quais os efeitos da terapêutica hormonal no risco cardiovascular em mulheres sem doença cardiovascular diagnosticada? 65
8 Quais os efeitos da terapêutica
hormonal e de suas diferentes vias
de administração no sistema de
coagulação e no risco de doença
tromboembólica venosa?
Relatora: Poli Mara Spritzer
Correlatora: Karen Oppermann
67
relativo para TEV foi quase o dobro nas usuá- Lowe et al. compararam fatores de coagulação
rias de TH, sem diferença entre os grupos com em resposta à TH oral ou transdérmica. Ob-
E exclusivo ou E+P10 (nível de evidência: A). servaram alterações pró-trombóticas nos fato-
O estudo Estrogen and Thromboembolism Risk res IX, resistência à proteína C ativada e no
(ESTHER) igualmente não constatou diferen- ativador do plasminogênio no grupo com TH
ças no maior risco de TEV no grupo E isolado oral em comparação com a via transdérmica13.
comparado ao grupo que utilizou E+P, exceto Em outra população, Oger et al. confirmaram
para as usuárias de progestagênios derivados do a mesma resposta aumentada da resistência à
grupo norpregnano11. Finalmente, uma meta- proteína C ativada com TH por via oral versus
nálise evidenciou não haver diferença no risco via transdérmica14.
de TEV entre os grupos E exclusivo e E+P, am- Além disso, dados de estudos observacionais
bos por via oral: (OR: 2,2; IC 95%: 1,6 - 3,0; sugerem menor risco de TEV com a via trans-
OR: 2,6; IC95%: 2,0 - 3,2, respectivamente)4 dérmica do que com a via oral para o estrogê-
(nível de evidência: A). nio. Entre estes, cabe salientar o estudo francês
O risco de TEV surge logo após o início da prospectivo French E3N Study, em que os auto-
TH, nos primeiros um a dois anos, e a mag- res verificaram uma associação de TEV com TH
nitude do excesso de risco parece diminuir ao oral (HR: 1,7; IC95%: 1,1 - 2,8), mas não com
longo do tempo de uso. Nos estudos WHI, o TH transdérmica (HR: 1,1; IC95%: 0,8 - 1,8)15
excesso de risco de TEV associado com E+P (nível de evidência: A), e um estudo retrospecti-
ou E exclusivo foi menor em mulheres que ini- vo, com mais de 1 milhão de mulheres do Reino
ciaram TH antes dos 60 anos comparadas às Unido, que constatou risco relativo para TEV
mais idosas que iniciaram TH após os 60 anos4. com TH oral E+P, E exclusivo e E transdérmico
Para aquelas mulheres com idade entre 50 e 59 de 2,07 (IC95%: 1,86 - 2,23), 1,42 (IC95%: 1,22
anos, houve sete casos adicionais de TEV por - 1,66) e 0,82 (IC95%: 0,64 - 1,06), respectiva-
10 mil mulheres/ano para o grupo que utilizou mente16 (nível de evidência: A).
E+P e quatro casos adicionais de TEV por 10 Outro estudo de base populacional igual-
mil mulheres/ano para o grupo que utilizou E mente indicou que mulheres que recebiam es-
exclusivo. Esses riscos são considerados como tradiol transdérmico tiveram menor risco para
categoria de risco raro (nível de evidência: A). TEV do que aquelas que utilizavam estradiol
A via oral permanece sendo a forma de isolado por via oral17 (nível de evidência: A).
TH mais utilizada em vários países. O efeito No entanto, ensaios clínicos randomizados
do metabolismo de primeira passagem hepá- que tenham comparado a via oral com a trans-
tica do estrogênio por via oral pode poten- dérmica são ainda escassos e de curta duração.
cialmente resultar em alterações hemostáticas Uma das evidências é o estudo multicêntrico
pró-trombóticas, comparado a sua administra- caso-controle ESTHER11, o qual encontrou
ção transdérmica12. Em um estudo transversal, um risco relativo de TEV de 4,2 (IC95%: 1,5
Quais os efeitos da terapêutica hormonal e de suas diferentes vias de administração no sistema de coagulação 69
e no risco de doença tromboembólica venosa?
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Quais os efeitos da terapêutica hormonal e de suas diferentes vias de administração no sistema de coagulação 71
e no risco de doença tromboembólica venosa?
9 Quais os efeitos da terapêutica
hormonal na cognição e no risco de
demências?
Relator: Marcelo Luis Steiner
Correlator: César Eduardo Fernandes
73
Outro estudo observacional avaliou a mu- Em 2001, LeBlanc et al. publicaram uma
dança do estado cognitivo ao longo de dois metanálise dos resultados de 21 estudos rea-
anos em uma coorte de 837 americanas de ori- lizados até aquele momento sobre o efeito de
gem japonesa com idade superior a 65 anos. TH na cognição. Foram incluídos ensaios clí-
Usuárias de estrogênio isolado tiveram melhora nicos randomizados e estudo de coorte para
da função cognitiva global e usuárias de estro- avaliar o declínio cognitivo e estudos de coorte
gênio associado a progestagênio apresentaram e caso-controle para o risco de demência. Evi-
pior resultado em relação a não usuárias5 (nível denciaram que o uso de TH em mulheres com
de evidência: B). sintomas climatéricos determinou melhora na
Resultado semelhante apresentou o Lon- memória verbal, vigilância, raciocínio e veloci-
gitudinal Assessment of Ageing in Women Study dade motora. O mesmo desempenho não foi
(LAW Study). Nele, 410 mulheres australianas observado em mulheres assintomáticas. Já o
entre 41 e 79 anos tiveram sua capacidade de uso de TH associou-se à diminuição no risco
memória avaliada por dois exames presenciais de demência (RR: 0,66; IC95%: 0,53-0,82)9
separados por um intervalo de cinco anos. Os (nível de evidência: B).
autores concluíram que mulheres que iniciaram O Women’s Health Initiative Memory Study
terapia estrogênica isolada precocemente apre- (WHIMS) é o maior estudo clínico randomi-
sentaram menor risco de declínio cognitivo, zado que avaliou os efeitos da TH na cognição
enquanto o uso de TH combinada associou-se e demência. Nele, foram incluídas mulheres
a pior desempenho na memória geral6 (nível de com idade superior a 65 anos e sem diagnóstico
evidência: B). prévio de demência de 39 dos 40 centros parti-
O Cache County Study, que acompanhou cipantes do estudo WHI. Assim como o WHI,
por três anos 1.889 mulheres na pós-meno- foram avaliados resultados de usuárias de 0,625
pausa com média etária de 75 anos, avaliou o mg de estrogênio equino conjugado (EEC) as-
risco de Alzheimer nas usuárias de TH. Fo- sociado a 2,5 mg de acetato de medroxipro-
ram identificados 88 novos casos dessa doença gesterona (AMP) versus placebo (n = 4.532)
e o risco foi menor naquelas usuárias prévias e mulheres usuárias de EEC isolado versus
de TH, mas não atuais, em relação a mulhe- placebo (n = 2.947). O objetivo principal foi
res que nunca usaram essa terapia7 (nível de avaliar se o uso da TH alteraria a função cog-
evidência: B). Um estudo de caso-controle ba- nitiva global e as incidências de demência e
seado em um banco de dados público inglês de cognição diminuída leve. Todas as pacien-
avaliou a prescrição ou não de TH a 280 mu- tes incluídas foram submetidas ao Mini-Exa-
lheres, sendo 59 com e 221 sem diagnóstico de me de Estado Mental Modificado (Modified
doença de Alzheimer, e concluiu que o uso de Mini-Mental State Examination – 3MSE)
estrogênio na pós-menopausa não estava asso- no momento basal e anualmente nos anos de
ciado a essa doença8. acompanhamento10-13.
