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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2015.0000289270

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº


4002221-44.2013.8.26.0320, da Comarca de Limeira, em que é apelante
GERALDINA DE JESUS VICENTE, é apelada FABIANA CRISTINA XAVIER.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 7ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram
provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto da Relatora, que integra
este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores LUIS MARIO


GALBETTI (Presidente sem voto), RÔMOLO RUSSO E RAMON MATEO
JÚNIOR.

São Paulo, 30 de abril de 2015.

Mary Grün
Relatora
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº: 3663


APEL. Nº: 4002221-44.2013.8.26.0320
COMARCA: Limeira
APTE. : Geraldina de Jesus Vicente
APDA. : Fabiana Cristina Xavier

Ação de indenização por danos morais julgada


improcedente. Apelação da autora. Irresignação
improcedente. Alegação de que ofensas praticadas por sua
neta, nos autos de demanda relativa à sua conduta enquanto
curadora da genitora desta, teriam ocasionado danos morais.
Acusações trocadas em processo, porém, não devem servir
de fundamento a pretensões indenizatórias, desde que não
extrapolem o âmbito da discussão, o que não ocorreu no
caso. Precedentes. Dano moral não verificado. Sentença
mantida. Recurso desprovido.

Vistos.

Trata-se de apelação contra sentença (fls.


204/207) que, em “ação de indenização por danos morais” (sic),
movida por Geraldina de Jesus Vicente contra Fabiana Cristina
Xavier, em razão de pretensa ofensa praticada por esta contra
aquela, sua avó, nos autos de ação de cobrança, julgou
improcedentes os pedidos aduzidos na inicial, por entender que
ocorreu exercício regular de direito pela requerida ao ajuizar
demanda buscando apurar “eventual conduta indevida da autora
outrora curadora da mesma curatelada”.

Recorre a autora, irresignada com a r. sentença.

Sustenta, inicialmente, ter sofrido acusação pela


ré, sua neta, “de que jamais cumpriu com os seus deveres de Curadora
de maneira que ordena a lei, deixando a filha interditada à míngua de
cuidados especiais. Afirmou ainda, comprovadamente, da ação de
cobrança que lhe propôs, que em decorrência da ausência de cuidados

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prestados pela requerente, à filha interditada, esta passou a residir


com a ora apelada, conforme documento 09, em anexo nos autos” (fl.
230).

Afirma, também, a regularidade de sua conduta


quanto ao exercício da curatela da filha.

Defende, então, que as acusações narradas


teriam extrapolado os limites do direito de ação da ré,
ocasionando os danos morais alegados, que deveriam ser
indenizados.

Aponta, por fim, ser idosa.

Requer o provimento do recurso, reformando-se


a r. sentença para julgar procedente a ação de origem.

Tempestivo, o recurso foi regularmente


processado, com resposta a fls. 253/257.

É o relatório.

Não comporta provimento o recurso da autora.

De início, deve-se ressaltar que a r. sentença,


elaborada pelo MM. Juízo a quo de maneira atenta aos fatos
narrados e às provas produzidas, decidiu corretamente a
demanda, mostrando-se devida a ratificação dos seus
fundamentos (fls. 204/207).

Nesse sentido, o art. 252 do Regimento Interno


deste e. Tribunal estabelece que “Nos recursos em geral, o relator
poderá limitar-se a ratificar os fundamentos da decisão recorrida,
quando, suficientemente motivada, houver de mantê-la”.

Apelação nº 4002221-44.2013.8.26.0320 - 3663 JV 3


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STJ 1 tem prestigiado este entendimento quando reconhece "a


viabilidade de o órgão julgador adotar ou ratificar o juízo de valor
firmado na sentença, inclusive transcrevendo-a no acórdão, sem que
tal medida encerre omissão ou ausência de fundamentação no
decisum".

Ainda de acordo com entendimento do próprio


STJ 2, o que afasta eventual alegação de nulidade, “o inciso IX do
artigo 93 da Constituição Federal determina que toda decisão judicial
deve ser fundamentada. A jurisprudência do STJ admite que o
magistrado adote a motivação de outra decisão ou parecer, desde que
haja a sua transcrição no acórdão. É a chamada motivação ad
relationem”.

