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Ciência & Saúde Coletiva

ISSN: 1413-8123
cecilia@claves.fiocruz.br
Associação Brasileira de Pós-Graduação em
Saúde Coletiva
Brasil

Caron, Eduardo; Lefèvre, Fernando; Cavalcanti Lefèvre, Ana Maria


Afinal, somos ou não somos uma sociedade de consumo? Consequências para a saúde
Ciência & Saúde Coletiva, vol. 20, núm. 1, enero, 2015, pp. 145-153
Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
Rio de Janeiro, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=63033062017

Como citar este artigo


Número completo
Sistema de Informação Científica
Mais artigos Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal
Home da revista no Redalyc Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto
DOI: 10.1590/1413-81232014201.18812013 145

Afinal, somos ou não somos uma sociedade de consumo?

TEMAS LIVRES FREE THEMES


Consequências para a saúde

In the final analysis, are we a consumer society or not?


Implications for health

Eduardo Caron 1
Fernando Lefèvre 1
Ana Maria Cavalcanti Lefèvre 2

Abstract In this paper, the question of Brazil’s in- Resumo Discute-se aqui a nossa inserção como
sertion today as a country with the characteristics país, hoje, nas sociedades de consumo característi-
of modern consumer societies is discussed, focusing cas da modernidade, enfocando a mercantilização
on the commercialization of the health sector, the na área da saúde, a segmentação do sistema de
segmentation of the health system and the contra- saúde e as contradições do direito à saúde no con-
dictions of the rights to health care in the social texto social em questão. São apresentados dados
context in question. Some research data on these de pesquisa sobre o tema no Jornal Nacional da
issues broadcast in the National News Bulletins of Rede Globo de Televisão, durante o ano de 2012,
Globo TV during the year of 2012 are presented, na qual se analisa o hospital privado de alto pa-
in which the high technology private hospital as drão tecnológico como ícone de consumo, o sub-
a consumer icon, the underfunding of the public financiamento do sistema público de saúde e a
health system and the rejection of a poor and de- rejeição de um Sistema Único de Saúde pobre e
prived Unified Health System are analyzed. carente.
Key words Consumer society, Health, Television, Palavras-chave Sociedade de consumo, Saúde,
Social rights, Underfinancing of public health Televisão, Direitos sociais, Subfinanciamento da
saúde pública

1
Departamento de
Prática de Saúde Pública,
Faculdade de Saúde Pública,
Universidade de São Paulo
(USP). Av. Dr. Arnaldo 715,
Cerqueira Cesar. 01246-
904 São Paulo SP Brasil.
eduardo.caron@usp.br
2
Instituto de Pesquisa
do Discurso do Sujeito
Coletivo, USP.
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Caron E et al.