79
lheres na perimenopausa com e sem sintomas clínico realizado por Morrison et al. concluiu
vasomotores9. Foram incluídas 34 mulheres que estradiol não pode ser considerado tera-
entre 44 e 55 anos, que receberam 0,05 mg de pêutica para a depressão11 (nível de evidência:
17beta-estradiol transdérmico ou placebo por B). Nesse estudo foram incluídas 57 mulheres
três semanas. Depois desse período, as usuárias na pós-menopausa (média etária de 62 anos)
de estrogênio continuaram com a terapia e as com diagnóstico de depressão, as quais fo-
do grupo placebo iniciaram o tratamento com ram divididas em dois grupos: um recebendo
estrogênio por mais três semanas. Todas foram 0,1 mg ao dia de 17beta-estradiol transdérmi-
avaliadas quanto à evolução do quadro depressi- co (n = 31) e outro, placebo (n = 26). O tem-
vo e em relação a sintomas emocionais (23 itens po de acompanhamento durou oito semanas e
de escala específica) nos momentos basal, três os sintomas depressivos foram avaliados pelas
e seis semanas. Os resultados mostraram que Escalas de Depressão de Hamilton e Center for
após três semanas o grupo intervenção apre- Epidemiologic Studies Depression. Os resultados
sentou melhora dos sintomas emocionais em não mostraram diferenças entre os grupos in-
relação ao início do estudo (p < 0,01) e desem- tervenção e placebo.
penho superior ao do grupo placebo (p < 0,01). Diferentemente dos estudos anteriores, em
Os sintomas vasomotores não influenciaram o 2003 foi realizado um ensaio clínico envolvendo
resultado (nível de evidência: B). 152 chinesas histerectomizadas na pós-meno-
Um estudo semelhante foi realizado no ano pausa sem diagnóstico definido de depressão. O
seguinte por Soares et al. Foram incluídas 50 objetivo do estudo foi avaliar o efeito de dife-
mulheres entre 44 e 55 anos com irregularidade rentes doses de estradiol oral nos sintomas va-
menstrual, hormônio foliculoestimulante maior somotores, nos sintomas emocionais e na qua-
que 25 UI/l e diagnóstico de depressão maior, lidade de vida. As participantes foram divididas
menor ou crônica (distimia). A randomização foi em três grupos: um recebeu 2 mg de estradiol
feita entre o grupo intervenção que utilizou 100 (n = 50), outro, 1 mg de estradiol (n = 52) e o
mcg (0,1 mg) de 17beta-estradiol transdérmico terceiro, placebo (n = 50). O tempo de observa-
e o grupo placebo. Todas as participantes foram ção foi 12 meses e os sintomas emocionais foram
acompanhadas por 12 semanas e submetidas no avaliados pela Escala Hospital Anxiety and De-
início e ao final do estudo à Escala de Depressão pression. Os resultados não mostraram nenhuma
Montgomery-Asberg. Na comparação entre os diferença dos grupos que utilizaram estradiol em
grupos, os resultados mostraram que a remissão relação ao grupo placebo12 (nível de evidência:
dos sintomas foi superior no tratado com estro- B). Vale ressaltar que esse estudo não definiu de
gênio (p = 0,001), independentemente do tipo maneira adequada o critério de pós-menopausa,
de depressão10 (nível de evidência: B). não demonstrou que os grupos eram semelhan-
De modo divergente dos resultados apre- tes entre si no momento basal nem excluiu mu-
sentados nos estudos anteriores, um ensaio lheres com diagnóstico prévio de depressão.
83
de TH e de 1,5 ano para usuárias de TH. O publicação trouxe informações de 16.608 mu-
RR encontrado para TH estrogênica isolada lheres na pós-menopausa que receberam estro-
foi de 1,30 (IC95%: 1,21 a 1,40), para a TH gênio equino conjugado (EEC - 0,625 mg/dia)
estroprogestativa foi 2 (IC95%: 1,88 a 2,12) e associado a acetato de medroxiprogesterona
para a tibolona foi 1,45 (IC95%: 1,25 a 1,68). (2,5 mg/dia) ou placebo, com duração média de
Considerando a taxa cumulativa de câncer de seguimento de 5,2 anos. Verificou-se RR para
mama de 50 por 1.000 mulheres aos 65 anos na câncer de mama igual a 1,26 (IC95%: 1,00 a
população estudada, esses valores de risco rela- 1,59)6. Em uma publicação seguinte, com base
tivo correspondiam em termos absolutos a 1,5 nas mesmas informações, porém com análise de
ou a seis casos extras em cinco anos por 1.000 intenção de tratar e melhor detalhamento dos
mulheres usuárias de TH estrogênica isolada desfechos mamários, os autores informaram
ou estroprogestativa, respectivamente (nível de RR de 1,24 (IC95%: 1,02 a 1,50) para câncer
evidência: B)3. de mama total, 1,24 (IC95%: 1,01 a 1,54) para
O estudo E3N é uma coorte francesa ini- invasivo e 1,18 (IC95%: 0,77 a 1,82) para carci-
ciada em 1990 e com total de mais de 80 mil noma in situ (nível de evidência: A)7. Esse estu-
mulheres na pós-menopausa que puderam ser do foi interrompido antes da duração original-
incluídas na análise para avaliação do impacto mente prevista e cerca de 40% das participantes
da TH no risco de câncer de mama. Segundo já haviam abandonado a pesquisa no momento
esse estudo de observação, a TH estrogênica da interrupção e análise dos dados.
isolada se associou a RR de 1,29 (IC95%: 1,02 O WHI também estudou 10.739 mulheres
a 1,65) (nível de evidência: A). Quanto à TH na pós-menopausa histerectomizadas e que re-
combinada, os RRs dependeram do tipo de ceberam TH apenas com EEC (0,625 mg/dia)
progestagênio presente no esquema, de tal sor- ou placebo. Esse ensaio foi interrompido an-
te que quando era a progesterona micronizada, tes da duração prevista pelo aumento do ris-
o RR foi 1 (IC95%: 0,83 a 1,22), para a di- co de acidente vascular cerebral, de tal forma
drogesterona, 1,16 (IC95%: 0,94 a 1,43), e para que a duração média de seguimento foi de 6,8
os demais progestagênios, 1,69 (IC95%: 1,50 a anos. O RR para câncer de mama foi de 0,77
1,91) (nível de evidência: B)4. O acréscimo de (IC95%: 0,59 a 1,01)8 (nível de evidência: A).
