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Porto, 2009
Actividades de Aventura na
Natureza: espelho da ideologia
social.
Porto, 2009
AGRADECIMENTOS
Some remarks on the theme will be done, analyzing the variables and
explaining why this kind of activities is so special, appellative and stimulating to
people who search for them and so pleasant to those who feel them.
3) Conclusões …. …………………………………………………………………pág. 36
4) Bibliografia ….……………………………………………………………..……pág. 40
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Introdução
1. Introdução
Da questão à problematização…
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fazendo assim com que o corpo e a prática de exercício físico para manter o
bom funcionamento do mesmo passassem a ser bastante valorizados. Por
outro lado, o desenvolvimento das cidades levou a uma separação muito nítida
entre o mundo urbano e o mundo rural e a uma exaltação deste último pelo
facto de ser mais saudável. Não é pois de estranhar que os desportos
praticados na Natureza se tenham desenvolvido bastante nesta época.
Com o início, em Inglaterra (séc. XIX), da Revolução Industrial, este
estado de coisas intensificou-se bastante. Com a emigração das pessoas do
campo para as cidades em busca de melhores condições de vida as zonas
rurais praticamente se despovoaram e em contrapartida as cidades cresceram
muitíssimo aceleradamente, gerando uma série de problemas, como o
aumento da poluição. Além disso estes fenómenos alteraram por completo o
modo de vida das populações que, com o surgimento da mecanização e
industrialização em massa adquiriram hábitos muito mais sedentários,
afastando-se cada vez mais da interacção com o meio natural. Foi por esta
altura que se iniciou um maior desenvolvimento das actividades físicas na
Natureza, como forma de reagir aos males provocados pela vida nas grandes
cidades.
Cléber Dias, Victor Melo e Edmundo Alves Júnior (2007) consideram que
a expansão das AFAN começou pelo montanhismo, com a fundação, em 1857,
do Clube de Excursionismo Britânico. Este foi apenas o primeiro de muitos que
viriam mais tarde a surgir, primeiro na Europa e depois – já no século XX – na
América. Este fenómeno demonstra já uma certa organização deste tipo de
desportos, que juntamente com a institucionalização dos conceitos de
rendimento, rentabilidade e recorde, típicos das sociedades industriais, fez
com que essas actividades perdessem parte da sua espontaneidade em
detrimento de uma maior organização, conferindo-lhe a faceta da competição
que ainda hoje as caracteriza.
Este conceito tradicional de desporto de rendimento viria a ser
contestado no final dos anos 50 por um grupo de surfistas californianos, que
fundaram o conceito de “modo de vida desportivo alternativo” (LORET, 1995,in
Génération Glisse, pp. 104-141). Este grupo pretendeu mostrar o seu
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de ser visto como uma forma de entretenimento e passa a ser entendido como
uma competição, um género de actividade física na qual se sobrevalorizam os
resultados, o rendimento, o esforço físico e o rigor (se repararmos bem nos
discursos dos treinadores do futebol facilmente verificamos que todos
destacam esses elementos).
Como dissemos atrás, todo este conjunto de características que constitui
a Modernidade está actualmente em pleno processo de superação, naquilo que
se designa de correntemente por pós-modernidade. Este fenómeno decorre
essencialmente de uma descrença na Razão e no progresso, de uma perda de
referências do Homem contemporâneo.
O que se passa é que se chegou hoje à conclusão de que o progresso
científico acabou por não dar resposta às necessidades mais profundas do ser
humano e por esse motivo ele procura cada vez mais desesperadamente algo
que lhe sirva como ponto de referência, de modo a restabelecer o seu equilíbrio
psicológico.
Por outro lado, é ponto assente e correntemente aceite que no futuro, e
até talvez já nos dias de hoje, a cada vez maior sofisticação da tecnologia terá
como consequência mais lógica e imediata a libertação do trabalho de
inúmeras tarefas rotineiras – que serão deixadas às máquinas – possibilitando
desta forma um aumento do tempo livre disponível, como já tivemos ocasião de
ver mais atrás. Salientamos ainda que este dado irá desencadear profundas
alterações sociais pela criação de novos valores, necessidades e estilos de
vida (CONSTANTINO, 1993).
Vale no entanto a pena chamar a atenção (apenas como uma rápida
referência) para o facto de que a vida contemporânea, com o seu elevado nível
de instabilidade, acarreta cada vez mais pressão psicológica que acaba por se
reflectir nos próprios momentos de lazer (MARINHO, 2005). Este conjunto de
factores não deixará de se reflectir na própria expansão das Actividades
Físicas de Aventura na Natureza.
