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Fundamentos de

Sociologia Aplicada às
Organizações
Material teórico
Sociologia Contemporânea

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Rodrigo Medina
Sociologia Contemporânea

Nessa unidade vamos tratar o tema “Sociologia


Contemporânea”.

O presente conteúdo foi elaborado com a intenção


de fornecer o referencial teórico sobre o tema desta
unidade. Além disso, o material disponibilizado propõe
uma discussão para o aprofundamento das questões que
serão levantadas, com o intuito de possibilitar a
compreensão da sociologia e sua evolução.

Atenção

Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.
Material Teórico

Sociologia Contemporânea

A história dos esforços humanos para subjugar a natureza é também a história


da subjugação do homem pelo homem.

Max Horkheimer

1. A Expansão do Capitalismo

Após a Primeira Guerra Mundial, concretizaram-se mudanças sociais em escala


mundial: despontaram novas potências industriais, entre as quais se destacam os EUA e a
então URSS; os ideais de livre concorrência deram lugar ao capitalismo monopolista, com a
crescente participação do Estado como patrocinador das economias nacionais, no primeiro
caso; e da economia socialista no segundo, bem como novas nações se consolidaram na Ásia
e na África.

No século XX, a aceleração do processo de industrialização prescindiu da disputa por


mercados consumidores e fornecedores de matérias-primas em mão-de-obra, e o aumento de
nações concorrentes na corrida imperialista fizeram com que um novo surto de modernização
e formação de novos Estados independentes atingisse os continentes asiático e africano.
Guardadas as diferenças entre o contexto de consolidação das nações latino-americanas, no
século XIX, e os das nações africanas e asiáticas, no século XX, percebe-se a constante
internacionalização do processo de industrialização e a expansão do modo de produção
capitalista, com a conseqüente transformação das antigas colônias em parceiros de novos
contratos econômicos.

A modernização das nações, a criação de uma burocracia estatal, a insipiente


industrialização, o aparecimento de outras classes sociais – como o operário e a burguesia
nacional – dotaram as novas nações de uma estrutura semelhante à dos países
industrializados. Parceiros e concorrentes nesse processo de internacionalização do capitalismo
industrial, as nações passaram a ser classificadas de acordo com os índices econômicos que as
diferenciavam como “avançadas” ou “atrasadas”, sendo essa diferenciação uma questão de
grau e não de qualidade. A ideologia difundida do centro do sistema capitalista era de que as
nações do mundo pareciam marchar igualmente rumo ao desenvolvimento industrial. As
diferenças se expressariam apenas na velocidade do processo e no volume dos resultados
alcançados.
2. Desenvolvimento e Crescimento econômico

Alguns autores consideram o desenvolvimento de uma sociedade como simples


sinônimo de crescimento econômico, ou seja, o aumento substancial de sua produção
material. Para eles, o desenvolvimento é um processo de expansão quantitativa do produto e
da renda.

Crescimento econômico – Aumento da capacidade produtiva da economia de um país; é o


processo de expansão quantitativa do produto e da renda.

No entanto, entendendo o subdesenvolvimento como o conjunto de características


como: fome, altas taxas de crescimento demográfico, baixa renda per capita, baixa produção
industrial, desemprego, corrupção, pobreza, entre tantas outras, podemos perceber que o
desenvolvimento é um processo muito mais amplo que o mero crescimento da economia de
uma sociedade.

Subdesenvolvimento – considerado por alguns autores como um estágio anterior ao


desenvolvimento e, por outros, como uma situação permanente. Os países subdesenvolvidos
têm a estrutura econômica, social e política atrasada.

Para que haja desenvolvimento é necessário que se verifiquem alterações profundas na


distribuição de renda, nas condições de higiene e saúde da população, nas condições de
emprego, na propriedade da terra, no acesso à educação, etc. Enfim, é necessário que exista
uma participação de todos na riqueza produzida, e não apenas o crescimento dessa riqueza
por si mesma.

Desenvolvimento – É o processo de mudança social que consiste na transformação


qualitativa da sociedade, na mudança de suas características.