risco associado à TH com esses progestagênios Em uma publicação seguinte, específica so-
parece ter sido para os carcinomas com recep- bre câncer de mama, os autores informaram
tores estrogênicos5. duração média de seguimento de 7,1 anos. O
O estudo Women’s Health Initiative (WHI) RR total para câncer de mama invasivo foi de
foi o único grande ensaio randomizado e con- 0,80 (IC95%: 0,62 a 1,04), com taxas anualiza-
trolado por placebo a ter como um de seus obje- das de 0,28% no grupo estrogênio e 0,34% no
tivos primários avaliar os efeitos da TH no risco grupo placebo (nível de evidência: A). Também
de desenvolver câncer de mama. Sua primeira não houve diferença para o carcinoma in situ,
Conclusões da plenária
• O risco de câncer de mama associado a
uso de TH é pequeno, com incidência
anual de menos de 1 caso por 1.000 mu-
lheres (nível de evidência: A). Referências bibliográficas
• Os dados existentes não permitem afir-
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89
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útero deveria compreender estrogênio associa- ciação de vários tipos de TH com o risco de
do a progestagênio para reduzir o risco de hi- CaEn entre 115.474 mulheres na pós-meno-
perplasia endometrial3 (nível de evidência: B). pausa recrutadas no European Prospective Inves-
A adição de progestagênio a estrogeniotera- tigation into Cancer and Nutrition, entre 1992 e
pia parece neutralizar o efeito proliferativo no 2000. Em comparação a não usuárias, o risco
endométrio em mulheres na pós-menopausa. foi maior entre as usuárias atuais de estrogê-
Beral et al.4 analisaram os resultados de dois nio isolado (RR: 2,52; IC95%: 1,77-3,57) e de
importantes estudos clínicos, o Heart and Es- tibolona (RR: 2,96; IC95%: 1,67-5,26), e em
trogen/progestin Replacement Study (HERS) e o menor proporção, entre as usuárias de esque-
Women’s Health Initiative (WHI), e demons- ma sequencial (RR: 1,52; IC95%: 1,0-2,29). As
traram entre as usuárias de TH que o RR de usuárias de TH no esquema combinado apre-
CaEn, combinado para os dois estudos, foi de sentaram redução do risco (RR: 0,24; IC95%:
0,76 (IC95%: 0,45-1,31; não significativo)4 0,08-0,77)6 (nível de evidência: B).
(nível de evidência: A). Em 2005, os mesmos Em 2011, Phipps et al. coletaram dados de
autores avaliaram o risco de CaEn com uso quatro estudos casos-controle de CaEn nos Es-
da TH em 716.738 mulheres na pós-meno- tados Unidos. O uso de TH combinada contí-
pausa recrutadas para o Million Women Study5 nua por mais de dez anos associou-se com re-
(MWS) entre 1996 e 2001, acompanhadas, em dução no risco (RR: 0,37; IC95%: 0,21-0,66),
média, por 3,4 anos. Em comparação às não sendo tal associação mais pronunciada em mu-
usuárias, houve redução significativa do risco lheres com IMC de 30 kg/m2 ou mais (RR: 0,19;
de CaEn entre as que utilizaram TH combi- IC95%: 0,05-0,68)7 (nível de evidência: B).
nada contínua (RR: 0,71; IC95%: 0,56-0,90) e Em 2013, Trabert et al. estudaram o uso de
não houve redução, tampouco acréscimo entre TH e CaEn em 68.419 mulheres na pós-me-
as usuárias de TH sequencial cíclica (RR: 1,05; nopausa participantes do estudo National Ins-
IC95%: 0,91-1,22). Por outro lado, demons- titutes of Health-American Association of Reti-
traram aumento no risco com a utilização de red Persons Diet and Health, que preencheram
tibolona (RR: 1,79; IC95%: 1,43-2,25) e estro- um questionário entre 1996 e 1997 e foram
gênio isolado (RR: 1,45; IC95%: 1,02-2,06). acompanhadas até 2006. O uso de TH sequen-
O índice de massa corporal (IMC) afetou sig- cial (menos de 15 dias de progestagênio/mês)
nificativamente os resultados, de modo que os em longo prazo (mais de dez anos) foi posi-
efeitos adversos da tibolona e do estrogênio tivamente associado com risco de CaEn (RR:
isolado foram maiores em mulheres de baixo 1,88; IC95%: 1,36-2,60), enquanto o uso con-
peso e os efeitos benéficos da TH combinada tínuo (mais de 25 dias de progestagênio/mês)
foram mais evidentes em mulheres obesas5 (ní- associou-se à diminuição do risco (RR: 0,64;
vel de evidência: B). IC95%: 0,49-0,83). Maior aumento do risco
Quais os efeitos da terapêutica hormonal sobre o risco de cânceres de endométrio, ovário e colo uterino? 91
menopausa recrutadas para o European Pros- 10 mil para o grupo placebo19 (nível de evidên-
pective Investigation into Cancer and Nutri- cia: A).
tion, entre 1992 e 2000. Após nove anos de Em 2013, Yang et al., com base em dados
acompanhamento, 424 casos novos de CaOv de North American Association of Central Cancer
foram diagnosticados. Em comparação com Registries, avaliaram a incidência de CaOv an-
mulheres que nunca usaram TH, o uso atual tes e após o término do estudo WHI, em 2002.
de qualquer apresentação da TH associou- Entre 1995 e 2008 foram detectados 171.142
se a aumento de risco (RR: 1,29; IC95%: casos novos. Em mulheres acima de 50 anos, a
1,01-1,65)17 (nível de evidência: B). Em um incidência de CaOv diminuiu 0,8% ao ano an-
estudo de base populacional, mulheres fin- tes de 2002, e após o relatório WHI, a taxa de
landesas com CaOv (n = 3.958 acima de 50 redução foi de 2,4% ao ano. As mudanças fo-
anos) foram identificadas a partir do Finnish ram mais evidentes entre mulheres com idade
Cancer Registry. Para cada caso, foram alo- entre 50 e 69 anos e para o subtipo histológico
cados três controles pareados por idade (n = endometrioide20 (nível de evidência: B).
11.325 controles). O uso de estrogênico iso- Não há muitas informações sobre a associa-
lado por cinco anos ou mais se associou a ris- ção entre TH e câncer de colo (CaCo) uteri-
co aumentado (RR: 1,45; IC95%: 1,20-1,75) no. Sawaya et al. determinaram o efeito de TH
para o subtipo seroso e com risco diminuído sobre a citologia cervical em 2.561 mulheres
(RR: 0,35; IC95%: 0,19-0,67) para o subtipo na pós-menopausa participantes do HERS. A
mucinoso. A TH sequencial por cinco anos incidência de anormalidades citológicas nos
ou mais se associou a aumento de risco (RR: dois anos seguintes a um esfregaço normal foi
1,35; IC95%: 1,20-1,63), em especial do sub- de 23 por 1.000 mulheres/ano. O valor predi-
tipo endometrioide (RR: 1,88; IC95%: 1,24- tivo positivo de anormalidades encontradas em
2,86). TH combinada contínua ou tibolona dois anos foi de 0,9% (1 em 110 mulheres). Em
não apresentaram efeito sobre o risco global comparação às mulheres não tratadas, a inci-
de CaOv18 (nível de evidência: B). dência de anormalidades não foi superior no
O WHI foi o único ensaio clínico rando- grupo tratado (RR: 1,36; IC95%: 0,93-1,99)21
mizado que avaliou a associação entre TH e (nível de evidência: B).
