Professional Documents
Culture Documents
São Paulo
2017
0
MÁRCIO JOSÉ SANTANA
Polo: PAULISTA
São Paulo
2017
1
Sumário
Introdução ............................................................................................................ 03
Deficiência Auditiva e Inclusão Escolar ............................................................... 05
Conclusão ............................................................................................................ 18
Referências bibliográficas ................................................................................... 20
2
Introdução
Este trabalho tem como tema a inclusão escolar da criança com deficiência
auditiva, partindo da questão sobre de que modo o professor, em escola regular, pode
atuar no sentido de beneficiar o aprendizado do aluno com deficiência auditiva.
O trabalho se justifica sob a ótica geral da inclusão escolar, tema que somente há
pouco tempo conquistou o devido espaço tanto na educação quanto na sociedade em
geral, o que leva a concluir que estamos ainda nos primeiros passos e que muita coisa
ainda precisa ser feita para que ocorra a verdadeira inclusão; escolar e social.
Nesse sentido, trabalhos como este podem contribuir para a formação de uma
consciência inclusiva, fundamentada principalmente no maior conhecimento sobre a
questão.
3
Dessa forma, em busca de atender à necessidade de uma visão global sobre a
inclusão e os diversos tipos de deficiências, justificam-se estudos mais especializados
como este aqui apresentado.
4
Deficiência Auditiva e Inclusão Escolar
5
maiores são as dificuldades de desenvolvimento encontradas, em todos os campos:
linguagem, social, psíquico e cognitivo. Além disso, "o diagnóstico precoce permite que a
família seja orientada desde o primeiro momento, recebendo informações de profissionais
(médico, psicólogo, fonoaudiólogo) e tendo apoio para cuidar do desenvolvimento da
criança". Redondo e Carvalho, 2000:10.
Lembrando que as autoras acima escrevem com base em estudo realizado para a
área hospitalar, evidenciando o fator de exclusão social relacionado ao tipo de
atendimento prestado pelos profissionais da área de saúde, suas observações e
conclusões podem, no entanto, serem aplicadas a qualquer outra área, notadamente na
educação, foco deste trabalho, pois se não existe a possibilidade de comunicação entre
os profissionais de educação e os alunos com deficiência auditiva, com certeza vivencia-
se na escola um ambiente de exclusão.
6
adequadamente seus pacientes, pois a figura do intérprete, ainda que alguém íntimo da
pessoa deficiente é sempre um fator de inibição.
É fácil perceber que na escola a situação não é diferente ou, por outro falado, é
diferente, sim, mas no sentido de se agravar ainda mais, pois no ambiente escolar a
comunicação é fundamental. "Aí está implícito o papel decisivo da comunicação, que
seria a transmissão de significados entre as pessoas, no processo de inserção e
integração do indivíduo na organização social." (Melo, apud Cruz e Lopes, 2007. E
enquanto as autoras expressam a necessidade de os profissionais da área de saúde
adquirir aptidão para se comunicar com o deficiente auditivo, podemos dizer que o
mesmo deve acontecer em relação aos profissionais da área da educação e - por que
não dizer? - também das demais áreas da sociedade.
7
foco, isto é, a discussão sobre a municipalização do ensino e tratando de modo mais
direito a questão dos alunos com deficiências - ou necessidades especiais, termos
preferidos pelas autoras -, vemos como as autoras mostram a amplificação do problema
desses alunos nessas escolas ou, então fora delas, por não encontrarem ali condições
para seus estudos e muito menos a sua inclusão. Por aí se vê que o problema é muito
mais grave do que simplesmente discutir a inclusão.
Citando Forest & Pearpoint, Francelin e Motti (2009) enfatizam que a inclusão é
um movimento mais amplo que envolve toda a sociedade e que não é o tipo de
deficiência em si o principal fator a contribuir para a dificuldade da inclusão, pois o que há
de fato é a necessidade de uma mudança de mentalidade, que leve a todos profissional
de ensino ou não, a terem uma visão menos negativa e menos preconceituosa em
relação às pessoas com deficiência. Lembrando o que disseram Cruz e Lopes (2007),
isto é, que a inclusão é, sobretudo, uma questão de comunicação, de não-isolamento do
indivíduo, então podemos concordar que a mudança de mentalidade é fator crucial.
