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1a edição

São Paulo
2015
Em vão, centenas de milhares de
homens, amontoados num pequeno
espaço, se esforçavam por desfigurar a
terra em que viviam. Em vão, a cobriam
de pedras para que nada pudesse
germinar; em vão arrancavam as ervas
tenras que pugnavam por irromper;
em vão impregnavam o ar de fumaça;
em vão escorraçavam os animais e
os pássaros – Em vão... porque até na
cidade, a primavera é primavera.


Tolstói, em “Ressurreição”
o projeto

A construção da cidade, espaço criado


pelo homem, transforma a paisagem ori-
ginal e – na maioria das vezes – acarreta
na supressão da vegetação pré-existente.
As ervas, chamadas “daninhas” por bro-
tarem “irregularmente” em locais “ina-
propriados”, são o primeiro sinal da reco-
locação da vida vegetal neste espaço que
originalmente era delas.
Em meados de 2010, instigada a en-
tender a metrópole em sua complexida-
de, passei a observar a grandiosidade de
suas construções e inter-relações huma-
nas, culturais, sociais, em contraponto aos
mais ínfimos e ocultos detalhes. Para isso
precisei primeiramente questionar minha
(nossa) existência no meio urbano, enten-
dendo que uma coisa é ver a cidade como
observador(a) e outra é viver a cidade
como integrante dela.
Num constante e exaustivo movi-
mento de observação e assimilação, meu
olhar se erguia em direção às enormes

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construções e buscava repouso nas miu-
dezas do chão. À primeira vista, o que via
sob meus pés era apenas concreto, asfalto.
Mas nessa paisagem infértil do pavimento
impermeável, onde parecia não haver ne-
nhuma possibilidade de vida, lá estavam
elas, as chamadas “ervas daninhas”. Uma
pequena fissura no concreto, expondo o
solo fértil à superfície, ou um aglomerado
de matéria orgânica no canto da sarjeta,
viram abrigo de pequenas sementes que
conseguem sobreviver e germinar.
Graças ao apoio da Funarte (Prêmio
Funarte Mulheres nas Artes) e à colabora-
ção de uma equipe de profissionais, esse
projeto ganhou, este ano, uma dimensão
muito maior: foram realizadas 8 expe-
dições pelo Elevado Costa e Silva, para
mapeamento da vegetação que brota ao
longo de toda sua extensão, e a realização
de desenhos, intervenções, fotografias e
filmagens.
Esse trabalho é fruto do desejo de um
novo tipo de cidade, de uma transformação
de nossa relação com o espaço e a vida.
mapa das intervenções
sentido consolação – perdizes

As ervas brotam.
As ervas morrem.
São arrancadas,
pisadas ou
simplesmente
não conseguem
prosseguir em seu
desenvolvimento,
em terrenos tão
inóspitos.
As intervenções
são como registros
de identidade,
que evidenciam a
existência dessas


plantas.
Paspalum notatum Flüggé
grama-forquilha, grama-
-batatais, compridinha-
-bifurcada
Nativa do Continente
Americano, propaga-se
por sementes e através de
rizomas.
É muito agressiva e
largamente disseminada
no país.
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Hypochaeris cf. radicata L.
almeirão-do-campo, almeirão-de-roseta, dentede-leão
Originária da Europa.

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Brachiaria brizantha
(A.Rich.) Stapf
braquiarão, capim-
-marandu, compridinha
Originária da África Tropical,
escapou do cultivo e passou a
infestar beiras de estradas.

Oldenlandia corymbosa L.
erva-diamante, microflor
Planta herbácea originária do
Peru. Muito comum em beiras
de acostamentos e ruas.
Bastante usada na medicina
popular.

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Uma vida orgânica surge rasteira
pelo Elevado Costa e Silva,
ocupando rachaduras, buracos,
vãos, ocupando milímetros que
rapidamente se tornam centímetros
e, se deixasse lá, onde estão,
seriam metros de uma existência
sem fim que se multiplica como
monotipias: impressões únicas, mas
similares, que marcam e transformam


a superfície deste espaço urbano.

ISADORA FERRAZ, artista convidada


Pilea microphylla (L.) Liebm.
brilhantina, beldroega,
planta-artilheira, bonitinha
Nativa da América Tropical,
propaga-se apenas por
sementes. Amplamente
cultivada para fins ornamentais,
torna-se indesejável quando
cresce espontaneamente.
Pouco exigente em condições
de solo.