Alguns países subdesenvolvidos podem experimentar crescimento econômico, como


ocorre tanto em economias periféricas como naquelas dos países centrais do sistema
capitalista, sem que estejam passando por um verdadeiro processo de desenvolvimento –
embora o desenvolvimento só seja possível com crescimento econômico, tendo em vista que
não é possível pensar o melhoramento de uma sociedade sem que haja o incremento das
condições materiais de sua existência.
2.1. A Ilusão do Desenvolvimento Econômico

A idéia defendida nas últimas décadas, de que as grandes massas de população dos
países pobres podem atingir os padrões de consumo daqueles que vivem hoje nos países
altamente industrializados, como os Estados Unidos não passa de um mito, de uma ilusão;
bem como não se verifica o mesmo poder de consumo no interior da própria sociedade
estadunidense, para a qual há uma parcela significativa daquela sociedade excluída dos
melhoramentos provenientes da modernização de suas estruturas sociais, ultimada de forma
desigual.

Essa idéia interessaria aos setores ricos dos países pobres, pois justificaria a
concentração da riqueza em poucas mãos, em nome do progresso tecnológico e do
desenvolvimento econômico que, como eles querem fazer crer, futuramente iriam beneficiar
toda a população. Enquanto isso, essa população continuaria na miséria, sem alimentação,
sem moradia, sem saúde, sem educação; as grandes metrópoles continuariam com seu ar
irrespirável, a crescente criminalidade, a deterioração dos serviços públicos, etc.

O que os defensores do mito do desenvolvimento econômico deixaram de considerar é


o impacto sobre a natureza de uma eventual universalização do consumo, conforme eles
preconizam. Um estudo feito por um grupo de especialistas procurou responder a esta
pergunta: “O que aconteceria se o desenvolvimento econômico, para o qual estão sendo
mobilizados todos os povos da Terra, chegasse efetivamente a universalizar-se?”

A resposta é clara: se isso acontecesse, a pressão sobre os recursos não-renováveis


(petróleo, carvão, urânio, alumínio, etc.) seria tal que o sistema econômico entraria em
colapso; a depredação do mundo físico e a poluição seriam de tal ordem que colocariam em
risco as possibilidades de sobrevivência da própria espécie humana. Conclusão: a idéia de que
os povos pobres podem um dia chegar a ter os padrões de consumo dos povos ricos é
irrealizável, não passa de uma ilusão.

A idéia do desenvolvimento econômico serviria, nessa perspectiva, para levar os povos


pobres a aceitar grandes sacrifícios em nome de um futuro que nunca irá acontecer. Essa idéia
serviria também para desviar as atenções das necessidades básicas da vida humana –
alimentação, saúde, habitação, educação -, para cuja satisfação devem orientar-se os esforços
de cientistas, economistas, políticos e de todos os cidadãos. O desenvolvimento de um povo
só será possível por meio do atendimento a essas necessidades, para as quais precisam ser
orientados os investimentos.
3. Globalização

Muito já se escreveu sobre globalização, mas para entender melhor esse processo,
podemos citar um dos sociólogos brasileiros que mais estudou sobre o tema: Octavio Ianni 1.
Para entender este novo estágio que atinge o capitalismo no mundo ele dividiu o processo
histórico capitalista em três momentos 2.

O primeiro corresponde a sua emergência e instalação na Europa, instaurando o


trabalho livre, a mercantilização da produção e a organização do mundo sob a forma de
Estados Nacionais. Para isso houve a dissolução de instituições pré-capitalistas de produção e
organização territorial. Foi um período de grande acumulação de capital e de emergência da
burguesia como classe dominante. Nessa fase, o capitalismo já seria global, pois, o que
alimenta esse processo é o colonialismo que agrega ao processo europeu as demais regiões do
mundo que fornecem matérias-primas e escravos, permitindo a acumulação de capital.

O segundo momento corresponde à industrialização e a um processo mais efetivo de


implantação do capitalismo no mundo, por meio de estreitas relações internacionais de
dependência econômica e política que submetem as nações a centros hegemônicos,
caracterizando o que ficou conhecido por imperialismo.