Brasil, sociedade de consumo Estado. Segmentos da população que não têm


recursos próprios para atender inteira ou par-
Ao se projetar futuros desejados possíveis ou cialmente suas necessidades de saúde recorrem
necessários para a sociedade, condicionam-se as ao Estado, que provê ou ajuda a prover meios de
ações no presente. Assume-se que a sociedade atendê-las. Numa sociedade que privilegia o aces-
possui uma plasticidade tal que, com uma ade- so ao mercado para a satisfação destas necessida-
quada intervenção e através de uma adequada des, tal provimento é uma ação compensatória e
consciência, seja capaz de ganhar a forma que se provisória, tal como os programas de assistência
projeta para ela. Mas nem sempre, ou raramente social, seguro desemprego, bolsa-família, etc.
esta plasticidade é verificável. Embora se cons- Com a expansão da “sociedade de consu-
truam projetos de mudanças sociais, elas ocor- midores” no Brasil, observa-se que o indivíduo
rem fora das previsões e dos sentidos desejados recorre ao SUS enquanto ainda não possui recur-
de mudança, como coloca Eugênio Vilaça1: A sos próprios, e assim que consegue uma inserção
generosa concepção constitucional de um sistema social como consumidor, migra para o mercado
de saúde de cobertura universal, ao longo dos anos, ou faz uso misto: compra no mercado um deter-
vem caminhando num sentido diverso, expresso na minado tipo de provimento e usa o estatal para
segmentação do sistema de saúde brasileiro. Dessa outros.
forma, o sonho da universalização vem se transfor- Embora o Estado produza serviços de saú-
mando no pesadelo da segmentação. de superqualificados, principalmente os de alta
No Brasil este processo pode ser verificado ao complexidade, o acesso é restrito e disputado in-
observarmos projetos de cidadania amparados clusive pelos planos de saúde nos equipamentos
legalmente pela Constituição de 88, entre eles o de porta dupla, que diferenciam o usuário SUS
da Reforma Sanitária que criou o SUS. Nas aná- do cliente de planos privados. Embora existam
lises sobre os fatores implicados neste processo exceções, para a maioria da população pobre o
encontramos a forte presença do consumo e do provimento estatal atende mal suas necessidades.
mercado de produtos e serviços, que ao final do Após um quarto de século de esforços e pactua-
século XX tornou-se hegemônico em todo o pla- ções para construção do SUS, o sistema público
neta. é tido como inferior aos planos de saúde. Mesmo
Neste contexto social ser alguém é ser con- quando no sistema privado o atendimento é de
sumidor. O consumo qualifica o indivíduo e as péssima qualidade, o SUS é percebido como pior
identidades são produzidas através do consumo. ainda, mesmo que não seja o caso.
As diferenças de acesso ao mercado implicam Há uma complexa combinação de fatores
desigualdades sociais. O direito do consumidor que condicionam o Estado a uma provisão de
se sobrepõe e se torna referência inclusive para menor valor: o subfinanciamento do sistema, a
o julgamento sobre direitos sociais, como vemos associação do SUS à população de baixa renda e
nos casos de judicialização em saúde no Brasil. aos lugares desprovidos, a redução do SUS a um
Numa sociedade de consumo o individuo é sistema assistencial, a desvalorização da Atenção
um ser integrado quando consegue ser um con- Básica, dos seus profissionais e usuários, a falta de
sumidor pleno ou relativamente pleno, ou seja, atenção humanizada aos usuários, a precarização
aquele que com seus recursos financeiros con- de vínculos de trabalho, a falta de conhecimento
segue comprar no mercado o que necessita ou sobre o SUS entre profissionais e na sociedade, a
acredita que necessita para si e para seus depen- associação da saúde pública a campanhas e pro-
dentes. Ao analisar o consumo como referencial gramas focais4. Cada um desses fatores pode ser
de inserção social, Amélia Cohn2 destaca que a entendido como resultante das relações entre o
questão dos distintos graus de inserção social tende SUS e uma sociedade que privilegia o provimen-
então a ser pautada quase que exclusivamente por to privado e o consumo de produtos e serviços
níveis de renda, portanto pela capacidade de os in- de saúde. Nessa condição o Estado nunca pode-
divíduos no âmbito da esfera privada mostrarem- ria prover diretamente para toda a população um
se aptos – ou não – para proverem suas necessida- atendimento considerado de qualidade idêntica
des sociais básicas. ou superior ao que é imputado aos melhores ex-
Em tais sociedades, como coloca Bauman3, poentes do sistema privado. É neste sentido que a
há os que ingressam parcialmente no mercado de afirmação do projeto do SUS, tal como desenha-
consumo. Para estes subconsumidores, ou con- do pela Reforma Sanitária Brasileira, é incompa-
sumidores cujo poder aquisitivo não é suficien- tível com o provimento privado num mercado
te para suprir suas necessidades básicas, existe o crescente de produtos e serviços de saúde. Para
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que esse mercado exista o SUS precisa ser pior. (PNAD-IBGE 2011). No Brasil, o espectador de
