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Commented [1]: Didático do Paraná

EPISTEMOLOGIA Temas de Filosofia


(Teoria do Conhecimento) Livro do Juvenal

INTRODUÇÃO
Commented [2]: Não há desejo mais natural que o desejo de
“Por natureza, todos os homens desejam o conhecimento” essa é uma famosa conhecimento. Ensaiamos todos os meios que podem levar-nos a
ele. Quando nos falta a razão, empregamos a experiência,
(Montaigne)
frase do filósofo grego Aristóteles, a qual abre seu livro Metafísica. Com ela, o filósofo
grego está afirmando que é constitutivo dos seres humanos o desejo por conhecer tanto
as coisas do mundo e como a si mesmos. Em outros termos, “conhecer” é uma atividade
central que realizamos em nossa existência. Não só ansiamos pelo conhecimento, como
podemos até mesmo afirmar que sabemos muitas coisas, que temos muito
conhecimento. Não temos acesso direto a nossos pensamentos, ideias, desejos,
memórias, sentimentos? Não nos relacionamos com coisas que são distintas de nós, que
estão fora de nós? Sem dúvida! Temos muitos conhecimentos, pois toda e qualquer
experiência que tenha sentido para nós e sejamos capazes de entendê-la, podemos
denominá-la de conhecimento.
É bastante comum ouvirmos frases que expressem esta ideia da posse de uma
quantia de conhecimento: “Aquela pessoa tem muito conhecimento.” Esta afirmação diz
algo sobre a posse e a quantidade de conhecimento que alguém supostamente tem.
Propriamente, a Filosofia ao focar seu interesse no tema do “conhecimento”, ao se fazer
Epistemologia, não está preocupada com a posse ou quantidade de conhecimento que
alguém tenha. Até mesmo seria difícil “medir” esta quantidade. Soa humanamente
impossível conseguir que alguém seja capaz de descrever sobre tudo aquilo que sabe.
Além disso, a Epistemologia não se preocupa com o ato ou efeito de conhecer, ou seja,
não se buscam as causas psicológicas (motivacionais) ou biológicas (evolução do
aparelho cognitivo) que explicam a nossa capacidade de conhecer.
A Filosofia ao focar seu interesse no tema do “conhecimento”, em
Epistemologia, preocupa-se em analisar e investigar a natureza e a origem do
conhecimento. Em outros termos, volta-se para a explicitação da estrutura do
conhecer. No fim das contas, podemos sintetizar em apenas uma breve pergunta todos
os problemas nas palavras do cético Montaigne: Que sei eu? Commented [3]: Ensayos, p. 442

TIPOS DE CONHECIMENTO
É certo que pessoas diferentes conhecem as coisas do mundo de diferentes Commented [4]: Sober / Russel, cap. 5

modos, ou seja, cada uma tem uma experiência subjetiva própria. Cada um conhece de
um modo o café que toma pela manhã; cada um conhece a seu modo um texto de
literatura; cada um conhece as cores das camisas que vestimos, cada um conhece como
andar de bicicleta ou jogar basquetebol, etc.
Os filósofos trataram de classificar em ao menos três possíveis sentidos em que
falamos de conhecimento:

Tipos de Objeto Exemplos Caráter


conhecimento
Conhecimento de Saber-fazer S sabe andar de Prático
aptidões e habilidades bicicleta.
Conhecimento por Pessoas, lugares e S conhece Lisboa. Experienciado
contato / direto coisas
Conhecimento Proposições S sabe que o Monte Teórico
proposicional Everest é a montanha
mais alta do mundo.

Exemplificando a possível relação entre os mesmos:


Um cirurgião precisa ter conhecimentos práticos relativos ao manuseamento
dos instrumentos cirúrgicos, mas também precisa ter numerosos
conhecimentos proposicionais acerca da anatomia e fisiologia do corpo
humano, e das melhores estratégias para executar as intervenções cirúrgicas;
e precisa também de algum conhecimento por contato de cada paciente.
Passa-se o mesmo com um mecânico ou com um engenheiro agrônomo.