O capitalismo derrama-se por todo o mundo, abarcando os mais diversos continentes,


mares e oceanos, promovendo um forte processo de centralização com a formação de
impérios. A economia entra em um estágio de produção ampliada e se torna altamente
planificada. A tecnologia passa a desempenhar um papel cada vez mais importante, seja nas
atividades bélicas de conquista e manutenção de territórios ou do espaço sideral, seja na
produção de mercadorias.

Há fortes movimentos de dissensão e resistência em diferentes partes do mundo,


gerando graves conflitos e a emergência do movimento mais forte de oposição ao capitalismo
que foi o comunismo, instaurando um novo modelo alternativo de produção e organização
política. A cultura se globaliza e se homogeneíza com a criação da indústria cultural e da
cultura de massa. Há uma grande mobilização populacional provocada pelo êxodo rural e
pela emigração que leva multidões a se instalarem de forma definitiva em outros territórios.

O terceiro momento é aquele que corresponde ao que se costuma chamar de


globalização. Os modelos alternativos ao capitalismo, em especial o mundo comunista, entram
em decadência, há um processo de enfraquecimento dos Estados Nacionais, abalando as
identidades regionais e os nacionalismos. Formam-se organismos internacionais para a
administração econômica, social e política, como a ONU – Organização Mundial das Nações
Unidas; o FMI – Fundo Monetário Internacional, e o BIRD – Banco Mundial. E a informática

1
Octavio Ianni (Itu, 1926 — São Paulo, 4 de abril de 2004) foi um sociólogo brasileiro. Graduado na antiga Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) em Ciências Sociais onde fez também o mestrado e
doutorado, foi um dos fundadores do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP).

2
IANNI, Octavio. A sociedade global. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993.
revoluciona a produção de bens e a divisão internacional do trabalho com o advento da
comunicação em massa por meio das mídias digitais. O capitalismo entra em sua fase
efetivamente planetária, tendo como centro hegemônico os Estados Unidos. A racionalização
econômica atinge níveis jamais pensados e as relações internacionais se redefinem.

Globalização - podemos dizer que é um processo econômico e social que estabelece uma
integração entre os países e as pessoas do mundo todo. Através deste processo, as pessoas, os
governos e as empresas trocam idéias, realizam transações financeiras e comerciais e
espalham aspectos culturais pelos quatro cantos do planeta.

Acompanhando esse longo processo de mais de cinco séculos está o desenvolvimento


da ciência e da pesquisa e, especialmente, da sociologia, que procurou acompanhar e explicar
esse processo.

4. Pobreza e Exclusão

Terá havido no mundo alguma sociedade realmente igualitária na qual as pessoas


pudessem desfrutar de maneira semelhante os bens e as oportunidades da vida social? Parece
que não.

O patriarcado existente nas mais remotas civilizações, garantindo aos homens o poder
sobre a família e seus bens, demonstra que a igualdade é, antes de mais nada, um ideal ainda
não vivido pela humanidade.

Por outro lado, o processo histórico tem revelado como tendência marcante a
diferenciação e a crescente complexidade da sociedade. Da pequena diferenciação social
existente nas sociedades tribais, as diversas civilizações passaram por processos que as
levaram a formar os mais diferentes grupos, que começaram a se distinguir por etnia,
nacionalidade, religião, profissão e, de forma mais acentuada, por classe social. A caminho
das sociedades plurais, foram se formando inúmeros grupos, cada um com uma função, um
conjunto de direitos, deveres, obrigações e possibilidades de ação social.

O mundo contemporâneo assiste ao resultado desse longo processo histórico de


formação de uma civilização complexa e diferenciada, na qual os diversos grupos procuram
conquistar direitos ou manter privilégios e as possibilidades de acesso à produção de bens aos
mecanismos de distribuição desses bens na sociedade.
5. Modelos de Explicação Sociológica

Trata-se de um momento em que a sociologia é influenciada pelo desenvolvimento de


outras disciplinas, como a psicologia, psicanálise, a lingüística e a semiótica, e pelo seu
interesse em desvendar os mecanismos mentais do pensamento, da cognição, da motivação e
da expressão humana. Assim, em vez de buscarem a especificidade da disciplina, os
estudiosos da sociologia contemporânea procuraram incorporar novos pressupostos teóricos e
diferentes métodos de pesquisa que a tornaram mais interdisciplinar.