São também características da cultura pós-moderna o individualismo, o
consumismo, o hedonismo (valorização do prazer como bem supremo) e o
culto do imediato e do estético (BÉTRAN, 1995; DOMINGO, 1991). É também
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neste contexto que se podem inserir as AFAN, como modo de, por um lado,
satisfazer o desejo de consumo (que nos dias de hoje acaba por funcionar
como factor de equilíbrio e bem-estar psicológico) e, por outro, proporcionar
uma libertação das pressões da vida quotidiana através de actividades
agradáveis e capazes de provocar emoções fortes.
As Actividades Físicas de Aventura na Natureza inserem-se pois, no
modelo de pensamento pós-moderno na medida em que se integram numa
cultura desportiva diferente, menos fechada e formal. Basta para isso dizer que
o elemento competição não se encontra tão nitidamente presente e o que é
importante acima de tudo é que a pessoa se sinta bem consigo mesma ao
praticar a actividade em questão.
Por outro lado, a prática das AFAN de uma forma consciente pressupõe
uma nova relação com a Natureza, em que se encara esta última como
fazendo parte do Homem e já não como exterior ao mesmo. Na verdade, hoje
em dia podemos falar de uma “cultura ecológica”, como sendo um modo de
pensar que valoriza o cuidado e o respeito para com o meio ambiente por se
tomar consciência de que, no passado, a intervenção humana – incluindo a
prática das AFAN – o prejudicou de uma forma talvez irremediável.
As informações de que hoje dispomos em relação ao meio ambiente
provam, sem qualquer sombra de dúvida, que a acção do Homem se traduziu
em agressões tão violentas ao planeta Terra, que a própria sobrevivência da
espécie humana poderá ficar ameaçada a curto/médio prazo. A desflorestação,
as chuvas ácidas, a excessiva dependência do petróleo (que a continuar a este
ritmo acabará por esgotar o precioso recurso), a desertificação e, sobretudo, o
aquecimento global – que além de alterar profundamente o clima é responsável
pela subida generalizada do nível das águas do mar, que colocará em risco
muitas zonas costeiras do globo – são fenómenos muitíssimo preocupantes e
que já tiveram pelo menos o efeito positivo de chamar a atenção dos
governantes mundiais para a urgência de se tomarem medidas capazes de os
solucionar. A redacção do protocolo de Quioto, em 1997, que visa reduzir as
emissões dos gases com efeito de estufa, altamente prejudiciais ao ambiente,
é apenas um exemplo dessa realidade.
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Para além deste aspecto mais global, as próprias atitudes dos indivíduos
e das organizações desportivas em relação à Natureza sofreram uma profunda
transformação, isto porque hoje em dia existe a consciência de que o rápido
crescimento das AFAN não só gerou uma indústria de entretenimento em
expansão como, muito mais preocupante do que isso, foi a causa de inúmeros
impactos ambientais com consequências negativas no meio natural.
Tais efeitos, continuamente denunciados pelas associações ecológicas,
levaram ao surgimento de um cuidado redobrado com a Natureza e até à
busca de desportos alternativos que, sem perderem a sua característica
fundamental de manter o contacto com o meio natural, fossem capazes de
minimizar os efeitos negativos do mesmo (MARINHO, 1999). Os próprios
praticantes reconhecem esta realidade e procuram respeitar ao máximo a
Natureza, integrando-se, harmoniosamente, com a mesma.
Trata-se, portanto, de um retorno à Natureza, depois de anos em que o
progresso tecnológico produziu como que um conflito com a mesma. A um
nível mais profundo, trata-se de “um novo redimensionamento da relação
Homem – ambiente natural” (TAHARA; SCHWARTZ; FILHO, 2006, pág. 59), o
qual implica, igualmente, uma mudança de atitudes e de valores que se
reflectem de uma forma globalmente positiva nessa relação (idem). O Homem
já não busca dominar e apropriar-se da Natureza, antes procura reconciliar-se
com ela, sentindo-se bem consigo próprio através de um contacto profundo e
harmonioso com o meio natural.
Esta necessidade de experimentar uma satisfação emocional, que se
traduz num sentimento de bem-estar consigo mesmo é, de resto, uma das
principais motivações para os praticantes das AFAN se dedicarem a tais
desportos. As mais recentes investigações sobre o tema demonstram isso
mesmo.