risco de CaOv. Entre 16.608 mulheres na pós- Yasmeen et al. estimaram a incidência de
menopausa, após seguimento de 5,6 anos, fo- anormalidades citológicas e CaCo em parti-
ram identificados 32 casos de CaOv. Em com- cipantes do WHI. A taxa de incidência anual
paração ao grupo placebo, as usuárias de TH de anormalidades no exame citológico no gru-
apresentaram RR de 1,58 (IC95%: 0,77-3,24, po TH foi mais elevada que no grupo placebo
não significativo). Em números absolutos, re- (RR: 1,4; IC95%: 1,2-1,6). TH se associou a
presentou 4,2 casos por 10 mil para as usuárias aumento da incidência de anormalidade citoló-
de TH por mais de cinco anos e 2,7 casos por gica, embora sem impacto sobre a incidência de
Quais os efeitos da terapêutica hormonal sobre o risco de cânceres de endométrio, ovário e colo uterino? 93
tes com sintomas vasomotores e atrofia vagi- Uma revisão sistemática da Cochrane Li-
nal para uso de estrogênio ou placebo, durante brary sobre a eficácia e segurança do estrogênio
três anos. As taxas de recorrência e morte pela tópico vaginal relatou dois estudos com hipe-
doença nos grupos tratado e placebo foram de restimulação endometrial após o uso de creme
6,5% versus 4% e 4,2% versus 3,1%, respectiva- de estrogênios conjugados quando comparado
mente. Os autores concluíram que, embora o a anel ou comprimido de estradiol32 (nível de
estudo não possa refutar ou confirmar a segu- evidência: B).
rança da terapia estrogênica em sobreviventes Em uma recente avaliação de biópsia endo-
de CaEn, o risco foi baixo (RR: 1,27; IC95%: metrial de 443 mulheres utilizando 10 mcg de
0,91-1,77, não significativo)29 (nível de evidên- estradiol vaginal por 52 semanas constatou-se
cia: B). No entanto, houve algumas limitações que 85,6% apresentaram atrofia endometrial,
nele: a aderência à TH (41,1%) foi inferior à 12,6%, material insuficiente, 1,1%, pólipos,
do placebo (50,1%); após dois anos de acom- 0,2%, fracamente proliferativo, e 0,2%, hiper-
panhamento, 45,6% dos pacientes com TH plasia sem atipia33 (nível de evidência: C). O
tinham interrompido o tratamento em compa- uso de baixa dose de estrogênio tópico pode-
ração apenas a 9,7% do placebo; a maioria das ria ser uma opção a mulheres tratadas de CaEn
pacientes incluídas era de baixo risco, resultan- com atrofia vaginal. Contudo, não existem es-
do em um número insuficiente de recorrências tudos que especificamente tenham abordado a
e poder subótimo para um ensaio clínico. questão sobre o uso do estrogênio via vaginal
Para Biliatis et al., em revisão da literatura, em pacientes tratadas de CaEn25.
não há estudos que relatem efeito prejudicial No CaOv, 75% das mulheres estão em es-
da TH nas pacientes tratadas de CaEn em es- tádio avançado no diagnóstico, com taxa de
tágio inicial. Entretanto, no CaEn em estágio sobrevida em cinco anos inferior a 25%. O alí-
avançado, a TH nunca foi avaliada, portanto vio dos sintomas vasomotores e a melhora da
não deve ser considerada, pois células malignas qualidade de vida pós-tratamento cirúrgico pa-
residuais pós-tratamento cirúrgico poderiam recem mais importantes que o medo de recor-
provocar recorrência30 (nível de evidência: B). rência30. Uso de TH após cirurgia para CaOv
Em 2012, a European Menopause and An- parece ser seguro em estudos retrospectivos34,35
dropause Society (EMAS) relatou que não são e prospectivos36,37. Em um ensaio clínico con-
necessários progestagênios adicionais para trolado e randomizado, foram avaliadas 130
proteção endometrial ao se utilizar estrogê- mulheres com CaOv, designadas para receber
nios tópicos vaginais nas doses e tratamentos TH ou não, seis a oito semanas pós-cirurgia.
empregados. Entretanto, recomenda uso de lu- Ocorreram 32 recorrências (54%) sob TH e 41
brificantes não hormonais e hidratantes como (62%) entre não usuárias. Não houve diferença
primeira linha de tratamento para mulheres no intervalo livre de doença nem na sobrevi-
tratadas de CaEn31 (nível de evidência: D). vência global36 (nível de evidência: B).
Quais os efeitos da terapêutica hormonal sobre o risco de cânceres de endométrio, ovário e colo uterino? 95
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Quais os efeitos da terapêutica hormonal sobre o risco de cânceres de endométrio, ovário e colo uterino? 97
13 Quais os efeitos da terapêutica
hormonal sobre o risco de cânceres
do tubo digestivo e do sistema
respiratório? A terapêutica hormonal
pode ser indicada após o tratamento
desses cânceres?
Relator: Rogério Bonassi Machado
Terapêutica hormonal e cânceres do REs positivos (15% versus 62% nos tumores RE
tubo digestivo negativos) e também naqueles que apresentam
A literatura dispõe de estudos que abordam receptores de progesterona (RPs)2 (nível de evi-
os cânceres do estômago e do segmento color- dência: B). Outro estudo que analisou todos
retal do intestino em associação ao uso da tera- os tipos de adenocarcinoma do estômago, in-
pêutica hormonal (TH) no climatério. cluindo o tumor em anel de sinete, demonstrou
O papel dos receptores hormonais no adeno- a presença de RE-beta por meio de coloração
carcinoma gástrico é controverso. Estudos mos- nuclear3 (nível de evidência: B).
tram que receptores estrogênicos (REs) estão A despeito dos dados biológicos, observa-se
presentes em 46% das amostras do estômago menor risco de câncer do estômago em mulhe-
de mulheres com essa neoplasia1 (nível de evi- res com menopausa tardia (OR: 0,6; p < 0,05)4
dência: B). Os REs parecem ter expressão maior (nível de evidência: B). Ainda, os poucos estu-
nos tumores difusos, pouco diferenciados e com dos que avaliaram a relação entre TH e inci-
metástases linfonodais1 (nível de evidência: B). dência de câncer gástrico não mostraram as-
A taxa de sobrevida após a cirurgia é significa- sociação significativa4,5 (nível de evidência: B).
tivamente mais baixa nos tumores do estômago Dessa forma, na ausência de dados provenientes
99
de estudos clínicos em mulheres sobreviventes do RVD e à regulação da transcrição e expres-
de câncer de estômago, a TH deve ser utiliza- são proteica do RVD13 (nível de evidência: A).
da com cautela, particularmente em tumores A maioria dos estudos clínicos aponta para a
receptores hormonais positivos6 (nível de evi- redução no risco e na mortalidade por câncer do
dência: D). Entretanto, não existem evidências cólon com o uso de TH14-20 (nível de evidência:
que contraindiquem a TH no climatério para A). Esse efeito protetor diminui significativa-
mulheres com antecedentes pessoais de câncer mente após a suspensão do tratamento16 (nível
do estômago6 (nível de evidência: D). de evidência: B). Uma metanálise de estudos es-
Tanto a incidência quanto a mortalidade por pecificamente dirigidos para a relação entre TH
câncer do cólon são mais baixas nas mulheres e câncer do cólon mostrou que o uso recente de
do que nos homens. Estudos experimentais e TH (no primeiro ano) associou-se com risco
observações clínicas parecem sugerir um efeito relativo (RR) igual a 0,67 (IC95%: 0,59-0,77)
protetor do estrogênio sobre essa neoplasia7-9 de desenvolvimento da neoplasia20 (nível de evi-
(nível de evidência: B). dência: A). O efeito protetor se restringiu ao uso
Os estrogênios inibem a síntese de ácidos recente, uma vez que em todas as usuárias o RR
biliares no intestino10 (nível de evidência: B) e foi de 0,92 (IC95%: 0,79-1,08). Outrossim, a
o crescimento de linhagens celulares in vitro análise dos estudos que abordaram o câncer de
de câncer do cólon é afetado por estrogênios cólon fatal mostrou que a TH associou-se a efei-
por meio da expressão de RE11 (nível de evi- to protetor (RR: 0,72; IC95%: 0,64-0,81).