A hipótese da existência paralela de dois sistemas TV passa em média 4 horas diariamente com os
concorrentes de mesmo valor e qualidade, um olhos vidrados na televisão.
privado e outro público, não se sustenta. Além Esse consumo permanente e massivo da TV
disso, é preciso acrescentar que as práticas clien- no Brasil se dá num contexto global de desen-
telistas e patrimonialistas enraizadas numa cul- volvimento das sociedades de consumo. Na so-
tura política tradicional e convencional brasileira ciedade contemporânea global, a comunicação
também desvalorizam o SUS. erigiu-se como proeminente área de negócios,
Afirma Paim5: O futuro do SUS depende do vértice do desenvolvimento tecnológico, com in-
que se faz hoje. O subfinanciamento público e os fluência sobre todas as outras áreas econômicas,
estímulos aos planos privados de saúde, inclusive tornando-se um espaço público de padronização
ampliando o seu mercado mediante a inclusão cultural global e meio educativo de extrema ca-
de funcionários públicos e da chamada ‘classe C’, pilaridade em todo o planeta. Na expressão de
apontam para a reprodução de um SUS pobre para Marshall McLuhan, na segunda metade do século
os pobres, e complementar para o setor privado, XX, a expansão das transmissões de televisão via
sobretudo nos procedimentos de alto custo. As polí- satélite transformou o planeta numa aldeia glo-
ticas racionalizadoras ora implementadas, embora bal. Segundo Ulrich Beck7: As pessoas do mundo
relevantes, não são suficientes para renovar as espe- inteiro e de todas as classes se encontram na praci-
ranças por um sistema de saúde digno, democrático nha da televisão e consomem as notícias. Elas fa-
e de qualidade para todos os brasileiros. zem parte de uma rede mundial de comunicação
Desta forma temos, legalmente, um Sistema padronizada [...] as fronteiras institucionais e na-
Único de Saúde de natureza pública e um Siste- cionais deixam de valer.
ma de Saúde Suplementar, de natureza privada, A TV está a serviço do consumo, e preza o
sendo que, a rigor, o Público não é Único porque consumidor que é o seu público. Nas socieda-
existe o Privado e o Privado não é propriamente des contemporâneas, onde a produção social de
Complementar, pois concorre com o sistema pú- identidade e a inserção social se dão através do
blico e age dentro do poder político e na mídia, consumo, a TV torna-se o espaço de massa pri-
no sentido da desvalorização do SUS e da drena- vilegiado para estar up to date, sintonizado com
gem dos recursos públicos para os serviços pri- as tendências do mercado e a moda: a TV, isto
vados6. Em função dessa segmentação do sistema é, o que é dito e visto nela, é um denominador
de saúde no Brasil, segundo Eugênio Vilaça1, o comum necessário para ser alguém que perten-
SUS pensado como um sistema de cobertura uni- ce a essa sociedade, atualiza permanentemente
versal vem se consolidando como um subsistema as práticas sociais, informa valores, juízos, mo-
público de saúde que convive, em nosso país, com tivadores, objetos de desejo e rejeição, e produz
um subsistema privado de saúde suplementar e um fatos coletivos que são, segundo Lefévre8, aquele
outro subsistema privado de desembolso direto. conjunto de informações de natureza coletiva desti-
nadas a orientar os cidadãos na vida em sociedade.
Sociedade de consumo, saúde e TV Este é o contexto onde uma “Saúde Coletiva” é
fabricada enquanto representações correntes nes-
Ao se tratar das formas pelas quais na atua- te espaço de padronização. Através deste prisma,
lidade brasileira se criam noções e necessidades a Saúde Coletiva pode ser vista como o conjunto
em Saúde, é oportuno refletir sobre como esses de informações ou fatos sobre saúde e doença que
temas se apresentam nos meios de comunicação são ‘publicizados’ pela mídia numa dada formação
e em particular na TV. social, num dado momento histórico. Numa formu-
Com efeito, um traço marcante das socieda- lação sintética, poderíamos dizer que a Saúde Co-
des de consumo é a hipertrofia da mídia em to- letiva é, também, a saúde-que-aparece-na-mídia8.
dos os espaços sociais, fenômeno que tem impli- Aqui se pode ultrapassar a noção clássica
cações sobre a produção social de saúde e doença. unidirecional do processo de comunicação, na
No cotidiano dos brasileiros, nenhum outro qual se concebe que a mensagem é formulada no
meio de comunicação é mais presente ou in- emissor e, através de um canal, chega ao receptor.
fluente do que a TV, a qual se tornou a principal Esse esquema simplificado distorce o processo de
referência cultural no país. Em 2011, 97% dos produção social dos discursos midiáticos, como
domicílios possuíam televisão, mesmo domicí- se as mensagens pudessem ser produzidas por
lios sem acesso à infraestrutura básica (inclusi- um emissor autônomo destacado da socieda-
ve sem geladeira), possuem um aparelho de TV de, da audiência, das tendências do mercado, da
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notícia que corre na internet, da diversidade de A observação das matérias de abertura, pelo