Em consequência disso, a sociologia aproximou-se das demais ciências humanas,


afastando-se das ciências exatas e biológicas que lhe haviam servido de modelo durante o
século XIX. Embora algumas escolas como o funcionalismo ainda buscassem certo grau de
precisão e certa postura de neutralidade, típicos das ciências da natureza, passou a
predominar no estudo da sociedade um comportamento analítico mais genuíno e próprio das
ciências que estudam o Homem.

Tais posições não significaram o abandono dos modelos clássicos, mas a sua
necessária atualização e reinterpretação para que os conceitos possam se tornar adequados ao
estudo da sociedade em uma época de pleno desenvolvimento dos meios de comunicação e
da indústria cultural e que reavalia as relações e as instituições sociais. Diante da fragilidade
destas, a importância adquirida pelo indivíduo precisa ser estudada do ponto de vista de sua
participação na ação social.

5.1. Escola de Chicago

Os Estados Unidos, na passagem do século XIX para o século XX, receberam um


grande contingente de imigrantes que deixavam seus países de origem e sua cultura original
para fugir às perseguições políticas e religiosas que varriam a Europa. Esses imigrantes se
reuniam em grupos de intensa sociabilidade, mas nem sempre capazes de evitar
comportamento inadequado num novo ambiente social.

A então recente industrialização da América também era fonte de distúrbios e de


conflitos sociais que geravam preconceito e perseguição que, não raro adquiria contornos
raciais e étnicos. A questão das minorias de origem africana também contribuía para uma
sensação de mal estar e intranquilidade social. O conjunto destes conflitos tendia a ser
“resolvido” quase que exclusivamente com emprego da força policial, o que deixava a
sociedade em permanente estado de tensão racial e, principalmente, sem mecanismos de ação
social que produzissem resultados mais seguros e duradouros no sentido de pelo menos
minimizar essas tensões.

Foi esse cenário que estimulou o desenvolvimento de uma produção científica que teve
seu apogeu entre 1915 e 1940 e a Universidade de Chicago como sede.
Em um clima de grande produtividade tanto para a pesquisa como para a docência,
inúmeros pesquisadores voltaram-se para a sociologia, na tentativa de buscar soluções para
estes conflitos. Com tal postura, dedicaram-se especialmente ao estudo da cidade, do qual
resultou uma sociologia, ao mesmo tempo, urbana e pragmática.

Não é por acaso que uma das correntes de maior repercussão da chamada Escola de
Chicago, tanto nos Estados Unidos como fora dele, foi o pragmatismo proposto por John
Dewey, representativo dessa tendência empirista. Na linha do estudo da cidade, destaca-se
Georg Simmel procurando entender seu “estado de espírito”, ou seja, suas motivações,
mobilidades e ritmos de vida.

Em outra vertente o interacionismo simbólico ficou sobre responsabilidade de George


Herbert Mead, valorizando o caráter simbólico e subjetivo da ação social. Com ela abandona-
se a visão sistêmica da sociologia clássica em favor de uma abordagem mais interpretativa,
simbólica e subjetiva do comportamento humano.

Toda a produção científica desses pesquisadores levou às ultimas conseqüências a


pesquisa empírica, para a qual valiam-se de múltiplas técnicas: depoimentos, testemunha oral,
correspondência, análise de conteúdo de documentos, entrevistas. Suas análises romperam
fronteiras e a Escola de Chicago se tornou referência em sociologia urbana.

“O interacionismo simbólico explorou largamente esses diferentes níveis da


comunicação, da conversação por gestos da briga de galo e da luta de bosque
à linguagem e sua função simbólica. O que é preciso reter desse duplo legado
de Simmel e de Mead, é sobretudo a tensão que eles estabelecem entre a
pluralidade dos mundos e dos engajamentos do mundo e a lógica dos
momentos”.
JOSEPH, Isaac e GOFFMAN, Erving. A microssociologia. Rio de Janeiro:
FGV, 2000. p. 21.