dência: A). Estudos mostram que o RE-beta é Slattery et al. demonstraram que em mulhe-
o subtipo predominante no cólon humano e a res expostas a estrogênio houve redução do ris-
ativação de processos mediados pelo RE-beta co de instabilidade de microssatélites do câncer
tem efeito antineoplásico, uma vez que a menor colorretal, enquanto em mulheres mais velhas
concentração de RE-beta no epitélio colônico a menor exposição ao estrogênio aumentou o
se associa à tumorigênese do cólon em fêmeas12 risco21 (nível de evidência: B). Nessas mulheres,
(nível de evidência: A). a TH pode também reduzir o risco de tumores
Os estrogênios ainda estão envolvidos na instáveis.
modulação da expressão do receptor de vita- As diferentes formas de uso da TH, incluin-
mina D (RVD) na mucosa do cólon13 (nível de do estrogênio isolado ou associado a progestagê-
evidência: A). A vitamina D e seus análogos são nio, bem como as diversas vias de administração,
potentes agentes antiproliferativos e antineo- parecem não modificar os achados referentes ao
plásicos em vários tipos celulares, incluindo as menor risco de câncer colorretal. Um estudo ca-
células do cólon intestinal. Em modelos expe- so-controle envolvendo 1.456 mulheres na pós-
rimentais, os estrogênios exercem efeito prote- menopausa (546 casos e 910 controles) mostrou
tor contra a carcinogênese em modelos animais, redução no risco de carcinoma colorretal entre
que estão associados à menor metilação do gene as usuárias de qualquer TH (OR: 0,65; IC95%:
Quais os efeitos da terapêutica hormonal sobre o risco de cânceres do tubo digestivo e do sistema respiratório? 101
cional, 109 mulheres no grupo de TH estro- Conclusões da plenária
progestativa foram diagnosticadas com câncer • Não existe associação significativa entre
de pulmão comparadas a 85 mulheres no gru- TH e incidência de câncer do estômago
po placebo. A incidência anual foi de 0,16% e (nível de evidência: B). Antecedentes
0,13%, respectivamente, e o risco relativo não de carcinoma gástrico não constituem
atingiu significância (hazard ratio [HR]: 1,23; contraindicação à TH (nível de evidên-
IC95%: 0,92-1,63). A maioria dos cânceres foi cia: D)
classificado como tumores de não pequenas • A TH combinada tem efeito protetor na
células. Por outro lado, demonstrou-se maior incidência de câncer colorretal (nível de
risco de mortalidade por câncer de pulmão de evidência: A). Antecedentes de câncer co-
não pequenas células entre as usuárias de TH lorretal não constituem contraindicação à
(RR: 1,87; IC95%: 1,22-2,88). A incidência e a TH (nível de evidência: D)
mortalidade do tumor de pulmão de pequenas • A associação de TH com câncer de pul-
células foram similares entre os grupos30 (nível mão não está claramente estabelecida
de evidência: A). Ressalte-se que os dados do (nível de evidência: A). Antecedentes de
estudo WHI mostram que após ajuste para ou- câncer de pulmão não constituem con-
tros fatores de confusão a incidência adicional traindicação à TH (nível de evidência: D).
no risco de TH estroprogestativa situa-se na
faixa de menos 0,5 caso por mil mulheres/ano.
Os resultados do braço estrogênio isolado
do WHI foram publicados em 201031 (nível de
evidência: A). Após uma média de 7,9 anos de
seguimento, a incidência de câncer de pulmão Referências bibliográficas
foi de 61 e 54 casos para os grupos de estro-
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Quais os efeitos da terapêutica hormonal sobre o risco de cânceres do tubo digestivo e do sistema respiratório? 103
14 Quais os efeitos da terapêutica
hormonal sobre o risco de outros
cânceres? A terapêutica hormonal
pode ser indicada após o tratamento
desses cânceres?
Relator: Rogério Bonassi Machado
105
Melanoma negativo para RE e positivo para RP20,21 (nível
A presença de receptor de estrogênio (RE) de evidência: C) e não se conhecem as causas
na análise tecidual do melanoma é dificilmen- para a expressão dos receptores de progesterona
te detectada. Miller et al. verificaram RE em (RPs) independentemente da ação estrogênica.
2,9% dos casos de melanoma8. Estudos in vitro A influência dos hormônios exógenos sobre
não demonstram efeito estimulatório de es- o meningioma tem sido analisada em estudos
trogênios sobre a proliferação ou invasividade de base populacional, particularmente com de-
de linhagens celulares de melanoma9-11 (nível lineamento de coorte e caso-controle, com re-
de evidência: A). A gestação antes, durante ou sultados nem sempre concordantes.
após o diagnóstico de melanoma em estádio Discreta associação entre meningioma e fa-
inicial parece não influenciar o curso natural da tores hormonais foi relatada em um recente es-
doença12 (nível de evidência: B). Um metanálise tudo caso-controle22 (nível de evidência: B). En-
de 18 estudos de caso-controle, incluindo 3.796 tretanto, os resultados do Nurse’s Health Study
casos de melanoma cutâneo e 9.442 controles, sugeriram que o risco de meningioma se eleva
não mostrou influência dos contraceptivos orais diante da exposição tanto a hormônios endóge-
sobre a doença13 (nível de evidência: A). nos quanto exógenos23 (nível de evidência: B).
Vários autores reportaram que TH não eleva Por outro lado, um estudo de base popula-
o risco do melanoma14-16 (nível de evidência: B). cional norte-americano mostrou que o risco de
Persson et al. demonstraram que TH não meningioma em usuárias atuais ou passadas de
se associou tanto ao risco no desenvolvimento contraceptivos orais, embora aumentado (OR:
de melanoma (RR: 0,9; IC95%: 0,7-1,1), bem 1,5; IC95%: 0,8-2,7; OR: 2,5; IC95%: 0,5-12,6,
como sobre o risco de morte por neoplasia (RR: respectivamente), não apresentou significância
0,5; IC95%: 0,2-1,0)6 (nível de evidência: A). estatística. O mesmo estudo demonstrou que
em mulheres na pós-menopausa a TH conferiu
Meningioma efeito protetor não significativo, não tendo sido
A elevada proporção de meningiomas em associado a baixa ou alta expressão de RP no
mulheres, o crescimento acelerado durante a fase meningioma24 (nível de evidência: B).
lútea e durante a gravidez, assim como a asso- Uma recente metanálise publicada por Fan
ciação entre o meningioma e o câncer de mama, et al. abordou especificamente a TH e o me-
sugerem a participação de esteroides sexuais ningioma. Um total de 11 estudos (seis ca-
sobre esse tumor benigno17. Entretanto, várias sos-controle e cinco estudos de coorte) foram
inconsistências têm sido encontradas na lite- incluídos, envolvendo 1.820.954 participantes,
ratura quanto à atividade mitogênica do estro- das quais 3.249 tiveram meningioma. Quando
gênio e da progesterona, tanto em modelos in comparadas a não usuárias de TH, houve au-
vitro quanto in vivo18,19 (nível de evidência: C). mento do risco entre as usuárias para o desen-
Em geral, o tecido do meningioma se apresenta volvimento de meningioma (OR:1,29; IC95%:
Câncer renal
Um estudo com delineamento caso-contro- Referências bibliográficas
le dinamarquês mostrou aumento significativo
1. Rossing MA, Voigt LF, Wicklund KG, et al. Use of ex-
no risco do carcinoma de células renais entre
ogenous hormones and risk of papillary thyroid cancer.
mulheres obesas, mas não demonstrou asso- Cancer Causes Control. 1998;9:341-9.