causas e choques de opiniões correntes nos meios destaque que recebem, já revela os temas, ideias
sociais. Num outro modelo, de comunicação em e imagens centrais que norteiam as formas pelas
rede, a formulação da mensagem é gestada numa quais a saúde e, em particular, a saúde pública é
rede de interlocução. Emissores e receptores não vista no Brasil, em 2012. 75% de todos os conteú-
são autônomos, mas fazem parte de uma rede dos de saúde no Jornal Nacional se concentram em
comunicativa, multipolar, onde a noção de co- quatro eixos temáticos:
municação é menos a de transferência de senti- a) 5 reportagens de abertura (12/4, 17/4, 2/5,
dos, e mais de trama de sentidos, formando um 25/6, 11/10) tratam de Assistência Hospitalar, o que
mercado simbólico no qual os bens simbólicos totaliza 76 inserções no ano, ou 31% das matérias
são produzidos, circulam e são apropriados pelas de saúde;
pessoas9. Esse modelo de comunicação em rede b) 2 reportagens de abertura (19/4, 4/6) tratam
está cada vez mais atual, dado o crescimento de de Ciência e Tecnologia, tema presente em 51 re-
uma massa de mídia na internet paralela à mídia portagens durante o ano ou 21% das inserções;
de massa dos canais convencionais. c) 2 reportagens de abertura (25/6, 14/9) sobre
Consumo de Produtos e Serviços de saúde, que in-
A saúde no Jornal Nacional clui 28 inserções ou 11,4%; e
d) 1 reportagem de abertura (28/9) sobre Há-
Para investigar os temas de saúde neste con- bito e Comportamento de risco, que aparece em
texto complexo elegemos o Jornal Nacional como 11,8% das inserções no ano.
campo de pesquisa durante o ano de 2012. O Ao analisarmos as 246 inserções, observamos
Jornal Nacional ocupa um lugar de interlocução que o Hospital é o principal palco dos discursos
importantíssimo nesta rede e, por isso mesmo, é sobre saúde, somando 1 hora e 47 minutos ou 25%
influente e está fortemente sujeito a influências do tempo destinado à saúde no Jornal Nacional em
de múltiplas conexões no “mercado simbólico”, 2012. Nas matérias do Jornal Nacional não há ou-
do qual é um porta-voz largamente reconhecido. tra referência assistencial que não o hospital. Não
Em 2012, o Jornal Nacional tinha uma audiência há outros equipamentos onde se possa tratar da
média de 25 milhões de telespectadores diários, saúde. As doenças são ameaçadoras e a interven-
56% dos televisores do país ligados, somando 33 ção hospitalar é decisiva para a salvação das pes-
pontos no Painel Nacional de Televisão – PNT-I- soas com a máxima urgência. O hospital é o único
bope10, o que representa mais de 6 milhões e 300 recurso para quem deseja se proteger da morte.
mil domicílios nas 14 principais regiões metropo- Artur estava com hepatite fulminante e precisava
litanas do país. Essa audiência é flutuante, e em com urgência de um transplante. A doença é rara e
2012 teve um crescimento em torno de 5%, de- extremamente grave, e a perspectiva dele seria muito
vido a uma série de fatores como a audiência das sombria, praticamente não teria perspectiva de so-
novelas, a performance da apresentadora, peque- brevida. Com apenas 2 meses, Artur entrou na fila
nas variações no horário em que o jornal vai ao ar, para enfrentar um desafio: ser o mais novo pacien-
o que indica um trabalho permanente do veículo te do Brasil a passar por um transplante de fígado.
em busca de um público que se concentra de 70% (3/7/2012)
a 75% nas classes de consumidores A, B, C11. No hospital encontramos dois campos de re-
Nesta investigação na Faculdade de Saúde Pú- presentações: de um lado o hospital é o “sonho de
blica da Universidade de São Paulo foram anali- consumo”, um super-hospital moderno, munido
sadas 246 inserções no Jornal Nacional, distribu- de sofisticada tecnologia, com UTI móveis até em
ídas ao longo dos 12 meses de 2012, totalizando 7 aeronaves, e conduzido por médicos altamente es-
horas e 15 minutos de vídeo disponibilizadas no pecializados. Este ícone de consumo está associado
site http://g1.globo.com/jornal-nacional/vide- à elite da sociedade, artistas famosos, e o alto es-
os e acessadas através da palavra chave SAÚDE. calão da República, em 23 matérias que apontam
Estas 246 inserções foram apresentadas em 158 seus holofotes sobre internações e tratamentos de
edições do Jornal, isto é, o tema saúde aparece em celebridades.
metade de todas as edições ao longo do ano, sen- Reinaldo Gianequini está no hospital desde on-
do que em 60% delas aparece uma única vez, em tem e fez o PETscan: um exame que avalia as con-
30% das edições aparecem duas inserções, e 10% dições dos órgãos e tecidos do paciente. O PETscan
registra 3, 4, 5, até 6 inserções sobre saúde em mostrou que a doença respondeu ao tratamento, ou
uma única edição. Ao longo do ano de 2012, saú- seja, ele tem condições de saúde pra fazer o auto-
de foi matéria de abertura de 9 edições do jornal. transplante de células tronco. (5/1/2012)
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O tumor na laringe do ex-presidente Lula de- Esse foco na assistência hospitalar, tanto em