Citando Couto-Lenzi e ainda outros autores, Francelin e Motti (2009) dizem que a
única limitação do indivíduo com deficiência auditiva quando não acompanhada de outras
deficiências - é, na percepção dos sons, que pode afetá-lo em diferentes graus, mas que
8
o avanço científico e tecnológico tem sido capaz de criar dispositivos que minimizam essa
perda. Num momento seguinte, as autoras lembram que o grande obstáculo ocorre em
relação ao acesso à tecnologia, aos aparelhos e aos atendimentos especializados,
sugerindo então que essa é uma questão para o poder público resolver, no sentido de
suprir os alunos com deficiência auditiva com atendimentos e aparelhos, levando o
indivíduo surdo de integrar-se e exercer sua cidadania. Essa é uma colocação que
merece ao menos dois comentários; um é no sentido de que a tecnologia ainda não é
capaz de resolver todos os casos de deficiência auditiva; o outro é que essa é uma
questão que diz respeito de modo bastante direito à desigualdade social, primeiro porque
em famílias providas de recursos o indivíduo surdo recebe todo o tratamento que pode
ser a ele disponibilizado, e segundo porque o estigma da deficiência recai, normalmente,
sobre as pessoas de baixa renda ou baixa condição social.
9
só se comunicam entre si, até que, a partir dos anos 70, notadamente nos EUA, surgiram
movimentos favoráveis à língua de sinais, considerando ser a mesma uma língua mais
completa, no sentido de permitir o desenvolvimento global dos surdos. Esses
movimentos, por sua vez, culminaram na proposta bilingüe, isto é que defende tanto a
língua de sinais - da comunidade surda – quanto a oral e a escrita - do grupo majoritário.
E volta as autoras a insistir na história particular de cada aluno como fator que não
permite ser pensada uma regra ou uma receita capaz de garantir bons resultados em
qualquer caso. Enfatizam que o papel do professor e da escola é decisivo no seu
desempenho de cada aluno.
Essa atitude, no entanto, vem mudando, principalmente por parte dos principais
interessados, ou seja, das pessoas que têm deficiência auditiva. Essa mudança pode ser
vista no dizer de Redondo e Carvalho (2000):
10
uma fala diferente, e valorizam também seu direito de usar recursos variados para
se comunicar, na busca de uma melhor participação social. Rejeitam o termo
deficiente, que embute um conceito de déficit, e defendem uma atitude na qual
seja dado valor ao indivíduo, e não à deficiência da qual ele é portador (Redondo
e Carvalho, 2000:15).
Se, por um lado, o dizer de Redondo e Carvalho (2000) mostra uma mudança de
atitude por parte das pessoas mais jovens em relação à sua deficiência auditiva, por
outro mostra um aspecto de maior relevância ainda, qual seja: a luta das pessoas pelos
seus direitos. O histórico sobre a condição da pessoa com deficiência no mundo, feito
ainda no primeiro capítulo deste trabalho, mostrou que os primeiros movimentos
realmente significativos rumo à inclusão, além de recentes, só atingiram proporções
significativas a partir da luta de pessoas diretamente interessadas, notadamente os pais
de crianças com deficiência. Nesse sentido, a mudança de conceito, isto é, o abandono
da exclusividade da linguagem oralista como meio de comunicação, é apenas parte de
conquistas maiores, levadas a efeitos por pessoas que, mais que tudo, esperam ver seus
direitos respeitados, em condições de igualdade.