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estrogênios35 (nível de evidência: B). Em aná- 3. Galanti MR, Hansson L, Lund E, et al. Reproductive
lise específica da influência da gestação sobre history and cigarette smoking as risk factors for thy-
roid cancer in women: a population-based case-con-
o carcinoma renal, não se observou correlação trol study. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev.
entre variáveis reprodutivas sobre o tamanho e 1996;5:425-31.
4. Mack WJ, Preston-Martin S, Bernstein L, et al. Re-
o estádio da doença36 (nível de evidência: B).
productive and hormonal risk factors for thyroid can-
Todos os estudos epidemiológicos não con- cer in Los Angeles County females. Cancer Epidemiol
seguiram demonstrar associação entre o uso da Biomarkers Prev. 1999;8:991-7.
5. La Vecchia C, Ron E, Franceschi S, et al. A pooled anal-
TH e a incidência de câncer renal32,33,37,38 (nível ysis of case-control studies of thyroid cancer. III. Oral
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6. Persson I, Yuen J, Bergkvist L, et al. Cancer incidence
and mortality in women receiving estrogen and estrogen–
Conclusões da plenária progestin replacement therapy _ Long-term follow-up of
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ma (nível de evidência: A), hepático (nível 8. Miller JG, Gee J, Price A. Investigation of oestrogen
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de evidência: B), renal (nível de evidência: in the progression of malignant melanoma. Melanoma
B) e nas doenças hematológicas malignas Res. 1997;7:197-208.
9. Dewhurst LO, Gee JW, Rennie IG, et al. Tamoxifen,
(nível de evidência: B). TH não é contrain-
17beta-oestradiol and the calmodulin antagonist J8
dicada a mulheres com antecedentes de tais inhibit human melanoma cell invasion through fi-
neoplasias (nível de evidência: D). bronectin. Br J Cancer. 1997;75:860-8.
10. Richardson B, Price A, Wagner M. Investigation of
• Há aumento no risco de meningioma em female survival benefit in metastatic melanoma. Br J
mulheres expostas à TH combinada (nível Cancer. 1999;80:2025-33.
111
resposta sexual em 678 mulheres entrevistadas sexual, excitação, satisfação e orgasmo foram
submetidas à histerectomia com ou sem oofo- significativamente melhores em relação ao gru-
rectomia bilateral, o grupo de mulheres ooforec- po placebo. Não houve alterações significativas
tomizadas referiu piora da função sexual quando no que diz respeito ao perfil lipídico ou a alte-
comparadas ao grupo cujos ovários foram pre- rações hiperandrogênicas dermatológicas, como
servados independentemente da idade3 (nível de acne e hirsutismo9-11 (nível de evidência: A).
evidência: B). Vale lembrar que a ooforectomia Em relação ao uso da metiltestosterona, a
reduz em aproximadamente 50% as concentra- dose mais utilizada em estudos clínicos tem
ções de testosterona total e livre em mulheres na sido 2,5 mg associada a 0,625 mg de estrogê-
pós-menopausa4,5 (nível de evidência: A). nios esterificados. Efeitos relacionados com
a melhora das queixas sexuais foram seme-
Deficiência androgênica lhantes aos encontrados com o uso de tes-
Apesar de concentrações baixas de androgê- tosterona, porém alterações do perfil lipídico,
nios em mulheres poderem indicar insuficiên- principalmente relacionadas à redução da li-
cia ou deficiência androgênica, até o momen- poproteína de alta densidade, foram verifica-
to não existe um critério bioquímico confiável das12,13 (nível de evidência: A). Vale ressaltar
para caracterizar essa situação. Por isso, não se que nesses estudos as pacientes que utiliza-
recomenda que o diagnóstico seja feito com ram terapia androgênica estavam em conco-
base nas concentrações de androgênios (tes- mitante uso de estrogenioterapia.
tosterona total ou livre) pela falta de correlação Um estudo conhecido como A Phase III
clínica com possíveis queixas sexuais1,6-8 (nível Research Study of Female Sexual Dysfunction in
de evidência: B). Women on Testosterone Patch without Estrogen
(APHRODITE) avaliou durante 52 sema-
Terapia androgênica na pós-menopausa nas a utilização de testosterona transdérmica
A literatura a respeito do uso de androgênios (adesivo) de forma isolada nas mesmas doses
em mulheres na pós-menopausa com o objetivo já mencionadas e com resultados semelhantes
de tratar alterações na função sexual é vasta e, (aumento significativo do número de relacio-
na maioria das publicações, o efeito é favorável namentos sexuais satisfatórios e dos escores de
com melhora dos parâmetros estudados. For- avaliação do desejo sexual). Os efeitos adversos
mulações contendo testosterona e metiltestoste- foram comparáveis aos do grupo placebo14 (ní-
rona são as mais avaliadas. O uso de 300 mcg de vel de evidência: A).
testosterona por via transdérmica, de liberação
diária, sob a forma de adesivo, foi o que trouxe Deidroepiandrosterona
melhores resultados com menos efeitos colate- Uma recente revisão a respeito da reposição
rais em até 24 semanas de utilização. Nos prin- de DHEA, importante precursor da produção
cipais estudos avaliados, critérios como desejo de estrogênios e androgênios, em mulheres na
Quando indicar, como realizar e qual a duração da terapêutica androgênica para mulheres na pós-menopausa? 113
Referências bibliográficas 10. Braunstein GD, Sundwall DA, Katz M, et al. Safety
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115
dos fogachos e sintomas de atrofia urogenital4 potência estrogênica. Além dos estrogênios, há
(nível de evidência: A). Contudo, após a publi- associação de progesterona, quando necessário,
cação em 2002 do estudo Women’s Health Initia- com o objetivo de proteção endometrial ou, ain-
tive (WHI), a TH encontrou novos paradigmas, da, de androgênios [testosterona e deidroepian-
com redução de 70% das prescrições médicas, e drosterona (DHEA)] para tratar desejo sexual
convencionou-se que a terapêutica deveria ser hipoativo. O uso de androgênios com essa in-
realizada com as menores doses hormonais e o dicação continua controverso e, assim como o
mínimo tempo necessário para obter alívio dos estriol, não foi oficialmente aprovado pela Food
sintomas relacionados à menopausa5. and Drug Administration (FDA) na THB5.