sapareceu. Mais do que desejado foi um resultado positivo, no hospital rico e privado, como em
previsto pelos médicos: hoje, uma ressonância mag- negativo, no hospital público, se sustenta sobre
nética e uma laringoscopia revelaram que, de fato, uma larga base de informação médico-científica
o câncer na laringe, que tinha 3 centímetros, desa- reunida em 1 hora e 33 minutos de matérias que
pareceu. (28/3/2012) reportam pesquisas realizadas nas mais renoma-
De outro lado, o hospital também é palco dos das instituições do planeta, como as Universida-
mais repulsivos, quando associado ao SUS. O Sis- des Columbia, Johns Hopkins, Harvard, Cambri-
tema Público de Saúde expresso nas reportagens dge, além do Nobel de medicina e química. Todo
realça as iniquidades, e caracteriza o que é pú- esse arsenal científico conflui para a expectativa
blico como pobre e carente. Das 42 reportagens de disponibilização no mercado de fármacos e
nesta categoria, que compreende 17% de toda a procedimentos inéditos demonstrados em labo-
programação anual, 24% se referem à Carência ratórios altamente sofisticados. É uma vitrine das
de Estrutura, 19% à Falta de Vagas, 19% à Falta mais promissoras inovações, que instiga o desejo
de Médicos, 14% à Negligência e Falhas Graves, do consumidor de logo tê-las ao alcance no mer-
12% às Greves e 12% à Crime ou Ocorrência Po- cado hospitalar e farmacêutico.
licial. Por fim, 28 reportagens tratam de problemas
Pacientes que procuram atendimento nos dois que consumidores enfrentam no mercado. As
maiores hospitais públicos de Natal encontram cor- reportagens sustentam uma proteção ao consu-
redores superlotados e muita sujeira [...] pelos cor- midor pela qual o Estado se responsabiliza, por
redores, equipamentos encostados sem uso, mofo exemplo, provendo cirurgias pagas pelo SUS
provocado pela infiltração, ferrugem e moscas em para a troca de próteses mamárias impróprias,
meio a muitos pacientes. (1/5/2012) que mulheres adquiriram por motivos estéticos
Só no mês de junho, a unidade registrou a mor- ou de saúde em clínicas particulares ou através
te de 16 recém-nascidos [...] em períodos normais do SUS. Ou a defesa de clientes de planos de saú-
são de 3, no máximo 6 óbitos no período. O ideal de frustrados diante da demora no atendimento.
é um médico pra cada 10 crianças, hoje nós temos Esse consumidor é o público do Jornal Nacional:
um médico pra 40 pacientes. (2/7/2012) mesmo que operadoras de planos privados sejam
Embora muitas reportagens que enaltecem anunciantes, clientes patrocinadores da emissora,
feitos hospitalares também reportem hospitais isso não impede que o Jornal Nacional assuma
públicos ou conveniados ao SUS, como o Hos- a defesa dos consumidores. Como veremos a se-
pital das Clínicas de São Paulo, a Santa Casa de guir não é o direito social e econômico à saúde
Porto Alegre, o Instituto de Cardiologia do DF, que sustenta essa defesa.
o Instituto Nacional do Câncer, entre outros, lá
estes não são identificados como tais, e sua vin- A saúde como direito e como mercado
culação ao SUS é omitida. Inversamente, quando
se trata de caracterizar o hospital público nega- O fato de no Brasil o mercado crescer forte-
tivamente, associa-se explicitamente o Sistema mente no campo da saúde coloca em discussão
Público de Saúde ou o SUS a esse hospital. o estatuto desta como direito. Uma questão ex-
O Ministério Público Federal investiga a sus- tremamente complexa e prenhe de contradições,
peita de que médicos do SUS estariam usando Hos- que diz respeito não somente ao crescimento dos
pitais Federais do Rio de Janeiro como clinicas de consumidores de planos privados de saúde, mas
estética [...] Além da prótese mamária, a própria também ao lugar do Estado como comprador
cirurgia de face com anestesia local, lipoaspiração no mercado de produtos e serviços privados e
de pescoço, abdômen e dorso, todos os atendimen- ao crescimento do mercado de instituições pri-
tos são pagos pelo Ministério da Saúde, em suma, vadas prestadoras de serviços públicos de saúde.
por todos nós, os contribuintes. (15/6/2012) Questiona o crescimento dos recursos judiciais
O médico que faltou ao plantão de natal no baseados no exercício do direito à saúde, a cida-
Hospital Municipal do Rio de Janeiro prestou de- dania que sustenta esse direito, e faz refletir sobre
poimento hoje. Na ausência dele, uma menina ba- as condições históricas de construção desta cida-
leada na cabeça teve que esperar 8 horas para ser dania no Brasil. Esta discussão também remete
operada. A.C.G. desfalcou a emergência do Hos- às transformações sociais no mundo contempo-
pital Municipal Salgado Filho, zona norte do rio, râneo, que instauraram um processo de crise da
quando a menina A.S. de 10 anos mais precisava modernidade, que, entre outros sintomas, põe
dos serviços de um neurocirurgião. (28/12/2012) em cheque o Estado de Proteção Social e os direi-
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tos humanos de segunda geração, isto é, direitos do sujeito cidadão e o exercício dos direitos como
econômicos e sociais entre eles o direito à saúde. prática social é um fator promotor da dignidade
