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do se questionou esta prática no início do século XVIII,a Cãmara Municipal defendeu
si!, alimentado sobretudo por duas obras seminais: Fernando A. Novais, Estrutura li alta taxa alegando ser do "uso e costume da terra".
e dinâmica de antigo sistema colonial, 2~ ed., São Paulo, 1986 e Jacob Gorender, O (20) Testamento de Antonio Domingues e Isabel Fernandes, Parnaíba, 1684,
escravismo colonial, ed. rev., São Paulo, 1985. Novas perspectivas sobre o tema vêm ESP.INP,cx. 18, grifo meu.
sendo acrescentadas pela obra de Luiz Felipe de Alencastro; ver, por exemplo, seu im- (21) Testamento de Inês Pedroso, 1663, AESP-INP,cx. 11.
(22) Manuel Juan Morales, "Informe a Su Magestad" (Mss. de Angelis, 1:189-90).
portante ensaio "O aprendizado da colonização". Economia e Sociedade, 1, agosto,
1992, pp, 135-62. (23) Testamento de Lourenço de Siqueira, 1633 (IT, 13:9).
(3) Uma exceção digna de nota é J. Gorender, O escravismo colonial, pp. 468-86, (24) Petição de Hilária Luís, 3/11/1609, no inventário de Belchior Dias Carnei-
onde o autor incorpora uma discussão da escravidão indígena - embora considerando-a ro, 1607 (IT, 2: 163-5). Para uma fascinante discussão da convivência entre a lei posi-
como instituição "incompleta" - no contexto geral de seu argumento a favor de um tiva e o direito costumeiro, com referência à alforria de escravos, ver Carneiro da Cunha,
modo de produção escravista colonial. "Sobre os silêncios da lei", in Antropologia do Brasil, pp. 123-44.
(4) Ata de 18/11/1587 (cMsp-Atas, 1:333-4). (25) Testamento de Maria do Prado, 1663, AESP-INP,cx. 7.
(5) Ata de 20/9/1592 (cvss-Atas, 1:446-7). (26) Testamento de Lucrécia Leme, Itu, 1706 (IT, 25:215).
(6) Alvará de 26/7 /1596, em Leite, História, 2:623-4, e Thomas, Poittica indige- (27) Leite, História, 2:cap. 4.
nista, Apêndice. (28) Cópias das doações são transcritas em DI, 44:360-70.
(7) Ata de 16/1/1600 (cvs=-Atas, 2:70-1). (29) Para o exemplo de um conflito semelhante no Rio de Janeiro ver carta de
(8) Ata de 6/2/1600 (cvss-Atas, 2:75-6). Pedro Rodrigues, 16/9/1600, ARSIBrasília 3(1), f. 193.
(30). Atas de 12/3, 18/6 e 20/8/1633 (cMsp-Atas, 4:160, 171-3). Ver também
(9) Bartolomeu Lopes de Carvalho, "Manifesto a Sua Magestade", s. d., Aju-
ata de 22/5/1632 (cMsp-Atas, 4:121-2), e Francisco Ferreira, S. J., "La causa dei Brasil
da, cód. 51-IX-33, fls. 370-3v.
(10) Ao citar d. Francisco Manuel de Meio, autor bastante conhecido nos círcu- estar en el triste estado en que está son Ias injusticias notables que en el se hacen con-
los intelectuais ibéricos do século XVII, Carvalho provavelmente refere-se ao opúscu- tra los indios", s. d., ARSI·FG,Missiones 721/I.