O já citado estudo de Tahara, Schwartz e Filho, 2006, elaborado com o
objectivo de descobrir as motivações para a prática das AFAN e, tendo por
base uma amostra aleatória de vinte pessoas, de ambos os sexos, com idades
compreendidas entre os 21 e os 45 anos, demonstra claramente que para a
maioria dos inquiridos a prática das AFAN representava um “momento propício
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natural. A possibilidade de estar em grupo é uma das motivações (se bem que
não a mais importante) dos praticantes das AFAN e está provado que uma das
grandes vantagens destes desportos no sentido de contribuir para a completa
educação do ser humano é o desenvolvimento do espírito de cooperação e da
solidariedade entre os participantes.
Este género de práticas é também, de um modo geral, muito mais
informal do que os chamados “desportos tradicionais” uma vez que não exige
treinos organizados e pode por esta razão ser realizado em períodos curtos de
tempo, como por exemplo um feriado, um fim-de-semana ou umas férias.
Esta característica, só por si, implica que exista muito mais liberdade por
parte do praticante – uma vez que não está sujeito a horários e planificações, o
que também se adequa ao objectivo das AFAN de proporcionar uma fuga às
pressões da rotina diária. Além disso, não havendo preocupações com o
rendimento, os indivíduos ficam mais soltos, descontraídos e equilibrados
recebendo destas actividades uma forte componente psicológica que lhes
transmite uma intensa sensação de bem-estar.
Os desportos de que aqui nos ocupamos caracterizam-se também pelo
facto de o seu principal objectivo ser a busca do prazer sem que isso implique
um grande esforço. Estamos no entanto a falar, no seguimento do que afirma
Gilmartín (2008), das AFAN mais recentes e não das que poderíamos
considerar mais "clássicas", como o alpinismo. Neste último caso, o que de
facto interessa é a obtenção de um prazer mais contemplativo (como o que se
retira da observação de uma paisagem no topo de uma montanha) mas
devemos realçar que essa sensação só pode ser alcançada após a realização
de um esforço físico intenso.
A interdisciplinaridade é outro dos elementos que distingue as AFAN de
todos os outros tipos de desporto. Significa isto que para praticar uma
actividade deste género de forma a retirar dela o máximo partido possível é
conveniente possuir conhecimentos de diversas áreas diferentes. Por exemplo,
no caso da escalada é de toda a vantagem conhecer o tipo de escarpa em que
nos movemos, dado que o desenrolar da actividade em si será determinado por
esse facto (GILMARTÍN, 2008). Não nos referimos, como é óbvio, aos
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Por outro lado, Szerszynski (1996, cit. por MICHAEL, 2002, pág.109)
acaba por ter uma posição diametralmente oposta a este respeito, ao referir o
chamado “environmental expressivism”, um movimento que tenta recuperar o
contacto mais próximo da Natureza no sentido em que é esta a salvar o
Homem e não o contrário. Nós não tomamos posições tão radicais. Preferimos
tê-las ambas em conta, já que o indivíduo e a Natureza são interdependentes,
isto é, ambos precisam um do outro ou como refere Oliveira (2002), a Natureza
está no Homem e vice-versa.
Posto isto, convém realçar que o conceito de Natureza não é estático,
tem sofrido inúmeras alterações ao longo do tempo. No início da História da
Humanidade foi vista como uma deusa cujas forças eram incompreensíveis e
por essa razão incontroláveis, o que fazia com que o Homem se encontrasse
totalmente sujeito a ela. Já na Idade Média perdeu o seu carácter divino para
revestir a forma de uma mera criação de Deus, que no entanto – e por essa
razão – não deixava de reflectir a perfeição do seu criador. A partir do séc. XIX,
com a Revolução Industrial, o incrível progresso tecnológico registado nessa
época fez com que a Natureza fosse vista como subordinada à sociedade.
Verificou-se uma “busca incessante do Homem pelo controlo da mesma,
buscando aperfeiçoar técnicas e máquinas com a finalidade de promover o
desenvolvimento” (SUASSUNA, et. al. 2004, pág.5) o que os afastou cada vez
mais e levou a uma concepção da Natureza como perfeitamente distinta da
sociedade.
Esta separação – na qual a Natureza se identificava com o mundo rural
e a sociedade com o mundo urbano – manteve-se numa fase posterior
(MACNAGHTEN e URRY, 2001) mas agora com uma atitude completamente
diferente: ao invés de se menosprezar o meio natural, considerando-o como
inferior ao industrializado, assiste-se agora a uma revalorização de tudo o que
se relaciona com a Natureza, visto como mais belo, livre e genuíno. Apesar
disso, nem todos os autores estão de acordo com este último ponto, visto que
Edensor, por exemplo, é da opinião que os meios rurais não são mais
autênticos do que os urbanos. O que se passa é que ambos têm diferentes
estruturas espaciais que fazem com que o corpo reaja de formas igualmente
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permitem a experiência do risco sem que este escape ao controlo por parte do
Homem (CANTORANI; OLIVEIRA, 2006). Trata-se, portanto, de uma excitação
que pela libertação de tensões que proporciona tem um efeito de catarse, isto é
de purificação.