Tendo como objetivo principal reduzir as Outro ponto que gera intensa controvérsia
preocupações levantadas pelo estudo WHI re- é a recomendação para realizar testes salivares
lacionados aos riscos com tromboembolismo para dosar esteroides sexuais no momento ba-
venoso, câncer de mama e acidente cardiovas- sal, a cada três meses e anualmente, e avaliar a
cular, alguns profissionais de saúde iniciaram a eficácia e adaptação das doses empregadas na
prescrição de formulações manipuladas de hor- THB. O argumento utilizado pelos defenso-
mônios bioidênticos. Apesar do uso defendido res da realização dos testes salivares é de que
por alguns profissionais de saúde com argu- estes seriam uma ferramenta para personalizar
mentos de que a terapia hormonal bioidêntica as prescrições9. Além do alto custo que apre-
(THB) seja uma terapia hormonal natural, o sentam, estudos demonstraram que os testes
Colégio Americano de Obstetras e Ginecolo- salivares não apresentam acurácia precisa nem
gistas e a Sociedade Americana de Saúde Re- se correlacionam adequadamente com as me-
produtiva defendem a posição de que não há didas hormonais séricas comparativas, havendo
dados disponíveis que corroborem esse tipo de até interferência nos níveis hormonais salivares,
prescrição sem padrão adequado e definido6,7 dependendo da dieta com consumo de alimen-
(nível de evidência: D). tos picantes ou ervas10,11. Em função da preo-
Nas preparações manipuladas dos chamados cupação com as inconsistências nas dosagens,
hormônios bioidênticos, podem estar presen- a baixa reprodutibilidade e a real utilidade dos
tes vários tipos de estrogênios, como estradiol, testes salivares, não há indicação de sua realiza-
estrona e estriol, utilizando-se distintas vias de ção no início nem no seguimento das mulheres
administração, como a oral, implantes ou trans- em uso de THB12. A Sociedade Americana de
dérmicos8. As formulações combinadas de THB Menopausa (SAM) também não recomenda o
mais comuns nos Estados Unidos são o Bi-est uso de testes salivares na prática da THB13 (ní-
(20% de 17beta-estradiol e 80% de estriol) vel de evidência: D).
e o Tri-est (10% de estrona; 10% de 17beta- A segurança e a eficácia dos hormônios
estradiol e 80% de estriol), sempre calculadas bioidênticos e não bioidênticos no manejo dos
em miligramas e baseadas na concentração e na sintomas da menopausa e nos potenciais ris-
121
IC95%: 1,30 a 2,00). Também houve associa- ne Library analisou dois estudos randomizados
ção com riscos aumentados de procedimentos que, conjuntamente, contribuíram com 49 par-
biliares, incluindo colecistectomia, com RR de ticipantes. Os autores não verificaram evidên-
1,82 (IC95%: 1,45 a 2,30) e 1,63 (1,29 a 2,06), cia de que TH aumente a mortalidade de causa
respectivamente (nível de evidência: A). Con- hepática, transplantes ou morbidade relaciona-
vém reforçar que o estudo WHI avaliou a TH da ao fígado. Também não houve efeito da TH
administrada apenas por via oral e somente um nas concentrações séricas de bilirrubinas, toda-
tipo de estrogênio [estrogênio equino conjuga- via, houve maior risco de eventos adversos e de
do (EEC)] e um de progestagênio [acetato de abandono do tratamento por eventos adversos
medroxiprogesterona (AMP)]7. associados à TH11 (nível de evidência: B).
O Étude Épidémiologique de Femmes de la Em um desses estudos incluídos, as pacien-
Mutuelle Générale de l’Éducation Nationale (es- tes no grupo de tratamento ativo receberam
tudo E3N), um grande estudo de coorte fran- estrogênio transdérmico e progestagênio oral.
cês, avaliou 70.928 mulheres na pós-menopau- Houve um caso de elevação transitória e re-
sa e verificou aumento do risco de se submeter versível de enzima hepática12. Assim, pode-se
à colecistectomia para as mulheres que recebe- sugerir o controle evolutivo de enzimas hepáti-
ram estrogênio oral isolado (hazard ratio - HR: cas em pacientes hepatopatas submetidas à TH
1,36; IC95%: 1,03-1,65). Por outro lado, TH (nível de evidência: D).
transdérmica não se associou a maior risco (ní- Embora inexistam estudos que tenham tes-
vel de evidência: A)8. tado a segurança do tratamento hormonal em
Entretanto, não se constatou nenhum es- mulheres com doença hepática aguda, esta tem
tudo que tenha avaliado os efeitos de TH em sido considerada contraindicação formal à TH13
mulheres previamente portadoras de calculose (nível de evidência: D).
biliar. Mesmo assim, há quem considere que Não há estudos para respaldar a escolha de
mulheres com cálculos biliares não deveriam via de administração estrogênica em portadoras
receber TH9 (nível de evidência: D). de disfunção hepática, entretanto, consideran-
Um estudo transversal realizado por meio de do-se os efeitos da primeira passagem hepática
questionários concluiu que a menopausa se asso- quando da administração oral14, têm-se prefe-
ciou à aceleração da fibrose hepática em mulheres rido as vias transdérmica ou percutânea nesses
infectadas com o vírus da hepatite C e que a TH casos13 (nível de evidência: D).
desacelerava esse processo, tornando-o similar ao
de mulheres na menacme10 (nível de evidência: B). Lúpus eritematoso sistêmico
Poucos estudos avaliaram os efeitos da TH Um estudo multicêntrico norte-americano,
em mulheres portadoras de cirrose biliar e os randomizado e controlado por placebo ava-
que o fizeram não apresentaram grandes ca- liou 351 mulheres lúpicas na pós-menopausa, a
suísticas. Uma revisão sistematizada da Cochra- maioria (81,5%) com doença inativa e o restan-
127
Em 2005, outro ensaio clínico randomizado, porém não houve diferença entre os grupos nos
duplo-cego e controlado por placebo avaliou o escores objetivos de intensidade dos fogachos6
efeito de paroxetina nas doses de 10 e 20 mg/ (nível de evidência: A). Uma metanálise com
dia sobre a incidência de fogachos em 279 mu- dados desses dois estudos não notou efeito sig-
lheres climatéricas. As mulheres que usaram nificativo da venlafaxina em reduzir sintomas
paroxetina apresentaram redução na incidência vasomotores4 (nível de evidência: A). Em 2007,
de fogachos de 40,6% (10 mg/dia) e 51,7% (20 Carpenter et al. avaliaram duas doses diárias di-
mg/dia), valores significativamente maiores do ferentes de venlafaxina (37,5 mg e 75 mg) para
que as que usaram placebo. A eficácia foi con- tratar as ondas de calor em 77 mulheres com
siderada semelhante entre as duas doses, porém antecedentes de câncer de mama, por meio de
as que usaram paroxetina em menor dose foram ensaio clínico randomizado, duplo-cego e con-
menos propensas a descontinuar o tratamento trolado por placebo. As duas doses da medica-
(nível de evidência: A)3. Posteriormente, uma ção se mostraram efetivas na melhora tanto da
metanálise que utilizou os dados desses dois es- frequência quanto da intensidade dos fogachos7
tudos sobre paroxetina confirmou o efeito sig- (nível de evidência: A).