O STF, por sua vez, já decidiu que é possível


adotar os fundamentos de parecer do Ministério Público para
decidir, assim o tendo feito nas decisões proferidas nos RE
591.797 e 626.307, em 26.08.2010 3.

Desse modo, previu a r. sentença (fls. 204/207):

“Segundo se infere dos autos, busca a autora


reparação a título de danos morais em razão de ter

1
(REsp n° 662.272-RS, 2ª Turma, Rei.Min. João Otávio de Noronha, j . de 4.9.2007; REsp n°
641.963-ES, 2ª Turma, Rei. Min. Castro Meira, j . de 21.11.2005; REsp n° 592.092-AL, 2ª
Turma, Rei. Min. Eliana Calmon, j . 17.12.2004 e REsp n° 265.534- DF, 4ª Turma, Rei. Min.
Fernando Gonçalves, j de 1.12.2003).
2 Portal do Superior Tribunal de Justiça. STJ O TRIBUNAL DA CIDADANIA. Matéria “É nulo

julgamento de apelação que apenas ratifica sentença sem transcrever os fundamentos”. Matéria datada
de 21/02/2013, mesma data do acesso.
3 “Acompanho na íntegra o parecer da douta Procuradoria-Geral da República, adotando-o como

fundamento desta decisão, ao estilo do que é praxe na Corte, quando a qualidade das razões permitem
sejam subministradas pelo relator (Cf. ACO 804/RR, Relator Ministro Carlos Britto, DJ 16/06/2006;
AO 24/RS, Relator Ministro Maurício Corrêa, DJ 23/03/2000; RE 271771/SP, Relator Ministro Néri
da Silveira, DJ 01/08/2000)”.

Apelação nº 4002221-44.2013.8.26.0320 - 3663 JV 4


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sofrido ofensa à sua honra praticada pela ré, sua


neta, em autos de cobrança que lhe foi ajuizada por
esta; sustentou que a autora jamais cumpriu com
seus deveres de curadora da filha interditada, Nair
Rosa Ribeiro, deixando-a à míngua de cuidados
especiais, além de se apropriar de benefício
previdenciário da interditada quando esta não mais
residia com aquela; foram as razões que identificou
como lesão passível de ser recomposta através da
presente ação. A ré, por sua vez, se insurgiu
expressamente contra a pretensão indenizatória da
autora, sustentando a veracidade dos fatos por ela
alegados na referida ação, não cabendo ser
responsabilizada ao exercer referido direito de ação.
Eis então os fundamentos da lide. Em análise aos
termos da petição inicial e contestação, não se pode
deixar de destacar que há por parte da ora ré,
nomeada curadora da interditada, poder dever de
exigir, de buscar judicialmente informações no
legítimo interesse da curatelada, não ensejando
indenização no exercício de tal múnus. A propósito,
mostra-se exercício regular do direito por parte da
ré a busca da devida apuração de eventual conduta
indevida da autora outrora curadora da mesma
curatelada. Há de se destacar que, nos presentes
autos, conferiu-se oportunidade para que a autora
fizesse por comprovar hipótese diversa, ou seja, a má-
fé e o excesso da ré. Aberta a fase de instrução, todo
o quadro ora delimitado não se alterou com a prova
produzida sob o crivo constitucional do
contraditório na presente ação, não logrando a
autora provar abuso no ato investigativo exercido
pela ré que viesse a ensejar responsabilidade civil
indenizatória. Com efeito, não logrou provar a
ocorrência de exposição de sua pessoa à situação
vexatória excepcional que extrapolasse os limites
razoáveis do mencionado processo de cobrança na
busca da apuração dos fatos pertinentes. Já se
decidiu em casos semelhantes pela insuficiência da
situação exposta para caracterização de dano
passível de ser indenizado; “Transtorno dessa
ordem, não fugindo à normalidade, há convir, não
demanda indenização, sob pena de vir a ser
prestigiada a chamada indústria do dano moral a
ensejar o enriquecimento sem causa dos postulantes.
O que não se pode admitir”. (Apelação