Porém, mudando um pouco uma colocação feita algumas páginas atrás, apesar
de o movimento rumo a inclusão haver começado pelas atitudes e pela cobrança dos
principais interessados, isto é, as pessoas com deficiência ou seus familiares, essa visão
deve tomar outro rumo, pois o interesse pela inclusão é também um interesse da
sociedade, de todas as pessoas. As autoras reforçam essa colocação, dizendo que a luta
pela participação social, não é uma luta apenas do surdo e de seus familiares. “Ao se
falar em integração (ou, atualmente, em inserção), é fundamental que a sociedade faça
sua parte, usando de todos os meios para atenuar as dificuldades impostas pela surdez”
(Redondo e Carvalho, 2000:24).
Essa integração será tanto maior quanto melhor, fora a recepção oferecida ao
deficiente auditivo, pois facilitar seu acesso a todos os espaços sociais (escola, parques,
festas, empresas, teatros, cinema, museus etc.) é a contrapartida para que exista
realmente integração e participação. “Se o surdo não pode ficar esperando que a
sociedade faça tudo por ele, também não pode lutar sozinho e competir com os ouvintes,
como se fosse ouvinte” (Redondo e Carvalho, 2000:24).
12
com quem quer brincar e conversar, de quem quer ser amiga, isto é, ela busca os pares
com quem possui maior afinidade.
A criança também pode desenvolver a leitura orofacial, isto é a leitura labial e a fisionômica,
capacidade de ler os lábios e a expressão facial de quem fala. Mesmo quando usam um
aparelho auditivo adequado, os deficientes auditivos em geral fazem também a leitura
labial, para compreender melhor a fala do outro. A leitura labial é uma capacidade inata em
todas as pessoas, mas apenas aquelas que têm perda auditiva desenvolvem tal habilidade”
(Redondo e Carvalho, 2000:26).
Método oral unissensorial: usa apenas a pista auditiva. Por meio do aparelho
auditivo, integra a audição à personalidade da criança com perda auditiva; não
enfatiza a leitura labial, nem utiliza a língua de sinais (...).
13
Método oral multissensorial: usa todos os sentidos: audição com apoio de aparelhos
auditivos, visão com apoio da leitura labial, tato etc.; também não utiliza a língua de sinais
(...).(Redondo e Carvalho (2000:26-7).
Método de comunicação total: É uma filosofia, não simplesmente um outro método, cuja
premissa básica é utilizar tudo o que seja necessário para o indivíduo com deficiência
auditiva como meio de comunicação: oralização, prótese auditiva, gestos naturais,
linguagem de sinais, expressão facial, alfabeto digital, leitura labial, leitura da escrita, enfim,
tudo aquilo que sirva de meio para ajudar a desenvolver o vocabulário, linguagem e
conceito de ideias entre o indivíduo surdo e o outro (Corrêa, apud Redondo e Carvalho ,
2000:26-7).
Bilinguismo: essa abordagem pretende que ambas as línguas – os sinais (LSB, a Língua de
Sinais Brasileira) e a oral (português) – sejam ensinadas e usadas sem que uma
interfira/prejudique a outra. Elas se destinariam a situações diferentes (Redondo e Carvalho
(2000:27).
Percebe-se então que as formas de comunicação que são ou que podem ser
adotadas não são impeditivos para a comunicação e a socialização da criança, pois ela
pode utilizar uma ou de outra ou mesmo de todas elas, desde que devidamente
estimulada ou treinada. Qual seria então o papel do professor no sentido de contribuir
com a inclusão do aluno com deficiência auditiva? Embora mais ou menos delineada nas
colocações até aqui feitas, podemos nos valer ainda de Redondo e Carvalho (2000) que,
antes de tudo, dizem que o trabalho do professor deve estar marcado pelos objetivos que
ele pretende alcançar na área da linguagem e por um programa concreto para cumprir
essa meta. É fundamental conversar com os pais a respeito desses objetivos e adequar o
programa, de maneira a permitir que a família colabore, aproveitando os contextos
naturais e cotidianos para estimular a linguagem do filho.