O direito à saúde é uma construção históri- e protetor da universalidade e da qualidade dos
ca, filiada ao pensamento liberal desenvolvido serviços públicos, como se sucedeu em países do
na Europa nos séculos XVII e XVIII, que erigiu primeiro mundo onde os direitos econômicos e
as bases jurídicas da modernidade na forma dos sociais atingiram alto grau de desenvolvimento.
direitos do homem e do cidadão, cuja matriz está No entanto ao se observar tanto o provimen-
na concepção de um indivíduo autônomo e prio- to dos serviços públicos destinados à proteção
ritário em relação ao todo social, titular de um dos setores desprovidos, quanto o exercício da
direito subjetivo oposto ao poder do Estado12. cidadania no Brasil, depara-se com condições
Como analisa Danièle Lochak12, aqui reside já adversas: no Brasil, o governo, na qualidade de
uma contradição inerente ao direito à saúde: de responsável pelo “SUS pobre”, não pode deixar
um lado temos sua filiação liberal como “direito de subfinanciar este sistema, na medida em que
do homem” e, de outro, seu caráter econômico, ele é um sistema vigente numa sociedade que
coletivo e dependente do Estado. Em contradição privilegia o acesso ao sistema privado de saúde,
com sua matriz liberal, os direitos econômicos mas onde a maior parte da população necessita
requerem a intervenção ativa do Estado, a mo- proteção estatal.
bilização de meios materiais e o estabelecimento Na pesquisa em curso sobre as representações
de serviços públicos. O Estado de proteção social, de saúde nas reportagens do Jornal Nacional, no
provedor de prestações positivas, aumenta os im- ano de 2012, a tensão entre o déficit de provi-
postos, que restringem a liberdade de cada um mento estatal e a busca de serviços no mercado, é
de dispor dos seus ganhos como bem entenda, e um tema que atravessa as reportagens. A matéria
estreita o campo da autonomia individual12. de abertura da edição de 14 de setembro chama a
A observação dessa natureza contraditória do atenção para o aumento dos gastos do consumi-
direito à saúde é importante para compreender dor com saúde:
sua falibilidade diante dos efeitos da sociedade de Boa Noite! As famílias brasileiras estão gastan-
consumo que, entre outros aspectos, aprofunda do mais com transporte e com saúde e menos com
as tendências de individualização. Os casos de ju- alimentação.
dicialização do direito à saúde no Brasil são uma A pressão dos gastos com transporte e saúde
amostra dessa tendência. Diante da falibilidade no orçamento familiar prenuncia o descontenta-
do direito coletivo e da falta de sustentação deste mento que irá eclodir nas manifestações de ju-
pelo exercício da cidadania, o judiciário é uma nho de 2013, as quais se iniciam em torno do au-
via para que o indivíduo seja ouvido em sua ne- mento das tarifas de ônibus, mas logo canalizam
cessidade de saúde, pela afirmação do seu direito outras questões, com destaque para a saúde. Na
individual contra o Estado. reportagem de 18 de janeiro de 2012, dados do
Outro aspecto marcante na genealogia do di- IBGE mostram uma estrutura de gastos públicos
reito à saúde reside no fato da sociedade produ- em que o Estado se ocupa de apenas 44% do gas-
zir uma população de desprovidos que necessita to total em saúde:
assistência para sobreviver. Embora a Declaração Segundo uma pesquisa do IBGE divulgada
dos Direitos do Homem de 1793 já mencione a hoje, as famílias brasileiras gastaram mais com
proteção aos cidadãos “desvalidos”, somente em saúde do que o governo em 2009. Os gastos priva-
1848, dada a pauperização da classe operária, dos chegaram a 835 reais por pessoa enquanto as
esse sentido de dívida da sociedade para com despesas públicas ficaram em 645 reais por pessoa.
seus membros é formalizado constitucionalmen- Além da denúncia do subfinanciamento do
te: daí emergem o direito ao trabalho, o seguro SUS, presente no Jornal Nacional em 26, repor-
contra o adoecimento, o desemprego, a velhice, o tagens sobre o hospital público, que tratam da
direito a uma habitação decente12. Nessa medida, carência de estrutura (10 reportagens), falta de
essa genealogia já indica o advento dos direitos vagas (8 reportagens) e falta de médicos (8 re-
econômicos como um paliativo para sobrevivên- portagens), o subfinanciamento da saúde pública
cia da população pobre. O direito à saúde já nasce é pautado nas reportagens que tratam do orça-
num contexto compensatório para dar conta dos mento da União: na edição de 22 de fevereiro a
efeitos da pobreza gerada pela sociedade. Conferência Nacional dos Bispos do Brasil critica
Embora o direito ao provimento público te- o corte de mais de 5 bilhões de Reais no orçamento
nha origem na proteção social “aos cidadãos des- do Ministério da Saúde, e na edição de 16 de Janei-
providos” como medida paliativa, a construção ro a presidente veta artigos da Lei Orçamentária:
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A presidente vetou 15 artigos da lei, entre eles cias expressas nas manifestações, seja em relação