Eragrostis pilosa (L.) P.Beauv.


capim-barbicha-de-alemão,
capim-mimoso, chuvisco
Originária da Europa, é
ocasionalmente utilizada na
medicina popular.

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Gnaphalium microcephalum Nutt.
erva-macia
Com suas flores brancas é uma planta
excelente para jardins de borboletas.
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Portulaca oleracea L.
beldroega,
salada-de-nego,
ora-pro-nobis,
suculenta
Nativa da África, uma
única planta chega a
produzir 10.000 sementes,
que podem permanecer
dormentes no solo por
mais de 19 anos.

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A vida pulsa, a vida quer acontecer.


É o ciclo da destruição e do renascimento.
Chamaesyce prostrata
(Aiton) Small
quebra-pedra, roxinha
Originária da América Central,
é também encontrada em
fendas de calçadas e ruas
pavimentadas.
Muito utilizada na medicina
popular.

Stemodia verticillata (Mill.)


Hassl.
mentinha, moranguinho
Originária do Continente
Americano, exige solos ricos
em matéria orgânica e bem
supridos de umidade.
Ocasionalmente utilizada na
medicina caseira.

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Cyperus oleraceus Roxb. ex Nees
três-quinas, tiririca, tocha
Nativa da América Tropical.
38 39
Jacarandá mimosifolia
D. Don
jacarandá
Árvore ornamental
originária da Argentina e
da Bolívia. Tem o mesmo
nome comum em quase
todos os idiomas.

Esta certamente
não chegará à
vida adulta, mas
sua presença
foi marcada, e
sua existência
eternizada no
desenho.

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É possível fazer uma relação
entre a espontaneidade das
plantas e a luta por novos
territórios na sociedade.
A persistência das ervas é
uma metáfora da presença
do homem no espaço, em
busca do direito à vida, do


direito à cidade. 
Bidens pilosa L.
carrapicho
Originária da América
Tropical, é uma planta
herbácea com odor
característico capaz de
produzir até três gerações
por ano. Muito usada na
medicina caseira.

Alternanthera tenella
Colla
perpétua-do-campo
Nativa do Brasil, é
uma planta daninha de
importância crescente.

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Tecoma stans (L.) Juss. ex Kunth
ipê-de-jardim
Arbusto ou pequena árvore de flores amarelas.
Nativa do México, foi introduzida no Brasil como
ornamental e hoje é infestação séria em todo o país.
46 47
Commelina benghalensis L.
erva-de-santa-luzia,
trapoeraba
Originária do Sudeste Asiático,
apresenta preferência por solos
férteis, com boa umidade
e sombreados.

48 49
Phyllanthus niruri L.
quebra-panela, saudade-da-mulher
Nativa do Continente Americano, incluindo
o Brasil, é cultivada para fins medicinais.

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No deserto do asfalto
vivem as plantas que insistem.
...chegam sozinhas e acompanham


o homem em silêncio.
VITOR BARÃO, fotógrafo e biólogo
Rorippa sp
agrião,
composta-
-botão-vermelho
Originária da
Europa, da família
da mostarda.
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Pennisetum
clandestinum
Hochst. ex Chiov.
capim-quicuio,
graminha
Originária da África
Oriental, é altamente
agressiva e invasora.

Chamaecrista
cf. rotundifolia
(Pers.) Greene
erva-de-coração
Nativa do Brasil.

56 57
Sonchus sp
chicória-brava
Originária do Continente
Europeu e naturalizada
em diversos países do
mundo, suas sementes
permanecem dormentes
no solo por mais de oito
anos. É muito utilizada na
medicina popular e suas
folhas são comestíveis.

Nicotiana glauca Graham


charuteira,
tabaco-herbóreo,
trombeta
Originária da América
do Sul, é um arbusto de
rápido crescimento usado
como ornamental mas
considerada invasora.

Possui compostos tóxicos.


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Gomphrena celosioides
Mart.
perpétua, buquê
Nativa da América do
Sul, vegeta durante o ano
inteiro.

Cymbalaria muralis
P. Gaertn., B.Mey. & Scherb.

Originária do Sudoeste
Europeu, é uma planta
de enorme beleza que
cresce rapidamente e se
desenvolve em rochas,
paredes e calçadas.