(31) cMsp-Atas, 4:173-4. Num inquérito de 1657, testemunhas afirmaram que
lo Descrição do Brasil, que figura entre as obras perdidas do autor. O subtítulo da
obra - Paraíso dos mulatos, purgatório dos brancos e inferno dos negros - virou Barueri realmente havia sido fundado por d. Francisco e que os jesuítas não dispu-
ditado popular na segunda metade do século, mas foi Antoni! que lhe deu registro nham de qualquer direito legítimo à administração do aldeamento. "Inquirição de tes-
permanente em seu Cultura e opulência de 1711. Sobre a vida e obra de d. Francisco, temunhas", 28/8/1657, Biblioteca Pública de Évora, cód. CXVI2-13, doe. 17. A maio-
ver o ótimo livro de E. Prestage, D. Francisco Manuel de Mel/o, esboço biographico, ria dos historiadores, apoiando-se na versão suspeita de Simão de Vasconcelos, S. J.
(Vida do padre João de Almeida da Companhia de Jesus na província do Brasil, Lis-
Coimbra, 1914.
(lI) Ver IT, esp. vols. 1-3. boa, 1658), escrita na época do contencioso, assevera que o aldeamento fora fundado
por Anchieta ou João de Almeida. Ver, também, d. Duarte Leopoldo e Silva, Notas
(12) Inventário de Manuel de Lemos, 1673, AESP-INP,cx. 13; Feliciano Cardo-
so, 1674, cx. 7; Antonio Pedroso de Barros, Parnaíba, 1677, cx. 14; João de Almeida de história ecclesiástica, IIl: Baruery-Parnahyba, São Paulo, 1916, pp. 25 ss., e Ca-
Naves, Parnaíba, 1715, AESP-IPO14758. margo, História de Parnaíba, p. 87.
(13) Inventário de João Leite da Silva Ortiz, 1730 (IT, 25). (32) Bispo de Salvador ao papa, 30/9/1637 tMss. de Angelis, 3:281-2).
(33) Anôn., "Resposta a uns capítulos". ARSI·FG,Collegia 202/3, doe. 2, f. 11;
(14) Inventário de Antonio Pedroso de Barros, Parnaíba, 1677, AESP-INP,cx. 14.
anon., "Razões por onde não convém nem é lícito largarmos as aldeias dos índios no
(15) Para discussões da legalidade e legitimidade da escravidão indígena no Bra-
sil colonial, ver J. V. César, "Situação legal do índio durante o Período Colonial", Brasil", 1640, ARSIBrasilia. 8, f. 512v. J. G. Salvador, Os cristãos novos, entre ou-
tros, toma estas acusações ao pé da letra em seu esforço de mostrar a forte presença
América Indígena, 45, 1985; M. Carneiro da Cunha, "Sobre a escravidão voluntá-
ria", in Antropologia do Brasil, São Paulo, 1986, pp. 145-58; E. M. Siqueira, "O seg- de judeus e cristãos-novos nas capitanias do Sul.
(34) A versão básica da expulsão, supostamente escrita no final do século XVII
mento indígena", Leopoldianum, 12, n? 33, 1985; e B. Perrone-Moisés, "Índios li-
por Pedro de Moraes Madureira, é: "Expulsão dos jesuítas e causas que tiveram para
vres e índios escravos".
(16) Carta de Domingos Jorge Velho à Coroa, 15/7/1694, in E. Ennes, As guer- ela os paulistas desde o anno de 1611 até o de 1640", RIHGSP,3, 1898. Este documen-
to, que aliás serviu de base para a interpretação de Pedro Taques de Almeida Paes
ras nos Palmares, São Paulo, 1938, p. 67.
Leme, inclui a instigante sugestão de um vínculo entre a expulsão dos padres e a Res-
(17) Testamento de Diogo Pires, 1642 (IT, 28:264).
tauração dos Bragança. Colonos de ambas as principais facções apoiaram o despejo
(18) Testamento de Ana Tenória, 1659 (IT, 12:449).