o que obrigava o governo federal a destinar mais à rejeição ao SUS pobre e carente, seja a aspiração
dinheiro a saúde em caso de revisão do PIB. central pelo consumo de tecnologia hospitalar de
Segundo Eugênio Vilaça1, As evidências inter- alto padrão, estão fartamente representados na
nacionais mostram que todos os países que estrutu- mídia, e não trazem nova sustentação ao sistema
raram sistemas universais de saúde, beveridgeanos público e universal de saúde.
ou bismarckianos, apresentam uma estrutura de Outro aspecto da questão se relaciona com
financiamento em que os gastos públicos em saúde o processo tardio de desenvolvimento da cida-
são, no mínimo, 70% dos gastos totais em saúde. dania no Brasil, tributário de uma herança co-
[...] Com a estrutura vigente de gastos públicos lonialista e escravocrata, que paradoxalmente
em saúde não se pode pretender consolidar o SUS inaugura a entrada na modernidade com uma
como direito de todos e dever do Estado. [...] ao se população analfabeta, uma economia monocul-
especializar um sistema singular para os pobres, tora e latifundiária e um Estado absolutista. Sen-
dada a desorganização social desses grupos exclu- timos hoje as implicações desta herança numa
ídos e sua baixa vocalização política, esse sistema realidade econômico-político-social que viola,
tende a ser subfinanciado. burla ou ignora as leis do país, onde uma con-
Embora as manifestações massivas de 2013 fluência de fatores, quando não dificulta, mini-
tenham cobrado do Estado responsabilidade miza o exercício de direitos. Um desses fatores é
para com direitos sociais, ao que o executivo ace- que no Brasil nunca foi possível ser cidadão de
nou com grande preocupação e minúsculas me- uma nação soberana, dada a submissão históri-
didas, o conjunto dos dizeres e reivindicações dos ca originalmente à Portugal, depois à Inglaterra
cartazes, que espontaneamente os manifestantes e posteriormente aos EUA e ao FMI. Além dis-
exibiram ao mundo, não questionam nem modi- so, o processo de construção da cidadania, im-
ficam a falta de sustentação e de mobilização so- pulsionado no pós-II Guerra, foi barbaramente
cial em defesa do SUS. Segundo Vilaça1, estima-se violentado por duas décadas de regime militar, e
que seria necessário quase dobrar o orçamento do a partir dos anos 80 a redemocratização do país
Ministério da Saúde para chegar-se a uma relação encontra o Estado-nação enfraquecido, como em
que torne viável a universalização da saúde. Por todo planeta nesta era globalizante, a reboque de
isso, não há que ter muita esperança para a solução esferas de poder supranacionais. No final do sec.
desse problema nesta década e, como consequên- XX, Hobsbawm13 observa que os Estados-nação
cia, o gasto público deverá permanecer em valores territoriais, soberanos e independentes, inclusive os
próximos a 50% dos gastos totais em saúde, o que mais antigos e estáveis, viram-se esfacelados pelas
manterá a segmentação do sistema de saúde. Isto é, forças de uma economia supranacional ou trans-
a mobilização social necessária para viabilizar o nacional. Esse processo de redução do poder dos
sistema público e único de saúde requer restrin- Estados, como aponta José Murilo de Carvalho14,
gir enormemente o subsistema privado e dobrar produz uma mudança das identidades nacionais
o gasto público. Na realidade, as manifestações existentes, afeta a natureza dos antigos direitos e
atacaram ao SUS e deixaram os planos de saú- reduz a relevância do direito de participar. Neste
de intocados, embora estes tenham sido alvo de contexto, aquele cidadão moderno e participante
reclamações frequentes no Procom, que levaram ativo dos processos de construção da nação de-
em 2012 à suspensão da venda de mais de 300 mocrática, preconizado nas diretrizes que fun-
planos de saúde de 38 operadoras pelo péssimo dam o SUS, é uma inferência teórica que nestes
atendimento. Um dos cartazes que se repetiu 25 anos se defrontou com uma realidade que des-
com frequência nas manifestações diz “enfia os construiu este modelo.
20 centavos no SUS”, como paródia de uma locu- Esse quadro de falta de mobilização em de-
ção popular depreciativa que se emprega quando fesa do SUS também reflete outro traço carac-
se rejeita algo e ao outro. Ao rejeitar o SUS pela terístico das sociedades contemporâneas. Esse
comparação que esta paródia faz, e o Estado a esvaziamento da ágora do Estado-nação se dá
quem pertence o SUS, a frase denuncia a carência num contexto mais geral de enfraquecimento dos
de financiamento da Saúde. Em resposta a que vínculos institucionais – de família, classe social e
destino dar ao financiamento público reclamado, partido político – como desdobramento de rup-
outro cartaz que se repetiu com frequência diz turas próprias da modernidade15. Concomitante
“hospitais padrão Fifa”, indicando a aspiração ao enfraquecimento dos vínculos institucionais, a
própria da sociedade de consumo em relação à produção social de identidade baseada no consu-
saúde. Como vimos anteriormente, estas tendên- mo e no mercado vai configurando uma sociedade
152
Caron E et al.