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0054827-40.2008.8.26.0564, Relator Luiz Ambar,


Tribunal de justiça do Estado de São Paulo). Assim,
conforme amplamente reconhecido em vários
julgados, tal conduta não constitui ilícito passível
de ensejar o dever de indenizar. Frisa-se, mostra-se
exercício regular do direito por parte da ré. Nesse
sentido, inclusive, colecionam-se as seguintes
emendas: Indenização por dano moral. Autor foi réu
em ação de investigação de paternidade julgada
improcedente. Quando contestou aquela demanda
não negou ter mantido relações sexuais com a ora
apelada. Dano moral não configurado. Autor que se
arvora como integrante da elite social local deve
suportar as peculiaridades pertinentes, ou seja, as
vicissitudes do cotidiano. Questões processuais são
insuficientes para caracterizar afronta à dignidade
da pessoa humana ou expô-la à situação vexatória.
Apelo desprovido. (APELAÇÃO CÍVEL COM
REVISÃO n° 298.212-4/2-00, Sétima Câmara de
Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de
São Paulo. Julgamento: 06 de agosto de 2008.
Desembargador Relator NATAN ZELINSCHI DE
ARRUDA) “DANO MORAL. OFERECIMENTO
DE QUEIXA-CRIME E REPRESENTAÇÃO NA
OAB. EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO.
AUSÊNCIA DE ABUSO. SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA CONFIRMADA”.(Apelação nº
0129208- 62.2008.8.26.0000, 9ª Câmara de Direito
Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo.
Julgamento: 26.03.2013. Desembargador Relator
ANTONIO VILENILSON);
“RESPONSABILIDADE CIVIL - Dano moral -
Imputação do crime de ameaça ao autor perante
autoridade policial e de conduta anti-ética perante
os órgãos de classe (Ordem dos Advogados do
Brasil)-Arquivamento do termo circunstanciado e
ausência de informações sobre a representação -
Irrelevância, diante da ausência de má-fé na conduta
do réu -Exercício regular de direito - Procedimentos
sigilosos cercados da garantia do contraditório e da
ampla defesa - Juntada de documentos a processo de
terceiro que se justifica pelo interesse no deslinde
das questões a ele atinentes - Mero aborrecimento
que não gera direito à indenização - Ausência de
nexo causal entre o fato e o prejuízo alegado - Danos
morais e materiais não evidenciados - Sentença

Apelação nº 4002221-44.2013.8.26.0320 - 3663 JV 6


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mantida - Recurso improvido”. (Apelação n°