Em 1935, entretanto, outro grupo se destaca em Chicago – é uma sociologia mais


durkheiniana, que buscava estudar os processos de adaptação dos imigrantes poloneses à
cidade, atualizando o conceito de anomia – termo com o qual Durkheim designava o estado
nocivo que a sociedade atinge quando nela predomina o conflito sobre a coesão e o
consenso. Os principais cientistas dessa nova vertente foram Robert Merton e Talcott Parsons,
seguidos por outros estudiosos da marginalidade e da delinqüência, como W. Thomas e F.
Znaniacki.

A Escola de Chicago começa a perder seu brilho quando essa geração de sociólogos
empiristas é substituída por uma outra, voltada principalmente para as pesquisas quantitativas
que visavam o levantamento de tendências eleitorais ou de preferência da audiência por
programas nos meios de comunicação. Sem patrocínio para pesquisas mais demoradas de
menor impacto, os sociólogos acabaram por substituir as técnicas qualitativas pelas
quantitativas, trazendo de volta à cena toda uma contestada postura positivista. Mas a Escola
de Chicago já dera frutos e sua metodologia pode ser encontrada na sociologia desenvolvida
por outros centros universitários norte-americanos, como Yale, Michigan, Harvard e
Columbia.

As contribuições da Escola de Chicago, porém são indeléveis, e entre elas é preciso


destacar a grande preocupação com a aplicação de métodos etnográficos às análises sociais e
à sociologia urbana e a ênfase dada às pesquisas das minúcias da vida cotidiana e dos
processos simbólicos. A sociologia que resulta desses procedimentos ficou conhecida também
por microssociologia.

5.2. Escola de Frankfurt

No início do século XX, a Europa passava por grandes convulsões políticas: a


industrialização da Itália e da Alemanha; a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa. Na
Alemanha, durante a República de Weimar, ocorreram grandes conflitos entre a mobilizada
classe operária e o governo, levando a um confronto deste com a Liga Espartaquista, de
inspiração marxista, e à morte de seus dois dirigentes – Rosa de Luxemburgo e Karl
Liebknecht. Nesse clima revolucionário é fundado o Instituto para a Pesquisa Social, em 1924,
por iniciativa de Feliz Weil, ligado à Universidade de Frankfurt. A eles se une um grupo de
intelectuais, entre os quais se destacam Max Horkheimer, Friedrick Pollock, Theodor W.
Adorno, Herbert Marcuse, Walter Benjamin e Eric Fromm.

A primeira gestão ficou a cargo de Horkheimer, que se torna reitor em 1931, época em
que é lançada a Revista para a Pesquisa Social – na qual os autores elaboraram uma releitura
dos filósofos clássicos que recebeu o nome de Teoria Crítica da Sociedade. Uma doutrina que
procura estudar os insucessos do movimento operário na Alemanha.

Nos primeiros anos, o Instituto foi financiado por recursos doados por seus fundadores
judeus, mas a ascensão do nazismo coloca em risco a continuidade de seus trabalhos. Durante
a ditadura nazista e a Segunda Guerra Mundial, os pesquisadores do Instituto passam a
trabalhar em anexos instalados fora da Alemanha – Londres, Paris, Zurique – e até mesmo em
Columbia, nos Estados Unidos, onde se instalam o próprio Horkheimer, Léo Löwenthal e
Theodor Adorno. Com o fim do nazismo, alguns professores voltam à Alemanha e retomam
seus trabalhos e aulas, restabelecendo o que restava do Instituto, dezessete anos depois de sua
“extradição”.

De maneira geral, as teorias desenvolvidas pela Escola de Frankfurt procuravam rever


os princípios marxistas, incorporando conceitos importantes da Sociologia do Conhecimento e
da Psicanálise. Tinham por objeto de pesquisa a ação revolucionária, e a análise da
mercantilização das relações sociais e da produção cultural. Críticos ácidos dos meios de
comunicação, aos quais atribuíam o sucesso da doutrina nazista na Alemanha, dedicaram-se
também à sua análise e denúncia. Com esse fim, Horkheimer e Adorno criam o conceito de
Indústria Cultural – a produção tecnológica, lucrativa, planejada e em série de bens
simbólicos.
Indústria Cultural – A industrialização em larga escala incluiu os elementos da cultura
erudita e da popular, dando início à indústria cultural; o incessante desenvolvimento da
tecnologia, principalmente nos meios de comunicação (fotografia, disco, cinema, rádio,
televisão, etc.), passou a atingir um grande número de pessoas, dando início à chamada
cultura de massa.