individualizada. Segundo Bauman16, a esfera pú- resa faz tratamento de câncer no pâncreas, desco-
blica vem sendo colonizada pelos interesses priva- berto no ano passado: “Muito bem atendida! Sin-
dos, limpa de suas conexões públicas e pronta para o ceramente, desde os médicos, a rádio, a químio: Eu
consumo privado, mas dificilmente para a produção estou surpresa!”
de laços sociais. Nesta sociedade individualizada há Dessa forma, ao se inscrever o SUS num
uma renúncia da soberania do Estado em relação campo de gratuidade, seu provimento se torna
aos mercados consumidores, enquanto a soberania doação, benefício e, paradoxalmente, retira do
dos mercados vai ficando mais ousada e obstina- SUS o seu valor como direito à saúde. Essa é uma
da17. Em última análise a individualização significa questão que remete a outra herança da nossa for-
dependência do mercado em todas as dimensões da mação histórica: o paternalismo político que se
conduta humana7. Com isso parte das responsabi- arvora provedor de benefícios à população. Nesta
lidades antes depositadas em instituições sociais medida, aquilo que deveria ser direito social his-
se transferem para o indivíduo na mesma medida toricamente conquistado pelo cidadão é, no Bra-
em que estas instituições se enfraquecem. Cada sil, dado por governantes. O paternalismo políti-
vez mais recai sobre o indivíduo o peso de suas co é próprio de uma condição passiva da popula-
escolhas e iniciativas, para se virar por conta pró- ção receptora de benefícios sociais. A influência
pria como um consumidor no mercado. do populismo, no estilo “Pai dos Pobres”, que vem
Podemos ver nos protestos que sacudiram o da ditadura do Estado Novo, se estende até nos-
país em 2013, efeitos dessa sociedade individuali- sos dias impregnando os discursos de políticos de
zada. Um traço marcante dessas eclosões é o ata- todos os matizes. Neste contexto também se pode
que frontal aos partidos políticos, ao Congresso analisar os serviços gratuitos do SUS como dádi-
Nacional e outras instituições do Estado, inclusi- vas cedidas pelos governantes que assim se apro-
ve o SUS, expressando a distância existente entre priam delas como realizações de seus governos.
tais instituições, frutos da redemocratização do Isso sem mencionar a dimensão propriamente
país, e os cidadãos. Tentativas de organizações de político-partidária do problema, na medida em
classe e líderes sindicais de se juntarem ao mo- que a saúde funciona como uma significativa mo-
vimento fracassaram, demonstrando o quanto eda de troca no jogo eleitoral, já que a maioria da
essas manifestações foram arredias a vinculações população que vota é SUS dependente.
institucionais. A diversidade de cartazes, dizeres e Outra face desta questão está na utilização
expressões, onde cada manifestante traz consigo combinada de serviços privados e públicos por
uma reivindicação própria, orquestra uma poli- uma parcela significativa de clientes de planos
fonia de singularidades na multidão, compondo de saúde. Estes atuam no mercado como consu-
um mosaico extremamente representativo dessa midores, fazem cotações, contas, analisam cus-
modernidade das sociedades contemporâneas. to-benefício, mudam de plano conforme suas
necessidades e nisso incluem os serviços gratui-
O SUS gratuito tos do SUS no cardápio de opções. Consultas de
especialidades, fraldas e materiais de curativos
Ao olhar o SUS como gratuito, as represen- domésticos, remédios, exames, um leque de pro-
tações sociais do seu provimento se situam num dutos e serviços gratuitos são consumidos não
campo simbólico que duvida da qualidade do pelo SUS dos pobres como se referiu Paim, mas
benefício. Mesmo quando se observa um provi- por clientes que compram no mercado. Aqui o
mento estatal de boa qualidade, e ainda por cima SUS é o sistema complementar ao qual se recorre
gratuito, a reação é de uma surpresa inesperada, por direito como uma forma de economizar.
uma exceção à regra, como vemos na edição do
Jornal Nacional de 31 de março depoimentos de
usuários sobre as cirurgias robotizadas no Insti- À guisa de conclusão
tuo Nacional do Câncer:
Mônica se livrou de um câncer na garganta ha Afinal, somos ou não somos (de um modo geral
menos de um mês e está curada: “Não senti dor. Foi e particularmente no que toca à saúde) uma so-
tudo muito tranquilo! E sem pagar nada, né!” ciedade de consumo? É possível que sim, ainda
Ou sobre a avaliação da qualidade de atendi- que “à moda brasileira”, ou seja, carregando no
mento hospitalar em Vitória feita para o IDSUS presente fortes marcas de nosso passado históri-
na edição de 1 de março: co, de nossa herança escravagista, de nosso viés
Lá, o atendimento dos casos mais complexos é paternalista/autoritário. Particularmente, no re-
considerado muito bom pelo Ministério. Dona Te- lativo à saúde, para onde vamos?
153

Ciência & Saúde Coletiva, 20(1):145-153, 2015


Difícil ou muito arriscada qualquer previsão.
Pensamos, contudo, que seria uma promissora li-
nha de investigação aquela que busque de modo
sistemático e rigoroso, no que toca à saúde, in-
dicadores ou conjuntos de indicadores do futuro
no presente.

Colaboradores Referências

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Artigo apresentado em 04/10/2013


Aprovado em 01/06/2014
Versão final apresentada em 04/06/2014

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