9132211-08.2004.8.26.0000, 8a Câmara de Direito
Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo;
julgamento: 02.03.2013, Desembargador relator
Luiz Ambra); Tribunal de Justiça de São Paulo E M
E N T A INDENIZAÇÃO - Dano moral - Abertura
de inquérito policial - Exercício regular de um
direito - Inexistência de abuso ou má-fé - Ação
julgada improcedente - Recurso não provido.
(Apelação Cível n. 11.349-4 - São Paulo - 4ª Câmara
de Direito Privado - Relator: Cunha Cintra -
04.12.97 - V. U.) Tribunal de Justiça de São Paulo
E M E N T A RESPONSABILIDADE CIVIL -
Indenização - Ato ilícito - réu que teria imputado ao
autor a prática de crime inexistente - alegação de
ocorrência de dano moral - Conduta do réu que teria
se limitado à prática de exercício regular de direito,
ao pedir providências à autoridade competente, ante
contrato administrativo que seria irregular -
Julgamento de improcedência da ação - Recurso não
provido. (Apelação Cível n. 78.863-4 - Assis - 4ª
Câmara de Direito Privado - Relator: Jacobina
Rabello - 27.05.99 - V. U.); Tribunal de Justiça do
Distrito Federal PROCESSO: APELAÇÃO CÍVEL
APC4176196 DF ACÓRDÃO: 95864 ORGÃO
JULGADOR: 4a Turma Civel DATA: 12/05/1997
RELATOR: JOÃO MARIOSA PUBLICAÇÃO:
Diário da Justiça do DF: 25/06/1997 Pág:
13.894REFERÊNCIAS LEGISLATIVAS: CÓDIGO
DE PROCESSO PENAL ART-386 INC-6 CÓDIGO
PENAL ART-171 INC-1 INC-2 CÓDIGO CIVIL
ART-159 ART-1059 CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL ART-128 ART-162 ART-330 ART-331
RAMO DO DIREITO: DIREITO CIVIL E M E N T
A CÍVEL - PRÁTICA DE CRIME EM TESE -
COMUNICAÇÃO À AUTORIDADE POLICIAL -
INOCORRÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO
ILEGAL - REPARAÇÃO DOS DANOS MORAIS -
INVIABILIDADE. I - A apresentação de notitia
criminis ao órgão competente, para se apurar a
prática de infração penal, não configura ato ilícito,
mas sim exercício regular de direito. II - O pedido
de indenização por danos morais, fundado em ato
ilícito, pressupõe a existência de culpa, para a
caracterização da obrigação de reparar o dano. III -
Recursos desprovidos. DECISÃO: Conhecer, negar

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provimento a ambos os recursos. Negar provimento


ao recurso do autor e dar provimento parcial ao
recurso do réu. INDEXAÇÃO: DANOS MORAIS.
NOTITIA CRIMINIS, SUPOSIÇÃO, PRÁTICA,
CRIME. INEXISTÊNCIA, PROVA, DELITO;
DESCABIMENTO, INDENIZAÇÃO,
CONDENAÇÃO, PAGAMENTO, CUSTAS
PROCESSUAIS ISENÇÃO, PRAZO,
QUINQUÊNIO". Portanto, o ato praticado pela ré
se mostra regular, exercício de um direito,
sobretudo, porque não comprovado nos autos, como
já destacado, má-fé e excesso quando de seu
exercício. Por fim, não se vislumbra dolo ou excesso
de petição que justifique o reconhecimento de
litigância de má-fé por parte da autora quando do
ajuizamento da ação nos termos em que sugeriu a ré
em sua contestação. Posto isso e o mais que dos
autos consta, JULGO IMPROCEDENTE a presente
GERALDINA DE JESUS VICENTE em face de
FABIANA CRISTINA XAVIER. Embora vencida,
deixo de condenar a autora a arcar com os ônus da
sucumbência e honorários advocatícios porque
beneficiária da justiça gratuita. Publique-se e
registre-se a sentença e intimem-se as partes.”.

Realmente, pelo que se extrai dos autos, não


merece prosperar a pretensão da requerente.

Isso porque, conforme entendimento


consolidado na Jurisprudência deste e. Tribunal, “as acusações
trocadas no processo, mesmo contendo expressões mais fortes, não
podem e não devem servir de fundamento a pretensões indenizatórias
por dano moral, desde que não extrapolem o âmbito do debate e não
sejam divulgadas externamente” (JTJ 217/79 in Apelação nº
235.266-4/7-00, Sexta Câmara A de Direito Privado, TJ/SP, Rel.
Juiz Hamid Bdine, j. 10.03.2006).

E no caso examinado não se verificou, de fato,


qualquer excesso nas alegações da apelada, claramente

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pertinentes à demanda movida, relativa a valores que teriam


sido levantados indevidamente pela apelante, quando já não era
curadora da genitora daquela.

Nesse sentido, cumpre esclarecer que a prova


oral produzida (fls. 201/203), conquanto comprovasse os fatos
narrados pela recorrente quanto aos cuidados dispensados à sua
filha, não ensejaria a procedência dos pedidos aduzidos na
inicial.

De rigor, assim, a manutenção da r. sentença.

Pelo exposto, por meu voto, nega-se provimento


ao recurso.

MARY GRÜN
Relatora

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