O último nome de relevo da Teoria Crítica é o de Jürgen Habermans, assistente de


pesquisa no Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt de 1956 a 1959. Habermans pertence,
entretanto, a uma outra geração, que não passou pelo exílio nem compartilhou dos conflitos
na Alemanha promovidos pelas lutas operárias e pela ascensão do nazismo.

Suas preocupações estão centradas nas dimensões ideológicas do conhecimento e na


identificação de seus múltiplos condicionamentos. Em Conhecimento e Interesse, desenvolve
a “Teoria dos interesses cognitivos”, pela qual demonstra a impossibilidade da neutralidade
científica proposta por muitos sociólogos. Nesse trabalho Habermans já mostra o papel central
da comunicação em sua pesquisa, elaborando o conceito de ação comunicativa – uma
interação simbolicamente mediada.

Habermans identifica dois tipos de razão na cultura humana: a razão instrumental,


voltada para o domínio da natureza e a superação dos limites humanos; e a razão
comunicativa, voltada para a realização e a libertação humanas. A primeira é característica da
indústria e das ciências exatas, a outra, das ciências hermenêuticas.

A grande critica que ele tece em relação à sociedade contemporânea é a prevalência da


razão instrumental sobre a razão comunicativa, fazendo com que ela se transforme em razão
de Estado. A ação comunicativa estabelecida pela rede de relacionamentos humanos e pela
reflexão perde sua dialogicidade e seu poder de estabelecer o consenso entre os indivíduos em
interação.

6. A comunicação como informação

Podemos dividir a evolução da humanidade, em relação à comunicação e à


transmissão de informações, em quatro grandes estágios: a sociedade oral, a sociedade da
escrita, a sociedade da imprensa e a sociedade eletrônica (a aldeia global).

A invenção da escrita é um dos momentos mais importantes da história das civilizações.


A comunicação oral exige a presença de interlocutores, daqueles que falam, e o discurso oral
é, portanto, indissociável do momento de sua produção. Ou seja: na situação da comunicação
oral, o momento em que ocorre a produção dos discursos (as falas) é essencial, e faz parte
integrante da própria situação. Praticamente não existe comunicação, a não ser naquele
instante.
Assim como a comunicação oral, a escrita produz discursos, os próprios textos escritos.
Esses discursos, entretanto, libertam-se da situação em que são produzidos e passam a ter
uma existência autônoma. Eles não dependem mais do momento em que foram produzidos.
Podem ser até mesmo produzidos aos poucos, em momentos diversos. Configura-se a
comunicação na leitura de um texto escrito, em geral, sem que o escritor esteja presente.
Numa sociedade primitiva, ao contrário, não se pode dialogar nem falar sem que a pessoa
com quem dialogamos ou falamos esteja presente. A escrita permite e gera essa desvinculação
entre o momento de sua produção e o discurso produzido. A situação de comunicação pode
repetir-se indefinidamente, e não é mais necessário que as mesmas pessoas estejam presentes,
no mesmo local, para que a comunicação se efetive.

A escrita apresenta desenvolvimento e sistemas diversificados e um dos momentos de


importantes transformações é o surgimento das escritas alfabéticas e fonéticas. A tipografia
introduz outra grande transformação na forma de comunicação entre os seres humanos. Com
a imprensa, é agora possível reproduzir os discursos indefinidamente, as idéias podem ser
transmitidas a um maior numero de pessoas, o que intensifica os debates e a produção do
conhecimento. É importante notar que a invenção da imprensa é imediatamente anterior, por
exemplo, ao movimento de Revolução Cientifica. Pode-se dizer, nesse sentido, que a ciência e
o pensamento científico são intimamente associados à imprensa.