Segundo Paixão et. al. (2009), a existência do risco não é de modo
algum uma característica própria das sociedades contemporâneas, já que
desde os tempos pré-históricos o Homem se depara com situações que
colocam em causa a sua integridade física ou mesmo a sua vida. Estas estão
na maior parte dos casos relacionadas com fenómenos naturais e climáticos
(calor ou frio em excesso, terramotos, incêndios e inundações).
Hoje em dia, os perigos que se correm têm sobretudo a ver com
circunstância criadas pelo Homem (caso dos riscos inerentes à actividade
profissional), isto é, o factor risco é, também ele, uma construção histórica
(PAIXÃO et. al., 2009). Além disso, os fenómenos naturais potencialmente
perigosos constituem, apesar de tudo, situações esporádicas, ao contrário do
que acontece actualmente.
Nos dias de hoje, o risco é pois uma constante nas nossas sociedades,
dado que as sucessivas alterações ocorridas aos níveis político, económico e
social ajudam a criar um ambiente de instabilidade e incerteza gerador de uma
enorme angústia nas populações. A título de exemplo, lembramos que nos dias
de hoje a crise económico-financeira generalizada não só arrasta inúmeras
pessoas para o desemprego como faz com que os poucos empregos
disponíveis sejam precários. Tal situação acaba por ter consequências sociais
nocivas (como o aumento da violência), fazendo com que a estrutura da
sociedade que nos habituamos a encarar como normal praticamente se
desmorone e com que seja muito difícil, para não dizer impossível, conceber e
fazer funcionar um modelo sócio-económico com base na busca da segurança
(CLARK, 2000).
Por outro lado, e de um modo algo irónico, temos de reconhecer que a
época em que vivemos, apesar de ser mais do que nunca marcada pelo caos e
pela incerteza permite-nos também, graças às tecnologias disponíveis,
desfrutar de um elevado grau de conforto. Neste sentido, torna-se-nos,
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afirmar que este tipo de desportos desempenha uma função não negligenciável
na manutenção da nossa sanidade mental.
O estado caótico que caracteriza a nossa sociedade provém, em larga
escala, da enorme quantidade de estímulos (informações, imagens e sinais)
que saturam o nosso dia-a-dia, dificultando a sistematização do pensamento e
a distinção entre a realidade e a imagem que ela representa. Esta situação
como que estetiza a vida quotidiana (FEATHERSTONE, 1993), ou seja, torna-a
estética pela prioridade que dá à imagem, ao desejo, ao imediato e às
sensações. Exaltam-se, assim, o efémero, o tempo presente e os sentidos em
prejuízo de uma interpretação mais racional da realidade (STRANGER, 1999) e
mais voltada para uma planificação ponderada do futuro.
Para além deste culto da imagem, a estética pós-moderna rejeita o
distanciamento do indivíduo relativamente ao objecto do seu desejo,
valorizando, ao invés disso, uma proximidade tão intensa entre ambos que
quase se pode falar numa fusão do indivíduo com o objecto. Deste modo, o
primeiro pode usufruir de imediato das sensações que o segundo proporciona,
mesmo que isso signifique ignorar os riscos que eventualmente se possam
correr. Esta forma de ver as coisas adequa-se, na perfeição, no modelo de
pensamento pós-moderno de sobrevalorização do efémero e dos sentidos.
A sociedade e a cultura de consumo estão intimamente relacionados
com esta forma de ver as coisas, já que o pressuposto fundamental é o de que
qualquer pessoa pode viver as fortes emoções proporcionadas por uma
experiência repleta de adrenalina, mesmo que não possua uma aprendizagem
prévia sobre o assunto, desde que pague por isso (BÉTRAN e BÉTRAN, 1999;
CANTORANI; OLIVEIRA, 2006). Deste modo, parece claro que o mercado
soube aproveitar a exaltação da imagem característica da estética pós-
moderna para criar oportunidades válidas de negócio (em termos de
equipamentos destinados à prática das AFAN e empresas especializadas na
matéria), oferecendo serviços que ao permitirem um usufruto imediato
(DOMINGO, 1991) correspondem, afinal, aos anseios e necessidades do
Homem contemporâneo.