dos padres, embora os Pires se mostrassem menos entusiastas e mais dispostos a nego-
(19) Vale ressaltar que a escravidão indígena não foi o único assunto polêmico
ciar a readmissão dos jesuítas. Permanece curiosa a acusação alegando que os jesuítas
no campo jurídico de São Paulo seiscentista. A questão dos juros, geralmente mantendo-
se em robustos 8"70anuais, também se chocou com os 6,75% que eram usuais. Quan-
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apoiavam o sebastianismo em Portugal e que estariam espalhando este movimento atá- José Oscar Beozzo, Leis e regimentos das missões, São Paulo, 1983, e Monteiro, "Es-
vico entre os índios dos sertões do Brasil. Portanto, não é inteiramente implausível cravidão indígena e despovoamento" .
a ligação entre a expulsão, a Restauração e a suposta aclamação de Amador Bueno, (48) "Dúvidas que se oferecem pelos moradores", Leite, História, 6:328-30.
a despeito dos esforços de Taunay e Aureliano Leite em afastar qualquer hipótese nes- (49) Para urna outra abordagem desta questão, ver Nazzari, "Transition towards
se sentido. De qualquer modo, fica claro que o motivo básico sustentando as ações slavery" .
dos colonos foi a questão indígena. Para urna boa discussão do contexto global da (50) "Voto do reverendo padre Antonio Vieira sobre as dúvidas dos moradores
expulsão, ver Boxer, Salvador de Sá, capo 4. Cabe lembrar que o confronto em São da cidade [sic] de São Paulo acerca da administração dos índios", 12/7/1692, IEB,Co-
Paulo não foi isolado, pois conflitos semelhantes surgiram em Salvador e Rio de Ja- leção Lamego 42.3 (cópia manuscrita do século XIX).
neiro, ao passo que, no Maranhão, os colonos expulsaram os padres em duas oca- (51) Na segunda metade do século XVII, os inventários passaram a discriminar
siões, em 1661 e 1684 (Monteiro, "Escravidão indígena e despovoamento"). É inte- os valores da "alvidração" dos serviços do "gentio da terra", em principio para faci-
ressante notar, ainda, que os colonos espanhóis do Paraguai também expulsaram os litar as partilhas mas também para liquidar dívidas. Isto redundava, freqüentemente,
padres em diversas ocasiões (Melià, "Las siete expulsiones", in EI Guaraní conquista- na alienação ilegal de "peças", sob pretexto de vender os "serviços" alvidrados.
do y reducido, pp. 220-34). (52) Contudo, a apologia não foi queimada, pois ainda existe na Biblioteca Na-
(35) Representação da Câmara Municipal de São Paulo à Coroa, s. d., RIHGSP, zionale Centrale Vittorio Emanuele, em Roma. Jacob Roland, "Apologia pro paulis-
3:98-104. tis", s. d., BNVE1249/3(2278). Ver, também, Leite, História, 6:344.
(36) Anôn., "Relação do que se sucedeu nesta vila de Santos sobre a publicaçâo (53) Vieira a Manuel Luís, S. J., 21/7/1695, Cartas, 3:666-9.
das bulas", ARSIBrasilia 8, f. 558v. Ver também "Representação da Câmara Muni- (54) Luís Mamiani, S. J., "Memorial sobre o governo temporal do Colégio de
cipal", 15/4/1648, AHU·SP,doe. 14. São Paulo", 1701, ARSI·FG,Collegia 203/1588/12. Urna discussão semelhante surgiu
(37) "Causas que os moradores de São Paulo apontam da expulsão dos padres entre os jesuítas da região platina na mesma época, e é analisada em N. Cushner, Je-
da Companhia de Jesus", 1649, BNRJ11 35.21.53, doe, 2. suit ranches and the agrarian development of colonial Argentina, Albany, 1983.