DEFINIÇÃO CLÁSSICA DE CONHECIMENTO


A definição tripartite de conhecimento se encontra no diálogo Teeteto de autoria
do filósofo grego Platão. Acompanhe abaixo como se dá o diálogo de Sócrates com
Teeteto na busca pela definição de “conhecimento”

“Sócrates - Então, para começar, que diremos, mais uma vez, que seja
conhecimento? Pois estou certo de que não vamos parar aqui.
Teeteto - De jeito nenhum; salvo se desanimares.
Sócrates - Então, dize qual é a melhor maneira de defini-lo sem nos
contradizermos muito.
(...)
Teeteto - Crença verdadeira é conhecimento. O pensamento certo está isento
de erro, e tudo o que sai dele é belo e bom.
(...)
Sócrates - Por certo que a questão requer um breve exame, pois há toda
uma arte que te indica que o saber não é o que estás a dizer que é.
Teeteto - De que forma? E que arte é essa?
Sócrates - A dos grandes mestres de sabedoria, que denominamos oradores
e advogados. Não é com sua arte e ensinando que eles convencem os outros, mas
levando-os, por meio da sugestão, a admitir tudo o que eles querem. Acreditas,
mesmo, que haja profissionais tão habilidosos, a ponto de demonstrarem a verdade
do fato; para quem não foi testemunha ocular de alguma violência ou roubo de dinheiro,
no pouquinho de tempo que a água corre na clepsidra?
Teeteto - De jeito nenhum posso acreditar nisso; o que eles fazem é persuadir.
Sócrates - E persuadir, no teu modo de pensar, não é levar alguém a admitir
alguma crença?
Teeteto - Sem dúvida.
Sócrates - Nesse caso, quando os Juízes são persuadidos por maneira justa,
com relação a fatos presenciados por uma única testemunha, ninguém mais, julgam
por ouvir dizer, após formarem crença verdadeira; é um juízo sem conhecimento;
porém ficaram bem persuadidos, pois sentenciaram com acerto.
Teeteto - Isso mesmo.
Sócrates - No entanto, amigo, se conhecimento e crença verdadeira nos tribunais
fossem a mesma coisa, nunca o melhor juiz julgaria sem conhecimento. Mas agora
parece que são coisas diferentes.
Teeteto - Sobre isso, Sócrates, esquecera-me o que vi alguém dizer; porém
agora volto a recordar-me. Disse essa pessoa que conhecimento é crença verdadeira
acompanhada da explicação racional [justificação], e que sem esta deixava de ser
conhecimento. As coisas que não encontram explicações não podem ser conhecidas -
era como ele se expressava - sendo, ao revés disso, objeto do conhecimento todas as
que podem ser explicadas.
(...)

Sócrates - Por isso, quando alguém forma crença verdadeira de qualquer


objeto, sem a racional explicação, fica sua alma de posse da verdade a respeito desse
objeto, porém sem conhecê-lo, pois quem não sabe nem dar nem receber explicação
de alguma coisa, carece do conhecimento dessa coisa; porém se a essa crença
acrescentar a explicação racional, então ficará perfeito em matéria de
conhecimento.” (adaptado Platão Teeteto 200d-202d. Belém: Editora UFBA, 2001)

Em resumo, a definição tripartite de conhecimento é:

CONHECIMENTO = CRENÇA VERDADEIRA E JUSTIFICADA

CRENÇA VERDADE JUSTIFICAÇÃO


Ato ou estado mental de Quem acredita em algo Apresentar razões que
crer em algo (uma toma aquilo por verdadeiro garantam a verdade da
proposição) crença
Esta é uma definição de conhecimento proposicional. O conhecimento
proposicional é conhecimento de proposições. Define-se uma proposição como aquilo
que é dito por meio de uma declaração. A proposição é o conteúdo de uma declaração,
sendo a proposição aquilo que possui
valor de verdade, ou seja, pode ser
verdadeira ou falsa.
Formalmente, representa-se o
conhecimento proposicional assim:
*** S crê que P ***

Exemplo 1: S crê que “As árvores são


plantas”
Exemplo 2: S crê que “Há um
elefante na sala ao lado”