Num célebre ensaio de 1936, um dos principais filósofos da Escola de Frankfurt, Valter
Benjamin discutiu as inovações técnicas introduzidas pela fotografia e pelo cinema em relação
à pintura e ao teatro e suas influências sobre a percepção do ser humano. O ensaio introduz o
conceito de áurea do objeto de arte, ou seja, sua presença no tempo e no espaço, sua
existência singular no local em que ele está, que é gradualmente dissolvida a partir do
momento em que a arte começa a ser produzida para ser reproduzida.

Benjamin apresenta a história da reprodução das obras de arte até a fotografia e o


cinema, e propõe que a reprodução elimina a áurea do objeto e sua relação com a tradição.
Assim, a singularidade de uma obra de arte, sua função ritual, são perdidas com o surgimento
das câmeras fotográficas e de filmagem, e não há mais sentido em falar de autenticidade de
uma fotografia ou de um filme. O pintor e o cinegrafista assumem perspectivas distintas em
relação aos fenômenos representados.

Para Benjamin, a câmera nos introduz no inconsciente ótico (com a técnica do slow
motion, por exemplo), assim como faz a psicanálise em relação aos impulsos inconscientes.

Se lembrarmos que Marshall McLuhan, na década de 1960, foi considerado o profeta


da idéia de uma aldeia global, e recordarmos seu famoso refrão “o meio é a mensagem”, nós
podemos retornar mais de vinte anos para (assombrosamente) lermos Benjamin já falando
sobre mídia artística e sua influência sobre a mente e as sensibilidades humanas.
Entramos, há poucas décadas, na era da informática, e uma nova ruptura se
estabelece. Da estabilidade da linguagem representada esteticamente nos livros, passa-se à
instabilidade da linguagem eletrônica. Dos escribas aos internautas. Se a revolução industrial
substituiu, na produção, a força física do homem pela energia das máquinas (por meio da
utilização do vapor e depois da eletricidade), com a revolução microeletrônica, as capacidades
intelectuais do homem são ampliadas e substituídas por autômatos. A informação agora se
apresenta digitalizada e virtualizada, não mais restrita ao suporte do papel. Do texto impresso
passamos ao texto processado; do livro impresso, ao livro eletrônico.

A sociedade da informação libera o homem da especialização profissional e dos limites


de uma cultura. Abre-se o espaço para o surgimento do Homo studiosus ou homem universal,
“aquele que será munido de uma instrução completa e em condições de mudar de profissão
e, portanto, também de posição no interior da organização social do trabalho”.
Material Complementar

Mais informações acerca do tema “Sociologia Contemporânea” podem ser encontradas


nos textos abaixo:

LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Moraes; 1991.

DE MASI, Domênico. O futuro do trabalho: fadiga e ócio na sociedade pós-


industrial. Rio de Janeiro/Brasília: José Olympio/Ed. Da UnB, 1999.

SINGER, Paul. Perspectivas de desenvolvimento da América Latina. In: Novos Estudos


CEBRAP, n. 44, mar. 1996. P. 163-164.

Além dos textos você pode também complementar seus conhecimentos assistindo a
alguns vídeos e filmes sobre o assunto:

Videos:

• Milton Santos X Globalização. Acesso: http://www.youtube.com/watch?v=N-


eVqq4npvc.

• Janela da Alma (Brasil, 2002. Dirigido por João Jardim e Walter Carvalho. Duração:
73 min.) – Documentário.

• Pensando o Brasil - Fernando Henrique Cardoso. Acesso:


http://www.youtube.com/watch?v=uyGeQsoTfEE

Filmes:

• Notícias de uma guerra particular (Brasil, 1999. Dirigido por Walter Salles).

• Ernesto Varela, de Serra Pelada a Nova York (Brasil, 1984/85. Dirigido por
Fernando Meireles e Marcelo Tas).
Referências

COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 2005.

FURTADO, Celso. O mito do desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: Paz e Terra,


1974.

IANNI, Octavio. A sociedade global. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993.

JOSEPH, Isaac e GOFFMAN, Erving. A microssociologia. Rio de Janeiro: FGV, 2000. p. 21.

MATTAR, João. Metodologia científica na era da informática. São Paulo: Saraiva, 2005.

OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Ática, 2003.
Anotações

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