Dessas colocações é possível inferir que o professor inclusivo, ou seja, aquele que
deseja atuar no sentido de tornar a escola um ambiente de integração e inclusão,
necessita de conhecimentos teóricos e práticos que vão muito além daqueles exigidos
para a sua prática pedagógica cotidiana ou normal. A rigor, podemos compreender que
esse conhecimento deve permear a formação de todo professor, o que não é, porém,
uma realidade presente em nossas escolas. Mas quando se deseja uma escola inclusiva,
14
com professores inclusivos, essa necessidade consiste em de sair do plano futuro para
estar presente no dia-a-dia escolar. Trabalhar em benefício da inclusão do deficiente
auditivo, assim como de alunos com qualquer outro tipo de deficiência, não é tarefa difícil,
na medida em que depende fundamentalmente do desejo do professor.
No que se refere de modo mais específico à educação especial para crianças com
deficiência auditiva, podemos ainda buscar nas palavras de Redondo e Carvalho
(2000:40) algumas colocações importantes. As autoras falam das diferentes abordagens
adotadas ao longo do tempo no sentido de “... atender às necessidades das pessoas com
surdez e instrumentalizá-las para atuar socialmente”, mas lembram que é dever de cada
profissional educador informar aos pais da criança sobre as vantagens e as limitações
que a sua forma de atuação pode acarretar, pois, como se depreende das palavras das
autoras, é normal que sejam adotadas posições ou formas de atuar mais ou menos
individuais, ou seja, que cada professor atue segundo o que lhe parece mais adequado
ou conforme as suas próprias preferências ou capacitações.
Um ponto importante, no entanto, que está acima das posições individuais, diz
respeito ao conceito de que o surdo não deve necessariamente fazer uso exclusivo da
fala para se comunicar; conceito esse que perdurou até recentemente, como já foi
mostrado. Mesmo porque, dizem as autoras, eram poucos os surdos que conseguiam
bom desempenho na linguagem oral, geralmente aqueles poucos que podiam contar com
atendimento especializado. Assim, em função dos resultados obtidos no oralismo e das
pesquisas que reconhecem a língua de sinais como língua, os sinais começaram a ser
adotada na educação dos surdos na forma sintática da língua portuguesa, no método
denominado Comunicação Total. A Comunicação Total é uma filosofia segundo a qual os
surdos devem ter acesso a todas as modalidades de comunicação disponíveis,
escolhendo aquela, ou aquelas, que atende melhor a suas necessidades: fala; escrita;
pista auditiva: aproveitamento dos resíduos de audição, por meio de aparelhos de
15
amplificação sonora; leitura orofacial: leitura dos movimentos dos lábios e dos músculos
do rosto; expressão corporal; sinais: movimentos com as mãos representando ideias,
usados por comunidades de surdos; alfabeto digital: movimentos com as mãos que
representam as letras de nosso alfabeto.
Além disso, conforme se observa nas palavras seguintes das autoras, ao sair do
“oralismo, a pessoa surda não precisa necessariamente ater-se à mesma organização da
língua portuguesa no que se refere aos sinais, à sintaxe e mesmo às regras gramaticais.
Isso significa que o surdo ou quem com ele se comunica, não precisa seguir a mesma
organização sintática, como - no exemplo dado pelas autoras - eu vou à aula, que, na
linguagem de sinais pode ser colocado como aula, ir.
Com essa citação pode-se encerrar esse trabalho, comentando antes que as
autoras fizeram praticamente um resumo de tudo o que foi exposto, pois mostram
claramente a recente e importante mudança na forma de pensar, tanto das pessoas com
16
deficiência auditiva, que passaram a exigir a valorização dos seus meios próprios de
comunicação, quanto das pessoas sem deficiência, que se viram ou se veem compelidas
a ver a inclusão do deficiente auditivo como uma questão de direito e de humanidade.
17
Conclusão
18
Referências bibliográficas
CORREIA & MARTINS, L. M. (1997). Alunos com NEE nas Classes Regulares.
Porto: Porto Editora, 1997.
19
GARCIA, Jesus N. Manual de dificuldades de aprendizagem: linguagem,
leitura, escrita e matemática. São Bernardo do Campo. Pioneira, 1998.
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão Escolar, o que é? Por quê? Como
fazer? São Paulo: Moderna, 2003.
20