Um pouco de lógica e linguagem

EXPLICAÇÃO DO QUE SEJAM PROPOSIÇÕES:


- buscar em linguagem e na apostila do Alter em Epistemologia
- declarações

PLATÃO, CONHECIMENTO E ALEGORIA DA CAVERNA


Platão, como já visto, foi um dos primeiros filósofos a abordar a questão do
conhecimento humano sobre a realidade. Ele elaborou um modelo de explicação do
conhecimento fazendo uso da Alegoria da Caverna para explicá-lo. Assim comenta
Marcondes a respeito da Alegoria: “A Alegoria, ou Mito da Caverna, que se encontra
no início do livro VII deste diálogo [A República] consiste precisamente em uma
imagem construída por Sócrates para explicar a seu interlocutor, Glauco, o processo
pelo qual o indivíduo passa ao se afastar do mundo do senso comum e da opinião em
busca do saber e da visão do Bem e da Verdade” (1999, p. 39). Confira abaixo a síntese
que Marilena Chauí elabora:

“Imaginemos, escreve Platão, uma caverna separada do mundo exterior por um muro baixo.
Entre esse muro e o teto da caverna há uma fresta por onde passa alguma luz externa, evitando que o
interior fique na obscuridade completa. Desde seu nascimento, geração após geração, seres humanos
estão acorrentados ali, sem poder mover a cabeça na direção da entrada nem se locomover até ela,
forçados a olhar apenas a parede do fundo, vivendo sem nunca ter visto o mundo exterior nem a luz
do Sol. Estão quase no escuro e imobilizados.
Do outro lado do muro, mas ainda dentro da caverna, há um fogo que ilumina vagamente o
interior sombrio e faz com que as coisas que ali se passam sejam projetadas como sombras nas paredes
do fundo da caverna (pensemos na caverna como se fosse uma sala de cinema e o fogo, a luz de um
projetor de filmes).
Entre o fogo e o muro, pessoas passam conversando e carregando nos ombros figuras ou
imagens de homens, mulheres, animais cujas sombras são projetadas na parede da caverna. Nunca tendo
visto o mundo exterior, os prisioneiros julgam que as sombras das coisas transportadas e os sons das
falas das pessoas são as próprias coisas externas. Ou seja, julgam que as sombras são seres vivos que se
movem e falam.
Os prisioneiros se comunicam, dando nome às coisas que julgam ver (sem vê-las realmente, pois
estão na obscuridade), e imaginam que o que escutam, e que não sabem que são sons vindos de fora,
são as vozes das próprias sombras dos artefatos, e não dos seres humanos que os carregam e se encontram
do outro lado do muro.
Qual é, pois, a situação dessas pessoas aprisionadas? Tomam sombras por realidade. (...) Que
aconteceria se eles fossem libertados dessa situação miserável?
Um dos prisioneiros, inconformado com a condição em que se encontra, decide abandonar a
caverna. Fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões. (...) Enfrentando as durezas de um
caminho íngreme e difícil, sai da caverna. No primeiro instante, fica totalmente cego pela luminosidade
do Sol, com a qual seus olhos não estão acostumados. Enche-se de dor por causa dos movimentos que seu
corpo realiza pela primeira vez e pelo ofuscamento de seus olhos pela luz externa (…). Sente-se dividido
entre a incredulidade e o deslumbramento.
Incredulidade, porque será obrigado a decidir sobre onde se encontra a realidade: no que vê
agora ou nas sombras em que sempre viveu? Deslumbramento (literalmente: ‘ferido pela luz’), porque
seus olhos não conseguem ver com nitidez as coisas iluminadas.
Seu primeiro impulso é retornar à caverna para livrar-se da dor e do espanto, atraído pela
escuridão, que lhe parece mais acolhedora. Como precisa aprender a ver, e esse aprendizado é doloroso,
desejará a caverna, onde tudo lhe é familiar e conhecido.
Sentindo-se sem disposição para regressar à caverna por causa da rudeza do caminho, o
prisioneiro permanece no exterior. Aos poucos, habitua-se à luz e começa a ver o mundo. (...) A partir
desse instante, desejará ficar longe da caverna para sempre e lutará com todas as suas forças para jamais
retornar a ela. Mas lamenta a sorte dos outros prisioneiros. Por fim, toma a difícil decisão de regressar ao
subterrâneo sombrio para contar aos demais o que viu e convencê-los a se libertarem também.
O que lhe acontece nesse retorno? Os demais prisioneiros zombam dele, não acreditando em suas
palavras. Se não conseguirem silenciá-lo com suas caçoadas, tentarão fazê-lo espancando-o. Se mesmo
assim ele teimar em afirmar o que viu e os convidar a sair da caverna, certamente acabarão por matá-lo.
(...)
O que é a caverna? O mundo de aparências em que vivemos. O que são as sombras projetadas no
fundo? As coisas que percebemos. O que são os grilhões e as correntes? Nossos preconceitos e opiniões,
nossa crença de que o que estamos percebendo é a realidade. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da
caverna? O filósofo. O que é a luz do Sol? A luz da verdade. O que é o mundo iluminado pelo sol da
verdade? A realidade. Qual é o instrumento que liberta o prisioneiro rebelde e com o qual ele deseja
libertar os outros prisioneiros? A filosofia.””
(CHAUÍ, M. Iniciação a Filosofia, p.10-11, 2013)
Desde a Alegoria da Caverna, podemos explicar um pouco da teoria que Platão
elabora sobre a origem do conhecimento e o modo como podemos apreender a
realidade.
Para ele, há dois tipos principais de conhecimento da realidade:
a) Sensível: crença e opinião → impressões e percepções dos sentidos
b) Inteligível: razão e dialética