nificativo do fármaco, que leva a uma redução A desvenlafaxina também vem sendo testa-
média de um fogacho e meio por dia (DM: - da como opção para reduzir os sintomas vaso-
1,66; IC95%: - 2,43 a - 0,89)4 (nível de evidên- motores. Em 2009, um ensaio clínico rando-
cia: A). mizado, duplo-cego e controlado por placebo,
Em 2000, Loprinzi et al. conduziram um com um total de 458 mulheres na pós-me-
ensaio clínico randomizado e duplo-cego para nopausa, avaliou duas doses diárias desse fár-
avaliar a eficácia da venlafaxina em diminuir as maco (100 ou 150 mg). Após 12 semanas de
ondas de calor. Foram randomizadas 191 mu- tratamento, houve redução no número de fo-
lheres para receberem placebo ou venlafaxina gachos de 65,4% e 66,6% respectivamente. A
nas doses de 37,5, 75 ou 150 mg/dia. A redução severidade e a interferência no sono também
nos fogachos foi de 27%, 37%, 61% e 61% res- foram significativamente reduzidas no grupo
pectivamente, porém com maior incidência de de mulheres que usou a desvenlafaxina em re-
efeitos colaterais como boca seca no grupo que lação ao placebo8 (nível de evidência: A). Em
recebeu 75 e 150 mg/dia de venlafaxina5 (nível 2012, um estudo multicêntrico, randomizado e
de evidência: A). Em 2005, Evans et al. condu- duplo-cego comparou desvenlafaxina (100 mg/
ziram um ensaio clínico com 80 mulheres na dia), tibolona (2,5 mg/dia) e placebo. Foram
pós-menopausa que apresentavam fogachos. As incluídas 485 mulheres na pós-menopausa que
participantes foram randomizadas para utilizar apresentavam sintomas vasomotores. Após 12
venlafaxina de liberação estendida ou placebo. semanas, não houve diferença significativa na
Houve redução significativa da percepção sub- redução do número nem na intensidade dos fo-
jetiva dos fogachos nas usuárias de venlafaxina, gachos entre as usuárias de desvenlafaxina em
Este capítulo agrupa as conclusões finais da • Terapia estrogênica é efetiva para tra-
reunião plenária dos debatedores do Consenso tar sintomas isolados da atrofia vaginal e
Brasileiro de Terapêutica Hormonal da Meno- dispareunia, sendo a via vaginal preferível
pausa após as apresentações dos tópicos pelos (nível de evidência: A).
respectivos relatores. Os detalhes de cada rela- • TH é efetiva e apropriada para prevenir
tório, bem como a literatura consultada, podem fraturas osteoporóticas em mulheres na
ser vistos nos capítulos correspondentes. pós-menopausa (nível de evidência: A).
• A dose e a duração da TH para tratamen-
1. Quais as indicações para a terapêutica to dos sintomas devem ser individualiza-
hormonal da pós-menopausa? das.
• O tratamento dos sintomas vasomotores
intensos e moderados permanece como 2. Por quanto tempo manter a terapêutica
a indicação primária da TH. Essa tera- hormonal e como suspender esse
pia é o tratamento mais efetivo para os tratamento?
sintomas vasomotores na peri e pós-me- • A TH deve ser suspensa assim que os be-
nopausa, sendo especialmente indicada a nefícios por ela gerados não forem mais
mulheres sintomáticas abaixo dos 60 anos necessários ou a partir do momento em
e com menos de dez anos de menopausa que a relação benefício versus risco não for
(nível de evidência: A). mais vantajosa (nível de evidência: B).
135
• Apesar de os dados de segurança não in- • prevenção de fraturas osteoporóticas (ní-
dicarem aumento de risco com até cinco vel de evidência: A);
anos de utilização de TH estroprogestati- • prevenção e tratamento da atrofia vulvo-
va, a manutenção do tratamento pode ser vaginal (nível de evidência: A);
feita e deve ser sustentada nas indicações • melhora da função sexual (nível de evi-
propostas e no melhor juízo clínico, ava- dência: B);
liando-se os riscos e benefícios (nível de • redução do risco de DM2 (nível de evi-
evidência: A). dência: A);
• No caso da terapia somente com com- • diminuição de câncer colorretal (terapia
ponente estrogênico, parece haver maior combinada) (nível de evidência: A);
flexibilidade no tempo de utilização visto • redução do risco cardiovascular e de doen-
que não houve associação entre risco de ça Alzheimer quando iniciada na tran-
câncer de mama e uso de estrogênio iso- sição menopausal ou na pós-menopausa
ladamente por até sete anos (nível de evi- recente (nível de evidência: B);
dência: A). • melhora da qualidade de vida das mulhe-
• Não existem evidências de que a suspen- res sintomáticas (nível de evidência: B).
são gradativa de TH ofereça maior bene-
fício em relação à melhora da sintoma- 4. Quais os efeitos da terapêutica hormonal
tologia climatérica ou retorno ao uso da no sistema urogenital e na continência
TH quando comparada à descontinuação urinária? E os efeitos dos estrogênios locais?
imediata (nível de evidência: A). • A TH com estrogênio vaginal ou sistêmi-
• Não há definição para uma duração máxi- co é o tratamento de escolha para a atrofia
ma obrigatória para TH ou idade máxima vulvovaginal (AVV). Nas mulheres com
na qual esta deva ser suspensa (nível de sintomas unicamente de AVV, o estrogê-
evidência: D). nio tópico é a opção preferencial (nível de
evidência: A).
3. Quais os benefícios reconhecidos • Cremes vaginais diversos, como lubrifi-
da terapêutica hormonal, além das cantes ou hidratantes vaginais, podem ser
indicações? oferecidos a mulheres com dispareunia e
Há evidências de benefícios da TH sobre: que não desejam cremes à base de hormô-
• sintomas vasomotores (nível de evidên nios (nível de evidência: A).
cia: A); • As opções para o tratamento da AVV com
• efeito positivo no humor e sono na transi- hormonioterapia tópica no Brasil são estro-
ção menopausal (nível de evidência: A); gênios conjugados, estriol e promestrieno.
• irregularidade menstrual na transição me- • A absorção sistêmica de estrogênio pode
nopausal (nível de evidência: A); ocorrer com preparações de uso vaginal
12. Quais os efeitos da terapêutica hormonal 13. Quais os efeitos da terapêutica hormonal
sobre o risco de cânceres de endométrio, sobre o risco de cânceres do tubo
ovário e colo uterino? A terapêutica digestivo e do sistema respiratório? A
hormonal pode ser indicada após o terapêutica hormonal pode ser indicada
tratamento desses cânceres? após o tratamento desses cânceres?
• A terapia estrogênica isolada aumenta o • Não existe associação significativa entre
risco de hiperplasia e câncer endometriais, TH e incidência de câncer do estômago
sendo dose e tempo-dependentes (nível (nível de evidência: B). Antecedentes de
de evidência: A). TH combinada contínua carcinoma gástrico não constituem con-
diminui o risco do câncer de endométrio traindicação à TH (nível de evidência: D)
e a TH combinada sequencial não eleva • A TH combinada tem efeito protetor na
esse risco (nível de evidência: A). incidência de câncer colorretal (nível de
2014
Editores:
Maria Celeste Osório Wender
Apoio Realização
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http://www.menopausa.org.br/
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