(38) Ata de 12/5/1653 (cvse-Atas, 6:24-6). (55) Quando do confisco das fazendas jesuíticas em 1759, os novos administra-
(39) Visita do padre Antonio Rodrigues, 25/1/1700, ARSIBrasilia 10, f. 2v. dores dessas propriedades buscaram manter certas práticas de trabalho, as quais são
reveladoras desse conceito de obrigações recíprocas. Os índios "tinham obrigação de
(40) Ayres do Casal, Corografia brasilica, Rio de Janeiro, 1945, p. 55. Também
darem três dias de serviço na semana à fazenda, e em recompensação lhes davam os
observou: "Os paulistas de hoje passam por urna boa gente; mas seus avoengos não
o foram certamente". padres senzalas para viverem e terras para fazerem suas roças". Ver "Relações dos
bens aprehendidos e confiscados aos jesuítas da capitania de São Paulo", DI, 44: 353-4.
(41) Inventário de Antonio de Quadros, 1664, AESP·INP-IE,cx. 4. Esta prática foi
(56) Cartas régias de 26/1 e de 19/2/1696. Para urna discussão geral desta legis-
contestada judicialmente no litígio entre José de Sousa Araújo e Catarina da Cunha,
lação, ver A. Perdigão Malheiros, A escravidão no Brasil, Petrópolis, 1976, 1:147-249;
1721, AESP·AC,cx. 9, doc. 136. Para urna análise da questão das dívidas, ver M. Naz-
e Perrone-Moisés, "Legislação indígena colonial".
zari, "Transition towards slavery", The Americas, 49, n? 2, 1992.
(57) Relatório de 1858 do presidente da província de Amazonas, Francisco José
(42) Testamento de Isabel Rodrigues, 1661, AESP,INP,cx. 6.
Furtado, citado em F. A. de Varnhagen, Os índios bravos e o sr. Lisboa, Lima, 1867.
(43) João Pires Rodrigues vs. João Rodrigues da Fonseca, 1666, AESP·AC,cx. 1.
(44) Inventário de Miguel Leite de Carvalho (!T, 22:88-9).
(45) A questão do caráter jurídico dos índios e dos escravos surgiu com freqüên-
5. SENHORES E ÍNDIOS (pp. 154-87)
cia no Brasil colonial. Ver, por exemplo, "Carta cios desembargadores da relação da
Bahia ao Conselho T.fitramarino", 10/5/1673, AHu-Bahia, doe, 2531. Em São Paulo,
(I) "Protesto de Domingos de Góis", inventário de João Furtado, 1653, AESP·
os índios geralmente foram considerados equivalentes aos escravos africanos nos pro- INP, cx. 1.
cessos cíveis e criminais. Ver AESP·AC,casos diversos; csrsr-Atas, 6a:253, ata de
(2) Devido à ilegalidade da escravidão indígena, existem poucos registros de venda
26/11/1661, onde os senhores são considerados responsáveis pelas infrações das pos- que possam servir de base para um arrolamento de preços. A partir da década de 1670,
turas municipais cometidas por seus índios. Ver também "Dúvidas que se oferecem no entanto, aparecem nas listas de índios administrados "alvidrações", ou avaliações
pelos moradores da vila de São Paulo à Sua Magestade, e ao senhor governador de dos valores dos "serviços", que permitem construir urna tabela de preços. Para um
estado, sobre o modo de guardar o ajustamento da administração na matéria perten- esboço preliminar, ver Monteiro, "São Paulo in the seventeenth century", p. 255, Ta-
cente ao uso do gentio da terra, cuja resolução se espera", s. d., em Leite, História, bela 11.
6:328-30. (3) Para urna interessante discussão do conceito de "crioulização", ver C. Joy-
(46) Ata de 22/6/1677 (casr-Atas, 6:447-8). ner, Down by the riverside, Urbana, 1984, sobretudo a Introdução e pp. 246-7.
(47) Ata de 8/3/1685 (cMsp-Atas, 7:275-6). Ver também ata de 18/9/1686 (CMSP- (4) Petição de Maria Pacheco, 11/6/1670, no inventário de João Pires Montei-
Atas, 7:309-10). Sobre o Maranhão, consultar Alden, "Indian versus black slavery", ro, 1667, AESP·INP,cx. 9.
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