Cada um destes tipos fornece conhecimento de um domínio da realidade


A) Mundo sensível (interior da caverna): o mundo material, que tocamos,
cheiramos, esfregamos, lambemos, olhamos, ouvimos, em suma, o mundo
das aparências;
B) Mundo das ideias/formas (exterior da caverna): o mundo eterno,
imutável, estável, em suma, o mundo real;
ARISTÓTELES

Danilo Marcondes - Iniciação

INTERLÚDIO

Podemos perceber que os gregos

Usar Mário Porta para explicar o giro ao sujeito

DE ONDE SE ORIGINA O NOSSO CONHECIMENTO?


Uma das principais questões de epistemologia com a qual os filósofos se
ocupam diz respeito a compreender como podemos obter o conhecimento do mundo
externo, ou seja, da realidade. Esta questão, de forma mais precisa, pergunta a respeito
dos meios pelos quais obtemos o conhecimento, ou seja, qual é sua origem. Podemos
elencar ao menos as três respostas tradicionais para o problema denominado de
conhecimento do mundo exterior. Commented [5]: Olhar Porco Filósofo

Como sabemos alguma coisa sobre o mundo externo?


Se você pensar bem, verá que o interior da sua mente é a única coisa da qual pode ter
certeza.
Qualquer coisa em que você acredite – seja a respeito do Sol, da Lua, das estrelas, da
casa e da vizinhança em que você vive, seja sobre história, ciência, outros povos, até sobre a
existência de seu próprio corpo - está baseada em suas experiências e pensamentos, sentimentos
e impressões sensoriais. Essas são as únicas evidências m que você pode se basear diretamente,
seja ao ver o livro em suas mãos, ao sentir o chão sob os seus pés, ou ao lembrar que George
Washington foi o primeiro presidente dos Estados Unidos, ou que a água é H2O. Todo o resto
está mais distante de você do que suas experiências internas e seus pensamentos, e somente
chega a você através deles. Geralmente você não duvida da existência 10 chão sob seus pés, ou
da árvore que vê pela janela, ou dos seus dentes. Na verdade, na maior parte das vezes você nem
sequer pensa nos estados de espírito que o fazem perceber essas coisas: parece que você as
percebe diretamente. (...)
Se tentar argumentar que deve existir um mundo físico externo, porque, se não houvesse
coisas lá fora que refletissem ou difundissem luz nos seus olhos, produzindo suas experiências
visuais, você não poderia ver os edifícios, as pessoas ou as estrelas, a resposta é óbvia: Como
sabe disso? É apenas mais uma afirmação sobre o mundo externo e sua relação com ele, e
precisa estar baseada nas evidências dos seus sentidos.
(Trecho retirado de Nagel, T. Uma breve introdução a Filosofia, São Paulo: Martin Fontes, 2007, p. 7 -8)