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Amaranthus linvidus L.
caruru
Originária do Continente Europeu,
hoje naturalizada em todo o
mundo, propaga-se por sementes
e é muito usada na culinária.

Impatience cf. walleriana Hook. f.


maria-sem-vergonha
Suculenta originária da
África e naturalizada em toda
região litorânea do Brasil, foi
introduzida para o cultivo como
ornamental. Prefere solos ricos
em matéria orgânica.
64 65
Solanum sp
A família das
Solanaceae inclui
várias plantas
venenosas, mas
também espécies
como a batata, o
tomate e a beringela.

Mitracarpus hirtus
(L.) DC.

poaia-da-praia

Originária do
Continente Americano,
raramente forma
infestações elevadas.

66 67
Persicaria capitata
(Buch.-Ham. ex D.Don) H.Gross
buquê
Originária da Ásia, é usada para
fins ornamentais e medicinais.

68 69

A velocidade imposta pelo ritmo
da metrópole impede a percepção
destas manifestações. São muitos
os espaços vestidos de asfalto,
onde se ignora a possibilidade de
brotar um jardim em miniatura.
Tal beleza, tão escondida, precisa


ser ressaltada.
Morus nigra L.
amoreira
Originária da Ásia, África e América do Norte.
72 73
Ficus sp
fícus
Árvore originária da Ásia,
possui raízes agressivas.

Amaranthus deflexus L.
caruru
Planta originária da
América Tropical, suas
folhas são comestíveis.

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Conyza canadensis
(L.) Cronquist
voadeira
Não é tolerante a solos
muito movimentados.

Guillemina densa
(Willd. ex Schult.) Moq.

Nativa das partes mais


quentes das Américas do
Norte e do Sul.
Primeira planta
encontrada na fase do
mapeamento, rasteira,
precisa e brilhante.

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Espécies que
desapareceram
durante a fase da
realização das
intervenções.

Melampodium divaricatum Oxalis corniculata


(Rich.) DC Não identificada L.

Cyperus compressus
Não identificada Não identificada L.

A planta é arrancada, mas fica
a memória de sua existência,


marcada numa lápide.

A expressão cf., junto ao nome científico de algumas


plantas, significa “identificação a confirmar”.

Principais fontes UTILIZADAS COMO


BASE DE INFORMAÇÃO PARA ESTE CATÁLOGO:

Plantas daninhas do Brasil . Lorenzi, Harri.


Instituto Plantarum, 4a edição

http://www.theplantlist.org
PRODUÇÃO EXECUTIVA
Goitacá Produções

COORDENAÇÃO DE ARTE
Laura Lydia

IDENTIDADE VISUAL E PROJETO GRÁFICO AG R A D E C I ME NTO S


estúdio malabares _ Ana Dias,
Julieta Sobral e Carolina Lins Agradeço primeiramente ao meu marido,
companheiro, que sempre me apoia e me
FOTÓGRAFO (EXPEDIÇÕES) E BIÓLOGO
Vitor Barão dá forças para realizar meus projetos. Aos
meus dois filhos, que me tomam o tempo e
FOTÓGRAFO (CADERNO DA ARTISTA)
me devolvem o dobro em inspiração e sede de
Tomaz Vello
vida. À minha querida família que está sempre
CÂMERA
ao meu lado. A cada amigo que me acolheu
Caio Dias
ou me hospedou nas minhas longas jornadas
VIDEOMAKER dominicais pelo Minhocão: Lucila e Nicholas,
Christian Caselli
João e Juliana, Leila e Fause, Bia e Guilherme,
ASSESSORIA DE IMPRENSA Letícia e Tomás, Silvana e André, Daniela e
Canal Aberto Gustavo, Sílvia, Vitor e Nadira, Tomás e Nelson.
E a toda equipe que abraçou o projeto com
PARTICIPAÇÃO ESPECIAL
Isadora Ferraz muita dedicação e amor.

IMPRESSÃO
Conta-fios Serviços Gráficos

PRODUÇÃO GRÁFICA
Sidnei Balbino

Este projeto foi contemplado pelo Edital Prêmio Funarte Mulheres nas Artes Visuais – 2a edição
Este catálogo foi composto em Din 9/15,
impresso em papel offset 90g/m2,
no outono de 2015, na Grafitto,
Rio de Janeiro.

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