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Conclusão
3. Conclusão
Tal como foi abordado nesta monografia, ao longo dos tempos
assistimos a uma evolução da visão do corpo. Progressivamente, o corpo foi
“perdendo a vergonha de si”, confundindo-se o corpo saudável com o culto das
boas formas. O problema do envelhecimento confunde-se com o início da vida
na Terra: quando o oxigénio se acumulou na atmosfera e a vida mais complexa
colonizou o meio terrestre, “aquilo que nos deu vida, tornou-se um veneno”.
Homens, como quaisquer outros animais tem o oxigénio como elemento vital,
mas as reacções metabólicas de degradação desse elemento com produção
de energia promove a oxidação. É contra esta oxidação que o corpo luta. Cada
vez que respiramos, envelhecemos um pouco. Se, por um lado a evolução nos
fez depender “desse veneno”, por outro, desenvolveu um mecanismo
compensatório – o aparecimento de um sistema anti-oxidante. Hábitos
desportivos favorecem esse sistema na medida em que a bactéria antioxidante
é mais eficaz no desportista que no sedentário. É, por isto necessário, alertar e
sensibilizar as pessoas para a prática de exercício. Esta sensibilização é cada
vez mais necessária, tendo em conta as notícias quotidianas, que referem cada
vez mais mortes associadas à obesidade.
Pela contextualização, expansão e evolução, o desporto configurou-se
como parte do processo de civilização, como elemento de cultura urbana e
citadina; como local de encontro, de exercitação da urbanidade, da civilidade,
da convivência, da sociabilidade e do bem-estar dos Homens consigo mesmos
e com os outros. Podemos então falar de uma Natureza pessoal, uma Natureza
social, uma Natureza física.
O acto desportivo apresenta-se como um acto ecológico que apela à co-
existência, à harmonia entre o Homem e a Natureza. É ainda um acto ético e
estético, um acto de qualidade. No entanto, entre os princípios teóricos e a
prática observam-se, algumas vezes, dissonâncias e contradições. Assim, na
sua versão moderna o desporto ostenta muitas das marcas e máculas da
civilização industrial que o protegeu como uma cultura planetária, como um
idioma universal. Tal como a cultura industrial, o desporto é hoje, mesmo que
em sintonia com Natureza, rico em conflitos com a mesma.
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Conclusão
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Conclusão
Nas AFAN, o importante não é terminar mais rápido, mas conviver por
mais tempo, estabelecendo uma ideia diferente de relação com o meio. A
qualidade está nas relações estabelecidas, na harmonia e equilíbrio que o
praticante encontra.
Um olhar sobre o percurso dos factos, mostra que o desporto assumiu
uma postura pragmática, intimamente associada à vida moderna, ao seu
acelerado ritmo e ao stress que acarreta, mantendo os seus valores
tradicionais, simétricos aos da Natureza.
Ao mesmo tempo em que os seres humanos acompanham um aumento
incalculável do conforto e bem-estar materiais, por outro lado, dão-se conta de
relações equivocadas de exploração do meio e de outras formas de vida.
A busca por melhores condições de vida é, provavelmente, tão antiga
quanto a civilização, porém a expressão Qualidade de Vida é de origem
recente, e tem-se popularizado a partir da segunda metade do século XX
juntamente com outros conceitos como meio ambiente e ecologia.
A ideia de qualidade de vida compõe-se de uma pluralidade de conceitos
e admite perspectivas muito diversas. É, no entanto, no dia-a-dia que ele se
constrói e não ela quem constrói o dia-a-dia. No quotidiano actual, velozmente
acelerado e vinculado ao stress, combatê-lo é esquecer os problemas, quando
o pensamento se dá no mesmo momento da prática. Da mesma forma, é
comum a ideia de "troca de energias". O praticante não recebe passivamente
novas energias, é preciso ser/estar na Natureza, estar na acção. A relação com
o meio dá uma ideia de fluxo, o tempo é o tempo vivido, não o reflectido. A
pressão, a condição perturbadora ou inquietante, a tensão é expulsa; o
praticante liberta-se dela, pelo menos durante a prática. Para descansar a
mente é preciso levar o corpo para passear, reconhecendo-se então a unidade.
Existe ainda uma estreita relação com a saúde. O conceito de saúde não
se limita apenas à saúde física. Segundo a OMS, Saúde é "um estado
dinâmico de completo bem-estar físico, mental, espiritual e social e não apenas
a ausência de doença ou enfermidade".
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Bibliografia
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Bibliografia
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Bibliografia
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