Temos ao menos três possíveis respostas ao problema de como alcançamos


conhecimento a respeito do mundo exterior a nossas mentes. Commented [6]: Juvenal Savian utiliza da analogia com a
fotografia, conferir

RACIONALISTAS

O racionalista René Descartes assim comenta em seu livro Meditações de


Filosofia Primeira:
Commented [7]: Trecho do estabelecimento do cogito

“Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas
opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal
assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto; de modo que me era necessário tentar
seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera
crédito […].

Tudo o que recebi, até presentemente, como o mais verdadeiro e seguro, aprendi-o dos sentidos
ou pelos sentidos: ora, experimentei algumas vezes que esses sentidos eram enganosos.”

 Crítica aos sentidos:

 Dúvida hiperbólica (metódica):

 Fundamento certo e seguro para o conhecimento > penso, logo existo:

 Racionalismo > ideias inatas:

EMPIRISMO

Hume e Locke são os dois principais representantes do Empirismo. Eles são


empiristas, pois consideram que nosso conhecimento se origina na experiência e pode
ser explicado recorrendo a ela. É nestes termos que Locke irá afirmar: “não há nada na
mente que não tenha estado antes nos sentidos”, ou seja, nossa mente é como se fosse
uma tabula rasa.
Observe como Hume afirma, em suas Investigações, como se dá o conhecimento
a respeito do mundo, bem como a relação que temos com os objetos.
Mediante que argumento se poderia provar que as percepções da mente têm de ser
causadas por objetos exteriores completamente diferentes delas, embora se lhes assemelhem (se
isso for possível), e que não poderiam derivar, seja da força da própria mente, seja da sugestão
de algum espírito invisível e desconhecido, seja de alguma causa ainda mais desconhecida?
Reconhece-se que, de facto, muitas dessas percepções não surgem de algo exterior, como nos
sonhos, na loucura e noutras doenças. […]
Saber se as percepções dos sentidos são produzidas por objetos que se lhes assemelham
constitui uma questão de facto. Como deve ser decidida esta questão? Pela experiência,
certamente, como no caso de outras questões de idêntica natureza. Mas aqui a experiência
permanece – e tem de permanecer — inteiramente em silêncio. Nada está jamais presente ao
espírito a não ser as percepções, e ele não tem maneira de conseguir qualquer experiência da
conexão das percepções com os objetos. A hipótese dessa conexão não tem, portanto, qualquer
fundamento no raciocínio. (...)
Parece também evidente que, quando o ser humano é impelido por este cego e poderoso
instinto natural, supõe constantemente que as próprias imagens reveladas pelos sentidos são os
objetos externos, jamais suspeitando que umas não são mais do que as representações dos
outros. Deste modo, é levado a supor que esta mesa que vemos branca e sentimos sólida existe,
independentemente de nossa percepção, como algo exterior ao nosso espírito que a percebe.
Nossa presença não lhe confere existência, nossa ausência não a aniquila. Conservando,
portanto, sua existência invariável e inteira, independente da situação dos seres inteligentes que
a percebem ou a contemplam.
Esta opinião universal e primitiva de todos os homens, porém, cedo é destruída pela
filosofia mais trivial, a qual nos ensina que nada pode estar presente à mente a não ser uma
imagem ou percepção, e que os sentidos são apenas as entradas por onde as imagens são
transportadas, sem conseguirem suscitar uma comunicação imediata entre a mente e o objecto.
A mesa, que vemos, parece diminuir, à medida que dela mais nos afastamos, mas a mesa real,
que existe independentemente de nós, não sofre nenhuma alteração; não passava, pois, da sua
imagem, que estava presente à mente. Eis os óbvios ditames da razão; e nenhum homem, que
reflicta, alguma vez duvidou que as existências, por nós consideradas ao dizermos esta casa e
aquela árvore, são unicamente percepções na mente e cópias ou representações fugidias de
outras existências, que permanecem uniformes e independentes.
(Trecho retirado de: David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano, 1748, pp. 164-165 )

LEMBRAR!

Origem do conhecimento pela experiência sensível

Percepção > impressões fracas

Percepção > ideias

CRITICISMO Commented [8]: Giro copernicano

Kant é a figura principal da postura criticista. “Crítica” para Kant não tem o
sentido de capacidade de julgar minuciosamente seja uma produção artística, literária ou
científica, bem como costumes e comportamentos. “Crítica” tem o sentido de
estabelecer os limites daquilo que nós, humanos, podemos afinal conhecer.
Observe o comentário de Fearn sobre Kant e o problema do mundo exterior:

“Em 1787, Immanuel Kant escreveu que “continua sendo um escândalo para a filosofia e para
a razão humana em geral que a existência de coisas fora de nós … deva ser aceita meramente
por fé, e que, se alguém decidir duvidar da própria existência, sejamos incapazes de rebater
suas dúvidas mediante alguma prova satisfatória”. Dois séculos depois, esse “escândalo” ainda
está por ser resolvido, mas pode-se dizer que a sociedade filosófica tornou-se mais permissiva
desde os dias de Kant. A possibilidade sempre presente de erro não é mais considerada
suficiente por si mesma para ameaçar nossas pretensões ao conhecimento. Embora ainda não
possam provar que o “ceticismo” é falso e que o mundo exterior é real e não uma ilusão, os
filósofos demonstraram que o conhecimento é ao menos possível.”

(Trecho retirado de: Fearn, N. Filosofia. Novas respostas, Velhas perguntas. Zahar, 2007)

Para Kant, o conhecimento não se dá somente de uma forma ou outra. Em seu


entendimento, é possível que haja conhecimento tanto com a razão quanto com a experiência.
A preocupação de Kant é mostrar que aquilo que recebemos pelos sentidos, podemos
denominar isso de “dados”, não é recebido de forma pura. Em outros termos, isso
significa que nós participamos, enquanto sujeitos, da percepção sensível, e isto também
é conhecimento. Somente representamos, enquanto conhecimento, aquilo que nosso
aparato é capaz de conhecer apenas: este é o sentido fundamental de “crítica”.

Que todo o nosso conhecimento começa com a experiência, não há dúvida alguma, pois,
do contrário, por meio do que a faculdade de conhecimento deveria ser despertada para o
exercício senão através de objetos que tocam nossos sentidos e em parte produzem por si
próprios representações, em parte põem em movimento a atividade do nosso entendimento para
compará-las, conectá-las ou separá-las e, desse modo, assimilar a matéria bruta das impressões
sensíveis a um conhecimento dos objetos que se chama experiência? Segundo o tempo,
portanto, nenhum conhecimento em nós precede a experiência, e todo ele começa com ela.
Mas embora todo o nosso conhecimento comece com a experiência, nem por isso todo
ele se origina justamente da experiência.

(Trecho retirado de Crítica da Razão Pura, de Immanuel Kant)

ATENÇÃO:
• Conhecimento começa pela experiência sensível
• Nem todo conhecimento se origina na experiência
• Conhecimento é possível em uma síntese entre a razão e a experiência
• Conhecimento depende da aparelhagem do sujeito cognoscente
• “nada há na mente que não tivesse passado pelos sentidos, exceto a própria mente”

O ESTUDO FILOSÓFICO DA PRÁTICA CIENTÍFICA


(Filosofia da Ciência)

Chauí, p. 98 – texto do Boaventura


Santos, Boaventura. Para ampliar o canone ocidental – exclusivismo e diversidade epistemológica
Morin – Ciencia com consciência, Método 1, Introdução ao pensamento complexo
Popper: conjecturas, p.
Trecho do T. Kuhn sobre paradigmas
Feyerabend:

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